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quarta-feira, 7 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26773: Agenda cultural (882): Convite para a inauguração da exposição "Imaginários da Guiné-Bissau: o Espólio de Álvaro de Barros Geraldo": amanhã, dia 8, das 18h00 às 20h00 no Museu Nacional de História Natural e da Ciência (As curadoras Catarina de Castro Laranjeiro e Inès Vieira Gomes)


A exposição vai estar de 8 de maio a 31 de agosto de 2025, no  Museu Nacional de História Natural e da Ciência, R. da Escola Politécnica 56, 1250-102 Lisboa



1. Mensagem da Catarina de Castro Laranjeiro, investigadora do Instituto de História Contemporânea, da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas / Universidade NOVA de Lisboa:


Data - 6 mai 2025 19:15
Assunto - Convite: Inauguração da exposição Imaginários da Guiné-Bissau (8 de maio)


Caro Luís Graça


Na próxima quinta-feira, 8 de maio, entre as 18h e as 20h, inaugura-se, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, a exposição Imaginários da Guiné-Bissau: O Espólio de Álvaro de Barros Geraldo, com curadoria minha e da Inês Vieira Gomes. (*)

A exposição parte do espólio de Álvaro de Barros Geraldo para questionar o argumento de "manutenção de paz" num território em guerra. Através de imagens de emboscadas, cerimónias e iniciativas militares e sociais, propõe-se uma leitura crítica desse discurso e dos seus legados pós-coloniais, no ano em que se assinalam os 50 anos das independências das antigas colónias portuguesas.

Gostaríamos muito de contar com vocês — com a vossa presença, mas também com o vosso olhar atento e crítico sobre o nosso trabalho curatorial.


Um abraço, Catarina e Inês

2.  Comentário do editor LG:

Obrigado, Catarina e Inês. Desejo o maior sucesso para este evento, organizado sob a vossa competente e entusiástica curadoria. Fico impressionado como, em tão pouco tempo, planearam, organizaram e montaram esta exposição. Espero que o nosso blogue vos tenha dado alguma ajuda ou pista, mesmo que pequena.  Temos poucas referência ao antigo fotógrafo oficial do gen Spínola, enquanto governador e comandante-chefe na antiga Guiné Portuguesa (1968-1973) (**)

O Álvaro de Barros Geraldo só era conhecido de alguns de nós como fotógrafo "etnográfico", o A. B. Geraldo de alguns postais ilustrados que compravamos em Bissau. Sabemos que também colaborou com o jornal "Voz da Guiné", assinando algumas reportagens fotográficas. Desconhecíamos completamente a existência de um tão vasto espólio fotográfico, seguramente relevante para o estudo do(s) nosso(s) imaginário(s) da Guiné-Bissau.

Obrigado pelo convite. Não estarei em Lisboa a essa hora, mas espero que algum dos nossos coeditores ou colaboradores permanentes possa representar a Tabanca Grande. E até ao fim de agosto, terei oportunidade de conhecer e apreciar o vosso trabalho. Parabéns.

3. Sinopse da exposição:


(...) "Esta exposição parte de um acervo do Arquivo Histórico Ultramarino de cerca de 82.000 negativos (bem como um conjunto de slides e provas de contacto) da Guiné-Bissau e Lisboa — um espólio inédito, nunca antes estudado, exposto ou devidamente catalogado. 

As imagens são da autoria de Álvaro de Barros Geraldo (1922-1993), fotógrafo de trajetória enigmática, cuja biografia fragmentada exige uma leitura crítica do seu legado.

Imaginários da Guiné-Bissau, investiga o papel da fotografia na construção do argumento de “manutenção de paz” num território em guerra. 

Através de fotografias de emboscadas, cerimónias protocolares e iniciativas militares e sociais, procura-se analisar criticamente como esse discurso legitimou e perpetuou tensões pós-coloniais ao longo dos séculos XX e XXI. 

No ano em que se assinalam os 50 anos das independências das antigas colónias portuguesas, esta exposição questiona os legados dessa narrativa e as suas implicações no presente e no futuro.

