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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25934: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (11): Na Tabanca de Candoz, que em setembro tem sempre mais encanto (Luís Graça)

 















Marco de Canavezes > União das Freguesias de  Paredes de Viadores e Manuncelos > Candoz > Quinta de Candoz > 10 e 11 de setembro de 2024 >  

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


1. Candoz, em setembro, no fim do verão tem outro encanto... A nossa Quinta de Candoz... As vindimas ainda estão atrasadas... E este ano haverá talvez uma quebra de 15% na colheita... Há menos uva...Mas a qualidade parece ser excelente, o que é ótimo, vamos fazer, no segundo ano, uma seleção do vinho verde branco DOC "Nita"...

Na melhor das hipóteses, ainda posso apanhar a primeira vindima daqui a duas semanas... Depois tenho que regressar ao Sul. Vamos esperando o sol, que aqui é mais forte do que  na minha costa atlântica, nos ajude ainda a amadurecer melhor os chachos de perdernã, azal, loureiro, avesso, alvarinho... (O grosso é pedernã e azal.)

Aqui ficam algumas imagens da Tabanca de Candoz, aonde gostamos todos anos de vir para carregar baterias, matar saudades, cultivar os afetos, falar com as árvores, com as videiras... Na altura das vindimas é obrigatório vir cá...E não vimos mais por que estamos a 400 km de Lisboa...
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terça-feira, 6 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25811: (De) Caras (216): "Da minha varanda continuo a ver o mundo" - II (e última) Parte (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)


Foto nº 11


Foto nº 12



Foto nº 13



Foto nº 14


Foto nº 15


Foto nº 16


Foto nº 17


Foto nº 18


Foto nº 19



Foto nº 20


Foto nº 21

Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024> "Da minha varanda continuo a ver o mundo"...  São vizinhos do Valdemar que ele conhece e que estima, e que eles também o conhecem e estimam... E nenhum deles é identificável... São fotos tiradas ao longe e de perfil...

Mas podemos comentar: 
  • De como o telemóvel se tornou o novo grande órgão do corpo humano no séc. XXI... 
  • Ou de como estam0s todos a ficar autistas sociais... 
  • Ou de como a Rua de Coloride está mais bonita... e colorida;
  • Ou de com0 esta é a varanda do afeto contra a solidão...

Leitor: complementa a(s) legenda(s)... Mesmo que a imagem possa valer mais do que mil palavras...


Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Valdemar Queiroz: (i) minhoto de Afife, Viana do Castelo, por criação, lisboeta por eleição (ou necessidade, teve que se fazer à estrada e ir ganhar a vida, começando a trabalhar na idade da puberdade); 

(ii) ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70 (aqui por obrigação, em foto, tirada em Contuboel, 1969): 


(iv) estivemos juntos no CIM de Contuboel de 2 de junho a 18 de julho de 1969; 

(v) ele foi um dos instrutores da recruta das 100 praças do recrutamento local, que fomos receber para fazer a guerra, a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969 / março de 1971);  
(vi)  tem mais de 180 referências no nosso blogue, de que é um leitor e comentador assíduo; 

(vii) é portador de uma DPOC (Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica), 
que o impede saír à rua...



1. Mais umas "fotos" tiradas pelo telemóvel do Valdemar Queiroz, o mais famoso (e bem humorado e resiliente e apaixonado pela vida) fotógrafo da Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra...

(...) "Eu, agarrado a oxigénio, cá estou na minha varanda a ver passar a nova vizinhança de cabo- verdianos e guineenses e um ou outro dos antigos vizinhos já muito raros. Anexo umas fotos tiradas da varanda e ver os vizinhos passar." (*) (...)

 
Lembremos o que aqui escreveu, há um ano atrás, o Valdemar, a respeito do "bairro" ou "urbanização" onde mora desde o início dos anos 70 (**):

(...) Vi nascer toda a urbanização da zona do prédio da minha casa. Passaram 50 anos, os casadinhos de fresco inauguraram os prédios da urbanização e com o andar dos anos os filhos foram crescendo e arranjaram outros locais para morar.

Os mais velhos, como eu, alguns ficaram, mas a maioria também saiu para outros lados. Agora, há cerca de 6-7 anos, os prédios começaram a ser habitados por outra gente, na maioria famílias de cabo-verdianos, mas também guineenses e angolanos.

