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terça-feira, 22 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27043: Notas de leitura (1822): 2ª edição do livro do nosso José Saúde, "Aldeia Nova de São Bento" (Lisboa, Edições Colibri, 2021, 299 pp.)



Foto nº 1 > Aldeia Nova de São Bento, concelho de Serpa,  anos 30 > O Poço do Lobo  (1)... Hoje fica na Rua do Poço do Lobo. A povovoação, cuja origem remonta à guerra da restauração (Séc. XVII) foi elevada à categoria de vila em 1988.


Fotos nºs 2 > Aldeia Nova de São Bento, concelho de Serpa, anos 30 > O Poço do Lobo  (2)


Foto nº 3 > Aldeia Nova de Sáo Bento, concelho de Serpa > s/d > Rapariga com "enfusa" à cabeça


Foto nº 4 >  Aldeia Nova de Sáo Bento > Serpa   > José saúde, o autor quando jovem... Aos 9 meses, em 1951...Vê-se o braço da mãe, que o ampara...

José Saúde > Página do Facebook > Fotos do seu álbum (Com a devida vénia...). Presume-se que as fotos nºs 1,2 e 3 sejam do domínio público. (LG)


Fotos (e legendas): © José Saúde (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso José Saúde,  jornalista e escritor, ex-fur mil OE/Ranger, CCS/BART 6523 (Nova Lamego, 1973/74), antigo desportista, "aldeano", hoje a viver emn Bejam membro da nossa Tabanca Grande, com 255 referências no nosso blogue, publicou em 2021 o seu decimo livro;

José Saúde - "Aldeia Nova de São Bento – Memórias, Estórias e Gentes" 2.ª ed. Lisboa: Edições, 2021, 299 (Prefácio de David Monge da Silva) (Preço de capa atual: 14,40 €).

Apraz-nos registar que a obra foi muito bem aceite pelos seus conterrâneos, pelo que já saiu uma 2ª edição. Vão daqui as nossas palmas para ele e os demais "aldeanos".

Aproveiutamos para publicar, editadas, algumas fotos do seu álbum, disponíveis na sua página do Facebook.


Sinopse

Recanto de imensas conversas, a bica, onde o pessoal da nossa aldeia recorria para encher mais uma “enfusa” de água ou para atestar mais uma pipa instalada num carro de animais que se protegiam debaixo de um enorme chorão ali existente, era um local deveras enternecedor.

(…) Mulheres trajando com os xailes pretos, assim como outras com lenços atados à cabeça, outras com “enfusas” já cheias e transportadas irrepreensivelmente sobre a nuca, outras esperando, gentilmente, que chegasse a sua vez para chegarem às bicas de água, que eram duas, uma menina de pé descalço, um burro que bebia na pia localizada a meio. Enfim, pedaços de histórias que ficam aqui retratadas e que visam trazer à opinião pública um passado que merece um inexcedível respeito.

***

(...) "Ao ler estas deliciosas crónicas regresso de imediato à minha infância e adolescência, a um tempo de felicidade em que todos os nossos familiares e amigos estavam connosco para nos ajudar a crescer e descobrir, sem sobressaltos, o mundo e a vida.

(...) Tudo hoje é diferente. O passado apenas subsiste na minha memória, nas minhas recordações. Somos as nossas memórias. Somos quem fomos. É a nossa história que nos caracteriza e define.

(...) Eu e o Zé Saúde vivemos a nossa infância e juventude nas décadas de 50 e 60, conhecemos a nossa aldeia com a sua população máxima, e acompanhámos o seu progressivo decréscimo.

(...) As memórias que nos são trazidas nesta obra situam-se, sobretudo, nestas duas décadas, trazem-nos personagens, profissões, modos de vida, relações sociais e formas de convívio que não voltarão mais. Há que ler atentamente para que os mais idosos recordem as suas vivências e os mais novos conheçam um pouco do que foi a vida dos seus pais e avós. Este livro é serviço público." (...)


David Monge da Silva | Fonte. Edições Colibri, página do Facebook, 19de dezembro de 2021 


Sobre o autor, José Saúde:

(i) nasceu em Aldeia Nova de São Bento no dia 23 de novembro de 1950, todavia, o seu registo oficial de nascimento reporta-se a 23 de janeiro de 1951;

(ii) desportivamente, iniciou a sua carreira futebolística no Despertar Sporting Clube e aos 16 anos ingressou no Sporting Clube de Portugal;

(iii) como jogador sénior representou o Desportivo de Beja, o FC Serpa e em 1974 foi um dos grandes impulsionadores do futebol de competição na Aldeia Nova de São Bento ao reativar a atividade no Clube Atlético Aldenovense;

(iv) tem colaborado ativamente na Imprensa Regional e Nacional como comentador desportivo.e como cronista do que foi a vida dos seus pais e avós;

(v) tem uma dezena de livros publicados, sobre a sua história de vida,  incluindo  a sua experiència omo militar na Guiné, durante a guerra colonial.


