sábado, 18 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24152: Os nossos seres, saberes e lazeres (561): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94): Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Março de 2023:

Queridos amigos,
Devido a uma colaboração permanente que levo no jornal "O Templário", de Tomar, procuro inteirar-me da história da Ordem de Cristo, sucessora da do Templo. D. Dinis foi de uma grande habilidade diplomática, estabeleceu acordos com os outros Estados ibéricos no sentido de não permitir quaisquer desvios dos bens patrimoniais templários. Alegou a Roma que necessitava de uma Ordem de guerreiros monges destinados a travar, a fazer recuar e mesmo a erradicar inimigos da Cristandade, justificando os permanentes assédios sarracenos e magrebinos nas costas algarvias, e a existência do Reino de Granada, marcadamente hostil. A nova ordem foi aprovada e sediou-se por mais de três décadas em Castro Marim, em meados do século já estava implantada em Tomar, será aqui, na Administração do Infante D. Henrique, que a Ordem e os seus bens terão um papel chave na primeira etapa dos Descobrimentos. Como veremos adiante, Castro Marim tem muito para contar sobre o seu primeiro período da existência, como esta interessantíssima exposição revela.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (94):
Da bela Tavira a uma exposição sobre a Ordem de Cristo em Castro Marim, com José Cutileiro em pano de fundo (1)


Mário Beja Santos

É bom ter amigos em Tavira e que nos acolhem admiravelmente, sempre solícitos a mostrar as mudanças, algumas que nos enternecem muito, há para ali intervenções patrimoniais que nos merecem muito respeito, outras não tanto, derrubou-se o velho cinema e alterando completamente a escala está a erguer-se mais um daqueles centros culturais para encher o olho, cirandando à volta das muralhas (Tavira vista do jardim do castelo é um desafogo panorâmico, por ali se pode ver o ADN de um lugar por onde se cruzaram tais e tantas civilizações) fiquei de boca aberta a ver junto a um belo pano de muralha um calhamaço que seguramente vai ser hotel ou apartamento luxuoso, continuo a não entender os maltratos à volta de monumentos nacionais, é-me inexplicável esta ganância, este gosto pela ostentação, roubando aos munícipes e aos visitantes vistas de alto valor histórico – e chamam a isto progresso.
É bom caminhar por estas ruas antigas, indo conversando com amigos quanto aos propósitos desta visita que incluem Castro Marim, lá no castelo, dentro de um templo religioso, que já deixou de o ser, consta uma exposição sobre a história da Ordem de Cristo naquele ponto no então Reino do Algarve, lá iremos seguidamente, primeiro matar saudades de Tavira, visitar inclusivamente aquelas lojas de ajuda humanitária a que se entregam sobretudo os ingleses, metem para ali objetos que nas suas casas perderam préstimo, quem compra, compra barato, e as receitas do mealheiro são para ajudar quem precisa, dali saio alegre e feliz com um bom número de discos de música clássica comprado à pataco.
Pois bem, vamos subir ao jardim do castelo, é um dos pontos mais aprazíveis para ver o que se passa em Tavira e arredores.

Um dos aspetos que mais me atraem é esta circunvizinhança habitacional, paredes meias com o castelo, não sei se os historiadores se arrepiam com esta vista, sinto-me bem com este edificado, estes telhados de quatro águas, esta intimidade que não consigo ver como intrusão, embora admita que nos dias de hoje que por razão de tal plano levaria à queda de uma idealidade…
É inverno, mas há para aqui uma planta a enfeitar a pérgola, ninguém me disse exatamente o seu nome, facto é que quem anda por este jardim se delicia com a vista de tal florescência em tempos de flora adormecida. Que encanto para os olhos!
Uma vista de Tavira e logo nos ocorre a civilização árabe, o olhar espraia-se até ao fundo, ali espreita o oceano e bem perto podemo-nos encantar com o que oferece a Ria Formosa.
Há um hotel em Tavira que tem no subterrâneo vestígios de um bairro almóada, imagine-se, tudo agora bem preservado, pede-se licença na receção e lá ingressamos no mundo árabe, ou suas reminiscências (há aqui vestígios de trocas comerciais posteriores), o que há para ver é frugal, mas está altamente preservado. Aqui está a memória do trabalho arqueológico, depois de concluído deu-se vida ao hotel.
O que temos aqui são os achados arqueológicos e a organização do espaço, o que resta de um lugar que foi habitado por gente almóada, sabe-se lá o que depois aconteceu, ficaram estas estruturas e algumas lembranças daquilo a que nós pomposamente chamamos a civilização árabe e o que depois dela sobreviveu.
De Castro Marim olhando as salinas e a agricultura na orla do barrocal
Era um dia claro, temperatura amena, mas, de súbito, apareceram nuvens encasteladas no horizonte, a luz perdeu um certo brilho, mas aquele céu um tanto atemorizante prendeu a atenção de quem o fotografou… e o produto final não o desiludiu.
O Forte de S. Sebastião (ponto culminante da vigilância contra eventuais intrusões espanholas, na Guerra da Restauração) e um pormenor do centro da vila de Castro Marim, imagem tirada do castelo.
Uma vitrina do Núcleo Arqueológico do Castelo de Castro Marim
Outro pormenor das salinas entre o castelo e a garridice das cores do casario à sua beira
Já estou no Castelo de Castro Marim, é um ponto alto de uma colina que é sobranceira ao Guadiana, aqui em 1319 houve sede da Ordem de Cristo, graças aos esforços diplomáticos de D. Dinis, socorreu-se de alianças ibéricas para não deixar de sair o rico património da Ordem do Templo, depois daquele miserável processo movido aos monges guerreiros que tinham fortunas, que emprestavam dinheiro a reis e que pagaram bem caro o serviço que prestaram à Cristandade no seu tempo. O monarca justificou a razão de ser desta Ordem aqui em Castro Marim dando razões compreensíveis, o Reino de Granada na vizinhança e a pirataria magrebina a encher de pânico a costa algarvia. Foi sede durante décadas (até 1356), depois seguiu para Tomar. Frente a este castelo está o Forte de S. Sebastião, desempenhou o seu papel na Guerra da Restauração. Diga-se em abono da verdade que Castro Marim merece uma cuidada visita, está cercada de belíssimo de património cultural, faz parte da Rede Nacional das Áreas Protegidas e a Rede Natura 2000, permite passeios pedestres muito belos, os amantes da natureza têm ali ao seu dispor belos troços da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António, os amantes da praia também não se sentem desiludidos e convém recordar que as salinas ocupam mais de 580 hectares da Reserva Natural do Sapal de Castro Marim e Vila Real de Santo António.
Vamos visitar a exposição e andar por aí, já pedi a quem me acompanha para ir ver a estátua do Marquês de Pombal, de José Cutileiro, em Vila Real de Santo António.

