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sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23726: Notas de leitura (1509): "Para Além do Amor", por Nelson Cerveira, edição do autor com apoios de autarquias e instituições da Anadia; 2022 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Socorro-me habitualmente da ajuda que me dá a Biblioteca da Liga dos Combatentes, é neste território que encontro obras, de modo geral edições de autor, de antigos combatentes que aqui deixam os seus trabalhos. Foi aqui que conheci este livro de Nelson Cerveira[1], furriel-enfermeiro do BCAV 8320/73, terá sido o último batalhão que abandonou a Guiné. Nelson Cerveira foi depois para Angola onde geriu um hotel no Kwanza Norte, aqui terá encontrado matéria para escrever 3 livros relatando acontecimentos que tiveram a ver com a guerra civil de Angola. Forjou este romance cuja figura central um furriel ferido em combate, tem uma escrita singularíssima, uma narrativa onde não faltam elementos naturalistas e neorromânticos e grandes tiradas declamatórias.

Um abraço do
Mário



Os enfermeiros também tombam em combate

Mário Beja Santos

O título da obra é "Para Além do Amor", o autor é Nelson Cerveira [foto à direita], edição do autor com apoios de autarquias e instituições da Anadia, 2022. A singularidade da trama assenta na deliberada decisão do escritor em rebuscar uma prosa com laivos de naturalismo, neorromantismo, é uma prosa inflada de afirmações declamatórias e afirmações sentimentais que se inscrevem em atmosferas de dramatização, muitas lágrimas, muitos soluços, até se chegar à redenção que a obra propicia.

Estamos em maio de 1947, na região da Bairrada, em noite de tempestade, os donos da casa ouvem gemidos no celeiro, o agricultor nada vira coisa semelhante, uma moça de 16 anos, que era conhecida por Zeza, e que por ali deambulava por aldeias vizinhas, sem ninguém saber qual a sua origem, acabara de dar à luz. Depois somos introduzidos na história de Zeza, recuamos a 1930, mais uma história trágica, no parto morre a mãe, salva-se a criança que passou a ser criada pelos avós com o nome de Maria Cristina. O casal que recebe a criança que Zeza dera à luz, e que tinha recentemente perdido um filho, aceita criar esta bênção que lhe cai do céu.

Há um lavrador de nome Alfredo que vai trabalhar para uma das quintas mais ricas da região, fica encarregado pelo patrão de cuidar do filho, de nome Tomé, o menino tem 4 anos, irá formar-se em Direito. Alfredo virá ser caseiro da quinta, depois morre o patrão, o filho vende a propriedade. Amélia, a mulher de Alfredo tem um filho que morre apenas com 2 semanas. É nesta altura que nasce o filho de Zeza, em homenagem ao benfeitor, o casal põe-lhe o nome de Tomé. Anos depois os pais adotivos contam a história, mostram-lhe a fotografia de Zeza.

Tomé revela-se um jovem prudente, assenta praça em outubro de 1968 nas Caldas da Rainha, tirará a especialidade de enfermeiro, as aulas decorrem no anexo do Hospital Militar da Estrela. Finda a especialidade, ele e o seu amigo Jorge foram colocados no Hospital Militar de Coimbra, alugam um quarto numa casa no largo da Sé Velha. Vai começar o enfeitiçamento por uma jovem aluna de Medicina, isto em 1969, no reboliço dos acontecimentos estudantis. Tomé era amigo de Laura, esta amiga Aurora, o deslumbramento de Tomé, de todos o autor nos dá a descrição, Aurora está bem impressionada com Tomé, o seu aspeto resplandecente, o olhar aceso, as belas cores, o belo sorriso, estão os três em amena cavaqueira numa esplanada e aparecesse João, vamos ter aqui um discurso incomum, João possuía o dom especial de se encontrar à vontade em toda a parte e não faz mais nada, tem para ali uma larga tirada sobre a tirania colonialista, a liberdade, a igualdade e a fraternidade, lembra aos presentes que a hora que estavam a viver era uma hora sombria e diz o autor que aquele jovem era apologista que o governo salazarista cairia quando a lava escandecente no seio da liberdade irrompesse as ideias libertadoras defendidas pelo comunismo. As discussões multiplicam-se, passa-se para a religião, duvida-se da imortalidade da alma, seguem-se os problemas da civilização, aqui começam as críticas ao comunismo, o Tomé mete-se na conversa, temos páginas e páginas sobre o cristianismo e as lutas acesas do protestantismo. As grandes tiradas declamatórias irão prosseguir, Tomé irá contar a Aurora o que andam a fazer os Movimentos de Libertação, e depois declara-se, Tomé é retribuído, andam enleados. Chegou a hora da mobilização, Tomé irá apresentar-se no Hospital Militar de Bissau, a despedida é dolorosa.

Em 21 de fevereiro de 1970, o furriel-enfermeiro Tomé apresenta-se no Hospital Militar, o espetáculo a que assiste nos corredores constrange-o. Irá ser colocado em Bissorã, escreve uma longa carta à sua amiga Laura. Aurora irá conhecer os pais de Alfredo na companhia de Laura e, entretanto, vamos saber um pouco da história desse ano durante a guerra, nova carta de Tomé para Laura, foi colocado em Guileje, conta-lhe como a guerra é duríssima. Tomé já está em Bafatá, em 26 de junho de 1971 um grupo do PAIGC penetra na cidade, faz diferentes estragos, provoca mortos e feridos. A partir desta data os familiares de Tomé deixaram de receber cartas.

Entramos num ciclo dramático, Tomé fora ferido, um tiro alojara-se na coluna quando socorria um ferido na parada, ficara paralisado, a partir de então, as suas pernas seriam duas rodas de cadeira. Laura visita-o no Hospital Militar da Estrela, Tomé desabafa: “Mais difícil do que viver uma grande paixão é falar dela. Mas tão difícil quanto falar dela é resistir a falar dela.” Dá a entender à amiga que é um cadáver da cintura para baixo, Aurora merece encontrar alguém que lhe possa dar tudo aquilo que ele a partir de agora não pode.

É evidente que este ciclo dramático vai torcer-se e retorcer-se até nos trazer uma outra imagem sobre o amor, haverá revelações conducentes à sublimação daquele amor, de tal modo que o desfecho tem filamentos de uma apoteose, assim:
“Não é por acaso que te encontras junto de mim, meu anjo secreto. Desde aquele dia que te vi naquele uniforme de capa e batina. Como uma sombra, saíste daquela praça no teu uniforme de estudante e eu, que nada sabia de ti, com toda a força do fundo do meu ser, respondia ao teu apelo, compreendi que essa jovem tão frágil estava carregada de toda a feminilidade do mundo e que bastaria tocar-te com um dedo para saltar dentro de mim uma faísca capaz de iluminar para sempre o meu caminho, o meu destino, o meu futuro… e que se não morresse fulminado ficaria preso por um desejo, magnetizado para toda a vida. Deus abençoa algumas pessoas com casamentos felizes e filhos saudáveis. Mas também abençoa outras pessoas com a força e resignação para aceitarem uma vida sem casamentos felizes nem filhos saudáveis. Ajuda-as quando esses sonhos não se concretizam, mostrando-lhes que após o fracasso de uma vida sonhada e não concretizada não têm que ficar com o espaço vazio, com um buraco nas suas vidas, onde antes estava o sonho. Existem outros sonhos a serem sonhados.”

A revelação do que aproxima Aurora a Tomé faz deste um homem feliz na contingência das suas limitações. O autor afirma ter-se socorrido de ideias e conceitos que recolheu dos livros "Os Irmãos Karamazov", de Dostoievski, "O Doutor Jivago", de Boris Pasternak e "Velhice do Padre Eterno", de Guerra Junqueiro.

Despede-se, assim: “Se desejarem entrar em contacto com o autor para comentar esta obra ou prestar qualquer esclarecimento sobre qualquer outro livro da sua autoria, escreva para nelcerveira@gmail.com. O autor terá o maior gosto em esclarecer qualquer leitor que lhe dirija as suas dúvidas”.