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Nota do editor LG:

Último poste da série > 18 de julho de 202 > Guiné 61/74 - P27030: Notas de leitura (1820): Para melhor entender o início da presença portuguesa na Senegâmbia (século XV) - 3 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 8 de abril de 2025

Guiné 61/74 - P26665: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (38): Às vezes este país quase perfeito e sem mácula


Alcácer do Sal > 29 de janeiro de 2018 > Vista interior da pousada Dom Afonso II  

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


 Ás vezes este país quase perfeito e sem mácula

por Luís Graça


Às vezes este país quase perfeito e sem mácula. Em certos dias, a uma certa hora, em certos sítios, visto de um determinado ângulo.

Num dia qualquer, tirado à sorte do calendário. Em 2004, por exemplo, no mês de abril, em pleno Baixo Alentejo, de preferência ao pôr do sol.

Gostaste de experimentar ver este país,  sentado no banco da frente do piso superior do autocarro. Ao sul, a 250 km ao sul de Lisboa, ao fim da tarde, ao pôr do sol. 

Tu podias  achar este país quase perfeito e sem mácula, numa viagem de regresso a casa, de Beja a Lisboa. Viajando sobre as planícies do Baixo Alentejo,  
podias observar o breve e oblíquo voo das cegonhas que, afinal, já não traziam os bebés de França.

Num certo troço da estrada número-não-sei-quantos que ia desembocar na A2. A tal, que era mais conhecida como a autoestrada do Sul, a que te levava ao Algarve, quando tu fazias férias de praia no Algarve, que já pertencera outrora ao reino de Portugal e além-mar em África.

Visão panorâmica, a dois metros e meio acima do solo, em voo raso de cegonha. Tomaste nota, no teu canhenho sem argolas,  que a hora era importante para veres o teu país quase perfeito e sem mácula. Tal como o sítio e o ângulo de visão, ao fim da tarde, na primavera, no conforto relativo do teu autocarro da Rede Expresso. A televisão desligada, por favor. E o telemóvel. Só o barulho monótono do autocarro a rolar.

Nada como deixares o teu carro em Lisboa e viajares na Rede Expresso. 
Regressas  vinte anos atrás e tomas a viatura número não-sei-quantos, 
de preferência o lugar nº 1. Tinhas (e continuas a ter) que ir desembocar no terminal de Sete Rios. Beja-Lisboa, Sete Rios... (Este país só não era perfeito e sem mácula porque já tinha um terminal como o de Sete Rios, mas isso era outra história.)

Podias ter reservado o bilhete pela Internet ou enviado um SMS. Em 2004 já havia essas modernices. Mas não ias estragar esse momento único contaminando os teus pensamentos poéticos com as coisas prosaicas das novas tecnologias.

Nada como um perfeito pôr do sol no Alentejo, nada como um montado de sobro e um bando de cegonhas em formação de voo, de regresso a casa, também elas. O papo cheio de lagostins das albufeiras.

Nada como um horizonte quase perfeito e sem mácula. Tão pouco como isso. Tu podias achar este país quase perfeito e sem mácula, por meia dúzia de euros, viajando na Rede Expresso que não era para turistas. Mas para viajantes solitários como tu.

Em certos dias, a uma certa hora, saindo de Beja, a caminho de Lisboa, Sete-Rios. (E não vice-versa.)

Tanto e tão pouco, afinal, para te reconciliares com o teu país. De tempos a tempos, tens de te reconciliar com o teu país. O mesmo é dizer, com a vida. Com os outros.

Noutra hora e noutro lugar, tu acrescentarias: nada como um naco de pão alentejano, feito de trigo de barbela, umas azeitonas com o gosto do alho e dos orégãos, um bocado de requeijão de Serpa, um copo de vinho branco, uma roda de amigos.

Na Festa de Nossa Senhora das Pazes, entre ficalheiros e azinheiras centenárias, todos os anos no domingo seguinte à Páscoa. Nesse ano de 2004 veio muito menos gente, que a morte batera, com mão pesada, a muitas portas de Vila Verde de Ficalho, 
terra raiana. 
Vinte e cinco mortes, disse-te  o médico,  desde janeiro.

