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quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27229: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (38): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 16 de Setembro de 2025:

Bom dia camaradas
Hoje envio as últimas fotos de selos da Guiné.
Depois passo a enviar outra série de objetos diferentes.

Desejo saúde para vós e vossas famílias.
Abraço
João Moreira




(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 11 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27210: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (37): Filatelia da Guiné

quinta-feira, 11 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27210: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (37): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 8 de Setembro de 2025:

Boa tarde
Com votos de saúde para vós e vossas famílias junto mais 5 fotos de selos da Guiné para publicação no nosso blogue.
Continuação de saúde para todos.
Até à próxima remessa na próxima semana.

Abraço
João Moreira






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Nota do editor

Último post da série de 4 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27185: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (36): Filatelia da Guiné

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27185: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (36): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 25 de Agosto de 2025:

Bom dia para todos.
Continuando a minha série, envio mais algumas fotos de selos da Guiné para publicares no nosso blogue.

Abraço
João Moreira






(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 28 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27162: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (35): Filatelia da Guiné

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27162: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (35): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 25 de Agosto de 2025:

Boa tarde Carlos
Voltando à rotina anterior, junto envio mais 5 selos da Guiné, para publicares no nosso Blogue.

Votos de saúde para todos.
Abraço
João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 21 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27139: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (34): Filatelia da Guiné

quinta-feira, 21 de agosto de 2025

Guiné 61/74 - P27139: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (34): Filatelia da Guiné

1. Mensagem do nosso camarada João Moreira, ex-Fur Mil At Cav MA da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), com data de 20 de Agosto de 2025:

Boa noite Carlos,
Ultrapassado o problema no meu computador, vou recomeçar o envio dos selos da Guiné para publicação no nosso Blogue.

Votos de saúde
Abraço
João Moreira


(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 24 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27050: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (33)

terça-feira, 29 de julho de 2025

Guiné 51/74 - P27065: Humor de caserna (207): A fome aguça o engenho: roubar vacas, não prenhas, aos balantas de Nhacra, com recurso aos serviços de um "ginecologista"; e "pescar" galinhas com anzol... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAV 4540, 1972/74)




Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Na piscina do quartel... O Eduardo Campos aparece em primeiro plano, a bricnar com um cãozinho. 

Foto (e legenda): © Eduardo Campos (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné




Crachá da CCAV 4540/72 (1972/74), "Somos um Caso Sério": a penúltima companhia a guarnecer Nhacra.Em 10 de abril de 1974, tinha um pelootão destacado na Ponte de Ensalmá.  Em 16 de agosto, foi rendida no subsector de Nhacra pela CCaç 4945/73 e
seguiu para Bissau, a fim de efectuar o embarque de regresso à metrópole.


1. O  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74) foi um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano, até ao fim da guerra... Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Mora na Mora e faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008. É autor da série "Histórias do Eduardo Campos".  Algumas delas têm interesse documental para se conhecer melhor como  era o quotidiano da NT nos últimos anos da guerra da Guiné. E estão, em geral,  devidamente recheadas com o "piripiri" do humor de caserna (*).  

Por norma, e se acordo com as nossas regras editoriais, não fazemos juízos de valor (de natureza ética,  disciplinar, deontológica,  política, operacional, etc.) sobre  os episódios aqui relatados (neste caso, sobre levantamentos de rancho, ladrões de vacas,  pilha-galinhas...).  Essa função cabe ao leitor, não ao editor.

A CCAÇ 4540/72, vinda do sul, de Cadique, Cantanhez, região de Tombali, esteve destacada em Nhacra cerca de um ano, desde setembro de 1973 a agosto de 1974.

Como o Eduardo já aqui escreveu, Cadique foi o inferno e Nhacra o paraíso. Ele voltaria ao "local do crime", mais de 3 décadas e meia  depois,   em abril de 2010, com um grupo de companheiros. E não escondeu a sua emoção: 

Quem por lá andou na construção da estrada que liga a Cadique, sabe o quanto nos custou, em sofrimento e morte, essa obra. A partir de Iemberem comecei a sentir e a pensar algo que jamais conseguirei decifrar, mas que posso tentar definir como um misto de emoções, desilusões, euforia, tristeza… por ali fora ia dizendo: “Aqui estive emboscado!”, “Ali morreu o A, o Bê, o Cê..”, “Foi aqui que o capitão paraquedista Terras Marques levantou 4 minas.”, etc, etc. (***)


 A fome aguça o engenho: roubar vacas, não prenhas, aos balantas de Nhacra, com recurso ao serviço de um "ginecologista"; e "pescar" galinhas com anzol... 

por Eduardo Campos


Como nada de importante acontecia  em Nhacra, os dias eram passados de uma forma totalmente diferente das matas do Cantanhez, e, acreditem que por vezes, surgiam-nos as saudades. A vida era tornava-se demasiado sedentária.

