Voltou aos Açores. Continuou a exercer o múnus espiritual durante mais uns anos, fez enfermagem, casou, foi pai, é agora avô, continua igual a ele próprio, um grande açoriano e ainda um melhor ser humano.
A "nota introdutória" que ele escreveu para este seu último livro (edição revista, aumentada e melhorada do livro de 2001, "A pesca da baleia na ilha de Santa Maria"), diz muito sobre o amor a sua terra e às suas gentes.
Nós que, quando putos e continentais, nunca conhecemos o alvoroço e a excitação da baleação no arquipélapo dos Açores (nem vimos baleias ao vivo), somos agora remetidos, ao ler o Puim, para esses tempos da sua infància, adolescència e juventude quando o seu "chão", a freguesia, Santo Espírito, e a sua terra natal, Calheta, eram o centro da atividade desta atividade (que, no séc. XX durou ainda cerca de 4 dezenas de anos, até 1985).
Puim fala da sua gente, pobre e insular, e da sua luta pelo "pão nosso de cada dia". Ele fala-nos de algumas centenas de marienses baleeiros (e conta-nos histórias de um punhado deles), a maioria dos quais do seu sítio, Santo Espírito... Ilhéus (a que há de acrescentar mais alguns, de Cabo Verde, Graciosa, São Miguel ,Pico, Faial...), "homens humildes e afoitos que, numa luta dura e perigosa, quase corpo a corpo, com o maior mamífero da Terra, ganhavam dignamente o pão de cada dia para e para os seus" (pág. 27)... E " dois deles tombaram no exercício desta atividade, ainda primeira fase da baleação " (o remador mareensee António Puim, e o mestre cabo-verdiano Henrique da Veiga, em 1897 e em 1901, respetivamente).
Lembra ainda o autor, neste prólogo (que a seguir se transcreve na íntegra, com a devida vénia), que "a pesca à baleia em Santa Maria, como nas restantes ilhas açorians, nunca enverdou por processos intensivos e exterminadores deste cetáceo, adotados noutros pontos do globo" (pág.23)... Pelo contrário, era um atividade de economia de subsistência, sazonal, costeira e artesanal, "em pequenos barcos de propulsão a remos e à vela, por regra com o arpão e a lança de arremesso manual, o que, necessariamente, manteve as capturas em níveis moderados e o equilíbrio biológico desta espécie" (pág. 24).
A baleação teve, naturalmente, impacto económico e social na ilha (como no resto dos Açores), criando riqueza e emprego, direta e indiretamente (vd. cap. 4, pp. 99-120).
De 1937 a 1966, foram capturados, na ilha de Santa Maria, 841 cachalotes, ou sejam, 5,6% do total das capturas no arquipélago (=14929), produzindo um pouco mais de 1,9 milhões de quilos de óleo, ou seja, 3,7% do total dos Açores (=51,2 milhões de quilos).
O valor do õleo, em escudos, na ilha de Santa, totalizou 7 milhões , ou seja, 3,2% de um total de c. 219,3 mil contos (sem atualizaçáo dos valores com base nas taxas de variação do IPC - Índice de Preços no Consumidor). (Fonte: Puim, 2024, pág. 109; em relação à produção de óleo e ao seu valor monetário, os dados são omissos ou incompletos para os anos de 1938, 1939, 1945 e 1946).
Mas há outros aspetos, para além dos socioeconómicos, que devem merecer a atenção do leitor, e que abordaremos em próxima nota. Por exemplo: