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domingo, 21 de dezembro de 2025

Guiné 61/74 - P27556: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (9): a última operação do 1º cabo LAntónio José Lourenço



 Estudo prévio  para ,onumento  em emória dos combatentes da guerra cvolonial (2005). Arquiteti Augusto Vasdconcelos (Fafe)

Foto (e legenda): © Jaime Bonifácio Marques da Silva (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Tabanca de Porto Dinheiro / Lourinhã:
4 de agosto de 2012 > Jaime Silva

Jaime Silva (ex-alf mil pqdt, cmdt 3ª Pel /1ª CCP / BCP 21, Angola, 1970/72, membro da nossa Tabanca Grande, nº 643, desde 31/1/2014, tendo já 130 de referências, no nosso blogue; reside na Lourinhã, é professor de educação física, reformado, foi autraca em Fafe, com o pelouro de "Desporto e Cultura": residiu lá durante cerca de 4 décadas): Tem página pessoal do Facebook


Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci (9):  a última operação do 1º cabo Lourenço

por Jaime Silva



Não esqueci o que aconteceu ao 1º Cabo Lourenço, apontador da metralhadora HK 21, pertencente ao 4.º Pelotão,  comandado pelo meu amigo, alferes miliciano Francisco Cruz dos Santos 
[Foto à esquerda. página pessoal do Facebook]
 .

A 1ª CCP / BCP 21 estava destacada no Leste de Angola, sediada na vila de Léua (*) e o Comandante de Companhia nomeou o 3º e o 4º pelotões (o meu e o do meu amigo) para efetuar um assalto a uma base do MPLA, na zona de Kamgama – Chimbila.

Lembro, como se fosse hoje, o momento em que os dois grupos de combate saíam do quartel na direção dos Helicópteros que nos transportariam rumo ao objetivo. Lembro, de forma especial, o momento em que o Cabo Lourenço, caminhando ao meu lado me disse:

 
– Ai, meu alferes, isto nunca mais acaba! Esta é a minha última operação, já terminei a comissão. Quando chegarmos a Luanda,  vou-me embora para o “Puto”. Já chegou quem me vem render.

Lembro de ter dito palavras de circunstância, talvez do género:

– Vai correr tudo bem e daqui a poucos dias já estarás na “peluda”, livre, junto da tua família.

Depois, os dois grupos são lançados próximo do objetivo, mas em pontos distintos, tendo um rio de permeio a separá-los. 

Minutos, depois, do lançamento, somos confrontados com um intenso tiroteio e rebentamento de granadas. O grupo do Cruz dos Santos havia detetado a Base IN, mas, no assalto a esta, confrontou-se com enorme resistência e fogo intenso. 

Nesse tiroteio, o Cabo Lourenço foi atingido e perde a vida… Na sua última missão…

Fonte: excerto de Jaime Bonifácio Marques da Silva, "Não esquecemos os jovens militares do concelho da Lourinhã mortos na guerra colonial" (Lourinhã: Câmara Municipal de Lourinhã, 2025, 235 pp., ISBN: 978-989-95787-9-1), pp. 90-91 (**)

(Revisão / fixação de texto, parênteses retos, notas, edição de imagem: LG)



1º Cabo Pqdt António José Lourenço  (1948-1971)

(i) morto em combate em Angola (na ZML - região de Chimbila-Cazage-Luatxe-Lumeje), no decorrer da Operação CALCAR IH”, no dia 18 de novembro de 1971;

(ii) nasceu a 21 de Outubro de 1948, na então freguesia de São João Baptista, concelho de Tomar, distrito de Santarém;

(iii) frequentou o Curso de Pára-quedismo nº 56, tem o Brevet nº 7871. 



__________________

Notas do editor LG:

(*) Na altura, A vila de Léua (um município e comuna na província do Moxico, Angola) não tinha um nome colonial distinto, uma vez que a localidade de referência na região com um nome colonial alterado é a capital da província.

A capital da província do Moxico, a cidade do Luena, era anteriormente conhecida como Vila Luso durante o período colonial português. O nome foi alterado após a independência de Angola em 1975.

(**) Último poste da série : 15 de dezembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27531: Quem foi obrigado a fazer a guerra, não a esquece: eu não esqueci... (Jaime Silva, ex-alf mil pqdt, BCP 21, Angola, 1970/72) (8): escapei à terceira mina... mas o sold pqdt Lamas apanhou com um 'balázio' no braço