A festa e o luto nunca combinam bem, mas viera gente de outras partes do mundo, do Montijo, do Seixal, do Barreiro, de Almada, de Lisboa, da diáspora alentejana, quiçá da Suíça e do Luxemburgo. E a alegria e a festa do reencontro são universais.

Todos os anos na primeira semana a seguir à Páscoa, quer faça chuva, quer faça sol. 
Chovia pouco por estas bandas.  E cada vez menos, já diziam  os antigos, de memória curta. E mesmo que os homens não se incorporassem na procissão da Santa que dava três voltas à capelinha, cada um rezava como podia e sabia. 

A um tiro de distância da raia espanhola, Nossa Senhora das Pazes, rogai por nós, pecadores, soldados e marinheiros, cavaleiros e peões, nobres e plebeus...Lembrando, pelo caminho, os ódios e os amores antigos que atraíam e repeliam os vizinhos separados pelas extremas de dois países do Al-Andaluz.

Desde 1232 (há tanto ano!),  quando o lusitano e cristão D. Sancho II, o pio (mas não o da coruja) reconquistara aos mouros a margem esquerda do Guadiana.

Mesmo que houvesse (sempre houve!) quem quisesse desistir da vida, ou dela se despedir com dignidade. (
"Que, em passando a festa, doutor, eu dou um rumo à minha vida!"...)

E aí tu percebias a diferença entre ter e não ter um médico de família,
um equipa de saúde, um centro de saúde, ao alcance do tua mão que pede ajuda.

Para trás deixavas o verde das searas de trigo, do Alentejo que ainda dava pão (e que agora só dá vinho e azeitonas e cada vez menos cortiça e giesta), para trás deixavas gente fantástica, no mínimo, gente competente, boa e generosa, que trabalhava nos centros de saúde e suas extensões do Baixo Alentejo.

Para trás deixavas amigos...

em Vila Verde de Ficalho.
em Serpa,
na Cuba ( nunca digas: em Cuba),
na Vidiguêra,
em Aljustrel,
em Almodôvar e no Alvito,
em Barrancos.
em Beja,
de Castro Verde a Ferreira do Alentejo,
em Mértola e em Moura,
em Odemira ou em Ourique.

Médicos de família, enfermeiros, técnicos administrativos e operacionais, trabalhando em condições muitas vezes difíceis, sem o conforto do teu gabinete de Lisboa, sem o ar condicionado da Sony, com 37 graus à sombra, com um frio de rachar no inverno, com falta de equipamentos (informáticos, sociais, e outros). Com a Renault 4L a um canto, parada, porque não havia verba "cabimentada" para a sua reparação e manutenção.

Dando consultas em insólitos lugares, como o Sporting Clube de A do Pinto. Ou fazendo SAP (serviço de atendimento permanente) em velhos conventos transformados em hospitais.

Gente remando contra a maré...

do individualismo,
do cinismo,
da arrogância,
da gestão mercantilista da saúde,
da descrença,
da desmotivação.

Mais: 

remando contra a doença da saúde,
a iatrogénese,
as vítimas da aculturação médica,
o consumismo,
o novo riquismo,
os tiques, os taques, as contas, os ajustes de contas
do Portugal Sociedade Anónima dos Hospitais,
da indústria farmacêutica, dos lóbis,
do poder, da política politiqueira...

Gente que cuidava dos outros e que se cuidava pouco, que cuidava pouco de si própria. E que podia estar trinta anos numa carreira administrativa como terceiríssimos oficiais. Ou enfermeiros sem (de)grau. Ou que continuava a fazer urgências mesmo para além do limite legal de idade.

Gente que que trabalhava sem rede. E que às vezes era até agredida ou maltratada. Mal tratada sobretudo pela tutela. Gente que trabalhava num SNS sem rosto. No Ministério da Indústria da Doença.

Um dia quiseram trabalhar em equipa. Para prestar melhores cuidados de saúde, para trabalhar com outra motivação e satisfação. Um dia pensaram na perigosa utopia igualitária, nos idos anos de setenta. 
Que nenhum deles era perfeito mas que juntos podiam sê-lo, que podiam organizar o trabalho nos cuidados de saúde primários numa base cooperativa e tendencialmente igualitária. Fora da tradicional relação hierárquica chefe / subordinado ou especialista / leigo,
e pondo também na equipa o utente (mais o doente, o agudo e o crónico, a criancinha, o pai, a mãe, a avô e o avô, se a vida chegasse a netos e a filhos com barba)...

Subvertendo, enfim, a organização burocrática que o prussiano Max Weber considerava o tipo-ideal da racionalidade legal.

Em 2004 a utopia não tinha morrido ainda, mas estava mais velha e cansada. As utopias também envelhecem e morrem. E renascem como a Fénix da mitologia.

