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sábado, 6 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27499: A nossa guerra em números (47): mais de 2/3 do consumo na cantina, da CCAV 2483, em Nova Sintra, em junho de 1970, foi em álcool e tabaco (Aníbal Silva / Luís Graça)





Imagens de bebibas alcoólicas que só podem ser "(re)vistas" por antigos combatentes, tudo rapaziada com mais de 18 anos...  A saudade não paga imposto, por enquanto... Fonte;: arquivo da Tabanca Grande.




Infografias: Blogue Luís Graça & Camaradasa da Guiné (2025)





Documento  nº 1 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970 : Resumo do balancete da cantina

A cantina de Nova Sintra, que era "democrática",  isto é,  "comum" ( aberta a oficiais, sargentos e praças), ao tempo da CCAV 2483 (1968/70), facturou 89,4 contos nesse mês de junho de 1970.

 Recorde-se que a CCav 2483 assumiu, em 7mar69 a responsabilidade do subsector de Nova Sintra, com um pelotão destacado em S. João, até 31mai69, rendendo a CArt 1743. Em 23set70, foi  rendida pela CCav 2765, sendo transferida para Tite, a fim de substituir a CCav 2443, na sua função de intervenção do sector, cumulativamente com a responsabilidade da quadrícula. Em 14dez70, foi rendida pela CCav 2765 e recolheu a Bissau para o embarque de regresso. 

Portanto, em junho de 1970 o mercado do nosso  "cantineiro" Aníbal Silva andaria  à volta dos 160 militares (o efetivo normal de um companhia de quadrícula).

Não havia concorrência ali á volta (nem "bajudas" para distrair a vista), o Aníbal nem sequer precisava de promover os seus produtos: a rapaziada,  sempre sequiosa, e com algum poder de compra,  só queria é que os abastecimentos mensais não falhassem. E,  ainda por cima, já "velhinhos", a seis meses de terminar a comissão. Não havia população local nem milícia. Era um "bu..,rako", Nova Sintra, quem lhe pôs o nome devia ter um grande sentido de "humor... negro".

Em 1 de julho de 1970, em Nova Sintra estavam 3 Pel / CCAV 2483, 1 Pel / CCAV 2443 e 1 Esq Pel Mort 2114.











Documento  nº 2 > Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CCAV 2483 > 30 de junho de 1970  > Balancete da cantina


 A cantina, nesse mês de junho de 1970, vendeu artigos no valor de 89,4 contos (o que convertendo para preços de hoje são 30,7 mil euros).. Bom ngócio, mil euros por dia.

 Cada militar gastou, em média 560 escudos (arredondando) (=192 euros). O que era muito dinheiro, em especial para as praças. 

Mas o "sargento da cantina", e vagomestre, o nosso camarada Aníbal José da Siva, ex-furriel mil SAM, tem uma explicação que parece razoável: como o pessoal estava já próximo de ir para Tite (em setembro) antecipou o Natal, e fez mais umas compras "supérfluas" já a pensar na "peluda"... De facto, houve ao ao uísque, de tal se esgotarem os stocks da maior parte das marcas... E não foi  precviso fazer nenhum "Friday",,, Venderem-se 250 garrafas, do mais barato (Churtons, 47$00) ao mais caro (Long John, 86$00). Ainda sobraram 41... Boa parte destes artigos (bebidas importadas, mais caras na metrópole, eram para guardar e levar para casa).

Mas o que dizer da cerveja ? Quase 31 contos de cerveja é muita cerveja:  o equivalente a 7,8 mil garrafas de cerveja de 0,33 l dá cerca de 2,6 mil (uma média de 16 litros "per capital"... num só mês).

Com base nos preciosos elementos que o Aníbal Silva nos forneceu, há já alguns meses, respeitantes ao balancete da cantina de que ele era o gerente (juntamente com o alf mil Vasco César Tavares S. Silva), pudemos apurar alguns números sobre o nosso provável consumo de bebidas alcoólicos e de outros bens (como o tabaco, a coca-cola, o leite achocolatado e o leite estirilizado, outros produtos alimentares, etc.). (Claro, faltam-nos termos de comparação: outras cantinas, outros meses.)

De acordo com os gráficos nºs 1 e 2, o álcool (cerveja, vinho, bebidas destiladas, com o uísque, o gin, o vodca, o brandy...) representou nesse mês mais de  50% das vendas.

