Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta IA - Inteligência Artificial. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta IA - Inteligência Artificial. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27340: A nossa guerra em números (42): com um "per diem" (verba de alimentação diária) de 24$50 (hoje 4,10 euros) dava para fazer uma... ometela simples mas saborosa!



Cartum: O "per diem"

Fonte: LG + ChatGPT (imagem gerada pela IA, 
sob instruções de LG)

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)



1. Recorde-se que cada militar, do soldado ao general, tinha direito no nosso tempo, no CTIG,  a um "per diem" de 24$50 (=4,10 €, a preços de hoje). Para se alimentar.

O Estado pagava a "ração diária" dos seus soldados  em géneros. 

Nunca vi isso escrito em parte nenhuma, o valor da verba para a alimentação diária. Nem com a ajuda da "Sabe-Tudo"... Mas recordo-me que, no meu tempo (1969/71), um soldado da CCAÇ 12, do recrutamento local, uma praça de 2ª classe (!) ganhava 600 escudos por mês, mais o tal "per diem" de 24$50. 

Por ser "desarranchado": os nossos camaradas guineenses comiam a sua "bianda" na tabanca  (havia duas em Bambadinca, uma a mais antiga, entre o quartel e o rio Geba; e outra, um reordenamento, a oeste,  a Bambadincazinho; ou seja, eles viviam com as suas famílias fora do perímetro de arame farpado...). 

Quando iam para o mato, em operações, também não tinham direito a ração de combate, por serem "desarranchados":  levavam um lenço atado com um mão  cheia de arroz cozido e nozes de cola para aliviar a fome e a sede... 

De resto, o exército (ou o serviço de intendência) não tinha rações de combate para os soldados portugueses muçulmanos (pelo menos no meu tempo). 

Em suma, um soldado guineense de 2ª classe recebia em média 1300 escudos ("pesos"), o que para um tabanqueiro guineense era "manga de patacão" naquele tempo.  Era quanto ganhava um 1º cabo de transmissões, metropolitano.

 Vejamos: 1300$00 em 1969 seria equivalente a 466,00 euros, a preços de hoje, dava para comprar dois sacos de arroz, 200 kg, na loja do Rendeiro, em Bambadinca, e ter duas mulheres.

O vagomestre com esses 24$50 do "per diem" (não sei se a tropa usava esat expressão latina, que quer dizer "por dia"...)  tinha que nos dar de comer e beber,  a nós, metropolitanos:  pequeno-almoço, almoço e jantar.  Não havia lanche nem ceia... 

Os petiscos, o leitão, o cabrito, o vinho verde,  a cerveja,   o uísque, etc.,  isso era tudo por conta do "freguês". A tropa não pagava esses luxos.  "Tainadas e berlaitadas  o nosso primeiro  que não pagava" (dizia, com graça, o nosso 2o. sargento, o saudoso José Manuel Rosado Piça, a exercer funções de primeiro).

Parece que também tínhamos direito a uma dose....de bagaço.  Mas eu nunca o vi nem o cheirei em parte nenhuma.

Em 17 de junho de 1974, na CCS/BART 6523/73 (Nova Lamego, 1973/74), segundo a relação dos víveres existentes (*), o "per diem" dava para "comprar" o equivalente a uma dúzia... de ovos (=24$30) (importados da metrópole, custavam tanto como uma garrafa de vinho verde de marca!)...

Era, pois, um luxo fazer uma generosa omeleta (que tinha que dar.... para  3 refeições)!...Já não dava para juntar umas rodelas de chouriço (1 kg = 64$80,  ou 10,85 euros, a preços de hoje).

E se quisesses beber um copo ? Quanto representava a tua ração diára de vinho no "per diem" ?

2. Façamos as contas:

(i) tinhas direito a dois copos de vinho por dia (tinto, mais frequentemente, branco às vezes, e oxidado), o equivalente a 0,25 dl em junho de 1974;

(ii) valor, de resto, que ainda está por confirmar: um ano depois, a ração diária de vinho, em Lisboa, era de 0,40 l, para qualquer militar dos 3 ramos das Forças Armadas); (**)

(iii) o preço de um litro de vinho, em Nova Lamego, era de 11$60 (o equivalente hoje a 1,94 euros);

(iv) o quarto de litro ficava, portanto, por 2$90 (=0,485 euros);

(v) se considerarmos o valor mais provável da ração diária de vinho,  no ultramar, no fim da guerra, que seria os 0,4 l (1 copo de 2 dl  a cada refeição principal), terias gasto 4$60 do teu "per diem"  (à volta de um 1 euro, sobravam-te 3,1 euros para o conduto...).

3. Não te assustes: em 1969/71, a verba para a alimentação diária da rapaziada do Exércita  já era insuficiente...No relatório anual do Comando-Chefe referente a 1971 já se pede a atualização da verba de alimentação diária para os 33$00 (!). Claro, no Terreiro do Paço devem ter-lhe feito orelhas moucas ou mandado apertar o cinto.

Com certeza que o gen António  Spínola não estava a fazer "humor de caserna", como nós aqui, no blogue...

De facto, a inflação , galopante, desde o início da década de 1970 (e que se vai agravar em finais de 1973) (**), já estava a baralhar as  contas do vagomestre, do 1º sargento, do capitão e por ai fora até ao  governador e comandante-chefe ,o gen António Spínola,  em Bissau,  e no topo da cadeia o ministro das Finanças, em Lisboa (que já ninguém sabe quem era) ... 

Pois é,  camaradas, é a economia (e o moral das tropas...) que faz ganhar ou perder guerras... É como na política, "o pão e o circo" é que fazem ganhar ou perder eleições...

E tu, camarada Zé Saúde (que foste vagomestre por um mês, se bem percebi) (***), com um "per diem" de 24$50, já lerpavas... em Nova Lamego, nessa altura.  De larica, galga, fomeca. (Não sabemos, nem isso agora é relevante,  se, em junho de 1974, a verba para a alimentação da tropa no CTIG ainda eram os desgraçados 24$50 diários "per capita", para o soldado e para o general, para o branco e para o preto, o "tuga" e o "nharro"...).