A exposição é produzida no âmbito do Programa «Arte pela Democracia», uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 anos do 25 de Abril em parceria com a Direção-Geral das Artes." (,,..)

Fonte: Cortesia de Buala (Excerto)
________________

(**) Vd. poste de 22 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26179: O Nosso Blogue como fonte de informação e conhecimento (107): alguém conheceu Álvaro de Barros Geraldo, o fotógrafo oficial do gen Spínola, no período da guerra colonial, na Guiné-Bissau ?(Catarina Laranjeiro, investigadora no Instituto de História Contemporânea da NOVA/FCSH)
 

sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26293: Agenda cultural (875): "A Vida de Um Soldado", Casa da Cultura Leonardo Coimbra, Lixa,, de 29/11 a 31/12/2024, Exposição de José Claudino da Silva, "Dino" ( ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Cartaz da Exposição fotodocumental do nosso camarada e grão-tabanqueiro, José Claudino da Silva [é autor da série "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) ", de que se publicaram mais de 70 postes; é membro da Tabanca Grande desde 18/10/2017; tem mais 55 referências no blogue; nascido em Penafiel, em 1950; reside em Amarante; tem livros publicados e página no Facebook ]
















"A Vida de Um Soldado", Casa da Cultura Leonardo Coimbra, Lixa,, de 29/11 a 31/12/2024, Algumas imagens da Exposição do José Claudino da Silva, "Dino", que ainda pode ser vista até ao fim do ano.


Fotos (e legenda): © José Claudino da Silva (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso "Dino",com com data de 19/12/2024, 12:45

"Olá. Tenho patente até ao fim do ano uma exposição de fotos,  cartas,  postais e vários documentos sobre a guerra colonial, na Casa da Cultura da Lixa, Felgueiras.

"Poucos a visitam. Porém, a guerra vista por um soldado é completamente diferente da que vê um general."

2. Comentário do editor LG:

Parabéns, Dino. Uma amiga comum, aí da Lixa,  já me tinha falado da tua exposição, Vou aí ao Norte pelo Natal mas não vou poder dar aí um salto à Lixa. Um feliz Natal para ti e os teus. Fica feita a "prova de vida". Fico a aguardar a tua prometida seleção das tuas 160 fotos, as que puderes e quiseres partilhar, no blogue, com os teus camaradas da Guiné. Um alfabravo fraterno,  Luís Graça.

3. Sobre a Casa da Cultura Leonardo Coimbra (Rua 25 de Abril, Vila Cova de Lixa, Felgueiras | telef 255 490 922

"Casa onde nasceu o ilustre felgueirense Leonardo Coimbra (1883-1936), um dos maiores vultos da filosofia portuguesa. Poderá conhecer a sua obra e visitar a exposição permanente a ele dedicada.

"Aqui funciona uma extensão da Biblioteca Municipal de Felgueiras."

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25934: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (11): Na Tabanca de Candoz, que em setembro tem sempre mais encanto (Luís Graça)

 















Marco de Canavezes > União das Freguesias de  Paredes de Viadores e Manuncelos > Candoz > Quinta de Candoz > 10 e 11 de setembro de 2024 >  

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


1. Candoz, em setembro, no fim do verão tem outro encanto... A nossa Quinta de Candoz... As vindimas ainda estão atrasadas... E este ano haverá talvez uma quebra de 15% na colheita... Há menos uva...Mas a qualidade parece ser excelente, o que é ótimo, vamos fazer, no segundo ano, uma seleção do vinho verde branco DOC "Nita"...

Na melhor das hipóteses, ainda posso apanhar a primeira vindima daqui a duas semanas... Depois tenho que regressar ao Sul. Vamos esperando o sol, que aqui é mais forte do que  na minha costa atlântica, nos ajude ainda a amadurecer melhor os chachos de perdernã, azal, loureiro, avesso, alvarinho... (O grosso é pedernã e azal.)