E, agora, na rua só se vê gente de origem africana, talvez os de cá, já poucos, prefiram sair só de carro.

Eu, com o tempo mais quente, vou para a varanda e vejo passar gente que me faz lembrar a Guiné e sempre vou tirando umas chapas apanhando pessoas descontraídas." (...)

(...) Os arruamentos, zonas verdes e prédios têm um bom aspecto devido tratar-se de propriedade horizontal a grande maioria e como tal havido uma boa conservação.

Os prédios nasceram em 1972/73, no caminho de uma vacaria e moinhos de vento, ainda quase todos para alugar, a receber casados de fresco vindos de Lisboa, com a estação dos comboios a 10 minutos, e a meia hora do Rossio.

Levou alguns anos a ficar tudo arranjadinho como agora se vê, e os novos habitantes, principalmente as mulheres, fazem grande motivo de vaidade por viver no 2.º andar, que até dá para estender a roupa a secar. E até me dizem 'o vizinho está melhor?' (...)


Valdemar Queiroz


2. O poste anterior teve já cerca de um quarteirão de comentários (*)... Selecionámos alguns:


(i) Eduardo Estrela (Cacela):


Obrigado, Valdemar,  pela partilha das fotos do mundo que a tua Rua de Colaride encerra. Daqui de Cacela vai um abraço fraterno acompanhado com uma malga de verde tinto. A imaginação e o querer fazem milagres e este brinde ninguém nos tira.

4 de agosto de 2024 às 09:20



(ii) João Crisóstomo (Nova Iorque):


"A imaginação e o querer fazem milagres e este brinde ninguém nos tira." diz e bem o Eduardo Estrela.

Há indivíduos que, mesmo no meio de grandes adversidades, qual ouro purificado no cadinho, nos espantam pela força da sua coragem que a todos serve de motivação e inspiração. Tu és um destes gigantes, um poderoso farol num mar imenso a espalhar luz a navegantes perdidos que têm a sorte de estarem dentro do teu radar.

É reconfortante verificar a admiração de todos, eu, o Luis Graça, o Eduardo... todos aqueles a quem os teus comentários, as tuas fotos, a tua vida impressionam de tal maneira que quase sentimos inveja pelas qualidades sobre-humanas de que dás provas cada dia.

Se um dia eu puder não deixarei de voltar à tua rua; e se um abraço real não for possível, quero pelo menos mesmo à distancia"beber" ( como ainda recenrenmente o papa Francisco dizia) da tua força e do teu legado.


Por este teu exemplo te estamos incomensuravelmente gratos.

4 de agosto de 2024 às 11:17


(iii) Antº Rosinha:

Aquelas plantas de jardim, quase parecem cajueiros. Tudo muito parecido com Bissau, para não esquecer o antigamente. Boa saúde.

4 de agosto de 2024 às 11:35


(iv) Carlos Vinhal:


O nosso mundo pode ser tão grande quanto a nossa imaginação permita.
Caro Valdemar, não podes ir ao mundo, vem o mundo até ti.
Continuação de boa disposição e a melhor saúde possível.
Um abraço do meio minhoto Carlos Vinhal

4 de agosto de 2024 às 11:5


(v) António José Pereira da Costa


Força, Valdemar! Tás a fotografar umas coisas em grande!

4 de agosto de 2024 às 13:42


(vi) Manuel Luís Lomba:

Aceita as minhas felicitações: não só superas a tua debilidade física, como demonstras a sua resiliência psíquica, à combatente: ainda vês o mundo e... ainda atentas nos seres humanos "de anca larga" - Eça de Queiroz dixit - e nas suas curvaturas anatómicas.

Obrigado pelo teu exemplo. Aquele abraço e sombra e frescura.

4 de agosto de 2024 às 13:57


(vii) Virgínio Briote:

Caro Valdemar!

Passei por aqui para te dar um abraço. Quando vi Afife, veio-me logo à lembrança Viana, Caminha, a magnífica Cerveira, Valença... que terras e que gentes, meu Deus!

Abraço e desejos de ver novas da tua rua.

4 de agosto de 2024 às 14:36

(viii) Abílio Duarte:


Espero que estejas bem, dentro do possível.