O que vale é que já estavas de abalada para Lisboa... (Recorde-se que o teu batalhão "comandou e coordenou a execução do plano de retracção do dispositivo e a desactivação e entrega dos aquartelamentos ao PAIGC, sucessivamente efectuadas nos subsectores de Madina Mandinga e Cabuca, em 20ag074,  e de Piche, em 29ag074", e que em 7 de setembro já estavas, em Lisboa, a caminho de Beja para comeres as tuas saudosas  migas...

Mas pergunto-te: quantas vezes passaste sede ? quantas vezes deixaste de beber a tua pinga ? e porquê ?

Nunca se davam explicações na tropa. Especulava-se: atrasou-se o barco, ou foi atacado em Mato Cão, acabou-se ou estragou-se o vinho que havia no barril de 100 litros, ou no bidão metálico de 200/210 litros, etc... (Estes bidões metálicos são do teu tempo, Zé Saúde, não são do meu, enfim "modernices" da Intendência, ou então já indícios da crise dos tanoeiros.)

E não havia Jesus Cristo para fazer milagres, ele  que não chegava para todas as encomendas e nunca parou (nem reparou) em Nova Lamego, para fazer o milagre da conversão da água em vinho e da multiplicação dos pães!...

Mas alguém terá ficado no bolso com os teus tostões, os teus cêntimos, do teu mísero "per diem"... 

4. Sabemos que a 3ª Cart / BART 6523 tinha, em 18/6/1974, na despensa da CCS, à sua guarda,  um stock de vinho na ordem dos 1145 litros... Se multiplicares por 11$60, dava a bonita soma de 13 contos e mais uns trocos: 13.282$00 (= 2593,00 euros, a preços de hoje).


Essa 3ª Companhia deveria ter uns 160 homens, mais coisa, menos coisa... Famintos, sequiosos...Se todos bebessem (e não houvesse coluna de reabastecimento), só teriam vinho para menos de um mês:

(i) 29 dias, se a  ração diária de vinho fosse de 0,25 l (2 copos pequenos);

(ii) 18 dias, se a ração diária fosse de 0,40 l (2 copos de 2 dl cada, como nos parece mais provável, até de acordo com o volume do copo da tropa que nos foi distribuído com o cantil).

De qualquer modo, havia apenas  vinho para menos de um mês... A menos que fosse  "batizado"... coisa que o Aníbal Silva, em Nova Sintra, desmente categoricamente. 

Enfim,  era mais um quebra-cabeças logístico:
  • tinha-se que ir buscá-lo, ao vinho,  a Bambadinca, onde havia o destacamento da Intendência mais próximo, noutra ponta da zona leste (a estrada já era alcatroada, passando por Bafatá, ao menos isso);
  • pensando em termos de recipientes, 1145 litros de vinho eram 5 bidões metálicos de 200 litros + 1 barril de 100 litros e uns tantos garrafões de 5 litros  ( parece que em 1969/71 já não se viam garrafões de 10 l)...

Aníbal Silva
Falando, por telemóvel com o Aníbal Silva, o ex-fur mil vagomestre, da  CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70), um rapaz do meu tempo, dizia-me ele que a malta, em Nova Sintra  "estafava" um barril de 100 litros em menos de 3 dias. 

Noutros sítios, a malta queixava-se que  às vezes o raio do vinho oxidava--se, envinagrava-se, estragava-se... Ou então evaporava-se, sumia-se, e ninguém sabia como... "Obra de profissionais" ? Para quê se não havia "mercado local" ou "regional" ? !... 

Não seria para revender à população,  que os de Nova Lamego, por exemplo,  não podiam beber "água de Lisboa", por serem muçulmanos... E em Nova Sintra não havia população. Muitas vezes era "pró petisco" dos "tugas" (sendo o cozinheiro sempre convidado)...

De qualquer modo, nada como falar com números ! (***). E sobretudo ouvir as histórias dos nossos tão bravos quão pacientes vagomestres, como o Aníbal Silva, que é catedrático nestas matérias...

_______________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2020 > Guiné 61/74 - P20626: (Ex)citações (362): O ventre e o patacão da guerra, segundo duas preciosas listas de junho de 1974, guardadas pelo Zé Saúde... Cada um de nós tinha direito a um "per diem" de 24$50 para comer, o equivalente na época a um dúzia de ovos da Intendência (, a preços de hoje, 4,10 euros)

(**) Vd. este excerto do Relatório Anual do Cmd-Chefe das FAG, referente a 1971:

 (...) "Intendência

(i) Pessoal

A actual organização do Serviço de Intendência do CTIG é manifestamente deficiente. OS QO carecem de actualização, conforme proposta já apresentada por aquele Comando.

É premente a necessidade de montar no TO um Apoio Avançado eficiente, com níveis adequados, por forma a descentralizar o apoio logístico do serviço, descongestionando os órgãos-base. Para isso reconhece- se a necessidade, já há muito apresentada, de um reforço dos órgãos do Serviço de Intendência do CTIG.

(ii) Víveres

Ao longo do ano verificou-se uma melhoria do reabastecimento de víveres frescos às Unidades do TO pela utilização do sistema de reabastecimento aéreo com o lançamento em paraquedas.

Verificou-se também uma melhoria nos meios de frio nos órgãos-base avançados e Unidades, que permitiu que o reabastecimento de frescos às Unidades se processasse em condições mais eficientes.

(ii) Verba de alimentação

Em resultado do aumento do custo de géneros de 1a necessidade e ainda do aumento do custo dos transportes da Metrópole para a Província, tem--se vindo a agravar o custo da alimentação. Nesta conformidade e com vista a não baixar o nível de alimentação das tropas, toma-se necessário actualizar a verba diária actual para um valor da ordem dos 33$00" (...)

Fonte: Excerto de: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro III; 1.ª Edição; Lisboa (2015), pp. 59. 

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27335 O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (4): transporte e recipientes


Guiné > Zona Sul > Região de Tombali > Pel Rec Fox 42 > 1964 > Fev / mai 1964 >  Ganturé > O sold cond auto Armando Fonseca na hora do repouso do guerreiro  a escrever, sentado, à porta da sua morança; em segundo plano, do lado direito, assinalado a amarelo, um garrafão de 10 litros, 
usado pela Manutenção Miliutar para distribuir o vinho pelos destacamentos, guarnições mais pequenas que os aquartelamentos. Eram também usados pelos militares (e pela população) para transporte de água.

