segunda-feira, 24 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6462: Humor de caserna (19): Nha Carlota, uma mulher de armas (António J. Pereira da Costa)


Guiné > Nhacra > Carlota Lima Leite Pires, Nha Carlota (1889-1970): uma figura lendária que atrevessou mais de seis décadas da história da Guiné-Bissau do Século XX... A sua biografia está agora disponível em livro, da autoria de um português, nascido no "tchom de papel", em Bissau, membro da nossa Tabanca Grande, António Estácio.

1. Mensagem do nosso camarada António José Pereira da Costa , que é um verdadeiro oficial e cavalheiro (mesmo não sendo da arma de cavalaria...).

Data: 21 de Maio de 2010 23:26
Assunto: Nha Carlota

Caro Camarada

Não conheci Nha Carlota.

Em 1968 contava-se que tinha sido amante de Teixeira Pinto, o que poderá ser verdade.

Atendendo ao seu passado, gozava de um certo prestígio e frequentava mesmo o Palácio [do Governador].

Um dia, ia num carro com a esposa do Gen Schultz e outras senhoras. Conversavam sobre o género "feminino". De repente Nha Carlota terá exclamado:

- Ah, isso de mulheres fala-se muito, mas para f... não há como a portuguesa e, da portuguesa, a caboverdeana.

Silêncio no interior da viatura...

Compreende-se. Estava a defender os dotes das portuguesas, em geral, e das da sua região, em particular. Regionalismos...

Aqui fica uma "estória" que, aposto, foi verdadeira, pois ninguém a iria inventar, e que corria naqueles tempos pelos mentideros, Bentos, 5.ª Rep, Biafra e outros locais (mal)afamados.

Um Ab.

António Costa

[ Revisão / fixação de texto / título: L.G.] (*)

2. Comentário de L.G.:

Meu caro António: tudo se terá passado no "gineceu" em auto-rodas (isto é, a conversa entre as damas, a ocorrer... foi a "correr" , em carro de Estado...). A haver quebra de confidencialidade (e, portanto, falta de profissionalismo, senão de ética e de disciplina), o suspeito em princípio é o pobre do motorista (que devia ser militar, e que portanto não podia "cego, surdo e mudo", embora os houvesse, e não poucos, no TO da Guiné)...

Mas também, e por que não, entre outros suspeitos estarão a própria protagonista da história (que poderia muito bem contá-la aos amigos em Nhacra, de regresso a casa) ou até mesmo a(s) companhia(s) de ocasião que não sabemos quem seriam para além da Senhora Schultz... Alguma das senhoras, no recato da alcova, poderá ter contado a cena, com o seu quê de picante para a época, ao seu digníssimo esposo...

Uma história pícara como esta tinha todos os condimentos e condições para chegar num ápice à 5ª Rep: era como capim incendiado na época seca... E depois, como é sabido, o ambiente (militar) em Bissau devia ser, na época, bacoco, provinciano, machista, sexista, misógino e não devia estar isento de laivos de racismo... Devia fazer confusão a muita gente, ver uma mulher de armas, caboverdiana, como Nha Carlota, já com os seus setenta e muitos (ela viria a morrer em 1970, com 81 anos), frequentar o Palácio do Schultz...

Vamos imaginar que alguém pôs na sua boca palavras que ela nunca terá dito, até por decoro e pudor (que não são apanágio exclusivo das nossas santas mães)... Mas vamos inclinar-nos para a hipótese mais provável dessa Mulher Grande (e mulher de armas) falar mesmo português legítimo, vicentino, popular...

Será que o Estácio, nas suas pesquisas, também recolheu esta história ? Não sei, ainda não li o livro, mas amanhã vou encontrar-me com ele (ou ele comigo)...Para já, sirva-se a história como "humor de caserna" num blogue onde também se cultiva o sentido de humor...

António: Por defeito, publiquei a tua pequena história... Presumo que era para (com)partilhar... Fico, entretanto, à espera do próximo texto para a tua série A Minha Guerra a Petróleo.

_____________

Nota de L.G.:

(*) Último poste da série > 18 de Março de 2010 > Guiné 63/74 – P6012: Humor de caserna (18): A nossa língua é muito traiçoeira (Armandino Alves, 1º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAÇ 1589 - Beli, Fá

6 comentários:

Anónimo disse...

Esta estória pode ser verdadeira.
Também pode ter sido inventada.
Mas, a verdade é que Nha Carlota, usava uma linguagem pura e dura.

Aceito, acredito, que pode ter pronunciado a expressão f.... na medida em que estava a elogiar uma qualidade das mulheres portuguesas, em especial das caboverdianas.

Faz todo o sentido.

Manuel Amaro

Anónimo disse...

Mas que mulher tão sábia a Nha

Carlota!Um pouco injusta porém.

Então e as Balantas...

Jorge Cabral

Luís Graça disse...

Jorge: Poderia ser mais uma estória cabraliana, seguramente...

Mas Nha Carlota não devia considerar as balantas como portuguesas...

Antonio Graça de Abreu disse...

Ai, as mulheres do mundo!
Nha Carlota só conhecia mulheres da Guiné, portuguesas e cabo-verdianas.
E era mulher a sério, gostava de homens. Como é que sabia que as que melhor fo... eram portuguesas e cabo-verdianas?
Então e as suecas, as venezuelanas, as chinesas, as haitianas, as romenas, as tailandesas, as brasileiras?
Namorei a sério, praticamente vivi durante três anos, dos 18 aos 21, com uma loirinha alemã, a minha Inge Balk, de Hamburgo, um ano mais nova do que eu. Às vezes recordo-a com saudade. Que calores, que dádiva, que perfumes!
Depois a vida continuou. Isto nos meus anos a. C., ou seja "antes da China."
Mais tarde, vieram as mulheres chinesas.Que maravilhas!
Cada mulher do mundo é um mundo, nós somos cidadãos do mundo.
A mulher é a mais perfeita criação de Deus.

Um abraço,
António Graça de Abreu

Anónimo disse...

Pois é, meu caro, somos todos/as etnocêntricos/as...

Ah!, a nossa tendência para ver o mundo e a vida, os outros, através do nosso umbigo...

Luís Graça

Luís Graça disse...

Estive com o Estácio, que teve a gentileza de me vir oferecer um exemplar autografado do seu livrinho... Ele não conheceu pessoalmente 'Nha' Carlota. Embora tendo tido dois filhos fora do casamento, ou melhor, em solteira (uma filha que deve viver no Senegal; e um filho, que foi para a América Latina), a 'Nha' Carlota, segundo o Estácio - pelos depoimentos que recolheu, de pessoas que privaram com ela - não seria mulher para deixar mal a esposa do Governador... Para ele, esta história não é verosímil... Pode ser apenas uma piada de caserna...