Aqui ficam algumas imagens da Tabanca de Candoz, aonde gostamos todos anos de vir para carregar baterias, matar saudades, cultivar os afetos, falar com as árvores, com as videiras... Na altura das vindimas é obrigatório vir cá...E não vimos mais por que estamos a 400 km de Lisboa...
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domingo, 4 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25806: (De) Caras (215): "Da minha varanda continuo a ver o mundo"... Parte I (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024>    Da mimha varanda continuo a ver  o mundo... "

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz:


Data - domingo, 28/07/2024, 15:08

Assunto - Da minha varanda continuo a ver o mundo (*)


Boa tarde, Luís


Como este belo tempo, um pouco quente mas sem o sol a abrasar, continuo a ver passar os meus novos vizinhos caminhando na minha rua, sempre coloridos.

Agora, já apanharam o hábito do telemóvel quase como em tempos o cigarro ou a pastilha elástica, inseparável. Até a sombra da frondosa e quase cinquentenária nespereira serve para fazer um 'mi liga' a meia da tarde. 

Também já existem telemóveis que enviam legendas-grafites e outros que nem sequer criam
inveja antes olhar a loirinha à fresca ligando.

Eu, agarrado a oxigénio, cá estou na minha varanda a ver passar a nova vizinhança de cabo- verdianos e guineenses e um ou outro dos antigos vizinhos já muito raros. Anexo umas fotos tiradas da varanda e ver os vizinhos passar.

Bons dias de Verão e umas malguinhas de verde fresco. (**)
Valdemar Queiroz

Anexo - 24 fotos



Valdemar Queiroz, minhoto de Afife,  Viana do Castelo, por criação, lisboeta por eleição (ou necessidade...), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70 (aqui por obrigação, em foto, tirada em Contuboel, 1969).  Entrou para a Tabanca Grande em 16 de fevereiro de 2014. Estivemos juntos no CIM de Contuboel de 2 de junho a 18 de julho de 1969. Ele foi um dos instrutores da recruta das 100 praças do recrutamento local, que fomos receber para fazer a guerra, a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969 / março de 1971). Tem mais de 180 referências no nosso blogue, de que é um leitor e comentador assíduo.


2. Comentário do editor LG:

Grande Valdemar, já não há, em julho, nêsperas nem flores lilases de jacandará, mas o mundo continua a passar pela tua janela ou pela varanda do teu apartamento na Rua de Colaride, Agualva-Cacém... O mundo, os teus vizinhos, e as memórias que eles te trazem do seu mundo (que afinal é cada vez mais só um...).

E tu continas a sorrir para o mundo, ou pelo menos a câmara do teu novo telemóvel,  que já não é tão "fatela" como a do ano passado...a avaliar pela "qualidade" das imagens que me mandas agora... Ou é a mesma ? (Tenho ideia que  Menino Jesus neerlandês te deu um novo telemóvel pelo Natal.. se não te deu, bem o merecias.)

Continuas a viver hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Felimente que a tua rua é "colorida". E tem vida...  E renova-se... 

Tens o teu filho e netos, longe, nos Países Baixos, mas mesmo assim ao alcance de um "clique". (Lembras-te, na Guiné, naquele tempio, era preciso dormir na estação dos correios em Bissau, para se conseguir, no dia seguinte, uma chamada para casa, aqueles de nós, muito poucos, que tinham o privilégio de ter telefone fixo, em casa...).

E vez em quando, lá vais (é a tua sina!) de "charola" para o Hospital Amadora-Sintra com uma crise aguda, devido à sua "DPOC de estimação"... Aprendeste a lidar com a ela, a filha da mãe..., com o teu sempre desconcertante mas saudável humor (de caserna)... E com a preciosa ajudinha do teu/nosso SNS que já conhece a tua rua... (Que Deus Nosso Senhor lhe continue, ao teu/nosso SNS,  dar "saudinha da boa", e por muitos anos...).

O voto dos teus amigos e camaradas da Guiné é que continues a ser mais teimoso do que o raio da tua "doença de estimação" que te vai acompanhar para o resto da vida.  E que a "menina dos teus olhos" continue a poder ver o mundo, e a encontrar motivos para sorrir e o fixá-lo em humaníssimos e ternurentos instantâneos como estes...  (Tens razão, o raio do telemóvel também veio para ficar como o Toyota, a "covide" e por aí fora...).