Foto (e legenda): © Armando Fonseca (2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Guiné > Região de Tombali > Guileje > Pel Caç Nat 51 (1969/70) > Em 1972/73, a fonte que abastecia o aquartelamento e a tabanca de Guileje, distava cerca de 4 km. Ficava no Rio Afiá. No tempo da CART 2140 (1969/70 e do Pel Caç Nat 51, o abastecimento era manual e fazia-se com recurso a bidões, jericãs e garrafões (de 10 litros) (assinalado um, a amarelo). No tempo da CCAV 8350, a companhia que retirou de Guileje em 22/5/1973, havia já um bomba de água de água, a motor. 

Foto  do álbum do Armindo Batata, comandante do Pel Caç Nat 5 (1969/70)

Foto (e legenda): © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Ediºão e legendcagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné

..

Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O fur mil op esp José Casimiro Carvalho, cuidando do jardim...Em segundo plano um conjunto de barris, já desconjuntados...  No tempo da CCAÇ 3325, em 1971,  terão tido melhor uso...

Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]



Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > O com-chefe gen António de Spínola a chegar (faria duas visitas nesse ano). Originalidade: o pavimento do acesso do quartel à pista de aviação (a chamada entrada VIP) era revestido com milhares de garrafas de cerveja. 

Numa série de barris sobrepostos (de 100 litros, parece-nos), no lado direito, lê-se, em Português, a inscrição a tinta branca "Boa-V(iagem)". Por baixo, a frase árabe بيت السلام (Bayt al-Salam):
  • بيت (Bayt) significa "Casa".

  • السلام (al-Salam) significa "A Paz".


É a nossa leitura com a ajuda da IA (Perplexity  e Gemini).  Ambas as frases exprimem votos, a quem chega,   de boa jornada, estadia e segurança naquele contexto (que era de guerra).

​Foto nº 18 do álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho

Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]


 Transporte e recipientes do vinho



1. Num excerto do jornal "O Século", de 15 de janeiro de 1899 (citado por José Capela, "O Vinho para o Preto", Porto, Afrontamento, 1973, pág. 61), fomos encontrar expressão "barris de quinto ou décimo". 

O que eram exatamente estas medidas ? 

1. A "pipa"

No comércio vinícola português do século XIX (sobretudo no Norte), a pipa era a principal unidade de medida de capacidade para o vinho, equivalente a cerca de 520 a 550 litros, dependendo da região e do tipo de vinho. No Douro, por exemplo, 1 pipa ≈ 550 litros (às vezes também chamada “pipa de vinho do Porto”). Equivalente a 25 almudes.

A pipa fazia fazia parte do sistema das antigas unidades  de medida de capacidade para líquidos. A unidade da pipa acima era o tonel (2 pipas). O terno ficou no nosso léxico atual
 

Barril de 100 litros,
em castanho,´
já industrial. Dimensões (em cm):;
altura=80; bojo=50,
diâemtro da cabe=40
Fonte: Loja Agropecuaria

2.  “Barril de quinto” e “barril de décimo”

As expressões “barril de quinto” e “barril de décimo” indicam a quinta parte ou a décima parte de uma pipa.

Assim:

  • Barril de quinto = 1/5 de pipa ≈ 105 a 110 litros

  • Barril de décima = 1/10 de pipa ≈ 52 a 55 litros

Portanto, tratava-se de submúltiplos da pipa, usados sobretudo em contextos de comércio, transporte marítimo e exportação, quando não se justificava enviar uma pipa inteira, mais difícil de manobrar e acondicionar nos navios.

Esses recipientes (em madeira, em carvalho ou castanho, feitos pelos tanoeiros) eram menores do que a pipa,por  isso  mais manejáveis nos navios e nos portos africanos, e adequados ao comércio por retalho ou escambo com intermediários locais (muitas vezes “lançados”, afro-luso-descendentes ou comerciantes cabo-verdianos).

Por outro lado, o uso de medidas fracionadas da pipa permitia ajustar melhor os volumes exportados conforme as taxas alfandegárias e o poder de compra nos destinos africanos.

 3.  O transporte de vinho da Manutenção Militar para a Guiné (1961/74)

O fornecimento de géneros alimentícios, incluindo o vinho, ao CTIG, era da responsabilidade do Serviços de Manutenção Militar... No entanto, a forma como esse vinho chegava  ao BINT (Batalhão de Intendência), em Bissau, e às unidades e subunidades no mato,  revela os enormes desafios logísticos daquele teatro de operações.

A Guiné era, de facto, um território logisticamente muito complicado, dependente de transporte aéreo (helicóptero, DO-27, ou paraquedas, etc.), fluvial (lancha da marinha, barco civil ou "barco-turra") ou terrestre (coluna auto,  sujeita a minas e emboscadas).

Tudo indica que o transporte de Lisboa para Bissau fosse feito originalmente em barris (sobretudo de 100 litros) e não em pipas. Mais tarde (não sabemos exatamente quando, mas mais para o fim da guerra) terão aparecido os bidões metálicos, de 200/210 litros. 

Nenhuma das plataformas de IA por nós consultadas refere o transporte do vinho, metropolitano, para o CTIG em navios-tanque ou conbtentores. Será que havia em Bissau infraestruturas portuárias para descarregar esses tanques e esses contentores ? Em Luanda e Lourenço Marques haveria. Mas Bissau  também recebia navios-tanque com combustíveis...E eram as próprias "gasolineiras" (c0mo a Sacor) que abasteciam diretamente as guarnições militares no mato,  pelo menos as mais acessíveis por via fluvial. Enfim, é uma questão que fica em aberto, a do transporte do vinho em navios-tanque.

Na Guiné, o vinho era fornecido pela Manutenção Militar (MM), com origem em Portugal continental. O circuito habitual era:

Portugal → Bissau (por navio) → Depósito do BINT →  Depósitos Regionais (Bissau, Tite, Bula, Bafatá, Farim, Bambadinca e Catió, com os respetivos PINT - Pelotões de Intendência).