Há muito que as equipas nucleares de saúde haviam perdido o seu vigor ou se tinham desfeito. Ninguém as regava como se tem de regar a relva do jardim e os vasos de flores à entrada do centro de saúde. Mas acabaram por contaminar a cultura organizacional da Subregião de Saúde de Beja.

O bichinho estava lá e não morreu de todo, diziam-te. As ideias são como os vírus e os ursos, ficam em hibernação uma parte da vida. O problema é que a vida é curta e a arte é longa. Disse o Hipócrates há 25 séculos atrás. 

Sempre discordaste dos que pensavam a utopia sem tempo nem lugar. A utopia também podia ter um tempo e um lugar. Porque na sua dupla etimologia, utopia tanto queria dizer, em grego,  nenhum lugar (ou + tópos) como lugar perfeito (eu + tópos).

Não acreditavas nos lugares perfeitas. Nem muito menos em santos nem em heróis. Muitos menos e nos heróis e santos de fancaria que te vendiam na infância.

Os que conheceste, no passado, homens e mulheres de carne e osso, não eram heróis nem levavam nenhum existência heróica. Eram portugas como os outros, profissionais de saúde como os outros,
apenas faziam alguma diferença. Tu dirias que era um certo modo de ser e de estar. Algo que não se ensinava ainda em escola nenhuma. Que não se aprendia nos cursos de formação do Fundo Social Europeu nem na Faculdade de Medicina, nem nas Escolas de Enfermagem, nem nas Business Schools das Novas e Velhas Universidades.

Um modo de ser e de estar, afinal, para o qual não havia ainda receitas de cozinha, muito menos algoritmos. Pequenos detalhes que faziam a diferença, a começar pela vontade trabalhar de outra maneira. Por isso, por tudo isso, gostaste de os rever, gostaste de voltar a encontrá-los. Em 2004. No seu Alentejo ainda profundo.

Eles eram portugas que mereciam as tuas palmas. As nossas palmas.

© Luís Graça (2004). Revisto em 11 de abril de 2025. 
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Nota do editor

Último poste da série > 12 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26576: Contos com mural ao fundo (Luís Graça) (37): O silêncio do rio Xaianga

sábado, 30 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25321: Os nossos seres, saberes e lazeres (621): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (148): Em Arraiolos, o dia era de greve, por ali se cirandou entre casas de alvura e azul, os belos tapetes e as ruínas do castelo (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Tratava-se de uma excursão para seniores organizada pelos serviços de ação sociais da administração pública, o primeiro destino era Arraiolos, anteviam-se mundos e fundos, desde tapetes, espaço museológico, igrejas, passeio pelo centro histórico, e inevitavelmente uma subida ao castelo. Era dia de greve da função pública, os visitantes ficaram por conta própria, a ver Arraiolos por fora. Cada um por si, e de vez em quando lá nos íamos encontrando rua acima rua abaixo, como adoro a tapeçaria de Arraiolos, não me fez mossa nenhuma andar a bisbilhotar pelas lojas, a contemplar as fachadas, o asseio é irrepreensível, há muita casa recuperada e muita casa abandonada, o estado do castelo magoou-me, conhecia as fotografias turísticas, há ali sérios indícios de poder haver derrocada. Agora, está na hora de partir para o segundo e último destino do programa, o Museu Agrícola da Atalaia, no Montijo, o guia informa que há um espaço valioso de recuperação da memória da agricultura da região em Tinta Nova da Atalaia, tem museu desde 2009. Para lá vamos, e depois haverá uma visita breve ao santuário, tudo acabará quando o autocarro nos despejar em Sete Rios.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (148): Em Arraiolos, o dia era de greve, por ali se cirandou entre casas de alvura e azul, os belos tapetes e as ruínas do castelo

Mário Beja Santos

Em 27 de outubro de 2023, parti em autocarro de excursão, o primeiro destino era Arraiolos. Chegados à vila, confirmou-se que era dia de greve, os edifícios que estava previsto visitar encerrados, logo o Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos. Nesse dia abria as portas ao público uma mostra gastronómica, um festival de empadas e a feira de tapetes, aí essa hora estaríamos noutro destino. Bem procurei numa papelaria comprar uma publicação que me ajudasse a ver por fora o que não poderia ver por dentro, que não, isso de livros e brochuras era no Centro de Interpretação, mesmo bilhetes postais da Pousada, da Igreja da Misericórdia ou do Solar da Sempre Noiva, era ali que poderia adquirir. Felizmente tirara notas de enciclopédias, o suficiente para saber que fora D. João I a doar Arraiolos a D. Nuno Álvares Pereira, conde de terra e Condestável de Portugal. Esperava ver a Igreja da Misericórdia e a sua riqueza azulejar, ficará para a próxima. Aqui vos deixo a fachada do Centro Interpretativo, de grande beleza e o pelourinho, monumento nacional.