(continua)

____________

Nota do editor

Último poste da série de > Guiné 61/74 - P24136: Os nossos seres, saberes e lazeres (560): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (93): Regresso à Academia Militar, ao Palácio da Bemposta (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24151: Efemérides (382): Homenagem aos antigos combatentes da guerra do ultramar da Freguesia de Paus, Concelho de Resende, vivos e caídos em campanha, dia 29 de Abril de 2023, que contará com uma represenção do nosso Blogue

1. Mensagem das nossas amigas Fátima Soledade e Fátima Silva, ambas filhas de antigos combatentes do ultramar, com data de 8 de Março de 2023:

Boa noite:
Venho mais uma vez solicitar colaboração.
Eu e outra colega estamos a preparar mais uma sentida homenagem aos antigos combatentes mortos e vivos. Vai constar também uma homenagem a três falecidos em combate e dois deles falecidos na Guiné, são:
- Joaquim Rodrigues, que nasceu no lugar do Vale, na freguesia de Paus. No dia 15 de novembro de 1969 embarcou para a Guiné, em Lisboa, no cais da Rocha Conde de Óbidos, no Uíge, integrado na 
Companhia de Comando e Serviços (CCS) do Batalhão de Caçadores 2893. Foi mobilizado pelo Batalhão de Caçadores 10 de Chaves. Faleceu no dia 15.11.1970.
- Lucídio Rasinhas que nasceu no lugar de Fazamões, na freguesia de Paus. Foi integrado na Companhia de Caçadores 2405 (CCaç 2405) do Batalhão de Caçadores 2852 (BCaç 2852). Faleceu no dia 13.07.1969.

Gostaríamos, portanto, de acolher na nossa terra, no dia 29 de abril, para uma breve apresentação sobre a presença dos militares na Guiné, o Carlos Vinhal ou outro elemento do blogue "Luís Graça & Camaradas da Guiné".
Ficar-lhe-íamos muito gratas.

Com os melhores cumprimentos,
Fátima Soledade e Fátima Silva


********************

2. Comentário do editor:

Como o nosso Editor Luís Graça está, neste momento, a passar dias conturbados por causa de um problema de saúde grave num elemento da sua família, e eu tenho, no mesmo dia, no meu Concelho o Dia do Combatente de Matosinhos, convidei o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, a representar o nosso Blogue no evento de Resende. O Eduardo não só aceitou, como também se vai fazer acompanhar do nosso amigo e camarada Casimiro Carvalho.
O Casimiro Carvalho falará dos trágicos acontecimentos que viveu em 1973 no leste da Guiné e o Eduardo Magalhães dos últimos dias da presença portuguesa na Guiné-Bissau, que não sendo de violência, foram de grande tensão e emoção.
O nosso Blogue está seguramente bem representado.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 8 DE FEVEREIRO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24046: Efemérides (381): Os 60 anos da formação dos primeiros Comandos, em Zemba, Angola... Convite para a sessão solene comemorativa do encerramento das Comemorações, no auditório do Instituto de Defesa Nacional, Lisboa, 15/2/2023, 17h00 (Associação de Comandos)

sexta-feira, 17 de março de 2023

Guiné 61/74 - P24150: Notas de leitura (1564): "Guiné 9 Dias em Março" e "Guiné 74 Vigilância e Resposta"; O repórter Horácio Caio na Guiné, em 1970 e em 1974 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Julho de 2020:

Queridos amigos,
Três repórteres se distinguiram na cobertura da guerra da Guiné, para efeitos de propaganda do Estado Novo: Amândio César, Horácio Caio e Dutra Faria. Amândio César e Dutra Faria tiveram na Guiné no tempo do Governador Arnaldo Schulz, Caio visita a Guiné em 1970 e 1974. A todos irmana o tantam da portugalidade, do amor da Guiné a Portugal, há sempre progresso, novas estradas, desenvolvimento agrícola, o inimigo dispara no território estrangeiro ou tem no interior bases temporárias. Caio não encontrou ninguém que lhe tenha falado em mísseis, por toda a parte encontrou tropa animada, régulos indefetíveis, Bissau era uma cidade completamente segura, viajou de helicóptero ou de jipe em certas estradas alcatroadas. É estarrecedor vermos hoje, à distância de meio século, como se pretendia instrumentalizar ou ludibriar a opinião pública portuguesa. Mas aconteceu, basta ler estes repórteres e sentir como o credo nacionalista podia deturpar a realidade dos factos.

Um abraço do
Mário


O repórter Horácio Caio na Guiné, em 1970 e em 1974

Mário Beja Santos

Horácio Caio (1928-2008) é considerado o primeiro repórter da guerra colonial, trabalhou para a RTP e várias publicações escritas. Pelo menos duas obras sobre a Guiné chegaram ao meu conhecimento. Em 1970, acompanha o ministro Silva Cunha de que resulta um folheto intitulado “Guiné Nove Dias em Março”. Descreve a visita do ministro do Ultramar, alvo de uma receção patriótica, a publicação está profusamente ilustrada com imagens com crianças, jovens e adultos, visitando projetos, andando de jipe entre Nova Lamego e Bafatá, saindo do helicóptero na área de Madina do Boé. Desmente tudo quanto Cabral por essa altura dissera numa entrevista à Newsweek sobre controlo do território, afirma que anda com o ministro por toda a parte, embora não diga como. É encomiástico com as transformações que se estão a operar na Guiné: “Rasgam-se e alcatroam-se estradas pelo interior da floresta; lançam-se pontes e viadutos sobre os canais dos belos rios guineenses; em toda a província se constroem habitações em aldeamentos; abrem-se escolas e hospitais; potentes máquinas desbravam as florestas e preparam terrenos para novas culturas; criam-se granjas agrícolas; reordenam-se palmares; recuperam-se bolanhas onde viceja o arroz”. O Governador Spínola mostra ao ministro o que se está a passar no Chão Manjaco, também no Chão Mancanha e Balanta, e no Quínara. Os jornalistas recebem ampla informação quanto ao que se está a passar na assistência médico-sanitária. Também Bafatá recebe em apoteose o ministro, o comandante da 1.ª Companhia de Comandos Africanos, João Bacar Djaló, é condecorado, Horácio Caio sente-se contagiado pelo portuguesismo das populações.

Viaja-se até à fronteira, vai-se de helicóptero até Sare Bacar, depois a Cambajú e depois a Canhamina, esta um complexo de aldeamentos em autodefesa. De Bafatá até Bambadinca o ministro vai de automóvel. Noutra digressão segue-se até Nova Lamego, tem novo aeroporto, uma construção que é contemporânea nos aeródromos de Aldeia Formosa e de Cufar. A guerra que se move contra a Guiné tem por detrás as potências estrangeiras e há muitos mercenários com o PAIGC, afirma e reafirma o jornalista. Não há quartel em Madina do Boé porque as populações decidiram transferir-se para o Gabú. “Mas isso não significou que esta parcela da Guiné deixasse de ser portuguesa. E a prová-lo este a presença dos visitantes nas povoações de Beli e de Madina do Boé, a escassos quilómetros da fronteira, tendo sido sobrevoadas a baixa altitude”. Houve também passeio à ilha do Como. Assim se desfaz mais uma mentira da propaganda adversária. “O Professor Doutor Silva Cunha esteve em Porto de Corcô, no centro geográfico da ilha de Como, pedaço de terra, embora de reduzido interesse, mas pedaço de terra portuguesa, onde portugueses mesmo desarmados como foi o caso, podem permanecer quando e enquanto quiserem”. A viagem prossegue até Guilege e Gadamael. “A intensa alegria com que receberam os visitantes somada à determinação que puseram nas suas afirmações, demonstraram mais uma vez a razão da sua permanência em tão inóspitas paragens”.

