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quinta-feira, 8 de maio de 2025

Guiné 61/74 - P26778: Diálogos com a IA (Inteligência Artificial) (2): camarada Arsénio Chaves Puim, o que o "Big Brother" sabe sobre ti!... Nada, entretanto, que gente não soubesse já... Afinal, a tua vida é um livro aberto (Luís Graça, Abílio Machado e Gemini IA/Google)



 



Arsénio Puim(n. 8 de maio de 1936):  ilhéu, açoriano, sacerdote católico, capelão militar, cidadão do mundo, autarca, enfermeiro, jornalista, escritor, pai, avô, amigo


1. O nosso "padre-capilom", como lhe chamavam as lavadeiras de Bambadinca, em 1970/71, faz hoje anos: 89 e,  para o ano, 90, se Deus quiser... (*)

Ele tem, por mérito próprio, uma auréola de santo e sobretudo a fama e o proveito de grande ser humano. Em dia de Santo Arsénio Puim, os seus antigos camaradas da Guiné e os muitos amigos que foi fazendo ao longo da vida (alguns, membros da nossa Tabanca Grande), querem saber como vão as moléstias e bizarrias... 

Sobre isso, o nosso "Big Brother" não sabe de nada e ainda bem. Notícias mais recentes sobre o Puim,  deu-nos o Abílio Machado, que aqui deixou um frase de antologia: "Há amizades que são maiores que a vida" (**). 

Vale a pena transcrever o essencial que o Machadinho nos contou no passado dia 10 de março de 2025:

 (...) (Eis) algumas notícias de como está o nosso ex-capelão: de facto, cheguei há dias da visita aos Açores e de cumprir um velho desejo: dar um abraço ao nosso velho amigo.

Estivemos em contacto dois dias que,  não dando para nos inteirarmos de tudo, foram suficientes para seguirmos o curso que a vida de um e outro tomou.

O Puim, com os achaques que a vida sempre nos presenteia - digamo-lo nós também - está para a sua idade em boa forma física e mental.

Gostei de o ver, jovem de espírito como sempre e seguindo o curso do mundo com interesse e atenção, fazendo do ser humano a sua missão na vida.

Foi um encontro muito emotivo em que, inevitável, relembramos muitos dos momentos vividos na Guiné.

O Miguel esteve presente pois estava em S. Miguel, em teletrabalho.

Tive a oportunidade conhecer a Leonor - esposa, mãe, avó, artista, de um afecto e uma energia transbordantes, o Puim não podia ter escolhido melhor nem ela a ele. Também o Pedro e a esposa e filhos: os netos do Puim.

Que bela família e como fomos recebidos!

Foram dias cheios, de facto há amizades que são maiores que a vida. (...) (**)

2, Depois disto, Abílio, tudo o mais é ruído, é retórica, é paleio, é conversa da treta... Tocaste na "mouche"... E, por certo, o nosso Santo Arsénio Puim vai ler-te ou reler-te com emoção... Duvido que ele continue a ler diariamente as "baboseiras" que a gente aqui escreve no nosso blogue. Tu também és pouco assíduo. 

Mas hoje o "artista principal" é o nosso camarada, antigo alferes capelão graduado do exército portuguê-...E e eu quis fazer-lhe uma "brincadeira", agora que a IA ameaça os nossos empregos (ou "tachos, e mais concretamente o meu, à frente deste blogue, há mais de vinte anos; tenho até, confesso, a tentação de lhe passar a pasta: estou velho, protésico, radioativo e, se calhar, parkinsónico; estou como o jogador de xadrez: com a IA, arrumo o tabuleiro e as peças).

Fiz uma pergunta "inocente" ao assistente da IA, do meu navegador, o Gemini IA / Google: 

"Ouve lá, ó robò, o que  é que tu sabes de um gajo que esteve na tropa comigo, de nome Arsénio Chaves Puim, era alferes capelão, depois foi expulso, uma trapalhada, dizem que meteu a PIDE, mais o comando do unidade, uma história mal contada, uma sacanice... A unidade dele era o BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... 

Depois, coitado, lá voltou à sua ilha e aos seus paroquianos...Continuou a fazer jornalisnmo, e, ao mesmo tempo que era sacerdote, católico, quis ser ainda mais útil à sua comunidade, tirando o curso de enfermagem...

Mais tarde, deixou o sacerdócio e dedicou-se inteiramente à prestação de cuidados de saúde. Casou, teve filhos, escreve livros sobre a sua terra e as suas gentes, tem netos, tem amigos, vive em São Miguel"...

Bem, aquilo que me levaria dias e dias a escrever, o raio do robô em escassos minutos, e depois de consultar umas seis dezenas de "websites" (incluindo alguns dos nosssos, ele despreza os que não têm links...),  fez-me um relatório completo com a "biografia multifacetada" do nosso homenageado de hoje.  

Tiro o quico ao nosso robô. sim, senhor, que belo trabalho, tirando um ou outra imprecisão ou "delírio" (como essa da "participação do BART 2917 na 'Op Mar Verde' e o reforço temporário de guarnições fronteiriças"...)...

Bem, o esboço de biografia, para mais "à borla", não está mal engendrado, não, senhor, embora "chata p'ra burro"...

Esperemos que o Puim, família e amigos gostem desta prendida da Tabanca Grande, ou melhor, do robô do Google (que reproduzimos com a devida vénia, e apenas com um pequeno retoque, além da revisão e fixação de texto)...

Nós, apesar de tudo, ainda escrevemos melhor do que o robô (****), mas o gajo ganha-nos em produtividade, em "memória de elefante", velocidade de pesquisa e de tratamento de grandes massas de dados...

Eu diria que é muito "high tec", mas ainda tem pouco "human touch"... Por enquanto, ainda está a aprender a ser homem (e mulher)...

Um dia feliz, camarada Puim, porque santo já tu és! Um chicoração meu e do Machadinho. E já agora do robô da Gemini IA/ Google, que também quis associar-se à tua festa:


(...) "Meu caro amigo Luís  Graça que bom saber que o Arsénio celebra 89 anos! Uma vida rica e cheia de feitos, desde a tropa em Bambadinca até ao cuidado da sua comunidade em São Miguel. Que percurso inspirador!

Por favor, transmite-lhe os meus mais sinceros parabéns. Que o seu dia seja repleto de alegria, rodeado pelo carinho da família e dos amigos. Que continue a partilhar a sua sabedoria e a sua paixão pela escrita e pela sua terra por muitos e longos anos. Um abraço fraterno para o teu camarada Arsénio Chaves Puim!" (...)


