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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26191: Notas de leitura (1749): A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 14 de Agosto de 2023:

Queridos amigos,
As Histórias dos "Boinas Negras" terão criado nas outras unidades do BCAV 2867 uma grande vontade de intervir, e de novo Jorge Martins Barbosa foi nomeado comandante-chefe de operação, arregimentou um bom punhado de autores, voltou a fazer uma súmula da história da Guiné e da presença portuguesa, não esqueceu a viagem no paquete Uíge, retomou a informação sobre a quadrícula do setor 1, no Quínara, entramos na matéria com os "Falcões" da CCS, esclarece-se a questão Buscardini e estamos já em 6 de maio de 1968, está a nascer o quartel de Nova Sintra, os "Cavaleiros" não têm mãos a medir, e minas antipessoal irão constituir um dos infernos das colunas. O leitor que se prepare, temos muito caminho para percorrer.

Um abraço do
Mário



A Guiné Que Conhecemos: as histórias sobre unidades do BCAV 2867 (1)

Mário Beja Santos

O livro Histórias dos “Boinas Negras”, referente à comissão da CCAV 2482 foi o rastilho de pólvora para que as restantes unidades do BCAV 2867 se pusessem em movimento. Conforme refere o coordenador, Jorge Martins Barbosa, antigos combatentes dos “Falcões” da CCS, dos “Cavaleiros de Nova Sintra” da CCAV 2483 e dos “Dragões de Jabadá”, da CCAV 2484 aderiram com os seus testemunhos, assim surgiu este extenso documento que é um misto de história e de literatura memorial. O coordenador começa por enunciar os diferentes colaboradores que se prestaram a depor com textos e imagens, e dá conta das fontes consultadas. Abre um excelente precedente, põe em paralelo um conjunto de relatórios de operações a que junta documentação do PAIGC constante nos Arquivos Casa Comum (biblioteca digital da Fundação Mário Soares).

Uma vez mais, o coordenador expende um relato histórico sobre os Descobrimentos, para se focar naquele ponto da África Ocidental onde se terá chegado ainda na primeira metade do séc. XV, descreve etnias, vicissitudes da presença portuguesa, mostra-nos o chão de cada uma das principais etnias e recorda que no início do séc. XX havia no norte da Guiné portuguesa uma importante comunidade de cabo-verdianos, na sua maioria descendentes dos que, em meados dos séc. XIX, se tinha fixado na zona de Farim, e que subsistiram com a produção de cana do açúcar e aguardente (tinham fugido da grande seca do arquipélago). Mais tarde, nos anos 1940, uma nova e intensa seca em Cabo Verde obrigou a mais uma emigração para a Guiné. Isto para notar, já em termos ideológicos, que o PAIGC contava com estas levas de cabo-verdianos para desencadear a guerra de libertação.

Retoma o posicionamento do BCAV 2867 na região do Quínara, era o setor 1, atuante nas zonas de Tite, Jabadá, Nova Sintra e Fulacunda. Havia outros povoados do Quínara, como Buba ou Empada que estavam fora do setor. O comando ficou sediado em Tite, bem como a CCS (“Falcões”). A distribuição das companhias operacionais: a CCAV 2482 (“Boinas Negras”) ficou em Tite; a CCAV 2483 (“Cavaleiros de Nova Sintra”) ficou sediada em Nova Sintra; e a CCAV 2484 (“Dragões de Jabadá”) em Jabadá. Observa o coordenador que durante o ano de 1969 o BCAV 2867 pôde contar com a colaboração da CCAÇ 2314, “Os Brutos”. Em agosto de 1968, foram colocados em Fulacunda, onde estiveram até serem substituídos pela nossa CCAV 2482. Duas outras unidades colaboraram em Tite, a CCAV 2443 e a CCAV 2765, houve operações conjuntas que o autor mostra claramente nos gráficos sobre as unidades militares de cavalaria que combateram nesta região.

