Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Vila > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 37 > "Furriel Pára-quedista Josué e Fur Mil Condeço, conterrâneos, no interior do Bar Catió".
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto Interior > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 8 >" Porto interior de Catió no rio Cadime, em dia de reabastecimentos. Em primeiro plano o Fur Mil Condeço em passeio Dominical, no porão o Sarg Dias e outros trabalhavam".
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto Interior > Álbum fotográfico do Victor Condeço > Foto 7 > "O porto interior de Catió., no rio Cadime, fazia parte dos nossos passeios de Domingo".
Guiné > Região de Tombali > Catió > CCS / BART 1913 (1967/69) > Porto Exterior > Álbum fotográfico do Victor Condeço> Foto 2 > "Lancha de Fiscalização Canopus no porto exterior de Catió, no rio Cagopere, afluente do Cobade. Da esquerda para direita no cais, o Fur Mil Machado, o civil sr. Barros e o filho, o Fur Mil Victor Condeço, e o Fur Mil Viriato Dias; em cima o Fur Mil Mendonça, um marinheiro africano e o Comandante da lancha".
Fotos (e legendas): © Victor Condeço (2010). Direitos reservados.
1. Queridos amigos e camaradas da Guiné
A fatal e temível notícia chegou... O Victor morreu, ontem à noite, no mesmo dia em que também morre outro grande ribatejano e português, o escritor José Saramago (1922-2010). Daqui, neste espaço que também era dele, faço chegar à família do Victor (acho que a malta de Catió o tratava, com toda a ternura, por Vitinho) a manifestação da nossa tristeza mas também da nossa solidariedade, enquanto seus camaradas da Guiné.
O funeral é amanhã, no Entroncamento. O corpo está em câmara arte na Igreja da Sagrada Família, perto da sua casa. Foi a informação que me deu o genro, esta manhã, quando estava fora de Lisboa. Já pedi ao Benito Neves, seu grande amigo, que me represente a mimm aos demais editores e demais membros do blogue, no caso dele (que mora em Abrantes) se deslocar amanhã ao Entroncamento.
Não conheci pessoalmente o Victor. Falei com ele, ao telefone, algumas vezes. A última, na véspera do início do seu tratamento no IPO... Foi tudo tão rápido, brutal...
Publiquei muitas coisas dele, nomeadamente as suas belíssimas fotos de Catió, meticulosamente legendadas...Ainda tenho materiais dele. Vamos pedir, no dia 26, em Monte Real, no nosso V Encontro Nacional, um minuto de silêncio por ele e por outros camaradas que este ano nos deixaram...
O Victor começou a ter sintomas da doença que o vitimou, a partir de Fevereiro. Lúcido e corajoso, sabia o que tinha, em mail de 10 de Maio em que falava das suas diligências para encontrar o hipotético irmão da Marisa Tavares.... A última vez que falei com ele, foi justamente no início deste mês. Estava apreensivo e ansioso, ia começar no dia seguinte o tratamento de radioterapia no IPO... Tarde de mais...
Era uma homem discreto, afável e prestável, que colaborou connosco de diversas maneiras: disponibilizando fotos de Catió; fornecendo elementos sobre a família Brandão, em resposta a um pedido da nossa amiga Brandão; ajudando guineenses da diaáspora, filhos de Catió, como o Suleimane Silá; desejando-os as Boas festas de Natal e Ano Novo mas também mais recentemente, respondendo amavelmente às dúvidas e inquietações da Marisa Tavares, filha do Júlio da Silva Tavares, o Madragoa.
Ontem, às 23h33, o Benito Neves preparava-nos para o pior (não fazendo já referências a outras mensagens que ele pediu para não publicar):
Na sequência do mail que vos enviei na passada 4ª. feira, informo que, ainda naquele dia, o Victor foi transferido do Hospital de Abrantes para o Hospital de Torres Novas (mais perto da sua residência), onde ainda se encontra internado.