Eu quando falo com a família e amigos, sobre os meus tempos de exilio na Guiné, recordo somente os bons momentos que passamos. Principalmente Contuboel... a instrução aos fulas, as idas ao banho no Geba, os nossos almoços no Transmontano em Bafatá, e em Sonaco, os nossos mergulhos na piscina da dita. A nossa amizade, já ultrapassou mais de 5 décadas, e cá vamos andando.

4 de agosto de 2024 às 15:13

(ix) Fernando Ribeiro:

O nosso amigo Valdemar é como o poilão, que em Angola é chamado mafumeira. Suporta os mais violentos temporais, raios e coriscos, furacões e chuvas diluvianas, e mesmo assim permanece sempre de pé. Tal como o poilão, o Valdemar pode ficar com cicatrizes, como a sua horrível DPOC, mas enfrenta as adversidades com uma invejável disposição. Que nunca falte a seiva ao Valdemar.

4 de agosto de 2024 às 15:41


(x) Cherno Baldé (Bissau);

Caro Valdemar Embaló,


Eguê, a minha avó paterna, bem que dizia: "a velhice é uma m...da". Hoje estás confinado à tua janela, roendo lembranças de Gabu e da tua linda e educada lavadeira ou daquele improvável golpe de judó em Canquelifã contra o teu amigo Duarte. A vida sempre nos guarda surpresas, e agora passas o dia a fotografar passantes, sem saber se um deles será ou não originário de Piche ou Guiró-Iero-Bocar.

Vê lá se me envias o teu contacto, que eu recomendo ao meu sobrinho para uma visita surpresa pois Agualva Cacém e toda a linha de Sintra é uma região que já conquistamos aos Mouros do Ribatejo.

4 de agosto de 2024 às 16:32

(xi) Valdemar Queiroz:

Das minhas traseiras, 1º andar, ainda vejo o Palácio da Pena por cima de uns prédios, mas na parte mais alta desta zona, a cerca de cem metros temos uma vista extraordinário sobre todo a baixo Cacém e a Serra de Sintra. Alto de Colaride, mesmo à frente da minha varanda, faz parte do maciço da Serra da Carregueira.

4 de agosto de 2024 às 18:24


(xii) Joaquim Costa:

Tenho andado arredado das redes sociais, mas felizmente ainda vim a tempo de te dar um abraço. Ainda mantenho de pé a promessa de levar a montanha a Maomé! Os meu netos alfacinhas cada vez mais me arrastam para essa cidade grande. A minha casa, agora, é demasiado grande para uma pessoa só.


És uma força da natureza. Um grande abraço deste Minhoto que te estima.


(xiii) Carvalho de Mampatá:


Sou um 'piriquito' à tua beira (de 72/74) mas atrevo-me a falar contigo por esta via, para te dizer, graças ao nosso blog, como admiro a tua força e a força da mensagem que nos deixas. Vivo cá para cima, num recanto ainda rural de Gondomar, longe desse mundo da periferia de Lisboa cada vez mais rico na diversidade cultural que eu muito aprecio e que tu nos dás o prazer de registar com primor.

Um grande abraço com votos de que melhores dessa aborrecida DPOC.


4 de agosto de 2024 às 20:05

(xiv) Hélder Sousa:


Também, se me permites, aqui deixo um pequeno comentário, na senda do muito que se encontra nos antecedentes.

É de louvar a tua persistência em não te deixares dominar pelas dificuldades e conseguires encontrar motivos de ocupação, física e principalmente mental. É assim mesmo que se devem encarar e enfrentar as adversidades, pois só assim elas ficam reduzidas a uma menor dimensão.


Observar a "fauna humana" que circula pelas tuas redondezas (e também a flora...), acompanhado por raciocínios mais ou menos especulativos sobre os seus destinos, as suas vivências, anseios, dificuldades, etc. é um exercício que manterá os teu neurónios em funcionamento e não te deixarão "afundar".


Continua assim. É bom para ti e também para nós que sempre podemos usufruir dos teus comentários, da tua perspicácia e, porque não, da tua resposta pronta para "enquadramentos menos sérios",

4 de agosto de 2024 às 23:07


(xv) Paulo Santiago:


Grande resiliente. Abraço forte

5 de agosto de 2024 às 01:10


(xvi) Francisco Baptista:


Que a medicina te ajude e que continues a ter essa a resistência e vontade de viver que continuas a demonstrar. Bem sei que as tuas limitações são muitas mas tu tens inteligência e sabedoria para viveres com o pouco que a vida te proporciona.


