1. Mensagem do nosso camarada Albino Silva* (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 14 de Julho de 2011:
De novo a dar trabalho ao Carlos Vinhal, desta vez com mais umas fotos de médicos que foram meus camaradas em Teixeira Pinto.
Deste dois que apresento nas fotos, apenas com o Prof. Dr. Maymone Martins mantenho contacto, e de longe a longe nos encontramos em Convívios da CCS. Com o Dr. Maximino nunca nos encontramos, mas sei que trabalha no Hospital em Chaves, pois recentemente estive em contacto com ele.
Dos doutores Bessa de Melo e Cruz Maurício, nunca mais se soube nada deles.
É caso para lhes apelar a que compareçam no próximo Encontro marcado para o dia 5 de Maio de 2012 na Quinta dos Três Pinheiros na Mealhada, pois nos lembramos sempre de vós, e todos os queremos abraçar.
Desculpa Carlos todo este trabalho que te vou dando, mas se a nossa Tabanca é já muito Grande, devemos ter o prazer de a ver ainda maior.
Albino Silva
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8554: Em busca de... (169): Pessoal do CAOP 1, Teixeira Pinto, 1969 a 1971 (Albino Silva)
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8556: Em busca de... (170): Guiões das Unidades mobilizadas para a Guerra Colonial (Manuel Botelho / Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 16 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8561: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (4): Bissau
1. Quarta página do Álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) em mensagem do dia 28 de Junho de 2011.
ÁLBUM DE MANUEL COELHO (4)
Fotos de Bissau
Bissau > Capela
Bissau > Coqueiros
Bissau > Diogo Gomes
Bissau > Estrada
Bissau > Desfile da Fanfarra
Bissau > Honório Barreto
Bissau > Ilha
Bissau > Jornal de Parede
Bissau > Manga de Ronco
Bissau > Mercado
Bissau > Palácio do Governador
Bissau > Praça do Império
Bissau > Render da Guarda
Bissau > Rua
Bissau > Catedral
Bissau > Um espectáculo no Seiscentos
Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8557: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (3): Nova Lamego e Bissau
Guiné 63/74 - P8560: Os nossos médicos (40): Em Junho de 2012, vou recordar mais coisas, no 15º encontro da malta do HM241 (J. Pardete Ferreira)
1. Comentário, de 12 do corrente, do nosso camarada médico J. Pardete Ferreira, ao poste P8518:
Neste novo tacho de Anexo do Arquivo Geral do Exército, e não só, que não é uma prestação de serviços remunerada, para não infringir o D.L 137/2010, de 28 de Dezembro, e que faço com muito prazer, toldado, aqui ou ali, por um desaparecimento mais, vejo caras a que não consigo dar nome e nomes, cujas caras não encontro.
Lembro-me do falecido Borges de Sousa, ORL [,otorrinolarangologista,] e Director do HM241 que, em 1963, tinha ajudado o Prof Larroudé a operar-me ao ouvido direito no Hospital de Sta Maria (é por isso que só ouço metada de algumas asneiras que se dizem à minha beira, como no café, a título de exemplo); muito especialmente do igualmente falecido Nogueira Pinto, com quem trabalhei no H Sta Maria, que um dia, estando a operar, histericamente o avisam de que um baleado estava a chegar ao Hospital:
- Deixem-me acabar o que estou a fazer, eu até estive na Guerra!.
Com efeito tinha sido médico no Olossato e um dos Capitães que encontrei no Cacheu, tinha sido Alferes com ele que, de certo modo, acabou por ter sorte. Estando a fazer a barba, desencadeou-se um ataque ao aquartelamento e uma bala... veio partir o espelho de que se servia.
Respondendo ao camarigo [José] Marcelino Martins: não, o meu Amigo António Rodrigues Gomes, Prof de Ortopedia, não foi Médico na Guiné. Como eu oriundo do Liceu Gil Vicente e sportinguista, partilhava o gosto do andebol; ele como defesa esquerda e eu como guarda-redes. Ambos fomos convidados pelo Prof Raposo para ir para o Benfica, clube que ele treinava. O Rodrigues Gomes aceitou e eu fui para o Sporting. Isto em anos diferentes, porque eu era um puto. Nesse tempo do Gil ia-se para o Benfica, do Pedro Nunes para o Sporting e creio que da Fonseca Benevides para o Belenenses.
