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segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

Guiné 61/74 - P20598: Fotos à procura de... uma legenda (123): O caçador e empresário de cinema Manuel Joaquim dos Prazeres, o "nho Manel Djoquim" (1901-1977) andaria no mato... com uma pistola-metralhadora FBP m/948 ou m/961 ?


Foto nº 3 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar ... Uma carabina de caça, uma caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições. (Detalhe de foto inserida no livro "Manel Djoquim, o homem do cinema", de Lucinda Aranha (2018), pp. 80-81.



Foto nº 2 > Guiné > s/d > s/l > Uma das armas que o Manel Djoquim usava para caçar...crocodilhos e onças. De novo a carabina de caça,  caçadeira, adaptada, com carregador de 10 munições [Vd. foto nº 3].



Foto nº 1 > Guiné > s/l > s/d  > É provável que o Manel Djoquim, sobretudo depois do início da guerra, passasse a usar, também, para defesa pessoal, esta pistola metralhora que parece ser uma FBP m/948. Mas a Lucinda Aranha nunca lhe ouviu falar em armas de guerra. O pai, de resto, não fez o serviço militar. Mas percorreu toda a Guiné, de lés a lés, antes e durante a guerra, pelo menos até 1970/71...

Fotos (e legendas): © Lucinda Aranha (2014) . Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



I. Diversos comentários ao poste P20558 (*) e mensagens chegadas por email, relacionadas com o tema:

(i) Valdemar Queiroz:

1ª. fotografia (*): O Sr. Manuel Joaquim está com uma espingarda metralhadora e, se era utilizada como caçadeira, matava a caça de rajada. (...)

24 de janeiro de 2020 às 02:25

(ii) Tabanca Grande

Caros leitores, vamos lá descobrir que arma era esta... Está identificada e descrita no livro, na página 71...

A mecânica, os carros, a caça e, mais tarde, a fotografia são paixões que o acompanham na Guiné... Caça onças e crocodilos... cujas peles depois vendia...(Hoje, seguramente, teria outra consciência ecológica e conservacionista, como o nosso camarada Patrício Ribeiro, que vive na Guiné ha mais de 4 décadaas...).

24 de janeiro de 2020 às 07:09



(iii) G.Tavares:

A arma parece-me ser uma pistola metralhadora FBP.

24 de janeiro de 2020 às 09:31



(iv) Luís Graça

Ou será uma carabina de caça adaptada pelo Manuel Joaquim... Marca e calibre ? Estava na moda, na época. Estamos a falar do pós-guerra, anos 50, antes do início da guerra colonial.

24 de janeiro de 2020 às 12:03


(v) Valdemar Queiroz:

Rectifico: A arma é uma pistola-metralhadora FBP 9 mm, de coronha recolhida.

 24 de janeiro de 2020 às 12:56

(vi) Antº Rosinha:

Naqueles tempos uma das actividades com mais sucesso em África era ser mecânico de automóveis, (camiões, tractores, máquinas), ser mecânico, ou ter uma oficina com mecânicos, ou ser muito "habilidoso" com maquinismos.

As viaturas exigiam uma manutenção tão cara, que o mais difícil não era dinheiro para a aquisição da máquina, o mais difícil era a sua manutenção.

Isto tudo também devido ao tipo de estradas, picadas, que nem é preciso explicar.

O Manuel Joaquim tinha uma oficina e era apaixonado por carros, estava nas suas sete quintas.

Dizia-se: uma camionete velha, uma caçadeira, uma linda mulata...é o paraíso na terra.

Foi uma pena ter vindo a guerra e todas as grandes ambições, e vejamos no que deu, acabou-se o paraíso na terra.

24 de janeiro de 2020 às 13:00


(vii) Tabanca Grande

Rosinha, mais à frente falaremos da "grande ansiedade" com que era esperado o Manel Djoquim, nas terras do interior da Guiné... 


Ele, era de facto, o homem dos "sete ofícios", tendo mãos milagrosas para tudo o que era "mecânica": geradores, automóveis, camionetas, motores, armas... Às vezes estava no Sul e chamavam-no, do Norte, algum administrador ou chefe de posto, para ele vir depressa consertar... o gerador!...

Os administradores retribuíam-lhe depois estes "pequenos grandes favores" com hospitalidade e apoio (logística, publicidade, cipaios...) à realização das sessões de cinema... Não admira por isso que fosse recebido em festa por todo o lado, da administração às populações: "A la Manel Djoquim i na bim" [Vem aí o Manuel Joaquim!].

24 de janeiro de 2020 às 14:48

(viii) Tabanca Grande


Valdemar e G. Tavares:

A FBP era uma arma de guerra, uma pistola-metralhadora... Vulgarizou-se com a guerra de África / guerra do ultramar / guerra colonial.. Não me parece que, nos anos 50, pudesse andar nas mãos de civis... Pelo pelo menos, antes dos acontecimentos de 1961,em Angola...

Além disso, na sua 1ª versão [FBP m/948], só fazia tiro de rajada...

Diz a Wikipédia:

(...) FBP é uma pistola-metralhadora projectada no final da década de 1940 por Gonçalves Cardoso, Major de Artilharia do Exército Português, combinando as funcionalidades da MP40 alemã e da M3 americana. O resultado foi uma arma de confiança e com baixos custos de produção. (...)







