Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta notas de leitura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta notas de leitura. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27548: Notas de leitura (1875): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (5) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 29 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Os tambores da guerra chegaram aos Boletins da Associação Comercial da Guiné. Haverá no entanto questões associativas graúdas que não são perceptíveis só da leitura dos editoriais do Presidente da Direção estar constantemente a fazer apelos à Unidade, lamentando casos de concorrência desleal. A organização de cada um destes números do Boletim, estou seguro, merecerão leitura convidativa dos investigadores: temos aqui o rol minucioso de importadores e exportadores; o seu grau de intervenção seja junto do Governador ou até no envio de cartas ao Ministro do Ultramar; apoiam a formação de milícias (estamos em 1962) e louvam a organização destas em Mansabá e Farim e para além de Xime, o que bate certo com as áreas de infiltração e posicionamento dos acabamentos os guerrilheiros para lá do Corubal e na região do Morés. A Associação atribuía bolsas de estudo e criara uma secção de assistência social. Se bem que episodicamente já se fazem perguntas políticas, como, por exemplo, perguntar as razões do anticolonialismo norte-americano. E há artigos de informação económica sobre o amendoim, o arroz, a borracha, o mel e os couros. Vamos prosseguir, na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa ainda há mais uns anos de Boletins. Tenho que bater à porta da Biblioteca Nacional para saber que aqui vou suprir tal carência, gostava de saber se o Boletim foi publicado até 1974.

Um abraço do
Mário



Uma publicação guineense de consulta obrigatória:
O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné – 5


Mário Beja Santos

A leitura dos sucessivos Boletins de 1962 irão permitir compreender que há sérios desconfortos na vida associativa, o Presidente da Direção está permanentemente a clamar “Unidade! Unidade!”, e no número de junho, numa escrita um tanto vernacular, não esconde as suas queixas, onde não falta azedume:
“Nesta Guiné caminhante pachorrenta e ensonada dum trilho interrupto, vário e contingente em que se produziu a sua parcimoniosa evolução ao longo de muitas décadas, dócil por atavismo e bem-comportada por tradição, umas centenas de indivíduos – ditos comerciantes e industriais! – à unificação salvadora preferem os caminhos da deriva, renegam-se e se se encontram é para destroçarem-se numa concorrência desmedida, ilógica, desleal.”
Depois dos queixumes recorda-se a necessidade de manter as quotas em dia e enfatiza-se a unidade em torno dos interesses comuns. Faz-se o anúncio da atribuição de bolsas de estudo e a criação de um serviço de assistência social a associados em precariedade.

Nunca como nesse ano os dirigentes se revelaram tão reivindicativos. Escreve-se sobre a borracha, uma riqueza inaproveitada, pede-se ao Governo a eliminação das imposições aduaneiras, a bonificação do frete marítimo para o produto destinado ao Continente, lembrando que há uma concorrência com a borracha recebida do Índico.

E também nunca como agora surge imensa participação dos leitores. Aparece uma curiosa caixa com muitas perguntas:
“Por que motivo não exportamos mais ginguba? Por que não aumentar a produção de óleo de amendoim? Por que valorizamos o franco da AOF acima do câmbio oficial? É princípio moral, se quer ponto de vista político o anticolonialismo no Ianque? (Dá-se a seguinte resposta: no século passado foi programa de partido para uso interno, variável com as preferências do eleitorado: sulista ou nortista. No presente, é arma política de que os EUA se servem para combater a Europa. O nosso País está na tabela).”

A Associação revela-se de facto participativa, atuante. Veja-se a carta enviada ao Encarregado do Governo sobre a campanha da mancarra, dando sugestões: antecipar por uns dias a data da abertura da campanha, propõe-se 10 de dezembro; pede-se a fixação dos contingentes exportáveis; e considera-se indispensável saber com antecedência os preços FOB-Bissau e CIF-Lisboa, que são estabelecidos pela Metrópole, etc. etc. Vemos também nos sucessivos números a manutenção de secções informativas e a listagem das relações dos importadores e exportadores na Guiné. Anuncia-se no número de dezembro a vinda do novo Governador, Comandante Vasco Rodrigues.

Terá porventura utilidade dá conta, com algum desenvolvimento de situações em que a Associação se revela não só conhecedora das realidades económicas, é combativa e faz-nos querer que sabe com bastante rigor do que fala. Veja-se o extrato de uma carta dirigida ao Governador da Guiné sobre a campanha do coconote, há aqui neste conjunto de imagens uma que revela um certo sabor de vitória:
“Senhor Governador,
Dirigem-se-nos alguns exportadores pedindo a nossa intervenção no sentido de esclarecermos o Governo da Província na conveniência de promover, pela estância competente, a atualização do valor fiscal do coconote, fazendo-o corresponder, como é lógico esperar-se, à cotação efectiva e em prática na Província desde o princípio do ano corrente: 1$90 por kilo nos portos de embarque; de contrário, voltarão, por certo, a repetir-se as imobilizações nos armazéns de consideráveis quantidades do produto, com todas as consequências nefastas, entre as quais sobreleva o excesso de acidez que, aviltando a qualidade, desacredita e torna impraticável a exportação para os mercados estrangeiros, donde os dois seguintes resultados previsíveis: aviltamento do preço de compra aos naturais; não diremos a total paralisação, mas um retraimento muito sensível nas aquisições àqueles, e sempre, em qualquer das hipóteses, com maléficas consequências no equilíbrio social e económico da Província, o que a todos compete evitar.”

Como se pode ver na imagem que aqui se junta com o título Última Hora, foram bem-sucedidos.

Em 1962 já está declarada a subversão na Guiné, e no Boletim Oficial, a propósito do assassínio do cipaio Cofai, considerado um homem bom, respeitado e respeitador entre Mandingas, Balantas e Fulas, que parecia destinado ao regulado de Oio, exulta-se a resposta dada pelos 1200 mancebos guinéus para incorporar a milícia da Guiné portuguesa, eles serão os guardiões desta terra sagrada que irão banir os nocivos sediciosos, ora convertidos em sectários do mal. Se estes 1200 mancebos irão defender as populações de Mansabá e Farim, há também que contar com os 600 naturais para lá do Xime.

E há também uma carta enviada ao Ministro do Ultramar a propósito de uma arbitrariedade que impediu o reabastecimento de “frescos” destinados à população civil da Guiné pelo vapor da carreira Ana Mafalda, e diz-se claramente:
“Estamos em guerra, sabemo-lo – senão efectiva, por hora, de nervos há muito. Em posição fronteira, vivemos parelhas com os nossos soldados os riscos, a ansiedade, o nervosismo, o desconforto moral e material. Vivemos com eles em estreito, fraterno convívio e, desde a primeira hora que a defesa da Pátria os atirou para estas paragens, estamos decididos a dar-lhes o calor humano da nossa assistência.