O seu estado de saúde foi reavaliado. Face ao resultado de exames feitos e após uma reunião entre cirurgião, anestesista e cardiologista, ontem, pelas 23H00, foi comunicado à filha que a medicina nada podia fazer. A doença tem progredido com uma velocidade quase inacreditável e, portanto, o seu estado é de cada vez pior.
Há que aguardar, agora, que o tempo se esgote e que, se Deus existe, que o poupe a um maior sofrimento.
Apesar dos avanços da ciência, é revoltante sabermos a impotência que existe para combater estas situações, mas a vida é assim, de quando em vez prega-nos umas partidas.
Para quem é católico apenas resta rezar.
Um abraço
BNeves
Vinte e cinco minutos, às 23h59, dava-nos a fatal notíca:
Acabo de receber a notícia já esperada e não desejada: O Victor Condeço deixou-nos! Paz à
sua alma. Os amigos ficam mais pobres, mas recordá-lo-sempre.
Fiz questão de dizer ao Benito:
Tu foste mais do que um excepcional amigo e camarada, foste também um grande irmão. Acompanhaste o Victor no doloroso processo da sua doença. Temos para contigo uma dívida de gratidão. Obrigado, amigo, camarada e irmão. Luís
O Victor estava connosco desde Dezembro de 2006, mas descobriu o blogue em Março desse ano (*).
Para a família (a esposa, a filha, o genro e as netas) deixo aqui a expressão do nosso grande apreço pelo Victor e o nosso grande pesar pela sua morte prematura. Peço licença ao Juvenal Amado para dedicar à família um belíssimo poema que ele escreveu a propósito camarada que morreu em combate, na flor da idade, deixando uma viúva e uma filha que ele nunca conheceu. As circunstâncias não importam, a morte em qualquer idade é sempre uma perda irreparável e causa-nos um atroz sofrimentom, aos que cá ficam e têm que fazer o luto.
2. SÓ DEUS TEM OS QUE MAIS GOSTA (**)
por Juvenal Amado
O vazio que ficou,
A dor que nos atingiu,
Vão transformar-se em ausência
E mais tarde saudade.
O calor, o suor,
O cheiro adocicado do sangue e carne queimada
Não nos largarão mais.
As bocas abertas falam, mas ninguém ouve.
Os gritos estão presos na garganta,
As lágrimas ameaçam soltar-se e cair em cascatas,
Abrindo sulcos entre o pó acumulado nos rostos.
Se pudéssemos,
Voltaríamos atrás uns breves minutos,
Alteraríamos o rumo da história.
O calor que nunca nos dá descanso.
O que não daríamos para poder escolher,
Escolhermos outro caminho,
Não fazermos da mesma forma.
As mãos estão negras
Em volta dos punhos das armas.
O silêncio é opressivo,
De nada vale tentar ouvir
Se até a natureza se calou
Perante a violência,
De que só o homem é capaz.
Ali jazem sonhos anseios futuros aguardados.
As últimas cartas ainda queimam no bolso,
Não vai haver resposta.
Os rostos jovens nas fotos nunca vão envelhecer.
O tempo passará para todos,
Menos para quem está naquelas fotos.
O que somos
Será sempre reflexo das nossas vivências passadas?
Há quem defenda que é um Carma.
Viemos completar com a passagem por esta vida,
Mais um elo para a nossa eternidade
Ou vida melhor noutra dimensão.
Aquele é o filho de...
Marido de...
O pai de...
Alguém escreveu que o que separa a Paz e a Guerra
São os enterros.
Em Paz os filhos enterram os pais...
Em Guerra os pais enterram os filhos...
Invertem-se assim os valores,
Tidos como certos pela ordem natural das coisas.
Como diz a canção,
«Só Deus tem os que mais gosta».
Que este pensamento minimize a dor de todos
Os que viram partir os seus na flor da idade.
Juvenal Amado
[Fixação / revisão de texto: L.G.]