5 de agosto de 2024 às 10:29


(Seleção, edição de fotos, revisão / fixação de texto: LG)

domingo, 4 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25806: (De) Caras (215): "Da minha varanda continuo a ver o mundo"... Parte I (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024>    Da mimha varanda continuo a ver  o mundo... "

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz:


Data - domingo, 28/07/2024, 15:08

Assunto - Da minha varanda continuo a ver o mundo (*)


Boa tarde, Luís


Como este belo tempo, um pouco quente mas sem o sol a abrasar, continuo a ver passar os meus novos vizinhos caminhando na minha rua, sempre coloridos.

Agora, já apanharam o hábito do telemóvel quase como em tempos o cigarro ou a pastilha elástica, inseparável. Até a sombra da frondosa e quase cinquentenária nespereira serve para fazer um 'mi liga' a meia da tarde. 

Também já existem telemóveis que enviam legendas-grafites e outros que nem sequer criam
inveja antes olhar a loirinha à fresca ligando.

Eu, agarrado a oxigénio, cá estou na minha varanda a ver passar a nova vizinhança de cabo- verdianos e guineenses e um ou outro dos antigos vizinhos já muito raros. Anexo umas fotos tiradas da varanda e ver os vizinhos passar.

Bons dias de Verão e umas malguinhas de verde fresco. (**)
Valdemar Queiroz

Anexo - 24 fotos



Valdemar Queiroz, minhoto de Afife,  Viana do Castelo, por criação, lisboeta por eleição (ou necessidade...), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70 (aqui por obrigação, em foto, tirada em Contuboel, 1969).  Entrou para a Tabanca Grande em 16 de fevereiro de 2014. Estivemos juntos no CIM de Contuboel de 2 de junho a 18 de julho de 1969. Ele foi um dos instrutores da recruta das 100 praças do recrutamento local, que fomos receber para fazer a guerra, a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969 / março de 1971). Tem mais de 180 referências no nosso blogue, de que é um leitor e comentador assíduo.


2. Comentário do editor LG:

Grande Valdemar, já não há, em julho, nêsperas nem flores lilases de jacandará, mas o mundo continua a passar pela tua janela ou pela varanda do teu apartamento na Rua de Colaride, Agualva-Cacém... O mundo, os teus vizinhos, e as memórias que eles te trazem do seu mundo (que afinal é cada vez mais só um...).

E tu continas a sorrir para o mundo, ou pelo menos a câmara do teu novo telemóvel,  que já não é tão "fatela" como a do ano passado...a avaliar pela "qualidade" das imagens que me mandas agora... Ou é a mesma ? (Tenho ideia que  Menino Jesus neerlandês te deu um novo telemóvel pelo Natal.. se não te deu, bem o merecias.)

Continuas a viver hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Felimente que a tua rua é "colorida". E tem vida...  E renova-se... 

Tens o teu filho e netos, longe, nos Países Baixos, mas mesmo assim ao alcance de um "clique". (Lembras-te, na Guiné, naquele tempio, era preciso dormir na estação dos correios em Bissau, para se conseguir, no dia seguinte, uma chamada para casa, aqueles de nós, muito poucos, que tinham o privilégio de ter telefone fixo, em casa...).

E vez em quando, lá vais (é a tua sina!) de "charola" para o Hospital Amadora-Sintra com uma crise aguda, devido à sua "DPOC de estimação"... Aprendeste a lidar com a ela, a filha da mãe..., com o teu sempre desconcertante mas saudável humor (de caserna)... E com a preciosa ajudinha do teu/nosso SNS que já conhece a tua rua... (Que Deus Nosso Senhor lhe continue, ao teu/nosso SNS,  dar "saudinha da boa", e por muitos anos...).

O voto dos teus amigos e camaradas da Guiné é que continues a ser mais teimoso do que o raio da tua "doença de estimação" que te vai acompanhar para o resto da vida.  E que a "menina dos teus olhos" continue a poder ver o mundo, e a encontrar motivos para sorrir e o fixá-lo em humaníssimos e ternurentos instantâneos como estes...  (Tens razão, o raio do telemóvel também veio para ficar como o Toyota, a "covide" e por aí fora...).

