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segunda-feira, 21 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27038: Manuscrito(s) (Luís Graça) (271 ): Pôr-do-sol na varanda do Vigia, GAPAB -Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca: onde a terra acaba e o Atàntico começa, há um varanda que guarda o último suspiro do sol...


Pôr-do-sol na varanda do VIGIA, GAPAB - Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca, Lourinhã... Onde a terra acaba e o Atântico começa, há um varanda que guarda o último suspiro do sol...

(Cartaz gerado por assistente de IA / LG)



Lourinhã, Praia da Areia Branca, varanda do VIGIA, 19 de julho de 2025, 20:44

Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cuidado, frágil, adorador do sol

por Luís Graça


No teu testamento vital,
que é também uma declaração de interesse,
vais ter que escrever que não tens religião,
mas és adorador do sol,
veneras o sol como um deus,
deves a vida ao sol.

Fica de fora a lua, 
e mais ainda o "black, dark, side of the moon".
(Passaste há dias,  na rua,  
por uma mulher 
que escolheu esta frase tão sensaborona
ou se calhar, genial, provocadora, feminista,
para pôr ao peito,
na parte da frente  da sua t-shirt,
intencionalmente preta e suja...
Pensaste:  já é tudo tão vulgar, tão "kitsch", tão triste... 
Ou talvez não, se elevares a frase
 à categoria do sarcasmo social!).

Não sabes se é pecado maior,
aos olhos dos guardiões do céu,
adorar o sol.
Nem sabes se o deus todo poderoso das religiões monoteístas
tem ciúmes do sol, tão adorado,
afinal sua criatura, finita, 
um deus menor.

Os pobres dos antigos egípcios,
que já tinham a mania que eram astrólogos e astrónomos,
adoravam o sol, o deus-Rá: 
tinha  um corpo humano com cabeça de falcão,
e sobre a cabeça um disco solar e uma cobra enrolada...
Divindade híbrida,  
criador do mundo, 
era ele quem trazia a luz e regulava a vida,
viajando pelos céus durante o dia na sua barca solar,
e mergulhando à noite no submundo das trevas,
para combater a entropia e as forças do mal...

Tu,  animista, heliocêntrico, te confessas.
És um tonto de um girassol.
Perturbam-te os eclipses, totais ou parciais, do sol.
Extasias-te com o pôr-do-sol, 
e não tanto com o nascer-do-sol.
Sabes que o sol é um dado adquirido,
mesmo que não nasça para todos,
como já não nascia no vale do Nilo 
no  tempo dos faraós e do deus-Rá.

Sabes que podes contar com ele,
todas as manhãs, ao acordar,
mesmo em dias de céu cinzento, nublado, deprimente.

Mas também te aterroriza o pôr-do-sol,
onde se oculta, emboscada, a morte.
Aterroriza-te saber que um dia, 
daqui a alguns milhões de anos,
o sol apagar-se-á.
Ou implodirá.
Perguntar-te-ão: que te  importa, pobre diabo,
se sabes que vais morrer um dia destes ?!

Pensava-lo imortal, ao deus-sol, mas é finito:
quando descobriste,  aos teus catorze ou quinze anos,
que um dia o sol iria morrer,
tornaste-te ateu (ou, talvez melhor, agnóstico,
ou talvez nem isso:
tiveste muito simplesmente a tua primeira crise existencial).

Nunca ligaste ao sol na Guiné,
na tua segunda crise existencial.
Ou melhor: odiava-lo, ao sol tropical, 
odiava-lo com um ódio de morte.
Afinal, ninguém faz uma guerra 
sem ter um ódio de estimação. 
Um inimigo.

Não tinhas o mar, no interior, no mato,
para te deslumbrar com o pôr-do-sol.
Não tinhas o "mare nostrum" dos teus antepassados, o Atlântico.
Apenas os poilões, a tabanca, 
a bolanha e os palmeirais e a savana arbustiva.
Ou a floresta-galeria que te tapava o sol.
Nunca foste ao Boé, onde havia pequenas colinas.
A Guiné era plana, horrivelmente plana, chata como a Holanda.

Ah!, como tu odiavas o sol da Guiné.
Detestavas o sol porque havia guerra,
e penosas operações a pé que te podiam levar
à insolação, à desidratação e, "in limine", à morte.
Detestavas o sol porque não sabias
por que razão havias de morrer de insolação e desidratação
só porque havia guerra no tempo seco.

Odiavas o sol da Guiné,
razão por que sempre preferias a  noite e os seus pesadelos.
Não te lembras de ver a lua, 
ou então só viste o  "black, dark side of the moon".
Dormias de dia, sempre que podias ou te deixavam.

E, quando tu morreres,
se ainda puderes deci
dir
(isto é, escolher onde, como e quando...),
e, se não for pedir muito a quem de direito,
aos seres do panteão,
com cabeças de falcão e braços de serpente,
pois então que peças para morrer ao pôr-do-sol,
frente ao mar da tua infância,
ao Mar do Serro.
Duvidas que os deuses aceitem cunhas, 
por isso não também rezas.

Não, ainda não escreveste o teu testamento vital,
mas esperas ainda ir a tempo de o fazer
e de lá pôr essa cláusula,
para o cangalheiro ler:
'Quero que, no meu caixão,
antes de entrar no forno crematório,
escrevam a tinta anti-fogo:
Cuidado, frágil, adorador do sol".

Lourinhã, Praia da Areia Branca,  Vigia-Gapab, 19 de julho de de 2025
______________

Nota do editor:

Último poste da série: 17 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

quinta-feira, 17 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

1. O meu concidadão, conterrâneo, vizinho, colega, companheiro, camarada, grão -tabanqueiro, amigo e  'mano',  Jaime Bonifácio Marques da Silva, faz hoje 79 anos.  E vou comer umas sardinhas grelhadas com ele, e outros amigos tabanqueiros como o Pinto Carvalho (somos todos membros da Tabanca do Atira-te ao Mar... e Não Tenhas Medo). Faz cá falta o João Crisóstomo, o régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona...  Que preza a nossa amizade e adora as nossas sardinhas.

Respiguei uns tantos tópicos da  vida do Jaime,  já longa, mas também sofrida... Vou-lhe oferecer como prenda de anos, a "Arte de Amar", de Ovídio (edição bilingue, português e latim com tradução, introdução e anotações de Carlos Ascenso André; Lisboa, Quetzal Editores, 2023, 221 pp.). 



Cortesia de Quetzal
Em  honra do Jaime (e também do grande poeta romano Ovídio, séc. I a.C.), e mostrando-o como exemplo da arte e engenho  não só de amar e ser amado como de promover o envelhecimento saudável e ativo, pedi a vários assistentes de IA que me fizessem  uns versinhos de parabéns, a ele Jaime, à moda do romano Públio Ovídio Nasão, em dístico elegíaco. Em português e depois em latim.  (Uma brincadeira, já que não tive tempo para mais.)

As versões, em português e em latim, foram revistas e fixadas por mim, em curto espaço de tempo , e  tanto quanto me permite o meu já muito esquecido e agora limitado domínio do latim clássico. (Já lá vai o tempo em que eu lia com fluência, e o Jaime também, os clássicos romanos, do Cícero ao Virgílio!).

Jaime Bonifácio Marques da Silva

(i) Nasceu no Seixal, Lourinhã, Portugal, na margem direita do Rio Grande que no tempo do poeta Ovídio, século I a.C., foi navegado pelas naus romanas... E em 711 era conquistada pelos mouros, novos senhores da Península Ibérica... Quatro séculos depois, em 1147, o primeiro rei português, Afonso Henriques, na sua marcha para Lisboa, conquista aquelas terras, donde se avista o "Mare Nostrum" de quinhentos, o Atlântico. A Lourinhã foi entregue aos cavaleiros francos, feros cruzados, cristãos. 

(ii)  Nasceu numa família de gente honesta e trabalhadora, tem ainda 3 irmãs vivas, que o adoram, sendo ele o mais velho. O pai trabalhou as terras dos senhores, a fértil várzea do Seixal e Areia Branca, até conseguir, por fim, montar o seu próprio negócio, como comerciante de frutas e legumes no mercado  da vila da Lourinhã. 

(iii)  Teve uma infância dura, uns vizinhos, ricos e com terras mas sem filhos, quiseram em vão adotá-lo. Era um menino pobre, lindo, de olho azul... Triunfou o amor dos pais e dos irmãos. 

(iv) Feita a escola primária, e sendo um miúdo inteligente, cursou o seminário, na esperança de vir a ser padre. Deus chamou-o mas o não ungiu, como um dos seus eleitos.

(v)  Fez a tropa e a depois a guerra colonial, em Angola, onde comandou um bravo grupo de paraquedistas (1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72). Foi forte e leal. Mas sempre atento aos seus valores humanos, portugueses e cristãos: na guerra não valia tudo.  Tem a cruz de guerra de 3a. classe.

(vi)  Ainda em Angola,  antes da independência, começou a tirar o curso de educação física. Foi professor nesta área, e durante 40 anos viveu e trabalhou  em Fafe, no Norte de Portugal. Para lá foi levado pela paixão pela Dina, que lhe deu dois filhos, o Pedro e a Sofia. Tem muito orgulho neles, que se doutoraram e são hoje professores. 

(vii)  Tem também muito orgulho no seu trabalho, como autarca, no município de Fafe onde foi vereador, em três mandatos, dos pelouros do desporto e da cultura (1986/97). Fala com um brilho nos olhos do seu legado em Fafe: sendo ele "mouro", português do Sul, levou a gente nobre, minhota,  do Norte,  a gostar tanto da música sinfónica tanto como do andebol feminino... 

(viii)  Foi um cuidador excecional da sua Dina, atingida pela terrível doença do Alzhemeir, e já falecida (Fafe, 1946-Lourinhã, 2022). Nunca se deixou abater pelo desânimo, a desesperança, a solidão, minas e armadilhas da sua picada da vida,  ou as suas próprias mazelas... 

(ix)  Cultiva a amizade como poucos e mais recentemente, há uns anos, deixou-se atingir novamente pela seta de Cúpido. O seu coração foi ganho por uma temível feminista e socióloga da Lixa, Felgueiras. Uma mulher culta, inteligente, lutadora e de coração ardente. A doutora Laura, amiga da Alice Carneiro e do padre Mário da Lixa. 