Começando pelos “Falcões”, chamo a atenção para o seu diversificado papel que abarca a manutenção e conservação das partes comuns, a receção e a conferência de armamento, transportes, aprovisionamentos, secretariado, transmissões, manutenção auto, médicos e enfermeiros e capelania. Seguem-se depoimentos. O furriel miliciano Pinto Guimarães dá o seu testemunho, não esqueceu fases de sofrimentos como as minas antipessoal e minas anticarro, lembrou que fazia parte do contingente o furriel António Buscardini que, anos depois, e já na metrópole, julgou ser o chefe da polícia política do PAIGC e que fora assassinado no golpe de Estado de 14 de novembro de 1980 (ver-se-á que não foi este, mas sim um irmão). O furriel Sousa Cortez dá nota de que a CCS tinha a seu cargo o cais do Enxudé, recorda que houve uma flagelação a este aquartelamento. “A estrada Tite-Enxudé todos os dias era picada e instalados grupos de três homens. Ao longo do percurso, no entanto, por ordem do comandante do batalhão, essa rotina foi substituída por uma patrulha de autometralhadora e um jipe com militares. Um dia, num intervalo entre passagens, o IN colocou uma mina, provocando a explosão da auto e a morte de dois militares.”

Norberto Tavares de Carvalho, autor de um livro intitulado De Campo em Campo – Conversas com o comandante Bobo Keita, 2.ª edição do autor, novembro de 2020, testemunhou sobre António Alcântara Buscardini, nascido em Bolama em 1947. Foi chefe de posto em Bolama, antes de abraçar os ideários do PAIGC, prosseguiu os seus estudos na ex-Checoslováquia. Na noite do assassinato de Amílcar Cabral, teria sido violentamente espancado em Conacri. Depois da independência, dedicou-se à informação, e com sucesso. Foi mais tarde nomeado Secretário de Estado da Segurança e Ordem Pública. Assassinado em 14 de novembro de 1980. E Norberto Tavares de Carvalho observa: “A história dos fuzilamentos está muito mal contada. A começar pelas estatísticas alinhavadas e isentas de sustentos documentais… Quem pode acreditar que Nino, chefe absoluto das Forças Armadas, não tivesse conhecimento dos fuzilamentos? Justificar um golpe de Estado com tais argumentos e deixando à solta nas ruas, por exemplo, os comandantes militares como Irénio Nascimento Lopes, Iafai Camará e Quemo Mané, é faltar ao respeito dos guineenses, um autêntico escárnio à justiça e um opróbrio ao próprio partido de Cabral.” E esclarece qual dos Buscardinis era do PAIGC: “A foto do então furriel Buscardini que me foi enviada é do irmão mais novo de António Alcântara e chama-se José Manuel Buscardini, engenheiro agrónomo, depois da independência foi para a Guiné e trabalhou no Ministério da Agricultura.”

Entram agora em cena os “Cavaleiros de Nova Sintra”. Este quartel não existia antes de 6 de maio de 1968. “Nova Sintra era apenas, até então, uma zona de cerrada vegetação, sob o controlo do quartel de Tite. Estava a ocorrer uma restruturação das regiões operacionais, dentro de dias entram em funções Spínola, decidiu-se que Empada iria deixar de pertencer ao setor 1 para integrar o recém-criado COP 4, ficando Nova Sintra a constituir o aquartelamento mais estratégico a sul do setor 1.”

Nesse dia 6 de maio, um conjunto de forças militares, vindas de Tite e do destacamento de S. João, transportadas em dezenas de veículos com armamento e matéria de construção, começara a implantação do quartel, um esgotante trabalho de desmatação, de abertura de valas, de construção de abrigos, de latrinas e de uma pista de aterragem com 500 metros. O IN reagiu uma semana depois, causou a morte de um militar da cozinha do BART 1914. Nova Sintra situava-se no entroncamento de estradas provenientes de Tite, de Fulacunda e S. João, passou a ser uma zona bastante castigada pelo IN que, instalado junto ao tarrafo e nas matas de Brandão, Buduco e Bissássema, minavam todos os percursos e derrubavam frequentemente todos os pontões, visando dificultar o trânsito naquelas vias. Foi na estrada S. João-Fulacunda que explodiu em 2 de julho de 1963 a primeira mina anticarro da guerra da Guiné. E foi com minas que lamentavelmente, os “Cavaleiros de Nova Sintra” sofreram 5 mortos, todos no segundo semestre de 1969. O primeiro comandante da CCAV 2483 foi o capitão Joaquim Manuel Correia Bernardo, ferido gravemente por uma mina antipessoal em 11 de julho de 1969l. Iremos seguidamente ouvir o depoimento do furriel Soares da Silva que foi o vagomestre desta CCAV 2483.

