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segunda-feira, 19 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24414: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano; Parte XXX: A guerra pela população (pp. 204-206)


Guiné > Região do Oio > Farim > Aproximação à pista de Farim. Foto de Carlos Silva, ex-fur mil, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71) (publicada, a preto e branco, no livro, na pág. 205)

Guiné > Região do Oio > Farim > O rio Cacheu em Farim.  Foto de Carlos Silva, ex-fur mil, (publicada, a preto e branco, no livro, na pág. 204)


Guiné > Região do Oio > Farim > O rio Cacheu em Farim.  Foto de Carlos Silva (publicada, a preto e branco, na pág. 206)

Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro do Amadu Bailo Djaló,
"Guineense, Comando, Português: I Volume:
Comandos Africanos, 1964 - 1974",
Lisboa, Associação de Comandos,
2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.



O autor, em Bafatá, sua terra natal,
por volta de meados de 1966.
(Foto reproduzida no livro, na pág. 149


Síntese das partes anteriores:

(i) o autor, nascido em Bafatá, de pais oriundos da Guiné Conacri, começou a recruta, como voluntário, em 4 de janeiro de 1962, no Centro de Instrução Militar (CIM) de Bolama;

(ii) esteve depois no CICA/BAC, em Bissau, onde tirou a especialidade de soldado condutor autorrodas;

(iii) passou por Bedanda, 4ª CCaç (futura CCAÇ 6), e depois Farim, 1ª CCAÇ (futura CCAÇ 3), como sold cond auto;

(iv) regressou entretanto à CCS/QG, e alistou-se no Gr Cmds "Os Fantasmas", comandado pelo alf mil 'cmd' Maurício Saraiva, de outubro de 1964 a maio de 1965;

(v) em junho de 1965, fez a escola de cabos em Bissau, foi promovido a 1º cabo condutor, em 2 de janeiro de 1966;

(vi) voltou aos Comandos do CTIG, integrando-se desta vez no Gr Cmds "Os Centuriões", do alf mil 'cmd' Luís Rainha e do 1º cabo 'cmd' Júlio Costa Abreu (que vive atualmente em Amesterdão);

(vii) depois da última saída do Grupo, Op Virgínia, 24/25 de abril de 1966, na fronteira do Senegal, Amadu foi transferido, a seu pedido, por razões familitares, para Bafatá, sua terra natal, para o BCAV 757;

(viii) ficou em Bafatá até final de 1969, altura em que foi selecionado para integrar a 1ª CCmds Africanos, que será comandada pelo seu amigo João Bacar Djaló (Cacine, Catió, 1929 - Tite, 1971)

(ix) depois da formação da companhia (que terminou em meados de 1970), o Amadu Djaló, com 30 anos, integra uma das unidades de elite do CTIG; a 1ª CCmds Africanos, em julho, vai para a região de Gabu, Bajocunda e Pirada, fazendo incursões no Senegal e em setembro anda por Paunca: aqui ouve as previsões agoirentas de um adivinho;

(x) em finais de outubro de 1970, começam os preparativos da invasão anfíbia de Conacri (Op Mar Verde, 22 de novembro de 1970), na qual ele participaçou, com toda 1ª CCmds, sob o comando do cap graduado comando João Bacar Jaló (pp. 168-183);

(xi) a narrativa é retomada depois do regresso de Conacri, por pouco tempo, a Fá Mandinga, em dezembro de 1970; a companhia é destacada para Cacine [3 pelotões para reforço temporário das guarnições de Gandembel e Guileje, entre dez 1970 e jan 1971]; Amadu Djaló estava de licença de casamento (15 dias), para logo a seguir ser ferido em Jababá Biafada, sector de Tite, em fevereiro de 1971;

(xii) supersticioso, ouve a "profecia" de um velho adivinho que tem "um recado de Deus (...) para dar ao capitão João Bacar Jaló"; este sonha com a sua própria morte, que vai ocorrer no sector de Tite, perto da tabanca de Jufá, em 16 de abril de 1971 (versão contada ao autor pelo soldado 'comando' Abdulai Djaló Cula, texto em itálico no livro, pp.192-195) ,

(xiii) é entretanto transferido para a 2ª CCmds Africanos, agora em formação; 1ª fase de instrução, em Fá Mandinga , sector L1, de 24 de abril a fins de julho de 1971.

