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quarta-feira, 18 de outubro de 2023

Guiné 61/74 - P24767: Os nossos camaradas guineenses (48): Mamadu Uri Djaló, meu primo, CCAÇ 727, CCAÇ 1586, CCAV 1662, Pel Caç Nat 65 (Piche, Canquelifá, Buruntuma e Boé, 1965/68) e TECNIL (Cufar, 1972), procura camaradas (Souleimane Silá, Luxemburgo)



Guiné > Zona leste > Região de Gabu > Piche > Ponte Caium > CCAÇ 3546 (Piche, Ponte Caium e Camajabá, 1972 / 1974) > Reboque de máquinas da TECNIL destruídas por ataque do PAIGC... Esta empresa estava empenhada na construção da nova estrada Piche-Buruntuma.. 

Foto (e legenda): © Carlos Alexandre (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Emblemas de algumas subunidades por onde passou 
o Mamadu Uri Djalõ, que atualmente vive na Amadora.




1. Mensagem do Souleimane Silá, natural de Catiõ, a viver atulamente no Luxemburgo, membro da Tabanca Grande nº 881.

Data - quinta, 12/10/2023, 17:41
Assunto - Pedido de memórias
 

Boa tarde, Sr Luis.


Aceite mantenhas de camarada de blogue.

À pedido dum primo meu,  faço chegar ao nosso blogue de Tabanca Grande a mensagem que segue:

(i) Ele pertenceu a:

Companhia 727;
Cavalaria 1662; 
Comp Caç 1586; 
Pelotão nativo 65;

(ii) serviço militar 1965/68; Pitche/Canquelifa/Buruntuma/Boé;

(iii) do seu nome Mamadu Uri Djaló;

(iv)  actualmente a residir na Amadora, Lisboa. 

E mais; 

(v) ele trabalhou na Tecnil, motorista na construção do aeroporto de Cufar, em 1972.

Ele pede e agradece possibilidade de obter lembranças daquela época (colegas, locais, imagens e demais testemunhos).


Agradecimentos e abraços de
Souleimane SILA, Luxembourg


2. Resposta do editor LG:

Meu caro Souleimane Silá, obrigado pelo teu contacto. Vamos lá a vcr se conseguimos ajudar o teu primo, que é meu vizinho da Amadora (tenho casa em Alfragide, mas vivo agora a 70 km, a norte, na Lourinhã).

Temos referências, no nosso blogue, a todas as subunidades a que pertenceu (?) (ou por onde passou) o Mamadu Uri Djaló. Carrega nos links, tens informação mais detalhada, fotos, contactos, histórias, etc. E também sobre a TECNIL, a empresa de obras públicas que fez todas ou quase todas as estradas da Guiné, além de outros empreendimentos, como aeródromos, etc.

Da  Tecnil temos um topógrafo, o António Rosinha,  que trabalhou, na Guiné-Bissau, no tempo do Luís Cabral e do 'Nino' Vieira  (de 1987 a 1993) (e também fez a tropa e a guerra em Angola). É um dos "históricos" da Tabanca Grande, autor da série "Caderno de notas de um Mais Velho". Vè se o teu primo tem fotos e outras memórias desse tempo em que trabalhou na Tecnil, como motorista, em Cufar, em 1972.

O ideal era o Mamadu Uri Djaló fazer como tu: ingressar no blogue, mandar as duas fotos da praxe (uma do "antigamente", outra mais atual)... E falar um pouco mais sober ele e o seu tempo na Guiné.

Estas subunidades costumam fazer convívios anuais. Talvez o teu primo possa juntar-se a eles num próximo convívio anual, em 2024. Talvez algum antigo camarada de armas consiga reconhecê-lo ao fim destes anos todos, mais de meio século.

Mantenhas para ti e para o teu primo. E continua a dar notícias. Precisamos que faças a ponte com os teus patrícios que foram comnbatentes durante  a guerra colonial.  Não é fácil chegar até eles e eles a nós.

________________

CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66): temos cerca de duas dezenas de referèncviass no blogue (.Carrega no linlk, poderás encontar alguns dos postes.)

CCAÇ 1586, "Os Jacarés" (Piche, Ponte Caium, Nova Lamego, Béli, Madina do Boé, Bajocunda, Copa, Canjadude, 1966/68) (tem uma dúzia de referèncias):

CCAV 1662, "Os Piriquitos" (Nova Lamego e Piche, 1966/68): temos escassas referèncias (menos de meia dúzia);

Pel Caç Nat 65, "Leões Negros" (Piche, Buruntuma, Bajocunda, etc.): tem 13 referèncias;

TECNIL (tem 21 referèncias)-
______________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 4 de setembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23586 Os nossos camaradas guineenses (47): Tala Biu Djaló, ex-alf 2ª linha, cmdt Pelotão de Milícias (Bedanda, 1965/69), e ex-fur graduado 'comando, 1ª CCmds Africanos (Fá Mandinga, 1969/70), desaparecido em Conacri, em 22/11/1970, no decurso da Op Mar Verde (Hugo Moura Ferreira, ex-alf mil, CCAÇ 1621, Cufar, e CCAÇ 6, Bednda, 1966/68)

sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Guiné 61/74 - P23837: Recordando o Amadu Bailo Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015), um luso-guineense com duas pátrias amadas, um valoroso combatente, um homem sábio, um bom muçulmano - Parte XI: Uma equipa inteira do Grupo de Comandos "Fantasmas", destroçada em 28/11/1964, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé - Contabane



Guiné > Brá >  Grupo de Comandos "Fantasmas" > 1964 > Desta equipa do Gr Cmds “Fantasmas” só não morreu. junto do Rio Gobige, na estrada de Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964; o segundo da esquerda. Da esquerda para a direita, o 1º cabo Ferreira, o soldado Carreira, o furriel mil. Artur Pires e os soldados Artur e Godinho.

Foto (e legenda): © João S. Parreira (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
 


 
Guiné > Bissau > Cemitério de Bissau, talhão militar. (onde foram inumados alguns dos comandos do Grupo Fantasmas, mortos em Gobige, em 28/11/1964) , como o Manuel Couto Narciso,  soldado condutor auto comando, natural de Santa Catarina / Caldas da Rainha, ou o Ramiro de Jesus Silva, 1º cabo condutor auto comando, natural de Valongo (Colmeias) / Leiria.

Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2006). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Guiné > Região de Gabu  > Madina do Boé > Imagem aérea de Madina do Boé. Na mata ao fundo fizemos o acampamento. 

Imagem: Cortesia do blogue  Luís Graça e Camaradas da Guiné com a seguinte indicação: “Presumo que a sua autoria seja de Jorge Monteiro (ex-capitão miliciano da CCAÇ 1416, Madina do Boé, 1965/67) ou de Manuel Domingues, ex-alf mil da CCS/BCAÇ 1856, Nova Lamego, 1965/66.”



Guiné > Carta geral da província > 1961 > Escala 1/500 mil > Posição relativa de Madina do Boé e estrada para Gobige e Contabane., na fronteira sul com a República da Guiné.

Infografia: Blogue Luís Grça & Camaradas da Guiné (2022)

 
1. Continuamos a reproduzir excertos das memórias do nosso camarada, já falecido, Amadu Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), membro da nossa Tabanca Grande desde 2010.

A fonte continua a ser o ser o seu  livro "Guineense, Comando, Português" (Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp.), de que o Virgínio Briote nos disponibilizou o manuscrito em formato digital. 

A edição, da Associação de Comandos, com o apoio da Comissão Portuguesa de História Militar, está infelizmente há muito esgotada. E não é previsível  que haja, em breve, uma segunda edição, revista e melhorada. Entretantio, muitos dos novos leitores do nosso blogue nunca tiveram a oportunidade de ler o livro, nem muito menos o privilégio de conhecer o autor, em vida.