Quanto aos recipientes, dependia da fase da guerra, do meio de transporte  e da acessibilidade do local:

  • na origem (Metrópole), o vinho era expedido em barris de 100 litros e, mais tarde, bidões metálicos de 200–210 litros, dependendo do tipo de transporte e destino;
  • os bidões metálicos devem ter aparecido, de facto,  já mais para o fim da guerra: o  nosso camarada João Lourenço, ex-alf mil SAM, cmdt do PINT 9288 ( Cufar, 1973/74), escreveu:  "O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras";
  • nos depósitos regionais (onde havia Pelotões de Intendência: Bissau, Bula, Bambadinca, Tite, Farim, Cufar), o vinho podia ser redistribuído em garrafões de 5 ou 10 litros, de vidro (mas já revestido a plástico, no caso dos de 5 litros, ou vime/tiras de madeira, os de 10 litros); ou seguir em barris de 100 litros e, mais tarde, em  bidões  de 200/210 l (para boa parte dos aquartelamentos);
  • os barris de 50 l ou 100 l (os tais barris de décimo e de quinto), em madeira de castanho ou carvalho, eram uma solução tradicional e robusta para o transporte de vinho; eram relativamente manobráveis; além, náo tinham que ser devolvidos à Intendência: a malta acaba por aproveitá-los para fazer cadeiras reclináveis, bancos, mesas, mobiliário diverso, etc. , ou então comno lenha;
  • nos quartéis e destacamento do mato, os garrafões de 5 e 10 litros eram os mais práticos e comuns, porque podiam ser transportados  por Unimog,  jipe ou até à mão; eram demasiado frágeis para o transporte em condições de guerra (lançamento por paraquedas, transporte em camiões por picadas minadas); eram mais usados para o fornecimento das messes de oficiais ou sargentos, que por vezes recebiam vinhos de melhor qualidade em separado;
  • os bidões metálicos de 200/210 litros (semelhantes aos de combustível, mas estanhados por dentro, para não oxidar o vinho) eram mais utilizados para transporte em massa; esta era, muito provavelmente, a forma mais comum de transportar o vinho  a granel para os depósitos dos PINT (Pelotões de Intendência (Bissau, Tite, Bula, Bambadinca, Bafatá, Farim, Cufar); estes bidões (semelhantes aos de combustível) eram extremamente robustos: podiam ser rolados ou içados  (embora não houvesse monta-cargas na maior parte dos sítios; havia gruas e pequenos guindastes nos portos fluviais, como Bambadinca).
Em suma: o vinho chegava a granel ao teatro de operações da Guiné em barris sobretudo de 100 litros e, mais tarde, bidões metálicos de 200/210 litros; a Intendência fazia a redistribuição para as 220 e tal guarnições militares do território (aquartelamentos e destacamentos). Se o transporte fosse em coluna auto, poderia ir nos próprios barris ou bidões. Se fosse por lancha para sítios mais isolados (rio Cacheu, rio Cumbijã, rio Cacine, por exemplo), o vinho era muitas vezes recondicionado em recipientes mais pequenos e manobráveis: aqui, barris de 50 l ou outros recipientes metálicos robustos (como jerricãs, embora menos comuns para vinho) seriam preferíveis aos frágeis garrafões.

 Os problemas logísticos ditavam que a robustez da embalagem era mais importante do que qualquer outra consideração. 



4. A cor dos bidões metálicos para vinho

 Quando apareceram  os bidões metálicos, de 200/210 litros, para vinho, tinha uma  cor exterior que permitia distinguí-los logo dos restantes bidões usados para combustíveis e óleos:
  • Vermelho = Gasolina
  • Azul = Gasóleo
  • Verde-Claro = Petróleo branco
  • Amarelo = Óleos

Os bidões metálicos de vinho, utilizados durante a guerra colonial na Guiné Portuguesa, mas já mais para o fim (1973/74), tinham geralmente um volume de 200 a 210 litros, eram estanhados por dentro (para evitar a corrosão do recipiente e  a contaminação do vinho) e, no exterior, eram pintados de cor prateada ou cinzento-metálico (ou  cor metálica natural ou tinta alumínio) (vd. imagem à direita, de um bidão moderno, "made in China").

Os bidões para vinho não seguiam o mesmo código cromático que os combustíveis e óleos (vermelho, azul, verde-claro, amarelo), pois não transportavam produtos inflamáveis. Podiam ser  reaproveitados para outros fins, devendo ser em princípios devolvidos à Intentência.  (Ou não ?... Fica para confirmar.)

Em 1969/71, não me lembro de os ver em Bambadinca... Devem aparecido mais tarde. (Mas eu, confesso, nunca fui visitar o destacamento da Intendência, no cais fluvial de Bambadinca,)

 5. 
Conclusão provisória

Segundo a(s) assistente(s)de IA que consultámos, não foi encontrada, nas fontes de acesso aberto,   
descrição normativa padronizada do acondicionamento específico do vinho para a Guiné, ao tempo da guerra colonial (barris de 50 L,  barris de 100 l, bidões de 200-210 L, garrafões de 5 e 10 l, etc.). A Intendència foi-se adaptando também, conforme a tecnologia de acondicionamento dos líquidos, a par da modernização dos portos, da estiva e dos transportes marítimos. 

 Em conslusão, o "vinho ... pró branco de 2ª"  (que foi o Rosinha em Angola e todos nós na Guiné...) era fornecido a granel, em embalagens de grande capacidade, para facilitar o transporte e reduzir custos (inicialmente em barris de 100 l).  Para o interior, para o mato, foi encontrando soluções à medida, conforme as necessidades e os obstáculos. 

Veremos, em detalhe, em poste a seguir, os problemas logísticos que levantavam o abastecimento de vinho às NT.

 (Contimua)

(Pesquisa: LG + Assistente de IA (ChatGPT, Gemini, Perplexity, Meta, Mistral)

(Condensação, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

___________________

Nota do editor LG:


Último poste da série > 18 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27330: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (3): a ração diária do "tuga" seria de 1/4 de litro, o que dava 90 litros em média por ano, diz a "Sabe-tudo"

sábado, 18 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27330: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (3): a ração diária do "tuga" seria de 1/4 de litro, o que dava 90 litros em média por ano, diz a "Sabe-tudo"

se


Guiné> Zona Oeste > s/l > s/d > O Augusto Silva Santos (ex-fur mil, CCAÇ 3306/BCAÇ 3833,
Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) enchemos très generosos copos de vinho tinto "Pedras negras"... diretamente do garrafão de 5 litros...Era uma marca da Adega Cooperativa de Palmela, da  Região do Moscatel de Setúbal. Fundada em 1955,  iniciou a sua actividade em 1958.E esta marca de vinho deve ter sido lançada no início da década de 1970. Julgo ainda hoje existe.