(xiv) o final da instrução realizou.se no subsector do Xitole, regulado do Corunal, cim uma incursão ao mítico Galo Corubal.

(xv) com a 2ª CCmds, comandada por Zacarias Saiegh, participa, em outubro e novembro de 1971, participa em duas acções, uma na zona de Bissum Naga e outra na área de Farim.



1. Continuação da publicação das memórias do Amadu Djaló (Bafatá, 1940-Lisboa, 2015), a partir do manuscrito, digital, do seu livro "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada) (*).

O nosso  camarada e amigo Virgínio Briote, o editor literário ou "copydesk" desta obra,  facultou-nos uma cópia digital. O Amadu Djaló, membro da Tabanca Grande, desde 2010, tem cerca de nove dezenas de referências no nosso blogue.



Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano:


Parte XXX:  A guerra pela populaçãpo (pp. 204-206)


Depois de várias saídas, a nossa companhia comandada pelo Tenente Zacarias Saiegh, partiu para Bissau, com a missão de executar duas acções, uma na zona de Bissum Naga[1] e outra na área de Farim.

Na zona de Bissum Naga, tivemos contacto com o PAIGC por duas vezes. Num dia, um dos nossos grupos, junto ao rio, capturou armas e granadas ao PAIGC. No dia seguinte, outro grupo nosso foi apanhado pelo IN, quando estava numa fonte a transportar água[2] e teve um ferido.

Duas companhias incompletas, a 1ª e a 2ªCCmds, comandadas também pelo Saiegh, embarcaram de avião para Farim, onde chegámos às 11h00. Depois, seguimos, a pé, da pista para o cais, onde ficámos até cerca das 16h00.

Entrámos para uma embarcação comercial e partimos, como quem ia para Binta[3]. A meio do rio, o barco encostou à margem esquerda, amarrámo-nos às árvores e saltámos para terra. Depois de reagrupados, rumámos na direcção de Oio Tiligi[4]. Entrámos na mata, fizemos um alto para comer qualquer coisa e mudamos para um local onde pernoitámos.

Logo de manhã, bem cedo, dirigimo-nos para a zona onde tinham sido referenciados acampamentos do PAIGC.

A certa altura, não muito longe desses locais, ouvimos barulho de vozes e tomámos as disposições para o assalto. Não sabíamos se era pessoal armado ou só população. Como os sons das vozes vinham de vários locais, separámos o nosso pessoal.

Fomo-nos aproximando na direcção das vozes, deparámos com barracas com população civil e, sem dar um tiro, recuperámos as cerca de trinta pessoas que encontrámos.

Em marcha rápida saímos do local, com o objectivo de evitar contacto armado, uma vez que tínhamos entre nós crianças, velhos e mulheres. Sabíamos que eles conheciam a zona melhor que nós e mantivemos o ritmo da marcha até encontrarmos um local que nos pareceu relativamente seguro para dormir um pouco. 

Como estávamos no mês do Ramadão demos às pessoas a nossa ração de combate para quebrarem o jejum.

Ao romper da aurora dirigimo-nos para a margem do rio Cacheu e, depois de muito andar, avistámos o barco, que estava encostado a umas árvores, numa zona em que o rio faz uma curva. Não foi fácil meter toda a gente na embarcação mas conseguimos.

Chegámos ao cais de Farim, entre as 15 e as 16h00 e apresentámo-nos no comando do batalhão[5]. Um capitão disse que quem tivesse onde dormir que podia ir e regressar no dia seguinte, aí pelas oito horas.

Eu e mais alguns colegas fomos para o bairro de Sinchã, onde a maioria dos moradores era da minha etnia. Não estavam à nossa espera e não tinham condições para nos dar comer e alojamento mas nada nos faltou e dormimos bem até de manhã.

No dia seguinte, conforme estava determinado, encontrámo-nos na pista à espera dos aviões que chegaram por volta das 09h00[6].

(Continua)
_________

Notas do autor e/ou do editor literário (VB):

[1] Nota do editor: a cerca de 17km a norte de Binar.

[2] Nota do editor: esta acção na zona de Bissum Naga, executada pelas 1ª e 2ª CCmds, foi elaborada pelo COE, comandado pelo Major Almeida Bruno, e decorreu entre 18/22 Outubro 1971 na mata do Choquemone.