Mas o nome de Raposo é importante: descobrindo o filho Raposo como Capitão e Comandante de Companhia na Guiné, ajustamos e disputamos, para gáudio dos feridos e doentes que nesse dia tiveram uma diversão, um jogo de andebol de uma equipa da sua Companhia e uma do HM241. Até eu joguei, a pivô, ganhamos e só tenho pena que o Couto, escriturário, que jogava no Boavista e que marcou quase todos os nossos golos, tivesse falecido.
Caro Zé, O Rodrigues Gomes, Cirurgião, que esteve em Bissau, após um estágio nos EUA e uma breve passagem pela Cardiologia Médico Cirúrgica do HS Maria, foi para o Porto fazer Cirurgia Cardíaca.
Obrigado e um Alfa Beta
José Pardete Ferreira
PS - Prometo que quando estiver com a malta do HM241 no primeiro domingo de Junho de 2012 para o 15º encontro, vou descobrir coisas, uma vez que só tenho escrito de cor. Com a ajuda da minha malta. Tudo vos será repetido. (*)
_________________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8555: Os nossos médicos (39): Venham mais cinco, dez, vinte... E também os nossos queridos enfermeiros (J. Pardete Ferreira)
Neste novo tacho de Anexo do Arquivo Geral do Exército, e não só, que não é uma prestação de serviços remunerada, para não infringir o D.L 137/2010, de 28 de Dezembro, e que faço com muito prazer, toldado, aqui ou ali, por um desaparecimento mais, vejo caras a que não consigo dar nome e nomes, cujas caras não encontro.
Lembro-me do falecido Borges de Sousa, ORL [,otorrinolarangologista,] e Director do HM241 que, em 1963, tinha ajudado o Prof Larroudé a operar-me ao ouvido direito no Hospital de Sta Maria (é por isso que só ouço metada de algumas asneiras que se dizem à minha beira, como no café, a título de exemplo); muito especialmente do igualmente falecido Nogueira Pinto, com quem trabalhei no H Sta Maria, que um dia, estando a operar, histericamente o avisam de que um baleado estava a chegar ao Hospital:
- Deixem-me acabar o que estou a fazer, eu até estive na Guerra!.
Com efeito tinha sido médico no Olossato e um dos Capitães que encontrei no Cacheu, tinha sido Alferes com ele que, de certo modo, acabou por ter sorte. Estando a fazer a barba, desencadeou-se um ataque ao aquartelamento e uma bala... veio partir o espelho de que se servia.
Respondendo ao camarigo [José] Marcelino Martins: não, o meu Amigo António Rodrigues Gomes, Prof de Ortopedia, não foi Médico na Guiné. Como eu oriundo do Liceu Gil Vicente e sportinguista, partilhava o gosto do andebol; ele como defesa esquerda e eu como guarda-redes. Ambos fomos convidados pelo Prof Raposo para ir para o Benfica, clube que ele treinava. O Rodrigues Gomes aceitou e eu fui para o Sporting. Isto em anos diferentes, porque eu era um puto. Nesse tempo do Gil ia-se para o Benfica, do Pedro Nunes para o Sporting e creio que da Fonseca Benevides para o Belenenses.
Mas o nome de Raposo é importante: descobrindo o filho Raposo como Capitão e Comandante de Companhia na Guiné, ajustamos e disputamos, para gáudio dos feridos e doentes que nesse dia tiveram uma diversão, um jogo de andebol de uma equipa da sua Companhia e uma do HM241. Até eu joguei, a pivô, ganhamos e só tenho pena que o Couto, escriturário, que jogava no Boavista e que marcou quase todos os nossos golos, tivesse falecido.
Caro Zé, O Rodrigues Gomes, Cirurgião, que esteve em Bissau, após um estágio nos EUA e uma breve passagem pela Cardiologia Médico Cirúrgica do HS Maria, foi para o Porto fazer Cirurgia Cardíaca.