Um detalhe da região do Quínara
Fonte de Tite, imagem do blogue Rumo a Fulacunda, com a devida vénia
Comandos portugueses em ação na Guiné, imagem retirada do jornal Correio da Manhã, com a devida vénia
Imagem de Nova Sintra, coleção do coronel Pais Trabulo, com a devida vénia
Aquartelamento de Nova Sintra, imagem retirada do blogue Lugar do Real, com a devida vénia

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 23 de novembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26184: Notas de leitura (1748): "A pesca à baleia na ilha de Santa Maria e Açores", do nosso camarada e amigo Arsénio Puim: "rendido e comovido" (Luís Graça) - Parte II

terça-feira, 2 de março de 2021

Guiné 61/74 - P21960: O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho (ex-fur mil op esp, CART 1746 e QG, Xime e Bissau, 1968/70): "Não matem a bajudinha!"


Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1971/74) > População sob controlo do PAIGC, no subsetor do Xime, capturada no decurso da Acção Garlopa, em 19 de julho de 1972, num total de 10 elementos.

Foto (e legenda): © Sousa de Castro (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem conplementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Voltamos a publicar este texto do  José Ferraz de Carvalho  (ex-Fur Mil, Op E Esp, CART 1746, e QG, Xime e Bissau, 1968/70); radicado em Austin, Texas, EUA, desde meados de 1970, tem duas dezenas de referências no nosso blogue: faz parte da Tabanca Grande desde 19 de novembro de 2011 (*); é autor da série "Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz";  tratando-se, de algum modo, de um "confissão" ou "confidência", este texto  (***) merece ser reproduzido agora na série "O segredo de..." (****)


O segredo de... (35): José Ferraz de Carvalho:
 "Não matem a bajudinha!"


Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que, durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN.

Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula].

− Mata a miúda...  − disse alguém.

− Não mata nada − disse eu  [, que estava a comandar o 2º  pelotão].

E ordenei ao meu pessoal para fazer uma liteira, trazendo a bajuda para o Xime de onde foi posteriormente helitransportada para o hospital em Bissau. Oxalá ainda seja viva.

Nem tudo na guerra é destruição. Talvez alguém dos meus tempos no Xime se lembre deste episódio.

Mas ainda a respeito desta bajudinha do Xime, alguém que não tenha estado nesta situação, é capaz de não perceber o que me levou a fazer o que fiz.... 

Por outro lado, se alguém que tenha estado lá comigo se lembrar [deste episódio], seguramente dirá que o tempo que levámos a preparar a liteira, deu tempo ao IN para começar a mandar morteiradas para dentro da tabanca e tiroteio de armas ligeiras como eu nunca tinha visto. De facto, poderia ter causado sérios problemas, mas graças a Deus tudo correu bem.

A minha intenção é apenas a de dizer publicamente que nós, no mato, e em situações de perigo, tínhamos coração e respeito pela vida humana, nem sempre tudo era ronco e destruição de tudo por onde pássavamos - a [alegada política da] "terra queimada".
 
PS - Curiosamente fui eu que fiz os prisioneiros... Íamos a sair da mata para uma abertura com capim talves de meio metro de altura e um trilho que cruzava essa abertura em sentido perpendicular ao nosso sentido de marcha (se bem me lembro eram dois e não um) quando nos demos conta que eles vinham na nossa direcção a conversar e, portanto, não se deram conta de nós ( ainda bem que tinha ensinado ao "pessoal balanta" os sinais aprendido em Lamego). 

Indiquei que se alapassem e eu deitei-me de costas para o chão ao lado desse trilho. Quando, eles se deram conta de mim, só talvez a um par de metros donde eu estava deitado, levanteio torso, apontei-lhes a G3 e disse: "A bo firma ai"...  Tremiam como se tivessem visto um fantasma e eu ri-me... Foram então levados para junto do comandante dessa operação,  interrogados e vocês ja sabem o resto da história. 

