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sexta-feira, 20 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26293: Agenda cultural (875): "A Vida de Um Soldado", Casa da Cultura Leonardo Coimbra, Lixa,, de 29/11 a 31/12/2024, Exposição de José Claudino da Silva, "Dino" ( ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74)


Cartaz da Exposição fotodocumental do nosso camarada e grão-tabanqueiro, José Claudino da Silva [é autor da série "Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) ", de que se publicaram mais de 70 postes; é membro da Tabanca Grande desde 18/10/2017; tem mais 55 referências no blogue; nascido em Penafiel, em 1950; reside em Amarante; tem livros publicados e página no Facebook ]
















"A Vida de Um Soldado", Casa da Cultura Leonardo Coimbra, Lixa,, de 29/11 a 31/12/2024, Algumas imagens da Exposição do José Claudino da Silva, "Dino", que ainda pode ser vista até ao fim do ano.


Fotos (e legenda): © José Claudino da Silva (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso "Dino",com com data de 19/12/2024, 12:45

"Olá. Tenho patente até ao fim do ano uma exposição de fotos,  cartas,  postais e vários documentos sobre a guerra colonial, na Casa da Cultura da Lixa, Felgueiras.

"Poucos a visitam. Porém, a guerra vista por um soldado é completamente diferente da que vê um general."

2. Comentário do editor LG:

Parabéns, Dino. Uma amiga comum, aí da Lixa,  já me tinha falado da tua exposição, Vou aí ao Norte pelo Natal mas não vou poder dar aí um salto à Lixa. Um feliz Natal para ti e os teus. Fica feita a "prova de vida". Fico a aguardar a tua prometida seleção das tuas 160 fotos, as que puderes e quiseres partilhar, no blogue, com os teus camaradas da Guiné. Um alfabravo fraterno,  Luís Graça.

3. Sobre a Casa da Cultura Leonardo Coimbra (Rua 25 de Abril, Vila Cova de Lixa, Felgueiras | telef 255 490 922

"Casa onde nasceu o ilustre felgueirense Leonardo Coimbra (1883-1936), um dos maiores vultos da filosofia portuguesa. Poderá conhecer a sua obra e visitar a exposição permanente a ele dedicada.

"Aqui funciona uma extensão da Biblioteca Municipal de Felgueiras."

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25934: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (11): Na Tabanca de Candoz, que em setembro tem sempre mais encanto (Luís Graça)

 















Marco de Canavezes > União das Freguesias de  Paredes de Viadores e Manuncelos > Candoz > Quinta de Candoz > 10 e 11 de setembro de 2024 >  

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné] (Imagens HDR - High Dynamic Range, tiradas sem tripé)


1. Candoz, em setembro, no fim do verão tem outro encanto... A nossa Quinta de Candoz... As vindimas ainda estão atrasadas... E este ano haverá talvez uma quebra de 15% na colheita... Há menos uva...Mas a qualidade parece ser excelente, o que é ótimo, vamos fazer, no segundo ano, uma seleção do vinho verde branco DOC "Nita"...

Na melhor das hipóteses, ainda posso apanhar a primeira vindima daqui a duas semanas... Depois tenho que regressar ao Sul. Vamos esperando o sol, que aqui é mais forte do que  na minha costa atlântica, nos ajude ainda a amadurecer melhor os chachos de perdernã, azal, loureiro, avesso, alvarinho... (O grosso é pedernã e azal.)

Aqui ficam algumas imagens da Tabanca de Candoz, aonde gostamos todos anos de vir para carregar baterias, matar saudades, cultivar os afetos, falar com as árvores, com as videiras... Na altura das vindimas é obrigatório vir cá...E não vimos mais por que estamos a 400 km de Lisboa...
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domingo, 4 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25806: (De) Caras (215): "Da minha varanda continuo a ver o mundo"... Parte I (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra)

 

Foto nº 1


Foto nº 2


Foto nº 3


Foto nº 4


Foto nº 5


Foto nº 6


Foto nº 7


Foto nº 8


Foto nº 9


Foto nº 10


Sintra > Agualva-Cacém > Rua de Colaride > Julho de 2024>    Da mimha varanda continuo a ver  o mundo... "

Fotos (e legenda): © Valdemar Queiroz (2024). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do nosso querido amigo e camarada Valdemar Queiroz:


Data - domingo, 28/07/2024, 15:08

Assunto - Da minha varanda continuo a ver o mundo (*)


Boa tarde, Luís


Como este belo tempo, um pouco quente mas sem o sol a abrasar, continuo a ver passar os meus novos vizinhos caminhando na minha rua, sempre coloridos.

Agora, já apanharam o hábito do telemóvel quase como em tempos o cigarro ou a pastilha elástica, inseparável. Até a sombra da frondosa e quase cinquentenária nespereira serve para fazer um 'mi liga' a meia da tarde. 