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria >
IV Encontro Nacional do nosso blogue >
20 de Junho de 2009... O VB e o Amadu.
Foto: LG (2010)
O nosso coeditor jubilado, Virgínio Briote (ex-alf mil, CCAV 489 / BCAV 490, Cuntima, jan-mai 1965,
 e cmdt do Grupo de Comandos Diabólicos, set 1965 / 
set 1966) fez, duarnte largos meses, com enorme paciência, 
generosidade, rigor e saber, as funções de "copydesk" (editor literário) do livro do Amadu Djaló, ajudando a reescrever o livro, 
a partir dos seus rascunhos.

Recorde-se, aqui o último poste 
desta série (*): demos um salto no tempo, de 1964 para 1970, para  acompanhar  as suas memórias da Op Mar Verde (Conacri, 22 de novembro de 1970). Um ano e tal antes, ele tinha sido selecionado 
para integrar a 1ª Companhia de Comandos Africanos (em formação), comandada pelo cap graduado 'comando' João Bacar Jaló, seu amigo de Catió, e com a supervisão do major Leal de Almeida.  
 
Hoje voltanos ao Gr Comandos "Fantasmas", da Companhia de Comandos do CTIG. O grupo, comandado pelo alf mil comando Maurício Saraiva, parte para Madina do Boé em novembro de 1964. Irá perder 9 dos seus homens..




Capa do livro de Bailo Djaló (Bafatá, 1940- Lisboa, 2015), "Guineense, Comando, Português: I Volume: Comandos Africanos, 1964 - 1974", Lisboa, Associação de Comandos, 2010, 229 pp, + fotos, edição esgotada.




 
Amargas recordações de Madina do Boé:  a tragédia de 28/11/1964, junto ao pontão do rio Gobige 
(pp. 94/105)

por Amadu Djaló (*)



Estávamos em Novembro de 1964. O alferes Saraiva soube,  no QG, que o PAIGC já tinha chegado à zona de Madina do Boé, no sudeste. Que tinham vindo com muitos carros carregados de material até à linha de fronteira, até uma tabanca chamada Boloi Ela, que fica no território da República da Guiné-Conakry, a pouca distância da fronteira com a Guiné Portuguesa.

O alferes ofereceu o grupo para ir para lá, enquanto não houvesse reforços para destacar para aquela zona [1].

Assim, fui a minha casa preparar a roupa interior para levar. Eu não queria despedir-me da minha mãe durante o dia, porque era dia 13 de lunar 
[2]e nós evitamos viagens nos dias 3, 13 e 23 de lunar e também na última 4ª feira de lunar. A partir do dia 21 de lunar temos que evitar as 4ªs feiras, esse espaço de tempo até à lua nova. Nos restantes dias só não devemos sair para viagens nos dias 3, 13 e 23, já que a maioria das separações, nestes dias, seriam para nunca mais, quanto mais ir para a guerra.

Quando o cabo Braima  [Seidi]. me falou da saída, não me senti muito bem. Mas se fosse de noite não fazia mal, podia sair.

Quando cheguei a Brá, encontrei os colegas europeus à nossa espera. Fui a correr pegar na arma e no equipamento e seguimos para o aeroporto, onde estavam cinco avionetas à nossa espera.

Chegámos a Madina entre as 16 e as 17 horas. Estavam todos os homens a fazer a pista para as avionetas poderem aterrar e, como o local e a clareira eram de lapas de pedra e cascalho,  não custou muito fazerem a pista num dia só. Tambor a tocar, os rapazes e homens de meia-idade trabalharam com vontade e, às 16 horas, quando chegámos, não tivemos nenhuma dificuldade em aterrar as cinco avionetas. Depois, também acompanhados com os toques dos tambores, deslocámo-nos para a entrada do aquartelamento.

Depois do alferes Saraiva explicar ao alferes [3], comandante do pelotão de Madina do Boé, sobre a nossa missão, tratámos de arranjar lugar para nós. Não ficámos dentro do “quartel”, fizemos um acampamento numa mata perto, com seis barracas, uma para cada equipa e outra para armazenar os nossos mantimentos.

A ideia era cozinhar dia sim, dia não. Um dia ração quente, outro dia ração fria. E tínhamos programado sair para o mato, também dia sim, dia não.

A população ajudou-nos a fazer as barracas, à entrada de Madina, para quem vem de Dandum. Quando era dia de descanso, dormíamos nas barracas fora do quartel e das tabancas.

Durante a semana, nas saídas que fizemos,  não vimos nem ouvimos nada. O alferes já não tinha confiança nas informações da população local. Num dia à noite, disse-me:

–  Amadu, quero ir contigo e com um guia para a tabanca de Hore Moure, na República da Guiné-Conakry.

 O que é que disse? Está bem, vamos quando quiser!

 Amanhã, Amadu. Não vamos fardados, tomamos emprestadas duas camisas grandes, vestimos como homens grandes Fulas e não vamos com as nossas armas, só levamos granadas ofensivas, duas ou três cada um.

O alferes perguntou-me em quem eu tinha confiança ali. Era a primeira vez que vinha a Madina, mas, quanto a mim, era melhor levar o chefe da tabanca. Tinha mais responsabilidades que os outros.

No outro dia, por volta das 17 horas, seguimos em duas viaturas na direcção de uma tabanca abandonada, Guileje [4] do Boé, e apeámo-nos antes de chegarmos ao local. Depois seguimos a pé até á tabanca e ficámos emboscados até às 23h00 no caminho que vem de Hore Moure.

Nessa altura o alferes comunicou a missão ao grupo. Que os três, ele, eu e Mode Hure[5], íamos fazer uma visita a uma tabanca da República da Guiné, enquanto o grupo se deveria manter emboscado naquela zona, mais ou menos a 500 metros do monte da fronteira.

Que só levávamos granadas e que se tivéssemos contacto com o PAIGC, lançávamo-las e retirávamo-nos na direcção da fronteira e o chefe da tabanca devia fugir sem se preocupar connosco. Para o grupo que ficava emboscado, o alferes disse que se aparecesse algum vulto, que atirassem, porque não seríamos nós. E, se ouvissem rebentamentos das granadas, não contassem com a nossa presença. A comandar o grupo ficou o furriel Artur.

A tabanca para onde íamos,  ficava acima do monte, no nosso idioma Hore Moure, mais ou menos a 2 kms da fronteira, dentro do território da Guiné-Conakry.

Depois de tudo esclarecido iniciámos a marcha em direcção ao sul, com destino ao nosso objectivo. Cerca de 500 metros andados chegámos ao monte de pedra [marco] de fronteira    e, agora daqui para a frente estávamos na República da Guiné-Conakry, disse-nos o chefe da tabanca.

Até aí, Mode Hure seguia à frente, eu ia a seguir e o alferes atrás. A partir dessa altura, o alferes passou à minha frente e disse-nos que se nos apanhassem deveríamos dizer que éramos árabes. Eu disse para mim, sim senhor, meu alferes, sou um árabe que não sabe falar árabe.

A tabanca estava ali à nossa frente. Deixámos o chefe ali e eu e o alferes entrámos. Vimos uma arrecadação de mantimentos, afastada das casas de habitação por causa dos incêndios. Lá dentro, com a lanterna de mão, subimos as escadas, feitas de paus e cana de bambu. Empurrei a porta, não tinha nada, estava vazia. Saímos da arrecadação, com muito cuidado, aproximámo-nos de uma casa, entrei e também não estava lá ninguém. 

Revistámos mais de dez casas, não vimos pessoas [6], só vestígios, maços de cigarro “Nô Pintcha”,  vazios, caixas de fósforos também vazias e muitos restos de cigarros. Não havia nada a fazer, só ir embora dali, sussurrou o alferes. E eu respondi, vou levar esta maca que estava na varanda. Dobrei-a e trouxe-a para eles saberem que tínhamos lá estado.