Chegou a vez de visitar o Chão Manjaco, fala-se em construções como uma maternidade, ampliação da missão de combate a doenças tropicais, o elevado número de postos sanitários, reordenamentos rurais, estava em curso a construção de três mil casas de habitação. Com efeito, Spínola apostava no Chão Manjaco, um mês depois ali ocorrerá uma tragédia, suponha-se que grupos do PAIGC aceitassem ser integrados nas fileiras do Exército Português, os oficiais de negociadores foram retalhados à catana.

Em janeiro de 1974, é a vez de Baltazar Rebelo de Sousa, o novo ministro do Ultramar, visitar a Guiné, irá a Catió, a Caboxanque, Bafatá, Nova Lamego, Farim, Cacheu, Teixeira Pinto e Bubaque. O livro "Guiné 74, Vigilância e Resposta", é editado no mês seguinte. Não há áreas libertadas. Apenas 5% da população está sob o jugo do PAIGC. As flagelações deste são realizadas à distância, ou de acampamentos temporários ou nos territórios do Senegal ou da República da Guiné. Há cada vez mais progresso, começara a laboração da CICER, Fábrica de Cervejas e Refrigerantes, o maior investimento privado na Guiné, caminhava para a inauguração o Hotel Ancar, havia cada vez mais estradas asfaltadas. O jornalista está a engraxar os sapatos, o engraxador é um jovem de 15 anos que aspira ser Comando. Bissau é uma cidade seguríssima. “Nenhuma das pessoas com quem conversei me falou em bombardeamentos, tiros ou foguetões. A campanha de falsas notícias, insidiosamente montada pelo inimigo e quantas vezes acreditada até por pessoas de boa fé, não corresponde à realidade observada”.

O repórter assiste ao encontro entre o ministro e o rei de Bassarel, no Pelundo, fala-nos da fortaleza de Cacheu, de Honório Pereira Barreto e de sua mãe D. Rosa Carvalho Alvarenga. Depois os helicópteros rumam para Cufar, Catió, Caboxanque, no Cantanhez. “Aí convivemos durante uma manhã inteira com esses bravos soldados que defendem a terra e as populações”. Os encontros são muitos, com o dirigente do Turismo, um alferes promovido a capitão, na saúde e do ensino, aqui pontificam os militares e as suas mulheres, entrevista-se o proprietário do Hotel Ancar, há visita à Imprensa Nacional da Guiné, o ministro inaugura o estádio escolar que inclui campos de futebol, campos de voleibol e basquetebol, balneários, salas de jogos, pista de atletismo. Volta-se ao investimento da CICER, enumeram-se as cervejas e os refrigerantes, tudo parecia um investimento promissor. Edição profusamente ilustrada como a anterior, uma narrativa de rasgada fé na portugalidade guineense, refere-se textualmente que são 500 mil guineenses antes separados por odiosas rivalidades fomentadas pelo PAIGC, ele via por toda a parte a nossa Guiné fraterna e exclama: “Com uma farda de Comando, com indumentária da Mocidade Portuguesa – movimento que na Guiné tem presença vigorosa – ou com um distintivo da ação nacional popular, o jovem – milhares de jovens – da Guiné está personalizado e é o fermento da vida nova que freme e acoroçoa a aurora que desponta”. É verdade que a guerra traz incómodos, sacrifícios, destruição e mortes. “Clareado o que tenho na minha frente, o que antevejo é o futuro da Guiné, onde todos participam com ânimo, aceitando desafios constantes à inteligência e à imaginação”.

E tudo termina com uma citação do ministro do Ultramar, produzida em Cacheu no dia 17 de janeiro: “A Guiné dos nossos dias está apostada em se defender dos ataques que lhe são dirigidos, já que ela, por si própria, é pacífica, não ofende ninguém e não ambiciona nada senão que a deixem trabalhar em paz e progredir em paz, a favor da sua gente”.
E meses depois aconteceu o 25 de abril.

____________

Nota do editor

Último poste da série de 13 DE MARÇO DE 2023 > Guiné 61/74 - P24141: Notas de leitura (1563): Cadernos Militares - Convencer a malta do Exército dos malefícios da descolonização (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P24149: Em busca de... (319): Camaradas do combatente Avelino da Silva Pereira da CCAV 677/BCAÇ 599, natural de Penude - Lamego - e de um exemplar do livro “Vem comigo à guerra do Ultramar”, escrito pelo Coronel António Luís Monteiro da Graça, CMDT da CCAV 677

1. Mensagem de 13 de Março de 2022 das nossas amigas Fátima Soledade e Fátima Silva, ambas filhas de antigos combatentes da guerra do ultramar, procurando camaradas do combatente Avelino Pereira, da CCAV 677:

Boa noite, Carlos Vinhal
Espero que se encontre bem de saúde.

Ontem, estivemos em contacto com o antigo combatente, ferido na Guiné, Avelino da Silva Pereira, de Penude, Lamego. Esteve integrado na Companhia de Cavalaria 677 do Batalhão de Caçadores 599.

O seu capitão foi o célebre Monteiro Graça (Coronel de Cavalaria António Luís Monteiro da Graça,
(n
a foto à direita)falecido em 2014.

Sabemos que este Coronel escreveu as suas memórias num livro intitulado “Vem comigo à guerra do Ultramar” que, com certeza, poderia ajudar a esclarecer alguns episódios referidos pelo antigo combatente.

Sabemos que a publicação foi da responsabilidade do autor, por isso foi limitada a alguns exemplares. O seu amigo João Sena foi presenteado com um exemplar.

Será que conhece alguém que o tenha e nos faculte informação do mesmo, relativa ao período do desembarque em Bissau, 13 de maio de 1964 a 24 de junho/julho de 1964, altura em que o nosso conhecido foi ferido?

Mas também localizamos no vosso blogue, o filho de um furriel miliciano dessa companhia, José Matos. Talvez nos pudesse com algum registo que o pai deixasse (fotografias, …). O nosso conhecido não tem quaisquer registos fotográficos, nunca esteve em convívios, mas é associado da Liga dos Combatentes de Lamego.

Se nos pudessem ajudar a localizar um antigo combatente dessa companhia, gostaríamos muito de o contactar.

Muito gratas,
Fátima Soledade e Fátima Silva

____________

Notas do editor:

- Sobre o livro "Vem Comigo à Guerra do Ultramar", de António Luís Monteiro da Graça, Combatente do Ultramar, ver aqui a recensão de Mário Beja Santos: Guiné 63/74 - P11399: Notas de leitura (472): Vem Comigo à Guerra do Ultramar, pelo Coronel António Luís Monteiro da Graça (Mário Beja Santos), de 15 de Abril de 2013.

- O filho do nosso camarada José Matos, ex-Fur Mil da CCAV 677, é o nosso tertuliano José Matos, investigador em História Militar, que no nosso blogue tem já uma extensa colaboração.
As nossas amigas Fátimas e o Dr. José Matos já estabeleceram contacto telefónico.

