Blogue coletivo, criado e editado por Luís Graça, com o objetivo de ajudar os antigos combatentes a reconstituir o puzzle da memória da guerra da Guiné (1961/74). Iniciado em 23 Abr 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência desta guerra. Como camaradas que fomos, tratamo-nos por tu, e gostamos de dizer: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande. Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 27 de setembro de 2023
Guiné 61/74 - P24703: Facebook...ando (37): António Medina, um bravo nativo da ilha de Santo Antão, que foi fur mil na CART 527 (1963/65), trabalhou no BNU em Bissau (1967/74) e emigrou para os EUA, em 1980, fazendo hoje parte da grande diáspora lusófona - Parte II: um veterano do tempo da frada amarela, do capacete de aço e da pistola metralhadiora FB-
domingo, 15 de março de 2020
Guiné 61/74 - P20736: Ficha de unidade (11): CCAÇ 1681 (Safim, Teixeira Pinto, Caió, Bassarel, Cacheu, Bachile e Quinhamel, 1967/69), foi comandada pelo cap inf Manuel Francisco da Silva (1933-2015) (Jorge Araújo)
Mapa da região de Teixeira Pinto (Sector O1-A) por onde circulou o contingente da CCAÇ 1681 durante a sua comissão ultramarina no CTIG (1967-1969)
Último poste da série > 16 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18639: Fichas de unidades (10): A composição de um Conselho Administrativo de um batalhão de reforço (Virgílio Teixeira, ex-alf mil SAM, BCAÇ 1933, Nova Lamego e São Domingos, 1967/69)
segunda-feira, 5 de maio de 2014
Guiné 63/74 - P13101: De Lisboa a Bissau, passando por Lamego: CART 527 (1963/65). Parte I: Caió, Bula, Olossato, Fajonquito, meados de 1963...
Guiné > Região do Oio > CART 527 (1963/65) > Olossato > Julho de 1963 > Fardas novas, capacete de aço. os graduados equipados com a pistola metralhadora FBP: em primeiro plano, o fur mil António Medina (em cima); a secção do António Medina (em baixo) (montagem de L.G.)
Nota do AM: "Vasculhando os meus arquivos encontrei a foto que faço juntar, que diz respeito à mata em Olossato. Eramos todos maçaricos na altura, com a farda ainda nova. Quem tirou a foto não me lembro."... Está bastante estragada, do lado esquerdo, pelo que teve de ser recortada e editada... (LG).
Foto (e legenda): © António Medina (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: LG]
1. Mensagem, com data de 21 de abril último, do nosso camarada da diáspora (, natural de Santo Antão, Cabo Verde, a viver nos EUA) António Medina, ex-fur mil inf, CART 527 (Teixeira Pinto, Bachile, Calequisse, Cacheu, Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65):
Olá, amigo Graça,
Terminei o meu artigo , conforme te informei havia de to enviar logo que possível para ser publicado no blogue. Lamento nao ter fotos da area de Olossato que pudessem sustentar esse meu escrito, mas procurei ser o mais realista possivel. Ficarei aguardando as tuas noticias.
Um abraco camarada e amigo.
2. Resposta de L.G.:
António: Que memórias frescas!... Vou publicar e arranjar fotos... Diz-me se vais dar continuidade, e quantos textos ainda queres escrever sobre a tua vida na tropa e na guerra, e em particular sobre a história da tua CART 527... O que me mandaste podia ser "partido" em dois...Temos que fazer render o peixe... Mas, pelo que sei, tens mais histórias na forja... Vou abrir uma série, "De Lisboa a Bissau, passando por Lamego"... O início da guerra no TO da Guiné, em 1963, precisa de ser melhor documentado no nosso blogue... Vocês faziam coisas impensáveis no meu tempo (1969/71), só com um pelotão!... O que é feito do teu antigo comandante, o ex-alf mil Correia ? Tens notícias dele ?
Outra coisa: vê este documentário, de 1 hora, "Kolá San Jon é Festa di Kau Berdo", com cenas filmadas na Cova da Moura (Amadora), São Vicente e Santo Antão, a tua ilha, pode interesar-te. Foi realizado pelo Rui Simões, com produção da Real Ficção, em 2011... Está à venda em DVD:
por António Medina
Cumprindo o serviço militar na Companhia de Caçadores 2, em Mindelo, São Vicente, Cabo Verde, contando pelos dedos da mão os dias que já me faltavam para passar à peluda, inesperadamente fui mobilizado pelo RAL 1, de Lisboa, com instruções para me apresentar no Centro de Operações Especiais, em Lamego.