[ Imagemà esquerda: Marca de cigarros, de fabrico soviético, que eram distribuídos aos guerrilheiros do PAIGC, durante a guerra colonial / luta de libertação. "Nô pintcha", em crioulo, quer dizer Avante!... ]

Foto (e legenda): © Magalhães Ribeiro  (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Regressámos no mesmo caminho em que viemos até que já perto do local da emboscada, o alferes chamou pelo furriel Artur e mandou levantar a emboscada.

Seguimos para uma pequena tabanca, perto do local onde o grupo tinha estado emboscado. O alferes deu três tiros para o ar. Quando lá chegámos,  tinham fugido todos. O lume ainda estava a arder nas casas e, como estava frio, aquecemo-nos. Eram para aí 3 horas, mais coisa menos coisa. O chefe dessa tabanca apareceu, começámos a falar em futa-fula. Dissemos-lhe quem éramos, chamou a população, conversámos com eles e prometemos-lhes segurança.

Ao fim da primeira semana da nossa presença em Madina do Boé, tínhamos recebido uma informação de que um rapaz tinha sido preso pelo PAIGC, no local onde o nosso grupo tinha estado emboscado, Guilege do Boé. O rapaz vinha de Jarga Dongo e ia para Gobige, quando foi preso no cruzamento de estradas que vem de Madina de Boé, paralela à fronteira, até Contabane e Aldeia Formosa e passa por Gobige.

Vivia em Gobige com a irmã e o cunhado. Quando o pessoal do PAIGC lhe perguntou quem era, de onde vinha e para onde se dirigia, ele disse que vivia com a irmã e o cunhado, Jarga Bora, que, viemos a saber depois, era um colaborador clandestino do PAIGC.

Quando soubemos desta história enviámos um recado ao rapaz para ele vir falar connosco, e que viesse acompanhado pelo cunhado Jarga Bora. Passados vários dias, nem vieram nem tinham dito nada.

Contactámos o chefe da tabanca e dissemos-lhe que precisávamos de alguém que fosse a Gobige, dizer ao Jarga Bora que ainda estávamos à espera da resposta. E, que se não viesse, íamos nós lá. O chefe arranjou-nos um rapaz e quando chegámos à estrada vimos três homens de bicicleta. Como já nos conheciam, pararam e cumprimentámo-nos. Disseram que iam para Gobige. Então, já não precisávamos do rapaz, agradecemos-lhe e mandámo-lo regressar à tabanca. E aos homens que encontrámos na estrada pedimos-lhes que dessem o nosso recado ao Jarga Bora. Passados poucos minutos, chegaram as nossas viaturas e regressámos a Madina.

O dia e a noite estavam destinados ao nosso descanso, mas o alferes estava preocupado com a população de Dandum, que estava sem segurança na linha da fronteira, e disse-nos que seguíamos para lá ainda nesse dia e que regressávamos no dia seguinte.

Fomos então para Dandum e regressámos a Madina na manhã do dia seguinte [7]. Era dia de ração quente. Logo pela manhã, eu e o cabo Braima fomos a Dandum comprar quatro cabritos para o grupo, regressámos à nossa cozinha e quando começámos a tratar deles chegou o Mode Hure, o chefe da tabanca de Madina do Boé, acompanhado de Jarga Bora e do tal rapaz que tinha sido aprisionado pelo PAIGC. 

Quando o Alferes Saraiva chegou, vindo da loja do senhor Campos [8], informei-o do que o Jarga Bora me tinha acabado de contar. Que tinha encontrado uma caixa pequena que estava dentro de um buraco cavado na estrada onde passava roda de carro. O alferes disse logo, é mina, vamos lá levantar.

 Tu, Amadú, não vais, ficas a cozinhar.

Fiquei com uma equipa, os restantes foram todos. Passada uma hora, mais ou menos, vieram com a mina, todos a cantar. O alferes levantou 500 escudos, pagou a Jarga Bora e aproveitou para lhe pedir toda a colaboração.

No fim do almoço fui com o alferes no Unimog pequeno, para Dandum a casa do meu primo, Iaia Djaló, que vivia na tabanca e era o homem mais rico de toda a zona. Estivemos com ele até às 17h00, voltámos para Madina e quando estávamos a chegar, o Mode Hure, acompanhado de Jarga Bora, de Gobige, fez sinal para pararmos. Disse-nos o que o Jarga Bora nos queria pedir que o levassem a Gobige, porque tinha medo de regressar a pé. E o alferes, como ele nos tinha avisado da mina, disse a Mode Hure que ia pedir um carro maior no quartel, para levar escolta. Ficou assente que, em vez desta noite, partiríamos no dia seguinte de manhã, porque já não descansávamos há três noites.

Então, nessa manhã [9], o alferes disse ao furriel Artur que íamos dar um passeio a Gobige e que perguntasse ao pessoal quem queria ir, porque não valia a pena ir o grupo todo.nPreparámos duas viaturas. O alferes mandou o Jarga Bora e a mulher subirem para um Unimog 404 e depois distribuiu os nossos quinze homens pelas duas viaturas, quatro na viatura da frente, um Unimog 411, e onze na outra.

Saímos alegremente, vi o furriel Artur a cantar e fomos até Gobige. Quando chegámos, o homem ofereceu-nos um cesto grande cheio de laranjas. Depois de muita conversa, a certa altura, o alferes disse:

 Bem, vamos embora.

Mas o Jarga estava muito falador, não se calava. Só por volta das 13 horas arrancámos de regresso. A primeira viatura, a mais pequena, levava cinco homens e a segunda doze, contando com os condutores.

Duzentos ou trezentos metros andados ouvi um rebentamento [10] atrás de nós,
o alferes gritou “mina” e, quando saltei vi a viatura ainda no ar, colegas a cair, o depósito da gasolina a rebentar, a gasolina a sair, a arder para cima deles.

Entrámos no fogo também e arrastámos os companheiros. Não podíamos fazer muito mais.

 Amadú, toma conta disso    disse o alferes.

Enquanto ele e o condutor arrancavam no outro Unimog a toda a velocidade para Madina, a cerca de 30 e tal kms, pedir auxílio, eu, o António Kássimo e o Aquino [11], três soldados, ficámos ali a fazer o que podíamos. Passados uns minutos, o Carreira [12] despertou onde tinha caído e passámos a ser quatro, dois negros e dois brancos, a tomar conta da situação.

Jarga Bora e a população da tabanca observavam a cena. Jarga aproximou-se, perguntou-me pelo alferes e eu perguntei-lhe se ele tinha vindo ali para dar informações ao PAIGC. Foi-se embora, desapareceu com a população atrás.

Continuámos a tratar dos nossos feridos. Quatro soldados com dez companheiros deitados, dois dos quais carbonizados, o furriel Artur[13] e o cabo Ramiro [14].

O alferes tinha-me dito que se demorasse muito, devíamos recolher as armas e esconder-nos com elas no mato. Para quem vem de Gobige e vai para Madina do Boé, o capim e a montanha ficam à esquerda, do outro lado era uma mata cerrada.

Nem meia hora depois do rebentamento, o Kássimo ouviu alguém chamar pelo alferes. Entrámos no capim alto, cobria-nos, e depois de procurar encontrei o Ferreira sentado. Tinha sido projectado a mais de 10 metros. Eu não vi nada de ferimentos e perguntei-lhe o que tinha.

–  Amadu, os meus pés!