Entrada do Centro Interpretativo
O pelourinho de Arraiolos e a fachada do Centro Interpretativo

Procurei esmiuçar alguns dados do passado, consultei a enciclopédia Verbo, são dados publicados em 1964, ao tempo o concelho tinha uma população total residente que se aproximava dos 13 mil habitantes, fábricas de moagem, de telha, de tapetes (muito florescente nos séculos XVII e XVIII), lagares de azeite e a importante indústria de carnes. A vila já existia nos começos do século XIII; a enciclopédia recomenda a visita à Igreja da Misericórdia, ao hospital com portal manuelino, ao pelourinho, coluna torcida em mármore de Estremoz erguido em 1634. O castelo foi mandado construir por D. Dinis em 1310, possui portas ogivais.

A alteração de programa justifica que se vá farejar a rica tapeçaria de Arraiolos, bem documentada a partir da primeira metade do século XVIII. Por mera curiosidade, respigo o que Calvet de Magalhães escreve sobre estes tão prodigiosos tapetes: “São bordados a fios contados de lã de diversas cores sobre tela de linho, de grossaria, estopa ou canhamaço, que as tecedeiras locais teciam, sendo as lãs tosquiadas, lavadas, cardadas, tintas e fiadas pelas próprias bordadeiras. Os tapetes são executados com ponto cruzado, de forma a atapetar inteiramente o fundo do campo e a barra, conhecido pelo ‘ponto de Arraiolos’ e que noutras regiões do mundo é conhecido pelo ‘ponto entrançado eslavo’ e ‘ponto grego’. Os motivos dos tapetes são persas e, como arte popular que é, inspira-se no solo, utilizando como base os seus objetivos mais comuns, tais como pássaros, árvores, figuras humanas, etc. A composição consta de um centro, campo e bordadura. O campo é, geralmente, preenchido ou por duas albarradas ou ramos enfolhados dispostos simetricamente em relação às cabeceiras; o campo é decorado considerando-se que é ilimitado e decorado por motivos soltos alternados ou repetidos; a bordadura é cheia com linha ou linhas sinuosas ou ainda quebradas, decorados com elementos florais ou elementos geométricos, enchendo os espaços que linhas sinuosas em ziguezague, percorrendo a bordadura, deixam livres, com repetições ou alternâncias ornamentais de motivos geométricos.” Vamos então visitar onde se fazem tapetes e mostrá-los.

Tapeceira em atividade, as visitantes não escondem o seu pasmo por ver nascer tanta beleza
Dois motivos ornamentais distintos
É a alvura da caiação, o azul cintilante, a limpeza irrepreensível das ruas, que logo prendem o olhar, sabe-se rapidamente que se está perante uma premissa maior da cultura alentejana.
O que nos faz deter diante desta fachada é o respeito pela coisa antiga, nada de tapar as memórias do passado, seja ao nível dos rés-do-chão seja do primeiro andar, fazem-se obras mas não se esconde a elegância dos arcos, das colunas e das suas bases, assim se respeita a memória de quem teceu tão elegantes elementos.
Este castelo mandado fazer por D. Dinis, no início do século XIV, é motivo de preocupação, são mais do que evidentes os sinais de ruína, e, no entanto, é muito gracioso no seu ponto alto, nas suas muralhas quase circulares, no seu Paço onde chegou a viver D. Nuno Álvares Pereira, carece de intervenção urgente, há mesmo panos na muralha que podem dar origem a acidentes, era bom que trouxessem aqui o Sr. Ministro da Cultura, este monumento nacional merecia melhor sorte.
Consta de uma inscrição o seguinte acerca das muralhas e da história do castelo: “O recinto amuralhado de Arraiolos, construído sob responsabilidade de João Simão entre 1306 e cerca de 1310, tem planta quase circular, aproveitando a forma muito regular da colina. Nele abrem-se duas portas: a da Vila (destruída), junto à Torre de Menagem, e a de Santarém. Várias vezes restaurado, a última das quais em 1944, nele se conservam a Torre do Relógio da época manuelina e o adarve, quase todo circulável, permitindo ao visitante desfrutar de uma vastíssima paisagem envolvente.”
Retenho agora o que diz outra legenda sobre o Castelo-Paço: “Erguida na mesma época da muralha, tem planta retangular com torres angulares de defesa. Além da Torre de Menagem, faziam parte deste antigo castelo-paço os aposentos do alcaide, a casa da guarda e o pátio de armas. Todas as construções interiores estão hoje reduzidas aos alicerces. D. Nuno Álvares Pereira, segundo Conde de Arraiolos, fronteiro-mor do Alentejo e Condestável de Portugal, passou neste Paço largas temporadas.”
Igreja do Salvador no Castelo de Arraiolos
Uma vista das planícies alentejanas da muralha do castelo
Era impossível ficar indiferente à postura do cão. Estava dentro da sua alcofa, neste estranho ambiente do que terá sido uma loja, ele vive num estado circundado por um biombo, deverão achar graça os donos a tê-lo em exibição. Saltou da alcofa e pôs-se a jeito para a fotografia, olhou bem para a câmara, é cão com pedigree, tenho a certeza.
Prestes a partir para novo destino, desta vez a Atalaia do Montijo, rendi-me a esta linha tão aprumada do casario em azul e branco, as suas varandas, o seu toque antigo, e, como sempre, a limpeza dos arruamentos, inexcedível.
E despeço-me com o monumento ao pintor mais conceituado de Arraiolos, Dordio Gomes, conhece-o bem, o meu padrinho tinha um óleo de cavalos na sala de jantar, era um regalo para a vista, e quando fui trabalhar para o Ministério do Comércio Interno, numa ampla sala onde no passado funcionara o Conselho da Agricultura, as paredes estavam pejadas de quadros seus. Aqui relembro Dordio Gomes, distintíssimo artista. Aqui finda a viagem a Arraiolos, partimos para a região do Montijo.
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Nota do editor