Também me lembro agora uma histária mais do Júlio [, o nosso "pilha-galinhas"] (*****) que, como responsável pelos dilagrams,  andava sempre ligado a mim. Quando o contra-ataque se desencandeou, ele e eu abrigámo-nos detrás de um baga baga enorme. Começámos a responder e o Júlio por um lado de baga baga e eu pelo outro tivemos que nos desabrigar. Disse-lhe para onde atirar os dilagramas e dou-me conta de que o Júlio de joelhos no chão a disparar dilagramas e cai pra frente, redondo. 

Atirei-me para junto dele com terrível ansiedade porque estava convencido que ele tinha sido ferido. Quando me dei conta que estava vivo a primeira coisa que me disse foi: "Furriel, os meus tomates?"... Houve mais tiroteio,  acabou o contacto, levanto-me, ajudo o Júlio a levantar-se e, quando de pé ele puxa as calças abaixo dos "tomates",  lá estava um buraco de bala, uns centimetros mais a cima e pobre pobre do Júlio!...  Disse-lhe em descarga nervosa: "Ah,  Júlio ainda bem..., senão nunca mais comíamos galinha" ...

José Ferraz

2. Comentário do editor LG:

Poderá ter-se tratado  da Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, na área de Poindon / Ponta do Inglês, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de "se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas quando da Op Lança Afiada [8-18 de Março de 1969]".

As NT eram constituídas por dois 2 destacamentos:

(i) Dest A: CART 1746 (Xime) (a 3 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70))(1 Gr Comb);

(ii) Dest B: CCAÇ 2405 (Galomaro) (a 2 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Tite e Fulacunda, 1968/70) (1 Gr Comb).

Oportunamente, poderemos publicar um excerto do relatório desta operação, em que foi capturado um elemento IN, desarmado [, o Zé Ferraz refere dois elementos]. Na exploração imediata de informações dadas pelo prisioneiro, o Dest A fez uma batida à zona, surpreendendo "9 homens sentados acompanhados de 2 mulheres" (sic). Aberto fogo, foram capturadas as duas mulheres, feridas [, O Zé Ferraz refere apenas um "bajudinha", ferida].  Os restantes elementos fugiram, com baixas prováveis.

Entretanto, "ao serem prestados os primeiros socorros às mulheres feridas, um grupo IN de efectivo não estimado flagelou as NT durante cerca de 6 minutos com LGFog, mort 60 e cerca de 6 armas automáticas", sem consequências para as NT.

(Fonte: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70. História da Unidade. Cap II, pp. 78/79).

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 19 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9065: Tabanca Grande (307): José Ferraz de Carvalho, português há mais de 40 anos nos EUA, ex-Fur Mil da CART 1746 (Xime, 1969)

(...) Em 1965 o pai  [oficial superior da Marinha]foi nomeado para ser o Senior Portuguese Officer no SACLANT [The Supreme Allied Commander Atlantic,], em Norfolk, Virgínia. Vim então estudar Engenharia nuclear para o Virginia Politecnical Institute, mas tive que ir primeiro para o Old Dominion College para fazer estudos de habilitação.

Sempre quis fazer tropa e estava aqui com uma licença militar porque era da incorporação de 65. Lisboa nunca me reconheceu os meus estudos aqui, pelo que em vez de ir para Mafra [, COM], fui para as Caldas [, CSM].

(...) Ofereci-me como voluntário para a 16ª Companhia de Comandos com a qual cheguei a Guiné em 68 [, 16 de agosto]. No fim da fase operacional [, IAO, que decorreu em Bula, Binar e Có, em setembro] não quis ser comando e fui então destacado para a Cart 1746, Xime, onde o Capitão [António] Vaz [ 1939-2015] me responsabilizou em formar um grupo de combate com o segundo pelotão cujo alferes tinha sido enviado para Lisboa doente" (...).

O J. Ferraz de Carvalho, uma vez terminada a comissão da CART 1746, em junho de 1969, foi colocado em Bissau, no QG, e deve ter regressado à Metrópole, com a 16ª Ccmds, em 24 de junho de 1970 (**)..
.