Exigimos que aí na Metrópole os homens que mandam, saibam que ainda existimos ao lado das forças militares e que nós próprios temos o direito de comer as hortaliças e os legumes e os frutos e a sardinha e o carapau e os demais frescos da Pátria distante, porque temos a mesma boca para comer, para falar e para reclamar sendo preciso. Que não podemos compreender e muito menos aceitar sem espanto e sem revolta que os serviços de Manutenção Militar em Lisboa exijam para seu uso exclusivo os frigoríficos dos navios – dos navios das nossas carreiras – aqueles que servem habitualmente a Província e a abastecem e que nós pagamos bem caro, com total desprezo pela gente sem farda, porém torna-se necessária no território nas suas funções pacíficas, como aqueles que esses aí julgam estar protegendo e servindo bem para, afinal, envergonharem com o tratamento de exceção.”


Vamos ver no próximo número o ano de 1963.


Publicidade ao Grande Hotel, em Bissau, publicada num Boletim da Associação Comercial de 1962
Peixoto Correia, o Governador da Guiné que irá ser o próximo Ministro das Colónias, imagem inserta num dos números do Boletim da Associação Comercial de 1962
Lembrança aos associados de que a Direção tivera uma vitória com o valor fiscal do coconote
Publicidade de uma renomada casa comercial de Bissau
Penteado de uma Boenca
Papéis (Safim), mulheres a pescar
Felupes (Susana), mulher com cesto

Estas três últimas imagens foram retiradas de diferentes números do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, 1962

(continua)

_____________

Notas do editor:

Vd. post da série de 12 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27523: Notas de leitura (1873): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (4) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 15 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27533: Notas de leitura (1874): "Cartas de Guerra (61-74) Aerograma Liberdade”, por Ricardo Correia; edições Húmus, 2024 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27533: Notas de leitura (1874): "Cartas de Guerra (61-74) Aerograma Liberdade”, por Ricardo Correia; edições Húmus, 2024 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2025:

Queridos amigos,
É uma raridade, uma peça de teatro, a que se segue uma carta-concerto, o foco são os aerogramas, o pretexto é um filho, no nosso tempo, interrogar por carta o pai, em 1972, saber que homem era enquanto combatente. A mensagem é este alerta de que ainda há muito para saber destas toneladas de escrita, houve pactos em casais para destruir a correspondência desse tempo, seguramente que terão assumido que foram dores a mais, que se cometeram excessos, que o que ali se disse não devia ser lido por outros olhos; há quem procure ganhar uns cobres e venda aerogramas por meios eletrónicos ou em negócios de velharias; há aerogramas de grande recorte literário, como os de António Lobo Antunes. 

Mas o que continua por esclarecer era o sentir destes homens naquele tempo e naquele lugar, para o investigador seria um termo de referência, de valor discutível, é certo, houve quem escrevesse fantasias, e interrogo-me em termos de estudo como será possível alguma vez fazer a medição dos silêncios, penso sobretudo naqueles nossos camaradas que viveram os pavores de Guileje, Gandembel, Sangonhá, Bedanda, Madina do Boé ou Béli, o que silenciaram para não despedaçar mais a vida dos entes queridos - esses silêncios só podem ser esclarecidos com o rigor dos factos históricos. Não tenhamos dúvidas, ficaram silêncios inquebrantáveis, que mudaram tantas e tantas vidas.

Um abraço do
Mário



Querido pai, escrevo-te do meu presente para o teu passado, a tentar chegar até ti

Mário Beja Santos

O que seria a história da guerra colonial se tivesse sido possível ter acesso às toneladas de correspondência trocadas nas duas direções? É mera conjetura, sei muito bem, grande parte destes documentos foram para o lixo, por decisão dos dois fez-se fogueira, há herdeiros que os põem à venda. 

Foi assim que o pintor Manuel Botelho comprou uma resma de aerogramas entre dois namorados, ele no Bachile, cabo das transmissões, ela costureira, não da Sé mas no alto de Alfama, temos ali um percurso que ele aproveitou para uma performance que deu para entender comportamentos havidos a dois e por dois anos: ele deslumbrado, à chegada, com todo aquele fascínio de verdura, braços de ria, a fauna, as queixas da comida, mas sempre o desassossego se tu me amas ou não, escreve-me, há aqui camaradas meus que andam à procura de madrinhas de guerra, eu só te quero a ti; ela responde, tu sais que te fartas, se isso é uma guerra é feita de turismo, eu estou para aqui a trabalhar dia e noite, os fins de semana são para preparar o enxoval; da euforia inicial e da troca de arrufos, os meses passam, e há aerogramas que parecem travessias no deserto, não desampares, isto nunca mais acaba, há noites silenciosas que dão cabo de mim, como é que eu vou poder esquecer este sobressalto em que vivo… E dos muitos aerogramas trocados nos primeiros meses chegamos a um fiozinho de correspondência, há quase uma agonia na expetativa do regresso, experimentada pelos dois. Ora isto é uma simples abordagem da riqueza dos conteúdos, uma das dimensões desse imenso ecrã de quem combatia e de quem deste lado dava apoio e lhe pedia fidelidade.

As autoridades alertavam para a necessidade de muita segurança: nada de dizer no endereço mais do que o SPM; e do lado da guerra nada transmitir que possa cair nas mãos do inimigo e para uso letal.

Escusado é dizer que o teatro é o parente mais pobre da literatura da guerra, avulta a literatura memorial, o romance, a novela e o conto, sobretudo a poesia popular, a diarística, a investigação. Alertado por um dos meus benfeitores, o Dr. João Horta, da Biblioteca da Liga dos Combatentes, “tenho aqui uma peça de teatro que mete a Guiné”, pus-me ao caminho e lá fui àquele ponto do Bairro Alto que tem os passeios completamente escavacados e em frente as obras intermináveis no Conservatório Nacional. 

O livro intitula-se “Cartas de Guerra (61-74) Aerograma Liberdade”, por Ricardo Correia, edições Húmus, 2024, inclui um glossário preparado por Rui Bebiano, com termos alusivos ao conteúdo da peça e de uma carta concerto intitulada “Aurora Liberdade” que tem ilustrações de Cátia Vidinhas.

No tempo presente (2023) um filho escreve uma carta ao pai em 1972, pede-lhe que ele lhe conte o seu viver, que pessoa era o seu pai, quando agora o abraça não sabe exatamente o que escondem os olhos do antigo combatente. “Procuro-te e sei que ainda não te encontrei. Tal como Telémaco procurou o seu Pai, Ulisses.” 

E como nessas peças em que os atores trocam de papel, que ganham uma identidade que acaba por ser transferida para outrem, como nas peças de Luigi Pirandello, iremos percorrer num couro dos soldados portugueses a cronologia dos acontecimentos dessa guerra, entra em cena o Movimento Nacional Feminino, ouve-se Cecília Supico Pinto afirmando que é “aberto à participação de todas as mulheres portuguesas exceto as comunistas e as comodistas”

Graças a este Movimento e ao apoio da TAP nasceu o aerograma, atores e atrizes conversam como militares e família, a conversa também transita para o presente, há cartas a um país que silenciou a guerra colonial, um militar está na Guiné, o autor entra em cena, pede colaboração à assistência, diz que está a fazer um espetáculo sobre a correspondência na guerra colonial portuguesa, diz que o pai esteve mobilizado e combateu na Guiné. Vai ser entrepelado, dão-se sugestões.