- Ver aqui a apresentação de José Matos à tertúlia: Guiné 63/74 - P15080: Tabanca Grande (472): José Matos, investigador independente em história militar, filho do nosso falecido camarada José Matos, fur mil da CCAV 677 (Fulacunda, São João e TIte, 1964/66)... Novo grã-tabanqueiro nº 701, de 7 de Setembro de 2015

- Último poste da série de 13 DE DEZEMBRO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23877: Em busca de... (318): Fernando José Machado Gouveia (1945-2022), ex-militar da FAP, que passou pelo CTIG; era natural de (ou morador em) Crato, distrito de Portalegre... Sobrinha procura antigos camaradas

Guiné 61/74 - P24148: Manuscrito(s) (Luís Graça) (216): Provérbios populares sobre a doença, a medicina, a saúde, a vida e a morte: o que podemos aprender com eles ? - Parte I: "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"


Ilustração: © Joana Graça (2008)


Sintra > Azenhas do Mar > 31 de dezembro de 2018 > O último pôr do sol do ano...


(...) Um gajo não é um herói, muito menos um deus.
Afinal, és melhor, camarada: 
és um homem, 
que tens de saber dar corda  aos sapatos e ao coração, 
e que és capaz de parar um segundo frente ao pôr do sol,
e tirar um autorretrato instantâneo
e, como um bom franciscano, 
dizer ao deus-sol:
-Até amanhã, camarada, amigo, irmão! (...) (*)

Foto (e legenda): © Luís Graça (2018). Todos os direitos reservados. [Edição : Blogue Luís Graça & Canaradas da Guiné]


Graça, L.  - Representações Sociais da Saúde, da Doença e dos Praticantes da Arte Médica nos Provérbios em Língua Portuguesa

Parte I : 'Muita Saúde, Pouca Vida, porque Deus não Dá Tudo' (**)

Às vezes quando a doença e a morte me batem à porta, à minha, à da minha família, à dos meus amigos e camaradas mais próximos, é que eu me lembro que dediquei uma boa parta da minha vida (quase quatro décadas) ao ensino e à investigação da arte e da ciência da proteção da doença e da promoção da saúde, o mesmo é dizer às "coisas" da saúde pública...

Desde ontem no Norte, eu e a Alice, aguardamos o desfecho fatal de uma doença crónica degenerativa e irreversível de que é vítima, desde há 4 anos, alguém que muito amamos.    A nossa Nitas não merecia isto, dizemos com raiva e impotência, mesmo sabendo que ela tem recebido "os melhores cuidados do mundo", no Hospital de São João. 

Para mais tratando-se de uma doença que poderia ter sido evitada, ou prevenida, sendo muito provavelmente de origem profissional ou relacionada com o trabalho (exposição continuada ao benzeno, conhecida substância cancerígena,  no laboratório de química orgânica onde começou a trabalhar no início dos anos 70), se nessa altura, mas também antes e depois,  os portugueses tivessem feito, individual e coletivamente, um maior esforço na proteção da saúde e segurança no trabalho, nas empresas, nos laboratórios, nas universidades, nos campos e nos outros locais de trabalho.  

É uma brutal realidade, mas não é só a guerra que mata: o trabalho mata, muitas vezes lentamente, insidiosamente... E pior ainda: quando saímos de cena, e dizemos, com alguma euforia e muita ingenuidade, no último dia de trabalho: "Amanhã é o primeiro dia do resto da minha vida"... Há quem, infelizmente, não ultrapasse os primeiros anos da reforma...

Depois de sobrevivermos à dura prova que foi para todos (nós/vós) a pandemia de Covid-19 (***), estamos agora a lidar com outra situação-limite, devastadora em termos pessoais e familiares. É uma boa ocasião para pensarmos e reflectirmos sobre  o que é importante, afinal,  na vida. E sobretudo para se ser solidário e emprestar o "ombro amigo" a quem dele precisa ainda mais do que nós...

Pessoalmemente, confesso que não tenho agora, por estes dias,  grande cabeça para escrever sobre  a guerra que nos roubou, a todos, alguns anos de vida e de saúde, ou deixou marcas para o resto da vida. Mas o nosso blogue existe, continua teimosamente a querer viver e sobreviver (vai fazer 19 anos em 23 de abril próximo). E tem que ser "alimentado". Todos os dias, como o nosso corpo...  É um compromisso que temos com os "amigos e camaradas da Guiné", o de publicar todos os dias um ou mais postes.

Daí a portunidade (ou não) deste  e doutros textos que vou buscar ao meu "baú"... Espero, ao menos, que a sua leitura tenha algum proveito para os nossos leitores.  Para mim, é também é uma forma de lidar com o meu sofrimento psíquico e o sofrimento psíquico das pessoas que me estão próximas. Não sei até quando vou ficar por cá, pelo Porto.  No mínimo, até à Páscoa. Vamos falando. H0je, através da "crueldade" dos nossos provérbios a que chamamos populares (****)... LG


1. Provérbios: Arqueologia da Língua e do Saber

Os provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa deveriam decididamente merecer um outro estudo como objetos de investigação científica (sociolinguística, semiológica, histórica, antropológica, sociológica, etc.), para além da sua simples recolha sistemática (por ex., Machado, 1996) ou do seu embrionário tratamento em termos de categorização temática (por ex., Gomes, 1974; Joaquim, 1983; Costa, 1999).

Pondo de lado questões como a sua origem, a sua historicidade, a sua função ideológica, o seu modo de produção e reprodução, etc., vamos limitarmo-nos aqui a analisá-los enquanto representações sociais tanto da saúde e da doença como dos praticantes da arte médica (Herzlich e Pierret, 1984; Graça, 1996).

Gomes (1974. 5) define o conceito de lugar comum como "estrutura frásica, decorada, fossilizada e envelhecida". 

Machado (1996), em O Grande Livros dos Provérbios, não perde tempo a fazer a distinção entre os muitos sinónimos que é habitual a associar-se ao termo provérbio (por ex., adágio, aforismo, anexim, apotegma, axioma, ditado, dito, dito sentencioso, dizer, exemplo, máxima, parémia, preceito, prolóquio, refrão, rifrão, sentença). Para nós, essa distinção também é algo bizantina, devendo ser remetida aos eruditos da língua portuguesa.

O Dicionário Houaiss da Língua Portugesa (Lisboa, 2003) define provérbio como:

(i) uma frase curta;

(ii) geralmente de origem popular;

(iii) frequentemente com ritmo e rima;

(iv) rica em imagens ou metáforas;

(v) sintetizando um ideia a respeito da realidade, uma regra social ou uma normal moral.

Um dos nossos pressupostos, seguindo Gomes (1974), é o de que muitos deles teriam uma matriz ideológica cristã-feudal, indissoluvelmente ligada à ruralidade e à oralidade, por um lado, mas também à cristandade, como um todo. Aliás, muitos deles são comuns às principais línguas europeias, em particular às de origem latina.