Deixei Cabo Verde naquela mesma noite no N/M Alfredo da Silva, revoltado e frustado por ver o meu tempo de serviço aumentar mais dois anos, e o perigo a que me iria sujeitar no teatro da Guerra. Como funcionário publico que era, tinha a garantia de retomar o meu emprego logo assim deixasse a tropa.
Fui então incorporado na CART 527. Se sucederam treinos variados, destacando a resistência física que foi a mais penosa e estafante, em especial quando se subia e se descia em cross a longa escadaria de Nossa Senhora dos Remédios. [vd foto a seguir].
Lamego: as célebres escadarias do Santuário de N. Sra: Remédios. Foto: Wikipédia |
O sol era abrasador, o calor asfixiante, o suor escorria pelo rosto de todos, alguns sentindo ainda o mal estar do enjoo. Do navio atracado se via a banda militar, um primeiro sargento e seus “cometas” davam-nos as boas vindas à terra que se dizia ser portuguesa e que teríamos de defender com unhas e dentes até à última gota de sangue.
Em meados de Junho de 1963 deixámos Bissau a caminho de Teixeira Pinto, atravessámos o rio Mansoa pela jangada de João Landim. Foi o nosso primeiro contacto com o mato.
Chegamos à pequena vila de Caió onde se encontrou um pelotão independente que terminara a comissão e aguardava qualquer momento para o embarque de regresso. Como é óbvio, tinham eles alegria no rosto, enquanto mostravamos saudade, medo, preocupação e vontade de também querer partir.
Em principios do mês de Julho o inimigo já infiltrado se mostrava activo nas zonas Norte e Leste. Do Comando de Bula [, BCAÇ 507,] chegara em cripto instruções para o nosso Alferes Correia, que juntos com o quarto pelotão tomássemos o caminho de Bula prontos a entrar em acção (sic).
Bula estava em pé de guerra com tropas chegadas de Mansoa
e outros quartéis, como reforço para a operação Morés.
Antes do Sol nascer, e sob o comando do Tenente-Coronel Felgas, partimos em coluna pelas estradas de Binar, Bissorã, Mansabá até chegarmos a Morés onde se dizia existir abrigos subterrâneos do PAIGC. Durante o percurso não houve contacto com o inimigo. Dois aviões Fiat lançaram foguetes para dentro do mato em Morés sem qualquer resposta, regressando à base em Bissau.
À tardinha foi então dada ordem de retirada para Bula, excepto ao nosso terceiro pelotão que. em vez, foi desviado para Olossato, na região do Oio, a reforçar a secção do furriel Campos que pertencia a uma companhia de Cavalaria, aquartelada em S. Domingos ou Farim.
A secção de Cavalaria ocupava um celeiro, porque o espaço não chegava para todos, eu e o colega Fidalgo ficámos numa parte do edificio da Escola Primária. Coube-nos o chão cimentado que não era de todo mau para se passar a noite, mesmo assim alguns preferiram as carteiras da escola para que mesmo sentados tivessem algum descanso.
Guiné > Mapa da província >1961 > Escala 1/500 mil > No tempo em que um pelotão dava à volta a meio território, ou pelo menos, saía de Bissau, era colocado em Caió, dependente de Bula, ira reforçar o Olossato, participava numa operação no Morés e ia acudir as gentes de Fajonquito... Estamos de meados de julho de 1963!.. Oficialmente a guerra tinha começado com uns tiros em Tite, no dia 23 de janeiro de 1963... Por sorte, ainda não havia minas... (LG)
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2014)
Batismo de fogo em Olossato e Fajonquito: início de uma guerra
Guiné, Região do Oio, Olossato, 1963. CART 527. Fur mil António Medina, equipado de pistola metralhadora FBP |
De madrugada fomos flagelados por um bando armado tentando atingir as nossas sentinelas, ao qual respondemos prontamente com o fogo das G-3. Não houve baixas.
De manhã reconhecemos a vila com casas cobertas de colmo, outras com chapas de bidons e aluminio, formando uma pequena avenida. Deparamos com uma padaria pertencente a um casal libanês e mais abaixo, quase no principio da estrada que seguia para Farim, uma sucursal da Casa Gouveia.