(x) E, com todo o mérito, arte e engenho, o Jaime tem sabido manter e conservar não só a sua saúde física e mental, bem como os seus amores (pela Laura, pelos filhos Pedro e Sofia, pelas manas, Natália, Esmeralda e Maria João, pelos amigos...).

(xi) Gosta de música, toca cavaquinho. Escreveu recentemente, em 2025, o livro "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial"

2. Resposta dos assistentes de IA ao meu desafio. Interessante como a IA pega nas diferentes facetas da biografia do Jaime e quase instantaneamente (mais depressa que o diabo a esfregar um olho)  faz um poema em dístico elegíaco, conforme lhe foi pedido... E nunca sai igual. E tem, a IA,  a "humildade" de por enquanto  aceitar as sugestões e correções dos humanos... (Seleção, revisão / fixação de texto: LG)

Perplexity ia

Eis os versos em honra do teu amigo Jaime Bonifácio Marques da Silva, primeiro em português e depois em latim, à maneira dos dísticos elegíacos de Ovídio:

Em Português:

Ó Jaime, que o Tempo não doma, menino do Seixal, herói de Angola,
tua vida é poema que se entrelaça: guerra, amor, dever, voz que não cala!

Da Lourinhã a Fafe, foste luz, levando a música aos rudes corações;
e até no luto, firme como a cruz, guardaste a graça em todas as estações.

Agora, aos setenta e nove anos (mais sábio que um romano, mais audaz),
mostras que o amor, em seus verdes anos, vence a velhice e o viço do rapaz.


In Latinum Versum (Dactylico Elegiaco):

O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli,
Vita tua carmen est, quod contexit arma, amor, officiumque voxque silentis.

A Laurinhâ Fafemque tulisti lux, ferens musicam duris cordibus;
Et quoque in luctus stans pede certa crux, gratia servasti omni tempore.

Iam septuagenus et novem annos tuos, praeclari prudentior Romanis, audax,
Ostendis amorem viridi praesente aetate vincere senemque iuvenemque.

____

Notas da IA;

(i) Forma e métrica geral: o dístico elegíaco é composto por um verso hexâmetro seguido por um verso pentâmetro. Tentei respeitar esse ritmo clássico para que o poema soe realmente como um epigrama ou elegia de Ovídio;

(ii) Primeiro dístico: “O Iacome, quem Numen nihil domat, puer Seixalensis, heros Angoli"...

  • “O Iacome” (forma latina de Jaime);
  • "Numen” (uma força divina ou o espírito do tempo, uma palavra-poética para o tempo);
  • “quem Numen nihil domat” (quem o poder divino não subjuga);
  • “puer Seixalensis” (menino do Seixal, adjetivo derivado do nome), etc.

Gemini IA

Parabéns para o Jaime, à Maneira de Ovídio

Setenta e nove anos celebra o valoroso Jaime,
Nascido onde o Rio Grande outrora as naves romanas viu.
Do Seixal, terra fértil, onde o Atlântico se espraia,
Um homem de virtude, cujo espírito floresceu.

Em tenra idade, o trabalho e a honra o guiaram,
Dos pais, que o amaram, o pobre menino se fez forte.
Do seminário à guerra, onde a lealdade brilhou,
Comandou bravos, em Angola, mas a humanidade foi seu norte.

Em Fafe, o amor da Dina e filhos, Pedro e Sofia,
Na educação, um mestre, em quarenta anos de paixão.
Como autarca, a cultura e o desporto enriqueceu,
Unindo Norte e Sul, num só coração.

Na dor, cuidador fiel, sem se render ao desespero,
Sua Dina viu partir, mas sua alma permaneceu.
A amizade cultiva, e o amor o reencontrou,
Com a Laura, a feminista, seu coração renasceu.

Saúde e amores guarda, com arte e sabedoria,
Pelos filhos, irmãs, e amigos, o carinho infindo.
No cavaquinho a melodia, na escrita a memória,
Jaime, és exemplo de vida, um presente tão lindo!


Em Latim (em Dístico Elegíaco)

Septem et septuaginta annos Jaime noster celebrat fortis,
 Ubi flumen magnum naves Romanas olim vidit. 
Seixal terra fecunda, ubi Oceanus se ostendit, 
Vir virtutis, cuius animus floruit per saecla.

In teneris annis, labor et honor eum duxerunt, 
Parentes dilexerunt, puer pauper factus est fortis. 
A seminario ad bellum, ubi fides resplenduit, 
Ducens audaces, sed humanitas eius finis fuit.

Fafe in urbe, amor Dinae, filiorumque, Petri et Sophiae, 
In doctrinis magister, quadraginta annis cum amore. 
Ut magistratus, culturam et ludum auxit, 
Septentrionem et Meridiem univit, in uno corde.

In dolore, custos fidelis, spe non victus tristis,
Dina decessit, sed anima eius mansit integra. 
Amicitiam colit, et amor eum invenit rursus, 
Cum Laura, feminista, cor eius rediit iuvenile.

Salutem et amores servat, arte et sapientia mira, 
Filiis, sororibus, amicis, amor est infinitus.
 In cavaquinho melos, scriptis memoria vivit, 
Iacobe, vitae exemplum es, donum tam pulchrum!

Chatpgt

Parabéns elegíacos para o  Jaime (em português)

Jaime, que o tempo honra, com passos de herói persistente,
Setenta e nove outonos, vividos com alma ardente.