Uma das suas particularidades ou originalidades é a forma de expressão

(i) em poucas palavras, resume-se uma ideia-força, por vezes em termos antinómicos ("Deus dá o mal e a mezinha"); além disso,

(ii) são fáceis de decorar ("Espírito são em corpo são"); 

(ii) têm, por vezes, um claro objetivo de crítica social ("Os erros do médico, a terra os come"); 

(iv)  
ou um simplesmente um um propósito didático ("O mal do olho coça-se com o cotovelo");

(v) moralizante ("À custa do doente come toda a gente");

(vi) ou filosófico ("Queres conhecer o teu corpo ? Mata o teu porco").

Enquanto parte de uma arqueologia da língua e do saber e, portanto da nossa própria cultura (Braga, 1986), os provérbios parecem-nos constituir um material no mínimo interessante para o estudo não só da 

(i) história das mentalidades,  como até da 

(ii) emergência dos modernos sistemas, políticas, profissões e práticas de saúde (Mira, 1947; Barbosa, 1984; Goff e Sournia, 1985; Ferreira, 1990; Lemos, 1991; Barbaut, 1991; Cosmascini, 1995; Geremeck, 1995; Sournia, 1995; Graça, 1994, 1996, 1997 e 1999).

Além do mais, há um grande défice da contribuição antropossociológica para a formação pré e pós-graduada dos nossos profissionais de saúde, não só dos nossos médicos e enfermeiros e outros prestadores como dos gestores de serviços de saúde.

Por exemplo, de há muito que é reconhecida a necessidade de se desenvolver a "sensibilidade sociocultural" dos médicos de medicina geral e familiar (Barbosa, 1984). Por outro lado, só muito lenta e tardiamente as nossas faculdades de medicina e as nossas escolas de enfermagem (e de tecnologias da saúde) se têm aberto para o contributo das ciências sociais, em particular da  história, da sociolinguística, da psicologia social, da sociologia e da antropologia.

Daí que o presente texto possa ser visto, também, como uma proposta (modesta) para repensarmos a história da saúde, da doença e da medicina em Portugal , ainda largamente dominada até ao final do séc. XX  dominada pelo iatrocentrismo e pelo etnocentrismo (Mira, 1947; Ferreira, 1990; Lemos, 1991).

É hoje relativamente pacífica a ideia de que:

(i) não há só uma medicina;

 (ii) nem um só modelo etiológico ou explicativo de saúde/doença. 

J. Ch. Sournia, conhecido médico francês e historiador da medicina, relativiza a pretensa universalidade da medicina (ocidental), pondo o acento tónico naquilo que é, por essência, o ato médico, desde a Grécia Antiga até às nossas atuais sociedades da informação:

"O ato médico coloca uma pessoa que se considera doente na presença de outra à qual atribui poder e conhecimentos. Nenhuma destas circunstâncias pode escapar à história: o desejo de ser tratado é justificado por uma dor ou uma anomalia na aparência ou no funcionamento do corpo, cuja apreciação varia de acordo com as épocas, as culturas, as sociedades e as religiões", escreve J. Ch. Sournia, na sua História da Medicina (Sournia, 1995. 7).

Muitos destes provérbios e expressões idiomáticas da língua portuguesa devem ser tratados como verdadeiros "fósseis" da filosofia de senso comum. Todos eles fazem parte do nosso património cultural mas alguns deles ainda são verdadeiros "fósseis vivos".

No mínimo, veiculam representações sociais (Vala, 2002) da saúde, da doença, da dor, da morte e da medicina e dos seus praticantes, que ainda hoje sobrevivem sob a forma de estereótipos, preconceitos e teorias espontâneas, e que às vezes emergem, aqui e acolá, no discurso e na prática dos atores sociais.

Alguns, inclusive, são verdadeiras joias do pensamento sincrético (tal como alguns dos grafitos que, teimosamente, provocatoriamente, cobrem muros e paredes das nossas cidades). Pensamos que uma parte deste património cultural pode e deve ser recuperadas por aqueles de nós que lutam pelo triunfo de uma nova saúde pública.

Alguns destes provérbios podem inclusive ser usados no âmbito da educação e da promoção da saúde, nomeadamente aqueles que estão relacionados com fatores de risco e fatores protetores da saúde (físicos, químicos, biológicos e psicossocais).

Vou exemplificar alguns destes pontos de vista, através da análise, meramente exploratória, de um primeiro corpus de provérbios portugueses que está longe de ser exaustivo e sistemático: no essencial, baseia-se nas recolhas feitas por Gomes (19974) e Machado (1996); há outras fontes avulsas (incluindo inúmeros sítios na Internet) que, por economia de espaço e de tempo, não vou aqui referir.

Machado (1996) reuniu mais de 26 mil entradas, organizadas por ordem alfabética. Nalguns casos, é referida a mais antiga documentação da sua origem que o autor conseguiu obter, anterior ao Séc. XIX. Por outro lado, Costa (1999) compilou e classificou em termos temáticos mais de 40 mil provérbios, num paciente trabalho digno de monge, ao longo de toda uma vida.

Diga-se, por fim, que é discutível o estatuto de provérbio, português e de origem popular, que é atribuído a um ou outro dos objetos seleccionados. Alguns são de origem bíblica, latina e erudita. Não vamos, porém, perder tempo com essa discussão.

Outros confundem-se com o calão usado pelas classes populares. Por muito que isso possa ferir algumas sensibilidades, entendemos que não tínhamos o direito, enquanto estudiosos destes materiais significantes, de os amputar, censurar, branquear ou suavizar... O que importa é a sua apropriação pelos falantes da língua portuguesa, o seu uso mais ou menos socialmente alargado e historicamente documentado.


2. A Representação da Doença e do Doente

Na ideologia cristã-feudal, a doença é representada socialmente da seguinte forma esquemática (Quadro I):

(i) está quase sempre associada à morte ("Mal viver, mal acabar"; "Tosse seca, trombeta da morte"; "Doença comprida em morte acaba"; "Não há morte sem achaque");

(ii) e, muitas vezes, à morte em massa de que a peste negra de 1348-1351 e o infernal ciclo de epidemias que se lhe seguiu durante mais de quatro séculos é o termo de comparação ("Não matou mais a Peste Grande de Lisboa", ou seja, a de 1569) (Quadro III);

(iii) é vista como algo de inelutável, que transcende a vontade humana e contra a qual o homem é totalmente impotente ("Boda e mortalha no céu se talha"; "Deus faz o que quer e o homem o que pode") (Quadro II);

(iv) e quase sempre um castigo ou uma provação de um Deus que é estranha e misteriosamente um pai maniqueísta, justiceiro e misericordioso ("A quem Deus não açoita é sinal de que o não perfilha"; "De Deus vem o mal e o bem"; " Deus o dá Deus o leva"; "Deus castiga sem pau nem pedra"; "É tão bom Deus como o Diabo");

(v) e que só Deus, e não os médicos, pode curar ("De hora a hora Deus melhora"; "Deus dá o mal e a mezinha"; "Deus fere porém Suas mãos curam").

Até à criação do Estado Moderno (grosso modo, até ao fim do Ancién Régime ou Antigo Regime, no nosso caso até à revolução
o de 1820) não faz qualquer sentido falar-se em sistemas e políticas de saúde ou de protecção social ou até de assistência pública.

Estes conceitos irão surgir, lentamente, como resposta aos efeitos perversos da revolução industrial e urbana, operada pelo desenvolvimento do capitalismo liberal, bem como às profundas transformações demográficas, sociais, económicas, científicas, culturais e políticas que marcam o Século XIX . Nomeadamente o conceito de assistência pública é um conceito burguês que irá emergir da Revolução Francesa (Graça, 1996).


Quadro I — Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre a doença e o doente

Objeto

Provérbio

Doença /  Enfermi- dade

  • "A bouba (1) dói é no cu de quem tem"

  • "A doença e a dor conhecem-se na cor"

  • "A doença vem a cavalo e vai a pé"

  • "A doença vem às braçadas e sai às polegadas"

  • "As sezões vêm a cavalo e voltam a pé"

  • "Doença comprida em morte acaba"

  • "Febre hermititeus não cura senão Deus" (2)

  • "Febre outonal ou longa ou mortal"

  • "Fora de horas urinar é sinal de enfermar"

  • "Melhor é curar gafeira (3) que casa inteira"

  • "O mal vem às braçadas e sai às polegadas"

  • "Sarampo, sarampelho, sete vezes vem ao pêlo"

Doente

 

 

 

 

  • "À custa do doente come toda a gente"

  • "Doente mudou de cabeceira, morte certa"

  • "Doente que espirra, não morre no dia"

  • "Em casa de doente o lugar não se aquente"

  • "Feliz o doente que se conhece"

  • "Não fujas que eu não tenho lepra"

  • "Não há doenças, só há doentes!"

  • "Não há nada pior para a saúde do que a gente estar doente"

  • "O são ao doente em regra mente"

  • "Terra ruim e mulher doente é que quebra a gente"

  • "Um doente come pouco e gasta muito"


(1) Termo que em meados do Séc. XVI passou a designar as doenças do foro dermatológico, com especial destaque para as doenças venéreas, como a sífilis; (2) Intermitente, segundo Machado (1996. 232); referência provável ao sezonismo ou sezões; (3) Lepra

Até à Renascença (grosso modo, até ao Séc.XVI)   não há sequer um clara noção do que seja a saúde, em termos individuais ou colectivos. De resto, "não há doenças, só há doentes" (Quadro I).

A única excepção são a lepra e as epidemias que devastam a Europa medieval e a que Herzlich e Pierret (1984) chamam l'Ancién Régime du Mal, o Antigo Regime do Mal...

Enquanto hoje a doença crónica é (ou pode ser) vista como uma forma de vida, a epidemia será então uma forma de morte. A doença era marcada por três características 
(Herzlich e Pierret, 1984. 23):

(i) o número;

(ii) a impotência e a morte;

(iii) a exclusão social.

De facto, com a epidemia, não há doentes individualizados: não se morre só, em casa ou no hospital, morre-se em massa, por toda a parte, das formas mais cruéis e macabras (por ex., emparedado vivo com toda a família).

A morte é algo de inelutável, indizível e fatal, sendo a exclusão a única saída. A resposta colectiva, através da "socialização do mal", será a do internamento forçado e da brutal segregação dos doentes (Foucault, 1972; Geremek, 1995).


Quadro II— Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre Deus enquanto ‘fatum’

Objeto

Provérbio

Deus / 

Fatum

 

 

  • "A quem Deus não açoita é sinal de que o não perfilha"

  • "Ao menino e ao borracho põe-lhes Deus a mão por baixo"

  • "Boda e mortalha no céu se talha"

  • "Cada qual é como Deus o fez"

  • "De Deus lhe venha o remédio"

  • "De Deus vem o mal e o bem"

  • "De hora a hora Deus melhora"

  • "De tudo Deus se serve"

  • "Deixai fazer a Deus que é santo velho" (Séc. XVI)

  • "Deus castiga sem pau nem pedra"

  • "Deus dá o mal e a mezinha"

  • "Deus escreve direito por linhas tortas"

  • "Deus faz o que quer e o homem o que pode"

  • "Deus fere, porém Suas mãos curam"

  • "Deus mora na igreja, não sai de casa e ainda por cima se tranca dentro do sacrário"

  • "Deus o dá Deus o leva" ou "Deus o dei Deus o levou"

  • "Diz o são ao doente: 'Deus te dê saúde' "

  • "Em tempo de inverno, ninguém se fie em Deus"

  • "Enquanto há saúde quedos estão os santos"

  • "Febre hermititeus (1) não cura senão Deus"

  • "Muita saúde, pouca vida, porque Deus não dá tudo"

  • "O diabo não é tão feio como o pintam"

  • "O futuro a Deus pertence"

  • "Quando Deus não quer, os santos não podem"

  • "Quando Deus não quer, santos não rogam" (Séc. XVI)

  • "Quando Deus o assinalou,  alguma coisa má lhe achou"

  • "Quando Deus se atrasa, vem um anjo no caminho"

  • "Saúde e geração não se apura"

  • "Tão bom é Deus como o Diabo"


(1) Intermitente, segundo Machado (1996. 23); referência provável ao sezonismo.

No caso da lepra, os doentes eram apartados da comunidade e da família, despojados dos seus bens, submetidos a um macabro simulacro de funeral em vida, além de serem obrigados a viver da caridade, a usar um vestuário distintivo e a fazer-se anunciar através do toque de matracas, junto às povoações e nas vias públicas.

A lepra era, na Alta Idade Média, a Doença, por antonomásia. Conhecida desde a antiguidade, é amplamente citada na Bíblia como a doença do pecado da carne, logo um terrível castigo divino, susceptível de se propagar às gerações seguintes.

Com as Cruzadas (Séc. XI), aumentou consideravelmente o número de leprosos e, em consequência, multiplicaram-se as leprosarias (ou gafarias, em Portugal) ao ponto de terem existido em França mais de duas mil, por volta de meados do Século XIII (Imbert, 1958).

A partir de finais do Século XIV, esta terrível doença que marcou o imaginário do homem medieval ("Não fujas que eu não tenho lepra" é uma expressão que ainda hoje se usa em Portugal), tenderá a regredir no Ocidente. O regresso dos cruzados terá igualmente contribuído para a introdução de muitas doenças transmissíveis, até então desconhecidas na Europa, e que se transformaram em temíveis epidemias e doenças endémicas (peste, tifo, varíola, etc.).

A mais mortífera de todas foi, contudo, a peste negra (do latim pestis, derivado de peius, "a pior doença") , designada sob a forma de múltiplas expressões como febris pestilentilis, infirmitas pestifera, morbus pestiferus, morbus pestilentialis, mortatitas pestis ou muito simplesmente pestilentia. Estima-se que, em meados do Séc. XIV, terá vitimado cerca de 25 a 30 milhões de pessoas (entre um terço a um quarto da população do Ocidente), a maior catástrofe demográfica de que os europeus têm memória.