[3] Nota do editor: destacamento da CArt 3358.

[4] Tiligi, palavra mandinga que significa pôr-do-sol.

[5] Nota do editor: BArt 3844.

[6] Nota do editor: acção no Tancroal (rio Jagali, Ganturé-Cacheu), sector de Farim, comandada pelo Major Almeida Bruno, entre 29 Outubro/01 Novembro 1971.

[Seleção / Revisão e fixação de texto /  Subtítulo / Negritos:  LG]
_________

sábado, 26 de maio de 2018

Guiné 61/74 - P18680: (D)outro lado do combate (30): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - III (e última) Parte (Jorge Araújo)


Foto 1 – Guiné-Bissau >  Formatura após a chamada militar numa manhã de 1974 na base de Hermangono, na Frente Norte, onde estacionavam os Corpos de Exército do PAIGC. Foto: Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Nota do editor LG: temos dificuldade em localizar no mapa este topónimo, "Hermangono", tanto no Senegal como na Guiné-Bissau; e não há nenhuma referência a este topónimo no Arquivo Amílcar Cabral, disponível no portal Casa Comum / Fundação Mário Soares; pode tratar-se de um erro de transliteração, por parte do fotógrafo e médico holandês Roel Coutinho]


Foto 2 - Guiné-Bissau > Escolta armada transportando uma pessoa ferida para a fronteira do Senegal, onde se encontrava uma ambulância. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)


Foto 3 - Guiné-Bissau > Primeira ambulância do hospital de Ziguinchor (Senegal) com motorista. Foto de Roel Coutinho (1974) (com a devida vénia...)

[Fotos da série PAIGC Military, Guinea-Bissau, Coutinho Collection 1973-1974.  Fonte: Wikimedia Commons. O fotógrafo, Roel Coutinho é um  prestigiado médico, epidemiologista  e professor, hoje jubilado,  de epidemiologia e prevenção de doenças transmissíveis;  holandês, nasceu em 1946, licenciou-se em medicina em 1972, esteve no Senegal e na Guiné-Bissau em 1973/74,  especializou-se em microbiologia médica, doutorou-se em 1984, em doenças sexualmente transmissíveis; é um especialista mundial em HIV/Sida, com mais de 600 artigos publicados em revistas científicas; pelo apelido, pode ter ascendência portuguesa, e inclusive ter antepassados judeus sefarditas, marranos ou cristãos-novos, idos de Portugal para Amsterdão no séc. XVII; era uma comunidade prestigiada, pela cultura,  o dinheiro e o poder: a Grande Sinagoga Portuguesa, em Amsterdão, chegou a ter 3 mil fiéis; hoje a comunidade está reduzida a 350 pessoas; espantosamente o edifício da "Esnoga Portuguesa",  do séc. XVII, escapou à destruição da II Guerra Mundial e à ocupação nazi; é visita obrigatória para os portugueses que forem a Amasterdão] [LG]
©O titular dos direitos de autor destes ficheiros, Roel Coutinho, autoriza o seu uso por qualquer pessoa para qualquer finalidade, com a condição de que a sua autoria seja devidamente atribuída. A redistribuição, obras derivadas, uso comercial e todos os demais usos são permitidos.
Atribuição: Roel Coutinho





O nosso coeditor Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger,
CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974).

GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > BALANÇO DOS COMBATES ENTRE AS NT E O PAIGC NO SECTOR DE FARIM  >BAIXAS E ESTUDO SOCIODEMOGRÁFICO DO BIGRUPO DO CMDT ANSÚ BODJAN (1944-1971) DO CORPO DE EXÉRCITO 199-B-70  (III Parte)
 

1.  INTRODUÇÃO

Com o presente texto, o último de três fragmentos (*), concluímos o balanço resumido dos combates entre as NT e o PAIGC no Sector de Farim, tendo por protagonistas, de um lado, a Companhia de Caçadores 2533 [CCAÇ 2533] e a Companhia de Caçadores 14 [CCAÇ 14] e, do outro, o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), um dos quatro bigrupos de infantaria do Corpo de Exército 199-B-70, este liderado pelos Cmdts  Braima Bangura, Joaquim N'Top e Benjamim Mendes.