A peça muda agora de rumo, estamos no presente, conversam atores com o ex-combatente, mas há também testemunhos, não se esconde que existe o stress pós-traumático, uma atriz em cena, de nome Penélope tem como destinatário Telémaco. 

“As cartas chegavam diariamente, mas era como se falássemos em diferido. Ele respondia-me a coisas passadas. Vivíamos em tempos diferentes.” 

É uma mãe a falar ao seu filho dos amores que teve pelo seu pai, queimaram todo o correio trocado “para avançarmos com a nossa vida”

E faz-lhe um pedido: 

“Cabe-te a ti inventar as palavras que queimámos. Talvez assim, um dia, possas contar esta história aos teus filhos. Já não me cabem mais palavras nesta carta. Um beijo grande desta mãe que te ama.”

Finda a peça teatral, segue-se a carta concerto, de novo o aerograma como fio condutor, há uma triangulação na correspondência, o pai soldado, a mãe e a filha, Catarina da Paz, há saudades e há notícias, ficamos a saber que o soldado compreende a revolta de quem o combate, a mãe não esconde as saudades, e vem os festejos do 25 de Abril, Catarina da Paz despede-se do espectador dizendo que este em cena a história dos seus pais.

Em jeito de posfácio, Sónia Ferreira faz comentário a estes conteúdos. Quanto à natureza dos tais aerogramas que chegavam diariamente, mas era como se eles falassem em diferido, dirá:~

 “O peso de um tempo longo e da não-simultaneidade é-nos hoje estranho. A ideia de que a comunicação se dava em diferido, que não acompanhava o ritmo constante da vida, que as respostas que recebo hoje são sobre o ontem, provocará estranheza no público mais jovem.” 

E deixa-nos este comentário final: 

“A sociedade pós-colonial que hoje somos, fruto do desmoronar de um império que ainda hoje persiste e se afirma em ideologias racistas (como bem identifica Ricardo Correia referindo Alcindo Monteiro e Bruno Candé), em património colonial edificado e em lampejos anacrónicos de grandeza, tem se der pensada e construída em relação direta com esta memória difícil que nos atravessa, mesmo que alguns a queiram convenientemente rescrita.”
Ricardo Correia
Advertências das autoridades para a necessidade de segurança do que se escrevia nos aerogramas
Aerogramas de José Rubira: Guiné-Bissau / Montemor-o-Novo 1971-1973, retirado do site Foto-Síntese
“Aerograma Liberdade”, de Catarina Moura
_____________

Nota do editor

Último post da série de 12 de dezembro de 2025 > >Guiné 61/74 - P27523: Notas de leitura (1873): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (4) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 12 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27523: Notas de leitura (1873): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (4) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 15 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Há qualquer coisa de insólito no facto de este Boletim não se ter publicado durante o primeiro semestre de 1961, fala-se em agitações, mas não se dá qualquer explicação. O ano anterior fora simultaneamente de alguma pompa e circunstância, dera-se a inauguração da sede ali mesmo na Praça do Império, exaltou-se a boa comunicação existente entre a Associação Comercial Industrial e Agrícola e o Governo. Mas surgiam problemas novos, os djilas mercadejavam tudo e mais alguma coisa, impunha-se fiscalização; esse ano de 1960 fora marcado por uma quebra nas produções de mancarra e de arroz. Chegados agora a um novo ano apelava-se a uma campanha do coconote com mais regras; lembrava-se, já que havia um grande plano de obras para a regularização do Geba e aproveitamento de terrenos para a agricultura, que não se esquecesse a borracha, bem merecia o incentivo, pois dela havia bastante procura mundial. Pela primeira vez o Boletim faz uma observação clara sobre a situação política que se vive na Guiné, veja-se o que se escreveu:
"1200 mancebos guinéus ofereceram-se para dia e noite manter os matagais até desalojarem por completo os sediciosos desvinculados das tribos e dos parentes, ora convertidos em sectários do mal e da destruição indistinta por virtude de ensinamentos pérfidos ministrados por profissionais da desordem. Com Fulas, Balantas e Mandingas, raças tradicionalmente pouco afins, fundou-se a mais eficaz, aguerrida milícia da guiné portuguesa, numa voluntariosa demonstração de que nos filhos desta terra pacífica sobreleva, de quaisquer considerações de hegemonia, a comunhão fraterna imperante. 1200 homens que as populações regionais - Mansabá e Farim - de diversas etnias sustentam quando em serviço de perseguição aos guerrilheiros a monte, numa tão estreita e valorosa coadjuvância, que formulo sérias dúvidas se nós, civilizados da capital da Província, saberemos imitá-los. E lá para o Xime, ativa milícia de cerca de 600 naturais nasceu e várias outras em fluxo constante se organizam." Assinava A.J.F. Estávamos em outubro de 1962.

Um abraço do
Mário



Uma publicação guineense de consulta obrigatória:
O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné – 4


Mário Beja Santos

Foi dada a explicação pelo presidente da direção de que não houvera condições para publicar nos primeiros meses o Boletim da Associação Comercial. Abre-se este primeiro Boletim e surge-nos uma surpresa, o Conselho Técnico da Associação, Dr. Artur Augusto Silva, vem falar-nos do novo franco da Guiné:
“A vizinha República da Guiné acaba de abandonar a zona do franco e de criar uma moeda sua. Este facto, que se situa na linha da evolução antifrancesa que a jovem república tem seguido desde que abandonou a comunidade, causou certa surpresa nos meios internacionais, que não esperavam uma medida tão grave numa altura em que os nossos vizinhos do sul estão atravessando uma crise económica bastante acentuada.
Esta medida entrará em vigor no próximo dia 1 de Março e, embora não tenhamos elementos que possam servir-nos para alicerçar conclusões seguras, afigura-se-nos altamente prejudicial para os interesses dos nossos associados, uma vez que nas regiões da fronteira Leste a maior parte do comércio se faz à base do franco CFA.

Criado o franco guinéu cuja cotação dos mercados nacionais não oferece segurança e que neles não terá qualquer procura, ficarão os comerciantes da nossa Guiné na impossibilidade de receber aquela moeda em pagamento dos produtos que vendiam aos nossos vizinhos.
Poderia o franco guinéu servir localmente como um instrumento de trocas, uma vez que a vizinha Guiné nos costuma vender couros, mel, cera e borracha.
Mas, segundo informações dignas de crédito, que nos vêm chegando, tem afrouxado muito, ultimamente, a entrada de couros e borracha, em virtude já das dificuldades postas pelas autoridades vizinhas, já da maior cotação daqueles produtos na República da Guiné.
Por outro lado, a cotação do mel da nossa Guiné baixou tanto que já se nota o evidente desinteresse por parte dos produtores indígenas e o desinteresse pelo mel sente-se consequentemente à cera: não havendo produção de mel, não há cera.