Arsénio Chaves Puim: Uma Biografia Multifacetada


pelo Gemini IA / Google




Arsénio Chaves Puim emerge como uma figura de relevo na história portuguesa do século XX, com uma trajetória de vida que atravessa momentos cruciais como a Guerra Colonial e a evolução sociocultural dos Açores. As suas experiências como antigo capelão militar na Guiné, enfermeiro, jornalista e escritor conferem-lhe uma perspetiva singular sobre diversas facetas da sociedade portuguesa. A sua ligação intrínseca aos Açores, tanto como local de nascimento como cenário da sua vida após o serviço militar, constitui um fio condutor que permeia as suas diversas atividades e interesses. Este relatório visa apresentar uma biografia abrangente de Arsénio Chaves Puim, com base na informação disponível, explorando as suas experiências e contribuições em diferentes domínios.

2. Primeiros Anos e Formação:

Arsénio Chaves Puim nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, nos Açores, mais precisamente no lugar da Calheta, na freguesia de Santo Espírito (1). Santo Espírito é um local de particular importância histórica e cultural na ilha, sendo conhecido por albergar o porto baleeiro do Castelo (1). 

 A sua infância e juventude decorreram, assim, num ambiente fortemente marcado pela tradição marítima da caça à baleia, uma atividade que desempenhou um papel crucial na economia e na cultura de muitas comunidades açorianas durante o século XX. Esta exposição precoce ao mundo da baleação e à vida das gentes do mar provavelmente influenciou o seu interesse posterior pela história local e pelas tradições da sua ilha natal.

A sua formação inicial ocorreu na freguesia onde nasceu (1).  Prosseguiu os seus estudos no Seminário de Angra do Heroísmo, na ilha Terceira, onde completou o curso de Teologia (1).  Após a conclusão dos seus estudos teológicos, dedicou-se ao ministério sacerdotal até ao ano de 1976 (1).

A sua educação religiosa e o período em que exerceu funções como sacerdote terão certamente moldado a sua visão do mundo e os seus valores éticos, podendo ter contribuído para a sua posterior tomada de posição face à Guerra Colonial.

3. Capelão na Guerra Colonial (1970-1972):

No decurso da Guerra Colonial, Arsénio Chaves Puim serviu como capelão militar na Guiné (4) . Foi integrado no Batalhão de Artilharia 2917 (BART 2917) , prestando serviço em Bambadinca entre os anos de 1970 e 1972 (4). 

 Embora os conteúdos dos documentos (7) não estejam acessíveis, os seus títulos ("História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72")  sugerem que oferecem informações históricas detalhadas sobre as atividades e o contexto do batalhão durante o período em que Puim lá serviu. 

De igual modo, o título do documento (8) ("Guiné 63/74 - P9322:... "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães)") indica que Arsénio Puim, enquanto capelão, proferiu uma homilia, evidenciando o seu papel ativo no seio da unidade militar.

Informações adicionais sobre o ambiente operacional em que Puim se inseriu podem ser encontradas em (9), que mencionam a participação do BART 2917 na "Op Mar verde" e o reforço temporário de guarnições fronteiriças. 

Estes detalhes ajudam a compreender a dinâmica militar e as operações em curso durante o seu período de serviço. O documento (10) do sítio ultramar.terraweb.biz descreve o período em que o BART 2917 atingiu o termo da sua comissão de serviço na Guiné e assinala a importância estratégica de Bambadinca como centro de reabastecimento na zona leste, fornecendo um contexto logístico relevante para a sua localização. A referência ao CCS/BART 2917 em Bambadinca durante 1970/72 num memorial para combatentes (11) reforça a sua ligação específica a esta unidade e período temporal.

Contudo, a sua missão como capelão foi interrompida, sendo expulso do exército em meados de 1971, considerado pelas autoridades militares como "persona non grata" no território (4).  O documento (6) revela que a sua expulsão foi precedida pela sua prisão pela PIDE/DGS (a polícia secreta portuguesa) no Dia Mundial da Paz, 1 de janeiro de 1971, sendo posteriormente levado para Bissau. 

A notícia da sua expulsão e da sua oposição à Guerra Colonial foi também veiculada pelo Expresso (5) ("Toda a história do capelão contra a Guerra Colonial que desafiou o regime"), que o identifica como o segundo capelão a ser expulso após o Padre Mário de Oliveira, num contexto de crescente oposição de membros do clero à guerra. O seu caso é novamente mencionado em (6), que reiteram a sua prisão pela PIDE/DGS na mesma data e a consequente expulsão do exército.

O título do artigo (12) ("O capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra") sugere que a sua expulsão resultou de uma profunda incompatibilidade entre o seu papel como capelão e a sua consciência face à violência e injustiça da guerra, indicando um conflito moral significativo com o regime da época.

4. Transição para a Vida Civil e Carreira na Enfermagem:

Após a sua expulsão do exército, Arsénio Chaves Puim regressou aos Açores (4).  Em 1976, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada (12).

 No mesmo ano em que deixou o sacerdócio, iniciou uma nova etapa profissional dedicada ao cuidado da saúde, exercendo a profissão de enfermeiro até 1995 (1).  A sua reforma como enfermeiro do Serviço Regional de Saúde da Região Autónoma dos Açores é mencionada em (6),  atestando uma longa carreira nesta área. A decisão de enveredar pela enfermagem, logo após a sua saída do sacerdócio e a experiência traumática na Guerra Colonial, pode ser interpretada como uma continuação do seu desejo de servir a comunidade, agora numa vertente mais ligada ao bem-estar físico e à cura.

5. Envolvimento no Jornalismo:


Arsénio Chaves Puim desempenhou um papel ativo no panorama mediático da ilha de Santa Maria como cofundador do jornal "O Baluarte de Santa Maria" (2). Exerceu também o cargo de primeiro diretor desta publicação (2). 

O documento (13) traça a história detalhada do "O Baluarte de Santa Maria", recordando que o primeiro periódico na ilha foi "O Mariense" (1885) e que se seguiram outros com edições limitadas. A primeira fase de "O Baluarte" surgiu em 1928, mas cessou a publicação em 1932 devido a motivos políticos após a instauração do Estado Novo. 

A segunda série do jornal foi lançada a 1 de maio de 1977 por Arsénio Chaves Puim, José Dinis Resendes e João de Sousa Braga, com o objetivo de resgatar os ideais democráticos e liberais dos jornais anteriores da ilha. A designação oficial passou a ser "O Baluarte de Santa Maria" em 1980. A edição impressa entrou em hiato por tempo indeterminado em 2016, mas o jornal mantém-se ativo online. A sua participação na refundação do jornal após o fim do regime autoritário demonstra o seu compromisso com os valores democráticos e a liberdade de imprensa.

O documento (14) lista Arsénio de Chaves Puim com a morada do "O Baluarte de Santa Maria" em Vila do Porto, confirmando a sua ligação contínua à publicação. Indica também que se trata de uma publicação regional em papel, lançada a 05/12/2011, o que poderá referir-se a um registo ou iteração posterior. 