Foto (e legenda): © Augusto Silva Santos (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Fizemos uma ronda pela "Sabe-Tudo", a IA,  que quando não sabe inventa... Na realidade, a IA está dependente das fontes disponíveis na Net. Há muita documentação e regulamentação do Exército, da época da guerra colonial, que não está disponível em suporte digital. E, em certas matérias, o nosso blogue é a única fonte citada!

As meninas assistentes de IA a que recorremos desta vez são as do ChatGPT, Perplexity, Gemini / Google, Meta, Deep Seek e Mistral... As mais "graneleiras" são o Deep Seek (a IA chinesa) e a Meta (EUA). A única europeia da lista é a Mistral (França), que faz concorrência às "americanas". Mas a Europa, infelizmente, está atrasada em matéria de IA...

Pergunta do editor LG:

Qual era a dose diária de vinho de um soldado português em África durante a guerra colonial ? Um copo à refeição, 1 ou 2 decilitros ? E como era fornecido o vinho, pela Manutenção Militar, na Guiné-Bissau ? Em garrafões de 5 litros, 10 litros ou mais ? Ou em barris de 50 litros ? Ou em bidões (metálicos) de 210 ? Havia problemas logísticos...


(1)  O vinho faz parte da missa, da mesa, do lazer, da festa, da paz e da guerra dos portugueses

  • Excelente questão,  e muito pertinente, porque o vinho fazia parte da ração e da cultura alimentar do soldado português em África, mas era também um elemento logístico complicado no contexto tropical da guerra colonial (ChatGPT).
  • Durante a Guerra Colonial (1961‑1974), o vinho fazia parte da ração diária dos soldados portugueses, tanto pelo seu valor calórico como pelo papel moral, sendo considerado um produto essencial, sobretudo em teatros como a Guiné-Bissau, onde as condições de vida eram difíceis. (Perplexity).
  • Esta é uma excelente pergunta que toca num ponto muito específico da logística e do quotidiano da Guerra Colonial. A resposta varia ligeiramente dependendo do teatro de operações (Guiné, Angola, Moçambique) e da fase da guerra, mas existem dados consistentes, especialmente com base em regulamentos militares e relatos de ex-combatentes (Gemini / Google).
  • Excelente pergunta, que toca num aspeto muito específico e revelador da logística e do dia-a-dia do soldado português durante a Guerra Colonial: o  vinho era visto como um complemento alimentar, um humilde conforto que ajudava a "quebrar a monotonia" e a lidar com o stresse, o calor e, nalguns casos, a água de má qualidade (...) (Deep Seek).

(ii) A ração diária de vinho do "tuga", segundo as NEP


(a) Segundo as instruções de alimentação das Forças Armadas (nomeadamente os regulamentos da Manutenção Militar vigentes desde os anos 1950 e adaptados à guerra colonial), a ração diária tipo incluía:


¼ de litro (250 ml) de vinho por dia,  normalmente dividido pelas 2 refeições (almoço e jantar).

Em algumas situações e unidades (por exemplo, tropas em operações prolongadas ou zonas de maior isolamento), a dose podia ser reduzida ou substituída por sumos concentrados, cerveja (quando disponível) ou mesmo nada, devido a dificuldades logísticas.

Em termos práticos, portanto, o soldado recebia cerca de um copo grande de vinho por dia,  o equivalente a 1 a 2 decilitros por refeição (ChatGPT).

(b) A dose oficial era de ¼ de litro de vinho por dia

A dose normal regulamentar era de aproximadamente 1 decilitro por refeição, o que equivalia a 2 decilitros por dia, seguindo instruções da Manutenção Militar e regimentos de campanha aplicáveis desde os anos 1950. 

Em contextos de campanha ou em zonas operacionais isoladas, esta dose podia ser reduzida ou substituída temporariamente (?) por cerveja, aguardente, ou refrescos artificiais, dependendo das condições de transporte e conservação. 

Falso: na falta do vinho, não havia compensações (LG).


Na prática, segundo testemunhos de ex-combatentes, muitos quartéis e destacamentos improvisavam: um copo pequeno ao almoço e outro ao jantar era a norma, frequentemente partilhando o que existia entre vários militares (Perplexity).


(c) A tua estimativa está muito próxima da realidade, mas a dose-padrão era, na verdade, um pouco mais generosa. A "ração oficial", A ração de vinho estipulada para os soldados (praças),  era, mais comummente, de 0,25 litros (um quarto de litro) por refeição principal (almoço e jantar).


Total diário: isto perfazia um total de 0,5 litros (meio litro) de vinho por dia por soldado.

Este vinho, conhecido como "vinho de rancho", era geralmente vinho tinto comum, fornecido como parte integrante da ração de combate (?) ou do rancho no aquartelamento (Gemini / Google).
 
Falso: a  ração de combate não incluía álcool de qualquer espécie.  Alguns militares podiam levar  parao  mato, por sua conta e risco, um frasco de uísque. Por outro lado, meio litro de vinho  "per capita"  elevava o consumo mensal para o dobro, e levantava problemas logísticos adicionais. (LG).


(d) A dose diária de vinho para soldados portugueses durante a Guerra Colonial em África variava, mas historicamente era comum fornecer vinho como parte da ração diária. 


Embora não haja informações específicas sobre a quantidade exata, um copo à refeição ou 1 a 2 decilitros seriam razoáveis, considerando as recomendações atuais de consumo moderado de vinho (Meta).


(e) A tua estimativa está bastante correta. A dose oficial, estabelecida pela Manutenção Militar, era de 2 decilitros (dl) por dia, o que equivale a um "copo de vinho" padrão (cerca de 200 ml). Mas a distribuição real estava sujeita aos caprichos da logística de guerra.