Também já existem telemóveis que enviam legendas-grafites e outros que nem sequer criam
inveja antes olhar a loirinha à fresca ligando.

Eu, agarrado a oxigénio, cá estou na minha varanda a ver passar a nova vizinhança de cabo- verdianos e guineenses e um ou outro dos antigos vizinhos já muito raros. Anexo umas fotos tiradas da varanda e ver os vizinhos passar.

Bons dias de Verão e umas malguinhas de verde fresco. (**)
Valdemar Queiroz

Anexo - 24 fotos



Valdemar Queiroz, minhoto de Afife,  Viana do Castelo, por criação, lisboeta por eleição (ou necessidade...), ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70 (aqui por obrigação, em foto, tirada em Contuboel, 1969).  Entrou para a Tabanca Grande em 16 de fevereiro de 2014. Estivemos juntos no CIM de Contuboel de 2 de junho a 18 de julho de 1969. Ele foi um dos instrutores da recruta das 100 praças do recrutamento local, que fomos receber para fazer a guerra, a CCAÇ 2590, futura CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, junho de 1969 / março de 1971). Tem mais de 180 referências no nosso blogue, de que é um leitor e comentador assíduo.


2. Comentário do editor LG:

Grande Valdemar, já não há, em julho, nêsperas nem flores lilases de jacandará, mas o mundo continua a passar pela tua janela ou pela varanda do teu apartamento na Rua de Colaride, Agualva-Cacém... O mundo, os teus vizinhos, e as memórias que eles te trazem do seu mundo (que afinal é cada vez mais só um...).

E tu continas a sorrir para o mundo, ou pelo menos a câmara do teu novo telemóvel,  que já não é tão "fatela" como a do ano passado...a avaliar pela "qualidade" das imagens que me mandas agora... Ou é a mesma ? (Tenho ideia que  Menino Jesus neerlandês te deu um novo telemóvel pelo Natal.. se não te deu, bem o merecias.)

Continuas a viver hoje, sozinho, em casa, em Agualva-Cacém. Felimente que a tua rua é "colorida". E tem vida...  E renova-se... 

Tens o teu filho e netos, longe, nos Países Baixos, mas mesmo assim ao alcance de um "clique". (Lembras-te, na Guiné, naquele tempio, era preciso dormir na estação dos correios em Bissau, para se conseguir, no dia seguinte, uma chamada para casa, aqueles de nós, muito poucos, que tinham o privilégio de ter telefone fixo, em casa...).

E vez em quando, lá vais (é a tua sina!) de "charola" para o Hospital Amadora-Sintra com uma crise aguda, devido à sua "DPOC de estimação"... Aprendeste a lidar com a ela, a filha da mãe..., com o teu sempre desconcertante mas saudável humor (de caserna)... E com a preciosa ajudinha do teu/nosso SNS que já conhece a tua rua... (Que Deus Nosso Senhor lhe continue, ao teu/nosso SNS,  dar "saudinha da boa", e por muitos anos...).

O voto dos teus amigos e camaradas da Guiné é que continues a ser mais teimoso do que o raio da tua "doença de estimação" que te vai acompanhar para o resto da vida.  E que a "menina dos teus olhos" continue a poder ver o mundo, e a encontrar motivos para sorrir e o fixá-lo em humaníssimos e ternurentos instantâneos como estes...  (Tens razão, o raio do telemóvel também veio para ficar como o Toyota, a "covide" e por aí fora...).

Obrigado, pelas fotos que nos mandaste e de que fizemos uma seleção. (**) 
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Notas do editor:

(`*) Vd. postes anteriores:



15 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24400: (De) Caras (198): "Da minha varanda também vejo o mundo... Ou uma nesga, o da da minha rua" (Valdemar Queiroz, DPOC, Rua de Colaride, Agualva-Cacém, Sintra) - II (e última) Parte

(**) Último poste da série > 31 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25797: (De)Caras (305): Cecílica Supico Pinto: a "líder carismática" do Movimento Nacional Feminino, com acesso privilegiado a Salazar, que veio preocupadíssima com a situação na Guiné, na véspera do 25 de Abril de 1974

sábado, 6 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25721: Os nossos seres, saberes e lazeres (635): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160): Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Fui ao baú buscar alguns instantâneos, explicavelmente associados a acasos felizes, um céu noturno, a quietude de uma praia caracterizada por mar revolto e assombrosos rochedos, uma exposição bem original do desenho de uma das nossas maiores artistas modernistas, Ofélia Marques. O que me deixa particularmente feliz, agora que caminho para a quarta idade, é recordar a estupefação que sempre senti pelas ilustrações de Ofélia, a graciosidade daquelas ternas juventudes, os apaziguamentos domésticos, a criança e os jogos; e depois os retratos dos adultos, da Ofélia omnipresente, e até daquela Ofélia que metia medo aos bons costumes, basta pensar que depois de Eduardo Viana ninguém se atrevia a exibir o corpo de uma mulher nua, mais a mais uma artista. Vale a pena ir conhecer esta Ofélia versátil e ensimesmada, uma menina grande, genial e provocadora.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (160):
Díspares modos de ver, mimoseio para um coração feliz – Reguengo Grande, Praia da Adraga, Ofélia Marques