Obrigado e um Alfa Beta
José Pardete Ferreira
PS - Prometo que quando estiver com a malta do HM241 no primeiro domingo de Junho de 2012 para o 15º encontro, vou descobrir coisas, uma vez que só tenho escrito de cor. Com a ajuda da minha malta. Tudo vos será repetido. (*)
_________________
Nota do editor:
(*) Último poste da série > 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8555: Os nossos médicos (39): Venham mais cinco, dez, vinte... E também os nossos queridos enfermeiros (J. Pardete Ferreira)
sexta-feira, 15 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8559: Agenda Cultural (143): Cartas de Amor e Saudade, por Manuel Botelho, no Centro Cultural de Cascais até ao dia 28 de Agosto de 2011 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos* (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2011:
Queridos amigos,
Recomendo vivamente um passeio ao Centro Cultural de Cascais, pode muito bem acontecer que encontremos nesta instalação de Manuel Botelho as cartas de amor, as recordações no nosso abandono, os nossos apelos afectivos, a nostalgia daquela expectativa que era a chegada do nosso correio.
Creio que Manuel Botelho venceu esta prova ao prodigalizar o amor posto à prova pela distância, dá-nos um retrato da vida incerta e da fragilidade dos vínculos. Aquele Nando que não escreve e que consome no coração da Lenita terá sido um pouco de todos nós, naquele tempo.
Um abraço do
Mário
Cartas de amor e saudade
Beja Santos
Um conceituado artista plástico, porventura aquele que mais tem trabalhado sobre a guerra colonial, com um olhar inovador e o recurso a diferentes estéticas no recurso da fotografia, do vídeo e da instalação, vem agora propor-nos uma viagem ao valor sentimental das cartas de amor trocadas entre o Nando e a Lenita, algo que se passou nos anos 60/70, é uma partilha de sentimentos, de relações de família, um poderoso testemunho de usos e costumes que permitem questionar o peso das cartas de amor entre alguém que ficou à espera de um namorado a viver num lugar chamado Bachile, algures na Guiné. “Cartas de Amor e Saudade” é o mais recente trabalho de Manuel Botelho, pode ser visitado no Centro Cultural de Cascais até 28 de Agosto.
Trata-se de uma instalação sui generis, o visitante entra num amplo espaço decorado com panos de tenda, simbolicamente uma antecâmara onde é possível encenar essas cenas de amor de dois seres humanos em dois continentes. Numa parede estão penduradas três impressões fotográficas, alguém escreve fardado para alguém que é um perfeito estereótipo das jovens dos anos 60, segue-se um maço de correio atado por cordel e depois a bandeira portuguesa enrolada. Num palco há dois projectores prontos a iluminar a protagonização da Lenita e do Nando, ela sentada, ele de bota em cima de um cunhete de munições.
Em termos de representação, é possível que ambos dissertem para as paredes, no afã de derrubar a distância. Nando escreve: “Amorzinho da minha vida, então como estás? Olha querida, o teu amor cá continua ao cimo da água neste barco monstro que corta as ondas sem piedade e cada vez nos separa mais. Queridinha, posso dizer-te que neste momento estou triste, e digo-te mais, até estou com os olhos rasos de lágrimas com tantas saudades que tenho de todos vós, do meu pai, da minha querida mãe, e tuas, pombinha querida, as três pessoas que mais adoro neste mundo, tirando Deus”. Lenita responde: “Sem ti, meu amor, tudo parece vazio e sem significado. Os únicos momentos menos tristes que tenho são aqueles em que te escrevo e em que recebo cartas tuas, nos outros passo a vida a representar uma boa disposição que não sinto”. Nando retoma o discurso: “Aqui não tem havido ataques, mas tal como em Bissau ouvem-se tiros e rebentamentos e há sempre muita tropa a entrar e a sair. Olha, sabes meu amorzinho, estamos a contar a ir em breve para uma terra que fica próximo daqui chamada Bachile”. Lenita escreve atemorizada: “Hoje de manhã contaram-me que em Teixeira Pinto tinham morrido dois majores, um capitão e um alferes e que também tinha ficado ferido um rádio telegrafista… Ainda não recebi qualquer notícia tua e estou o que se pode dizer desesperada”. Nando tranquiliza-a: “Gostava de saber quem foi o parvalhão que te deu essa notícia. Na realidade morreram três majores e um alferes, mas nem sequer foi nesta zona. Portanto, nada de susto, ok meu amor?". Lenita não esconde as suas preocupações, quer saber por que é que o Nando foi para o Bachile, quer pormenores sobre a comida, a água, o quartel, a falta de notícia corta-lhe o coração, terminando por dizer que é a noiva mais apaixonada do mundo. Nano volta à carga, fala-lhe no calor sufocante, na guerra que se ouve à distância. Deve ter mandado fotografias do Bachile à Lenita que faz comentários muito críticos. Revela ter ciúmes, não ande o Nando enfeitiçado por alguma preta ou mulata, di-lo abertamente: “De verdade que nunca beijaste nenhuma mulher daí, nem mesmo uma cabo-verdiana? Tenho medo, muito medo que me esqueças. Nos últimos tempos este pensamento assalta-me o espírito constantemente".