As alternativas encontradas, para fugir à rotina, eram as idas a Bissau, e, já que a alimentação nunca foi algo digno desse nome em Nhacra, aproveitava estas saídas para ir ao Pelicano, à Churrascaria de Santa Luzia, ao Bento, etc. Assim, evitava que a “dieta” que me tinha sido imposta, fosse levada muito a sério.

Por falar de alimentação, enquanto no Cantanhez suportávamos tudo, por vezes até com um sorriso, em Nhacra as coisas eram diferentes. O pessoal ficou mais rebelde e negou-se a comer duas vezes. Houve dois levantamentos de rancho.  Um dos quais teve como resultado, que passadas duas horas do início do levantamento, estávamos a comer um bacalhau cozido com batatas, que parecia ter sido confecionado no Hotel Hilton.

Embora não estivesse de oficial de dia nessa data, foi o nosso camarada e amigo tabanqueiro Vasco Ferreira (ex-alferes mil da CAÇ 4540), que resolveu o problema.

A dificuldade em adquirir gado bovino (como já disse em poste anterior , o povo,  por motivos religiosos e tradicionais,  não o vendia) (**), dava origem a que, um grupo de camaradas acompanhado de um especialista em ”ginecologia”, fossem às tabancas, de madrugada, â procura de gado. Então o nosso “especialista” apalpava… apalpava e, não estando prenha a vaca, toca a roubá-la.

Logicamente, o dono da rês vinha atrás deles a gritar e a chorar, mas não havia nada a fazer. Chegados ao aquartelamento, acabavam por fazer negócio e diziam que lhe pagavam um preço justo.

A minha eterna dúvida, nestes negócios forçados, é: “Mas que raio de preço justo era esse, se o homem não queria vender o animal!?”

A minha curiosidade sobre o desenvolvimento destas operações levou-me a que, um belo dia, os acompanhasse para ver como decorria a captura da vaca selecionada.

Nesse dia, logo por azar, o “ginecologista” improvisado enganou-se e trouxe mesmo uma vaca prenha. Foi remédio santo para mim, nunca mais comi carne bovina até ao fim da comissão.

A partir de determinada altura, mesmo cabritos, galinhas e porcos os nativos resistiam em vender. 

Aqui chegados, um camarada das transmissões inventou uma fórmula original, na época, para roubar galinhas, que constava do seguinte: um fio de pesca com vários anzóis, onde colocava uns grãos de milho. Depois pela tabanca fora ia espalhando mais alguns grãos de milho pelo chão. As galinhas vinham por ali adiante a comer os grãos e acabavam, quase sempre, por engolir um dos anzóis. Quando o tal camarada via que a bicha tinha caído na esparrela, saía rapidamente da tabanca com a “vítima” atrás dele.

(Seleção, revisão / fixação de texto, título, negritos: LG)

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 28 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27060: Humor de caserna (206): Dois conselhos que aprendi na tropa mas que depois esqueci na guerra: 'Nunca dar nas vistas, nem nunca armar em herói, já que os cemitérios estão cheios deles'..... Felizmente fui para Nhacra e acabou-se a guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74)


(***) Vd. poste de 6 de junho de 2010 > Guiné 63/74 – P6546: Histórias do Eduardo Campos (14): Cantanhez: Do inferno ao Paraíso

Guiné 61/74 - P27064: As nossas geografias emocionais (56): a Nhacra que eu conheciu no final da guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)



Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 > Foto 249 > Fonte do Vale,  desvio para a estrada para Cumeré

Foto nº 249 do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav , MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)




Guiné > Bissau > Nhacra > Agosto de 1971 >  O João Moreira em cima do espaldão do morteiro 81

Foto nº 212  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)