Quanto à sífilis (também conhecida como morbo serpentino, mal das boubas, morbo gálico, etc.), é já, claramente, um pandemia pós-feudal, resultante do florescimento das cidades, da economia mercantil, da mobilidade espacial e sobretudo das viagens marítimas intercontinentais: trazida, ao que parece,  do Novo Mundo pelos marinheiros de Cristovão Colombo, era conhecida como o mal francês (morbo gálico) na Itália, como o mal italiano em França, como o mal português na Índia, como o mal espanhol nas Américas, como o mal cristão entre os otomanos, e assim sucessivamente (Mira, 1947. 103-104).

Embora não haja dados que permitam calcular as taxas de natalidade e mortalidade da população portuguesa nos Séculos XIV e XV, aceita-se como pacífico que fossem muito elevadas. Segundo os historiadores, a média de vida ou a esperança de vida após a puberdade situar-se-ia entre os 35 e os 40 anos. O que aliás está implícito nalguns dos provérbios seleccionados (Quadro III e Quadro IV):
  • "A morte não escolhe idades";
  • "Até aos 40 bem eu passo, dos 40 em diante 'ai a minha perna, ai o meu braço' ";
  • "De quarenta arriba não molhes a barriga";
  • "Esta vida não chega a netos nem a filhos com barba";
  • "Na era de 31, poucos moços, velhos nenhum".
A começar pela capital do Reino, sempre foi alta a taxa de morbilidade e de mortalidade da população portuguesa. Mesmo no auge dos Descobrimentos, a deslumbrante e magnífica Lisboa, celebrada por viajantes estrangeiros que aportavam ao estuário do Tejo, não passava de uma montureira em que a peste era endémica (do grego en+demos, no meio do povo):

A Lisboa que o médico, de origem hebraica, Amato Lusitano (1511-1568) evoca nas suas Centuriae curationum medicinalium, não é apenas a do conhecido 'postal ilustrado', publicado na obra de J. Braunius, Civitates orbis terrarum (1572);

Para além da sua ímpar topografia e da benignidade do seu clima, a par da grandiosidade do seu porto, muralhas, palácios, igrejas e conventos, Lisboa continua a ser uma cidade medieval no que respeita à sua malha urbana e sobretudo às suas condições sanitárias (Graça, 1996).

Como diz Ricardo Jorge (s/d. 170), "as ruas afogavam-se em estrumeiras; quem podia, só as transitava a cavalo. Canos, apenas mencionados no regimento de municipal de 1502, só ao findar do século XVI é que tinham traçado figurável - tudo parcelar e desconexo, contando-se tão somente dois canos reais". A par isso, "na praia vazavam-se todos os despejos e despojos; e a barbárie era tal que os próprios cadáveres dos escravos eram deitados ao monturo, entregues ao dente do cão, do rato e à podridão livre".

Ricardo Jorge referia-se nomeadamente ao execrável hábito de lançar os cadáveres dos escravos negros e mouros ao Estuário do Tejo (por ex., na praia de Santos ou a partir da escarpa de Santa Catarina). Esta prática, muito pouco misericordiosa, atentatória da saúde pública, terá levado D. Manuel I a mandar construir dois poços funerários (o dos Negros e o dos Mouros), onde os cadáveres eram lançados e, periodicamente, cobertos de cal viva!

E acrescenta o autor da biografia de Amato Lusitano:

"Daí a mortandade, a curteza de vida. Amato viu superiormente, e é o primeiro a dizê-lo, quanto Lisboa reduzia a vida dos seus habitantes, assinalando o seu regime de baixa longevidade; e, antecipando-se à observação mais moderna, afirma de ciência certa que a maior parte dos lisboetas sucumbem às primeiras idades - maiori ex parte juvenes e vita decedunt " (Jorge, s/d. 170-171).

A doença, a infelicidade e a morte também estão intimamente associadas à pobreza (Quadro IV):
  • "De gente pobre até o rasto é triste";
  • "Desgraça do pobre é ter nascido";
  • "Quando pobre come frango, um dos dois está doente".
Quadro III - Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre a morte e a peste

Objeto

Provérbio

Morte/ Vida

  • "A morte não escolhe idades"

  • "A tris matou quem quis" (1)

  • "A vida é um sono de que a morte nos desperta"

  • "A vida tem uma porta só, a morte tem cem"

  • "Ano de muito peixe ano de mortes"

  • "Antes a morte que tal sorte"

  • "Esta vida são dois dias e o Carnaval são três"

  • "De má vida se engendra a morte"

  • "Esta vida não chega a netos nem a filhos com barba"

  • "Mais vale andar neste mundo em muletas do que no outro em carretas"

  • "Mais vale morte que má sorte"

  • "Mal desconhecido com seu dono morre"

  • "Mal viver, mal acabar"

  • "Morreu, acabou-se"

  • "Na hora da morte não vale a pena tomar remédio"

  • "Nada mais certo do que a morte; nada mais incerto do que a hora da morte"

  • "Não há cousa tão junta a outra como a morte à vida" (Séc. XVI)

  • "Não há morte sem achaque"

  • "Nem rei nem papa à morte escapa"

  • "O que no leite se mama,  na mortalha se derrama"

  • "O sono é a imagem da morte"

  • "O temor da morte é a sentinela da vida"

  • "Onde entra a morte entra a má sorte"

  • "Para a morte o remédio é abrir-lhe a boca"

  • "Para tudo há remédio senão para a morte" (Séc. XVI)

  • "Quem de novo não morre de velho não escapa"

  • "Quem mal vive mal acaba"

  • "Quem nasceu para a forca não morre afogado"

  • "Quem se mata morto fica e, se não morre, entesica"

  • "Só uma porta a vida tem, enquanto a morte tem cem"

  • "Tal vida tal morte"

  • "Temer a morte é morrer duas vezes"

  • "Tosse seca – trombeta da morte"

Epidemia/ Peste

  • "Fuge cito vade longe rede tarde" (4)

  • "Da fome, da peste e da guerra e do bispo da nossa terra - libera nos, Domine"

  • "Dia de São Silvestre (5), não comas bacalhau que é peste"

  • "Em tempo de guerra e peste é mentira como terra"

  • "Livre-te de fruta mal sazonada que é peste disfarçada"

  • "Mal de muitos é peste"

  • "Não matou mais a Peste Grande de Lisboa" (2)

  • "Se durante a epidemia temeres a morte, serás presa dela" (3)



(1) Icterícia, segundo Machado (1996: 55); (2) A de 1569; (3) Adágio oriental (Mira, 1947: 405); (4) Provérbio latino usado na Idade Média ("Foge depressa, vai para longe e não voltes não cedo"); (5) 31 de Dezembro

De qualquer modo, o facto de não haver uma consciência colectiva da saúde/doença terá a ver, antes de mais, com o nível de conhecimento sobre a etiologia (ou a causalidade) das doença humanas:

  • Até à revolução bacteriológica de meados do Séc. XIX (protagonizda por Pasteur, Koch e outros), as doenças infecciosas eram atribuídas a misteriosos miasmas; daí (i) o sentido do provérbio português "Livra-te dos ares, que eu livrar-te-ei dos males" e (ii) a vulgarização de práticas mais ou menos ritualizadas como as fogueiras nas ruas em caso de epidemia, as fumigações de pessoas, animais, objectos e casas, a travessia das ruas por manadas de gado bovino, etc.;
  • Quanto às doenças não transmissíveis, essas, continuavam a ser, ainda até há relativamente pouco tempo, um outro "mistério";
  • De facto, só a partir dos anos 60 foi possível tentar "uma interpretação global das relações existentes entre as condições de vida, a saúde e o crescimento da população" (McKeown, 1990. 13).