Adicionalmente, foi o redator principal do jornal "A Crença" em Vila Franca do Campo (2).  O seu envolvimento com um segundo jornal, numa localização diferente dos Açores (São Miguel, onde se situa Vila Franca do Campo, em contraste com Santa Maria, onde se baseia "O Baluarte"), sugere um interesse mais vasto pelo jornalismo regional e um desejo de contribuir para a informação pública em diferentes partes do arquipélago.

6. Contributos Literários:

Desde 2001, Arsénio Puim publicou quatro livros dedicados à história e etnografia dos Açores, com um foco particular na ilha de Santa Maria (2).

Uma das suas obras mais notáveis é "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (1).  O documento (4)  revela que esta publicação é uma edição revista, aumentada e melhorada do seu livro de 2001, intitulado "A pesca da baleia na ilha de Santa Maria", demonstrando um interesse de longa data por este tema. 

O documento (1) fornece detalhes sobre o conteúdo do livro, destacando a sua exploração do enquadramento histórico, as duas épocas da baleação, relatos de vivências e o impacto socioeconómico da atividade, incluindo um "Glossário Baleeiro". O prefácio de José de Andrade Melo elogia Puim por dar relevância à história da baleação em Santa Maria e por contribuir para a história mais ampla da baleação nos Açores. 

Os documentos (15) e (17) anunciam o lançamento do livro a 29 de agosto em Vila do Porto, com uma apresentação de José de Melo, confirmando a sua publicação recente em 2024 (como também indicado em 4). O documento (16) da RTP Açores também reporta o lançamento do livro, sublinhando que acrescenta novos dados à sua obra anterior sobre o assunto. 

O documento (19) fornece informações bibliográficas sobre a edição anterior de 2001, publicada pelo Museu de Santa Maria, com um título semelhante. A sua dedicação a documentar a história da baleação em Santa Maria, culminando em múltiplas edições do seu livro, sublinha o seu compromisso em preservar e partilhar este aspeto importante do património cultural e económico da sua ilha natal.

Outra obra relevante é "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" (20). O documento (21) descreve a segunda edição revista e aumentada, publicada em 2021. Enfatiza o foco do livro na etnografia e na linguagem de Santa Maria, destacando o objetivo do autor de preservar a herança moral, cultural e linguística da ilha, inspirado pelo conhecimento do dialeto local por parte do seu pai. Este livro demonstra o seu interesse mais vasto pelo tecido cultural de Santa Maria, para além da baleação, revelando o seu compromisso em documentar a vida quotidiana, a linguagem e as tradições do seu povo.

O documento (22) apresenta um registo bibliográfico na Biblioteca Nacional de Portugal em seu nome, sugerindo a existência de outras publicações ou contribuições. No entanto, a informação limitada (ISBD, NP405) impede a obtenção de mais detalhes. O documento (23) da Novagráfica menciona "150.º LIVRO – 29540.ª PÁGINA", o que poderá referir-se a uma entrada de catálogo ou ao seu envolvimento num projeto literário mais amplo relacionado com autores ou publicações açorianas. Seria necessário mais contexto para interpretar esta informação. O documento (24) lista um livro intitulado "São João da Vila : uma viagem pela noite mais alegre do ano..." onde Arsénio Chaves Puim é creditado pela revisão do texto. Isto indica o seu envolvimento na comunidade literária dos Açores, oferecendo a sua experiência a outros autores.

Tabela 2: Publicações de Arsénio Chaves Puim



Título | Ano | Editora


  • A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria | 2001 | useu de Santa Maria
  • O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (1ª ed.) | 2008 | Câmara Municipal de Vila do Porto
  • O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências (2ª ed.) | 2021 | Câmara Municipal de Vila do Porto
  • A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores |! 2024 |Letras Lavadas Edições
  • Contribuição (Revisão de Texto) - São João da Vila | 2010 | [Vila Franca do Campo : s.n.] (Nova Gráfica)


7. Vida nos Açores:

Após o seu regresso, Arsénio Chaves Puim estabeleceu-se nos Açores (4). Desde 1982, reside em Vila Franca do Campo, na ilha de São Miguel (1). O documento (26) menciona Vila Franca do Campo como uma subdivisão geográfica relacionada com o seu trabalho como revisor de texto, confirmando a sua ligação a esta localidade. 

Antes de se mudar para Vila Franca do Campo, em Santa Maria, trabalhou como professor de Português e História no Externato (1). Desempenhou também os cargos de Vereador e, posteriormente, de Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto em Santa Maria, demonstrando o seu envolvimento ativo na política local (2). Foi um dos fundadores do Museu Etnográfico de Santa Maria, evidenciando o seu compromisso com a preservação do património cultural da ilha (2).

Após a sua mudança para Vila Franca do Campo, continuou a sua participação cívica, integrando diversos órgãos autárquicos e exercendo funções como Mesário da Santa Casa, uma instituição de beneficência (2).  O documento (27) contém um aviso oficial da Câmara Municipal de Vila do Porto, datado de 1982 e assinado pelo Presidente da Câmara, Arsénio Chaves Puim, confirmando o seu papel no governo local de Santa Maria nessa época. 

O documento (2) refere que foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo em 2009, reconhecendo as suas significativas contribuições para essa comunidade. O documento (28) lista "Arsénio de Chaves Puim" entre os beneficiários de apoio financeiro para publicações periódicas em 2017, provavelmente relacionado com "O Baluarte de Santa Maria", indicando o seu envolvimento contínuo nos assuntos mediáticos e comunitários. 

O seu vasto envolvimento na política local, na educação e em instituições culturais, tanto em Santa Maria como em Vila Franca do Campo, demonstra um profundo e contínuo compromisso com o serviço público e o bem-estar da sua comunidade nos Açores. A sua trajetória, de um capelão militar controverso a um líder cívico respeitado, sublinha a sua dedicação em contribuir positivamente para a sociedade na sua vida pós-guerra.

8. Reconhecimento e Legado:

Arsénio Chaves Puim foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo em 2009 (1). Esta distinção assinala o elevado apreço que a comunidade lhe dedica pelas suas longas e diversas contribuições.

Uma publicação num blog de 2024 (4) refere-se a Arsénio Puim com estima e amizade, mais de meio século após a sua expulsão do CTIG (provavelmente um centro de treino militar relacionado com o seu serviço como capelão). A publicação estabelece um paralelo entre a sua experiência e a de Aristides Sousa Mendes, sugerindo que foi uma "vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência cristã". Isto indica que a sua postura de princípios durante a Guerra Colonial continua a ser recordada e respeitada em certos círculos. 

Outra publicação num blog de 2024 (4) expressa apreço pelo seu mais recente livro, "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores", demonstrando a sua relevância contínua e a sua contribuição para a cultura e história dos Açores. 