O nosso Alferes determinou que eu saísse a pé com o guia por uma vereda que nos levaria às traseiras da Gouveia. O Furriel de Cavalaria que saisse alguns minutos mais tarde, de Unimog com metralhadora fixa pela avenida abaixo, então foram surpreendidos pelo nosso fogo cruzado
Destacados para Olossato vindos de Morés apenas com armas e munições, o que o Furriel tinha em stock não bastava para alimentar um pelotão por muito tempo. Por isso, o nosso colega Cruz,. desprezando o perigo, saiu de Olossato a caminho de Mansoa à procura de mantimentos para voltar practicamente de mãos vazias, apenas com um saco de arroz e algumas folhas de bacalhau.
Guiné > Região do Oio > Olossato > 1958 > O senhor Reis, da Casa Gouveia. Foto nº 2267, do nosso camarada Leopoldo Correia (ex-fur mil, CART 564, Nhacra, Quinhamel, Binar, Teixeira Pinto, Encheia e Mansoa, 1963/65).
Foto (e legenda): © Leopoldo Correia (2013) Todos os direitos reservados. [Edição: L.G.]
Aliás, o colega Cruz durante o seu caminho para Mansoa viu passando em certa érea algo estranho, árvores caidas atravessando a estrada, cratera de minas que explodiram e sangue, mais tarde confirmado que naquela madrugada a tropa de Mansoa caira numa emboscada com muitas baixas.
À tardinha, um dos guardas do Posto Admninistrativo acabara de chegar dando-nos a notícia que um grupo armado do PAICG esteve na tabanca de Fajonquito, aliciando, intimidando e recrutando pessoal, onde decapitaram dois dos habitantes que, para eles, eram supostos colaboradores da tropa colonial.
O nosso alferes resolveu fazer um reconhecimento à tabanca no dia seguinte de manhã cedo. Connosco levámos alguns batedores com catanas e que iriam à frente em linha, abrindo caminho naquele mato cerrado cheio de espinheiras. Tivemos de atravessar uma bolanha de arroz, com água até aos joelhos, para que se chegasse a Fajonquito.
A tarefa não foi facil, já cansados avistámos a tabanca de Fajonquito, em terreno descoberto, cultivado de mancarra à volta. O inimigo nos surpreendeu, abrindo fogo do lado direito do terreno onde começava a mata, redireccionámos os nossos homens e contra-atacámos com as G-3, o furriel de cavalaria com a bazuca e o morteiro. O tiroteio durou algum tempo, depois fugiram deixando a minha secção com duas baixas sem gravidade.
Devo realçar o sangue frio do 1º cabo aux enfermagem que mesmo debaixo de fogo não se poupou a cuidar daqueles feridos que mereciam receber os primeiros socorros, antes de serem evacuados para o Hospital de Bissau.
Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Fajonquito > c. 1964/66 > Sérgio Neves e um camarada em cima de uma autometralhadora Daimler > Foto nº 15, do álbum fotográfico de Sérgio Neves (ex-fur mil, CCAÇ 674 (Fajonquito, 1964/66), a falecido, irmão do nosso camarada Constantino (ou Tino) Neves.
Mas aonde estaria o nosso Alferes Correia, que é feito dele ?
De inicio pensámos o pior, finalmente encontrámo-lo sentado no chão, abrigado em um monte de baga-baga. Como cristão que era, calmamente rezava seu terço. Sempre o trazia com ele, para fazer suas orações nas horas certas.
Em fins de Julho o nosso alferes nos informa que de imediato aprontássemos para o nosso regresso a Caió. É que o pelotão de Caió tinha recebido ordem de marcha e cabia agora a nós segurar aquela zona.
Doente e dando sinais de um certo desiquilíbrio, o que na altura bastante lamentámos, o nosso alferes foi levado a se apresentar na junta médica em Bissau, que o desqualificou do serviço e o evacuou para Portugal.
sábado, 15 de fevereiro de 2014
Guiné 63/74 - P12723: Tabanca Grande (427): António Cândido da Silva Medina, ex-Fur Mil Inf da CART 527 (Teixeira Pinto e Pelundo, 1963/65)
Olá camarada
Navegando pela Net deparei com o teu blogue que me chamou a atenção visto ter sido Furriel Miliciano pertencente à Companhia de Artilharia 527, sediada em Teixeira Pinto / Guiné, de 1963 a 1965.