O consumo de coca-cola também é notável: quase 2,8 mil latas num mês (19 latas "per capita"), 

Já agora comparem-se, a título exemplificativo, os preços particados, por unidade e tipo de artigo:

  • Cerveja 0,33 l > 4$00
  • Cerveja 0,66 l ("bazuca")  > 6$50
  • Coca-cola (importada, em lata) > 5$00
  • Água de Castelo > 7$00
  • Maço de tabaço > 2$50 ("Porto", 3$00)
  • Uísque (importado) > c. 50$00 (novo)
  • Leite c/ cacau > 5$00
  • Laranjada / Sumol > 6$00
  • Lata de polvo ou sardinhas de conserva > 6$00
  • Creme p/ barbear >  7$00
  • Sabão azul > 13$00

A seguir à cerveja, uísque e coca-cola (em termos de valor de vendas),  o tabaco aparece em quarto lugar... Venderam-se nesse mês 3481 maços de cigarro e 1253 caixas de fósforo. Aqui o "Porto" deu  uma cabazada ao "Sporting": 1706 contra 1!

A seguir ao "Porto", as duas marcas mais consumidas foram o SG (n=886) e o Português Suave (n=677).

O leite (com cacau e estirilizado), a par das conservas, também tinha alguma expressão: 9% do total do valor das vendas... O resto eram os artigos de higiene e limpeza... 

Já não me lembro se a tropa nos fornecia papel higiénico: em Nova Sintra, nesse já longínquo mês de junho de 1970, só se venderam 12 maços (a 6$00 cada um!).. Como eu dizia, com "humor negro" em Bambadinca, a malta limpava (com a sua licença!) o cu, às folhas do RDM...

Obrigado, Aníbal, gastei umas horas à volta dos teus papéis, mas diverti-me. É bom pa5ra quem tem insónias. Sáo seis horas da manhã. Vou voltar para a cama. 

PS - Aníbal, vou passar o Natal à Madalena, como habitualmente, desde há 40 anos. Temos que nos conhecer pessoalmente. Depois dou-te  um toque.

(Documentos: arquivo do Aníbal Silva | Infografias e legendas: LG)



1. Mensagem do Aníbal José da Silva, ex-fur mil SAM, CCAV 2583 (Nova Sintra e Tite, 1969/1970):

Data - 08/05/2025, 17:49
Assunto -  Balancete da cantina. Nova Sintra, junho de 1970

Caro Luís Graça

Após a nossa conversa telefónica de hoje, fui ao meu arquivo verificar se tenho algo mais para acrescentar, ao teu maravilhoso estudo, relativo a quantidades e preços dos artigos vendidos nas cantinas em tempo de guerra (*).

Dos quatro balanços em meu poder, só o de junho de 1970, tem o anexo relativo aos artigos vendidos, que junto envio , bem como os restantes, estes para teu conhecimento. 

Então, constato que em junho desse ano se vendeu quase o dobro da cerveja vendida em maio (4.245 para 7171). Não vejo uma razão plausível que o justifique, até porque, ao consultar a História da Unidade, verifico não ter havido atividade operacional para além do habitual. 

Creio haver justificação para o aumento das vendas do tabaco (2215 para 3481) e do whisky (61 para 250 garrafas), uma vez estarmos a dois meses de deixar Nova Sintra e o pessoal ter começado as compras para trazer para a metrópole. 

Face a estes números, provavelmente vais reformular o teu estudo. Noutro email vou enviar mais uns tantos anexo. (**)

Um abraço de amizade

Aníbal Silva 

__________________

Notas do editor LG:

(*) Vd. poste de 6 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26769: A nossa guerra em números (29): nos quartéis do mato, dentro do arame farpado, a malta consumia em média, por ano e "per capita" , 21 litros de... álcool puro (14 em vinho, 5,4 em cerveja, 1,6 em bebidas destiladas)... (Aníbal Silva / Luís Graça)

(**) Último número da série > 24 de novembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27461 A nossa guerra em números (46): de 1958 a 1974, em 25 cursos (CEORN / CFORN), foram incorporados 1712 cadetes da Reserva Naval, 3/4 dos quais entre 1967 e 1974; cerca de mil oficiais RN foram mobilizados para o ultramar - Parte III

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