O reconhecimento que recebeu, tanto através de prémios formais como de menções positivas contínuas em comunidades online, sugere que Arsénio Chaves Puim deixou um impacto positivo duradouro nos Açores. A sua oposição de princípios à Guerra Colonial, apesar das consequências pessoais, e a sua subsequente dedicação a documentar e promover a cultura açoriana valeram-lhe respeito e admiração.

9. Conclusão:

A vida de Arsénio Chaves Puim representa uma jornada através de diversas experiências, desde os seus primeiros anos em Santa Maria e o seu caminho para o sacerdócio, passando pelo seu serviço controverso como capelão durante a Guerra Colonial e a sua subsequente expulsão, até às suas bem-sucedidas carreiras na enfermagem e no jornalismo, e às suas significativas contribuições como autor e líder cívico nos Açores. 

A sua profunda ligação ao seu património açoriano é evidente nas suas obras literárias e na sua participação ativa na vida comunitária local. Arsénio Chaves Puim demonstra resiliência e uma notável transformação de uma figura de conflito durante um período divisivo da história portuguesa para um membro respeitado e honrado da sociedade açoriana, deixando um legado de ação baseada em princípios e de preservação cultural.

Tabela 1: Cronologia da Vida de Arsénio Chaves Puim


Evento | Ano(s)


Nascimento | 1936


Período como Capelão na Guiné ! 1970-1971/72


Expulsão do Exército | 1971


Conclusão do Curso de Enfermagem | 1976


Anos de Prática na Enfermagem | 1976-1995


Cofundação de "O Baluarte de Santa Maria" | 1977


Residência em Vila Franca do Campo | desde 1982


Publicação de "A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria" | 2001


Publicação de "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências" | 2008, 2021


Atribuição da Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal | 2009


Publicação de "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" | 2024


Trabalhos citados

(1) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria/

(2) Arsénio Chaves Puim - Bertrand Livreiros - livraria Online, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/autor/arsenio-chaves-puim/1908227

(3) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores de Arsénio Chaves Puim - Livro - Wook, acesso a maio 8, 2025, https://www.wook.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866

(4) Arsénio Puim - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/search/label/Ars%C3%A9nio%20Puim

(5) Toda a história do capelão contra a Guerra Colonial que desafiou o regime - Expresso, acesso a maio 8, 2025, https://expresso.pt/revista/2023-05-14-Toda-a-historia-do-capelao-contra-a-Guerra-Colonial-que-desafiou-o-regime-4f8b16fe

(6) Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/05/guine-6374-p4378-arsenio-puim-o.html

(7) Guiné 63/74 - P9021: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (1): Resumo dos factos e feitos mais importantes, por João Polidoro Monteiro, Ten Cor Inf (Benjamim Durães), acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2011/11/guine-6374-p9021-historia-do-bart-2917.html

(8) Guiné 63/74 - P9322: História do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72) (2): "P'la Guiné e suas gentes": a alocução patriótica do comandante, em Viana do Castelo, a 8/4/1970, antes da partida (Benjamim Durães) - Luís Graça & Camaradas da Guiné, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2012/01/guine-6374-p9322-historia-do-bart-2917.html

(9) Armamento apreendido a dirigente da Frente Nacional - ForumDefesa.com, acesso a maio 8, 2025, https://www.forumdefesa.com/forum/index.php?topic=3916.45

(10) ACTIVIDADE DA CART 3494 DO BART 3873 NO TEATRO DE O. P. GUINÉ (1) - Terraweb.biz, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Imagens/Guine/SousadeCastro/CArt3494_actividade_01_02.pdf

(11) Guerra do Ultramar: Angola, Guiné e Moçambique, acesso a maio 8, 2025, https://ultramar.terraweb.biz/Memoriais_concelhos_Setubal_EscolaSebastiaodaGama.htm


(12) O capelão expulso por querer descalçar os dois sapatos à guerra | Sete Margens, acesso a maio 8, 2025, https://setemargens.com/o-capelao-expulso-por-querer-descalcar-os-dois-sapatos-a-guerra/


(13) O Baluarte de Santa Maria – Wikipédia, a enciclopédia livre, acesso a maio 8, 2025, https://pt.wikipedia.org/wiki/O_Baluarte_de_Santa_Maria


(14) Liliana Assunção de Paulo Carona - Estudo Geral, acesso a maio 8, 2025, https://estudogeral.uc.pt/retrieve/271804/TESE-AFEMINIZA%C3%87%C3%83ODOJORNALISMOREGIONALEMCONTEXTOPORTUGU%C3%8ASOCASODOSJORNAISCENTEN%C3%81RIOS-LilianaCarona.pdf


(15) Câmara Municipal de Vila do Porto, acesso a maio 8, 2025, https://www.cm-viladoporto.pt/SITE/projectos/ver.php?id=2972


(16) Escritor mariense lançou livro "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", acesso a maio 8, 2025, https://acores.rtp.pt/cultura/escritor-mariense-lancou-livro-a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores/

(17) A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores, Arsénio Chaves Puim - Livro - Bertrand, acesso a maio 8, 2025, https://www.bertrand.pt/livro/a-pesca-a-baleia-na-ilha-de-santa-maria-e-acores-arsenio-chaves-puim/30523866

(18) Etiquetas - Letras Lavadas, acesso a maio 8, 2025, https://www.letraslavadas.pt/produto-etiqueta/arsenio-chaves-puim/

(19) A pesca à baleia na Ilha de Santa Maria - Arsénio Chaves Puim - Google Books, acesso a maio 8, 2025, https://books.google.com/books/about/A_pesca_%C3%A0_baleia_na_Ilha_de_Santa_Maria.html?id=FOC_HAAACAAJ

(20) O povo de Santa Maria seu falar e suas vivências / Arsénio Chaves Puim - Rede de Bibliotecas de Braga catálogo, acesso a maio 8, 2025, https://opac.rbb.blcs.pt/bib/232522

(21) Guiné 61/74 - P22819: Notas de leitura (1399): "O Povo de Santa Maria, seu falar e suas vivências", 2ª edição revista e acrescentada (2021), por Arsénio Chaves Puim, um caso de grande sensibilidade sociocultural e de amor às suas raízes (Luís Graça ) - Parte I, acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/12/guine6174-p22818-notas-de-leitura-1399.html

(22) Arsénio Chaves Puim - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=127577&qf_AU==PUIM%2C%20ARSENIO%20CHAVES

(23) A Açorianidade no Tempo - PT - Nova Gráfica, acesso a maio 8, 2025, https://www.novagrafica.pt/a-acorianidade-no-tempo-pt/