Estive também nos destacamentos de Caió, Cacheu, Pelundo e Jolmete.
Pertencíamos ao Batalhão de Bula sob o comando do TCor. Hélio Felgas e participámos em diversas operações em Binar, Bissorã, etc.
Será que me poderei inscrever no teu blogue?
António C. Medina
2. No mesmo dia foi enviada esta mensagem ao António Medina:
Caro camarada Medina:
Muito obrigado pelo teu contacto.
Desculpa o tratamento por tu, mas é uma boa norma que seguimos na tertúlia para que não haja distinção entre idades, antigos postos militares, habilitações literárias, profissão, etc.
Receber-te-emos com todo o prazer na tertúlia. Para tal, além do posto que já sabemos, queríamos a tua especialidade e receber as duas fotos da praxe, uma do teu tempo de Guiné e outra actual, se possível tipo passe, se não umas que possamos transformar.
Poderás em jeito de apresentação, falar de ti ou contar uma pequena história. Posteriormente poderás colaborar no Blogue enviando fotos (com legendas) e contando as tuas memórias do início da guerra na Guiné, na qual foste protagonista.
Qualquer dúvida que tenhas é só perguntar que nós aqui estamos para ajudar.
Ao teu dispor os editores:
Luís Graça - luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
Carlos Vinhal - carlos.vinhal@gmail.com
Eduardo Magalhães - magalhaesribeiro04@gmail.com
Ficamos à espera das tuas próximas notícias.
Abraço
Carlos Vinhal
3. Ainda no mesmo dia recebemos esta mensagem:
Olá Vinhal:
Seguirei as instruções para que de facto possa ser admitido.
Sou de Infantaria com a especialidade de Atirador, tendo frequentado em 1961 a Escola Prática de Infantaria em Mafra e o Centro de Instrução de Sargentos Milicianos em Tavira.
Dei instrução no Regimento de Infantaria 10 em Aveiro, seguindo em 1962 para Cabo Verde, donde sou natural, para mais tarde (1963) ser mobilizado.
Regressei a Portugal para o Centro de Operações Especiais em Lamego para depois seguir para a Guiné fazendo parte da Companhia de Intervenção - Artilharia 527.
O meu batismo de fogo foi em Fajonquito quando estávamos estacionados no Olossato.
Convém mencionar que depois de terminada a comissão regressei à Guine onde fui admitido como empregado bancário em Bissau.
Dez anos depois, e com a Independência, segui para Lisboa como bancário.
Hoje sou imigrante nos USA desde 1980, residindo no Estado de Massachusetts.
[...]
Um abraço a todos
António Medina
OBS: Há mais troca de mensagens que não têm interesse pois são acertos técnicos quanto a fotos, etc.
Aqui ficam as que recebemos via mail:
3. Comentário do editor:
Caro camarada e amigo António Medina.
Renovo os nossos agradecimentos por te juntares a esta família de ex-combatentes da Guiné.
Com poucas palavras contaste-nos já muito.
Estiveste na Guiné mesmo no início da guerra, mas novidade para ti era mesmo só a guerra já que África te corria no sangue, como ilhéu de Cabo Verde.
Foste também mais um dos camaradas que terminada a sua comissão de serviço resolveu ficar a trabalhar naquele país, embora no teu caso só até à sua independência. O outro nosso camarada Mário Serra de Oliveira ficou até bastante mais tarde. Provavelmente hás-de conhecê-lo já que era um industrial da área da hotelaria, era o dono do Pelicano. Curiosamente, como tu, vive aí nos States.
Tanto na condição de ex-combatente, como depois na de residente, poderás fazer-nos o retrato do que viveste na Guiné. Hás-de ter muitas histórias para nos contar.
Para poderes acederes ao Blogue, guarda nos teus favoritos esta ligação: http.//blogueforanadaevaotres.blogspot.pt
Para enviares fotos ou textos para publicação tens estes endereços:
luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
carlos.vinhal@gmail.com
e
magalhaesribeiro04@gmail.com
Para te tirar qualquer dúvida, já sabes "onde moro".