Mário Beja Santos

Por excelência, a fotografia é uma arte do acaso, incluindo estados de alma, do tempo, e daquela multiplicidade de circunstâncias que nos faz sair da contemplação e querer intervir, congelar/fixar imagens de agrado ou de embevecimento. É uma leitura estrita, confesso, durante anos interroguei-me o que levara a minha mãe a chamar um fotógrafo profissional ao velório da minha avó materna para gravar cena tão lúgubre, nunca me passara pela cabeça ter uma fotografia da minha avó morta. A explicação materna parecia incluir uma reprimenda: “Estas fotografias são para África, a minha mãe tem lá os seus parentes, quer acredites quer não eles ficarão mais satisfeitos em vê-la tal como faleceu do que eu lhes mandar uma fotografia embonecada com uma citação bíblica, quando cresceres verás o que eu estou a dizer.” Tenho para mim que não me chegou ainda a hora desse entendimento, dou-me melhor com as alegrias de certas contemplações, ainda por cima hoje tudo é facilitado pela rapidez com que utilizamos a câmara – é o que se chama o feliz acaso.

É o anoitecer no lugar do Reguengo Grande, concelho da Lourinhã, onde me sinto tão prazenteiro a olhar a terra lavrada onde crescem abóboras, favas e batatas, com fruteiras de toda a parte (ah, a maçã reguengueira, a pera rocha…). Estamos no inverno, ainda há para ali um vestígio do fim do dia, será esmagado pela nuvem gigante portadora do negrume, dentro de minutos os contornos da colina em frente de minha casa apagar-se-ão, restam aquelas lâmpadas do casario, vigilantes pela noite fora. Como gosto de escutar, noite de inverno!
A praia da Adraga fica perto de Almoçageme, esta liga com Colares, descendo, e com o Pé da Serra e Atalaia, quem sobe, abre cainho para o Cabo da Roca, Malveira da Serra, Cascais e Estoril. À hora que cheguei nada daquele mar bravio que açoita esta costa atlântica e que faz tremer os banhistas até à Foz do Arelho. Muitos pintores se sentiram atraídos por este penhasco fendido, permite a imaginação que nos leve a supor que é um elefante a viajar nas águas ou casca de oliveira milenar; não, é uma erosão que vem de tempo antiquíssimos, é, acima de tudo, uma atração da praia, daí estas duas imagens, uma mais próxima a outra mais longe.
É dia de semana, ainda é inverno, andam por aqui alguns residentes e forasteiros; se aqueles rochedos esmagam ou assombram, não menos importante é a falésia com aquela florestação rasteira, tais e tantos são os açoites do vento; há muito por onde passear e no verão, nas certezas da vazante saltita-se entre pedregulhos e rochedos e a pequenada em férias faz castelos de areia. Como são diferentes estas praias tão próximas umas das outras, mesmo acobertadas por falésias e terrenos penhascosos, não há afinidades absolutas entre a praia das Maçãs, a Praia Grande ou a Adraga. Despeço-me chamando a atenção para o pormenor de que esta senhora de cabelo ruivo dá a impressão que vai caminhar para aquela imensa montanha mágica, com a neblina turva à sua volta.
A Fundação Arpad Szenes Vieira da Silva tem patente uma exposição até 2 de junho dedicada a uma escolha de retratos do vasto acervo desta importante artista modernista deposito na instituição, é curadora do evento uma especialista em Ofélia Marques, Emília Ferreira, hoje diretora do Museu de Arte Nacional Contemporânea.
Ofélia Marques é uma das grandes artistas modernistas que se impôs nas décadas de 1930 e 1940. Acolhida com muito agrado no desenho gráfico, em livros e revistas, tendo tido um papel dinâmico e inovador na revista Panorama, ao lado do marido, Bernardo Marques, não há nenhum exagero em dizer que ela faz parte daquele elenco onde se notabilizaram Sarah Afonso, Estrela Faria, Maria Adelaide Lima Cruz, Mily Possoz, Maria Keil, que no campo das artes plásticas do modernismo foram tratadas como figuras subalternas, como ilustradoras. Ofélia impôs-se em inúmeras exposições, que permitem o confronto da sua arte caleidoscópica onde há muito mais que gatos, criançada, flores, fitas, agulhas. Foi uma retratista exímia, o que esta exposição deixa ver, no seu geral, são desenhos muito à volta de ela mesmo, uma personalidade vincada que transcende a linha expressionista, o cuidado com a coisa mundana, pouco interessada em retratos de representação social e muito menos em arranjos decorativos. Retratando-se e retratando outrem, é como se o nosso olhar oscilasse entre um espelho e uma câmara fotográfica a interrogar a geografia interior destes seus retratos, na sua generalidade não saíram de um circuito privado.
O que verdadeiramente me apaixona no desenho de Ofélia é a ambivalência entre o dado formal e a sua pujança lírica; o formal prende-se com o arquétipo da criança ou do gato em ambiente doméstico; a pulsão lírica é nos dadas pelas tensões de uma certa irregularidade do traço, olharmos para muitos destes desenhos e intuir que há algo inacabado. E temos na exposição esta formidável galeria de autorretratos, mas cuidado com o que se vê nem sempre são retratos de Ofélia, são mais encontros dramáticos entre uma certa volúpia que ela pretende desenhar e a forma estilizada, onde não falta por vezes a provocação e um certo gosto pelo escândalo. Até então, só Eduardo Viana pintara a mulher nua, Ofélia pinta três.