Nando e Lenita tratam-se ternamente, usam palavras como bichaninho, meu adorado noivo, tenho a tua fotografia bem junto de mim, sentem-se tristes e ao mesmo tempo felizes. Os meses passam, inevitavelmente os termos e a substância da escrita acusam o desgaste da distância, ela chega a falar nos antigos namoros do Nando, no Bachile ele tranquiliza-a. Ficamos a saber que a Lenita tem um trabalho muito rotineiro: “Tenho andado a tratar das facturas mensais dos clientes de Lisboa que são 490. É um serviço monótono e sem interesse nenhum, que me dá imenso sono". O Nando também não esconde a monotonia dos seus dias, fala nas chuvas torrenciais, desvela que há operações, há sofrimento, um alferes pisou uma mina, etc. Lenita queixa-se da falta de notícias, ele já não escreve duas folhas cheias ou até mesmo mais. Nando vai passar férias à metrópole, no regresso reinstala-se a melancolia da separação, falam ambos em saudades, em desespero, insistem obcessivamente no seu compromisso de noivado, ele imprime mais meiguice ao discurso: “Tu és a luz que alumia o meu coração, sem o teu carinho não consigo resistir”. Mas Nando é ciumento, pede para não ir a festas, pede para ter juízo, também ele anda cheio de ciúmes. Os meses passam, é uma toada de solidão, ambos dizem que andam com lágrimas nos olhos, ela reza, ele promete fazê-la muito feliz, quando a guerra acabar. Nando volta de férias, a entoação dramática entra no crescendo, ficamos a saber que ela está triste e vazia e ele procura ser carinhoso: “Morro de saudades meu grande amor, minha coisinha mais querida do mundo. E a propósito, como vai a coisinha querida? Tenho tantas saudades dela. Ai quando nos casarmos canichita querida”. Lenita começa a tomar Valium 5, Nando confessa que está a atravessar uma crise de saturação. E chega o silêncio, que vai enformar a instalação de Manuel Botelho. Lenita passou a ter um discurso dilacerante, pede ao Nando para escrever, torna-se patética: “Estou saturada da incerteza em que tenho vivido… nem quero pensar que continues a não escrever apesar de todos os rogos que te fiz. A mágoa que sinto é tão grande que me põe fora de mim. Desde que te foste embora passaste por várias fases. Ao princípio procedias como realmente procedem as pessoas que se amam de verdade. Depois, ao regressares à Guiné, tornaste-te mais ciumento, o que também era sinónimo de amor”. É um discurso desinsofrido, acusa-o de ter um coração frio como uma pedra, ela grita-lhe que não aguenta tanta incerteza, chega-lhe a suplicar para que o Nando lhe mande um telegrama a dizer que está bem. E chegamos ao ponto culminante, compete ao artista lançar a semente da dúvida: “Não imaginas como anseio o teu regresso. Tenho tanta gente à minha volta e no entanto sinto-me tão só!. Meu Deus, se vejo o dia em que desembarcarás no cais e correrás para mim, suspirarei de alívio e até crescerei um palmo por me ver liberta deste grande sofrimento”. Como manda a lei das cartas de amor e saudade, o autor não nos deixa vislumbrar o desfecho de tanto suspiro e de tanta espera.
Na apresentação deste texto pungente, o crítico João Pinharanda lembra-nos o Álvaro de Campos que fala de todas as cartas de amor são ridículas e que não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Isto como chamada de tensão de que o ridículo só é provável quando lamentamos o passado, bem ou mal vivido. O crítico terá razão quando observa que estas cartas podem ser perspectivadas como um retrato ideológico do Portugal de então e que agora, transformadas em obras de arte, questionam-nos numa dimensão que ultrapassa a metáfora: o que sentimos perante a possibilidade da nossa morte ou da morte do ser que amamos? Aqueles amores entre o Bachile e Lisboa (?) aparecem recortados, excessivamente encenados nas suas pequenas alegrias, espantos, aspereza de modos, súplicas persistentes, o puro terror das perdas. É por isso que apropriadamente são cartas de amor e saudade em tempos de guerra. É por isso que vale a pena recordar o que foi a juventude que viveu aqueles tempos de guerra.