Para além das duas unidades anteriormente referidas, houve necessidade de identificar, agora, mais algumas, em particular aquelas que estiveram envolvidas nas missões operacionais das NT de contra-penetração dos diferentes bigrupos do Corpo de Exército 199-B-70 do PAIGC, em trânsito das bases existentes na zona de fronteira com a República do Senegal, na Frente Norte, nomeadamente ao longo dos "corredores" de Lamel e Sitató, e que, numa relação causa/efeito, ficaram ligadas, historicamente, às ocorrências relacionadas com as baixas constantes no relatório do Cmdt Braima Bangura, documento que está na origem deste trabalho de investigação - (vidé P18551 e P18638).

Para finalizar esta introdução, recorda-se que é a partir da segunda metade do ano de 1970 que o PAIGC evolui para um novo modelo de organização militar, adaptando as suas estruturas a uma nova visão da sua luta armada. Partindo do conceito "bigrupo" e da união com mais unidades deste tipo, de infantaria e artilharia, são criados os "Corpos de Exército" identificados com o "n.º 199", ao qual lhe

foi adicionada uma letra do alfabeto latino (A, B, C, D) e o ano da sua criação.


2. MISSÕES, BAIXAS E UNIDADES ENVOLVIDAS (NOVAS)

Os episódios já referidos nas narrativas anteriores visaram contextualizar a questão de partida da investigação, tendo por base, no início, as missões levadas à prática por duas Companhias de Caçadores – a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 – em particular nas situações de combate com os elementos do PAIGC que actuavam no Sector de Farim, no caso particular o bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan. As primeiras ocorrências (emboscadas) tiveram por cenário o território situado no itinerário entre Farim e Jumbembem, o primeiro caso envolvendo a CCAÇ 2533 (14Dez1970) e o segundo caso a CCAÇ 14 (30Dez1970).



No mapa acima [Frente Norte], indicam-se os aquartelamentos das NT alvo dos vários ataques, umas vezes de infantaria, outras com recurso a artilharia pesada com "GRAD", e outros ainda à participação das duas armas, envolvendo a participação do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, durante um ano: de Dez'70 a Dez'71. Na esmagadora maioria dos casos, os ataques iniciavam-se depois das 18h30.



Citação: (1971), "Comunicado - Cumbangor [Frente Norte]", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40606 (2018-5-03) [prova do envolvimento do Cmdt Ansú Bodjan nos ataques aos aquartelamentos supra]

Fonte: Fundação Mário Soares > Casa Comum > Arquyivo Amílcar Cabral (om a devida vénia...)

Quanto a baixas do lado do PAIGC, nos fragmentos anteriores já demos conta de nomes e respectivas datas em que tombaram alguns dos guerrilheiros. Para não nos alongarmos muito, apenas iremos fazer referência a mais dois casos.

1.º  caso:   Lamine Suana.

Este elemento do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 7 de Abril de 1971, 4.ª feira, na sequência dos ataques a Guidage e Bigene, ao tempo da CCAÇ 19 e CCAV 2721, respectivamente.

2.º caso: Ansú Bodjan, Cmdt do bigrupo do CE 199-B-70

O Cmdt do bigrupo do Corpo de Exército 199-B-70 tombou no dia 14 de Novembro de 1971, domingo, na sequência da «Operação Dura Espera», projectada pelo BART 3844 (1971/1973) sediado em Farim. Foi levada a efeito no "corredor de Sitató" durante três dias – de 14 a 16 de Novembro de 1971 – nela tendo participado forças das seguintes Unidades: CCAÇ 2753, CART 3358, CART 3359, CCAÇ 14, CCAÇ 2681, 27.ª CCmds, C Mil Cuntima, CART 2732 e CCAÇ 3476 [HU; CAP II, p3, da CCAÇ 3476].

3. ANSÚ BODJAN, CMDT DE BIGRUPO DO CORPO DE EXÉRCITO

Aproveitando o acesso e posterior consulta a mais uma lista [mapa] elaborada pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra, esta relacionada com a composição do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan, elaborada em finais de 1970, avançámos para a realização de mais um estudo sociodemográfico, o primeiro a um bigrupo considerado de «grupo especial» ou de «elite» no contexto da estrutura militar do PAIGC. Trata-se de um colectivo criado a partir de guerrilheiros já experientes no contexto da guerra, com provas dadas e com um mínimo de quatro anos de combatente [igual a duas comissões das NT].