Recebe um abraço de boas-vindas dos editores e da tertúlia.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor:
Último poste da série de 13 DE FEVEREIRO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12712: Tabanca Grande (426): Carlos Gomes Ricardo Cor Inf DFA (ex-Alferes da CCAÇ 1496/BCAÇ 1876, Bula e Bissum Naga, 1967/68; ex-Capitão, CCS/QG/Bissau e CMDT da CCAÇ 3, Guidaje, 1970/72)
sexta-feira, 18 de janeiro de 2008
Guiné 63/74 - P2451: O Nosso Livro de Visitas (4): António Alberto Alves, sociólogo, cooperante na região de Canchungo, Caió e Calquisse
Caros amigos
Vivo na Guiné-Bissau, em Canchungo (Teixeira Pinto), onde trabalho para uma ONG portuguesa no âmbito da Cooperação, apoiando os directores e professores de Escolas de tabanca da região de Canchungo, Caió e Calquisse - incluindo Pelundo e Canhobe (Carenque).
Estive no ano lectivo de 2006-07 e regresso a 28 de Setembro para o ano lectivo de 2007-08.
De passagem por Portugal descobri o vosso blogue e tenho tentado ler algumas partes, louvando o vosso objectivo geral de escrever a História pelo contributo dos próprios intervenientes. No entanto, lamento que a parte da Guiné-Bissau não possa igualmente participar: não havendo electricidade, também não há acesso a meios infomáticos e à Internet (e ao vosso blogue).
Se necessitarem de algum contacto ou iniciativa do lado de lá, do Chão Manjaco, deixo os meus contactos: 938488308 ou 00 245 6726963.
António Alberto Alves
(Sociólogo)
2. Em 18 de Janeiro de 2008 respondemos assim:
Caro António Alberto Alves
A demora na resposta à sua mensagem, não significa que as suas palavras não nos tocaram.
Na realidade ficamos sempre confortados quando alguém, que não sendo ex-combatente, mas que tendo alguma ligação à actual Guiné -Bissau, como é o seu caso, nos dá apoio, compensando assim o nosso trabalho.
A nossa ideia é escrever a história da Guerra Colonial na Guiné, contada na primeira pessoa, isto é, por todos os intervenientes, portugueses (militares ex-milicianos e do Quadro Permanente), ex-combatentes guineenses que lutaram ao lado dos portugueses e ex-combatentes do PAIGC.
Como muito bem diz, o poder de participação dos ex-combatentes guineenses é muito limitada pelos condicionalismos técnicos existentes na Guiné-Bissau, em termos, por exemplo, de Internete por falta de energia eléctrica em quase todo o país.
Temos pena, porque o testemunho de ambos os lados era essencial para uma narrativa que se quer, seja o mais fiel possível.
Melhores dias virão e a história faz-se com calma e distanciamento.
Ao terminar, queremos deixar o nosso pedido de desculpas pela demora na resposta a que tinha direito e o pedido para que nos continue a ler e a criticar.
Desejamos os melhores êxitos para o serviço que presta em benefício dessa gente maravilhosa.
Muito obrigado pelos contactos que deixou, porque podem vir a ser preciosos.
Com os nossos melhores cumprimentos
Em nome do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné,
Carlos Vinhal
(Co-editor)
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Tlm 916032220
e-mail: carlos.vinhal@oniduo.pt
Ex-Fur Mil Art MA/CART 2732
CTIGuiné/Mansabá/1970/72
Co-Editor do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
Email: luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com
domingo, 9 de dezembro de 2007
Guiné 63/74 - P2336: AD inaugura a Rádio Comunitária de Canchungo e a TV de Cantanhez (Afonso Sousa / AD)
Caro Carlos:
Captei estas notícias no site da AD - Acção para o Desenvolvimento , de que faz parte (como director executivo) o Carlos Schwarz (Pepito).
A inauguração da Rádio Comunitária do Canchungo a 9 de Novembro, assim como a da TV de Cantanhez, que ocorreu a 24, integraram-se nas comemorações do 15.º aniversário da AD.
Um cumprimento de parabéns ao Carlos Schwarz, com o desejo de felicidades.
Um abraço.
Afonso Sousa (1)
Inaugurada a Rádio Comunitária de Canchungo
A 9 de Novembro, dia em que a nossa ONG (AD) celebrou o seu XV Aniversário, começou a emitir a Rádio Comunitária Uler a Baand, que significa na língua manjaca Chegou a Hora!