Olhei, eram esqueletos. Do joelho ao tornozelo ficou sem carne, só osso branco e do tornozelo para os pés, nada, tinha desaparecido tudo. O Aquino e o Carreira ajudaram-me a levá-lo para a beira dos outros camaradas moribundos e dos dois mortos carbonizados que, na altura, tínhamos. À nossa guarda estavam, nessa altura, dois mortos e sete feridos, todos muito graves. Continuámos a acudi-los no local. Um local de grande risco, uma autêntica terra de ninguém, horas à espera da escolta de socorro que vinha de trinta e tal kms. Estávamos sem rádio e em Madina só ficariam a saber do acontecido quando lá chegasse o alferes.

Estivemos sempre à espera que o PAIGC nos atacasse. Para mim, isso não aconteceu porque o Jarga Bora tinha muitas famílias a proteger e, se nos atacassem, com certeza as NT destruiriam a tabanca e os mantimentos para todas as famílias. Penso que foi ele, o Jarga, que pediu para não nos atacarem.

O terreno também não nos era favorável. Nós estávamos na berma da estrada, perto do local da mina. À nossa direita era uma mata cerrada, nem se via o sol, um atirador podia aproximar-se à queima-roupa sem dificuldade e eliminar-nos a todos. À nossa esquerda estava com capim muito alto, maior que a altura de um homem.

O Ferreira perguntou quando é que vinha o helicóptero. Pedi-lhe para ter calma que o alferes tinha ido tratar disso, que podia chegar a qualquer momento. Todos os feridos tinham queimaduras grandes, menos o Ferreira e nós não podíamos tirá-los do local. Até à chegada da coluna de socorro, já estava escuro, passava das 19h30, tinham morrido mais dois companheiros, o cabo Ferreira [15] e o soldado Godinho [16].

Quando o médico [17] mandou dar água a todos, o condutor morreu, mal acabou de beber. O cabo Braima Seidi, quando iniciámos a viagem de regresso, também morreu. Entrámos em Madina do Boé com quatro feridos graves [18] e oito [19] mortos, sete europeus e um guineense.

O alferes disse-me que falasse com o régulo e lhe pedisse cinco homens para me ajudarem a tomar conta do acampamento e do nosso material. Que de manhã tirávamos as nossas coisas. Passei lá a noite com esses homens. Quando, na manhã seguinte, regressei a Madina, os mortos e os feridos já tinham sido evacuados. Alguns foram para o Gabú e dali no Dakota para Bissau.

Ficámos três praças e o alferes. Uma Dornier 
 [DO-27]  foi-nos buscar e trouxe-nos para Bissau.

Nunca esquecerei o passeio a Gobige, como lhe chamou o alferes. Para nós, muçulmanos, evitamos ir de viagem nos dias 3, 13, 23 e na última quarta-feira de lunar, quanto mais ir para a guerra! São dias negros e aquela viagem realizou-se no dia treze de lunar.

Dois dias [20] depois realizou-se a cerimónia do funeral, na Sé de Bissau. Aos corpos dos Comandos, ainda se juntaram mais dois, de um furriel e de um milícia, que tinham morrido num ataque a Guilege.(***)

Não me posso esquecer do ambiente que pairou no enterro, a tristeza dos amigos e companheiros e o ar de satisfação que se via em alguns presentes na cerimónia.

A seguir descansámos uma semana.

(Continua)

___________

Notas do autor e do editor literário:

[1] Nota do editor: o Comandante do CTIG Brigadeiro Sá Carneiro tinha determinado o imediato destacamento “para Madina do Boé, em reforço do BCaç 506”, de um pelotão da CCaç 727, tendo aquele pelotão ficado instalado em Madina do Boé a partir de 18 de novembro de 1964, sob o comando do alferes miliciano António Angelino Teixeira Xavier.

[2] Diz-se 1º ou 2º dia de lunar, conforme se trata do 1º ou do 2º dia da lua, após o novilúnio. As noites não contam, só os dias.

[3] Nota do editor: alferes miliciano infantaria António Figueiredo Pinto que pertenceu à 3ª Companhia de Caçadores, em Nova Lamego, e aos BCaç 506 e 512 e BCav 705, todos sediados em Bafatá. (**)

[4] Guileje de Madina do Boé.

[5] Mode é senhor. Para nós, Futa-Fulas, quando um homem é respeitado, a partir de 20 anos de idade, ninguém o chama sem dizer Mode.

[6] Casas que estavam habitadas durante o dia. À noite, como o local era desprotegido, o PAIGC abandonava a tabanca. Esta informação foi-nos prestada, mais tarde, por um rapaz.

[7] Nota do editor: 27 de  novembro de 1964.

[8] Europeu casado com uma negra africana e que tinha uma loja onde comerciava tudo o que podia.

[9] Nota do editor: sábado, 28 de novembro de 1964.

[10] Junto a uma passagem de cascalho sobre o rio Gobige.

[11] Nota do editor: soldado António Aquino de Sousa

[12] Nota do editor: soldado António de Jesus Carreira

[13] Nota do editor: furriel miliciano Artur Pereira Pires

[14] Nota do editor: 1º cabo Ramiro de Jesus Silva

[15] Nota do editor: 1º cabo António Joaquim Vieira Ferreira.

[16] Nota do editor: soldado João Ramos Godinho.

[17] Nota do editor: Dr. Luiz Goes.  (****)

[18] Nota do editor: destes, o soldado comando Artur Mateus Martins, foi evacuado em 30 de novembro de 1964 do HM 241, Bissau, para Lisboa, HMP, onde veio a morrer em 8 de dezembro de 1964.

[19] Soldados José da Rocha Moreira, Manuel Coito Narciso, furriel mil. Artur Pereira Pires, 1ºs cabos Ramiro de Jesus Silva, António Joaquim Vieira Ferreira e Braima Seidi e soldados João Ramos Godinho, todos dos “Comandos” e o soldado condutor Eugénio Campos Ferreira, pertencente á CCS / BCaç599, que se voluntariou para levar a viatura.

[20] Nota do editor: o funeral realizou-se em 30 de novembro de 1964, na presença do Governador, tendo o cortejo fúnebre, com os féretros transportados individualmente em camiões Mercedes, saído da capela militar de Santa Luzia para o cemitério da cidade, onde ficaram sepultados.

[Seleção / Revisão e fixação de texto / Negritos / Parênteses retos com notas / Subtítulos: LG]

____________

Notas do editor:

(**) Vd. postes de:

4 de fevereiro de  2007 > Guiné 63/74 - P1493: Estórias de Madina do Boé (António Pinto) (2): Eu e o Furriel Comando João Parreira

20 de Dezembro de 2006> Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

(***)  O grupo de Comandos Fantasmas perderam 9 homens na região de Madina do Boé, antes de serem extintos: 8 homens em 28 de novembro de 1964 (junto do Rio Gobije, na estrada Madina do Boé para Contabane, a oeste); 1 homem em 8 de dezembro de 1965:

António Joaquim Vieira Pereira, 1º cabo corneteiro comando, natural de Santa Leocádia / Baião, inumado no cemitério de Santa Leocádia, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;


Artur Pereira Pires (foto à direita), furriel miliciano comando, natural de S. Sebastião da Pedreira / Lisboa, inumado no cemitério da Ajuda em Lisboa, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;

Braima Seidi, 1º cabo comando,  natural de Buba / Fulacunda, inumado no Cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;


Eugénio Campos Ferreira (foto à esquerda), soldado condutor auto comando, natural de Vila Frescaínha (São Pedro) / Barcelos, e inumado no cemitério de Vila Frescaínha, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;


João Ramos Godinho (foto à direita), soldado condutor auto comando, natural de Valverde / Coruche, e inumado no cemitério de Coruche, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;

José da Rocha Moreira, soldado condutor auto comando, natural de Arcozelo / Vila Nova de Gaia, inumado no cemitério de Arcozelo, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;

Manuel Couto Narciso, soldado condutor auto comando, natural de Santa Catarina / Caldas da Rainha, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;

Ramiro de Jesus Silva, 1º cabo condutor auto comando, natural de Valongo (Colmeias) / Leiria, inumado no cemitério de Bissau – Guiné, tombou em contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane, em 28 de novembro de 1964;


Artur Mateus Martins (foto à direita), soldado cozinheiro comando, natural de Olhão, inumado no cemitério do Alto de S. João - Lisboa, faleceu, no Hospital Militar Principal (Lisboa), em 8 de dezembro de 1964, vítima de ferimentos recebidos em combate em 28 de novembro de 1964, no contacto com o IN, junto do Rio Gobige, na estrada Madina do Boé para Contabane.