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8556: Em busca de... (170): Guiões das Unidades mobilizadas para a Guerra Colonial (Manuel Botelho / Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8519: Agenda Cultural (142): Apresentação do livro “CATARSE” do Capelão Militar Abel Gonçalves
Queridos amigos,
Recomendo vivamente um passeio ao Centro Cultural de Cascais, pode muito bem acontecer que encontremos nesta instalação de Manuel Botelho as cartas de amor, as recordações no nosso abandono, os nossos apelos afectivos, a nostalgia daquela expectativa que era a chegada do nosso correio.
Creio que Manuel Botelho venceu esta prova ao prodigalizar o amor posto à prova pela distância, dá-nos um retrato da vida incerta e da fragilidade dos vínculos. Aquele Nando que não escreve e que consome no coração da Lenita terá sido um pouco de todos nós, naquele tempo.
Um abraço do
Mário
Cartas de amor e saudade
Beja Santos
Um conceituado artista plástico, porventura aquele que mais tem trabalhado sobre a guerra colonial, com um olhar inovador e o recurso a diferentes estéticas no recurso da fotografia, do vídeo e da instalação, vem agora propor-nos uma viagem ao valor sentimental das cartas de amor trocadas entre o Nando e a Lenita, algo que se passou nos anos 60/70, é uma partilha de sentimentos, de relações de família, um poderoso testemunho de usos e costumes que permitem questionar o peso das cartas de amor entre alguém que ficou à espera de um namorado a viver num lugar chamado Bachile, algures na Guiné. “Cartas de Amor e Saudade” é o mais recente trabalho de Manuel Botelho, pode ser visitado no Centro Cultural de Cascais até 28 de Agosto.
Trata-se de uma instalação sui generis, o visitante entra num amplo espaço decorado com panos de tenda, simbolicamente uma antecâmara onde é possível encenar essas cenas de amor de dois seres humanos em dois continentes. Numa parede estão penduradas três impressões fotográficas, alguém escreve fardado para alguém que é um perfeito estereótipo das jovens dos anos 60, segue-se um maço de correio atado por cordel e depois a bandeira portuguesa enrolada. Num palco há dois projectores prontos a iluminar a protagonização da Lenita e do Nando, ela sentada, ele de bota em cima de um cunhete de munições.
Em termos de representação, é possível que ambos dissertem para as paredes, no afã de derrubar a distância. Nando escreve: “Amorzinho da minha vida, então como estás? Olha querida, o teu amor cá continua ao cimo da água neste barco monstro que corta as ondas sem piedade e cada vez nos separa mais. Queridinha, posso dizer-te que neste momento estou triste, e digo-te mais, até estou com os olhos rasos de lágrimas com tantas saudades que tenho de todos vós, do meu pai, da minha querida mãe, e tuas, pombinha querida, as três pessoas que mais adoro neste mundo, tirando Deus”. Lenita responde: “Sem ti, meu amor, tudo parece vazio e sem significado. Os únicos momentos menos tristes que tenho são aqueles em que te escrevo e em que recebo cartas tuas, nos outros passo a vida a representar uma boa disposição que não sinto”. Nando retoma o discurso: “Aqui não tem havido ataques, mas tal como em Bissau ouvem-se tiros e rebentamentos e há sempre muita tropa a entrar e a sair. Olha, sabes meu amorzinho, estamos a contar a ir em breve para uma terra que fica próximo daqui chamada Bachile”. Lenita escreve atemorizada: “Hoje de manhã contaram-me que em Teixeira Pinto tinham morrido dois majores, um capitão e um alferes e que também tinha ficado ferido um rádio telegrafista… Ainda não recebi qualquer notícia tua e estou o que se pode dizer desesperada”. Nando tranquiliza-a: “Gostava de saber quem foi o parvalhão que te deu essa notícia. Na realidade morreram três majores e um alferes, mas nem sequer foi nesta zona. Portanto, nada de susto, ok meu amor?". Lenita não esconde as suas preocupações, quer saber por que é que o Nando foi para o Bachile, quer pormenores sobre a comida, a água, o quartel, a falta de notícia corta-lhe o coração, terminando por dizer que é a noiva mais apaixonada do mundo. Nano volta à carga, fala-lhe no calor sufocante, na guerra que se ouve à distância. Deve ter mandado fotografias do Bachile à Lenita que faz comentários muito críticos. Revela ter ciúmes, não ande o Nando enfeitiçado por alguma preta ou mulata, di-lo abertamente: “De verdade que nunca beijaste nenhuma mulher daí, nem mesmo uma cabo-verdiana? Tenho medo, muito medo que me esqueças. Nos últimos tempos este pensamento assalta-me o espírito constantemente".