E, por último, há esta ritualidades do desenhar imaginário, é como se a Ofélia mulher vive no eterno retorno da sua própria imagem de mulher dá-nos a frescura da criança, por vezes em posturas lânguidas, ela que era acusada por alguns mestres de pintura de ser preguiçosa. O poeta José Gomes Ferreira, que ela retratou, dirá dela que ninguém, entre os artistas do seu tempo pintou melhores retratos de crianças. Talvez tenha faltado neste comentário do grande poeta o aditamento daquelas crianças eram uma pura reminiscência da criança que ela gostaria de ter sido para sempre.
Beatriz Costa
José Gomes Ferreira
Ofélia dentro de Ofélia
A Ofélia adulta virada para uma criança
Um retrato em que Ofélia não está ausente, atenda-se àquele laçarote icónico
Ofélia tinha uma predileção de registar ambientes domésticos, intimidades da leitura, aqui é um jovem já bem crescida, nada de laçarotes e veja-se a provocação das saias curtas.

Gostei imenso da exposição, dê por onde der hei de voltar, estes desenhos que vêm agora à luz do dia a criteriosa escolha de Emília Ferreira fazem-me considerar Ofélia Marques a detentora da varinha mágica que transmudou o modernismo em Portugal.

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Nota do editor

Último post da série de 29 DE JUNHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25701: Os nossos seres, saberes e lazeres (634): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (159): Na vila realenga de Belas, no termo de Sintra, já houve Paço Real, estamos perto da Venda Seca - 2 (Mário Beja Santos)

terça-feira, 2 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25708: Timor-Leste, passado e presente (10): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Parte II: Como era a pequena colónia do sudoeste asiático em 1940/41 ?



Timor Leste > s/d (c. 1936/40) > O "liurai" Dom Aleixo Corte-Real (1886-1943), régulo de Ainaro e Suro, um dos heróis luso-timorenses  da resistência contra os ocupantes japoneses na II Guerra Mundial.


Timor Leste  > Dili >  c. 1939 > 
Vapor Oekussi, adquirido em março 1939.  



Timor Leste  > Dili >  c. 1936/40  > 
O Palácio do Governador




Timor Leste > Dili > s/d  > Colégio-liceu "Doutor Francisco Machado", inaugurado em 1939.

Fotos do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons.


O Álbum «Colónia Portuguesa de Timor», mais conhecido por «Álbum Fontoura», nome do governador que o mandou elaborar em finais dos anos 30, e coincidindo, então, com a permanência em Timor de uma missão geográfica e geológica, chefiada pelo geógrafo Jorge Castilho, contém 549 fotografias relativas a «grupos étnico-linguísticos e tipos em geral», «trajos, ornamentos, pertences e armas», «vida familiar e social», «formas de trabalho (…), arte indígena e instrumentos musicais» e «acção civilizadora e colonizadora». O exemplar do álbum, recuperado após Abril de 1974 pelo antropólogo, professor António de Almeida, foi depositado no AHS (Arquivo Histório Social, ISC/UL, pela «Família Almeida», através do Doutor Pedro Cardim. (Fonte: AHS/Album Fontoura)


Uma cópia digitalizada deste álbum foi oferecido pelo ICS/UL a Xanana Gusmão: "Quisemos fazer um 'fac-simile' para oferecer aos arquivos de Timor, que isto fosse um instrumento de estudo do país. O álbum é algo que interessa aos timorenses, apesar da carga muito colonial. É um retrato de partes de Timor que desapareceram com a invasão japonesa na Segunda Guerra Mundial e que as gerações nascidas depois de 1945 desconhecem", disse Fátima Patriarca, arquivista e socióloga do ICS, ao jornal "Público".