Esta quantidade estava prevista nos regulamentos de subsistência. Era considerada uma ração de campanha, semelhante à de outros géneros como o pão, a carne ou o tabaco.

Falso: em 1961/74, não havia ração de tabaco (LG)

Na prática,  distribuição desta dose nem sempre era diária. Dependia criticamente das condições logísticas. 

Em situações de operação prolongada no mato, o vinho (e outros suprimentos) podia não chegar durante dias ou semanas. Quando chegava, por vezes era distribuída a "ração acumulada" de vários dias de uma só vez. (Deep Seek)

Falso: não havia distribuição de vinho em operações. Muito menos acumulação de rações. (LG)

A dose regulamentar era, de facto, de 2 decilitros (0,2 litros). No papel, era isso. No terreno, como bem sabe, a realidade era diferente: "Era pouco", dizes tu. Esta tua observação é crucial. A ração oficial era considerada insuficiente por muitos. A forma como era realmente consumida dependia da unidade, do abastecimento e da dinâmica interna. Era frequente os soldados juntarem as suas rações ou adquirirem garrafas adicionais através de compras ou trocas, quando possível.

A tua menção implícita aos problemas logísticos confirma que a distribuição não era diária nem certa. A ração de vinho acumulava e era distribuída quando o reabastecimiento chegava, o que podia significar consumir quantidades superiores de uma só vez (Deep Seek).


(f) Durante a guerra colonial portuguesa, os soldados em África, especialmente na Guiné-Bissau, frequentemente recebiam vinho como parte da sua ração diária. 

A dose média variava, mas, em geral, era comum a atribuição de um copo por refeição, o que se traduz em cerca de 1 a 2 decilitros (100 a 200 ml) por refeição, dependendo das circunstâncias e da disponibilidade (Mistral).

Documentação da Manutenção Minitar (ChatGPT):

Não encontrei (nas fontes que verifiquei) nenhum excerto de regulamentos oficiais ou documentos da Manutenção Militar que confirmem explicitamente uma dose diária de ¼ litro de vinho ou que detalhem precisamente os modos de acondicionamento (barris ou bidões etc.) do vinho para os soldados em campanha nas colónias.

Regulamento da Manutenção Militar (1929):

Existe esse documento, mas o texto completo do regulamento antigo não revela (pelo que pude ver) no sumário ou índices públicos que haja uma cláusula que fixe dose diária de vinho para tropas em campanha (Imprensa Nacional).

Decreto-Lei 329-G/75, de 30 de Junho:

Unificava rações, alimentação por conta do Estado, etc.; no seu artigo 1.º obriga que a alimentação tenha valor nutritivo adequado e que as rações sejam compostas de “víveres, decompostas” em refeições.  0,40 litros era então, em 1975, a  ração diária de vinho a que tinha direito qualquer ,militar dos 2 ramos das Forças Armadas ( Diários da República - Versão do cidadão).

Fontes antropológicas / estudos sobre consumo de álcool:

 Há um estudo “Consumo de álcool e alcoolismo durante a Guerra Colonial Portuguesa; uma perspetiva antropológica”,  de Vasco Gil Calado, que fala dos usos sociais e consumo real de bebidas alcoólicas pelos militares. O estudo mostra que o consumo era frequente e as autoridades toleravam certa embriaguez, mas não apresenta um regulamento militar oficial que fixe uma dose padrão de vinho por dia (Journals OpenEdition).

Conclusão provisória

Não encontrei até agora prova documental de que a dose oficial fosse ¼ litro de vinho por dia. Essa medida se encaixa na lógica das rações militares ou de certos suplementos alimentares, de forma adaptada ao contexto, mas parece mais uma reconstrução com base em testemunhos do que algo regulamentar explícito, pelo menos segundo as fontes acessíveis (ChatGPT).


2. Em conclusão: mesmo sem termos acesso direto aos regulamentos da Manutenção Militar, e esperando o contributo decisivo dos nossos camaradas SAM (os vagomestres das companhias e os "intendes", a malta do BINT - Batalhão de Intendência), parece-nos razoável avançar com a dose diária dos dois copos de vinho, um por refeição, perfazendo 2,5 dl (já com o gelo adicional, quando o havia, o que era um luxo em muitos sítios). 

Certas categorias de pessoal deveria ter acesso mais facilitado ao vinho (os graduados, a equipa do vagomestre, o pessoal da cozinha...). Como também abstémios, admitimos que havia malta que bebia o dobro ou até o triplo. Um alcunha que vamos encontrar nalgumas subunidades do mato é... o "esgota-pipos".

Total de consumo de vinho, por companhia e por ano: 0,25 l por dia x 30 dias = 7,5 l x 12 meses= 90 litros = 18 garrafões de 5 l x 160 homens (1 companhia) = 2880 garrafões de 5 l = 14 400 l = 144 hectolitros...

Se subirmos a ração diária de vinho para os 0,4 l  (1 copo de 2 dl por refeição), as contas da logística complicam-se ainda mais:  

(i) c.146 litros "per capita", anualmente:

(ii) 23 360 litros (233,6 hectolitros) por companhia anualmente.

Que logística suportava este consumo ? Só por mês, seriam cerca de 400 de garrafões de 5l, ou 40 barris de 50 l, ou 10 bidões metálicos de 210 l...

Temos de concordar que era uma logística complicadíssima (para não dizer inexequível) para muitas das c. de 220 guarnições militares da Guiné (aquartelamentos e destacamentos), muitas delas de difícil acesso, sobretudo na época das chuvas, e que podiam ficar isoladas, ainda por cima em zonas de guerra. 

Veremos isso melhor em próximo poste: transporte, vasilhame e outros problemas logísticos.

(Continua)

(Pesquisa: LG + Assistentes de IA (ChatGPT, Perplexity, Gemini, Meta, Deep Seek, Mistral)

(Condensação, revisáo / fixação de texto, negritos: LG)

__________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 18 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27323: O vinho... pró branco de 2ª e pró tinto de 1ª (2): qual era a ração diária em campanha ? Um copo à refeição, 2,5 dl por dia ? Se sim, uma companhia no mato (=160 homens) tinha um consumo médio mensal de 240 garrafões de 5 l...

segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27313: Diálogos com a IA (inteligência Artificial) (6): O que se sabe sobre o ataque do PAIGC a Contabane, na noite de 22 de junho de 1968 ? É o que vem no blogue, já que no livro da CECA (6.º Volume: Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II, Guiné, Livro II, 1º ed., Lisboa, 2015, 607 pp.) não há uma linha sequer.