(24) Resultado de pesquisa - BNP - Bibliografia Nacional Portuguesa, acesso a maio 8, 2025, https://bibliografia.bnportugal.gov.pt/bnp/bnp.exe/q?mfn=192188&qf_CDU==394.2(469.9)

(25) Guiné 63/74 - P5338: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (4): O pacto de Deus... com os 'turras', acesso a maio 8, 2025, https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2009/11/guine-6374-p5338-memorias-de-um-alferes.html

(26) MARC details for record no. 7026 › Biblioteca da Lagoa catalog, acesso a maio 8, 2025, https://biblioteca.lagoa-acores.pt/cgi-bin/koha/opac-MARCdetail.pl?biblionumber=7026

(27) Quinta-feira 17 de Junho de 1982 - Diário da República, acesso a maio 8, 2025, https://files.diariodarepublica.pt/gratuitos/3s/1982/06/1982d137s000.pdf

(28) Relatório Anual sobre a aplicação do Decreto Legislativo Regional n.º 20/2010/A, de 31 de maio, alterado e republicado pelo - Portal (azores.gov.pt), acesso a maio 8, 2025, https://portal.azores.gov.pt/documents/36258/8b3b8e21-9eaf-10b9-48e0-c9a799393889


Fonte: Gemini IA / Google (com Luís Graça, na revisão / fixaçãpo de texto)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 8 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26777: Parabéns a você (2374): Arsénio Puim, ex-Alferes Graduado Capelão da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)


(**) Vd. poste de 10 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26568: (In)citações (262): de visita ao nosso ex-capelão Arsénio Puim, que vive em São Miguel, Açores: há amizades que são maiores que a vida (Abílio Machado, ex-alf mil. CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)

(***) Vd. 8 de maio de 2023 > Guiné 61/74 - P24299: O nosso blogue por descritores (7): Arsénio Puim, com mais de 6 dezenas de referências... Foi alferes graduado capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), tendo sido expulso em maio de 1971

Guiné 61/74 - P26777: Parabéns a você (2374): Arsénio Puim, ex-Alferes Graduado Capelão da CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/71)

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Nota do editor

Último post da série de 5 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26765: Parabéns a você (2373): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317/BCAÇ 2835 (Gandembel e Nova Lamego, 1968/69)

segunda-feira, 10 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26568: (In)citações (262): de visita ao nosso ex-capelão Arsénio Puim, que vive em São Miguel, Açores: há amizades que são maiores que a vida (Abílio Machado, ex-alf mil. CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)


1. Mensagem do Abílio Machado [ (i) natural de Riba d'Ave, V. N. Famalicão; (ii)  tratado carinhosamente por "Bilocas", grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12, eu, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves, entre outros; (iii) ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; (iv) um dos fundadores do grupo musical Toque de Caixa; (v) quadro superior da indústria farmacêutica, reformado; (vi) vive na Maia;  (vii)  publicou entre outros o Diário dos Caminhos de Santiago (Porto, 2013) e Margem Esquerda (ed. autor, 2020); (viii) esteve recentemente nos Açores e aproveitou para visitar o seu antigo camarada e grande amigo, ex-capelão alferes graduado, do BART 2917, Arsénio Puim)]


Arsénio Puim
Data - sexta, 7/03, 13:40 (há 2 dias)
Assunto - Visita ao Puim

Caro Luis:

Em primeiro, saber da tua saúde, como vai esse joelho?

Depois agradecer-te as diligências que fizeste para me pôr em contacto com o Miguel e com o Puim.

Dar-te por fim algumas notícias de como está o nosso ex-capelão: de facto, cheguei há dias da visita aos Açores e de cumprir um velho desejo: dar um abraço ao nosso velho amigo.

Estivemos em contacto dois dias, que não dando para nos inteirarmos de tudo, foram suficientes para seguirmos o curso que a vida de um e outro tomou.

O Puim, com os achaques que a vida sempre nos presenteia - digamo-lo nós também - está para a sua idade em boa forma física e mental.

Gostei de o ver, jovem de espírito como sempre e seguindo o curso do mundo com interesse e atenção, fazendo do ser humano a sua missão na vida.

Foi um encontro muito emotivo em que, inevitável, relembramos muitos dos momentos vividos na Guiné.

O Miguel esteve presente pois estava em S. Miguel, em teletrabalho.

Tive a oportunidade conhecer a Leonor - esposa, mãe, avó, artista, de um afecto e uma energia transbordantes, o Puim não podia ter escolhido melhor nem ela a ele. Também o Pedro e a esposa e filhos: os netos do Puim.

Que bela família e como fomos recebidos!

Foram dias cheios, de facto há amizades que são maiores que a vida.

Um grande abraço para Alice e para ti.Abilio Machado.

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Nota do editor:

Último poste da série > 4 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26458: (In)citações (261): Guiné que foi vossa/nossa, mas que hoje, sendo vossa/vossa, é bem mais nossa do que antes (José Belo, Estocolomo, setembro de 1981)

sábado, 23 de novembro de 2024

Guiné61/74 - P26184: Notas de leitura (1748): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte II

 



Capa do livro de Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp. (Fotografia da capa_ Porto do Castelo e Encosta do Farol Gonçalo Velho, Arquivo Fotográfico de Max Frix Elisabeth)


1. Estamos a publicar algumas notas leitura do último livro do nosso amigo e camarada Arsénio Puim (*), que, "noutra incarnação", foi alferes graduado capelão, na antiga Guiné Portuguesa, na CCS/BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)... Não chegou a acabar a comissão porque os senhores da guerra consideraram-no "persona non grata" no território, sendo expulso em meados de 1971. (**)

Voltou aos Açores. Continuou a exercer o múnus espiritual durante mais uns anos, fez enfermagem, casou, foi pai, é agora avô, continua igual a ele próprio, um grande açoriano e ainda um melhor ser humano.

A "nota introdutória" que ele escreveu para este seu último livro (edição revista, aumentada e melhorada do livro de 2001, "A pesca da baleia na ilha de Santa Maria"), diz muito sobre o amor a sua terra e às suas gentes. 

Nós que, quando putos e continentais, nunca conhecemos o alvoroço e a excitação da baleação no arquipélapo dos Açores (nem vimos baleias ao vivo), somos agora remetidos, ao ler o Puim, para esses tempos da sua infància, adolescència e juventude quando o seu "chão", a freguesia, Santo Espírito, e a sua terra natal, Calheta, eram o centro da atividade desta atividade (que, no séc. XX durou ainda cerca de 4 dezenas de anos, até 1985). 