BCAV 8320/73 - Guiné, Junho a Outubro de 1974 - O Nelson Cerveira foi Furriel Miliciano Enfermeiro da CCS
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Notas do editor

[1] - Vd poste de 5 DE JUNHO DE 2012 > Guiné 63/74 - P10002: Tabanca Grande (343): Nelson Henriques Cerveira, ex-Fur Mil Enf da CCS/BCAV 8320/73 (Bissorã e Bissau, 1974)

Último poste da série de 20 DE OUTUBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23724: Notas de leitura (1508): Algumas (breves) notas sobre missionação (V) - Conheci de perto dois padres franciscanos na minha estada na Guiné-Bissau: os padres Macedo e Sobrinho. E, bem ainda, o bispo Settimio Artur Ferrazzeta, padre franciscano, italiano, o primeiro Bispo da Guiné-Bissau (Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21835: Tabanca Grande (510): Aniceto Rodrigues da Silva (1947-2021), natural da Anadia, ex-sold cond auto, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71); que descanse em paz, à sombra do nosso poilão, no lugar nº 828



Guiné > Região de Bafatá > Bambadinca > CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1969/71) > O sold cond auto Aniceto Rodrigues da Silva, natural de Anadia (1947-2021). Vitima de Covid-19, entra para a Tabanca Grande a título póstumo. (*)



Anadia > Paredes de Bairro >  Dezembro de 2018 > Da esquerda para a direita, a Susana, o pai, Aniceto, a mãe e o irmão mais novo,


Anadia > Agosto de 2019 > Selfie, foto de grupo 


Fotos (e legendas): © Susana Almeida Novo (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de Susana Almeida Novo, enfermeira e professora de enfermagem em Inglaterra;

Data- 1 fev 2021 12h00

Assunto - Morte do Aniceto R. da Silva, sold cond auto, CCAÇ 2590/CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71) (*)

Bom dia a todos [, editor, LG. e vários camaradas da CCAÇ 12],

Não sabem a emoção que tenho, ao ler os e-mails recebidos!

Eu moro, sim, no estrangeiro, na Inglaterra (perdoem-me algumas palavras sem acentos, o autocorretor português só reconhece metade).

Vim para cá em Janeiro de 2013. Sou enfermeira com especialidade em cuidados intensivos e professora de enfermagem. [Foto à esquerda, do perfil no Linkedin]

O meu pai ficou doente no início de Dezembro, inicialmente sem sintomas de COVID, mas o que parecia ser uma gripe. Sentia frio e cansaço extremo, mas nunca tosse ou febre.

Ele era um tanto teimoso, evitava ao máximo médicos. Embora ele tenha sempre insistido que não tinha medo de morrer, o certo e que ele evitava estabelecimentos de saúde ao máximo. Nesta situação não foi diferente. Ele insistia que ia passar e dizia-nos de manhã que se sentia melhor, para tentar diminuir a nossa insistência em procurar um médico.

No dia 15 de Dezembro, à noite, os meus pais estavam sentados na sala a ver televisão e ele desmaiou por uns minutos. Ai a minha mãe não hesitou em chamar uma ambulância. O enfermeiro disse que ele tinha a tensão arterial demasiado baixa, provavelmente por desidratação uma vez que ele tinha perdido o apetite e também não bebia o suficiente.

Quando o levaram para o hospital testaram para COVID e regressou positivo. Ele manteve-se na enfermaria até ao dia 21, sem melhoras, depois foi transferido para os cuidados intensivos e no dia de Natal foi sedado e entubado. Falou com a minha mãe e o meu irmão mais novo uma vez, enquanto esteve no hospital por videochamada e a última vez comigo no dia 23 de Dezembro.

Uma das ultimas coisas que lhe disse foi precisamente que ele tinha ido à guerra e nem isso o tinha vencido, que ele ia vencer isto. Mas eu estava enganada e temos agora, enquanto família, uma dor sem fim. Não o poder ter abraçado, beijado, dado o apoio e incentivo que ele precisava e merecia. Quantas vezes temos de reler o certificado de óbito para nos convencermos que ele partiu, porque todos os dias acordamos à espera que ele nos entre pela porta adentro.

Eu não sou filha legitima dele. Quando ele e a minha mãe começaram a namorar, eu tinha uns 3 anos. No entanto ele é e sempre será o meu único pai. Quem sou hoje enquanto pessoa depende tanto dele e do quanto ele aspirava para que os seus filhos fossem as melhores pessoas que conseguissem ser.