Guiné > Bissau > Nhacra > Janeiro de 1972 >Posto retransmissor da Emissora Oficial da Guiné, com anti-aéreas

Foto nº 227  do álbum do  João de Jesus Moreira, ex-fur mil at cav, MA, CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72)

Fotos (e legendas): © João Moreira  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]
 


Guiné > Bissau > Nhacra> c. 1973/74 > Aspeto da entrada e porta-de-armas do quartel


Foto (e legenda): © Eduardo Campos   (2010). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cacine > Cadique > Junho de 2007 > Pedras que falam da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério":  esteve aqui, em Cadique, em pleno coração do Cantanhez, na margem esquerda do Rio Cumbijã, de 12 de dezembro de 1972 a 17 de agosto de 1973.

 Foto: Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007)./ Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné 



1. Condensação de 2 textos do  Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 (Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74), um dos nossos camaradas que melhor conheceu Nhacra  onde permaneceu quase um ano. Tem  cerca de 6 dezenas de referências no blogue. Faz parte da Tabanca Grande desde 21/5/2008.

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas das suas memórias de  Nhacra, que ficava as escassas duas dezenas e meia de quilómetros, a norte de Bissau.


A Nhacra que eu conheci no final da guerra

por Eduardo Campos 




1. Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”


A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o subsector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

A área do subsector de Nhacra, tinha por limite:

  • a Norte o Rio Mansoa, 
  • a sul o Rio Geba, 
  • a Oeste o Canal do Impernal 
  • e, a leste, confinava com o Dugal.

Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa. Havia também a ligação entre Nhacra e Cumeré, em estrada asfaltada.

As tabancas mais populosas tinham ligações com as estradas principais, através de picadas largas.

Sobre o Canal de Impernal e no itinerário Bissau – Mansoa, encontrava-se a Ponte de Ensalmá, onde se mantinha em permanência um destacamento da Companhia, dada a sua importância estratégica e pelo facto capital de ser a única ponte que permitia a ligação por terra, entre Bissau e o resto do território da Guiné.

O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaraterísticas, em que os relevos praticamente não existiam. Er apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.

Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… 

Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.

A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal.

Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.

Nas zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”.

A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies. Além dos animais considerados domésticos (bovinos, caprinos, suínos e galináceos), destacavam-se as gazelas, os porcos-espinhos, os macacos, as hienas e as cabras do mato.

Nas aves destacavam-se os pelicanos, as garças os periquitos, além das perdizes, rolas, codornizes, galinha-do-mato, patos, sem esquecer  os jagudis. (...)



2. Em Nhacra, fomos encontrar os camaradas do Pelotão de Morteiros 4581/72 e os do 3º Pelotão AA da Btr AA 7040, além de dois pelotões de Milícias: o 329, aquartelado em Oco Grande,  e o 230 aquartelado em Bupe, ambos pertencendo à Companhia de Milícias de Nhacra e que ficaram adidos à CCAÇ 4540.


O IN não possuía dentro da nossa ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma atividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.

No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes: a primeira ao tempo da CCAÇ 3326, em maio de 1972, por um grupo equipado com armas automáticas e RPG-2 e 7; e a segunda em agosto de 1972, utilizando também um canhão s/r. Em ambos os casos sem qualquer consequência material ou pessoal para as NT.

Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.

As principais prioridades da nossa Companhia eram:

  •  a garantia da segurança do Centro Emissor de Nhacra,
  •  o itinerário Bissau–Mansoa;
  •  e, através de intensa actividade (patrulhamentos e reconhecimentos), evitar que o IN se aproximasse de forma a evitar que pudesse atacar a cidade/capital de Bissau, o Aeroporto de Bissalanca, os complexos miltares de Brá e da Sacor, bem como as instalações militares e civis do Cumeré.

Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.

Os aglomerados populacionais da ZA da nossa Companhia distribuíam-se por dois regulados: 
  • o Regulado de Nhacra com as tabancas de Nhacra, Teda, Sal, Bupe, Sucuto, Incume, Sumo, Nhoma e Cholufe; 
  •  e o Regulado do Cumeré com as tabancas do Cumeré, Com, Cuntanga, Quide, Birla, Caiana, Som Caramacó, Cola, Nague, Ocozinho, Rucuto e Oco Grande (reordenamento zincado).

A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais. 

Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, com a condicionante, porém,  do ancestral costume tribal que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.

Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. 

Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.

Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.

Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um ato não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. 

O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres ("choros").

Os Fulas de um modo geral eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado. Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.

A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar,  em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.

As populações tinham:
  • apoio médico/sanitário, 
  • transporte em viaturas militares, 
  • assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia,
  •  sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos.

(Seleção, revisão / fixação de texto, negritos, título: LG)


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Nota do editor LG:


segunda-feira, 28 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27060: Humor de caserna (206): Dois conselhos que aprendi na tropa mas que depois esqueci na guerra: 'Nunca dar nas vistas, nem nunca armar em herói, já que os cemitérios estão cheios deles'..... Felizmente fui para Nhacra e acabou-se a guerra (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74)



Crachá da CCAÇ 4540, "Somos um Caso Sério" (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74).  Nhacra tinha piscina, o que explica a "sereia" do emblema... (Por mostrar os mamilos, não passa no Facebook, com pena nossa... mas vamos tentar) 



1. O Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540/72  (Bigene, Cadique e Nhacra, 1972/74) tem cerca de 6 dezenas de referências no blogue, tem um excelente sentido de humor e é um bom contador de histórias, como se comprova por aquela que apresentamos a seguir. 

É também um dos melhores conhecedores de Nhacra, onde cumpriu a segunda parte da sua "comissão de serviço"...Não foi herói e tem pena. É um bom amigo e camarada que muito prezo, estando connosco, aqui na Tabanca Grande, desde 21 de maio de 2008. 

É autor da série "Histórias do Eduardo Campos". Vamos lembrar algumas dessas histórias, e que giram à volta de Nhacra.


Na tropa e na guerra, passa despercebido e nunca te armes em herói...

por Eduardo Campos 


(...) Em 17/08/73, a CCaç 4540 ("Somos um Caso Sério") disse adeus a Cadique, a bordo,  mais uma vez, da LDG Bombarda, tendo chegado a Bissau no dia seguinte e sendo conduzida para o Depósito de Adidos, em Brá, onde ficou instalada.

Nessa altura eu já não me encontrava em Cadique, pois tinha sido chamado para uma “missão” programada há algum tempo (35 dias de férias na Metrópole). Apanhei um helicóptero (coisa rara nessa altura) e voei para Bissau.

Neste preciso momento, tentei imaginar o que teria sentido na despedida de Cadique, conjuntamente com a minha Companhia, e, a única coisa que me ocorria, nessa data, era pensar: “A merda do barco nunca mais sai daqui.”

Se fosse hoje, creio bem sério, pensaria: “Foi com certa nostalgia e saudade que deixei para trás aquelas paragens, que, com sacrifício sem conta, ajudei a desenvolver e prosperar ficando ligado para sempre a Cadique.”

Depois de ter gozado as merecidas férias, regressei a Bissau em 31/08/73 e, quando entrei nos Adidos, deparei com muitas viaturas na parada prontas para saírem. Foi nessa altura que tomei conhecimento que a minha Companhia se encontrava ali, ao ver camaradas meus em cima das mencionadas viaturas.

Na recruta, o aspirante do meu pelotão dizia com alguma frequência que existiam duas formas de ultrapassar os obstáculos que a vida militar nos opunha:

  • primeira: tentar passar o mais despercebido possível daquilo que nos rodeava, não dando nas vistas;
  • segunda: nunca se armar em herói, já que os cemitérios estavam cheios deles.

Eu, ao entrar nos Adidos, quando tomei conhecimento que o pessoal e as viaturas, que eu vira momentos antes, iriam escoltar uma coluna que se deslocaria de Bissau para Farim, cometi precisamente o primeiro erro, ao violar a regra “passar despercebido”. De facto, reconheço que terei cometido uma imprevidência, “mandando umas bocas foleiras”.

O nosso capitão, ao ver quem era o “artista das bocas” (que mais parecia desfilar numa passerelle, para trás e para a frente), deve ter pensado lá para ele: “Tens a mania que és fino, então toma lá”, pois virou-se para mim e disse:

 
– Ó Campos, larga o saco e sobe para cima de uma viatura!

– Eu,  meu Capitão? – perguntei.

– Não,  a tua prima !

–  Mas eu nem sequer tenho uma arma... – exclamei.