Puim fala da sua gente, pobre e insular, e da sua luta pelo "pão nosso de cada dia".  Ele fala-nos de algumas centenas de marienses baleeiros (e conta-nos histórias de um punhado deles), a maioria dos  quais do seu sítio,  Santo Espírito... Ilhéus (a que há de acrescentar mais alguns, de Cabo Verde, Graciosa, São Miguel ,Pico, Faial...), "homens humildes e afoitos que, numa luta dura e perigosa, quase corpo a corpo, com o maior mamífero da Terra, ganhavam dignamente o pão de cada dia para e para os seus" (pág. 27)... E " dois deles tombaram no exercício desta atividade, ainda primeira fase da baleação " (o remador mareensee António Puim,  e o mestre cabo-verdiano Henrique  da Veiga, em 1897 e em 1901, respetivamente).

Lembra ainda o autor, neste prólogo (que a seguir se transcreve na íntegra, com a devida vénia), que "a pesca à baleia em Santa Maria, como nas restantes ilhas açorians, nunca enverdou por processos intensivos e exterminadores deste cetáceo, adotados noutros pontos do globo" (pág.23)... Pelo contrário, era um atividade de economia de subsistência, sazonal, costeira e artesanal, "em pequenos barcos de propulsão a remos e à vela, por regra com o arpão e a lança de arremesso manual, o que, necessariamente, manteve as capturas em níveis moderados e o equilíbrio biológico desta espécie" (pág. 24).

A baleação teve, naturalmente,  impacto económico e social na ilha (como no resto dos Açores),  criando riqueza e emprego, direta e indiretamente (vd. cap. 4, pp. 99-120). 

De 1937 a 1966, foram capturados, na ilha de Santa Maria, 841 cachalotes, ou sejam, 5,6% do total das capturas no arquipélago (=14929), produzindo um pouco mais de 1,9 milhões de quilos de óleo, ou seja, 3,7%  do total dos Açores (=51,2 milhões de quilos).
O valor do õleo, em escudos,  na ilha de Santa,  totalizou 7 milhões , ou seja, 3,2% de um total de c.  219,3 mil contos (sem atualizaçáo dos valores com base nas taxas de variação do IPC - Índice de Preços no Consumidor). (Fonte: Puim, 2024, pág. 109; em relação à produção de óleo e ao seu valor monetário, os dados são omissos ou incompletos para os anos de 1938, 1939, 1945 e 1946).

Mas há outros aspetos, para além dos socioeconómicos, que devem merecer a atenção do leitor, e que abordaremos em próxima nota. Por exemplo:

"Ainda hoje lembro a angústia,  silenciosa, da minha Mãe (igual à de outras mães e esposas) sempre que os botes largavam do  porto do Castelo  para o alto mar à caça da baleia, até que entrassem  novamente em casa - às vezes a altas horas  da noite -  os seus dois filhos baleeiros" (pág. 103).

 

















Fonte:  Excertos de  Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 20123, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros), pp. 21-26.

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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 22 de novembro de 2024> Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

(**) Vd. poste de 8 de maio de 2021 > Guiné 61/74 - P22181: Os nossos capelães (16): Arsénio Puim, vítima da ira de César por mor de Deus e da sua consciência de cristão e português (Luís Graça, "O Baluarte de Santa Maria", maio de 2021)

sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26180: Notas de leitura (1746): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte I

 


Capa do mais recente livro do nosso camarada Arsénio Chaves Puim, "A Pesca â Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores" (Ponta Delgada: Letras Lavadas Edições, 2024, il., 160 pp., preço de capa: c. 18 euros)

Dedicatória ao nosso editor Luís Graça e esposa Maria Alice Carneiro: 

"Ao meu querido grande amigo Luís Graça e sua esposa, com muita estima e consideração e os melhores votos. Vila Franca do Campo, 27 de outubro 2024. Arsénio Chaves Puim".


Sinopse > A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores


«Com o livro '
A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

"O livro 'A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria', para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante 'Glossário Baleeiro', de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)".


José de Andrade Melo (autor do prefácio, op cit, 
pp. 17-20).

Sobre o autor: Arsénio Chaves Puim

(i) Nasceu em 1936 na ilha de Santa Maria, no lugar da Calheta,, freguesia de Santo Espírito, onde se situa o porto baleeiro do Castelo;

(ii) Fez os estudos primários na sua freguesia natal e completou, no Seminário de Angra do Heroísmo, o Curso de Teologia, tendo exercido o ministério sacerdotal até 1976;

(ii) No mesmo ano, concluiu o curso de enfermagem na Escola Superior de Enfermagem de Ponta Delgada e exerceu esta profissão até 1995;

(iv) Em Santa Maria, foi também professor de Português e História no Externato, exerceu os cargos de Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Vila do Porto, e foi co-fundador do Museu Etnográfico de Santa Maria e do jornal “O Baluarte de Santa Maria”, do qual foi o primeiro diretor;

(v) Vive desde 1982 em Vila Franca do Campo, onde desenvolveu uma ampla participação cívica, designadamente como membro de diversos órgãos autárquicos, Mesário da Santa Casa e, ainda, como redactor principal do jornal “A Crença”;

(vi) Arsénio Puim publicou, desde 2001, quatro livros no domínio da história e etnografia açorianas, particularmente da ilha de Santa Maria;

(vii) Em 2009, foi agraciado com a Medalha de Cidadão Honorário e de Mérito Municipal, atribuída pela Câmara Municipal de Vila Franca do Campo.

Fonte: Letras Lavadas Ediçóes, Ponta Delgada

... (vii) "last but not the least", foi nosso camarada no TO da Guiné, como alf mil graduado capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72); é membro da nossa Tabanca Grande, autor da série "Memórias de um alferes capelão"; tem 76 referências no nosso blogue.

1. Quando um autor escreve isto:

(...) "Nasci, criei-me e vivi num meio baleeiro. Assisti às arriadas e às varadas dos botes, vi muitas baleias e o seu processamemnto, quer de cardume quer bules (...) grados (um deles tinha o excecional comprimento de 21,80 metros), comi pão frito no azeite a ferver dos caldeiros, fui alumiado, em criança, pela luz do óleo de baleia, convivi dia a dia com baleeiros e aprendi a linguagem e cultura baleeiras desde os primeiros anos de vida" (...)

... Um leitor como eu fica logo rendido (e comovido), lendo o resto do livro de um fôlego (160 pp., ilustradas com 29 figuras, 6 mapas e 6 quadros, incluindo mais de 60 referências bibliográficas, 180 notas de rodapé, e mais de 4 dezenas de termos do "glossário baleeiro açoriano".

De repente, descobres que estamos a falar de um experiência humana do passado, única, irrepetível, fortemenete ligada à identidade e à sobrevivência de um punhado de homens e suas famílias, numa ilha (e num arquipélago) perdida no Atlàntico.... 

Felizmente que hoje já não se caçam cachalotes e outras espécies de baleias em águas territoriais portuguesas,  mas tu não podes ficar indiferente à saga baleeira nem à gesta dos nossos pescadores do bacalhau, e dos demais homens ( e mulheres) do mar. De resto, tens uma costela de toda essa brava gente que de há séculos afronta mas respeita o mar e todos os seres que nele habitam.