Conseguirá a República da Guiné impor a sua moeda nos mercados internacionais e dar-lhe aquela estabilidade geradora de confiança?
A solução dos problemas económicos dos nossos vizinhos está ainda no limbo das hipóteses, pelo que se torna extremamente difícil fazer previsões.
País subdesenvolvido – embora com admiráveis perspetivas – a República da Guiné tem-se preocupado mais com a politização das massas do que com a planificação económica, facto que o próprio Sékou Touré reconheceu ainda recentemente. De qualquer forma, a adoção pela vizinha Guiné de uma nova moeda não se nos afigura de bom augúrio para o nosso comércio da região Leste da Província.”


A direção da Associação Comercial sentiu-se profundamente da medida política definida pelo Governo de Lisboa acerca da política açucareira. Daí o teor do ofício enviado ao Ministro do Ultramar em 16 de agosto.

A direção da Associação tinha-se reunido em sessão extraordinária para apreciar o Despacho do Governo que definia a futura política açucareira e vinha agradecer ao Ministro que atendia aos interesses da economia da Guiné. Acontecia, porém, que o Despacho em referência esclarecia “haver a considerar a possibilidade de instalação de uma indústria açucareira na guiné e o desaparecimento das pequenas indústrias rurais”.

Mas a seguir ao agradecimento vinha o queixume:

“O que, no entanto, não define, mas carece de tal é, qual o fim a dar às 25 pequenas unidades agora existentes e que, necessariamente, têm de desaparecer, isto é, o princípio ou critério que deve adoptar-se para a justa medida de indemnização e por quem deva ser feita uma vez tudo indicar que essas pequenas instalações industriais não podem subsistir. Aos seus proprietários só resta o dilema de passarem a simples agricultores de cana, mas há que prever com o tempo a indemnização devida e de modo a não ilusões que sujeita a invitáveis prejuízos muito de supor em tais casos.

Outro lado deste problema e de não menor importância para o qual ousamos chamar a atenção de Vossa Excelência, certos da sua plena concordância achando-o de toda a justiça é o da formação do capital da empresa e seu modo de distribuição:
Diz o Despacho reservar-se 30% do capital aos ‘produtores ultramarinos de açúcar de cana’ e, muito naturalmente, como ao presente nenhum existe na Guiné Portuguesa, esta comparticipação é destinada exclusivamente aos atuais produtores de Angola e Moçambique o que significa pura e simples exclusão de comparticipação de capital ou economias da Guiné – o que não é justo nem pode satisfazer quer aos que por estas mourejam há muitos anos vindos de longe quer aos naturais evoluídos que do assunto se apercebem e dele tirem as suas conclusões.”


É um teor de carta dilacerante em que se apela a disposições como a indemnização, a reserva de participação do capital da futura empresa açucareira ao capital ou economias particulares da Guiné, pedindo-se mesmo que a sede da empresa tenha de ser obrigatoriamente na Guiné.

A campanha do coconote, como se tem visto, é tema recorrente. Pede-se a atualização do valor fiscal do coconote, fazendo-o corresponder à cotação efetiva e em prática na Província: 1$90 por kilo nos portos de embarque; caso contrário, voltarão por certo a repetir-se as imobilizações dos armazéns de consideráveis quantidades do produto. Mas os comerciantes também chamam a atenção do governador para outras duas consequências: aviltamento de preço de compra aos naturais; retraimento muito sensível nas aquisições àqueles.

Na prática apresentar textos divulgativos, num desses números vem um artigo sobre a borracha, uma riqueza inaproveitada. Faz-se um apelo ao Diretor da Fazenda para que os técnicos encarem a borracha como um elemento primordial de fomento da Guiné, a pessoa que assina o artigo recorda as verbas avultadíssimas para as obras de regularização do Geba, tudo a cargo da Brigada de Estudos Hidráulicos da Guiné, há que potenciar riqueza, para além das cabeças de gado há que fomentar de novo os negócios da borracha.

Finalmente volta-se a falar da mancarra, dizendo-se num texto que no limiar da campanha de 1962-63 estamos com todos e contra todos na essência da orientação preconizada. Enviou-se uma exposição ao encarregado do Governo focando um conjunto de seis pontos: a conveniência de antecipar por uns dias a data da abertura da campanha, para eliminar a possibilidade de especulação no referente às compras aos agricultores nativos; a fixação dos contingentes exportáveis convém ser feita e ser conhecida pelos interessados antes da data da abertura oficial da campanha; é indispensável saber-se antes da abertura os preços fob-Bissau e cif-Lisboa para a mancarra e para a ginguba (nome dado em Moçambique ao amendoim) estabelecidos pela Metrópole; fixação dos contingentes de exportação com interferência da Comissão Reguladora das Oleaginosas; pede-se o estabelecimento de dispositivos militares de proteção aos locais de recolha e armazenagem do produto no interior; entende a Associação Comercial que é inadiável a introdução dos nossos produtos agrícolas nos mercados internacionais, de forma a que a correspondente obtenção de divisas equilibre as despendidas pela Guiné nas aquisições do estrangeiro e ocasione também uma maior segurança económica para todas as vezes que a Metrópole não se disponha a absorver pela totalidade das produções locais – facto, infelizmente, muito repetido.

Pastor Mancanha
Tocadores de tambor
Resolução da divergência matrimonial
Homem Nalú

Estas quatro últimas imagens foram retiradas do Boletim Cultural da Guiné Portuguesa, anos de 1960 e 1961

(continua)

_____________

Notas do editor:

Post anterior de 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27498: Notas de leitura (1871): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 8 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27506: Notas de leitura (1872): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (3) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27506: Notas de leitura (1872): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Esta digressão sobre o tema Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil, entre a Regeneração e a década de 1950, num ensaio de Fernando Costa analisa o papel da História de Portugal e dos Descobrimentos portugueses na ideologia e na conduta das associações e organizações de juventude. Passam-se em revista as organizações de juventude católicas, os escuteiros, as organizações académicas republicanas, a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira, a Ação Escolar de Vanguarda e daqui se partiu para a Mocidade Portuguesa, a organização mais duradoura e que aparece na Guiné no tempo do governador Carvalho Viegas, aqui se mostra uma imagem de um desfile em Mansoa, em 1961, era governador da Guiné Peixoto Correia. O período áureo desta Mocidade Portuguesa coincide com os tempos da guerra civil de Espanha e a Segunda Guerra Mundial, faz-se a saudação romana, comemora-se a Batalha de Aljubarrota e sempre o 1º de Dezembro, na Praça dos Restauradores, local por excelência que servia de recordatória de como tínhamos sacudido o jugo espanhol, e mostra-se como os heróis dos Descobrimentos eram patronos de todos os eventos desta mocidade. E importa não esquecer o papel marcadamente ideológico que teve Marcello Caetano à frente da Mocidade Portuguesa, exaltando todos os valores da Nação Imperial.

