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Em mensagem de 19 de Junho de 2025, o nosso camarada Alberto Branquinho, ex-Alf Mil Art da CART 1689 / BART 1913 (Fá, Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), enviou-nos este curioso texto com o título:
MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM-SE AS VONTADES…
Março, talvez Abril, de 1966. Escola Prática de Infantaria (instalada nas traseiras do Convento de Mafra.)
Uma formação militar de soldados-cadetes saiu do portão lateral direito do Convento, de farda cinzenta e com a velha Mauser em posição de marcha, no ombro esquerdo. Marcham ao som de banda militar (com o som amplificado) instalada em frente ao Convento. Passados cerca de três meses de instrução militar, vão fazer o chamado “Juramento de bandeira”.
Em pé, a meio da escadaria frontal ao Convento e de costas para o mesmo está Sua Excelência o Chefe de Estado, Almirante Américo Thomaz, ladeado por Altas Individualidades.
A banda militar parava de onde em onde (ou, talvez, baixasse a intensidade do som), ao mesmo tempo que se ouvia uma voz ampliada pelo microfone: “Angola é nossa, Angola é nossa, Angola é nossa…”, repetida várias vezes, em que os sons “gó” e “nó” eram ampliados pelo bater mais forte dos pés esquerdos dos cadetes em marcha. Depois de acabar a repetição da frase, a banda voltava a tocar.
Quando cada pelotão ia passar em frente ao Almirante Américo Thomaz, o comandante de cada pelotão dava a ordem de “olhar à direita”. O Almirante respondia em cumprimento militar, levando a mão direita à pala do boné.
Depois de toda a formação militar ficar parada no largo em frente do Convento e em frente às individualidades, ouviram-se os discursos habituais. Acabada a cerimónia, os vários pelotões marcharam em direcção ao portão lateral esquerdo ao Convento. Lá dentro, na parada existente nas traseiras, foi dada ordem de “Destroçar” e cada um recolheu às suas “instalações privadas”. (No nosso caso uma cama e um armário metálico colocado à cabeceira de cada cama, tudo integrado em cinco ou seis filas de camas e armários, que iam do altar da capela-dormitório até à parede, onde se encontrava a porta de entrada; a todo esse conjunto acrescentavam-se mais duas camas e respectivos armários, colocadas dentro da estrutura metálica que separava que separava o altar do restante espaço e protegidas por duas cabeças aladas de dois anjos rechonchudos.)
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Passados cerca de dez anos sobre o que vai escrito acima, um antigo soldado-cadete, que estava incorporado naquela formatura, passeava com uns amigos, ao entardecer, em Copacabana. Olhou sobre a esquerda e viu o Almirante Américo Thomaz passando em sentido contrário, em traje civil simples, acompanhado pela filha. Chamou a atenção dos amigos e, quando todos olhavam, o Almirante viu-os e fez-lhes um cumprimento com a cabeça. Todos retribuíram. Apesar de lhe ter apetecido marchar, batendo com o pé no chão ao ritmo de 1966, não o fez.
(“…Malhas que o Império tece…”)
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Notas do editor
Vd. último post de Alberto Branquinho de 11 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26485: Humor de caserna (102): o macaco-fidalgo ou "fatango"... "ó meu alferes, parecia que era um gajo... dos turras!" (Alberto Branquinho)
Último post da série de 16 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26926: (De) Caras (234): o nosso Raul Solnado da Guiné... o Abílio, Valente e Magro, ex-fur mil amanuense, CSJD/QG/CTIG (Bissau, 1973/74)