(****) Vd. poste de 19 de setembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10406: Evocando a trágica emboscada com mina, de 28 de novembro de 1964, em Madina do Boé, que vitimou 7 camaradas da equipa de comandos Os Fantasmas, alguns dos quais morreram nas mãos do alf mil médico Luiz Goes (1933-2012) e do alf mil António Pinto

Vd. também poste de 20 de dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1384: Com o Alferes Comando Saraiva e com o médico e cantor Luiz Goes em Madina do Boé (António de Figueiredo Pinto)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Guiné 61/74 - P19299: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (111): "Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês" (Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos; neta do nosso camarada José Alves Pereira, CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66)





1. Mensagem de Adelise Azevedo, de 14 anos,  luso-francesa, filha de Isabel Pereira, neta de José Alves Pereira, ex-militar da CCAÇ 727, família que vive no norte de França, junto à fronteira com a Bélgica, em Wattrelos:

Bom dia Senhor Luis Graça,

após a entrega dos diplomas e boletins de notas em novembro, eu queria agradecer a vocês todos de me ter ajudado no meu projeto. (*)

Eu tive 90/100, os membros do júri apreciaram minha escolha de projeto. Era uma professora de História/Geografia e uma professora de Francês. A professora de Francês conhecia as obras do Senhor Mário Beja Santos, as duas ficaram emocionadas com a história dos combatentes da Guinée e a história de meu Avô.

Estou muito feliz com a minha nota e foi graças a vocês.

Aproveito para lhe desejar boas festas de fim de ano.

Beijinhos para todos.

Adelise

2. Comentário do nosso editor LG:

Querida Adelise, mamã Isabel e vôvô Pereira:

Mas que bela prenda de Natal!...A Adelise não pára de nos surpreender... E vemos que tem por detrás um grande família que é farol e porto de abrigo... 

Ficamos felizes por saber que o TPC ("Trabalho Para Casa") (sobre a guerra da Guiné, de 1961 a 1974) está feito e  a Adelise teve uma excelente nota. E vem agora mostrar a sua gratidão pela nossa modesta ajuda

A gratidão é um dos mais nobres sentimentos humanos. Ficamos sensibilizados pelo gesto da nossa amiguinha.  Aqui fica também o agradecimento dos editores do blogue aos nossos vários camaradas (Mário Beja Santos, José Martins, Manuel Luís Lomba, Virgílio Teixeira, António J. Pereira da Costa, Carlos Vinhal...) que responderam ao gentil pedido de ajuda da nossa "neta" Adelise... (Ela entende o português, mas escreve com a ajuda da mãe, Isabel Pereira.)

Deste nosso feliz encontro, fica uma marca (sob a forma de postes publicados). Mas gostaríamos também que o nosso camarada José Alves Pereira, avô da Adelise, que pertenceu à CCAÇ 727, ficasse mais tempo connosco, integrando formalmente a nossa Tabanca Grande... Bastaria, para tanto,  que a filha Isabel ou a neta Adelise nos mandasse duas fotos dele, uma do tempo da Guiné e outra atual, com uma pequena apresentação da sua pessoa... Sabemos que felizmente está vivo e já se tem encontrado, em Portugal, com os seus antigos camaradas de armas. 

Vou pedir também ao Manuel Luís Lomba, de Barcelos, que nos ajude no "acolhimento" deste nosso camarada. O Manuel Luís Lomba foi fur mil da CCAV 703/BCAV 705 (Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66), é da mesma altura do avô da Adelise, e também passou pelo Leste.

Sabemos que a CCAÇ 727 (Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), só teve um comandante, o já falecido cap inf Joaquim Evónio Rodrigues Vasconcelos, e sofreu 18 mortos na guerra... Infelizmente não temos aqui ninguém que a represente.  Com a entrada do avô da Adelise, os bravos da CCAÇ 727 ficarão mais perto do coração de todos nós. (**)

 ____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné

(...) Bon dia, Senhor Luis Graça,

Meu nome é Adelise Azevedo, sou a neta do Senhor José Alves Pereira (CCAÇ 727). Tenho 14 anos e estou no Colégio "Saint Joseph La Salle" em Wattrelos, no norte da França, perto da fronteira belga.

Eu tenho que preparar um exame chamado "Passeurs de Mémoires" ("Passadores de Memórias") para o mês de maio de 2018. Eu escolhi de falar sobre a guerrilha na Guiné de 1963 a 1974.

Tenho sorte de ter o testemunho do meu avô, mas você poderia, por favor, me enviar documentos, fotos ... deste período da história da Guiné e de Portugal e me comunicar títulos de livros, documentários ...

Com antecedência, agradeço sua ajuda.

Atenciosamente, delise Azevedo (...)



Vd. também postes de:

15 de março de  2018 > Guiné 61/74 - P18420: Consultório militar do José Martins (35): elementos para a história da CAÇ 727 (Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66), que teve 18 mortos em campanha, incluindo o alf mil inf António Angelino Teixeira Xavier, natural de Carrazeda de Montenegro, Valpaços

segunda-feira, 19 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18437: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (53): agradecimento da nossa "neta" luso-francesa de Wattrelos, Adelise Azevedo, a todos quantos a estão a ajudar no seu trabalho escolar sobre a nossa guerra...

1. Duas mensagens, em português e francês,  da nossa "neta", luso-francesa, Adelise Azevedo, que mora em Wattrelos, na fronteira com a Bélgica (*):


(i) Data: 19 de março de 2018, 16h38

Bonjour Monsieur Luis Graça,

Je vous remercie pour vos félicitations qui me vont droit au cœur. Mes racines sont très importantes à mes yeux et je suis très fière d’être portugaise.

C’est vraiment très gentil de votre part de m’aider dans mon projet. J’espère aussi que Madame Fourrier saura apprécier mon travail et qu’elle m’attribuera une bonne note.

Encore un grand MERCI pour tout ce que vous faites pour moi.

Bisou pour vous et une bonne journée.

Adelise

Bom dia Senhor Luis Graça,

Agradeço-lhe dos seus parabéns que me vão direito ao coração.

Minhas raízes são muito importantes para mim e estou muito orgulhosa de ser portuguesa.

É realmente muito gentil da sua parte de me ajudar no meu projeto. 
Espero também que a minha professora a Sra. Fourrier apreciará o meu trabalho 
e que ela me dará uma boa nota.

Um grande OBRIGADO por tudo o que você faz para me ajudar.

Beijinhos para você e um bom dia.
Adelise

(ii) Data: 19 de março de 2018 às 17:06


Bom dia Senhor Luis Graça,

Estou muito alegre de ver que a minha ideia de trabalho é apreciada pelos antigos combatentes da Guiné.

Vou entrar em contato com o Senhor Virgilio Ferreira para pedir sua ajuda e agradecer-lhe por seu interesse do meu pedido.

Eu vou me conectar no seu blog para ver todas as fotos do Senhor Virgilio Ferreira.

Sua ideia de gravação ou filmagem é uma boa ideia, é uma boa maneira de ter uma lembrança com o meu avô. Obrigado por partilhar a ideia dos momentos que você gravou com seu pai, que também viveu um tempo terrível.