Da margem do Rio Grande, nasceu sob o céu lusitano,
De olhos de céu azul, menino pobre mas soberano.

Não foi o ouro que o moldou, mas o amor fiel dos pais,
Rejeitou adoções ricas, escolheu raízes reais.

No seminário sonhou com Deus, mas o destino era outro,
Na guerra foi justo e firme, com coração resoluto.

Em Angola, e depois em Fafe, ensinou corpos e almas,
Com saber e com paixão, promoveu saberes e palmas.

Do andebol ao concerto, o “mouro” domou o Norte,
Fez da Cultura um brasão, do Desporto, força e sorte.

Cuidou a sua Dina, com devoção e ternura,
E o Amor, como o vinho velho, voltou com nova doçura.

Hoje é pai, avô, amigo, guardião de um tempo digno,
E mostra como se vive com sentido e com ritmo.


 Salve, Jaime (em latim)

Iamus, quem decorat tempus, gressibus heros,
Septuaginta novem vitae complevit amoros.

Ex ripa fluminis magni natus sub caelo Lusitano,
Caeruleis oculis, pauper puer, sed urbano.

Non aurum formavit eum, sed amor parens fidelis,
Divites sprevit adoptantes, amplexus est originis melis.

In seminario deum quaesivit, sed fata vetabant,
In bello justus et firmus fuit, cor non vacillabat.

In Angola docuit, postea Favae manebat,
Corpora mensque regebat, scientia palmas dabant.

A ludo ad musicam, Maurus domuit Aquilonem,
Cultus signum fecit, ludum fortem coronem.

Dinam curavit amore, dulcedine plena fide,
Et amor rediit, ut vinum vetus, dulci ridente ride.

Nunc pater, avus, amicus, temporis custos honesti,
Et monstrat vivere sensu plenoque motu festi


Em português (à maneira de Ovídio):

Jaime, flor de virtude e vigor, na serena alvorada dos anos,
Tece com mãos firmes a trama do tempo: justo e fiel.

Filho da várzea pura, onde o vento romano passou,
Sul e Norte unindo, em teu peito há um fado imortal.

Nem guerra nem dor dobraram teu estofo de ferro e ternura,
Com alma cristã, encheste o mundo de luz sem igual.

A Dina, teu porto, amaste até à mais doce saudade,
E depois a Laura, chama viva, amante e igual.

Ergues os dias com riso, cavaquinho e memória,
Do passado fazes honra, teu ideal é real.

Aos filhos das tuas entranhas deixaste um legado de estrelas,
E a Fafe do teu labor canta-te em hino triunfal.

Hoje, ao sopro do tempo, brindamos à tua jornada,
Jaime, que sejas eterno, como o amor sem final.


 Em latim (meticulosa adaptação ao estilo elegíaco):

Iámius, exemplo virum, sub lucida tempora vitae,
Dextra tenet vitam, iustus et aequus homo.

Natus in ubertate, Seixale, ubi flamina Romae,
Cordis in ore canis,  lusus et arma tenens.

Nec bellum fractum, nec dolor flexere viriles,
Sed pietate valens, lumen in orbe tulit.

Dinam amavisti, dulcem usque ad limina somni,
Et Lauran postea, fortis amore pari.

Cantibus et risu surgis cum luce diei,
Praeteritae memorem, vivis et arte fide.

Filiis et Fafae lucem reliquisti perennem,
Te celebrant vates, gloria longa manet.

Nunc, inter annos, carmina tibi damus alma,
Iámi, vive diu,  amor aeternus erit!

_____________

Notas da IA sobre a composição:

O dístico elegíaco é composto por um hexâmetro seguido de um pentâmetro, utilizado pelos romanos sobretudo na poesia amorosa (elegia), mas também em epigramas laudatórios.

Busquei conservar o ritmo, a imagética, e sobretudo o tom celebratório e inesquecível que Ovídio poderia usar para um herói moderno como o Jaime.

Parabéns ao Jaime! Que continue a ser uma inspiração e que a sua vida seja celebrada como um verdadeiro clássico da humanidade!


Dísticos Elegíacos – Ao Jaime, aos 79 anos

Nas margens do Rio Grande  nasceu o Jaime, de olho azul,
Homem de honra e memória, firme como rochedo ao sul.

Na infância pobre e bela, recusou adoção dourada,
Preferiu o lar humilde, a alma pela fé guardada.

Serviu a pátria em Angola, bravo, íntegro, decidido,
Mas foi brando no gesto, jamais o ódio o teria vencido.

Fez-se mestre do corpo, e no Norte deixou marca viva,
Fafe ganhou com cultura, e com desporto em deriva.

Foi amante fiel, cuidador de alma e de dor,
Guardião de memória, um farol contra o temor.

Hoje, aos setenta e nove, Jaime é arte de viver,
Sabe amar, resistir, sem jamais se perder.

Louvor ao homem que canta, que escreve, que não cede,
Que viva cem anos, ou mais, com graça, saúde e sede!

Em Latim:

In Ripa Magna natus est Jaime, oculis caeruleis,
Virtute clarus erat, firmus ut rupes australis.

Pauper et pulcher puer, adoptari noluit umquam,
Parentes, patriamque fovit corde benignum.