Um abraço do
Mário



Não fomos combater na Guiné pela integridade de Portugal de Minho a Timor?
(Uma abordagem dos valores educativos entre o liberalismo e o Estado Novo) – 3


Mário Beja Santos

O
terceiro e último ensaio desta obra dedicada ao entrosamento ideológico d’Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), tem a ver com o trabalho de Fernando Costa quanto ao papel da História de Portugal e dos Descobrimentos na conduta das associações e organizações de juventude. Não se pode atribuir grande significado a estas organizações, no que toca à religião católica, até ao aparecimento do Centro Académico de Democracia Cristã, caber-lhe-á um papel propulsor na promoção do culto de D. Nuno Álvares Pereira. A Ação Católica Portuguesa dividia-se em setores (agrário, escolar, universitário, independente e operário). A sua atividade encontrou pontos de convergência com a Mocidade Portuguesa, a partir de 1936. Os Centenário de 1940 foram considerados pela imprensa juvenil católica como o ponto alto da História de Portugal, reacendeu-se o culto de Nuno Álvares Pereira e escusado é dizer que o advento do Estado Novo estabelecerá uma relação muito próxima entre o nacionalismo e os valores da moral cristã, isto nas organizações de juventude, mas também na escola.


Os escuteiros não ficarão indiferentes ao culto de o Santo Contestável, a figura de Nuno Álvares e da “Ala dos Namorados” irão aparecer associadas às bandeiras das associações de escuteiros. Aparecerão como patronos dos grupos além do Contestável, Gago Coutinho e Sacadura Cabral, Afonso d’Albuquerque, Vasco da Gama; e ler Camões é dado como um imperativo. Indo um pouco atrás, o autor trata as organizações de juventude republicanas e direita radical em Portugal, recorde-se o papel dos centros republicanos, os grupos republicanos de Coimbra; e com o 5 de Outubro o novo regime vai contrapor a República à Igreja, a Pátria a Deus e o patriotismo ao cristianismo. “A Pátria assume as características de uma mulher forte, decidida e lutadora, mas ao mesmo tempo consensual, capaz de aglutinar no seu seio a humanidade, a família e o indivíduo.” Nos bancos escolares dá-se grande importância aos grandes feitos da História de Portugal e emergem figuras de referência: Afonso Henriques, Nuno Álvares Pereira, D. João I, o Marquês de Pombal, Alexandre Herculano, Camilo Castelo Branco, entre outros.

Em julho de 1918, em pleno consulado de Sidónio Pais, é fundada a Cruzada Nacional D. Nuno Álvares Pereira: “acordar as energias dos portugueses, radicando neles, o amor da sua terra e o culto dos seus heróis, pugnar pela formação de caráter, reconstituir a família, base de toda a sociedade organizada, nacionalizar o espírito científico, preconizar a disciplina social, a ordem nas ruas, nos espíritos, na casa…” A Cruzada irá diluir-se com a ascensão do salazarismo e da sua União Nacional. Quando se está a dar o apagamento ideológico da Cruzada, surge a Ação Escolar de Vanguarda, constituído por estudantes nacionalistas das Universidades de Lisboa e Coimbra. Salazar não apreciou o seu radicalismo, este grupo desaparecerá com a constituição da Mocidade Portuguesa, em 1937 assiste-se à unificação do associativismo juvenil nacionalista, há aproximações inequívocas com as juventudes franquista, fascista italiana e até nazi.

A Mocidade Portuguesa rege-se pelos grandes princípios do Portugal Salazarista: a escola, a família, Deus e a Pátria, pretende-se a recuperação das virtudes do Portugal de outrora; busca-se a formação integral do jovem, a escola passa a ser a “sagrada oficina de almas”; haverá fricções graves entre os condutores da Mocidade Portuguesa e a Igreja Católica, o Cardeal Cerejeira não quer que se ocupe o lugar que cabe à igreja na formação do indivíduo, teme o que se estava a passar em Itália e na Alemanha. Os ideais desta juventude da Mocidade Portuguesa prendem-se com os grandes princípios do nacionalismo: D. João I e Nuno Álvares Pereira, a salvaguarda da independência portuguesa face à ameaça castelhana, os heróis do patriotismo passam a ser patronos dos cursos anuais da Escola Central de Graduados da Mocidade Portuguesa.

E voltam a entrar em cenas os heróis dos Descobrimentos, logo o Infante D. Henrique, regressa-se à mítica escola de Sagres, aos conhecimentos geográficos, às descobertas da botânica e da zoologia; é a gesta dos Descobrimentos, não são esquecidos os navegadores Bartolomeu Dias, Vasco da Gama, Diogo Cão e Pedro Álvares Cabral.

Importa recordar que Marcello Caetano foi comissário da Mocidade Portuguesa, e recordou aos graduados as responsabilidades de Portugal como nação imperial, como disse em 1944: “A independência portuguesa permitiu que a Nação prestasse à Humanidade serviços tão grandiosos que a Eternidade os registará. E essa missão não acabou: oito colónias formam o Império de Portugal, onde à sombra da nossa bandeira se prossegue a obra tradicional de desbravamento e civilização. Destino magnífico, o destino português! Somos criadores e educares de povos!”

Coube indiscutivelmente à Mocidade Portuguesa um papel formativo, comprovado em livros, canções nacionalistas e teatro radiofónico, basta atender à lista dos livros recomendados para as bibliotecas, estão presentes autores como João Ameal, Henrique Galvão ou Manuel Múrias. Quando lemos o cancioneiro para a Mocidade vemos como se exaltava o Portugal marinheiro, como Portugal tinha vencido antigos medos, como de Sagres e do Restelo partiam caravelas levando a Cruz de Cristo: “Diu e Malaca, Azamor, Marracuene/ São, para nós, a garantia solene/ Que Portugal, uno e valente,/ Viverá eternamente!”

E temos os compêndios escolares, Maria Cândida Proença deles falou abundantemente.

O autor conclui observando que o projeto da Mocidade Portuguesa estiolou por ter ficado datado no tempo. A Mocidade nasce com a inquietação do que se passa em Espanha e com o advento do comunismo. “O fim da guerra em Espanha, a vitória dos Aliados na Segunda Guerra Mundial e o consequente advento dos Estados Democráticos na Europa Ocidental esvaziaram ideologicamente este projeto que, para ser implementado na prática, necessitava de um longo período de gestação educacional e geracional. Provavelmente, só numa segunda ou terceira gerações é que começaria a poder avaliar os resultados da sua implementação. Isto não invalida o facto da organização nacional Mocidade Portuguesa ter constituído a primeira e única tentativa de integração global da juventude portuguesa numa grande organização patriótica, ao serviço do regime de Salazar.”
Barreiro, festival organizado pela Juventude Operária Católica, no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Juventude Operária Católica, 1965, RTP Arquivos
O Presidente Carmona recebe a Cruzada Nun’Álvares, Marcello Caetano é o primeiro à esquerda
O Movimento Escutista chegou a Portugal 1923
Desfile da Mocidade Portuguesa, em Mansoa, 1961, RTP Arquivos
_____________

Notas do editor:

Post anterior de 1 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27483: Notas de leitura (1870): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 5 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27498: Notas de leitura (1871): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 5 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27498: Notas de leitura (1871): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Outubro de 2025:

Queridos amigos,
Como se pode verificar, este Boletim Associativo espelha muito mais do que a conjuntura socioeconómica da Guiné na transição dos anos de 1950 para 1960. A Associação dá-se bem com a política do Governador Peixoto Correia e sente-se apoiada. Há aqui um dado estranho que vale a pena salientar: embandeirou-se em arco com a criação de uma Companhia de Alumínio da Guiné em Angola e anunciou-se formalmente que um potentado petrolífero norte-americano vinha fazer explorações à Guiné, escreveu-se mesmo dizendo que havia o risco de aparecer uma inflação enorme; o país vive ainda em condicionamento industrial de modo que foi possível pedir-se para não vir açúcar a não ser o das nossas refinarias, de modo a garantir a produção local de mel. Vemos também que na leitura destes boletins vamos apanhando alguns dados da vida interna, caso das atividades desportivas ou a diminuição da construção civil, que tiveram o seu furacão nos governos de Sarmento Rodrigues e nas obras concluídas pelo governador seguinte, Raimundo Serrão. O Boletim interrompe-se nos primeiros meses de 1961, a explicação dada pelo presidente foram as agitações, não explica quais. E quando o Boletim reabre, o assunto que parece ser mais interessante é o novo franco da Guiné-Conacri.