Obrigado, pelas fotos que nos mandaste e de que fizemos uma seleção. (**) 
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Notas do editor:

(`*) Vd. postes anteriores:



15 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24400: (De) Caras (198): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - II (e última) Parte

(**) Último poste da série > 31 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25797: (De)Caras (305): Cecílica Supico Pinto: a "líder carismática" do Movimento Nacional Feminino, com acesso privilegiado a Salazar, que veio preocupadíssima com a situação na Guiné, na véspera do 25 de Abril de 1974

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25721: Os nossos seres, saberes e lazeres (635): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160): Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Fui ao baú buscar alguns instantâneos, explicavelmente associados a acasos felizes, um céu noturno, a quietude de uma praia caracterizada por mar revolto e assombrosos rochedos, uma exposição bem original do desenho de uma das nossas maiores artistas modernistas, Ofélia Marques. O que me deixa particularmente feliz, agora que caminho para a quarta idade, é recordar a estupefação que sempre senti pelas ilustrações de Ofélia, a graciosidade daquelas ternas juventudes, os apaziguamentos domésticos, a criança e os jogos; e depois os retratos dos adultos, da Ofélia omnipresente, e até daquela Ofélia que metia medo aos bons costumes, basta pensar que depois de Eduardo Viana ninguém se atrevia a exibir o corpo de uma mulher nua, mais a mais uma artista. Vale a pena ir conhecer esta Ofélia versátil e ensimesmada, uma menina grande, genial e provocadora.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160):
Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques


Mário Beja Santos

Por excelência, a fotografia é uma arte do acaso, incluindo estados de alma, do tempo, e daquela multiplicidade de circunstâncias que nos faz sair da contemplação e querer intervir, congelar/fixar imagens de agrado ou de embevecimento. É uma leitura estrita, confesso, durante anos interroguei-me o que levara a minha mãe a chamar um fotógrafo profissional ao velório da minha avó materna para gravar cena tão lúgubre, nunca me passara pela cabeça ter uma fotografia da minha avó morta. A explicação materna parecia incluir uma reprimenda: “Estas fotografias são para África, a minha mãe tem lá os seus parentes, quer acredites quer não eles ficarão mais satisfeitos em vê-la tal como faleceu do que eu lhes mandar uma fotografia embonecada com uma citação bíblica, quando cresceres verás o que eu estou a dizer.” Tenho para mim que não me chegou ainda a hora desse entendimento, dou-me melhor com as alegrias de certas contemplações, ainda por cima hoje tudo é facilitado pela rapidez com que utilizamos a câmara – é o que se chama o feliz acaso.