O coronel Álvaro Fontoura (Bragança, 1891 - Lisboa, 1975), foi "governador de Timor entre 1936 a 1940 e é-lhe atribuída a ideia de organizar o Álbum Fontoura". Era então major de infantaria,

Licenciou-se em engenharia civil na Universidade do Porto e foi professor do Colégio Militar entre os anos de 1925 a 1937, da Escola Superior Colonial entre 1932 a 1947 e do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas Ultramarinas (ISCSPU) / Universidade Técnica de Lisboa entre os anos de 1939 e 1961.

Será depois chefe de gabinete do Ministro das Colónias, Francisco José Vieira Machado, de 1940 a 1944, presidente da Junta Central de Trabalho e Emigração do Ministério do Ultramar de 1937 a 1960 e Diretor dos Caminhos de Ferro de Moçambique. Como parlamentar participou como deputado da IV Legislatura (1945 - 1949) pelo círculo eleitoral de Macau.



1. Estamos a publicar notas de leitura e excertos do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (*), disponível em formato digital no Internet Archive.

 Timor Leste, como é sabido, foi o único território  ultramarino (na altura, designado como "colónia" , até 1951)  que foi invadido e esteve ocupado por forças estrangeiras, durante a II Guerra Mundial (entre dezembro de 1942 e setembro de 1945): tropas autralianas e holandesas, primeiro, e depois japonesas.

O livro em apreço é um documento importante para se conhecer melhor este dramático  período da história de Timor.  

Segundo o nosso grão-tabanqueiro,  cor art ref Morais Silva que é natural de Lamego, o médico José dos Santos Carvalho teria nascido no concelho vizinho de Armamar (e,  pelas nossas contas, no início de República): 

"Família Santos Carvalho, originária de Cimbres (município de Armamar). Em Lamego viveram o irmão, dr Joaquim Carvalho (acompanhou a gravidez da minha mulher) e a irmã, dra. Maria Adelaide, ambos médicos da Casa de Saúde de Lamego, já falecidos. Família prestigiada, tem descendência a viver em Lamego." (Comentário ao poste P25683) (*)

Atualizávamos a ortografia e a grafia dos topónimos. O livro foi redigido no principio da década de 1970, sendo uma edição da Livraria Portugal Editora, na Rua do Carmo 70  (que já não existe como editora, creio eu),composto e impresso na Gráfica de Lamego.


"Uma vista de olhos sobre Timor em 1941" (**)

por José dos Santos Carvalho


(i) Nas páginas 11 a 15, o autor faz uma sucinta mas interessante apresentação do então  pequeno território português de Timor ao qual ele atribuiu mais 4 mil quilómetros quadrados de superfície (19 mil em vez de 15 mil).

(...) "O território principal de Timor Português apresenta uma forma em ferro de lança e a sua superfície corresponde a cerca de 19.000 km2 , pouco mais que um quinto da da metrópole " [15007 km km é a superfície oficial de Timor Leste, segundo o sítio do respetivo Governo].

(...) A  ilha de Timor está situada na zona tórrida, muito perto do equador e ao norte da Austália da qual dista cerca de quatrocentos quilómetros, pertencendo a Portugal somente a metade oriental e o pequeno território do Oecussi encravado na metade estrangeira (hoje indonésia, em 1940 holandesa) .

"Pertence-nos [ é curiosa esta "apropriação coletiva" por parte do autor na qualidade de funcionário colonial] também, a ilhota de Ataúro (cujo nome em malaio é o de Poeloe Cambing, isto é, a ilha das cabras)".


(ii) Sobre a topografia e  o clima  do exótico e longínquo território, José dos Santos Carvalho faz questão de esclarecer os seus leitores:

(...) A terra timorense mostra-se muito acidentada sendo, praticamente, uma cadeia de montanhas que emerge abruptamente do mar. O seu ponto mais alto é o pico do Tatamailau, do monte Ramelau, que se aproxima dos 3.000 m. de altitude. (...)

O clima é muito quente nas terras à beira-mar, tais como Díli e Liquiçá, sendo esta última a terra do ultramar português que apresenta uma temperatura média anual mais elevada.

Porém, como quase todo o território está situado em certa altitude, a maior parte das povoações dispõe de clima agradável, por ser relativamente seco e bastante uniforme. Em terras de 1.000 metros de altitude, como a Ermera, por exemplo, o clima é de «Primavera Eterna», como Teófilo Duarte o denominou.

Não se diferenciam as quatro estações anuais dos países temperados. Distinguem-se, sim, duas épocas — a da seca e a das chuvas — desenvolvendo-se esta última de Novembro a Março. (...)