Um abraço do
Mário



Uma publicação guineense de consulta obrigatória:
O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné – 3


Mário Beja Santos

O ano de 1960 revela a direção da Associação Comercial bastante interveniente, conforme se pode ler no Boletim, onde aparecem apontamentos históricos sobre a Guiné, indicadores populacionais, o funcionamento dos serviços de Justiça, mostra-se imagem do Centro de Assistência Materno-Infantil de Bissau, noticia-se o trabalho da Missão Permanente de Estudo e Combate da Doença do Sono e de outras Endemias; também são referidos os serviços da Marinha, a missão Geoidrográfica, os serviços de obras públicas, dão-se informações sobre os impostos, apresenta-se o Centro de Estudos da Guiné Portuguesa, como se começa a falar na EFTA, a que o Governo português pretende aderir.

Como se referiu anteriormente, a correspondência da Associação para o Governador, mesmo para o Governo em Lisboa, e as diferentes repartições da Guiné merecem publicação no Boletim. Logo no primeiro de 1960, transcreve-se do discurso do presidente da Associação na Assembleia Geral de 18 de dezembro do ano anterior o que lhes disse Fernando dos Santos Correia:
“Fizemos várias diligências em exposições submetidas a Sua Excelência o Governador, no sentido de serem colocados no interior, pelos serviços públicos, muitas mais britadeiras de coconote, no que temos sido atendidos. Acompanhámos e apoiámos uma representação do comércio de Bafatá e Nova Lamego, a qual veio pedir ao Governo para não autorizar importações de açúcar extra-continente, tendo obtido do nosso Governador um pronto apoio e deferimento da pretensão. Todos se devem recordar que sem isso estaria em sério risco a produção local de mel. Têm sido muito numerosas as diligencias da direção junto das nossas Autoridades para impedir que os chamados Djilas tragam mercadorias dos territórios vizinhos, passados em contrabando, em grande e nociva concorrência com o nosso comércio.”


Ficamos igualmente a saber o que é a vida desportiva da Guiné, quem a compõe: Associação de Futebol da Guiné, Associação Provincial dos Restantes Desportos, Comissão Provincial de Árbitros, União Desportiva Internacional de Bissau, Clube Desportivo e Recreativo de Farim, Sporting Clube de Bissau, Sporting Clube de Bafatá, Sport Bolama e Benfica, Sport Bissau e Benfica, Clube de Futebol Os Balantas, Atlético Clube de Bissorã, Futebol Clube de Tombali, Futebol Clube Teixeira Pinto, Nuno Tristão Futebol Clube (Bula), Ténis Clube de Bissau.

Também se dá notícia das conferências que se vão celebrando e parece-me pertinente o extrato da conferência do Dr. Pio Coelho da Mendonça que tinha como título Algumas Considerações sobre Comercialização de Produtos Agrícolas:
“A actividade económica da Província desdobra-se em comércio interno e comércio externo. No referente a este último, reflete-se quase exclusivamente na exportação de oleaginosas, pois, num total de 200.259 contos, em 1958, couberam-lhes 171.394 contos, repartindo-se 61.436 contos para o coconote, 106.897 contos para a mancarra e 3.059 contos para o óleo de palma, o que quer dizer que é da ordem dos 64,27% a cota da mancarra, e 23,42% a cota do coconote.
Em 1959, num total exportado 198.609 contos, distribuíram-se 175.680 contos pelas oleaginosas, isto é, 128.000 contos para a mancarra, 44.780 contos para o coconote e 2.889 contos para o óleo de palma. Os restantes 22.929 contos repartiram-se pelas madeiras, arroz, couros e outros.


Como se vê, a exportação da agricultura é representada principalmente pela mancarra, o coconote e o óleo de palma. A exportação é, pois, constituída por um número relativamente reduzido de produtos: aqueles três já referidos e ainda o arroz, a madeira, os couros, etc. A importação, comparada com a exportação mostra-nos que os nossos produtos de exportação são de classificação primária e em muito menor número e menor variedade. Estão, por isso, mais na contingência das flutuações do mercado externo: bastará qualquer perturbação na procura para que, recusados certos destes produtos, o rendimento da Província se ressinta. E todos estes produtos não entram na categoria de bens essenciais à economia dos mercados externos de compradores.”

Mais adiante o orador revela confiança no futuro:
“A Guiné tem óptimas condições para uma larga cultura de laranjas e daqui pensar-se na sua exportação; a Província tem especialidades para uma cultura extensiva e intensiva de frutas e de legumes, por forma a constituir-se um forte circuito comercial interno que nos liberte das dificuldades em que nos debatemos. Há que buscar novas riquezas, há que estruturar a economia do território em bases sólidas em que intervenham a terra, o capital e o esforço humano de todos.”


O ano não foi próspero. Basta ler o que o presidente da Associação disse na intervenção que pronunciou na Assembleia Geral de 29 de janeiro de 1961: “O ano de 1960 foi, infelizmente, dos que têm deixado pior recordação às atividades económicas da Guiné. Uma enorme quebra nas produções de mancarra e de arroz, e a paralisação das exportações de coconote, têm acrescido e agravado com a quase ausência de trabalhos de construção civil, provocaram a crise que atravessamos e ainda estamos vivendo, com todo o cortejo de graves consequências.”
Aguardando a hora da consulta no Centro de Assistência Materno-infantil de Bissau
Ídolo do fanado – Bijagós
Um painel decorativo da autoria do pintor J. Escada
Painel decorativo com motivos de actividades indígenas
Painel decorativo simbolizando as ilhas dos Bijagós

Estas três imagens referem-se à participação do pintor José Escada, que alguém no Boletim da Associação Comercial apelidou de moço cheio de talento. O edifício da Associação Comercial Industrial e Agrícola foi um projeto do arquiteto Ferreira Chaves, executado pelo engenheiro Arnaldo Mariano e o arquiteto Luís Possolo planeou e decorou a sede.