Obrigado, pelas fotos que nos mandaste e de que fizemos uma seleção. (**) 
__________________

Notas do editor:

(`*) Vd. postes anteriores:



15 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24400: (De) Caras (198): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - II (e última) Parte

(**) Último poste da série > 31 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25797: (De)Caras (305): Cecílica Supico Pinto: a "líder carismática" do Movimento Nacional Feminino, com acesso privilegiado a Salazar, que veio preocupadíssima com a situação na Guiné, na véspera do 25 de Abril de 1974

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25721: Os nossos seres, saberes e lazeres (635): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160): Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Fui ao baú buscar alguns instantâneos, explicavelmente associados a acasos felizes, um céu noturno, a quietude de uma praia caracterizada por mar revolto e assombrosos rochedos, uma exposição bem original do desenho de uma das nossas maiores artistas modernistas, Ofélia Marques. O que me deixa particularmente feliz, agora que caminho para a quarta idade, é recordar a estupefação que sempre senti pelas ilustrações de Ofélia, a graciosidade daquelas ternas juventudes, os apaziguamentos domésticos, a criança e os jogos; e depois os retratos dos adultos, da Ofélia omnipresente, e até daquela Ofélia que metia medo aos bons costumes, basta pensar que depois de Eduardo Viana ninguém se atrevia a exibir o corpo de uma mulher nua, mais a mais uma artista. Vale a pena ir conhecer esta Ofélia versátil e ensimesmada, uma menina grande, genial e provocadora.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160):
Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques


Mário Beja Santos

Por excelência, a fotografia é uma arte do acaso, incluindo estados de alma, do tempo, e daquela multiplicidade de circunstâncias que nos faz sair da contemplação e querer intervir, congelar/fixar imagens de agrado ou de embevecimento. É uma leitura estrita, confesso, durante anos interroguei-me o que levara a minha mãe a chamar um fotógrafo profissional ao velório da minha avó materna para gravar cena tão lúgubre, nunca me passara pela cabeça ter uma fotografia da minha avó morta. A explicação materna parecia incluir uma reprimenda: “Estas fotografias são para África, a minha mãe tem lá os seus parentes, quer acredites quer não eles ficarão mais satisfeitos em vê-la tal como faleceu do que eu lhes mandar uma fotografia embonecada com uma citação bíblica, quando cresceres verás o que eu estou a dizer.” Tenho para mim que não me chegou ainda a hora desse entendimento, dou-me melhor com as alegrias de certas contemplações, ainda por cima hoje tudo é facilitado pela rapidez com que utilizamos a câmara – é o que se chama o feliz acaso.