Comprei o livro de Gérard Chaliand, "La pointe du couteau",  que aconselhou-me o Senhor Mario Beja Santos. Este é um livro interessante, é o testemunho de Gerard Challiand, que passou mais de vinte anos da sua vida em 75 países da África (incluindo a Guiné), Ásia e América.

Meu avô lembra se muito bem do capitão dele, o Senhor Joaquim Evónio Vasconcelos.

Em relação a Joaquim Esteves Ferreira, meu avô já o viu diversas vezes. Meu avô esteve presente no encontro anual dos antigos combatentes em Barcelos. É sempre com grande emoção que o meu avô fala sobre o Senhor Joaquim Esteves Ferreira.

Eu vou mantê-lo informado sobre o resto do meu trabalho.

Obrigado pela sua ajuda, sem você, eu não teria tido todos esses elementos de trabalho.

Beijinhos para você e também para o Senhor Virgilio Ferreira.

Adelise

Bonjour Monsieur Luis Graça,

Ça me fait vraiment plaisir de voir que mon idée de travail est appréciée 
par les anciens combattants de Guinée.

Je vais contacter Monsieur Virgilio Ferreira pour lui demander son aide 
et le remercier de son intérêt envers ma demande.

Je vais me connecter sur votre blogue 
pour voir toutes les photos de Monsieur Virgilio Ferreira.

Votre idée d'enregistrement ou de filmer est une très bonne idée, 
c'est un bon moyen d'avoir un beau souvenir avec mon grand-père. 
Merci d'avoir partagé l'idée des moments que vous avez gravés avec votre papa, 
qui a connu aussi une période terrible. 

J'ai acheté le livre « La pointe du couteau » de Gérard Chaliand 
que m'a conseillé Monsieur Mario Beja Santos. 
C'est un livre intéressant, c'est le témoignage de Gérard Challiand 
qui a passé plus de vingt ans de sa vie 
dans 75 pays d'Afrique (dont la guinée), d'Asie et d'Amérique.

Mon grand-père se souvient très bien de son capitaine Joaquim Evónio Vasconcelos.

Concernant Monsieur Joaquim Esteves Ferreira 
mon grand-père l'a déjà rencontré plusieurs fois. 
Mon grand-père était présent à la rencontre annuelle des anciens combattants à Barcelos.

C'est toujours avec beaucoup d'émotion que mon grand-père parle 
de Monsieur Joaquim Esteves Ferreira.

Je vous tiens informé de la suite de mon travail.

Merci de votre aide, sans vous je n'aurais pas eu tous ces éléments de travail.
Bisou à vous et à également à Monsieur Virgilio Ferreira.
Adelise

_____________

Nota do editor:

Último poste da série > 18 e março de 2018 >  Guiné 61/74 - P18430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (52): Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727 (Manuel Luís Lomba)

Guiné 61/74 - P18435: In Memoriam (311): Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938 - Lisboa, 2012): foi comandante da CCAÇ 727 (1964/66) e da CCAÇ 2316 (1968/69)...Foi também poeta e escritor.




Academia Militar > "O meu instrutor de educação física no 3º ano... Era um atleta e desportista completo... Voltaríamos a encontrarmo-nos na Guiné"...

Fotos(e legenda): © António J. Pereira da Costa (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem, com data de ontem,  do nosso grã-tabanqueiro, cor art ref António J. Pereira da Costa, cor art ref (ex-alf art, CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-cap art e cmdt, CART 3494/BART 3873, Xime eMansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74):

Olá, Camaradas

Aqui vão duas fotos do atleta Ivónio Vasconcelos.

Creio que poderão interesse para "neta" do blog  [Adelise Azevedo, filha de Isabel Pereira, neta de José Alves Pereira, ex-militar da CCAÇ 727, família que vive no norte de França, em Wattrelos]

O Cap Ivónio Vasconcelos foi meu instrutor de educação física na 3º ano da Academia Militar.

Era um atleta e um desportista completo. De uma resistência física muito acima da média.

Voltei a encontrá-lo em Cacine em março de 1968 quando passou com a sua companhia para Mejo. Depois pisou uma mina A/P [em 28 de agosto de 1968]  e ficou inapto para a vida militar e fez-se poeta. (*)

Um Ab.

António Costa

2. Comentário do nosso editor LG:

Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos (Funchal, 1938- Lisboa, 2012): antigo comandante da CCAÇ 727 (Canquelifá, out 1964/ ago 66), subunidade que teve 18 baixas em campanha.

Seria gravemente ferido em combate em 1968, na área de Mejo/Guileje, quando comandava a CCaç 2316, então responsável pelo subsetor de Guileje.

Na sequência do seu ferimento em combate, dedicou-se à poesia e à escrita. Era um grande cultor da língua portuguesa.  Em 1 de junho de 1972, foi agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distuntos com Palma, passando à situação de reserva extraordinária.

Reformou-se como coronel de infantaria. (**)

Imagem, à direita, da sua página pessoal, www.joaquimevonio.com, alojada no Sapo, e que já não está disponível. 

Sobre estas duas subunidades, mobilizadas para o CTIG, e comandandas pelo cap inf Joaquim Evónio Vascocnelhos, recorde-se  seguinte:

(i)  CCaç 727 (1964/66): foi mobilizada pelo RI 16, partiu para o TO da Guiné em 6/10/1964 e  regressou em 7/8/66; passou por Bissau, Nova Lamego. Canquelifá, Piche; só teve um comandante, o Cap Inf Joaquim Evónio Rodrigues de Vasconcelos

(ii) CCaç 2316 / BCAÇ 2835 (Bissau, Nova Lamego, 1968/69). Unidade de mobilização: RI 15. Partida: 17/1/68. Regresso: 4/12/69. Localização: Bissau, Bula, Mejo, Guileje, Gadamael, Bissau.

(**) Último poste da série > 5 de janeiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18177: In Memoriam (310): Álvaro Andrade de Carvalho (Lourinhã, 14/8/1948 - Lisboa, 4/1/2018): médico, psiquiatra, gestor de saúde, meu conterrâneo, meu condiscípulo, meu amigo de infância, meu amigo para sempre... O funeral é no sábado, às 14h00, na sua terra natal (Luís Graça)

domingo, 18 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18430: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (52): Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727 (Manuel Luís Lomba)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 17 de Março de 2018, evocando a sua estada no Leste da Guiné no tempo da CCAÇ 727 do avô da nossa pequena amiga Adelise Azevedo:


Evocação da minha guerra no Leste da Guiné, para uso da jovem luso-francesa Adelise Azevedo, pela sua dedicação à memória da saga de combatente do seu avô, José Alves Pereira, da CCaç 727

A guerra independentista transformara a atractiva, acolhedora e então Guiné Portuguesa numa filial do inferno, Salazar e Amílcar Cabral os seus diabos…

Fui (e continuo a ser) camarada militar do teu avô: partilhámos das mesmas atribulações da guerra, no leste dessa ex-colónia do Império Português.

A Companhia de Caçadores 727 a que pertenceu o teu avô foi para o sector de Nova Lamego (actual Gabú) em princípios de 1964 e o meu batalhão (Batalhão de Cavalaria 705) foi em Maio do mesmo 1964. Amílcar tinha desencadeado a luta na Frente Leste, uma região de savana, e o PAIGC, reforçado com pára-quedistas da base de Kandica, do exército regular da Guiné-Conacri, a 1,5 km da fronteira de Buruntuma, manobrava à maneira de exército e com muito à-vontade, praticamente só importunados pela Força Aérea.

A minha Companhia de Cavalaria 703 foi largada em Nova Lamego, numa ponte aérea de 2 aviões Dakota, em missão de “intervenção às ordens do Comando-Chefe”, já a CCaç 727 e o teu avô penavam, em quase isolamento, por Canquelifá, Piche e Camajabá; depois de termos cumprido conjuntamente a missão de conter e refrear o ímpeto do PAIGC, a minha CCav 703 e eu fomos penar para Camajabá e Buruntuma.