Guião da CCAÇ 2382 (Buba, 1968/70), "Por picadas nunca estradas, por estradas nunca picadas".

Foto (e legenda): © Manuel Traquina (2008). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Região de Bafatá > Carta de Contabane  (1959) / Escala 1/50 mil > Posição relativa de Contabane, Saltinho, Rio Corubal e Quirafo. (Nesta altura não havia Sinchã Sambel, a um escasso quilómetro do Saltinho, na margem direita do rio Corubal). A tabanca e o destacamento de Contabande ficava a seis quilómetros, em linha reta, do Saltinho.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Contabane  tem cerca de 40 referências no nosso blogue. 

Para os fulas do Forreá foi um duro golpe o ataque e a destruição da tabanca na noite de 22 de junho de 1968 (*).  Apesar da lealdade a Portugal do régulo de Contabane, Sambel Baldé, o ataque deve ter minado a confiança da população da zona. Um regulado que, de  resto, já era um deserto, com as tabancas abandonadas.

A tropa (CCAÇ 2701, Saltinho, 1970/72) ) e os antigos habitantes irão construir mais tarde uma nova tabanca, Sinchã Sambel, mesmo junto ao quartel do Saltinho.  Já sob o "consulado" do novo governador e comandante-chefe, brigadeiro António Spínola (que tinha acabado de chegar à Guiné um mês antes do ataque ), o "destacamento de Contabane" será abandonado, tal como outras posições a sul, e nomeadamente a sul do rio Corubal e junto à fronteira com a Guiné-Conacri. Cite-se:

  • Beli, 
  • Madina do Boé,
  • Ché Che,
  • Contabane,
  • Colibuia,
  • Cumbijã,
  • Ponte Baiana,
  • Gandembel,
  • Mejo, 
  • Sangonhá,
  • Cacoca, 
  • Cachil,
  • Ganjola

2. Perguntámos, por mera curiosidade, à assistente de IA / ChatGPT, o que aconteceu a Contabane. Sem surpresas, a resposta baseia-se na única fonte que ela encontra acessível,  na Net, o nosso blogue (a que ela chama Blogue Fora Nada E Vaotres):

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

Sem falsa modéstia, o nosso blogue tem dado visibilidade a "acontecimentos de guerra" que no livros da CECA, por uma razão ou outra (a começar por lacunas de informação), passaram despercebidos, para não dizer ignorados, incluindo alguns reveses das NT (**)... 

A Grande História também se faz com pequenas histórias, como são as nossas. De qualquer modo, é de destacar a grande coragem com que Contabane foi defendida pelas NT (CCAÇ 2382, comandada pelo cap mil inf Carlos Nery, felizmente ainda vivo e membro da nossa Tabanca Grande) e a população local em autodefesa. O que não impediu que Contabane fosse riscada do mapa.

Três camaradas nossos da CCAÇ 2382 (um furriel miliciano, um 1º cabo e um soldado) foram posteriormente condecorados com a  Cruz de Guerra de 4ª Classe, por feitos em grande parte relacionados com a defesa de Contabane na noite de 22 de junho de 1968. Iremos transcrevê-los em próximo poste.

P - O que aconteceu em Contabane, entre o Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa, na antiga Guiné Portuguesa), na noite de 22 de junho de 1968, no âmbito da Guerra Colonial?
 
R-  "Aqui está o que se sabe sobre o ataque a Contabane na noite de 22 de junho de 1968, no contexto da Guerra Colonial na Guiné Portuguesa, entre Saltinho e Quebo (Aldeia Formosa). Há algumas versões e relatos de ex-combatentes, e como sempre, nas guerras, há discrepâncias, mas vou compilar os elementos mais credíveis.

(i) Contexto

Localização: Contabane era uma tabanca (aldeia rural/pequena povoação) situada entre Saltinho e Quebo, no sul da Guiné Portuguesa, no Sector de Tombali / Quebo (antiga Aldeia Formosa). Blogue Fora Nada E Vaotres

As forças portuguesas mantinham ali um destacamento da CCAÇ 2382 ( Companhia de Caçadores nº 2382) com pelotões espalhados, bem como instalações menores, abrigos, valas de proteção e arame farpado à volta da tabanca. Blogue Fora Nada E Vaotres

Do lado do PAIGC, a guerrilha já atuava naquela região, interferindo com rotas de infiltração e de apoio, sobretudo junto à fronteira com a Guiné-Conakry. Contabane funcionava como “tampão” ou ponto de presença militar português, relativamente vulnerável. Blogue Fora Nada E Vaotres

(2) O que aconteceu na noite de 22 de junho de 1968

Segundo relatos de antigos militares portugueses, em particular da CCAÇ 2382, de ex-milícias/indivíduos da tabanca, e de blogs/documentos coletados posteriormente:

Ataque do PAIGC:

O PAIGC organizou um ataque contra as posições em Contabane. O ataque durou cerca de três horas. Blogue Fora Nada E Vaotres

Foi uma operação relativamente bem preparada. Blogue Fora Nada E Vaotres

Destruição da tabanca e retirada das tropas portuguesas:

As forças portuguesas presentes: pelotões da CCAÇ 2382, aquartelados em moradas da tabanca cedidas pelo régulo local, além de algumas valas e abrigos defensivos e arame farpado para proteção. Blogue Fora Nada E Vaotres


Durante o ataque, a tabanca foi incendiada e destruída. Blogue Fora Nada E Vaotres

O destacamento português foi obrigado a retirar, levando apenas a roupa que tinha no corpo. Tudo o resto foi perdido ou destruído. Blogue Fora Nada E Vaotres


A população local também abandonou a tabanca, refugiando-se em Quebo. Blogue Fora Nada E Vaotres

(iii) Consequências imediatas:

Contabane foi por algum tempo abandonada tanto pelas tropas portuguesas como pelos civis. Blogue Fora Nada E Vaotres

A destruição foi tão grande que se conta que o pelotão lá estacionado regressou a Aldeia Formosa (Quebo) com apenas a roupa do corpo. Blogue Fora Nada E Vaotres

A partir desse momento, foi feito um “reordenamento” da presença portuguesa naquela zona. A antiga tabanca de Contabane passaria a designar-se Sinchã Sambel (ou Sintcha/Sinchã Sambel) posteriormente. Blogue Fora Nada E Vaotres

(iv) Significado / Interpretação

O ataque mostra a capacidade do PAIGC de realizar operações coordenadas contra posições portuguesas relativamente bem defendidas (valas, abrigos, arame farpado) mesmo em zonas rurais pouco acessíveis.