É o anoitecer no lugar do Reguengo Grande, concelho da Lourinhã, onde me sinto tão prazenteiro a olhar a terra lavrada onde crescem abóboras, favas e batatas, com fruteiras de toda a parte (ah, a maçã reguengueira, a pera rocha…). Estamos no inverno, ainda há para ali um vestígio do fim do dia, será esmagado pela nuvem gigante portadora do negrume, dentro de minutos os contornos da colina em frente de minha casa apagar-se-ão, restam aquelas lâmpadas do casario, vigilantes pela noite fora. Como gosto de escutar, noite de inverno!
A praia da Adraga fica perto de Almoçageme, esta liga com Colares, descendo, e com o Pé da Serra e Atalaia, quem sobe, abre cainho para o Cabo da Roca, Malveira da Serra, Cascais e Estoril. À hora que cheguei nada daquele mar bravio que açoita esta costa atlântica e que faz tremer os banhistas até à Foz do Arelho. Muitos pintores se sentiram atraídos por este penhasco fendido, permite a imaginação que nos leve a supor que é um elefante a viajar nas águas ou casca de oliveira milenar; não, é uma erosão que vem de tempo antiquíssimos, é, acima de tudo, uma atração da praia, daí estas duas imagens, uma mais próxima a outra mais longe.
É dia de semana, ainda é inverno, andam por aqui alguns residentes e forasteiros; se aqueles rochedos esmagam ou assombram, não menos importante é a falésia com aquela florestação rasteira, tais e tantos são os açoites do vento; há muito por onde passear e no verão, nas certezas da vazante saltita-se entre pedregulhos e rochedos e a pequenada em férias faz castelos de areia. Como são diferentes estas praias tão próximas umas das outras, mesmo acobertadas por falésias e terrenos penhascosos, não há afinidades absolutas entre a praia das Maçãs, a Praia Grande ou a Adraga. Despeço-me chamando a atenção para o pormenor de que esta senhora de cabelo ruivo dá a impressão que vai caminhar para aquela imensa montanha mágica, com a neblina turva à sua volta.
A Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva tem patente uma exposição até 2 de junho dedicada a uma escolha de retratos do vasto acervo desta importante artista modernista deposito na instituição, é curadora do evento uma especialista em Ofélia Marques, Emília Ferreira, hoje diretora do Museu de Arte Nacional Contemporânea.
Ofélia Marques é uma das grandes artistas modernistas que se impôs nas décadas de 1930 e 1940. Acolhida com muito agrado no desenho gráfico, em livros e revistas, tendo tido um papel dinâmico e inovador na revista Panorama, ao lado do marido, Bernardo Marques, não há nenhum exagero em dizer que ela faz parte daquele elenco onde se notabilizaram Sarah Afonso, Estrela Faria, Maria Adelaide Lima Cruz, Mily Possoz, Maria Keil, que no campo das artes plásticas do modernismo foram tratadas como figuras subalternas, como ilustradoras. Ofélia impôs-se em inúmeras exposições, que permitem o confronto da sua arte caleidoscópica onde há muito mais que gatos, criançada, flores, fitas, agulhas. Foi uma retratista exímia, o que esta exposição deixa ver, no seu geral, são desenhos muito à volta de ela mesmo, uma personalidade vincada que transcende a linha expressionista, o cuidado com a coisa mundana, pouco interessada em retratos de representação social e muito menos em arranjos decorativos. Retratando-se e retratando outrem, é como se o nosso olhar oscilasse entre um espelho e uma câmara fotográfica a interrogar a geografia interior destes seus retratos, na sua generalidade não saíram de um circuito privado.
O que verdadeiramente me apaixona no desenho de Ofélia é a ambivalência entre o dado formal e a sua pujança lírica; o formal prende-se com o arquétipo da criança ou do gato em ambiente doméstico; a pulsão lírica é nos dadas pelas tensões de uma certa irregularidade do traço, olharmos para muitos destes desenhos e intuir que há algo inacabado. E temos na exposição esta formidável galeria de autorretratos, mas cuidado com o que se vê nem sempre são retratos de Ofélia, são mais encontros dramáticos entre uma certa volúpia que ela pretende desenhar e a forma estilizada, onde não falta por vezes a provocação e um certo gosto pelo escândalo. Até então, só Eduardo Viana pintara a mulher nua, Ofélia pinta três.

E, por último, há esta ritualidades do desenhar imaginário, é como se a Ofélia mulher vive no eterno retorno da sua própria imagem de mulher dá-nos a frescura da criança, por vezes em posturas lânguidas, ela que era acusada por alguns mestres de pintura de ser preguiçosa. O poeta José Gomes Ferreira, que ela retratou, dirá dela que ninguém, entre os artistas do seu tempo pintou melhores retratos de crianças. Talvez tenha faltado neste comentário do grande poeta o aditamento daquelas crianças eram uma pura reminiscência da criança que ela gostaria de ter sido para sempre.
Beatriz Costa
José Gomes Ferreira
Ofélia dentro de Ofélia
A Ofélia adulta virada para uma criança
Um retrato em que Ofélia não está ausente, atenda-se àquele laçarote icónico
Ofélia tinha uma predileção de registar ambientes domésticos, intimidades da leitura, aqui é um jovem já bem crescida, nada de laçarotes e veja-se a provocação das saias curtas.

Gostei imenso da exposição, dê por onde der hei de voltar, estes desenhos que vêm agora à luz do dia a criteriosa escolha de Emília Ferreira fazem-me considerar Ofélia Marques a detentora da varinha mágica que transmudou o modernismo em Portugal.

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Nota do editor

Último post da série de 29 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25701: Os nossos seres, saberes e lazeres (634): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 2 (Mário Beja Santos)