Último post da série de 23 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25300: Os nossos seres, saberes e lazeres (620): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (147): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (7) (Mário Beja Santos)

sábado, 23 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25300: Os nossos seres, saberes e lazeres (620): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (147): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (7) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Com a continuação da visita ao Paço dos Condes de Basto, a que se seguiu assistir a um recital de violoncelo e guitarra num espaço esplendoroso do Museu Nacional de Évora, e depois de ter vistoriado, com muito gosto, a esplêndida obra azulejar de Jorge Colaço, um artista que em Paris chegou a trabalhar para Le Figaro e que durante muitos anos compôs os seus magníficos trabalhos na Fábrica de Cerâmica Lusitânia (que ainda conheci, estava prantada onde é hoje a sede da Caixa Geral de Depósitos, restam alguns vestígios como uma chaminé), regressei a Lisboa, de coração afogueado, um belo fim de semana, procurei meter o Rossio na Betesga, impossível, não deu para registar os valores da arquitetura popular tradicional, desta arquitetura civil manuelina não passei do Páteo de São Miguel e do Paço dos Condes de Basto, embora tenha visto por fora o Palácio dos Condes de Cadaval, confesso que foi uma revelação visitar o que já se designou por casas de Vasco da Gama e Palácio da Inquisição e que hoje é o Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida, bem gostei das casas pintadas e das belas exposições ali patentes. Basta de me lamuriar, há palácios, conventos e igrejas, a universidade e até o Teatro Garcia de Resende a pedir nova visita, assim me dê Deus vida e saúde, até lá dar-vos-ei notícias de umas andanças por Arraiolos e Torre de Moncorvo.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (147): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (7)

Mário Beja Santos

A arquitetura civil manuelina em Évora tem belíssimos espécimes. O que se costuma designar por estilo manuelino é uma combinação do tardo-gótico, do mourisco e dos primeiros sinais do Renascimento. Atestam esta riqueza a Galeria das Damas do Palácio Real de S. Francisco ou de D. Manuel, o Páteo de São Miguel da Freiria ou dos Condes de Basto (onde viveram os reis D. Sebastião, Filipe II e D. João IV) assente nos muros romano-árabes do castelo, com janelas de arcos de ferradura e tendo no interior as célebres pinturas mitológicas e históricas; mas há também o Paço do Almirante, o Palácio dos Duques de Cadaval, o mirante da Casa Cordovil e outras reminiscências, como o varandim da Casa Soure, a janela da casa do cronista Garcia de Resende, o Solar dos Condes de Portalegre, os restos arquitetónicos do Paço dos Condes de Vimioso.
Continuo a visita neste Paço dos Condes de Basto, Túlio Espanca descreve-o no seu livro Évora, encontro com a cidade, uma edição de 1997, faz saber que é um edifício de grande caráter e diversidade arquitetónica, refere as majestosas salas, as tais pinturas murais do estilo renascentista e outras maneiristas, dá conta da linhagem dos Castros que aqui viveram, referindo que o Palácio no período de 1678-89 recebeu grandes melhorias para nele se alojar o arcebispo de Évora, primo de D. Pedro II, e aqui esteve temporariamente instalada, em 1699, D. Catarina de Bragança, a viúva de Carlos II de Inglaterra. Em 1958, após longa agonia de ruína e degradação, o palácio foi adquirido por Vasco Eugénio de Almeida que o restaurou cuidadosamente com a assistência da Direção-Geral dos Monumentos Nacionais e nele instituiu a Fundação que tem o seu nome. Mais impressionado se fica quando se deambula por estas instalações ricamente intervencionadas e se pode ver um vídeo que mostra o estado de degradação em que se encontrava este monumento e as instalações anexas antes destas obras magnificentes. São estas as derradeiras imagens que se mostram do interior do palácio, há divisões que estão fechadas, o que está patente é exibido com muito bom gosto e mostra as cuidadas intervenções.