A nossa primeira operação conjunta foi assim: a CCaç 727 mandou um pelotão (cerca de 30 elementos) em 2 Unimogs a Nova Lamego; fizera constar uma missão de reabastecimento, mas era um ardil, o PAIGC caiu nele e investiu toda essa força numa grande emboscada no itinerário Piche-Canquelifá, convencido que o aniquilaria, no seu regresso.


 Itinerário Piche-Canquelifá - © Infogravura Luís Graça & Camaradas da Guiné

Naquela noite reuniu-se-nos em Nova Lamego um grupo de combate do Batalhão de Cavalaria de Bafatá, creio que era o “Sete de Espadas”, dotado de uma autometralhadora Fox e um granadeiro White, formou-se uma força de combate de cerca de 150 amadurecidos operacionais e um comboio de viaturas, que foi escoltar o regresso dessa malta a Canquelifá, com a autometralhadora a encabeçar a coluna e o granadeiro a fechar-lhe a retaguarda.

Um bazuqueiro do PAIGC surgiu no eixo da via, disparou frontal à Fox, matou o seu condutor, quase lhe invertendo o sentido da marcha, foi logo cortado a meio pelo apontador da sua metralhadora 12.7, que continuou a varrer a zona, seguiu-se meia-hora de inferno de rajadas, explosões de granadas de mão e de RPG, visando o blindado e o camião que se seguia; mas o comandante da emboscada não se havia apercebido da dimensão da coluna (creio que seria o nosso ex-camarada Domingos Ramos, herói nacional da Guiné-Bissau) e a tropa infligiu-lhe uma implacável derrota, por uma rápida manobra de contra-emboscada.

O rebentamento das granadas dos bazuqueiros da tropa fazia saltar boinas vermelhas acima do capim, que pertenceriam aos pára-quedistas da Guiné-Conacri; a gritaria dos dois lados foi medonha; a manobra da exploração do sucesso foi diferida; e a Força Aérea encarregou-se de “acompanhar” a sua retirada de vivos, mortos e feridos, até além fronteira. Dizia-se que, a partir desse confronto, o presidente da Guiné-Conacri proibiu os seus militares de voltar a pisar a linha de fronteira.

A ressaca estava terminada e na valeta encontrou-se um atónito guerrilheiro, a tentar desencravar a sua Kalash, que se identificou como ex-soldado e filho de um régulo de Farim e como guerrilheiro por coerção; deu um bom faxina da messe dos Oficiais e a tropa promoveu-o a primeiro-cabo.

O pelotão e os 2 Unimogs regressaram a Canquelifá e a tropa da escolta regressou a Nova Lamego, com um morto e alguns feridos.

Esta narrativa é uma síntese do contado pelos camaradas intervenientes, porque não participei nessa operação: eu e a minha secção fomos destacados a fazer segurança à famigerada jangada do Ché-Ché.



Guiné > Região do Boé > Rio Corubal > Cheche > 6 de fevereiro de 1969 > A famigerada jangada que servia para transporte de tropas e material, numa  das últimas travessias, aquando da retirada de Madina do Boé. 

A foto, histórica, é do comandante da Op Mabecos Bravios, o então cor inf Hélio [Augusto Esteves ] Felgas (1920-2008). Reproduzida com a devida vénia de Camões - Revista de Letras e Culturas Lusófonas, n.º 5,  abril-junho 1969, pág. 15 (publicação editada pelo Instituto Camões; o n.º 5, temático, foi dedicado ao "25 de Abril, revolução dos cravos).

 
Entre Maio de 1965 e Maio de 1966, desenvolvemos grande actividade operacional em conjunto, pela região de Canquelifá, Madina do Boé, Buruntuma e ao longo do rio Piai, na fronteira Senegal/Guiné-Conacri, o corredor por onde o PAIGC infiltrava guerreiros e os reabastecimentos para as frentes leste e norte; numa delas, que não nos correu muito bem, tivemos o reforço do Grupo de Comandos “Os Diabólicos”, comandados pelo camarada Virgínio Briote, co-editor do nosso blogue.


Guiné > Brá > Setembro de 1965 > Grupo Comandos Diabólicos, completo, em frente à camarata do Grupo. Ao centro, na 1.ª fila, o 6.º a contar da esquerda, o comandante do grupo, alf mil Virgínio Briote. Na ponta direita, de pé, o srgt mil Mário Valente. Na 2.ª fila, de fé, na extrema direita, o 1.º cabo Marcelino da Mata.

Na altura, nos nossos meios constava as quadrículas de Canquelifá e de Buruntuma, na área de comando de Domingos Ramos, como as mais violentadas e desassossegadas do dispositivo militar da Guiné, em paralelo com as de Guileje e Bedanda, na área de comando de Nino Vieira.

Rendo homenagem à malta da CCaç 727: mocidade fixe, hospitaleira, generosa e soldados de comprovada valentia; em dever, recordo que as nossas escoltas, no regresso de reabastecimentos a Nova Lamego, Bafatá ou Bambadinca faziam sempre alto em Piche: esperavam-nos uma cerveja fresca, um pão quente de excelente qualidade e palavras de incentivo, antes de nos fazermos, com o coração em altas palpitações, ao troço dessa “estrada do Vietname”, até Buruntuma, que era uma sementeira de minas anticarro e antipessoal.

Mas a CCaç 727 era também desafortunada, comparativamente à CCav 703; dizia-se que “por cada tiro cada morto ou ferido”. Nos dois anos que levamos de permanente actividade operacional, teve 18 mortos enquanto a nossa apenas 1 – e estava adido (em Cufar). Influência dos seus comandantes e das suas idiossincrasias?

Na altura conheci o comandante da CCaç 727, então capitão de Infantaria Evónio de Vasconcelos, alma de poeta e oficial de tratamento lhano, já falecido, que virá a ser um influente “capitão”, nos sucessos do 25 de Abril e de 25 de Novembro.

O Comandante da CCav 703 era o então Capitão de Cavalaria Fernando Lacerda, oficial de vocação, personalidade sólida, tinha feito uma comissão na Índia, fez essa e outra na Guiné, foi Comandante da PSP de Moçambique e comandou a segurança à construção da barragem de Cabora-Bassa, despediu-se cedo do activo, mas não se despojou do espírito da Cavalaria; está vivo e recomenda-se.

Quando comandei o destacamento de Camajabá, em Abril/Maio de 1966, interagi com o alferes que comandava o destacamento da CCaç 727, na Ponte Caium, um lisboeta muito prestável, cujo nome não me recordo.

Talvez tenha sido monitor do malogrado alferes da 727, António Angelino Teixeira  Xavier, na 1.ª recruta de 1964, em Janeiro e Fevereiro, no RI 13, Vila Real.

********************

PS - Se a Adelize (ou a mãe, Isabel Pereirea) me comunicar o endereço postal, terei o gosto de lhe enviar, pelo correio,  o livro sobre a guerra da Guiné, da minha autoria, como oferta. [Imagem da capa, à direita]
___________

Nota do editor

Último poste da série de 16 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha?

sexta-feira, 16 de março de 2018

Guiné 61/74 - P18422: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (51): O nosso camarada Virgílio Teixeira (ex-alf mil, SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) propõe-se ajudar a jovem luso-francesa Adelise Azevedo, de 14 anos, com materiais para o seu trabalho de EPI sobre "La guerilla en Guinée (1963/74)"... E quem mais pode dar uma mãozinha ?


