Foto (e legenda): © Armindo Batata / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Todos os direitos reservados [Ediºão e legendcagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
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Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAV 8350 (1972/73) > O fur mil op esp José Casimiro Carvalho, cuidando do jardim...Em segundo plano um conjunto de barris, já desconjuntados... No tempo da CCAÇ 3325, em 1971, terão tido melhor uso...
Foto: © José Casimiro Carvalho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3325 > 1971 > O com-chefe gen António de Spínola a chegar (faria duas visitas nesse ano). Originalidade: o pavimento do acesso do quartel à pista de aviação (a chamada entrada VIP) era revestido com milhares de garrafas de cerveja.
Numa série de barris sobrepostos (de 100 litros, parece-nos), no lado direito, lê-se, em Português, a inscrição a tinta branca "Boa-V(iagem)". Por baixo, a frase árabe بيت السلام (Bayt al-Salam):
É a nossa leitura com a ajuda da IA (Perplexity e Gemini). Ambas as frases exprimem votos, a quem chega, de boa jornada, estadia e segurança naquele contexto (que era de guerra).
Foto nº 18 do álbum fotográfico do cor inf ref Jorge Parracho
Foto: © Jorge Parracho (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
Transporte e recipientes do vinho
1. Num excerto do jornal "O Século", de 15 de janeiro de 1899 (citado por José Capela, "O Vinho para o Preto", Porto, Afrontamento, 1973, pág. 61), fomos encontrar expressão "barris de quinto ou décimo".
O que eram exatamente estas medidas ?
1. A "pipa"
No comércio vinícola português do século XIX (sobretudo no Norte), a pipa era a principal unidade de medida de capacidade para o vinho, equivalente a cerca de 520 a 550 litros, dependendo da região e do tipo de vinho. No Douro, por exemplo, 1 pipa ≈ 550 litros (às vezes também chamada “pipa de vinho do Porto”). Equivalente a 25 almudes.
A pipa fazia fazia parte do
sistema das antigas unidades de medida de capacidade para líquidos. A unidade da pipa acima era o tonel (2 pipas). O terno ficou no nosso léxico atual
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Barril de 100 litros, em castanho,´ já industrial. Dimensões (em cm):; altura=80; bojo=50, diâemtro da cabe=40 Fonte: Loja Agropecuaria |
2. “Barril de quinto” e “barril de décimo”As expressões “barril de quinto” e “barril de décimo” indicam a quinta parte ou a décima parte de uma pipa.
Assim:
Portanto, tratava-se de submúltiplos da pipa, usados sobretudo em contextos de comércio, transporte marítimo e exportação, quando não se justificava enviar uma pipa inteira, mais difícil de manobrar e acondicionar nos navios.
Esses recipientes (em madeira, em carvalho ou castanho, feitos pelos tanoeiros) eram menores do que a pipa,por isso mais manejáveis nos navios e nos portos africanos, e adequados ao comércio por retalho ou escambo com intermediários locais (muitas vezes “lançados”, afro-luso-descendentes ou comerciantes cabo-verdianos).
Por outro lado, o uso de medidas fracionadas da pipa permitia ajustar melhor os volumes exportados conforme as taxas alfandegárias e o poder de compra nos destinos africanos.
3. O transporte de vinho da Manutenção Militar para a Guiné (1961/74)
O fornecimento de géneros alimentícios, incluindo o vinho, ao CTIG, era da responsabilidade do Serviços de Manutenção Militar... No entanto, a forma como esse vinho chegava ao BINT (Batalhão de Intendência), em Bissau, e às unidades e subunidades no mato, revela os enormes desafios logísticos daquele teatro de operações.
A Guiné era, de facto, um território logisticamente muito complicado, dependente de transporte aéreo (helicóptero, DO-27, ou paraquedas, etc.), fluvial (lancha da marinha, barco civil ou "barco-turra") ou terrestre (coluna auto, sujeita a minas e emboscadas).
Tudo indica que o transporte de Lisboa para Bissau fosse feito originalmente em barris (sobretudo de 100 litros) e não em pipas. Mais tarde (não sabemos exatamente quando, mas mais para o fim da guerra) terão aparecido os bidões metálicos, de 200/210 litros.
Nenhuma das plataformas de IA por nós consultadas refere o transporte do vinho, metropolitano, para o CTIG em navios-tanque ou conbtentores. Será que havia em Bissau infraestruturas portuárias para descarregar esses tanques e esses contentores ? Em Luanda e Lourenço Marques haveria. Mas Bissau também recebia navios-tanque com combustíveis...E eram as próprias "gasolineiras" (c0mo a Sacor) que abasteciam diretamente as guarnições militares no mato, pelo menos as mais acessíveis por via fluvial. Enfim, é uma questão que fica em aberto, a do transporte do vinho em navios-tanque.
Na Guiné, o vinho era fornecido pela Manutenção Militar (MM), com origem em Portugal continental. O circuito habitual era:
Portugal → Bissau (por navio) → Depósito do BINT → Depósitos Regionais (Bissau, Tite, Bula, Bafatá, Farim, Bambadinca e Catió, com os respetivos PINT - Pelotões de Intendência).