Uma bela tapeçaria flamenga alegórica a um triunfo do imperador Marco Aurélio
Um pormenor do jardim mostrando ao fundo um vestígio da muralha
Saindo do Palácio dos Condes de Basto, havia a indicação de que se podia visitar a biblioteca, estão aqui os arquivos das propriedades da família Eugénio de Almeida
Aquando da visita ao Museu Nacional de Évora (estávamos a 1 de outubro) noticiava-se que a pretexto de ser o Dia Mundial da Música se ia realizar neste belo espaço um concerto com a violoncelista Sofia Azevedo e o guitarrista Marco Banca, pareceu-me um duo bem ousado, foi um belo recital com música brasileira para violoncelo e violão, música adaptada do rock onde não faltou Mozart e composições a partir de José Mário Branco. Uma bela despedida do centro histórico, agora ponho-me rumo à estação e não posso deixar de exaltar a classe da azulejaria da responsabilidade de Jorge Colaço, painéis que envolvem a estação rodoviária com motivos eborenses, desde a Sé Catedral, quadros históricos como a Revolta do Manuelinho de Évora (1637), um auto vicentino que aqui se estreou em ambiente régio, cenas de trabalhos agrícolas, impressiona não só o estado de conservação, mas também a combinação cromática que Jorge Colaço urdiu, emoldurando o azul e branco de belas molduras que fazem ressaltar as cenas que nos remetem para Évora, isto passa-se numa estação ferroviária que vem de meados do século XIX e que já teve ligações a ramais, hoje extintos. Regresso a Lisboa, mas já estou saudoso de voltar. Entretanto, vou viajar até Arraiolos e Torre de Moncorvo, não deixarei de dar notícias.
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Nota do editor

Último post da série de 16 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25278: Os nossos seres, saberes e lazeres (619): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6) (Mário Beja Santos)

sábado, 16 de março de 2024

Guiné 61/74 - P25278: Os nossos seres, saberes e lazeres (619): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Novembro de 2023:

Queridos amigos,
Folheio uma obra de Túlio Espanca sobre a cidade de Évora e fica-me o ressaibo de indisfarçada amargura de amanhã partir de regresso a casa sem visitar o antigo quartel dos Dragões de Évora, o Palácio de D. Manuel (ou o que dele resta), passear-me no Aqueduto da Água da Prata, ver o mirante da Casa Cordovil e algumas igrejas que são tesouros, como a Igreja de S. Francisco. Fica para a próxima. Deu-me enorme prazer sair do Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida e ver outros empreendimentos da Fundação como a coleção de carruagens e o Páteo de S. Miguel e o Paço dos Condes de Basto, visitas que a todos se recomenda quando vierem à princesa do Alentejo, estou pronto a regressar, e sem demora.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (146):
Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (6)

Mário Beja Santos

Os fotógrafos de smartphone, com os quais alinho, têm o dever de ir eliminando imagens da câmara para que não chegue o pesadelo da lentidão da máquina. Estava a proceder a essa filtragem quando fiquei um tanto embasbacado quando descobri que não tinha incluído este magnífico presépio, imagem captada no Museu Nacional de Évora, no episódio apropriado, correspondente à dita visita. Por o achar muito belo, entendi que o leitor perdoaria o dislate e podia ver com agrado um vistoso presépio de que nos podemos orgulhar ter uma vastíssima coleção de obras únicas que não se confinam aos trabalhos portentosos de Machado Castro, dispomos de peças de rara sensibilidade por museus e templos religiosos e até casas particulares. Aqui fica o registo.
Presépio esplendoroso, de uma espantosa riqueza figurativa na sua organização

