1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 Fevereiro de 2021:
Queridos amigos,
Os inventários desta cientista que estudou aturadamente a flora da Guiné-Bissau podem ser úteis a uma instituição científica da Guiné-Bissau, terei o maior prazer em ceder estas três separatas a quem de direito. De um modo geral as imagens que guardamos têm a ver com as árvores de grande porte, as prodigiosas riquezas do tarrafo, os cajueiros, as lalas húmidas e as luxuriantes savanas, todos estes pormenores da flora são, regra geral, omitidos. Por isso considerei que a sua publicitação ajudava a valorizar recordações do passado. Nunca mais esqueci a beleza dos nenúfares nos arrozais, o contraste entre toda aquela brancura imaculada a despontar em águas barrentas, muitas vezes encostando-se aos diques protetores. Como recordo, uma floresta-galeria que havia entre Sancorlã e Salá, no fundo do regulado do Cuor, fazendo fronteira com o regulado de Mansomine, a luz solar filtrando-se entre a espessa ramaria e as teias de gigantescas lianas por toda a parte, suportando-se nos ramos das árvores. E as lalas floridas com umas flores brancas e róseas e amarelas, dava pouca atenção e agora percebo o que perdi por as não ter apreciado como elementos faustosos que são desta grandiosa flora tropical.
Um abraço do
Mário
Flora da Guiné-Bissau (2)
Mário Beja Santos
Comprei um tanto às cegas num leilão três publicações relacionadas com a flora da Guiné-Bissau. Assunto um tanto árido para o meu elenco de curiosidades, acresce que saí um tanto traumatizado da prova oral de Ciências Naturais do quinto ano, demorei um tempo infinito a distinguir fanerogâmicas de criptogâmicas. Mas o que me chamou a atenção foi ter uns pozinhos de conhecimento da riquíssima flora que pude ir conhecendo em florestas-galerias, savanas, bolanhas, margens de rios, matas densas ou ralas, à volta de palmares, e o mais que se sabe. Vamos cingirmo-nos ao primeiro trabalho da bióloga Maria Cândida Liberato, a investigadora tem vasto currículo conforme se pode ver no site https://actd.iict.pt/view/actd:MOMCL, este seu primeiro trabalho publicado pela Junta de Investigações Científicas do Ultramar data de 1980, recomendo vivamente um passeio por aqueles documentos do Arquivo Científico Tropical, encontrei fotografias históricas guineenses com o maior interesse.
Passámos anteriormente em revista arbustos, pequenas árvores ou lianas da família das Connaraceae, vamos agora ver as Chrysobalanaceae e as Malvaceae, respeitantes aos dois trabalhos seguintes de Maria Cândida Liberato, de 1982 e 1983 respetivamente.
As Chrysobalanaceae são árvores ou arbustos, é uma família com cerca de 450 espécies das zonas tropicais de baixa altitude. A cientista enumera as diferentes variedades e indica a respetiva proveniência. As Malvaceae são ervas, arbustos ou pequenas árvores, incluem subarbustos pequenos e diretos, subarbustos anuais, ervas anuais ou vivazes, plantas subarbustivas, arbustos ou ervas mais ou menos pilosas, ervas vivazes ou anuais, e pelas imagens que me foi dado verificar temos na Europa o nosso variegado hibisco.
Estes três trabalhos sobre a flora da Guiné-Bissau comportam minuciosas descrições que seguramente são muitíssimo interessantes para botânicos, estou totalmente recetivo a que me sugiram qual a melhor entidade a quem posso oferecer semelhantes trabalhos.
Encontrei na web um trabalho do guineense Jeremias Sani e pareceu-me da maior utilidade, neste contexto, reproduzir o que ele diz sobre a flora do país:
“A diversidade da flora da Guiné tem correspondência com a caracterização geográfica e do seu solo. As florestas constituem uma verdadeira barreira contra o fenómeno da desertificação, da degradação dos solos e do assoreamento das bacias hidrográficas. São elas que suportam a agricultura e produzem madeira, lenha, carvão, caça e produtos florestais não lenhosos tais como o mel, frutos, raízes, tubérculos, plantas medicinais, vinho e óleo de palma e tantos outros bens que, na Guiné-Bissau, são essenciais. Porém, a pressão demográfica, as alterações climáticas, a intervenção humana por queimadas, a extração massiva de madeiras consideradas nobres, a monocultura de mancarra (amendoim), de arroz e de caju, têm alterado a flora (e a fauna) da Guiné-Bissau.
Existem paisagens maravilhosas todas elas bem distintas umas das outras. Na guiné podemos observar toda a extensão dos rios com mangais que podem chegar aos 10 metros, zonas dos arrozais, as florestas secas, florestas sub-húmidas e savanas. O solo é praticamente estéril por serem secas e estarem saturadas de sal, apenas algumas plantas e gramíneas tolerantes ao sódio conseguem resistir nestas condições.
Na zona sul do país, devido à maior humidade, predominam as bolanhas (arrozais alagados). Aqui, principalmente nas regiões de Tombali e de Quinara e nalgumas ilhas do arquipélago dos Bijagós encontramos a floresta sub-húmida, com vegetação variada: árvores de grande porte, de 30 e 40 metros de altura – sobretudo “Pó de miséria” (Anisophylla lamina), “Polon” (Ceiba pentandra) e “Pó de bitcho amarelo” (Chlorophora regia) -, árvores entre os 20 e os 30 metros, arbustos e ainda lianas. As florestas de transição, como o nome indica, fazem a fronteira entre a floresta sub-húmida e as florestas secas e semi-secas, principalmente na região de Gabú e no litoral, onde predominam os “poilões” (Ceiba pentandra)”.
Oxalá que as referências a estes trabalhos suscitem entusiasmo a botânicos e ecologistas em geral.
Vegetação herbácea costeira, ilha de João Vieira, imagem retirada do trabalho Parque Nacional Marinho de João Vieira e Poilão: Biodiversidade e Conservação, 2018, de Luís Catarino e Bucar Indjai
Maria Cândida Liberato
____________Nota do editor
Último poste da série de 26 DE JUNHO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24432: Notas de leitura (1592): Flora da Guiné-Bissau (1) (Mário Beja Santos)