In Angola militavit, fortis et mente valens,
Sed lumen humanum secutus, mitis et acer.

Magister motus factus, terras Borealis amavit,
Fafam donavit cultu, lusibus atque docuit.

Fidus amator erat, custos memor atque dolorum,
Firmus in adversis, lux inter nocte malorum.

Septem novem annos nunc Jaime laetus agit,
Amor et virtus illi sunt arma quibus sapit.


Laus tibi, qui cantas, scribis, sperasque serenum,
Vivas centenos annos, plus, si fata sinerent!

____________

Nota do editor:

Último poste da série: 18 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

sábado, 12 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27007: A Nossa Poemateca (10): Ovídio Martins (Mindelo, 1928 - Lisboa, 1999), um grande poeta cabo-verdiano bilingue


Ovídio Martins
(1928-1999)

1. Nos 50 anos da independência de Cabo Verde , temos de dar também a palavra aos poetas. Ovídio Martins (Mindelo, 1928 - Lisboa, 1999) é a nossa escolha para a série "A Nossa Poeemateca".

Ovídio Martins (1928-1999) é considerado um dos poetas cabo‑verdianos de referência do século XX.  Claro que há outros que teriam de figurar numa antologia da poesia de Cabo Verde. Citemos, por exemplo:

  • Baltasar Lopes da Silva  (pseudónimo Osvaldo Alcântara) (1907-1989): um dos fundadores da revista "Claridade", historicamente um marco na literatura cabo-verdiana ao procurar valorizar a identidade e a realidade das ilhas. Poeta, prosador, ensaísta, é uma referência maior da cultura cabo-verdiana do séc. XX: "Chiquinho" é um romance incontornável para quem se quiser iniciar na literatura cabo-verdiana.
  • Jorge Barbosa (1902-1971): também outro "Claridoso" (figura central do movimento "Claridade"),  a sua poesia faz-se da melancolia e do isolamento do arquipélago, mas também da esperança e da resiliência do povo cabo-verdiano.

  • Manuel Lopes (1907-2005): outro  cofundador da "Claridade",  explorou, em prosa e poesia, temas como a seca, a emigração e a vida rural em Cabo Verde.  Obras de ficção como "Os Flagelados do Vento Leste" e "Chuva Braba" são obras de referência do romance  cabo-verdiano, abordando a resiliência e o sofrimento dos ilhéus face às adversidades. Menos conhecida é talvez a sua obra poética:  "Poemas de Quem Ficou", "Crioulo e Outros Poemas" e "Falucho Ancorado"... Viveu grande da vida em Portugal, mas nunca cortando o cordão umbilical com a sua terra.

  • Corsino Fortes (1933-2015): já de outra geração, o autor de "Pão & Fonema" e "Árvore & Tambor", trouxe uma linguagem mais moderna e política para a poesia cabo-verdiana.
  • Arménio Vieira (n. 1941): Prémio Camões (2009), é o mais conhecido internacionalmente; voz muito original, também de outra  doutra geração,  explora questões mais  existenciais e metafísicas, afastando-se dos temas mais tradicionais e insulares da literatura cabo-verdiana, inaugurados com a "Claridade" (1936).

Com exceção de Jorge Barbosa e Arménio Vieira,  nascidos na Praia, os restantees são todos nados e criados na capital cultural de Cabo Verde, Mindelo, onde surgiu o movimento "Claridade" (a que Jorge Barbosa também está profundamente ligado). Desta revista literária, "Claridade", sairam nove números, entre 1936 e 1960.

E, en passant, não podemos esquecer o pai da morna, Eugénio Tavares (1867-1930), um dos primeiros a utilizar e valorizar o crioulo como língua literária. Nem o expedicionário em São Vicente, na II Guerra Mundial, o furriel miliciano, leiriense,  Manuel Ferreira (1917-1992),  que se irá tornar um grande apaixonado, estudioso, crítico e divulgador da literatura cabo-verdiana: tem 15 referências no nosso blogue;  mais tarde,  capitão SGE,  será também ficcionista, autor de "Hora di Bai" (romance) e de "Morabeza" (contos).

2. Mas voltando a Ovídio Martins... A sua poesia  é reconhecida pela força militante,  intervenção cívica, crítica ao colonialismo e  afirmação da  identidade cabo‑verdiana. Mas também pelo lirismo amoroso.  Foi um escritor bilingue (português e crioulo de São Vicente). Faz a transição entre a poesia militante e a afirmação da cabo-verdianidade. 

Sobre Ovídio Martins, importa referir algumas breves notas biográficas:
´
(i) nasceu em Mindelo, ilha de São Vicente,

(ii) fez o liceu Gil Eanes onde teve como o professor Baltazar Lopes;

(ii) frequentou o curso de Direito em Lisboa, entretanto interrompido por razões de saúde; na sequência do tratamento começou a sofrer de surdez:

(iii) empenhou-se na luta (política) pela independência, foi amigo de Amílcar Cabral, quatro anosais velho, e membro do PAIGC;

(iv) preso pela PIDE, exilou-se nos Países Baixos;

(v) voltou à sua terra, com o 25 de Abril, onde trabalhou no ministério da educação;

 (vi) morreu em Lisboa, em 1999, vítima de doença neurológia.