Visitado que foi o Centro de Arte e Cultura, havia que visitar um outro tesouro da Fundação Eugénio de Almeida, a coleção de carruagens, assente no antigo celeiro do Cabido da Sé de Évora. O edifício foi adquirido em 1959 por Vasco Eugénio de Almeida com o objetivo de integrar o conjunto edificado do pátio de S. Miguel. Abriu ao público em 1998 e foi alvo de requalificação entre 2008 e 2011, temos aqui uma coleção de carruagens que reúne os atrelados e utilitários de viagem que estiveram ao serviço da Casa Eugénio de Almeida entre a segunda metade do século XIX e os primeiros anos do século XX. A exposição não deixa de mencionar que com os primeiros anos do século XX as carruagens entraram progressivamente em desuso. A família Eugénio de Almeida começou a ter carros a partir de 1907, houve que adaptar as cocheiras do Parque de Santa Gertrudes. Décadas depois, quando as carruagens não passavam de relíquias, vieram expeditas por caminho de ferro até Évora. Mas veio o racionamento da Segunda Guerra Mundial, as velhas carruagens não tardaram a ser resgatadas e postas ao serviço, até que terminou a guerra. São estas as carruagens de família e outras peças adquiridas em leilões, caso da cadeirinha que podemos ver com imensa satisfação.
Imagens recolhidas na coleção de carruagens
Já muito se passeou e o palato pede uma açorda com muito coentro e uns cubos bem olorosos de carne de porco. É nesse ínterim que se percorrem as arcadas da Praça do Giraldo e dá-se conta que numa intervenção foi encontrado um fresco e ali ficou mantido em estado de boa conservação para nos recordarmos de outras eras em que seguramente estas arcadas, já de si garbosas, possuíam frescos.

É a última deambulação do dia, a visita ao Palácio dos Condes de Basto ou Paço de São Miguel, a sorte favorece os audazes, esta tarde o Paço é visitável, coisa que raramente acontece. Diz o guia de Évora que a origem deste palácio remonta, pelo menos, ao período muçulmano. Conheceu-se sucessivas modificações, não falta no seu interior o estilo manuelino e mudéjar. Assenta sobre troços da muralha medieval (e romana) e tem uma aparência exterior fortificada. A elegâncias das reformas manuelinas traduz-se nas janelas geminadas e nos arcos ultrapassados de um dos corpos principais, o conjunto é discreto e funde-se com a malha urbana da cidade. Só penetrando no páteo é que se começa a vislumbrar a extensão do palácio. O corpo adjacente situado a poente é mais moderno, teve obras entre 1570 e 1573. É aqui que encontramos três salas ornamentadas por programas fresquistas. Deve-se a Vasco Eugénio de Almeida, no século XX, a profunda intervenção de conservação e restauro de todo o complexo de edifícios do Páteo de São Miguel. O Paço está classificado desde 1922 como Monumento Nacional.

A Sala Oval é coberta por uma abóbada artesoada preenchida por uma copa de árvores cujos ramos e vegetação se encontram entrançados; entre estes ramos brincam crianças colhendo frutos, num ambiente de fortuna e prazer, rodeados das oitos ninfas segundo as Metamorfoses de Ovídio. A Sala da Tomada de La Goleta é coberta por 22 painéis com frescos cuja temática é a abundância.
Sala de bilhar
Um encantador sinal da arte mudéjar.

Aviso o leitor que vamos prolongar esta visita. Enquanto por aqui se deambulava, uma amável cicerone indicou uma sala onde se podia ver como era o Páteo de São Miguel antes das obras, fica-se de boca aberta com o estado de degradação, de completo abandono em que se encontravam grande parte das instalações adjacentes ao Paço. Houve a preocupação de ler Túlio Espanca antes de vir a Évora. Ele refere a importância da cidade na História de Portugal, refere mesmo a arquitetura civil manuelina e não esquece o Paço dos Condes de Basto. Este importante divulgador cultural refere a sua história e fala do edifício do seu interior desta maneira:
“Edifício de grande caráter e acentuada diversidade arquitetónica, assenta na torre e muralha mediévicas, em cujo flanco oriental rompe a hoje obstruída Porta da Traição e no maior bloco se ergue o imponente pavilhão de telhados de quatro águas, rasgado por janelas minadas, de arcos de ferradura, de ladrilho e delicada capitelação de pedra regional. No interior, disposto em majestosas salas, subsistem curiosas pinturas murais do estilo renascentista e outras maneiristas, de temática mitológica ou histórica.”

Vamos a seguir concluir a visita a tão impressionante conjunto de edifícios.

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 10 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25257: Os nossos seres, saberes e lazeres (618): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (145): Com que satisfação regressei à Princesa do Alentejo, uma incompreensível ausência de décadas (5) (Mário Beja Santos)