Nando e Lenita tratam-se ternamente, usam palavras como bichaninho, meu adorado noivo, tenho a tua fotografia bem junto de mim, sentem-se tristes e ao mesmo tempo felizes. Os meses passam, inevitavelmente os termos e a substância da escrita acusam o desgaste da distância, ela chega a falar nos antigos namoros do Nando, no Bachile ele tranquiliza-a. Ficamos a saber que a Lenita tem um trabalho muito rotineiro: “Tenho andado a tratar das facturas mensais dos clientes de Lisboa que são 490. É um serviço monótono e sem interesse nenhum, que me dá imenso sono". O Nando também não esconde a monotonia dos seus dias, fala nas chuvas torrenciais, desvela que há operações, há sofrimento, um alferes pisou uma mina, etc. Lenita queixa-se da falta de notícias, ele já não escreve duas folhas cheias ou até mesmo mais. Nando vai passar férias à metrópole, no regresso reinstala-se a melancolia da separação, falam ambos em saudades, em desespero, insistem obcessivamente no seu compromisso de noivado, ele imprime mais meiguice ao discurso: “Tu és a luz que alumia o meu coração, sem o teu carinho não consigo resistir”. Mas Nando é ciumento, pede para não ir a festas, pede para ter juízo, também ele anda cheio de ciúmes. Os meses passam, é uma toada de solidão, ambos dizem que andam com lágrimas nos olhos, ela reza, ele promete fazê-la muito feliz, quando a guerra acabar. Nando volta de férias, a entoação dramática entra no crescendo, ficamos a saber que ela está triste e vazia e ele procura ser carinhoso: “Morro de saudades meu grande amor, minha coisinha mais querida do mundo. E a propósito, como vai a coisinha querida? Tenho tantas saudades dela. Ai quando nos casarmos canichita querida”. Lenita começa a tomar Valium 5, Nando confessa que está a atravessar uma crise de saturação. E chega o silêncio, que vai enformar a instalação de Manuel Botelho. Lenita passou a ter um discurso dilacerante, pede ao Nando para escrever, torna-se patética: “Estou saturada da incerteza em que tenho vivido… nem quero pensar que continues a não escrever apesar de todos os rogos que te fiz. A mágoa que sinto é tão grande que me põe fora de mim. Desde que te foste embora passaste por várias fases. Ao princípio procedias como realmente procedem as pessoas que se amam de verdade. Depois, ao regressares à Guiné, tornaste-te mais ciumento, o que também era sinónimo de amor”. É um discurso desinsofrido, acusa-o de ter um coração frio como uma pedra, ela grita-lhe que não aguenta tanta incerteza, chega-lhe a suplicar para que o Nando lhe mande um telegrama a dizer que está bem. E chegamos ao ponto culminante, compete ao artista lançar a semente da dúvida: “Não imaginas como anseio o teu regresso. Tenho tanta gente à minha volta e no entanto sinto-me tão só!. Meu Deus, se vejo o dia em que desembarcarás no cais e correrás para mim, suspirarei de alívio e até crescerei um palmo por me ver liberta deste grande sofrimento”. Como manda a lei das cartas de amor e saudade, o autor não nos deixa vislumbrar o desfecho de tanto suspiro e de tanta espera.
Na apresentação deste texto pungente, o crítico João Pinharanda lembra-nos o Álvaro de Campos que fala de todas as cartas de amor são ridículas e que não seriam cartas de amor se não fossem ridículas. Isto como chamada de tensão de que o ridículo só é provável quando lamentamos o passado, bem ou mal vivido. O crítico terá razão quando observa que estas cartas podem ser perspectivadas como um retrato ideológico do Portugal de então e que agora, transformadas em obras de arte, questionam-nos numa dimensão que ultrapassa a metáfora: o que sentimos perante a possibilidade da nossa morte ou da morte do ser que amamos? Aqueles amores entre o Bachile e Lisboa (?) aparecem recortados, excessivamente encenados nas suas pequenas alegrias, espantos, aspereza de modos, súplicas persistentes, o puro terror das perdas. É por isso que apropriadamente são cartas de amor e saudade em tempos de guerra. É por isso que vale a pena recordar o que foi a juventude que viveu aqueles tempos de guerra.