 
Principais obras:

  • Caminhada (Lisboa, 1962), primeira coletânea de poemas.
  • Tchutchinha (1962) – conto/novela, editada em Angola 
  • 100 Poemas – Gritarei, Berrarei, Matarei – Não vou para Pasárgada (1973) (reunindo poesia em ambas línguas, incluindo temas de resistência e exílio);
  • Independência (1983)(reflete o período pós‑independência)

Eis uma seleção nossa, de poemas da obra "Caminhada" (1963)

 
o único impossível 

Para Baltazar Lopes 

Mordaças 
A um Poeta? 

Loucura! 

E por que não 
Fechar na mão uma estrela 
O Universo num dedal? 
Era mais fácil
Engolir o mar
Extinguir o brilho aos astros 

Mordaças 
A um Poeta? 

Absurdo! 

E por que não 
Parar o vento
Travar todo o movimento?
Era mais fácil deslocar montanhas com uma flor 
Desviar cursos de água com um sorriso 

Mordaças 
A um Poeta? 

Não me façam rir!... 

Experimentem primeiro 
Deixar de respirar 
Ou rimar... mordaças 
Com Liberdade

desesperança

Cinco séculos depois
do
achamento de Cabo Verde


Sol ou mar
Chuva ou música
Sejas tu uma cadência
ou uma noite que se perdeu
Traz nos teus braços
a distância
que nos separa
do sonho impossível
Olhos cheios de secas
e de oceanos
Cheios de mornas
e de pouco milho
As promessas viraram cansaço
e já nem as luas acreditam
Sol ou mar
Chuva ou música
Para vós as glórias do achamento
Para nós os sonhos em ampulhetas



chuva em cabo verde


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
Soluçam os violinos choram os violões
nos dedos rápidos dos tocadores
«Dança morena
dança mulata
menininha sabe como vocês não tem»
E elas sabinhas
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
Já tem milho pa cachupa
Já tem milho pa cuscus
Nas ruas
nos terreiros
por toda banda
as mornas unem os pares nos bailes nacionais
Mornas e sambas
mornas e marchas
mornas mornadas


Choveu


Festa na terra
Festa nas Ilhas
que cantam e dançam e riem
e choram de contentamento
Soluçam os violinos choram os violões
nos dedos rápidos dos tocadores
«Dança morena
dança mulata
menininha sabe como vocês não tem»
E elas sabinhas
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras
dão co’as cadeiras



nôs môrte


Quem ê q’morrê
qond quel navio
desaparecê
na mar de canal?


Nós tude morrê um c’zinha

Quem ê q’morrê
qond quel bôte
tcheu de pêscador
perdê na nôte?

Nós tude morrê um c’zinha

E quel carta de lute
quem ê q’morrê
qond tchgá noticia de Son T’mê

Nós tude morrê um c’zinha


A nossa morte

Quem é que morreu
quando aquele navio
desapareceu
no mar do canal?

Todos nós morremos um bocadinho...

Quem é que morreu
quando aquele bote,
cheio de pescadores,
se perdeu na noite?

Todos nós morremos um bocadinho...

E aquela carta de luto,
quem é que morreu
quando chegou a notícia de São Tomé?

Todos nós morremos um bocadinho...


 


cretcheu


Calá, ca bô tchôra más 
’n ta tróbe um morninha 
que ta dobe ’ligria e paz 
que ta pobe sorrise na boca 

Calá ca bô tchora más 
nha amor ê forte carditá 
nha violão ê más doce 
q’cónte de seréna ta pintiá 

Calá ca bô tchora más 
bô ê morna morna ê bô 
e s’m perdebe mi era capaz 
de perdê tine perdê nha vida.

Cretcheu

Cala-te, não chores mais,
vou-te fazer uma morninha
que te traga alegria e paz
e te põnha  um sorriso nos lábios.

Cala-te, não chores mais,
o meu amor é forte, acredita,
e o meu violão é mais doce
do que um conto de sereia consegue  pintar.

Cala-te, não chores mais
tu és morna, morna és tu
e, se eu te perder, 
eu seria  capaz de perder o tino 
e perder a minha vida.

 


um r’bêra pa mar 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar... 
R’bêra sem ága 
má tcheu de dor e raiva 
de desuspêre e agonia 
El ta tcheu de sperança
 inganóde e de promessa inrolóde na fume 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar
R’bêra sem ága 
ma’l tem sangue 

Sangue daquês que morrê na terra-longe 
na traboi scróve 

Sangue daquês q’caí de rotcha 
pa ca morrê de fôme 

Sangue d’irmon que matá irmon 
pa inganá és dstine de séca 
dstine qu’ês marróne 
má dstine  que nó ca qrê 

Tem um r’bêra ta corrê pa mar...



Uma ribeira para o mar

Há uma ribeira que corre para o mar...
Ribeira sem água,
mas cheia de dor e raiva,
de desespero e agonia.
Está cheia de esperança,
enganosa e de promessas enroladas em fumo.

Há uma ribeira que corre para o mar,
ribeira sem água,
mas que tem  sangue.

Sangue daqueles que morreram na terra-longe,
em trabalhos escravos.

Sangue daqueles que caíram dos penhascos
para não morrer de fome.
Sangue de irmão que matou irmão
para enganar esse destino da seca,
destino a quer estamos amarrados,
mas é um destino
que nós não queremos.