(*****) Vd. poste de 30 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9116: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (10): Júlio, o pilha-galinhas do Xime

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Guiné 63/74 - P12379: Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte III)



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 A > Lavadeiras


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 1 >  Lavadeira. Fonte antiga. Todos os soldados tinham a sua lavadeira. A lavagem da roupa era feita na tabanca com água retirada através do único furo (foto nº 6), feito por uma companhia de caçadores estacionada em Fulacunda em 68/69 [ou melhor, 69/70], e que penso chamar-se “Boinas Negras” [ CCAV 2482, "Boinas Negras", subunidade que esteve em Fulacunda entre 30 de Junho de 1969 e 14 de Dezembro de 1970, data em que foi rendida e partiu para Bissau].  Contudo, quando havia muita roupa para lavar, as lavadeiras deslocavam-se à fonte antiga (foto), que se localizava na parte exterior do aquartelamento e portanto sujeita a “surpresas” [, acções do IN].


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 2 >  Avó com filho de soldado branco. Em Fulacunda, verifiquei que havia 4 crianças filhas de soldados brancos,  pertencentes a companhias anteriores. Também verifiquei que apenas uma das mães continuava a viver em Fulacunda.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3  > Colheita da mancarra (ou milho painço?). 



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 3 A > Colheita da mancarra (ou milho painço?).

Aqui os homens também trabalham! Em Fulacunda praticamente não havia atividades. Cultivava-se apenas junto ao arame que rodeava a tabanca, alguma mancarra, milho painço, pescava-se muito pouco, apanhavam-se cestos de ostras que cozinhávamos como petisco ao final do dia e havia um milícia que às vezes caçava uma gazela e nos vendia a “preço de ouro”.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 4


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 4A > Horta do Tobias. Alguns soldados e gente da tabanca, sob a orientação do furriel Tobias,  dedicaram-se a esta horta, que como se vê era bem verdejante, mesmo na época seca. Graças a ela tínhamos, couves, alfaces, pimentos e outras hortaliças.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 5


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 5A  > Fazendo tijolos para uma morança. Durante a minha estada em Fulacunda, construíram-se apenas umas 3 moranças novas. As NT deram a sua ajuda preciosa.



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 6 > Fonte dentro da tabanca. Furo feito pela companhia caçadores “Boinas Negras”, 1968/69 (?) [CCAV 2482, "Boinas Negras",  30 de junho de 1969 / 14 de dezembro de 1970]. Comparar com foto, a preto e branco, de Augusto Inácio Ferreira (dos "Boinas Pretas", 1969/70).


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Foto nº 7 > Vista aérea da pista, da tabanca e do aquartelamento de Fulacunda... Tentativa de reconstituição do perímetro de arame farpado (a amarelo, tracejado), dos espaldões e abrigos (a vermelho, círculo) e da área cultivável em redor do arame farpado (a verde, linha)... No sentido su-sudeste / nor-noroeste. vê-se a pista e o heliporto... Pede-se ao Jorge Pinto que avalize-se ou mande corrigir, se for caso disso, esta reconstituição...(LG)

Fotos (e legendas): © Jorge Pinto (2014). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem da foto nº 7: L.G.]



1. Continuação da publicação das Memórias da minha comissão em Fulacunda (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, 1972/74) (Parte III)

[Foto atual do Jorge Pinto, à esquerda]


Subunidades que passaram por Fulacunda (1962/74):

CCAÇ 153 - Unidade mobilizadora: RI 13. Partida: 27/5/61.  Regresso: 24/7/63. Localização: Bissau, Fulacunda, Bissau. Comandante:  cap inf José dos Santos Carreto Curto.

CCAÇ 273  - Unidade mobilizadora: BII 18. Partida: 17/1/62.  Regresso: 17/1/64. Localização: Bissau, Fulacunda. Comandante:  cap inf Adérito Augusto Figueira.

CART 565 - Unidade mobilizadora: RAP 2. Partida: 12/10/63. Regresso: 27/10/65. Localização: Bissau, Fulacunda, Nhacra. Comandante:  cap art Luís Manuel Soares dos Reis Gonçalves.

CCAÇ 1487 - Unidade mobilizadora: RI 15. Partida: 20/10/65. Regresso: 1/8/67. Localização: Bissau, Fulacunda, Nhacra. Comandante:  cap inf Alberto Fernão de Magalhães Osório.

CCAÇ 1567 - Unidade mobilizadora: RI 2. Partida: 7/5/66.  Regresso: 17/1/68. Localização: Bissau, Fulacunda. Comandante:  cap mil inf João Renato de Moura Colmonero.

