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Em mensagem do dia 8 de Novembro de 2015, o nosso camarada António
Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), enviou-nos a 28.ª página do seu Caderno de Memórias.
CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
28 - De 1 a 7 de Abril de 1974
Quando nos parecia que o mês anterior seria inultrapassável em intensidade de emoções, com empolgamentos e apreensões, surge-nos um Abril ainda mais emotivo, com factos marcantes e históricos a par de uma actividade operacional exigente e sensível.
Um dos acontecimentos locais mais importantes foi, por certo, o encontro das duas frentes de trabalho da estrada Aldeia Formosa-Buba, ainda que demorasse a ficar transitável em pleno devido à useira falta de alcatrão. Acho que todos vivemos este momento como se fôssemos co-autores da obra, pelo acompanhamento e protecção permanentes desde o início da desmatação, com muito empenho, dedicação e, diga-se, com muito risco.
Como suspeitávamos e temíamos, a actividade da guerrilha recrudesceu, tentando-nos estragar a obra e sua prossecução. Levaram a cabo várias acções e tentaram outras que a nossa tropa frustrou. Tanto apareciam na estrada entre Nhala e Buba como, do outro lado, entre Nhala e Mampatá, tendo conseguido sabotar a estrada uma vez, cortando-a, e emboscarem-nos pelo menos uma vez e tentando outras. Daí que se vivesse uma certa intranquilidade, sobretudo quando tínhamos que dormir no mato mesmo em cima do “carreiro” de Uane, em protecção às máquinas ali recolhidas, por estarem muito afastadas dos aquartelamentos.
Abril seria também o mês das visitas ao Sector, dos mais diversos comandantes incluindo o Comandante-Chefe, General Bettencourt Rodrigues.
Como é evidente, a nível local e nacional, o acontecimento do mês e do ano, (de 1974 e dos seguintes), foi, sem dúvida, a Revolução de Abril, que pôs fim a uma ditadura velha de muitos anos. Sob o efeito da surpresa, a maioria, creio, não teve a percepção plena do alcance do acontecimento e, ainda no desconhecimento das intenções de quem o promovia, tomando o poder, apenas acalentou a esperança de que acabasse a guerra para poder regressar a casa.
Os mais esclarecidos, poucos, perceberam que uma revolução assim, com tais protagonistas, só podia ser de consequências irreversíveis para a guerra colonial, sendo eles, os protagonistas, parte interveniente nessa guerra e, esta, porventura a maior chaga nacional à época. Mas, como poucas coisas são assim tão singelas e lineares, (apenas a preto e branco, não é?), muito tempo passaria até que o caldo estabilizasse e se começassem a reconhecer os ingredientes.
Logo, os efeitos do 25 de Abril no terreno não foram imediatos, longe disso, e trouxeram incertezas, ansiedades e situações ambíguas, assim como a penosa busca de soluções para problemas novos e muito sensíveis. Alguns nunca completamente resolvidos, como a segurança e a vida dos guineenses que combateram ao nosso lado.
Esta foi a minha leitura pessoal e superficial na época, apenas corrigida pontualmente, mais tarde, pela posse de dados que, então, eram quase nulos. Para a maioria, nunca tive dúvidas, indiferentes às consequências políticas (ou que nem sequer descortinavam), a grande alegria que lhes trouxe a revolução foi pensarem que, se escapei até agora, com o fim da guerra irei para casa de certeza. Como se sabe, isso não foi assim para todos, infelizmente.
Da História da Unidade do BCAÇ 4513:
(...)
ABR74/02 – O Exm.º Comandante Militar Brig. BANAZOL, acompanhado do seu Chefe do Estado-Maior, Coronel VAZ; Comandante do BENG, Ten-Coronel Maia e Costa; Comandante da Companhia de Engenharia, Cap. Branquinho e Ajudante de Campo do Exm.º Comandante Militar, visitaram A. FORMOSA. Após um briefing no Gabinete de Operações, e acompanhados pelo Comandante e 2.º Comandante do Batalhão, visitaram o aquartelamento de A. FORMOSA, onde apreciaram as obras em curso, assim como posteriormente se deslocaram à frente de estradas. Quando do regresso ao aquartelamento o Exm.º Comandante Militar reuniu-se com os Oficiais e Sargentos presentes na Unidade a quem dirigiu algumas palavras, regressando seguidamente a BISSAU.
(...)
ABR74/07 – Pelas 11h30 os dois Destacamentos de Engenharia uniram as duas frentes da estrada, com grande regozijo de todo o pessoal, que manifestaram uma grande alegria pelo facto.
O Exm.º Comandante deslocou-se à frente de estradas a fim de observar o local de união das duas frentes.
Das minhas memórias:
7 de Abril de 1974 (domingo) - A estrada: os trabalhos e a união das frentes de trabalho numa selecção de algumas fotografias, sem grandes pretensões mas tentando mostrar um pouco da azáfama da Engenharia no local.
Foto 1 -
1974, Abril - Frente de trabalhos da estrada Aldeia Formosa-Buba, troço de Nhala-Mampatá. Uns dias depois, ao fundo, há-de surgir a frente que vem de Mampatá, unindo-se as duas.
Foto 2 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Elementos do meu 4.º GComb/2.ª CCAÇ/BCAÇ4513, fazem a picagem a caminho da frente de trabalhos que avança na direcção de Mampatá.
Foto 3 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Chegada do GComb à frente de trabalhos. Ao fundo vê-se uma pequena zona de luz na mata escura. É a frente de trabalhos oposta e já próxima, lado de Mampatá.
Foto 4 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos em actividade plena. A frente oposta é agora mais visível ao fundo à direita.
Foto 5 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Através da galeria ao centro, vê-se claramente o seguimento da estrada para Mampatá.
Foto 6 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Com grande perícia, o operador da máquina sacode a palmeira e derruba-a.
Foto 7 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: A palmeira é enfiada pela mata dentro.
Foto 8 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Imagem colhida na frente de trabalhos de Mampatá, vendo-se o seguimento da estrada para Nhala. Uma pequena fileira de árvores separa as duas frentes.
Foto 9 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: O derrube das últimas árvores.
Foto 10 -
1974-04-07 - Frente de trabalhos: Concluída a ligação das duas frentes de trabalho e a jornada do dia, as máquinas recolhem a lugar seguro. Está feita a ligação Aldeia Formosa-Buba em termos de desmatação. Algures do lado de Nhala (e de Mampatá, creio), avança a construção da sub-base, base e alcatroamento da estrada.
(Continua)
Texto e fotos: © António Murta
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Nota do editor
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Guiné 63/74 - P15320: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (27): De 01 a 31 de Março de 1974