– Nem precisas, os turras sabendo que vais na coluna não nos atacam. Logo não precisas de arma nenhuma!

E lá fomos até Farim. A partir de Mansoa vi imensos vestígios arrepiantes e desagradáveis de emboscadas, ainda por cima sob uma chuva copiosa, durante toda a viagem de ida e de volta, que jamais esquecerei.

Nesse tempo, quase todas as colunas que faziam esse percurso, eram surpreendidas com emboscadas, das quais, infelizmente, resultaram muitas mortes de camaradas nossos. Alguns dos corpos ainda se encontravam nos Adidos a aguardar embarque de regresso ao Continente.

O capitão teve razão, ia na coluna um militar que “impunha muito respeito” ao IN e de facto não aconteceu nada em toda o percurso e devo acrescentar que, em quase vinte e quatro meses de Guiné, nunca tive distribuída uma arma e nem um tiro disparei.( É verdade, nem aos pombos!)

No entanto, fui ferido várias vezes e também tive o meu momento de glória.

Os ferimentos (várias escoriações) foram fruto das “aterragens” mal feitas nas valas. Umas vezes mal calculadas e outras porque entrava de bruços, cabeça, etc. (Por favor,  não se riam porque muitos de vós também as fizeram.)

Quanto ao ato de grande de heroísmo, tudo se passou durante um ataque do PAIGC, com armas ligeiras ao nosso aquartelamento. O meu camarada de serviço foi para o abrigo, não tendo levado o rádio como lhe competia e nada nem ninguém o demoveu, para o ir buscar.

Eu, com uma calma que não me era habitual, saí do abrigo e fui buscar o rádio, regressando ao abrigo com toda a descontração deste mundo. A justificação para tal feito só a encontro num bom copo de whisky que emborcara momentos antes.

Para surpresa minha, não surgiu nenhuma proposta para o prémio Governador ou mesmo um simples louvor. Senti-me deveras injustiçado pela atitude das minhas chefias militares.

Em 08/09/73, saímos do Depósito de Adidos, com destino a Nhacra, onde iríamos substituir a CCaç 3477, “Os Gringos de Guileje”.

A partir de 19/09/73, a Companhia passou a ter á sua responsabilidade o sector de Nhacra, sob as ordens do COP 8, instalado no local.

Meus amigos, para mim e para a minha Companhia,  a guerra tinha terminado, iria ter cerca de um ano de férias e ainda por cima almoçado remuneradas. (...)

(Revisão / fixação de texto, título: LG)
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Nota do editor LG:

Último poste da série > 24 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27051: Humor de caserna (205): uma boleia para Bissau à pala de uma falsa evacuação Ypsilon (Paulo Santiago, ex-alf mil, Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)

domingo, 27 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27058: As nossas geografias emocionais (55): Nhacra, Safim, Ensalmá e João Landim do meu tempo (Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484, Nhacra e Catió, 1965/67)


Brasão da CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67)


1. Mensagem enviada ontem, dia 26, àss 17:42, pelo Benito Neves, ex-fur mil, CCAV 1484 (Nhacra e Catió, 1965/67), através do formulário de contacto do Blogger:

Em 1965/66 a CCav 1484 esteve sediada em Nhacra e fazia a guarnição de Safim com um pelotão que destacava uma secção para João Landim e outra para Ensalmá. 

Também em Safim havia um pelotão de milícia que, à noite, reforçava Ensalmá e João Landim. (*)

Em Ensalmá havia uma ponte móvel sobre o canal do Impernal que periodicamente beneficiava de manutenção. No canal as mulheres praticavam a pesca. Quer num ou noutro destacamento havia um posto de rádio. 

Em João Landim as instalações eram precárias permanentemente invadidas por baratas. No exterior havia uma mesa de madeira e barris com água expostos ao sol. Em determinada altura resolveu-se fazer uma cobertura para que a água não estivesse ao sol e se pudesse almoçar à sombra. 

Enquanto estes trabalhos decorriam com alguns militares em tronco nú, chegou na
jangada, vindo de Bula um senhor major que não gostou de ver o pessoal em tronco nú. Perguntou a um militar quem era o comandante do Destacamento e o nosso furriel Moniz (que Deus o tenha) apresentou-se ao sr major que lhe deu uma reprimenda por o pessoal andar mal fardado e do facto fez participação superior. 