Quadro IV —Provérbios e outros lugares comuns da língua portuguesa sobre a pobreza e a velhice

Objeto

Provérbio

Pobre / Pobreza

  • "De gente pobre até o rasto é triste"

  • "Desgraça de pobre é ter nascido"

  • "Entre ricos e pobres alguém há-de escapar"

  • "Frango na panela do pobre é desgraça certa, doença do pobre, 'bouba' do franguinho ou raiva do vizinho"

  • "Os pobres têm tempo"

  • "Por pouca saúde, vale mais nenhuma"

  • "Pobre com pouco se alegra"

  • "Quando pobre come frango, um dos dois está doente"

Idade / Tempo / Velhice

  • "A morte não escolhe idades"

  • "A saúde nos velhos é mui remendada"

  • "Até aos 40 bem eu passo, dos 40 em diante 'ai a minha perna, ai o meu braço' "

  • "A velhice não tem cura"

  • "Cabelos brancos, flores de cemitério"

  • "De quarenta arriba não molhes a barriga"

  • "Em uma hora se paga quanto se erra em toda a vida (Séc. XVI)

  • "Engorda o menino para crescer e o velho para morrer"

  • "Esta vida são dois dias"

  • "Hoje com saúde, amanhã no ataúde"

  • "Hoje na figura, amanhã na sepultura"

  • "Hora de morrer não tem retardo"

  • "Mal vai à corte em que o  boi velho tosse"

  • "Na era de 31, poucos moços,  velhos nenhum"

  • "Não há moço doente nem velho são"

  • "O menino engorda para crescer e o velho para morrer"

  • "O tempo dá o remédio onde me falta o conselho"

  • "O tempo tudo cura "

  • "O tempo tudo cura menos velhice e loucura"

  • "Perde-se o velho por não poder e o novo por não saber"

  • "Por um dia de prazer um ano de sofrer"

  • "Porco de um ano, cabrito de um mês, mulher dos dezoito aos vinte e três"

  • "Prisca idade, priscos tempos" (1)

  • "Quem a trinta não tem siso a quarenta não é rico"

  • "Quem faz em novo paga em velho"

  • "Teme a velhice porque nunca vem só"

  • "Um dia pior, outro melhor"

  • "Velho não se senta sem 'ui', nem se levanta sem 'ai' "

  • "Velho que de si cura cem anos dura"


(1) Prisco=antigo (em linguagem poética)


Em suma, foi preciso esperar pelo século XIX para que se fizesse luz sobre a natureza das doenças transmissíveis. Em escassas dezenas de anos, os progressos da bacteriologia e virologia tornam-se espectaculares (Quadro V).

Em contrapartida, só na segunda metade do século XX é que foi posta em evidência a etiologia multifactorial de doenças crónicas como o cancro, a diabetes ou a cardiopatia isquémica, e o peso que nesse tipo de doenças tinham (e têm) os factores ambientais e comportamentais, e não apenas os biológicos ou genéticos.

No complexo puzzle das teorias explicativas da saúde/doença, há hoje quatro evidências empíricas que McKeown (1990:14) considera como fundamentais:
  • O reconhecimento de que o genoma humano é sensivelmente o mesmo do primitivo Homo Sapiens Sapiens, ou seja, dos nossos antepassados caçadores-recolectores de há cem mil anos;
  • A descoberta de que, nos países desenvolvidos, o salto qualitativo em termos de melhoria do estado de saúde e de crescimento populacional começou um século antes da medicina ter meios eficazes de intervenção no combate às doenças, sendo esse salto atribuído, em grande medida, à melhoria da envolvente socioeconómica (alimentação, habitação, saneamento básico, higiene ambiental e pessoal, nível de instrução e de informação, serviços de saúde pública, etc.);
  • A descoberta, pelas ciências biomédicas, da natureza das doenças infecciosas e da possibilidade da sua prevenção pela dupla via do aumento da resistência do organismo humano e da redução da exposição aos agentes transmissores;
  • E, finalmente, o reconhecimento (este muito mais recente, de há quarenta anos para cá, desde os anos 60 do séc. XX ) de que a maior parte das doenças não transmissíveis não podem ser apenas imputáveis àbiologia humana e à constituição genética, mas também ao sistema socioecológico em que vive o homem moderno; nessa medida, podem ser objecto de prevenção, através da eliminação, redução ou controlo dos factores de risco quer ambientais quer comportamentais.

Quadro V - Alguns dos principais genes patogénicos identificados na época de ouro da bacteriologia

Ano

Germes patogénicos

Autor

País

1875

Lepra

Hansen

Noruega

 

Amebíase

Loesch

Alemanha

1878

Furúnculo

Pasteur

França

1879

Febre puerperal

Roux

França

 

Blenorragia

Neisser

Alemanha

1880

Malária/ Paludismo

Laveran

França

 

Febre tifóide

Eberth

Alemanha

1882

Tuberculose

Koch

Alemanha

1883

Cólera

Koch

Alemanha

1884

Tétano

Nicolaïer

Rússia

1887

Febre de malta

Bruce

Grã-Bretanha

1889

Cancro mole

Ducrey

Itália

1894

Peste

Yersin

França

1901

Doença do sono

Dutton

Grã-Bretanha

1905

Sífilis

Schaudinn

Alemanha

1906

Coqueluche

Bordet

França

1909

Tifo

Nicolle

França



Fonte: Adapt. de Sournia (1995: 260)

Referências bibliográficas (a publicar no final da série)

(Continua)
____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 6 de janeiro de 2019 > Guiné 61/74 - P19370: Manuscrito(s) (Luís Graça) (149): O último pôr do sol... nas Azenhas do Mar

(**)  Adpat. de um texto do autor, de 2000, publicado na sua página pessoal, Saúde e Trabalho - Luís Graça; u
ma outra versão, mais abreviada, foi publicada no Médico de Família, III Série, 6 (Junho 2000)

(***) Vd. postes de:

2 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20800: O que podemos aprender com as epidemias e pandemias do passado ? (Luís Graça) - Parte I: A lepra, a doença por antonomásia na Idade Média

4 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20810: O que podemos aprender com as epidemias e pandemias do passado? (Luís Graça) - Parte II: Peste: "Mercator ergo pestiferus"

7 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20827: O que podemos aprender com as epidemias e pandemias do passado? (Luís Graça) - Parte III: Entrevista dada ao jornalista José Pedro Frazão, programa "Da Capa à Contracapa", emitido aos sábados, às 9h30, na Rádio Renascença
14 de abril de 2020 Guiné 61/74 - P20855: O que podemos aprender com as epidemias e pandemias do passado? (Luís Graça) - Parte IV: Saúde e terror até ao fim do Antigo Regim

(****) Último poste da série > 12 de dezembro de  2022> Guiné 61/74 - P23870: Manuscrito(s) (Luís Graça) (215): Verão de 68