(continua)

_____________

Notas do editor:

Vd. post de 28 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27473: Notas de leitura (1868): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 1 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27483: Notas de leitura (1870): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (2) (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27483: Notas de leitura (1870): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Março de 2025:

Queridos amigos,
Prosseguimos na leitura de Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), a exaltação do passado colonial com os seus heróis-modelo vão integrar a literatura infanto-juvenil, nomeadamente no fim da monarquia constitucional, a I República e as primeiras duas décadas do Estado Novo. Os heróis dos Descobrimentos enfileiram com outros, tais como Viriato, Egas Moniz, Nuno Álvares Pereira. Impor-se-ão vários nomes, tais como Ana de Castro Osório e Virgínia de Castro Almeida, mas será Mariazinha em África o bestseller desta literatura nos anos 1939 e 1940. Estuda-se aqui a imagem do outro, a ação missionária, obviamente que da monarquia ao Estado Novo há nuances no tratamento do outro, pode aparecer como inferior, aberto ou indisponível à civilização, fala-se no bom selvagem; o Estado Novo irá desenvolver o exotismo, os perigos e a fantasia, será o caso da saga da travessia africana de Capelo e Ivens; e há o sistema de valores, o enaltecimento de Nuno Álvares ou do Infante D. Fernando, não será na escola mas fundamentalmente na imprensa que se irá privilegiar o esforço na criação de infraestruturas, desenvolvimento material, serviços de saúde, etc. Deixaremos para o terceiro e último apontamento o modo como os Descobrimentos serão abordados por associações e organizações da juventude, caso da Mocidade Portuguesa.

Um abraço do
Mário



Não fomos combater na Guiné pela integridade de Portugal de Minho a Timor?
(Uma abordagem dos valores educativos entre o liberalismo e o Estado Novo) – 2

Mário Beja Santos

Falando por mim, e seguindo integralmente o que se escreve na obra de ensaio Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950), por Maria Cândida Proença e outros, edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses, 2000, éramos educados nos bancos da escola de que o Infante D. Henrique fora o impulsionador dessa ação patriótica engrandecedora que tornou Portugal imperial – e manda o rigor que se diga que não foi obra exclusiva do Estado Novo, a monarquia constitucional também fez soar esta trombeta.

O que mudou ao longo deste século (entenda-se 1850-1950) é a visão que se pretendeu dar do Infante. “Para os autores oitocentistas o Infante era fundamentalmente um homem de ciência dotado de profundos conhecimentos para a época que teriam sido causa do progresso que pode incrementar nos Descobrimentos marítimos.” Homem sábio, até versado nas matemáticas e conhecedor das artes de navegar. “Os avanços da ciência e a divulgação do positivismo eram favoráveis à apresentação de um herói humanizado longe da visão hagiográfica que mais tarde vinha impor-se.”

Tudo muda no final do século, Fortunato de Almeida introduz uma nova perspetiva, ao atribuir-lhe o plano de encontrar um caminho alternativo para a Índia e até a vocação apostólica de dilatar a fé cristã. Atribui-lhe igualmente um plano em que convergiriam três empresas gigantescas, a conquista territorial em Marrocos, a descoberta do caminho marítimo para a Índia e o descobrimento das ilhas do Atlântico.


Como observa a autora, a mitificação do Infante foi ao ponto de se procurar apresentar as suas ações menos exaltantes como movidas pelo imperativo superior da fé e do espírito de cruzada. Era uma constante dos manuais que o Infante era muito mais movido pela fé do que por motivos comerciais, e exigia-se em termos de Ministério da Educação que se escrevesse à frente do nome do Infante que era mestre da Ordem Militar de Cristo. Foi assim que D. Henrique passou do herói essencialmente laico do positivismo oitocentista para o santo mitificado pelo Estado Novo, passou a ser um exemplo de virtudes a seguir pela mocidade do nosso país.

Igualmente se desmonta a fábula que houve uma Escola de Sagres, que o Infante teria mandado erigir um observatório astronómico em Sagres, Mattoso, célebre autor de compêndios de História, dirá que o Infante estabeleceu uma escola de cosmografia náutica. Toda esta incorreção histórica teve momentos de delírio, como escreveu o Padre Marcelino da Conceição dizendo que a Escola de Sagres era a universidade náutica onde portugueses e estrangeiros aprenderam a navegar cientificamente, os Descobrimentos tinham sido feito com método e com certeza científica. Um dos responsáveis por este disparate foi Oliveira Martins. Não há uma só prova documental de alguma Escola de Sagres.

Outras incorreções aqui apresentadas pela autora prendem-se com o descobrimento e colonização do Brasil, procura-se deixar ciente de que já se conhecia a rota antes de 1500; também há mitificação quanto ao Império do Oriente, veja-se o caso de D. João de Castro, herói mítico da Índia nos compêndios:
“O relato dos cercos de Diu e dos atos de valentia que então se teriam praticado sempre estiveram integrados no conjunto das façanhas que preenchiam a memória oficial transmitida nas nossas escolas. É interessante verificar, porém, que no relato do segundo cerco o episódio das entregas das barbas pelo vice-rei como penhor do empréstimo pedido, apenas surge nos compêndios dos anos 30. Mais uma vez, pela sobrevalorização de um pequeno pormenor, a História era posta ao serviço da transmissão no conjunto de valores que o regime pretendia impor. O Império do Oriente era, nos livros escolares, o símbolo por excelência da grandeza de Portugal, mas, a partir da década de 80 do século XIX, passou a ser também a causa primordial da decadência da raça e do Reino. Neste ponto os manuais acompanham as teses então vigentes sobre a decadência da Pátria. A riqueza, o luxo, o dinheiro fácil, trouxeram consigo a indolência e a corrupção que teriam estado na origem da decadência do Império, acelerada a partir de finais do século XVI.”


Também se procura desmontar a teoria obtusa da nossa ação evangelizadora no Brasil, procurou-se exaltar a imaginação dos homens com a grande aventura dos bandeirantes. E mesmo sobre as campanhas de África e a ocupação do território não se poupou um elogio a Portugal como o melhor povo colonizador, e a prova que o colonizado estava permanentemente agradecido ao colonizador era aquele régulo timorense que se tinha deixado fuzilar para não abjurar Portugal. Em jeito de conclusão, a autora enfatiza a evolução do discurso nos manuais escolares, as tais três etapas em que se ia encaminhando a gesta dos Descobrimentos nos livros escolares falando no maior desenvolvimento científico, durante a monarquia constitucional até chegarmos aos grandes heróis do Estado Novo, como caso de D. Henrique ou de Afonso de Albuquerque que eram sábios, escritores e cientistas.

Feita esta exposição à escola e aos Descobrimentos, Luís Vidigal vai aludir à expansão contada às crianças, dá-nos a génese e desenvolvimento de uma literatura infantojuvenil em Portugal, refere os seus nomes e foca-se em duas autoras: Virgínia de Castro e Almeida e Ana de Castro Osório, como elas irão apresentar este passado grandioso que acabava por ser fonte inspiradora para o presente, os portugueses daqueles tempos, que descobriram e conquistaram o mundo destacavam-se pela valentia e a confiança em Deus. Grandes reis marcaram o sentido da História, no fundo era o moralismo com que pretendia apresentar-se o Estado Novo, como escreveu Virgínia Castro e Almeida: “A maior fortuna de quem obedece está na amizade e na confiança de quem manda. Mandar e obedecer são ofícios iguais aos olhos de Deus. Quem manda mal vale menos que quem obedece bem.”