A jangada fazia o seu trabalho enquanto a tropa fazia o controle de pessoas e haveres. Diariamente a CCav 1484 fazia patrulhamentos pelas tabancas da zona com controlo da população e assistência sanitária. 

A guarnição militar de Safim, Nhacra e João Landim era feita por períodos de quinze dias. No Cumeré, naquele tempo, não havia qualquer guarnição militar, apenas a tabanca onde frequentamente se faziam patrulhamentos.

Cumprimentos,
Benito Neves (**)
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Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 26 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27055: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

(**) Último poste da série > 20 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26942: As nossas geografias emocionais (54): Arábia Saudita, Mar Vermelho, Jeddah, "a porta de Meca", 2023 (António Graça de Abreu, Cascais)

sábado, 26 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27055: A Bissau do Meu Tempo (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, CCS/BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) - Parte V: Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

 


Foto nº 116A e 116


Foto nº 117A e 177



Foto nº 118 e 118A



Foto nº 114 e 114A


Foto nº 107A e 107




Foto nº  106, 106A e 106B


Foto nº 108A e 108

Foto nº 109A e 109


Foto nº 110A


Foto nº 111A


Foto nº 112


Foto nº 113A

Guiné > Ilha de Bissau   > Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1.  Continuação da publicação de fotos do álbum do Virgílio Teixeira  (ex-alf mil, SAM, CCS/BCaç 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69) (*)


A Bissau do meu tempo > Arredores: Safim, João Landim, Ensalmá e Nhacra


Legendas das fotos:

F106 – Cruzamento de estradas em Safim: Logo ao sair de Safim, está um cruzamento: para o lado esquerdo, Landim  (8 km) e Bula;  Para o lado direito, Ensalmá (5 km), Nhacra (e depois, Mansoa e Mansabá). Mas também uma ligaçáo mais curta e direta entre Bissau e Nhacra. 11 março 1968

 F107 – Ponte de Ensalmá, sobre o rio Impernal, afluente do rio Mansoa.  Ficava entre Safim e Nhacra. A 5 km do cruzamento em Safim a caminho de Nhacra, segundo diz na placa. 11 março 1968.

F108 – Vista da povoação de Nhacra. Por aqui já se viam casas e ruas arranjadas, erauma zona aparentemente calma, nessa época, mais tarde não era assim. Não me lembro de encontrar um tasco qualquer para comer umas coisas, acho que não havia, Safim ficava perto, e passava lá a tropa.  11 março 1968

F109 - Vista da povoação de Nhacra.  11 março 1968

F110 - Vista da povoação de Nhacra. 11 março 1968

F111 – Uma tarde de lazer , sentado na berma da piscina do quartel de Nhacra.  11 março 1968

F112 – Vista geral da pequena piscina do quartel de Nhacra.  11 março 1968.

F113 – Salto mortal e barrigada na piscina.  11 março 1968.

F114 – Caminhada de Safim até  João Landim.  11 março 1968

F116 – Jangada em João Landim. Junto com outro militar que ainda não sei quem era, mas andava muito comigo...11 agosto 1968.

F117 – Partida da jangada de João Landim a caminho do outro lado do Rio Mansoa..11 agosto 1968.

F118 – Na jangada na cambança do rio. 11 agosto 1968.


(Revisão / fixação de texto: LG)


2. Comentário de António Rosinha (*):


O canal Impernal que liga o Rio Geba ao Rio Mansoa, foi tão navegável que em Ensalmá foi construída uma ponte levadiça, na altura dos anos 40, uma obra caríssima de certeza, e tecnicamente interessantíssima.

O canal assoreou e em 1993 só fazia de Bissau um ilha na maré cheia.

E era em Ensalmá, onde o leito do canal dava mais pé, e um simples aqueduto resolveu a circulação da água e a ponte desativou-se.

O assoreamento deu-se, provavelmente,  porque os diques, "ouriques" em crioulo, que serviam para regularizar a água para os arrozais, não foram mais mantidos, porque a mão de obra foi para a guerra.

Talvez o amigo Virgílio ainda tenha circulado em cima da ponte de bicicleta.

Ainda conheci a ponte por cima e por baixo, uma "pérola", dava para passar uma regata de veleiros.

Hoje, no google Earth vê-se a ruina da ponte e dos encontros.