Em Agosto de 1968, antes de o meu pai iniciar a Recruta, os pais e irmãos dele mudaram-se para os EUA, chamados por uma tia. Eles fizeram isso para livrar o meu tio também de ser chamado para a guerra. Em Outubro de 1968 o meu pai iniciou a tropa e depois de regressar da guerra juntou-se à família nos EUA.

Entretanto vinha a Portugal de visita e namorou uma rapariga que depois levou para os EUA, já casados. Desse primeiro casamento ele teve dois filhos (uma rapariga com quem ele perdeu a relação nos anos 90, e um rapaz que hoje tem 43 anos, casado e com dois filhos pequenos no EUA). O primeiro casamento acabou e ele continuou a morar nos EUA com o filho. Em 1995, já a namorar a minha mãe através de cartas, ele chamou-nos para lá. Em 2000 casaram. Enquanto esteve nos EUA fez vários trabalhos (construção, dono de uma lavandaria, soldador).

Em 2001 o meu ‘irmão mais velho’ (filho do primeiro casamento) casou-se e em Julho regressamos para Paredes do Bairro, Anadia, Portugal (de onde os meus pais são ambos naturais). Eu tinha na altura 11 anos.

Em 2002 os meus pais tiveram o meu irmão mais novo, o André (agora com 18 anos) que conseguem ver em várias fotos, que anexo. Ao olharmos para as fotos do meu pai na guerra vemos que o André é uma fotocopia do pai. O sentido de humor igual também.

Desde o regresso a Portugal o meu pai e a minha mãe dedicaram-se às terras. Tinham ambos saudades da natureza e passavam o tempo na terra e com animais de criação para ocupar o tempo. O meu pai era alguém exigente e muito brincalhão. Ele não conseguia passar muito tempo sem se estar a meter com quem estivesse para rir.

Ele relembrava o tempo da guerra com dor e revolta. A minha mãe falava ontem à noite da dor com que ele recordava o colega perdido Antonio Manuel Soares. Ele descrevia essa experiência como tendo sido uma das piores da vida dele. Ele recordava-nos do quanto éramos privilegiados por nunca termos tido a experiência da guerra, por sermos livres, fartos e protegidos. Ele tinha e tem razão, quanto abençoados nós somos sem saber.

Tenho tanta pena do facto de ele ter sido tão resistente às novas tecnologias porque imagino que voltar a encontrar-vos ter-lhe-ia dado tanta alegria. E convosco, que sabem melhor que ninguém o quanto passaram, ele poderia ter conversado sobre essa dor e revolta.

Obrigada pelo vosso sacrifício! Digo isto em nome de toda a minha família de coração. Enquanto hoje as pessoas vivem imbuídas em egoísmo e perdem o sentido comunitário e de respeito pelo outro, a vos era-vos pedido que deixassem tudo e todos em nome da pátria, que dessem a própria vida em nome da pátria. Que isso não seja nunca esquecido por mais gerações que passem!

Acima anexei algumas fotografias que tenho, estejam a vontade para editar e publicar no blogue. Em nome de toda a família temos todo o gosto que ele conste dele. E sempre que precisem de algo do qual achem que possa ajudar, por favor disponham, pois é com muito gosto que me disponibilizo.

Na campa do meu pai tencionamos pôr excertos do seguinte poema [Epitáfio, de Merrit Malloy, (n. Pensilvânia, EUA, 1950], porque o amor e tudo o que resta quando a vida acaba; isso e as marcas desse amor na vida dos outros com quem nos cruzamos.

Quando eu morrer
Dá o que restar de mim
às crianças
E aos idosos que esperam para morrer.

E se precisares chorar,
Chora por teu irmão
Que anda pelas ruas a teu lado.
E quando precisares de mim,
Coloca teus braços
Em volta de alguém
E dá-lhe o que precisas me dar.

Quero deixar-te algo,
Algo melhor
Do que palavras
Ou sons.

Busca-me
Nas pessoas que conheci
Ou amei,
E se não podes me deixar partir
Ao menos deixa-me viver em teus olhos
E não em tua mente.

Podes amar-me mais
Deixando as mãos
Tocarem as mãos,
Deixando os corpos tocarem os corpos,
E libertando
As crianças
Que precisam ser livres.

O amor não morre,
Pessoas sim.
Por isso, quando tudo que resta de mim
É amor,
Deixa-me partir.