Quanto ao Cmdt Ansú Bodjan (1944-1971), este nasceu no Morés, região do Oio, em 1944. Era casado. Só durante o segundo ano do conflito armado é que "aderiu" à guerrilha. Tinha, então, vinte anos e a 2.ª classe, como habilitação escolar. Morreu aos vinte e sete anos no "corredor de Sitató".

No seu bigrupo, três em cada quatro elementos (n-23=76.7%) eram naturais da sua região (Oio), 10% (n-3) da região do Cacheu e 13.3% (n-4) de Tombali, a região mais a Sul, conforme dá-se conta no Quadro 1.



Quadro 1 – Distribuição de frequências dos locais de nascimento, por sectores e regiões da Guiné, dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-30)

4. ESULTADOS DO ESTUDO

Partindo dos dados contidos na lista apresentada na "Parte II" (*), que consideramos como os casos da investigação ou a "amostra de conveniência", procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do "bigrupo de Ansú Bodjan" sobre os quais se pretende retirar conclusões.

Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de "adesão" ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de "adesão" ao PAIGC, idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito e estado civil).


Quadro 2 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 2, verifica-se que os anos de nascimento com maior percentagem são dois; 1941 e 1943 (13.8%) com 4 casos, seguido de 1942, 1944, 1945 e 1946 (10.4%) com 3 casos. Em terceiro, com 2 casos (6.9%), 1935 e 1940.

Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-14) estão nos nascidos entre 1943 e 1947 (48.3%) (grupo central), entre 1935 e 1942 (n-12= 41.4%) (grupo dos mais velhos), e entre 1949 e 1951 (n-3=10.3%) (grupo dos mais novos).


Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior "adesão" ao PAIGC foi 1963 com 17 casos (58.6%), seguido de 1964, com 7 casos (um dos quais Ansú Bodjan) (24.2%). Os anos de 1964 e 1965 registaram 2 casos cada (6.9%).

Quando analisados os anos antes e após o início do conflito, a percentagem está próxima da totalidade em relação à segunda premissa (n-28=96.6%), ou seja, existe um só caso onde a "adesão" aconteceu antes.


Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade de "adesão" ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 4, verifica-se que a idade com maior percentagem de "adesão" ao Partido é 18 anos, com 5 casos (17.3%), seguida dos 20 e 21 anos, com 4 casos cada (13.8%). As idades de 14 e 19, com 3 casos, valem 10.4% cada.

Quando analisada a "adesão" ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão entre as idades de 18 e 21 anos (55.2%), seguido pelos grupos de idade, entre os 22 e 28 anos (mais velhos), com 8 casos (27.6%). Os mais novos, entre 14 e 16 anos, representam 17.2% (n-5).

Analisada a "adesão" ao Partido entre os 18 e 23 anos, os valores apontam para uma maioria absoluta com 19 casos (65.6%), seguida por 5 casos (17.25) cada nas idades inferiores e superiores às anteriores.


Quadro 5 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a "adesão" individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 5, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a idade mais alta era de 35 anos (n-2) e a mais baixa de 19 anos (n-1). O Cmdt Ansú Bodjan tinha 26 anos, vindo a falecer com 27 anos. À morte do seu líder os restantes elementos teriam a idade assinalada com sombreado azul.


Quadro 6 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a "adesão" ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Ansú Bodjan (n-29)

Da análise ao Quadro 6, verifica-se que aquando da constituição do Corpo de Exército 199-B-70, a maioria dos combatentes do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan (n-24=82.8%) tinham entre 6 e 7 anos de experiência, enquanto os mais novos de idade (n-4=13.8%) tinham já entre 4 e 5 anos de experiência.


Quadro 7 – distribuição de frequências em relação ao "estado civil" de cada bigrupo

Da análise ao Quadro 7, verifica-se que o número entre "casados" e "solteiros" do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan é favorável aos segundos com mais um caso. Do grupo dos "sorteiros" nascidos após 1946 (n-7=46.7%), mantiveram esse estado civil, pelo menos até final de 1971.