É o anoitecer no lugar do Reguengo Grande, concelho da Lourinhã, onde me sinto tão prazenteiro a olhar a terra lavrada onde crescem abóboras, favas e batatas, com fruteiras de toda a parte (ah, a maçã reguengueira, a pera rocha…). Estamos no inverno, ainda há para ali um vestígio do fim do dia, será esmagado pela nuvem gigante portadora do negrume, dentro de minutos os contornos da colina em frente de minha casa apagar-se-ão, restam aquelas lâmpadas do casario, vigilantes pela noite fora. Como gosto de escutar, noite de inverno!
A praia da Adraga fica perto de Almoçageme, esta liga com Colares, descendo, e com o Pé da Serra e Atalaia, quem sobe, abre cainho para o Cabo da Roca, Malveira da Serra, Cascais e Estoril. À hora que cheguei nada daquele mar bravio que açoita esta costa atlântica e que faz tremer os banhistas até à Foz do Arelho. Muitos pintores se sentiram atraídos por este penhasco fendido, permite a imaginação que nos leve a supor que é um elefante a viajar nas águas ou casca de oliveira milenar; não, é uma erosão que vem de tempo antiquíssimos, é, acima de tudo, uma atração da praia, daí estas duas imagens, uma mais próxima a outra mais longe.
É dia de semana, ainda é inverno, andam por aqui alguns residentes e forasteiros; se aqueles rochedos esmagam ou assombram, não menos importante é a falésia com aquela florestação rasteira, tais e tantos são os açoites do vento; há muito por onde passear e no verão, nas certezas da vazante saltita-se entre pedregulhos e rochedos e a pequenada em férias faz castelos de areia. Como são diferentes estas praias tão próximas umas das outras, mesmo acobertadas por falésias e terrenos penhascosos, não há afinidades absolutas entre a praia das Maçãs, a Praia Grande ou a Adraga. Despeço-me chamando a atenção para o pormenor de que esta senhora de cabelo ruivo dá a impressão que vai caminhar para aquela imensa montanha mágica, com a neblina turva à sua volta.
A Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva tem patente uma exposição até 2 de junho dedicada a uma escolha de retratos do vasto acervo desta importante artista modernista deposito na instituição, é curadora do evento uma especialista em Ofélia Marques, Emília Ferreira, hoje diretora do Museu de Arte Nacional Contemporânea.
Ofélia Marques é uma das grandes artistas modernistas que se impôs nas décadas de 1930 e 1940. Acolhida com muito agrado no desenho gráfico, em livros e revistas, tendo tido um papel dinâmico e inovador na revista Panorama, ao lado do marido, Bernardo Marques, não há nenhum exagero em dizer que ela faz parte daquele elenco onde se notabilizaram Sarah Afonso, Estrela Faria, Maria Adelaide Lima Cruz, Mily Possoz, Maria Keil, que no campo das artes plásticas do modernismo foram tratadas como figuras subalternas, como ilustradoras. Ofélia impôs-se em inúmeras exposições, que permitem o confronto da sua arte caleidoscópica onde há muito mais que gatos, criançada, flores, fitas, agulhas. Foi uma retratista exímia, o que esta exposição deixa ver, no seu geral, são desenhos muito à volta de ela mesmo, uma personalidade vincada que transcende a linha expressionista, o cuidado com a coisa mundana, pouco interessada em retratos de representação social e muito menos em arranjos decorativos. Retratando-se e retratando outrem, é como se o nosso olhar oscilasse entre um espelho e uma câmara fotográfica a interrogar a geografia interior destes seus retratos, na sua generalidade não saíram de um circuito privado.
O que verdadeiramente me apaixona no desenho de Ofélia é a ambivalência entre o dado formal e a sua pujança lírica; o formal prende-se com o arquétipo da criança ou do gato em ambiente doméstico; a pulsão lírica é nos dadas pelas tensões de uma certa irregularidade do traço, olharmos para muitos destes desenhos e intuir que há algo inacabado. E temos na exposição esta formidável galeria de autorretratos, mas cuidado com o que se vê nem sempre são retratos de Ofélia, são mais encontros dramáticos entre uma certa volúpia que ela pretende desenhar e a forma estilizada, onde não falta por vezes a provocação e um certo gosto pelo escândalo. Até então, só Eduardo Viana pintara a mulher nua, Ofélia pinta três.

E, por último, há esta ritualidades do desenhar imaginário, é como se a Ofélia mulher vive no eterno retorno da sua própria imagem de mulher dá-nos a frescura da criança, por vezes em posturas lânguidas, ela que era acusada por alguns mestres de pintura de ser preguiçosa. O poeta José Gomes Ferreira, que ela retratou, dirá dela que ninguém, entre os artistas do seu tempo pintou melhores retratos de crianças. Talvez tenha faltado neste comentário do grande poeta o aditamento daquelas crianças eram uma pura reminiscência da criança que ela gostaria de ter sido para sempre.
Beatriz Costa
José Gomes Ferreira
Ofélia dentro de Ofélia
A Ofélia adulta virada para uma criança
Um retrato em que Ofélia não está ausente, atenda-se àquele laçarote icónico
Ofélia tinha uma predileção de registar ambientes domésticos, intimidades da leitura, aqui é um jovem já bem crescida, nada de laçarotes e veja-se a provocação das saias curtas.

Gostei imenso da exposição, dê por onde der hei de voltar, estes desenhos que vêm agora à luz do dia a criteriosa escolha de Emília Ferreira fazem-me considerar Ofélia Marques a detentora da varinha mágica que transmudou o modernismo em Portugal.

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Nota do editor

Último post da série de 29 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25701: Os nossos seres, saberes e lazeres (634): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 2 (Mário Beja Santos)