A inauguração contou com numerosas associações de agricultores, de mulheres e de jovens, vindos de Calequisse, Caió, Cacheu e Canchungo, às quais se associaram o Régulo de Canchungo Baticã Ferreira, altos dignatários tradicionais, organizações internacionais como a UICN, Ong amigas vindas de várias regiões do país e representantes de igrejas de Canchungo.
Esta rádio é gerida pelos jovens desta cidade do litoral norte do país que emite para os sectores de Cacheu, Caió, Canchungo e Calequisse, programas ligados ao desenvolvimento rural, saúde, desporto, cultura, recreação e que vai dar voz aos sem voz.
Foto da inauguração da Rádio Comunitátária Uler a Baand em Canchungo
Inauguração da TV de Cantanhez, em 24 de Novembro, último.
A TV Massar, televisão comunitária de Cantanhez, que na língua nalú quer dizer TV Estrela, foi inaugurada no dia 24 de Novembro de 2007, enquanto iniciativa da associação dos jovens agricultores de Iemberém (Ajai) que protagonizou a construção das suas instalações mobilizando a mão-de-obra da comunidade local, fabricando adobes e colectando inertes.
Tem como objectivo a emissão de programas de agricultura, telescola, formação profissional, alfabetização, cultura tradicional, história, ambiente e ecoturismo, promovendo o acesso directo da população a um orgão de comunicação, resgatando valores culturais das diferentes etnias, permitindo o conhecimento de informações e programas relevantes de desenvolvimento local.
Serão difundidos programas de formação de jovens poceiros, técnicos de energia solar, carpinteiros, pedreiros, a divulgação de programas agrícolas com vista à melhoria das técnicas de cultura das principais produções, da sua protecção vegetal natural, do uso de fertilizantes orgânicos, da introdução de novas espécies de interesse económico e nutritivo e de técnicas de conservação e transformação em compotas, farinhas e óleos.
Foto da inauguração da TV de Cantanhez
Fotos © retirados do site da AD (2007)
AD - Acção para o Desenvolvimento (Guiné-Bissau)
__________
Nota de CV:
(1) Afonso M. F. Sousa, ex-Fur Mil Trms, CART 2412 (Bigene, Binta, Guidage e Barro) (1968/70
sábado, 17 de novembro de 2007
Guiné 63/74 - P2275: Estórias avulsas (11): Saídas frequentes para o mato (Albino Silva)
ex-Soldado Maqueiro,
CCS/BCAÇ 2845
Teixeira Pinto,
Jolmete,
Olossato,
Bissorã,
1968/70
Começaram as saídas frequentes para o mato
Teixeira Pinto era um Sector bastante difícil, porque era de lá que se abastecia quase sempre, e através de Escoltas, vários destacamentos, designadamente, Có, Pelundo, Jolmete, Bachile, Bassarele, Cacheu e Caió.
As colunas faziam-se em itinerários complicados devido à acção do IN que minava as estradas e abria buracos enormes pela acção de rebentamentos, e só com o apoio do Héli-canhão e Bombardeiros é que se conseguia chegar ao destino.
Por isso e devido à escassez de Enfermeiros, a partir de certa altura da comissão, era a CCS do BCAÇ 2845 que fornecia às outras Companhias, sempre que requisitado, o pessoal do Serviço de Saúde. Havia uma Escala na Enfermaria, mas quase sempre me tocava a mim a alinhar, talvez porque o meu número era baixo ou então por começar na letra A, sei lá.
Se foi verdade que durante sete meses nem do Quartel saí, a partir dessa data fui o que mais vezes saiu, na minha Companhia, como já disse a CCS.
Era o apoio de camaradas operacionais que me encorajavam e faziam com que eu fosse perdendo o receio e que aos poucos me fosse habituando a andar pelo mato.
Entre outras saídas, participei em acções de psico com camaradas da CÇAC 2368 que era do meu Batalhão, bem como em outras missões onde tinha contacto com a população no exterior, dando assistência sempre que era necessário e nisso tinha orgulho e até sentia vaidade.
Alinhei com um pelotão da CCAÇ 2313 em missões de reconhecimento, escoltas, picagens de estrada e até na capinagem, na estrada de Teixeira Pinto-Cacheu, logo após a Ponte Alferes Nunes, entre Teixeira Pinto e o Bachile.