Guiné > Região de Gabu > Nova Lamego > Sector L3 > CCS/BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) > Fevereiro de 1968 > O alferes mil Azevedo, alentejano de Évora, com o seu boné, à porta da sua Tabanca (a que eu chamava a Tabanca dos Morteiros), e eu a conduzir o seu jipe, pois ele tinha direito a essa mordomia: Era ‘El Comandante’!... Também tive umas lições de condução neste jipe... A rua chamava-se General Arnaldo Schulz. O Azevedo era o comandante do Pel Mort 1200 ou 1200 e qualquer coisa, já não posso precisar. Tivemos lá cinco meses juntos e fizemos uma bela amizade. Depois eu segui para São Domingos, na região do Cacheu.

[Segundo o nosso editor Jorge Araújo, o pelotão de morteiros que esteve em Nova Lamego no período de maio de 1966 a maio de 1967 foi o n.º 1029. Foi substituído pelo Pel Mort 1191, que esteve em Nova Lamego entre abril de 1967 e março de 1969, às ordens do Batalhão de Cavalaria 1915. O alf mil Azevedo deveria, pois, ser o comandante do Pel Mort 1191.]


Foto (e legenda): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário ao poste P18417 (*),  do Virgílio Teixeira (ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)

Luís, sobre a ajuda para a nossa pequena Adelise Azevedo em França, é preciso um poder de síntese para ela poder fazer algo sobre a história deste terrível período da guerra na Guiné. Eu não tenho esse poder, e não sei quase nada, ou muito pouco, mas gostava de ajudar, pelo menos não ando a perder tempo e sim a ajudar a construir a verdadeira história da nossa guerra que muitos teimam em não acreditar.

Aqui eu posso entrar com alguma ajuda, o avô dela - digo com emoção, uma neta de 14 anos a fazer um trabalho destes, quando nem os meus filhos e netos se preocupam com isto, é obra e merece tudo o que eu possa contribuir para a ajudá-la na sua obra - esteve,  segundo parece,  no meu sector L3 de Nova Lamego, Canquelifá, Piche, onde eu estou um pouco à vontade para dar algum contributo.

Já ando há muitos dias a fazer um trabalho sobre precisamente o Sector L3 de Nova Lamego, mas estou a andar devagar, porque estava à espera ainda de mais 200 fotos digitalizadas, que não chegam tão rápido. Então eu já tinha pensado em fazer este trabalho em duas partes, NL1 e NL2, e vou avançar com a NL1, já.

Eu estou a fazer uma recolha de alguns dados que retiro da História da Unidade do meu Batalhão, comentários, factos, coisas que se passaram e estão escritas, e muitas vividas também por mim.
Neste trabalho vou incluir umas páginas que retirei do meu livro, escritas já há uns 6 anos ou mais, e não altero nada, preciso que leias e ver se interessa para alguma coisa, é a minha história e mais nada.
Já tenho neste tema mais de 300 fotos, mas ainda faltam muitas, e as que faltam são as preto e branco que são dos primeiros 6 meses de Guiné, por isso coincidem com NL [Nova Lamego].

Vou pegar numas 30 a 50 fotos, tenho de as selecionar, datar, localizar, legendar e escrever algo sobre as mesmas, incluindo algumas histórias. 

Para teres uma ideia é uma coisa do tipo que fiz para São Domingos I Parte - que ainda não foi nada editado, mas tem tempo - mas esta já está mais elaborada, também se trata de um sector com outra dimensão e história.

Podes contar com esta ajuda, e para a nossa Adelise, que seja muito feliz com o seu trabalho, e aqui lhe envio as minhas mais sinceras e humanas felicitações por esta ideia de louvar.

Diz-me alguma coisa.
Virgilio Teixeira


Localização de Wattrelos, Hauts-de-France. Fonte: Wikipedia
2. Mensagem envaida à Adelise Azevedo, neta do nosso camarada  José Alves Pereira (CCAÇ 727, Canquelifá, Nova Lamego, Piche, 1964/66), e que vive em Wattrelos, junto à fronteira com a Bélgica, na região de Hauts-de-France.

Adelise, há aqui um camarada nosso, que esteve também em Nova Lamego, como o teu avô Pereira, mas já em 1967/68 (durante cinco meses), é economista, está reformado, é do Porto, vive em Vila do Conde, tem também netos, ficou muito sensibilizado com o teu pedido de ajuda, e quer mesmo ajudar-te a tirar uma boa nota... Ele tem um excelente álbum de fotografias, que temos vindo a publicar no nosso blogue.

Como a gente diz, na nossa comunidade de antigos combatentes, a que chamamos Tabanca Grande ("tabanca" é aldeia, em crioulo da Guiné), os filhos e os netos dos nossos camaradas, nossos filhos e netos são... Tu já és nossa neta...

Vê, com ele, com é que  e em quê), ele te pode ajudar: por exemplo, arranjar-te fotografias de Bissau, de Nova Laemgo, etc. O seu nome é Virgílio Ferreira. Vou-lhe dar conhecimento desta mensagem e do teu endereço de email (que é o da tua mãe Isabel).

Já agora toma boa nota da história terrível da companhia de caçadores do teu avô, a CCAÇ 727, que teve 18 mortos em campanha, andou por sítios terríveis como Madina do Boé. 

Podes usar eles elementos para falares do teu avô e preparar a entrevista com ele... Podes gravar, por exemplo, no teu telemóvel uma entrevista com ele. É um registo que também fica para memória futura... Preparas umas tantas perguntas... E ele vai-te respondendo e tu estás a gravar...

O telemóvel tem um bom  gravador de som. Mas primeiro faz o teste, a ver se o teu gravador de som funciona bem e tem carga... Eu uso muito o gravador de som e o vídeo... Sabes, sou professor e investigador, na área da saúde pública e da sociologia da saúde... Entrevisto pessoas e depois transcrevo o que foi gravado... Claro que é um trabalho moroso, e tu agora não tens tempo... Mas podes, para já, e para o teu trabalho de EPI fazer um resumo da entrevista com o teu avô... Daqui a uns largos anos, quando ele já não estiver cá, voltas a emocionar-te ao ouvir a voz dele e a sua história de vida na tropa e na guerra...

Também fiz muitos pequenos vídeos do meu pai que já morreu, com quase 92 anos: também foi militar, em Cabo Verde, entre 1941 e 1943, durante a II Guerra Mundial...

Aqui tens o link com a história da CCAÇ 727:

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2018/03/guine-6174-p18420-consultorio-militar.html

Dá-a a ler ao teu avô para ele refrescar a memória. Tem os nomes todos dos camaradas que morreram em campanha, na Guiné, uns por doença e acidente mas a maior parte em combate. O capitão dele, Joaquim Evónio Vasconcelos, já faleceu em 2012. Era também poeta e escritor.

Temos aqui um contacto de um camarada do teu avô, natural de Barcelos: vou ligar-lhe um dia destes, talvez amanhã. Organizou um dos encontros anuais do pessoal da companhia. Toma nota:

Joaquim Esteves Ferreira, vive em  Balugães, Barcelos: telef + 351 258 107 204 / telemov + 351 963 306 491

Um beijinho. O editor Luís Graça
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Nota do editor:

Último poste da série > 15 de março de 2018 >  Guiné 61/74 - P18417: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (50): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) agradece a nossa ajuda para a realização de um trabalho escolar sobre a história do conflito que opôs o PAIGC e as Forças Armadas Portuguesas entre 1963 e 1974

Vd. também poste de 8 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18392: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (49): Adelise Azevedo, de 14 anos, a viver em Wattrelos, no norte da França, neta do ex-combatente José Alves Pereira (CCAÇ 727, Bissau, Nova Lamego, Canquelifá, Piche, 1964/66) pede-nos bibliografia e outra documentação para um trabalho escolar, "Passeurs de Mémoires", sobre a guerra colonial na Guiné