Há uma ribeira que corre para o mar...



morabeza 

’M tá gostá de bô ser 
um spêce de porte d’abrigue 
Qond tempôral b’tasse mim 
dum conte pa ote 
’m tá tem certéza 
na bô morabéza: 
dôs bróce quente pa quecême 
dôs oi monse pa serenóme 
e um boca doce pa calentóme


Morabeza


Gosto que tu sejas
o meu  porto de abrigo
Quando a tempestade me sacode
de um lado para o outro,
eu tenho a certeza
da tua morabeza:
dois braços quentes para me aquecer
dois olhos mansos para me acalmar
e uma boca doce para me acalentar



In:  "Caminhada". 1ª edição. Lisboa:  Casa dos Estudantes do Império. Colecção de Autores Ultramarinos,  1963 (disponível em https://www.uccla.pt/sites/default/files/caminhada.pdf )


(tradução para português europeu,   com recurso à IA, revisão, fixação de texto, pontuação, na coluna do lado direito: LG... E a generosa supervisão  do jornalist, radialista e escritor, e nosso camarada de Cabo Verde, Carlos Filipe Gonçalves)







Fonte: (1975), "Diário de Lisboa", nº 18807, Ano 55, Sábado, 5 de Julho de 1975, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_4405 (2025-7-12) (com a devida vénia...)


 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Guiné 61/74 - P26931: Manuscrito(s) (Luís Graça) (269): o azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim








Lisboa > 8 de junho de 2025 > O mês da feira do livro e dos jacarandás

Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


O azul, o preto e o vermelho, aliás, carmesim

por Luís Graça



Não gostavas de escrever a azul.
Também não gostavas de escrever a vermelho.
Sempre gostaste de escrever a preto.
Em papel liso.

Sempre detestaste as linhas
mas nem sempre havia papel liso
nem esferográficas pretas.

Vermelho, não, carmesim (*),
como se dizia antigamente,
no tempo em que o vermelho era proibido
nas repartições públicas do Estado de Direito.
E muito menos
nos registos paroquiais 
de batizados, casamentos e óbitos.

Carmesim e não vermelho,
era a cor das vestes dos cardeais.
Carmesim flamejante.

Também se usava o carmesim
nas provas tipográficas dos livros 
no tempo em que os tipógrafos eram anarcossindicalistas
e tinham três ódios de estimação:
Deus, o Rei e o Capital.

Branca e azul era a bandeira.
Depois passou a ser verde e vermelha,
Por pudor dizia-se verde-rubra.
Rubra da cor das faces das moçoilas do povo
que era pouco republicano
e muito temente a Deus.
Rubra como o tomate saloio.

Deus que, nesse tempo,
escrevia direito por linhas tortas.
Mas sempre a azul,  celestial.
Deus, Pátria e Família
também só podiam ser escritos a azul.
Era a única tinta que se usava
na tua Escola Conde Ferreira.

Gostavas de escrever à mão.
Mas às vezes não tinhas esferográficas pretas,  à mão.
E, depois, nem todas as esferográfica pretas prestavam.
Nem todas eram válidas e fiáveis.
Cmo as escalas,
biométricas, psicométricas e até sociométricas,
deviam ser.

Ficavas pior que estragado 
quando o bico (ou a ponta ?)
arranhava o papel liso do teu bloco de notas gráfico.
Dizia-se bico (e náo ponta) no tempo da Bic.
Gostavas da Bic, passe a publicidade.
Mas depois a Bic passou a ser feita em países
que eram pouco fiáveis mas que tinham futuro.

O teu país era fiável,
no tempo em que o ouro se mordia com os dentes.
Mas  depois, dizia-se, deixou de ter  futuro.
Há 500 anos que perdia a bússola
e passava a navegar à bolina,
em linguagem náutica.
Ou à deriva,
 em termos mais comesinhos.

Do azul só gostavas das flores dos jacarandás.
Não gostavas do azul
no tempo em que se embrulhava um homem 
em papel selado.
Que era azul, e tinha linhas,
25 linhas.
E não havia tira-linhas, só tira-nódoas.

Não gostavas do papel selado.
Azul, de 25 linhas.
Não gostavas do azul 
nem do vermelho, aliás, carmesim.
Do tempo em que os coronéis da censura
usavam lápis azuis e vermelhos, aliás, carmesins.

Quando foste para a tropa,
gostavas do preto.
Usavas boina preta, 
camisola preta, 
calças pretas, 
luvas pretas...
E esferográfica preta.

Mas depois, disseram-te, 
que era  politicamente incorreto,  o preto.
Por causa não-sei-quê-de-conotações-racistas.
Dizia-se negro, e não preto.
Mas houve uma altura em que o preto dava  jeito.
E, depois, dizia o capelão,
no princípio era o mundo.
E o mundo era a preto e negro.

Ainda te lembravas das fitas 
a preto e vermelho, aliás, carmesim,
com que batias à máquina
poemas sem pés nem cabeça,
só com tronco e braços decepados.
No tempo em que era proibido escrever a vermelho,´
por isso dizia-se carmesim.
E até os sinais de proibição do código da estrada
eram a carmesim.
Não se podia dizer nem escrever
vermelho.