5. CONCLUSÕES


Chegado a este ponto, e partindo da análise aos resultados apurados e apresentados nos quadros acima, é possível concluir que a maioria dos elementos do bigrupo do Cmdt Ansú Bodjan:

(i) Eram originários da sua região (Oio);

(ii) Nasceram em 1941 e 1943;

(iii) A participação na luta armada iniciou-se em 1963;

(iv) Tinham 18 anos;

(v) Aquando da constituição do CE [, Corpo do Exército,] a idade mais alta era de 35 e a mais baixa de 19 anos;

(vi) Aquando da constituição do CE, o número de anos de experiência na guerrilha variava entre os 7 e os 4 anos;

(vii) Quanto ao estado civil, a diferença entre "casados" e "solteiros" era apenas de uma unidade favorável aos segundos.

Termino, agradecendo a atenção dispensada.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.
Jorge Araújo.
18MAI2018.
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Nota do editor:

Último poste da série > 16 de maio de 2018 >  Guiné 61/74 - P18638: (D)outro lado do combate (29): Balanço dos combates entre a CCAÇ 2533 e a CCAÇ 14 e o PAIGC (Corpo do Exército 199-B-70) no setor de Farim - Parte II (Jorge Araújo)

terça-feira, 18 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11724: Os nossos médicos (50): Os batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos, de 1 a 4... Quanto ao HM 241, era só... o melhor da África Ocidental (Carlos Silva, 1969/71)

1. Mensagem, de 15 do corrente,  de  Carlos Silva [, foto à esquerda, em março de 2008, no Saltinho. junto à morança do António Camilo], 

Amigos & Camaradas Luís e Vinhal

Aqui vai um texto sobre os nossos médicos quanto ao Sector de Farim e respostas ao questionário incluído no Post 11704 (*)

Agradeço que publiquem pois suscitam algumas questões que poderão suscitar outros desenvolvimentos
Com um abraço,

Carlos Silva

2, Respostas do Carlos Silva (*)

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?


A propósito dos post nº 11704 e 11706, aqui vão mais alguns dados que recolhi da consulta às HU[, histórias de unidade,]  que tenho do Sector de Farim.

BCav 490 - 1º Batalhão sediado em Fari, 1964/65. Pois na sua HU consta na data do embarque 4 médicos adstritos às unidades.  a saber:

CCS - 1 médico
CCav 487 - 1 médico
CCav 488 - 1 médico, Jumbembem do qual existe 1 foto no meu site
CCav 489 - 1 médico Cuntima

Nota. Não sei se os outros 2 médicos estavam em Farim, há aqui camaradas tabanqueiros desta Unidade que podem esclarecer.

BArt 733 - 2º Batalhão sediado em Farim [, 1965/67]. Na sua HU consta na data do embarque 4 médicos adstritos às unidades a saber:

CCS - 1 médico
CArt 730 - 1 médico
CArt 731 - 1 médico
CArt 732 - 1 médico

Nota: Não sei se todos permaneceram no sector e se estiveram de facto nos subsectores Jumbembem, Canjambari e Cuntima, Binta; Guidage enquanto adstritos formalmente às Companhias.

BCaç 1887 - 3º Batalhão sediado em Farim, [1966/68]. O Comandante foi o Ten Cor Agostinho Ferreira, meu Comandante no Bat Caç 2879, já o Domingos Gonçalves fala no post 11706

Há fotos de 2 médicos no meu Site.

BCaç 1932 -  4º Batalhão sediado em Farim [, 1967/68]. Não tenho elementos neste momento apesar de já ter consultado a HU no AHM várias vezes.

BCaç 2879 (1969/71) - 5º Batalhão sediado em Farim. Já referi no post anterior. Apenas 1 médico integrou o Batalhão, embora no sector pelo menos durante um ano lá estivessem estado 2, um em Farim e outro em Cuntima.

BArt 3844 (1971/73)
 - 6º Batalhão sediado em Farim, e  que nos rendeu. Integrava na data do embarque 4 médicos, segundo  a HU.  Não sei se permaneceram todos no sector e distribuídos pelos subsectores.

BCaç 4512 (1973/74) -  7º Batalhão sediado em Farim. Não tenho elementos neste momento apesar de já ter consultado a HU no AHM várias vezes. Há aqui tabanqueiros que podem esclarecer.

Das HU das Companhias independentes, que estiveram no sector e que tenho algumas, não consta no seu efectivo qualquer médico, mas sei que houve companhias que integraram médicos nos seus efectivos.

Aqui tendes o panorama do Sector de Farim que por vezes integrou Barro, Bigene (no início da luta), Binta e Guidage quase sempre, incluindo no âmbito do meu Batalhão.