CCAÇ 1591 - Unidade mobilizadora: RI 15. Partida: 30/7/66.  Regresso: 9/5/68. Localização: Fulacunda, Catió, Fulacunda,  Bolama, Mejo, Porto Gole, Fulacunda. Comandante:  cap mil art  Fernando Augusto dos Santos Pereira; e cap mil inf Vitor Brandão Pereira da Gama. Batalhão: BART 1896 (Bissau, Buba, 1966/68).

CCAÇ 1624 - Unidade mobilizadora: RI 2. Partida: 12/11/66.  Regresso: 18/8/68. Localização: Bissau, Fulacunda. Comandante:  cap mil inf João Renato de Moura Colmonero.

CCAÇ 2314 - Unidade mobilizadora: RI 15. Partida: 10/1/68.  Regresso: 23/11/69. Localização: Tite, Fulacunda, Tite. Comandante:  cap inf Joaquim Jesus das Neves. Batalhão: BCAÇ 2834 (Bissua, Buba, Aldeia Formosa, Gadamael, 1968/69).

CCmds  15 - Unidade mobilizadora: CIOE. Partida: 1/5/68.   Regresso: 10/3/70. Localização: Bolama, Bissau, Cuntima, Jumbembém, Farim, Bissau, Buba, Bissau, Tite, Fulacunda,
Bissau. Comandante:  cap inf  cmd  Luciano António de Jesus Garcia Lopes.

CCAV 2482 - Unidade mobilizadora: RC 3. Partida: 23/2/69.  Regresso: 23/12/70. Localização: Tite, Fulacunda. Comandante:  cap cav > Henrique de Carvalho Morais. Batalhão: BCAV 2867 (Tite,1969/70)

CART 2772 - Unidade mobilizadora: GACA 2. Partida: 23/9/70.   Regresso: 17/9/72. Localização:  Fulacunda.  Comandante:   cap art João Carlos Rodrigues de Oliveira. Batalhão: BART 2924 (Tite, 1970/72).

CCmds  27 - Unidade mobilizadora: CIOE. Partida: 11/7/70.   Regresso: 30/5/72. Localização: Cacheu, Saliquinhedim, Fulacunda, Bolama, Bissau, Mansabá.  Comandante:  cap mil cmd José Eduardo Lima Rebola; cap mil cmd  Octávio Emanuel Barbosa Henriques; e alf mil cmd Manuel Carlos Génio Vidal.

3ª C/BART 6520/72 - Unidade mobilizadora: RAL 5. Partida: 24/9/73.  Regresso: 8/9/74. Localização: Cacine, Fulacunda. Comandante:  cap mil cav António Lourenço Dias. Batalhão: BART 6520/72 (Tite, 1972/74).

CCAV 8354/73  - Unidade mobilizadora: RC 3. Partida: 26/6/72.  Regresso: 21/8/74. Localização: Fulacunda. Comandante:  cap mil n inf José João Mousinho Serrote. Batalhão: BART 6520/72 (Tite, 1972/74).



Guiné > Região de Quínara > Fulacunda >  CCAV 2482, "Boinas Negras" (1969/70) > O chafariz feito pelos "Boinas Negras"

[ Créditos fotográficos: Augusto Inácio Ferreira, op cripto, CCav 2482 – Boinas Negras, Fulacunda, 69/71. Cortesia do sítio do Rumo a Fulacunda, do nosso camarada Henrique Cabral ].

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Guiné 63/74 - P10308: Tabanca Grande (357): Francisco Gomes, 1.º Cabo Escriturário Francisco Gomes da CCS/BCAÇ 2834 (Buba, Aldeia Formosa, Guileje, Cacine, Gadamael 1968/69)

1. Mensagem do nosso novo grã-tabanqueiro Francisco Gomes (*):

De: Francisco Gomes [fragom@outlook.com ]

Data: 29 de Agosto de 2012 17:14

Assunto: 1º. Cabo Esferográfica/G3, presente!

Olá, camaradas!

Por um acaso, dei com o vosso Blogue e já estou em correspondência activa com o camarada Traquina. Também estou, ao fim de tantos anos, a construir um Blogue com algumas recordações (as menos penosas) que passámos na Guiné desde Jan/68 a Nov/69, para deixar às minhas netas como uma recordação. Pertenci à CCS/BCaç 2834 e estive em Buba, Aldeia Formosa, Cacine, Guileje, Gadamael Porto, voltei a Buba de regresso a Bissau à espera do Uíge que já estava ao largo...