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8556: Em busca de... (170): Guiões das Unidades mobilizadas para a Guerra Colonial (Manuel Botelho / Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 6 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8519: Agenda Cultural (142): Apresentação do livro “CATARSE” do Capelão Militar Abel Gonçalves
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Guiné 63/74 - P8558: Convívios (363): Notícias do Encontro do pessoal da CCAÇ 16 - Manjacos - ocorrido no dia 25 de Junho de 2011 em Almeirim (José Romão)
1. Mensagem do nosso camarada José Romão* (ex-Fur Mil At Inf, CCAÇ 3461/BCAÇ 3863, Teixeira Pinto, e CCAÇ 16, Bachile, 1971/73), com data de 13 de Maio de 2011:
Amigo e camarada Carlos Vinhal
Cá estou eu mais uma vez para dar noticias da minha CCaç 16 (Bachile).
Realizou-se, no passado dia 25 de Junho de 2011, o almoço de confraternização anual da Companhia Majaca CCaç 16, na Quinta da Feteira em Almeirim*.
É sempre com grande alegria, que encontramos camaradas com os quais passámos momentos bastante difíceis e também bons.
Junto algumas fotografias relacionadas com o almoço.
Um grande abraço para todos os Ex-Militares.
José Romão
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8427: Convívios (345): Pessoal da CCAÇ 16 - Manjacos - Dia 25 de Junho de 2011 em Almeirim (José Romão)
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8553: Convívios (356): 7.º Encontro da CART 1742 (Os Panteras), dia 28 de Maio de 2011, em Leça da Palmeira (Abel Santos)
Amigo e camarada Carlos Vinhal
Cá estou eu mais uma vez para dar noticias da minha CCaç 16 (Bachile).
Realizou-se, no passado dia 25 de Junho de 2011, o almoço de confraternização anual da Companhia Majaca CCaç 16, na Quinta da Feteira em Almeirim*.
É sempre com grande alegria, que encontramos camaradas com os quais passámos momentos bastante difíceis e também bons.
Junto algumas fotografias relacionadas com o almoço.
Um grande abraço para todos os Ex-Militares.
José Romão
Ex-Fur Mils Parreira e Silva
Ex-Fur Mil Silva, ex-Alf Mil Rocha, ex-Fur Mil Quintas e, de costas, o ex-Fur Mil Parreira
Senhor Major General Abílio Afonso e os ex-Fur Mils Codeço e Malam Correia
De óculos e cabelo branco o ex-Furriel guineense Alvarenga
Ex-Fur Mil Parreira, Major General Abílio Afonso, ex-Fur Mil Codeço, Malam Correia, Romão e Silva
Ex-militares da CCaç 16 - Bachile
____________Notas de CV:
(*) Vd. poste de 15 de Junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8427: Convívios (345): Pessoal da CCAÇ 16 - Manjacos - Dia 25 de Junho de 2011 em Almeirim (José Romão)
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8553: Convívios (356): 7.º Encontro da CART 1742 (Os Panteras), dia 28 de Maio de 2011, em Leça da Palmeira (Abel Santos)
Guiné 63/74 - P8557: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (3): Nova Lamego e Bissau
1. Continuação da publicação do Álbum fotográfico do nosso camarada Manuel Caldeira Coelho (ex-Fur Mil TRMS da CCAÇ 1589/BCAÇ 1894, Nova Lamego e Madina do Boé, 1966/68) em mensagem do dia 28 de Junho de 2011.
ÁLBUM DE MANUEL COELHO (3)
Nova Lamego e Bissau
Nova Lamego > Estação dos Correios
Um DC-3 em Nova Lamego
Nova Lamego
Nova Lamego > Artífice de ferreiro
Uma rua de Nova Lamego
Tabancas de Nova Lamego
Nova Lamedo > Artífice tecelão
Vista aérea de Nova Lamego
Bissau > Amura
Avenidas de Bissau
Bissau > Beira-mar
Bissau > Bombarda
Cais de Bissau
Fotos: © Manuel Caldeira Coelho (2011). Todos os direitos reservados.