(iii) Pode também ter algum interesse para os nossos leitores, que acompanham a história recente de Timor, saber como, do ponto de vista administrativo, estava organizado o território, quando o "médico de 2ª classe", José dos Santos Carvalho é lá colocado. O modelo era o das "circunscrições administrativas" (que também conhecemos na Guiné):

(...) Em 1940, a então oficialmente denominada colónia de Timor estava dividida em cinco circunscrições administrativas com sede em Bobonaro, Aileu, Manatuto, Baucau e Lautém e um concelho, o de Díli. 

A circunscrição com sede em Bobonaro tinha o nome de circunscrição da Fronteira, a de sede em Baucau o de circunscrição de S. Domingos e a de sede em Aileu, o de circunscrição do Suro. (...) [Vd. na Wikipedia a atual organização administrativa que "é fruto da fusão de influências da colonização portuguesa e da ocupação indonésia".]

(iv) A organização dos serviços de saúde era muito sumária, repartindo-se em três "delegacias de saúde": 

  • a da zona central com sede em Díli e abrangendo o concelho deste nome, a circunscrição de Aileu, o posto administrativo de Ataúro e o território do Oecussi; 
  • a da zona leste, com sede em Baucau e abrangendo as circuncrições deste nome, a de Manatuto e a de Dautém; 
  • e a da zona oeste, com sede na Hátu-Lia e abrangendo o restante território.

(...) Cada zona sanitária era administrada por um médico, o delegado de saúde. Nas sedes das zonas sanitárias estava instalada uma enfermaria regional, dirigida pelo delegado de saúde, e, nas restantes circunscrições e postos administrativos, funcionava uma ambulância sanitária a cargo de um enfermeiro diplomado.

Os serviços centrais de saúde competiam à Repartição Técnica de Saúde e Higiene da Direcção da Administração Civil da colónia e eram chefiados por um dos médicos aí em serviço, nomeado pelo Ministro.

A Repartição de Saúde estava instalada no pavilhão principal do Hospital Dr. Carvalho, em Lahane, próximo do qual tinha o chefe a sua residência. (...)

O hospital, inaugurado em 1906, chamava-se Carlos I, o penúltimo rei de Portgal. Depois, com a República, foi renomeado Hospital Dr Carvalho, em homenagem à figura do dr. Tomás de Carvalho (1819-1897), um médico que defendia o ideal republicano, e  que em 1858 tinha sido sido eleito deputado pelo círculo eleitoral de Macau (que incluía Timor) e exerceu essas funções durante várias legislaturas, até se tornar Par do Reno...

O governador de Timor era então (de 1940 a 1945) o capitão Manuel Abreu Ferreira de Carvalho (Porto, 1893 - Lisboa, 1968). (Durante a ocupação estrangeira, australiano-holandesa e depois japonesa, o seu cargo terá sido meramente formal ou simbólico.) 

(v) Era, entretanto,  diminuto o pessoal que  administrava o território: 

(...) O governador de Timor residia no vulgarmente chamado palácio de Lahane e despachava os assuntos de administração pública no também denominado palácio da secretaria da administração civil em Díli, na avenida marginal. Dois funcionários superiores, o chefe do gabinete e o secretário, trabalhavam intimamente com o Governador.

A direcção dos serviços de administração civil pertencia a um intendente administrativo de quem dependiam o administrador do concelho de Díli e os administradores das diversas circunscrições. Destes últimos dependiam os chefes de posto administrativo.

No concelho de Díli e nas circunscrições estavam em serviço, além do administrador, um secretário de circunscrição e um ou mais aspirantes administrativos.

Diretamente do Governador dependiam, além dos serviços militares, e de administração civil, os de saúde e higiene, das alfândegas, dos correios e telégrafos, da fazenda e das obras públicas. (...)




Timor Leste > 2024 > Com c. 15 mil km2, e mais de 1,3 milhões de habitantes, ocupa a parte oriental da ilha de Timor, mais o enclave de Oecusse e a ilha de  Ataúro. Antiga colónia portuguesa, tornou-se independente em 2002, depois de ter sido  invadida e ocupada pela Indonésia durante 24 nos, desde finais de 1975.    

Em termos administrativos, a atual República Democrática de Timor-Leste encontra-se dividido em 13 distritos: 

(i) Bobonaro, Liquiçá, Díli, Baucau, Manatuto e Lautém na costa norte; 

(ii) Cova-Lima, Ainaro, Manufahi e Viqueque, na costa sul; 

(iii) Ermera e Aileu, situados no interior montanhoso; 

(iv) e Oecussi-Ambeno, enclave no território indonésio.