E os próprios jornais, sobretudo os do reviralho,
só podiam publicar títulos de caixa alta
a carmesim.
Em dias de festa.
Ficava cara a impressão.
O preto não era cor, logo era mais barato.
Mas o azul também não vendia jornais.

O preto era a ausência de cor.
Não havia o preto na paleta das cores do arco-íris,
explicava-te o teu professor de química.

Os espanhóis, esses, eram daltónicos
e  foram mais pragmáticos:
só havia os rojos e os blancos.
E mataram-se uns aos outros.


Lisboa, Feira do Livro, 8 de junho de 2025


© Luís Graça (2025)

Nota do autor:

(*) carmesim

carmesim
(car·me·sim)

Imagem

Gradação muito carregada da cor vermelha.

nome masculino

1. Gradação muito carregada da cor vermelha.

adjectivo de dois géneros

2. Que tem essa cor.

Origem etimológica: árabe qirmezi, tingido de vermelho, de qirmiz, vermelhão, encarnado.

"carmesim", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2025, https://dicionario.priberam.org/carmesim.
_______________

Nota do editor:

Último poste da série > 20 de março de 2025  > Guiné 61/74 - P26599: Manuscrito(s) (Luís Graça) (268): A velha Amura dos tugas, agora panteão nacional...

terça-feira, 20 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26822: Lembrete (52): Há já 59 magníficos inscritos para o 61º almoço-convívio da Tabanca da Linha, 5ª feira, dia 29 de maio, em Algés... Prazo-limite de inscrição: até ao fim de 2ª feira, dia 26


Jorge Rosales (1939-2019) |  José Manuel Matos Dinis (1948- 2021): Sempre presentes!



Cascais > Estrada do Guincho > Restaurante Oitavos > 20 de novembro de 2014 >  XVII Almoço-convívio da Magnífica Tabanca da Linha, o almoço (antecipado) de Natal. Reuniu 55 convivas, o dobro do habitual naquele tempo. Sem publicidade, sem alardes. O pestisco foi o consagrado e aclamado arroz de marisco da casa (Restaurante e Casa de Chá,  "Oitavos").

 O sítio era encantador, rodeado de verde, de mar e de chuva... Ao fim da tarde, o sol apareceu, a dar um ar de sorriso... natalício. 

Acima pode ver-se a magnífica mariscada que, durante uns tempos, foi um dos "ex-libris" ou ícones do serviço de "catering" da Tabanca da Linha... O segredo estava bem guardado, dizia o "régulo" da tabanca, o Jorge Rosales (1939-2019), quando a gente lhe perguntava quem eram o fornecedor e o cozinheiro...

 O Manuel Resende, na época, era apenas o fotógrafo privativo da Tabanca da Linha... A morte do "régulo" Jorge Rosales (em 2019) e do seu "secretário" José Manuel Matos Dinis (em 2021)  foi um duro golpe para os os "mangníficos"...

O Manuel Resende tem sido, desde então, um digno sucessor!... E no próximo dia 29 de maio volta a chamar-nos a capítulo!...Ele está esperançado que o segundo e último piso do Restaurante Caravela d'Ouro, em Algés, se encha (lotação: 80/100 lugares). À data de hoje, já somos 59 os inscritos. (*). 

Aproveitamos para "matar saudades" dos dois régulos anteriores, republicando os versinhos natalícios que  fizemos à Tabanca Grande em 2014.


Fotos (e legenda): © Manuel Resende (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Bluís Graça & Camaradas da Guiné]


Homenagem à Magnífica Tabanca da Linha


É uma espécie em extinção,
Mas já foi raça danada,
Sem saúde nem patacão,
Quer apenas ser lembrada.

É malta, não é gentinha,
È feita de sangue, carne e osso,
São a Tabanca da Linha,
Uns pró fino, outros pró grosso.

Calcorreando montes e vales,
Pois é régulo e comandante,
A malta segue o Rosales
E mais o seu ajudante.

Dois rapazes dos Estoris,
Que vieram ao mundo p’ra sofrer,
O mais reguila é o Dinis,
E o mais pisco p’ra comer.

Dois cavaleiros andantes,
Qual Quixote e Sancho Pança,
Andaram sempre a penantes.
Na Guiné espetaram lança.

De Bissau a Buruntuma.
De Porto Gole a Bissá,
Perderam-se os dois na bruma,
Mas têm tabanca cá.

É uma tabanca real,
De pura e nobre linhagem,
Onde Guiné e Portugal
Fazem sua mestiçagem.

Em nome da Tabanca Grande,
Saúdo os Reais Tabanqueiros
Que, sem que ninguém lhes mande,
São bravos e leais companheiros.

Almoço-convívio de Natal
Oitavos, estrada do Guincho, Cascais,

Luís Graça
20/11/2014




Já são 59 os inscritos para o próximo convívio, dia 29, 5ª feira. (*). Fica aqui o lembrete: prazo de inscrição até ao final de 2ª feira, dia 26. Inscrições: 
Manuel Resende | Tel - 919458210
Mail - magnificatabancadalinha2@gmail.com
 

___________________

Notas do editor:


(**) Último poste da série > 7 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26243: Lembrete (51): Apresentação do livro "Encruzilhadas no Império", de Paulo Cordeiro Salgado, dia 9 de Dezembro de 2024, pelas 18 horas, na UNICEPE, Praça de Carlos Alberto, 128 - Porto