Quanto aos recipientes, dependia da fase da guerra, do meio de transporte e da acessibilidade do local:
- na origem (Metrópole), o vinho era expedido em barris de 100 litros e, mais tarde, bidões metálicos de 200–210 litros, dependendo do tipo de transporte e destino;
- os bidões metálicos devem ter aparecido, de facto, já mais para o fim da guerra: o nosso camarada João Lourenço, ex-alf mil SAM, cmdt do PINT 9288 ( Cufar, 1973/74), escreveu: "O vinho era fornecido pela MM [Manutenção Militar] em bidões de 215 lts, salvo erro, e usado assim mesmo, devido ao calor havia por vezes o hábito de usar um bidão sem a tampa onde eram colocadas barras de gelo feitas com água tratada e potável claro, o que dava sobras";
- nos depósitos regionais (onde havia Pelotões de Intendência: Bissau, Bula, Bambadinca, Tite, Farim, Cufar), o vinho podia ser redistribuído em garrafões de 5 ou 10 litros, de vidro (mas já revestido a plástico, no caso dos de 5 litros, ou vime/tiras de madeira, os de 10 litros); ou seguir em barris de 100 litros e, mais tarde, em bidões de 200/210 l (para boa parte dos aquartelamentos);
- os barris de 50 l ou 100 l (os tais barris de décimo e de quinto), em madeira de castanho ou carvalho, eram uma solução tradicional e robusta para o transporte de vinho; eram relativamente manobráveis; além, náo tinham que ser devolvidos à Intendência: a malta acaba por aproveitá-los para fazer cadeiras reclináveis, bancos, mesas, mobiliário diverso, etc. , ou então comno lenha;
- nos quartéis e destacamento do mato, os garrafões de 5 e 10 litros eram os mais práticos e comuns, porque podiam ser transportados por Unimog, jipe ou até à mão; eram demasiado frágeis para o transporte em condições de guerra (lançamento por paraquedas, transporte em camiões por picadas minadas); eram mais usados para o fornecimento das messes de oficiais ou sargentos, que por vezes recebiam vinhos de melhor qualidade em separado;
- os bidões metálicos de 200/210 litros (semelhantes aos de combustível, mas estanhados por dentro, para não oxidar o vinho) eram mais utilizados para transporte em massa; esta era, muito provavelmente, a forma mais comum de transportar o vinho a granel para os depósitos dos PINT (Pelotões de Intendência (Bissau, Tite, Bula, Bambadinca, Bafatá, Farim, Cufar); estes bidões (semelhantes aos de combustível) eram extremamente robustos: podiam ser rolados ou içados (embora não houvesse monta-cargas na maior parte dos sítios; havia gruas e pequenos guindastes nos portos fluviais, como Bambadinca).
Em suma: o vinho chegava a granel ao teatro de operações da Guiné em barris sobretudo de 100 litros e, mais tarde, bidões metálicos de 200/210 litros; a Intendência fazia a redistribuição para as 220 e tal guarnições militares do território (aquartelamentos e destacamentos). Se o transporte fosse em coluna auto, poderia ir nos próprios barris ou bidões. Se fosse por lancha para sítios mais isolados (rio Cacheu, rio Cumbijã, rio Cacine, por exemplo), o vinho era muitas vezes recondicionado em recipientes mais pequenos e manobráveis: aqui, barris de 50 l ou outros recipientes metálicos robustos (como jerricãs, embora menos comuns para vinho) seriam preferíveis aos frágeis garrafões.
Os problemas logísticos ditavam que a robustez da embalagem era mais importante do que qualquer outra consideração.
4. A cor dos bidões metálicos para vinho
Quando apareceram os bidões metálicos, de 200/210 litros, para vinho, tinha uma cor exterior que permitia distinguí-los logo dos restantes bidões usados para combustíveis e óleos:
- Vermelho = Gasolina
- Azul = Gasóleo
- Verde-Claro = Petróleo branco
- Amarelo = Óleos
Os bidões metálicos de vinho, utilizados durante a guerra colonial na Guiné Portuguesa, mas já mais para o fim (1973/74), tinham geralmente um volume de 200 a 210 litros, eram estanhados por dentro (para evitar a corrosão do recipiente e a contaminação do vinho) e, no exterior, eram pintados de cor prateada ou cinzento-metálico (ou cor metálica natural ou tinta alumínio) (vd. imagem à direita, de um bidão moderno, "made in China").
Os bidões para vinho não seguiam o mesmo código cromático que os combustíveis e óleos (vermelho, azul, verde-claro, amarelo), pois não transportavam produtos inflamáveis. Podiam ser reaproveitados para outros fins, devendo ser em princípios devolvidos à Intentência. (Ou não ?... Fica para confirmar.)
Em 1969/71, não me lembro de os ver em Bambadinca... Devem aparecido mais tarde. (Mas eu, confesso, nunca fui visitar o destacamento da Intendência, no cais fluvial de Bambadinca,)
5. Conclusão provisória
Segundo a(s) assistente(s)de IA que consultámos, não foi encontrada, nas fontes de acesso aberto, descrição normativa padronizada do acondicionamento específico do vinho para a Guiné, ao tempo da guerra colonial (barris de 50 L, barris de 100 l, bidões de 200-210 L, garrafões de 5 e 10 l, etc.). A Intendència foi-se adaptando também, conforme a tecnologia de acondicionamento dos líquidos, a par da modernização dos portos, da estiva e dos transportes marítimos.
Em conslusão, o "vinho ... pró branco de 2ª" (que foi o Rosinha em Angola e todos nós na Guiné...) era fornecido a granel, em embalagens de grande capacidade, para facilitar o transporte e reduzir custos (inicialmente em barris de 100 l). Para o interior, para o mato, foi encontrando soluções à medida, conforme as necessidades e os obstáculos.
Veremos, em detalhe, em poste a seguir, os problemas logísticos que levantavam o abastecimento de vinho às NT.
(Contimua)