Com carinho e os meus melhores cumprimentos,

Susana Almeida Novo


2. Resposta do editor Luís Graça:

Susana: é um hino de amor o que acaba de escrever e partilhar connosco, e que muito me tocou, pessoalmente.

Como gostamos de dizer, aqui no nosso blogue, "os filhos dos nossos camaradas nossos filhos são". A Susana acaba de ser acolhida por todos nós, os amigos e camaradas da Guiné. As palavras que escreveu sobre os seus pais e a sua família, merecem ser partilhadas, como um humanissima história de vida, onde nos retratamos todos um pouco (a época difícil em que nascemos, a geração do seu pai e da sua mãe, a minha geração, a guerra do ultramar que mobilizou quase um milhão de jovens, o difícil regresso e readaptação a uma sociedade em profunda mudança, a emigração para muitos daqueles a quem a Pátria foi madrasta, a constituição e reconstituição das famílias, etc.).

A Susana é uma mulher de grande sensibilidade. Também não é por acaso que escolheu uma tão nobre e exigente profissão como a enfermagem. Falo com algum conhecimento de causa: também fui professor, nos anos 90, nalgumas das nossas melhores escolas de enfermagem, tive depois alunos de enfermagem em cursos de pós-graduação (como administração hospitalar) e de mestrado e doutoramento (gestão de saúde, saúde pública...). Eu próprio tenho uma irmã enfermeira, 19 anos mais nova do que eu... E uma sobrinha, em Inglaterra, em Londres, há cerca de 10 anos, a Raquel Calado, na área da neurologia.

Por outro lado, e como a Susana também é professora, pode ser que ainda possam ter alguma utilidade os muitos textos (mais de 200) que tenho na minha página pessoal, criada em 1999 (e, infelizmente, por atualizar há anos...)... Chama-se Saúde e Trabalho, Luís Graça, sociólogo, e inclui "papers" na área da sociologia histórica da medicina, enfermagem e outras profissões de saúde.

Dito isto, e uma vez que nos autoriza a partilhar a sua história, a história do seu pai e da sua família, vou selecionar apenas duas ou três das fotos que nos mandou, e apresentar o meu camarada Aniceto Rodrigues da Silva à Tabanca Grande, a comunidade virtual constituída por 826 amigos e camaradas da Guiné, uma rede social criada para partilhar memórias e afectos. Ele foi um dos 15 condutores auto, "excelentes e valorosos", da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (1961/71).

Infelizmente ainda temos poucas fotos do pai, enquanto militar. Mas pode ser que nos cheguem mais... Ele ficará, aqui connosco, em espírito, no lugar nº 828 (**), sob a proteção do nosso mágico, secular e fraterno poilão, a árvore sagrada da Guiné que existe no centro de todas as tabancas (aldeias).

Procuramos resgatar a memória de todos aqueles que, como nós, sabem ou souberam, no corpo e na alma, o significado da expressão "sangue, suor e lágrimas"... E não queremos que os camaradas que já partiram antes de nós, sejam inumados ou sepultados na "vala comum do esquecimento". É o mínimo que podemos fazer por eles. É o mínimo que podemos fazer pelo nosso camarada Aniceto.

Está explicado, também, o paradeiro desconhecido do seu pai, de quem não tínhamos nenhuma morada, e que nunca compareceu a nenhum dos nossos convívios, e já já vão duas dezenas e meia, desde 1994. Vamos guardar o seu endereço de email.

Obrigado pelo tempo que nos quis dispensar. Imagino que, sendo enfermeira de cuidados intensivos, não tenha muito tempo para si e para descansar, no meio desta horrível pandemia de Covid-19 que está a provocar baixas também nas nossas fileiras.

Vamos dando notícias. Desejo-lhe boa saúde e bom trabalho. Luís Graça, fundador e editor principal do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.

PS - A Susana tem também aqui as cartas militares de alguns dos lugares por onde andámos, nós e o Aniceto e os demais camaradas condutores auto da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12:

Bafatá (1955)Bambadinca (1955)
Bissau (1949)
Contuboel (1956)
Galomaro / Duas Fontes (Bengacia) (1959)
Geba / Bambadinca (1955)
Mansambo / Xime (1955)
Padada (1959)
Saltinho / Contabane (1959)
Sonaco (1957)
Xime (1955)
Xitole (1955)
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