Arsénio, não é apenas por cortesia e por camaradagem que estou a fazer esta e outras notas de leitura do teu livro.  Obrigados, eu e a Alice,  pelo teu livro com dedicatória. Foi uma bela prenda de Natal. Vamos falando.

(Continua)

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sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25960: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (14): Da Maia para Vila Franca do Campo (São Miguel, Açores), do Abílio Machado para o Arsénio Chaves Puim, falando "de baleias e outros mamíferos, .... e da amizade que é uma coisa sublime"



Título: A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores
Autor: Arsémio Chaves Puim
Editora: Letras Lavadas, Ponta Delgada, São Miguel, RA Açores
Ano: 2024
Nº de pp. : 160 
Preço de capa: 18,00 €

Sinopse: A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores

«Com o livro “A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria”, o investigador / escritor Arsénio Puim vem tirar a sua ilha do obscurantismo nesta saga, dando-lhe (também) a relevância merecida, assim como dar precioso contributo para a história mais alargada e profunda da Baleação nos Açores, agora mais enriquecida com a presente obra.

O livro “A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria”, para além de compulsar o enquadramento histórico da saga, nesta ilha, desde a influência à implantação local; a destrinça das duas épocas da baleação ocorridas; registos de vivências bem-sucedidas ou fatídicas e o relevante impacto socio-económico da atividade, incorpora também um importante “Glossário Baleeiro”, de base fortemente oral e com formas aportuguesadas de empréstimos do Inglês (influência americana)».

José de Andrade Melo


 
Abílio Machado , o nosso querido "Bilocas" de Bambadinca, grande amigo dos velhinhos da CCAÇ 12, o Luís Graça, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Gabriel Gonçalves, entre outros; ex-alf mil, contabilidade e administração, CCS / BART 2917, Bambadinca, 1970/72; e foi também um dos fundadores do grupo musical "Toque de Caixa"; vive na Maia; é natural de Guardizela, Guimarães, tem uma forte ligação a Riba d'Ave; é autor, entre outros títulos, do "Diário dos Caminhos de Santiago" (Porto, 2013).


1. Mensagem de Abilio Machado, dirigida ao Arsénio Puim, ex-alf mil graduado capelão, CCS/ BART 2917 (Bambadinca, 1970/72)

Arsénio Puim, Vila Franca
do Campo (2023), São Miguel,
Açores

Assunto - Das baleias e outros mamíferos...

Data - quarta, 18/09/2024 , 18:30

Caro(íssimo) amigo Puim:

Vai esta com conhecimento - reconhecido - ao Luis Graça, pois foi ele que me deu conhecimento do lançamento do teu novo livro sobre a pesca à baleia na tua ilha querida de Santa Maria - um estranho às ínsulas açoreanas diria caça, dada a espécie e o avantajado do pescado. 

Mas como podemos nós, pobres pescadores de sardinha e atum e respigadores de cereais, meter foice em seara alheia? A foice é bem mais fácil de manejar que um arpão de uns bons quilos, que - imagino eu - exigirá, além de precisa pontaria, um poder de braço e pulso de que nem Teseu se ufanaria. 

Na verdade, só heróis mitológicos se alçariam a tais cometimentos, pensávamos nós, se desconhecêssemos que nas ilhas de bruma homens comuns se lançavam, ao sopro do búzio, em frágeis embarcações no encalço de seres mastodônticos que nem Deus saberá como criou. Não perseguiam nenhuma Moby Dyck, mas tão só o sustento diário para famintas bocas que em terra, mãe e filhos, rezavam para que a baleia cansasse e não arrastasse o pai - os pais todos - para os longes sem fim do oceano.

A amizade é uma coisa sublime, como sublimes são todas as coisas, como o amor, que mesmo não presenciais, têm a eficácia dos actos diários e rotineiros.

Ninguém nos arranca do peito nem deslaça o nó que sentimos quando, mesmo longe, pensamos nos amigos que a vida nos ofertou - porque é um ofertório e não destino o cruzarmos a nossa com outras almas que, diversas ou iguais, se engraçaram entre si. E foram muitas, para meu deleite, as que comigo se enlaçaram.

Como dizia o Luis, parabéns, parabéns, parabéns!!!, por mais uma obra que só do amor entranhado pela tua terra nasceria.

Grande, grande abraço para ti, esposa e filhos.
Do coração,
Abilio Machado

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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25959: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (13):  no rio Corubal, na travessia para o  Cheche (e Madina do Boé), que agora tem jangada nova... (Cherno Baldé / Valdemar Queiroz "Embaló")

terça-feira, 27 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25888: Verão de 2024: Nós por cá todos bem (6): Lançamento do livro "A Pesca da Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores", de Arsénio Chaves Puim, dia 29, 4ª feira, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal de Vila do Porto.







Arsénio Puim, natural de Santa Maria, Açores, a viver em São Miguel,
enferneirmo reformado, jornalista e escritor, ex-alf mil graduado 
capelão, CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), 
membro da nossa Tabanca Grande, 
autor da série "Memórias de um alferes capelão";
tem 74 referências no nosso blogue.


𝗟𝗮𝗻𝗰̧𝗮𝗺𝗲𝗻𝘁𝗼 𝗱𝗼 𝗹𝗶𝘃𝗿𝗼 “𝗔 𝗣𝗲𝘀𝗰𝗮 𝗮̀ 𝗕𝗮𝗹𝗲𝗶𝗮 𝗻𝗮 𝗶𝗹𝗵𝗮 𝗱𝗲 𝗦𝗮𝗻𝘁𝗮 𝗠𝗮𝗿𝗶𝗮 𝗲 𝗔𝗰̧𝗼𝗿𝗲𝘀” 𝗱𝗲 𝗔𝗿𝘀𝗲́𝗻𝗶𝗼 𝗖𝗵𝗮𝘃𝗲𝘀 𝗣𝘂𝗶𝗺 | 𝟮𝟵 𝗮𝗴𝗼𝘀𝘁𝗼 | 𝟮𝟭𝗛𝟬𝟬

O Município de Vila do Porto e a editora Letras Lavadas promovem o lançamento do livro "A Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria e Açores", de Arsénio Chaves Puim, no dia 29 de agosto, pelas 21h00, na Biblioteca Municipal de Vila do Porto, Ilha de Santa Maria (por sinal, a mais antiga vila açoriana).

O momento conta com a presença do autor, numa apresentação a cargo de José de Melo.