Também reflete a vulnerabilidade de pequenas guarnições isoladas, especialmente quando a população local não está ou não pode ser mobilizada de forma defensiva.

Para Portugal, foi um golpe simbólico: a perda material, mas também o impacto psicológico,  a sensação de insegurança e de fraqueza no controlo da região.

Para as populações civis, foi desastroso: destruição de casas, deslocações forçadas, perda de bens, insegurança.

(...) Não encontrei até agora fontes primárias oficiais portuguesas ou do PAIGC que descrevam em detalhe com documentos militares (relatórios operacionais, atas oficiais, etc.) o ataque a Contabane em 22 de junho de 1968,  pelo menos nos arquivos acessíveis publicamente. O que existe são principalmente relatos de veteranos, depoimentos pessoais, e registos em publicações de memória/recensão da Guerra Colonial, que ajudam bastante a reconstruir o que aconteceu. Aqui vai um resumo do que achei, com grau de credibilidade estimado, seguidos de lacunas que persistem.

O que as fontes primárias / de testemunhas dizem:

Estas são as principais fontes disponíveis que contêm descrição do ataque:

“História da Unidade — CCAÇ 2382 (1968-70)”:  trata-se de documento interno da própria companhia portuguesa, referenciado em narrativas do blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné”.Blogue Fora Nada E Vaotres

O documento fornece dados como a localização dos pelotões (alguns em Mampatá, outros em Contabane), as defesas existentes (valas, abrigos, arame farpado), o comando local (o régulo Sambel) e a mulher grande do régulo. Blogue Fora Nada E Vaotres

Depoimentos de ex-militares portugueses: Manuel Traquina, Carlos Nery, Hermínio Marques

Manuel Traquina, que esteve na CCAÇ 2382, escreveu no seu livro "Os Tempos de Guerra: de Abrantes à Guiné" sobre este ataque, afirmando que Contabane foi “reduzida a cinzas”. Blogue Fora Nada E Vaotres

Carlos Nery também narra “Noite longa em Contabane”, relatando o ataque prolongado, o impacto sobre os militares, abandono da tabanca, perda de bens.Blogue Fora Nada  E Vaotres

Blogues / memórias locais

O blogue “Luís Graça & Camaradas da Guiné” reúne vários relatos, sobretudo os acima referidos, com descrições bastante coerentes entre si.Blogue Fora Nada E Vaotres

Também há relatos orais de moradores ou milícias locais, que mencionam que “aceitar armas aos portugueses” por parte de alguns fulas contribuiu para que fossem identificados como aliados (ou pelo menos simpatizantes) do lado português, o que levou o PAIGC a atacar. .Blogue Fora Nada E Vaotres

O que se consegue verificar com razoável confiança

Com base nesses relatos, estes são os pontos que têm suporte razoável:

  • Contabane tinha guarnições portuguesas (CCAÇ 2382) que tinham sido espalhadas entre Contabane e Mampatá. O comando da companhia instalou-se em Contabane pouco antes do ataque.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • Havia defesas improvisadas: valas, abrigos, arame farpado, etc., e uso de moradias civis cedidas pelo régulo local para alojamento.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • O ataque resultou em grande destruição: habitações incendiadas, instalações destruídas, abandono pela tropa portuguesa e pelos habitantes civis. A guarnição portuguesa teve de retirar praticamente sem bens, levando apenas roupas que traziam.Blogue Fora Nada E Vaotres
  • A tabanca foi abandonada, e posteriormente houve reordenamento/população concentrada em outro local (Sinchã Sambel, junto ao Saltinho) para alojar as famílias da antiga Contabane.Blogue Fora Nada E Vaotres

Lacunas / o que não se encontrou

Aqui as partes menos claras, que as fontes de memória não confirmam:

  • Não se encontrou (ainda) transcrição de relatório operacional oficial português ou correspondência militar setorial com carimbo de guerra (por ex., documentos do Estado-Maior, Arquivo Militar) que possa confirmar quantitativamente os danos, número de mortos ou feridos, munições utilizadas, ou perdas do lado do PAIGC.
  • Também não há confirmação formal de quais foram exatamente as motivações estratégicas apontadas em documentos oficiais portugueses (por exemplo, se a guarnição de Contabane estava isolada ou se houve falha de reforço, etc.).
  • Algumas datas ou detalhes variam nos relatos de depoentes (por ex., localização precisa dos pelotões, quantos homens, se houve civis mortos, quantos, etc.).
  • Versões do lado do PAIGC não foram encontradas até agora em arquivo acessível, pelo menos nada que contradiga fortemente os relatos portugueses, mas também que poderia oferecer outro ponto de vista (por ex., relatos de propaganda, radio-instruções, etc.)." (***)

(Pesquisa, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos, título: LG)
__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 9 de outubro de 2025 > Guiné 61/74 - P27300: Casos: a verdade sobre... (58): O inferno de Contabane, na noite de 22 de junho de 1968... Não consta do livro da CECA sobre a actividade operacional no ano de 1968... Felizmente temos a versão do Manuel Traquina e Carlos Nery, da CCAÇ 2382

(**) Vd. por exemplo: Estado-Maior do Exército; Comissão para o Estudo das Campanhas de África (1961-1974). Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África; 6.º Volume; Aspectos da Actividade Operacional; Tomo II; Guiné; Livro II; 1.ª Edição; Lisboa (2015), 607 pp.

(***) Último poste da série > 2 de setembro de 2025> Guiné 61/74 - P27176: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (5): Onde ficava Ganguirô ?... O delírio da IA que, quando não sabe, inventa...