Foto 1> Guiné> Ponte Alferes Nunes entre Teixeira Pinto e Bachile
A minha primeira participação em escoltas foi com o pelotão da CCAÇ 2313 aquartelada em Teixeira Pinto, e para o Bachile, com a duração de 7 horas sem problemas.
No dia 11 de Abril de 1969 participei noutra para Jolmete com a duração de 6h30 sem haver contacto nem se ter encontrado vestígios.
Foto 2> Guiné> Jolmete> Aquartelamento
Em 27 de Maio de 1969, participei numa escolta com o itinerário Teixeira Pinto-Jolmete-Teixeira Pinto, que teve a duração de 8 horas e segurança montada pela CCAÇ 2585, recentemente chegada a Jolmete, e por um pelotão da CCAÇ 2313 onde eu ia integrado. Tratava-se de uma escolta de reabastecimento à CCAÇ 2585, em Jolmete desde 17 de Maio 1969, e para transporte da CCAÇ 2366 que deixava Jolmete e regressava a Teixeira Pinto, de onde partiria para Bissau e depois Quinhamel.
Nas primeiras horas, cerca das 9 da manhã, foram encontrados detonadores de minas anti-carro numa curva da estrada e em zona onde já tinham havido emboscadas, mas devido à presença das NT, não chegaram a montar nenhuma mina, tendo o IN refugiado-se na mata, que por acção do Héli-Canhão e Bombardeiros que batiam a zona, a escolta não teve problemas. Tanto a CCAÇ 2366, como a CCAÇ 2313, onde eu me integrava, regressaram a Teixeira Pinto.
Momentos depois e já dentro do Quartel, chega a informação via rádio que na CCAÇ 2585 também já dentro do Quartel em Jolmete, tinha havido um acidente com arma de fogo que causou as seguintes baixas:
Feridos graves evacaudos para o HM 241
1.º cabo - 19983868 - Francisco Inácio da Paz
Soldado - 15606668 - José Martins de Almeida
Soldado - 18119468 - António Antunes Lopes
Soldado - 18457168 - Henrique Pinto Araújo
Soldado - 18450068 - António Fernandes Barbosa, que viria a falecer pouco depois
Soldado Mil - 50/67 - João da Silva - PEL MIL 128
Nós que tínhamos feito a escolta com eles, ficamos muito chocados com este triste acontecimento, pois sabíamos que iria ser bastante difícil levantar o moral daqueles camaradas que choravam a morte do camarada morto, que não sendo em combate complicava mais a situação. Sabia-se que o descuido por vezes era fatal e infelizmante eram muittos os casos.
Lembro-me ainda do dia em que o Comandante do Batalhão visitou o Pelundo.
O Comandante tinha ido ao Pelundo para participar no funeral de um Soldado Milícia. Terminadas as cerimónias, regressou a Teixeira Pinto para logo de seguida lhe ser comunicado que no regresso de uma acção de rotina nos arredores do destacamento de Pelundo, realizada pelo 3.º GCOMB/CCAÇ 2313 se tinha verificado, já no Aquartelamento, um acidente com arma de fogo (LGF 6 cm) de que resultaram as seguintes baixas:
Mortos:
Soldado - 04366267 - Orlando da Silva Lopes - CCAÇ 2313
Soldado Mil - 100/64 - Possu Djabu - Pel Mil 127
Soldado Mil - 104/64 - José Upá - Pel Mil 127
Feridos evacuados para o HM 241:
1.º cabo - 04556567 - Albino de Oliveira Coelho - CCAÇ 2313
Soldado - 04258467 - Custódio Videira Passos - CCAÇ 2313
Este foi o primeiro caso grave que vivi na Guiné em que tive de intervir com muita coragem. Desejei não mais ter de passar por situações semelhantes, pois era doloroso ver partir jovens como eu, na força da vida.
Albino Silva
Fotos e texto: © Albino Silva (2007). Direitos reservados.
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Notas de CV:
Vd. posts de:
3 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2236: Estórias avulsas (9): Um soldado que não queria sair do quartel (Albino Silva)
10 de Novembro de 2007> Guiné 63/74 - P2254: Estórias avulsas (10): 8 de Dezembro de 1968 - Dia da Mãe (Albino Silva)