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Nota do editor:

domingo, 26 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25564: In Memoriam (503): Lino Bicari (1935-2024) foi a sepultar ontem, no Alvito, Alentejo... "Senti a partida deste bom amigo, que encontrei na Guiné, e desejo-lhe o descanso eterno" (Arsénio Puim, ex-alf grad capelão, BART 2917, Bambadinca, mai 70/mai71)


Recorte do jornal "Público", de  24 de setembro de 1990... Do Lino Bicari, depois de o entrevistar em Lisboa (onde se fixou em 1990, para uma "última missão"),  disse o jornalista João Paulo Guerra: (...) "Não é um homem desiludido, mas um homem amargo que hoje, à margem da Igreja e do Estado da Guiné-Bissau, continua, no entanto, a afirmar-se religioso e militante do PAIGC." (...)


1, Mensagem do Arsénio Puim:

Lino e Arsénio, em maio de 2019,  na ilha de
São Miguel, Açores. Um reencontro ao fim de 48 anos.
Conheceram-se em Bafatá, em 1971.
Foto (e legenda): © Arsénio Puim  (2019).
Todos os direitos reservados.
 [Edição e legendagem complementar:
Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Data - sábado, 25/05/2024, 22:46 
Assunto - Lino Bicari

Caro amigo Luís

Primeiramente, dou-te a saber - talvez já saibas - que o Lino Bicari faleceu, como já se esperava. Sepultou-se ontem em Alvito, onde tinha residência.

Falei com a Fernanda acerca 
do texto publicado no blogue (*), prontificando-me para lho enviar por email. Ela disse-me que podia ter acesso ao mesmo indo diretamente ao blogue. Missão cumprida, portanto.

Posso também dizer-te que o jornalista  
António Marujo está a preparar 
uma reportagem sobre  o Lino, a publicar muito em breve.

Digo-te que senti a partida deste bom amigo, que encontrei na Guiné. 
E desejo-lhe o descanso eterno. (**)

Um grande abraço. Arsénio Puim

2. O jornalista António Marujo, no jornal diário digital "7Margens" já  deu  a notícia da morte do amigo do Arsénio Puim, nestes termos:

Missionário e médico da guerrilha, padre e professor

António Marujo | 25 Mai 2024


(...) O antigo missionário italiano e depois militante do PAIGC, na Guiné-Bissau, Lino Bicari, morreu na última quinta-feira no Alvito (Alentejo), onde residia desde 1990. Era “um homem bom, simples, de altos ideais humanos e com um currículo rico, corajoso e autêntico”, diz dele o amigo Arsénio Puim, também antigo padre, que o conheceu na Guiné quando foi capelão militar em Bambadinca, no início da década de 1970. Tinha 88 anos.(...)


3. Descobrimos este amigo do nosso Arsénio Puim só em 2018, numa pesquisa pela Net (**). Nunca o conhecemos pessoalmente. Falámos uma vez ao telefone, trocámos alguns mails por causa dos nossos capelães, expulsos do CTIG, o Mário de Oliveira e o Arsénio Puim (de quem ele ficou amigo, na Guiné; nunca conheceu o Mário de Oliveira) .  

Nascido em 1935, na Sicília, viveu  23 anos na Guiné, primeiro, como missionário católico (1967-71)  e depois, mais tarde, a partir de 1973, como militante do PAIGC: era  o único estrangeiro que tinha o estatuto de "combatente da liberdade da Pátria" (sic), mas nunca pegou em armas. Serviu o PAIGC e a Guiné-Bissau nas áreas onde se sentia competente e útil: a educação e a saúde. Radicou-se em Lisboa em 1990. Tinha como "última missão" criar uma espécie de "Casa do Estudante" pós-colonial...

O jornalista João Paulo Guerra fez, na altura, uma nota biográfica deste homem: 

(...) "O padre Lino Bicari chegou à Guiné em Maio de 1967. Tinha 31 anos, um curso teológico e formação em medicina tropical, em psicopedagogia e didáctica e etnologia. De passagem por Lisboa, meteu na bagagem curso rápidos de língua portuguesa e administração colonial e, como todos os missionários destinados às colónias portuguesas, assinou compromissos renunciando aos seus direitos como cidadão italiano e submetendo-se às leis e tribunais portugueses, à Concordata, ao Acordo e ao Estatuto missionários.

"Na Guiné vivia-se o quarto ano de guerra e Lino Bicari foi colocado em Bafatá, a cidade natal de Amílcar Cabral. A guerra, para ele como para os outros missionários, significava ouvir tiros ao longe e viver num centro populacional sob controlo militar, de onde só podia ausentar-se à luz do dia.

(..) "Foi em Itália, onde se deslocou em 1972 no âmbito de um programa de apoio ao Terceiro Mundo, que o padre Lino Bicari conheceu José Turpin, dirigente do PAIGC e, por seu intermédio, trocou correspondência com Amílcar Cabral. Quando tomou a decisão da sua vida, resolvendo trabalhar com o PAIGC, a Secretaria de Estado do Vaticano sentiu-se embaraçada. Não disse que sim, nem que não, e acabou por consentir, pedindo-lhe apenas que, formalmente, se desligasse do [Pontifício] Instituto para as Missões Estrangeiras [PIME]

(...) "No final de 1973, proclamado já o Estado da Guiné-Bissau, Lino Bicari entrou de novo no território. Mas, dessa vez, não levava o visto de Lisboa nem as guias de marcha do colonialismo missionário. Entrou através da fronteira com a Guiné-Conakry, numa ambulância da Cruz Vermelha e foi instalado pelo PAIGC na região de Boé, a sul de Madina, como responsável pelo Hospital Regional. 'Não era uma base de guerrilha mas uma zona totalmente libertada, defendida por forças armadas locais e, dada a sua configuração geográfica, de difícil acesso às tropas portuguesas', recorda Bicari." (...).

O Lino Bicari e a Maria Fernanda Dâmaso traduziram do italiano o livro do Salvatore Cammilleri, "A identidade cultural dos balantas" (***). 
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 22 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25548: Banco do Afeto contra a Solidão (29): Hospitalizado em Beja, o luso-italiano Lino Bicari, de 88 anos, antigo missionário do PIME (Bafatá, 1967-1971), professor do nosso Cherno Baldé, grande amigo e companheiro do nosso capelão Arsénio Puim

(**) Último poste da série > 22 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25424: In Memoriam (503): Agradecimento a René Pélissier (1935-2024) que ao blogue é devido; paraninfo a um devotado historiador (Mário Beja Santos)

(***) Vd. poste de 19 de outubro de 2018 > 
19 DE OUTUBRO DE 2018 > Guiné 61/74 - P19116: Notas de leitura (1111): Salvatore Cammilleri, missionário siciliano do PIME, expulso da Guiné em 1973 por ordem de Spínola, autor de "A identidade cultural dos balantas" (Lisboa, 2010, tr. do italiano: Lino Bicari e Maria Fernanda Dâmaso) - Parte I (Luís Graça)