3. Comentário de L.G. a este belíssimo texto poético do Juvenal Amado:
A todos os camaradas e amigos que perderam alguém querido, no contexto ou não da guerra colonial, e a propósito de "luto": a palavra quer dizer isso mesmo, "dor pela perda de alguém que nos é/era querido" (mas também por animal de estimação, ou um objecto que tem um grande simbolismo, carga afectiva, para nós: por exemplo, a casa da infância)... "Fazer o luto" é literalmente passar pela dor, para além da dor...
Em condições normais, fazemos (quase todos nós) esse processo de luto, que é doloroso, mas que temos de fazer...Há o suporte social (o apoio da família e dos amigos, dos vizinhos, da comunidade) é fundamental... Mas também há "terapias" que nos podem ajudar: umas delas é a "blogoterapia" que utilizamos aqui, no nosso blogue.
Verbalizamos, exteriorizamos, partilhamos os nossos sentimentos, contamos e recontamos as nossas histórias de dor e de luto, sentimos as palavras, dizemo-las em voz alta (ou pomo-las em letra de forma)...
Obrigado ao Juvenal Amado por este belíssimo texto, que deve ser lido em voz alta... Faz-nos bem, faz bem todos os camaradas e amigos que têm (ou tiveram) dificuldade em "fazer o luto", pela perda de alguém, na guerra ou noutro contexto...
Aconselho a visita uma sítio na Net, que conheço há anos, e que foi criado para dar apoio aos pais que perderam os seus filhos: A NOSSA ÂNCORA - Apoio a pais em luto
http://www.anossaancora.org/
Quem são as pessoas que estão por detrás desta iniciativa ? Pais que perderam os seus filhos: "O número vertiginosamente crescente e assustador de jovens que anualmente perdem a vida no nosso país (cerca de 5.000 dos 0 aos 30 anos), por razões de ordem vária, deixa as famílias que sofrem tal perda totalmente destroçadas" (...)
Vale a pena fazer uma visita a este sítio e explorar os recursos que disponibiliza...
Sábado, Abril 18, 2009.
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Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 3 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1335: Um mecânico de armamento para a nossa companhia (Victor Condeço, CCS/BART 1913, Catió)
(...) Sou assíduo frequentador desde Março de 2006, altura em que, procurando por mapas da Guiné, me deparei com este excelente sítio. Raro é o dia que o não visite, já li também a grande maioria dos postes mais antigos, onde recordei ou fiquei sabendo de acontecimentos que já não lembrava ou nunca soubera.
[...] Sou um velho combatente (63 anos feitos ontem, dia 18 de Novembro), estou aposentado, meu nome é Victor Manuel da Silva Condeço, ex-Furriel Miliciano 00698264, do Serviço de Material – Mecânico de Armamento e, por isso mesmo, sem grandes histórias de guerra para contar. Este blogue teve a virtude de me despertar recordações, umas boas, outras menos boas, mas que nem por isso deixam de ser uma forma de reviver um passado de há quase quarenta anos.
Participei na Guerra da Guiné por obrigação, como aliás quase todos nós, desde 1 de Maio de 1967 a 3 de Março de 1969, fazendo parte da CCS do BART 1913 que era constituído também pelas CART 1687 (Cachil e Cufar), CART 1688 (Bissau e Biambi) e CART 1689 (Fá, Catió, Cabedú e Canquelifá).
Estive na região do Tombali na Vila de Catió, Comando de Sector, pertencente ao Comando de Agrupamento de Sectores de Bolama. As unidades deste sector eram: Bedanda, Cabedú, Cachil (i), Cufar e o destacamento de Ganjola (i), por todas passei em serviço.
Desembarquei em Catió a 2 de Maio de 1967, os vinte e um meses de comissão foram aqui cumpridos, até 20 de Fevereiro de 1969, data em que regressei a Bissau. (...)
(**) 18 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4207: In Memoriam (20): Para o António Ferreira e demais camaradas mortos no Quirafo (Juvenal Amado)