Temos depois a imagem dos outros, a conceção de que o selvagem, o preguiçoso encontra a sua redenção no trabalho, a ação missionária jogava em vários tabuleiros: a escola, o serviço de saúde, a aprendizagem da religião, mas também aqui houve francos desenvolvimentos. Por exemplo, na I República apostava-se na laicidade, com o Estado Novo marca-se outro conceito de civilização que é a de associar o primitivo à violência e à barbárie, ou seja, houve um humanismo republicano que se pautava por uma grande tolerância e passa-se agora para um ideal de civilização em que as escolas do Império são instadas a apresentar os grandes modelos da sociedade portuguesa. Veremos no próximo apontamento qual o papel da História de Portugal e dos Descobrimentos na ideologia e na conduta das associações e organizações da juventude, neste período de 1850 a 1950.
A mitologia da escola de Sagres
Imagem integrada em Portugal Colonial, nºs 7-8, 1931
Mocidade Portuguesa na Guiné, imagem da RTP Arquivos

(continua)
_____________

Notas do editor:

Post anterior de 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27460: Notas de leitura (1867): "Os Descobrimentos no Imaginário Juvenil (1850-1950)"; edição da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses; 2000 (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 30 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27478: Notas de leitura (1869): "A Mais Breve História do Ultramar", de David Moreira (Porto, Ideias de Ler, 2025) (Virgílio Teixeira, Vila do Conde)

domingo, 30 de novembro de 2025

Guiné 61/74 - P27478: Notas de leitura (1869): "A Mais Breve História do Ultramar", de David Moreira (Porto, Ideias de Ler, 2025) (Virgílio Teixeira, Vila do Conde) - Parte I



Capa do livro de David Moreira, "A mais breve história do Ultramar". (Porto, Ideias de Ler, 2025, 2025, 308 pp, ISBN: 978-989-740-410-8) (Prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa).
 

Sinopse:

Sabia que em São Tomé havia uma tortura inútil que consistia em forçar homens acorrentados a retirar água do mar utilizando baldes? Ou que em Macau, durante a Segunda Guerra Mundial, se vendiam tigelas de caldo de carne humana? Tudo isto acontecia em Portugal, que então ia «do Minho a Timor».

A Mais Breve História do Ultramar distingue-se de outros trabalhos sobre o tema por ser ideologicamente descomprometido, bibliograficamente rico e temporalmente amplo: vai do mapa cor-de-rosa à descolonização; tanto dá voz a poetas africanos como à elite portuguesa. David Moreira consegue assim uma análise sóbria e arejada da gestão das ex-colónias – ora esquecidas e desconsideradas, ora tidas como um pilar da nossa independência e identidade.

Sobre o Autor:

David Moreira, portuense nascido em 1993, é mestre em História das Relações Internacionais pela London School of Economics — tendo-se especializado na Guerra Colonial na Guiné-Bissau — e licenciado pela Università Bocconi, onde estudou Economia Internacional, Gestão e Finanças. Foi professor de Economia no Colégio Luso-Internacional do Porto e é DJ de música eletrónica. É também um acérrimo defensor da libertação da Palestina. ( Fonte: Ideia de Ler.)




Dedicatória do autor ao Virgílio Teixeira



Virgílio Teixeira, ex-alf 
mil SAM,. CCS/BCAÇ 1833
(Nova Lamego e São Domingos, 1967/69);
natural do Porto, vive em Vila do Conde

1. Mensagens do Virgílio Teixeira, com datas de 28 de setembro e 2 de outubro de 2025.

Luis, bom dia

O autor ofereceu-me este livro, "A Mais Breve História do Ultramar". Tem prefácio de Marcelo Rebelo de Sousa.

Já li um pouco, a minha filha  mais velha foi à apresentação do livro  Não conheço o autor, é filho de uma amiga da minha filha, que lhe entregou um exemplar com uma dedicatória para mim.  É filho de Rui Moreira, antigo presidente da CM Porto.

 Já vi que trata  de todo o percurso da nossa guerra e o fim de tudo. Não faz referências a unidades, operações, etc com algumas excepções.

Era bom para o Beja Santos escrever sobre ele!. Vou ler até ao fim pois ele aguarda o meu feedback.

 Só o recebi em 27set25. Já li algumas coisas, mas tudo escrito pela 'rama', é mais um resumo de vários séculos,  e não entra em nenhuns pormenores, que interessem à maioria dos nossos grão-tabanqueiros.

Para mim, dizendo francamente e sem retirar os méritos do autor, que deve ter tido algum trabalho de´sapa' para referir tantas coisa, não me diz quase nada, e já conheço a maioria.

Trata-se de mais uma história abrangente que começa no século XVIII, e por aí fora... mas mais para ensinar os seus alunos.

Faz uma excelente descrição desde o fim da monarquia e passagem à República e depois ao Estado Novo e por aí fora.
 
Fiquei a conhecer como foi a conquista da África portuguesa, as guerras que se passaram por um mundo que a maioria não conhece. Estou a ficar obcecado com tudo, mesmo que tudo seja dito em poucas palavras.

Livro útil para aqueles que nem sabem o que foi o nosso Império Africano e de todos os lados do mundo. Tantos nomes aqui apresentados, que todos vimos por aí na toponímia das cidades, e que, eu pelo menos, não sabia o seu papel na construção daquilo que foi o nosso Império.

Faz as passagens das guerras em Moçambique e Angola no século XIX que desconhecia na sua maioria.

Uma obra bem concebida, rápida como diz o título, mas que penso não ser  compreensível para a juventude e  as pessoas de meia idade, que não sabem o que foi a guerra do Ultramar. 

No que respeita à nossa Guiné (1961-1974),  pouco diz. Refere em resumo alguns acontecimentos, e para cada um não preenche mais do que meia- dúzia de linhas, sem nenhuns pormenores, para os leigos que nada sabem:

- a Ilha do 'Como', que me parece foi uma operação "turra" de alta envergadura e em que eles ocuparam este ponto estratégico;

- seguidamente a nossa grande operação 'Tridente' em  que tomámos a ilha  aos "turras" com grandes perdas para eles;

- o pesadelo do Cheche (travessia do Rio Corubal) onde perdemos  46 militares metropolitanos , dos quais 23 do meu batalhão,  e 1 civil, guineense): foi  um acidente e uma má estratégia de Spínola, sem o autor referir porquê;

- mais uma ligeira referência, ao Spinola e outras figuras pós-25A.

Ainda bem li metade... Vou continuar a ler e fazer comentários.

Obrigado
Ab
Vt
 _____________

Nota do editor LG:

Último poste da série >  28 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27473: Notas de leitura (1868): Uma publicação guineense de consulta obrigatória: O Boletim da Associação Comercial, Industrial e Agrícola da Guiné (2) (Mário Beja Santos)