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8548: Álbum fotográfico de Manuel Coelho (2): Madina do Boé
Guiné 63/71 - P8556: Em busca de... (170): Guiões das Unidades mobilizadas para a Guerra Colonial (Manuel Botelho / Mário Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Julho de 2011:
Meus queridos confrades,
O pintor Manuel Botelho não pára, não lhe chegam as fotografias com armamento, as histórias dos aerogramas, uma instalação gigantesca com vídeos no tempo do Natal do Soldado.
Agora quero trabalhar guiões, guiões verdadeiros, em tamanho real.
Olhou para mim, surpreso, quando lhe disse que não tinha guiões e, como ele sabe por experiência própria, é coisa que não aparece na Feira da Ladra.
O melhor nestas coisas é aproximar o consumidor do produtor, o artista de quem possuiu, eventualmente, as ditas flâmulas. Peço encarecidamente a quem puder ajudar o Manuel Botelho que o contacto através do email manuelbot@netcabo.pt ou pelo telefone 967 073 648. Confesso-me antecipadamente grato por quem puder ajudar o artista plástico que, desde sempre, mais tem feito pela nossa causa.
Um abraço do
Mário
2. Mensagem de Manuel Botelho dirigida a Mário Beja Santos
Caro Mário
Agosto aproxima-se, e com ele a promessa de um breve momento de maior disponibilidade para o meu trabalho plástico. Como sabes tenho andado a fazer fotografias com miniaturas de guiões das companhias mobilizadas no ultramar; desejava agora, se possível, ter acesso a guiões verdadeiros, em tamanho real! Haverá alguém que tenha ficado com esse tipo de material e mo possa emprestar durante uns tempos para fazer o meu trabalho fotográfico?
No blogue aparece, por exemplo, a foto deste guião… onde estará? Em Abrantes, no Regimento de Infantaria?
Guião do Batalhão de Caçadores nº 2879
Regimento de Infantaria 2 - Abrantes
Foto - ex-Fur Mil Carlos Silva
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8554: Em busca de... (169): Pessoal do CAOP 1, Teixeira Pinto, 1969 a 1971 (Albino Silva)
Meus queridos confrades,
O pintor Manuel Botelho não pára, não lhe chegam as fotografias com armamento, as histórias dos aerogramas, uma instalação gigantesca com vídeos no tempo do Natal do Soldado.
Agora quero trabalhar guiões, guiões verdadeiros, em tamanho real.
Olhou para mim, surpreso, quando lhe disse que não tinha guiões e, como ele sabe por experiência própria, é coisa que não aparece na Feira da Ladra.
O melhor nestas coisas é aproximar o consumidor do produtor, o artista de quem possuiu, eventualmente, as ditas flâmulas. Peço encarecidamente a quem puder ajudar o Manuel Botelho que o contacto através do email manuelbot@netcabo.pt ou pelo telefone 967 073 648. Confesso-me antecipadamente grato por quem puder ajudar o artista plástico que, desde sempre, mais tem feito pela nossa causa.
Um abraço do
Mário
2. Mensagem de Manuel Botelho dirigida a Mário Beja Santos
Caro Mário
Agosto aproxima-se, e com ele a promessa de um breve momento de maior disponibilidade para o meu trabalho plástico. Como sabes tenho andado a fazer fotografias com miniaturas de guiões das companhias mobilizadas no ultramar; desejava agora, se possível, ter acesso a guiões verdadeiros, em tamanho real! Haverá alguém que tenha ficado com esse tipo de material e mo possa emprestar durante uns tempos para fazer o meu trabalho fotográfico?
No blogue aparece, por exemplo, a foto deste guião… onde estará? Em Abrantes, no Regimento de Infantaria?
Guião do Batalhão de Caçadores nº 2879
Regimento de Infantaria 2 - Abrantes
Foto - ex-Fur Mil Carlos Silva
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 13 de Julho de 2011 > Guiné 63/74 - P8549: Notas de leitura (256): Amílcar Cabral – Vida e morte de um revolucionário africano, por Julião Soares Sousa (2) (Mário Beja Santos)
Vd. último poste da série de 14 de Julho de 2011 > Guiné 63/71 - P8554: Em busca de... (169): Pessoal do CAOP 1, Teixeira Pinto, 1969 a 1971 (Albino Silva)
Subscrever:
Mensagens (Atom)