Infografia : Wikipédia > Timor-Leste |  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



(vi) Mais escassa ainda era a força militar que defendia Timor em 1941. O autor não esconde o caricato do dispositivo militar,  incapaz de assegurar a efetiva "neutralidade" de Portugal no conflito mundial, que chegou também ao Sudoeste Asiático, em 1941, e que será de resto um pretexto para as duas invasões estrangeiras:

(...) A tropa de Timor, constituída na sua quase totalidade por naturais da ilha, estava pessimamente equipada e com armas obsoletas, como espingardas Kropatchek do modelo de 1895, com cartuchos carregados em 1905,  e de carabinas Winchester idênticas às dos filmes do Far West, com excepção de algumas metralhadoras de tipo moderno recentemente adquiridas. 

Era muito reduzido o número de oficiais e sargentos e mesmo de cabos, com a agravante de bastantes destes dois últimos estarem fora do serviço militar, em comissão como chefes de posto administrativo.

O único organismo de algum valor militar que então havia era a Companhia de Caçadores de Timor, aquartelada em Taibéssi, próximo de Díli, tendo como oficiais os tenentes Liberato, Ramalho e Garcia de Brito.(...) 


A justiça reduzia-se a dois magistrados:

(...) Os serviços de justiça dispunham de um juiz de direito, o Dr. José Nepomuceno Afonso dos Santos e de um delegado do procurador da república, o Dr. Noronha. [O juiz era o pai do cantor e compositor José Afonso, 1927-1987: vd. documentário da RTP "Rosas de Ermera"].


(vii) Quanto à Igreja Ctaólica estava tradicionalmente melhor implantada:

(...) Existia em Timor (que pertencia à diocese de Macau) uma eficiente organização missionária católica servida por sacerdotes, formados em Macau, e por irmãs missionárias canossianas, de nacionalidade italiana.

As «Missões» dispunham de colégios para rapazes na Soibada e em Ossú, onde preparavam excelentes catequistas e ministravam a instrução primária a grande número de alunos; as irmãs tinham ao seu cuidado colégios em Díli, Dare e Soibada, onde educavam e instruíam bastantes meninas timorenses e de
outras naturalidades.

Em Díli funcionava um colégio-liceu, cujos professores eram funcionários de diversos serviços oficiais que viviam em Díli. Assim, por exemplo, o professor de história era o tenente Dr. Garcia de Brito, o de matemática o senhor Lourenço de
Oliveira Aguilar, administrador do concelho de Díli, etc. (...)


Timor, por outro lado, e como é sabido, foi também um local de 
"encarceramento e deportação" (Vd. poste P25454) (**)

(...) Encontravam-se então em Timor algumas dezenas de portugueses metropolitanos que para aí haviam sido deportados por motivos políticos, vivendo livremente e recebendo do Estado um subsídio para a sua subsistência. 

Pertencentes a diversas profissões eram, pela sua preparação técnica e capacidade de trabalho, elementos muito apreciáveis para o desenvolvimento da terra, Colonos, artífices ou comerciantes, distinguiam-se ela sua actividade. Dentre eles, avultava a figura prestigiosa do Dr. Carlos Cal Brandão que exercia a profissão da advocacia em Díli, onde havia constituído família. (...)

O autor também aborda a questão da língua, sendo o tétum o mais falado:

(...) Em Timor fala-se mais de uma dúzia de línguas ou dialetos diversificados, apesar da área da ilha ser tão pequena. Porém, há um deles, o «tétum» que é compreendido em toda a parte. A sua gramática é muito simples e a pronúncia fácil para europeus. (...)

(viii) Figura destacada então, por pertencer à nobreza guerreira timorense, e leal à bandeira portuguesa, era então o "liurai" (ou régulo) de Suro e Ainaro,  Aleixo Corte-Real (1886-1943), que será depois preso e fuzilado pelos japoneses.
("Dom Aleixo viria a visitar Portugal, juntamente com mais oito timorenses, a fim de participar na Exposição Colonial do Porto", segundo se lê na Wikipedia).

(...) Os timorenses conservam os seus chefes tribais tradicionais, os «liurais» (por nós chamados régulos), tendo alguns mais ilustres o título de Dom e, aqueles com serviços à Nação, postos na tropa de segunda linha que em Timor se chama a
tropa de «moradores».

Eram muito conhecidos em 1940, o liurai de Ainaro, D. Aleixo Corte-Real, o de Ossuroa, D. Paulo, o do Remexio, coronel D. Moisés, etc., e o coronel José Nunes, de Maubara. (...)


(ix) Há mais informações no livro do nosso médico, sobre os Timorenses e Timor, incluindo as muitas poucas empresas agrícolas de natureza colonial:

(...) Os timorenses são de fraca constituição física, de inteligência viva e de carácter firme e leal. Portugueses de alma e coração, adoram participar em formaturas e marchas de tropas de segunda linha e sentem respeito religioso pela bandeira da Pátria que mais que tudo veneram.