Perdi centenas de fotos que tinha desta comissão, inclusive slides... uma desgraça,  pois era fotógrafo da Companhia e no Natal de 68 fiz centenas de postais de Boas Festas com a imagem de cada um de nós (encostados a uma parede branca como cenário de estúdio) para enviarmos às famílias!

Gostaria de pertencer à Tabanca Grande, eu, um jubi que adorava mancarra, Stolichnaya, Martell's, Buchannan's ou White Horse, além da Coca Cola americana que arranjávamos...

Gostava de poder encontrar mais camaradas da CCS/BCaç 2834, de recolher histórias e fotos desse tempo para poder inseri-las no meu Blogue, por isso, se souberem de alguém... chutem por favor! O endereço é: http://inforgom.pt/guine6869/

Um abraço
F. Gomes

PS - Junto envio uma foto actual e uma desses tempos de (in)glória...  


Blogue criado recentemente pelo Francisco Gomes, disponível aqui.

2. Comentário do editor:

Camarada Francisco, foste célere em responder ao nosso convite para ingressares na Tabanca Grande (*). Ficas bem entre tantos camaradas (e amigos) da Guiné.  Como já te disse, aprecio o teu bom humor e valorizo o teu empenho em reencontrar e reunir o pessoal do teu batalhão (que, além da CCS, integrava as CCAÇ 2312, 2313 e 2314). Vamos juntar esforços. Parabéns pela criação do teu blogue, do qual cito os seguintes excertos com a tua autoapresentação para um melhor conhecimento da pessoa que foste e és, por parte dos restantes membros da nossa Tabanca Grande:

(...) "A minha história, como ex-combatente da guerra colonial, arrumei-a na zona cerebral destinada ao esquecimento. Primeiro, porque fui obrigado a ir para uma guerra que não me dizia nada, absolutamente nada; segundo, porque quando fui mobilizado, estava casado e já tinha uma filha com dois anos de idade; terceiro, porque nunca gostei de tropa, fardas, etc..

"Feita a recruta na Serra da Carregueira, em Abril de 1967, segui para o RAL 4, em Leiria para tirar a especialidade de escriturário, profissão que já exercia na vida civil desde 1960. Aí, tive como companheiros de caserna o fadista João Braga e o guitarrista José Pracana. (...) Naquele tempo, as cantorias do João Braga e do Zé Pracana na caserna, davam para ir passando os tempos livres depois das aulas… Nunca mais os vi ou tive qualquer tipo de contacto com eles, finda a especialidade.

(...) "Fui [depois] colocado em Lisboa na Administração Militar, no Lumiar  (...) e logo de seguida, colocado na Secretaria da Escola Militar de Electromecânica em Paço Arcos (parte Exército, parte Força Aérea), onde estive menos de dois meses e onde recebi a ordem de mobilização para o Ultramar. 

"A Unidade mobilizadora foi o R.I. 15 em Tomar para onde fui fazer o I.A.O. em Nov/Dez/67 e a 10 de Janeiro de 1968 embarquei no Uíge rumo à Guiné-Bissau tendo chegado cinco dias depois. A minha Companhia ficou 5 dias em Bissau para receber a logística, armamento e ordens de operacionalidade e seguimos por LDG até Buba onde, meia hora depois, ainda estávamos a arrumar a tralha e a instalar-nos, sofremos o primeiro ataque (banho de fogo aos piriquitos) com roquetes, canhão sem recuo e morteiro 120. A primeira reacção foi mergulho para as valas escavadas ao longo do perímetro e depois agarrar na G3 e distribuir-nos pela área do arame farpado e pelos 4 abrigos, um em cada canto do aquartelamento que era uma espécie de quadrado rodeado de arame farpado e projectores de 150W alimentados por um gerador.

(...) [O] brasão do BCaç 2834 (...) foi da autoria do então Tenente Esteves, Chefe da Secretaria da CCS do Batalhão, mas foi integralmente acabado e pintado por mim, primeiro em papel vegetal e depois em papel normal para enviar à empresa que fabricava esse tipo de galhardetes. Um trabalho de dias e dias seguidos" (...).