Da análise exposta no comentário anterior, podemos concluir que a dotação de médicos nos batalhões era variável, pelo menos de 1 a 4;  e que nem sempre estavam colocados nos subsectores do sector do batalhão e,  mais ainda, pelo que tenho lido e observado, nem todos, para não dizer uma grande maioria, permaneceram a 100% nos locais onde estiveram as suas Unidades, pois dá para perceber que havia rotatividade consoante as necessidades, sendo deslocados para outras localidades ou para o HM 241 em Bissau.


(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

Os nomes completos dos médicos constam das HU, quem quiser saber os nomes que consulte as mesmas.

Nas HU que tenho constam os nomes deles, mas em minha opinião não devo divulga-los, pois podem não quererem e não gostarem. Acho um abuso.

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

Sim e fui bem tratado Cabe aqui dizer, que no meu tempo e no caso da minha Unidade que esteve sediada em Jumbembem de 2-01-70 a 16-06-71, onde não havia médico, não ia à consulta quem queria, e creio que assim acontecia nas outras Unidades, pois havia uma triagem feita pelo Furriel Enfermeiro que aferia da necessidade da deslocação a Farim para irem à consulta médica ou era logo encaminhado para o HM241.

Não se esqueçam que há situações e situações.

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermaria do aquartelamento (se é que existia)

Creio que em todas as Unidades/subsectores havia enfermaria que estava a cargo do Fur Enfermeiro. Em Jumbembem no meu tempo havia, mas internamentos não.

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

Sim. Ortopedia e tenho uma história bem engraçada contada no meu diário.

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?



(viii) Tiveram alguma problema
 de saúde que o vosso médico
 ou o enfermeiro conseguiu
resolver sem evacuação?


É público e notário que milhares foram evacuados para a metrópole e milhares e milhares de situações foram resolvidas sem evacuação e mau era se assim não fosse. Isso só demonstraria que os nossos médicos eram uns analfabetos

Já se esqueceram que o HM241 que naquele tempo era o melhor de toda a Àfrica Ocidental ?

Ò Luís, por vezes fazes questionários e perguntas que não têm cabimento.

Todos nós passámos por lá e os que não passaram sabem disso, é público e notório e já faz parte da nossa História contemporânea.

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

Relativamente à prestação de serviços médicos à população, claro que prestavam em todas as localidades e no caso do Sector de Farim, no subsector de Cuntima junto da fronteira, até prestavam cuidados médicos às populações transfronteiriças do Senegal que ali se deslocavam às dezenas, centenas por mês.

Presumo que assim acontecesse nas outras localidades de fronteira, isto pelo menos no Norte e basta consultar as HU.

Já não sei se assim acontecia junto das fronteiras com a Guiné Conakry, caso por exemplo, Buruntuma, Gadamael Porto, mas tenho curiosidade em saber.

Creio que há uma estimativa, se te deres ao trabalho de ir para o AHM e consultares as HU, aí saberás os dias, meses que perderás para chegares a essa estimativa.

Um abraço

Carlos Silva (**)

[ex-Fur Mil Inf CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71;

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Notas do editor:


(...) Questões:

(i) Quantos médicos seguiram com o vosso batalhão, no barco ?

(ii) Quantos médicos é que o vosso batalhão teve e por quanto tempo ?

(iii) Lembram-se dos nomes de alguns ? Idades ? Especiallidades ?

(iv) Precisaram de alguma consulta médica ?

(v) Estiveram alguma vez internados na enfermeria do aquartelamento (se é que existia) ?

(vi) Foram a alguma consulta de especialidade no HM 241 ?

(vii) Foram evacuados para a metrópole, para o HMP ?

(viii) Tiveram alguma problema de saúde que o vosso médico ou o enfermeiro conseguiu resolver sem evacuação?

(ix) O vosso posto sanitário também atendia a população local ?

(x) (E se sim, o que é mais que provável:) Há alguma estimativa da população que recorria aos serviços de saúde da tropa ?...

(**) Último poste da série > 18 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11722: Os nossos médicos (49): O BART 733 tinha 4 médicos (Artur Conceição, 1965/67) ... Outros batalhões que passaram pelo setor de Farim tinham um número variável de médicos (Carlos Silva, 1969/71)