Em Timor cultivam-se com largueza todos os géneros agrícolas necessários para uma boa alimentação. O arroz, o milho, a mandioca, as leguminosas, o amendoim, etc, encontram -se por toda a parte em abundância e os frutos são variados e deliciosos. O mar fornece excelente peixe e mariscos e a profusa criação de búfalos dá carne e leite.

A Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho produz nas suas plantações de Fátu-Béssi, na área do posto da Ermera, o excelente e aromático café de Timor e algum cacau.

Em 1940, as acções desta sociedade pertenciam aos herdeiros do grande governador de Timor, coronel Celestino da Silva (representados pelo senhor Jaime de Carvalho) , ao Estado português, ao Banco Nacional Ultramarino e a uma firma japonesa, pelo que uma meia dúzia de empregados da sociedade eram súbditos nipónicos, sendo os mais importantes os srs. Segawa e Inocúchi.

Na Hátu-Lia cultivava-se o chá, em especial numa granja do Estado, denominada Granja Eduardo Marques,  no posto da Ermera, cujo capataz era o deportado, sr. Carrascalão.



Capa do livro de José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972,  208 pp.  Cortesia de Internet Archive.



(x) Não faltam, por fim, informações sobre as ligações entre Portugal e Timor, começar pelo omnipresente BNU (Banco Nacional Ultramarino), que de resto continua hoje a operar em Timor, desde 1912, como se pode ler na sua página do Facebook: O BNU, que hoje faz parte do Grupo Caixa Geral de Depósitos, "está em Timor-Leste desde 1912, apoiando Timor-Leste na implementação e crescimento do sector privado, e auxiliando os vários governos do país na implementação de uma economia estável e sustentável".)


(...) Em Díli funcionava uma agência do Banco Nacional Ultramarino cujo gerente era o sr. João Jorge Duarte e onde trabalhavam vários empregados não-timorenses.


A moeda que então corria era a pataca que se dividia em cem avos e valia seis escudos. As patacas eram em papel, mas inda existia boa quantidade de moedas de prata, cunhadas no México, em depósito do Estado no Banco Nacional Ultramarino. Eram as vulgarmente chamadas «patacas grossas» ou «patacas mexicanas»  (...)

Timor comunicava com Macau e Lisboa por meio de uma estação radiotelegráfica, instalada em Taibéssi e era servida por pequenos navios holandeses que levavam os passageiros a Soerabaja e por uma carreira de grandes hidroaviões entre a Austrália e Singapura que amaravam na baía de Díli e pertenciam a uma empresa australiana, a QANTAS (Queenstand and Northern Territory Aerial Service). 

Há pouco tempo, havia carreiras aéreas semanais entre Díli e a vizinha capital da parte holandesa, Koepang, feitas num avião Fokker que o governo de Timor alugara, contratando, também, a respectiva tripulação de holandeses.

As emissões de radiotelefonia europeia, sobretudo o noticiário, não eram, praticamente, ouvidas em Timor, pois, devido ao seu grande afastamento da Europa, em longitude, havia uma diferença de oito horas entre a hora local e a do continente português. Assim, o noticiário mais importante que nesses tem-
pos era dado pela Emissora Nacional às dezanove horas, somente poderia ser ouvido em Timor por quem se levantasse às três da madrugada.

Todas as povoações de alguma importância dispunham de postos de correio e de telefone.

O número de quilómetros de estradas transitáveis durante todo o ano era bastante reduzido e o transporte por automóvel só estava ao alcance de muito poucos. Praticamente, as viagens pelo interior da ilha faziam-se sempre utilizando o valente e brioso pónei timorense.

Um naviozinho a motor, chamado «Oé-Kússi» transportava passageiros e carga para os diferentes pontos da ilha onde podia aportar, tais como Manatuto, Baucau, Liquiçá, Suai, etc, ao enclave do Oé-Kússi e à ilha de Ataúro. (...)

(xi) As páginas seguintes (de 15 a 31) também têm interesse, para o leitor de hoje: são saborososos apontamentos sobre a sociedade colonial local, em que os poucos portugueses que lá estavam (deportados e funcionários públicos, civis e militares),  se conheciam todos e conviviam uns aos outros, tal como na Guiné dos anos 40/50, à volta de dois clubes, o Benfica e o Sporting. 

Vivia-se, em Díli, em 1940/41, uma falsa paz bucólica que será sacudida pela terrível notícia dfa entrada do Japão na guerra, com o ataque a Pearl Horbor, a 7 de dezembro de 1941,  a mais de 7 mil quilómetros dali, em pleno Pacífico.  (LG)

Fonte: José dos Santos Carvalho: "Vida e Morte em Timor Durante a Segunda Guerra Mundial", Lisboa: Livraria Portugal, 1972, pp. 11/15

(Continua)

(Seleção, revisão / fixação de texto, excertos e itálicos dos excertos: LG) 
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