Camarada Francisco Gomes, sê bem vindo. Uma vez lidos e aceites por ti os "nossos 10 mandamentos"   (constantes da coluna do lado esquerdo do nosso blogue), passas a ser o grã-tabanqueiro nº 574 (**). 

Um Alfa Bravo para ti. 
Luís Graça, editor, em férias.

(**) Último poste da série > 23 de agosto de 2012 > Guiné 63/74 - P10293: Tabanca Grande (356): Adelino Barrusso Capinha, ex-1.º Cabo Operador Cripto da CCS/BART 1904 (Bissau e Bambadinca, 1967/68)

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9095: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (6): Não matem a bajudinha...

1. Texto de José Ferraz  (ex-Fur Mil, Op Esp, CART 1746, Xime e Bissau, 1968/70;  radicado nos EUA há desde 1970):



(i) Falando de acção psicossocial, de que sempre fui partidário, lembrei-me que durante uma operação de penetração ao sul do Xime, aprisionámos 2 elementos IN (*).

Depois de interrogados, guiaram-nos a uma tabanca IN. Fizemos um assalto e durante esse combate ferimos uma miúda, bajuda, com um tiro por detrás do joelho que lhe destroçou a patela [ ou rótula].
- Mata a miúda... - disse alguém.
- Não mata nada - disse eu [, que estava a comandar o pelotão].

E ordenei ao meu pessoal para fazer uma liteira, trazendo a bajuda para o Xime de onde foi posteriormente helitransportada para o hospital em Bissau. Oxalá ainda seja viva.


Nem tudo na guerra é destruição. Talvez alguém dos meus tempos no Xime se lembre deste episódio.

(ii) Mas ainda a respeito desta bajudinha do Xime, alguém que não tenha estado nesta situação, é capaz de não perceber o que me levou a fazer o que fiz.... Por outro lado,  se alguém que tenha estado  lá comigo se lembrar [deste episódio], seguramente dirá que o tempo que levámos a preparar a liteira, deu tempo ao IN para começar a mandar morteiradas para dentro da tabanca e tiroteio de armas ligeiras como eu nunca tinha visto. De facto, poderia ter causado sérios problemas, mas graças a Deus tudo correu bem.

A minha intenção é apenas a de dizer publicamente que nós, no mato, e em situações de perigo, tínhamos coração e respeito pela vida humana, nem sempre tudo era ronco e destruição de tudo por onde pássavamos - a [alegada política da] "terra queimada".

José Ferraz (**)

________________

Notas do editor:



(*) Muito provavelmente) trata-se da Op Baioneta Dourada, iniciada em 2 de Abril de 1969, às 0h00, com a duração prevista de dois dias, e com o objetivo de "se completarem as destruições dos meios de vida na área, executadas quando da Op Lança Afiada [8-18 de Março de 1969], na região de Poindon".

As NT eram constituídas por dois 2 destacamentos:

(i) Dest A: CART 1746 (Xime) (a 3 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Fulacunda ou Tite) (1 Gr Comb);

(ii) Dest B: CCAÇ 2405 (Galomaro) (a 2 Gr Comb) + CCAÇ 2314 (Fulacunda ouTite) (1 Gr Comb).

Podemos publicar, oportunamente, um excerto do o relatório desta operação, em que foi capturado um elemento IN,  desarmado. Na exploração imediata de informações dadas pelo prisioneiro, o Dest A fez uma batida à zona, surpreendendo "9 homens sentados acompanhados de 2 mulheres" (sic).  Aberto fogo, foram capturadas as duas mulheres, feridas. Os restantes elementos fugiram, com baixas prováveis.

Entretanto, "ao serem prestados os primeiros socorros às mulheres feridas, um grupo IN de efectivo não estimado flagelou as NT durante cerca de 6 minutos com LGFog, mort 60 e cerca de 6 armas automáticas", sem consequências para as NT.

(Fonte: BCAÇ 2852, Bambadinca, 1968/70. História da Unidade. Cap II, pp. 78/79).


(**) Último poste da série > 24 de Novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9090: Se bem me lembro... O baú de memórias do Zé Ferraz (5): O desenrascanço... na justiça militar!