Guiné, Região do Oio, Olossato, 1963. CART 527 (1963/65).
Fur mil António Medina, equipadode pistola metralhadora FBP,
m/948 ou m/963.  É natural de Cabo Verde,  ilha de Santo Antão.
Vive nos EUA.

A arma acabou por ser produzida pela Fábrica de Braço de Prata (FBP) em Lisboa, com cuja sigla foi baptizada.

A arma foi utilizada em combate pelas Forças Armadas Portuguesas durante a Guerra do Ultramar. A sua utilização nesta guerra levou à verificação que a sua capacidade de fazer apenas tiro automático levava a um grande desperdício de munições [, FBP m/948]. Como tal, em 1961 foi introduzida uma versão aperfeiçoada com capacidade acrescida de tiro semiautomático [FBP m/963]. (...)

4 de janeiro de 2020 às 16:00

(ix) Valdemar Queiroz

Luís: A caríssima Lucinda Aranha incluiu, no seu livro 'O Homem do Cinema', fotografias cá da minha pessoa (ena, até já apareço em livros) em Contuboel e fez o especial favor de me o enviar, autografado. O meu neto Zee (mar, em neerlandês)farta-se de mostrar o livro com a foto do avô 'a ver filmes na selva'.


FBP m/948. Origem: Portugal. Fonte: Wikipedia (com a devida vénia...)

Quanto à arma da 1ª. foto [acima], é sem duvidas uma FBP m/48 ou m/63, igualzinha à que aparece na imagem do P5690 (**). 

A arma transformada, referida no pag. 71 do livro, deve ser uma adaptação, com um carregador de 10 balas, numa carabina de caça.


Este nosso blogue Tabanca Grande e Camaradas da Guiné é também feito de todos estes extraordinários episódios passados na Guiné que nós conhecemos quando lá estivemos, infelizmente, na guerra.

Não façamos deste blogue apenas de noticiários dos sempre agradáveis e saudosos Encontros/Almoçaradas da rapaziada, ou de arrepiantes noticias de necrologia dos nossos queridos camaradas falecidos.(...)

24 de janeiro de 2020 às 18:14



(x) Tabanca Grande

Ok, ótimo, a Lucinda é impecável...

Pedi-lhe para esclarecer a marca, o modelo, o calibre, o ano da carabina. 


Na pág 71, ela diz que o pai "andava sempre armado", tendo : 

(a) uma "Flaubert" [?], "uma carabina para atirar ao alvo"; 

e (b) uma caçadeira,calibre 12, automática, com um carregador de cinco cartuchos, mas em que ele modificou "todo o sistema (os carregadores, as molas)", ficando com a possibilidade de dar "10 tiros seguidos"... (pág. 71).

Não percebo nada de armas de caça... Mas, nas pp. 80/81, aparecem mais fotos com estas armas [, vd. acima, fotos nº 3 e 2]...


24 de janeiro de 2020 às 19:47



(xi) Alcídio Marinho

A arma que se vê em cima do para-lamas, parece ser uma Thompson, arma usada no tempo de Al Capone, que podia utilizar carregador ou tambor.


(xii) Valdemar Queiroz

A nossa pistola-metralhadora FBP e a americana Thompson m3 são primas direitas.

Julgo que a nossa foi projectada/fabricada com uma 'autorização' da Thompson.

A nossa tem o punho em madeira e a entrada do carregador ligeiramente diferente, a Thompson é toda feita em ferro.


A famosa m3, cacibre 45, de 1942  (USA).
Criador: George Hyde. Não oconfundir
com a Thompson...
Fonte: Cortesia de Wikipedia.
Julgo que a esta Thompson não era adaptado o tambor/carregador.

E não sabemos como o Sr. Manuel Joaquim adquiriu a nossa, por ser arma de guerra, ou então a Thompson, por ser de algum gangster americano.

(xiii) Lucinda Aranha

25 jan 2020, 20h50

Luís,

Vejo que efectivamente gostaste do livro pelo empenho que tens demonstrado, o que muito te agradeço. 

Quando escrevi o livro, tive a preocupação de não ferir susceptibilidades, tendo-me as minhas irmãs pedido para que os nomes fossem alterados; segui o mesmo critério para algumas das outras personagens que aparecem no livro de modo a não ferir descendentes. (...)

Sobre as dúvidas a propósito das armas do meu pai, o que sei é que nunca ouvi falar que tivesse uma metralhadora mas as armas que referi no livro, entre elas a dita Flaubert, que adaptou. 


Várias fontes me falaram destas armas, sendo a mais fidedigna e importante o genro do Esteves [, da Casa Esteves, Bissau] , o sr. Pereira, pelas relações de grande convívio e amizade. Aliás, assim que puder, já combinei encontrar-me de novo com ele para tentar esclarecer as dúvidas que tens posto a propósito do Esteves e do meu pai. 

Não percebo nada de armas mas o meu pai era um espírito muito inventivo e não me espantaria que a vossa metralhadora fosse a dita Flaubert com a cartucheira adaptada e, eventualmente, que o braço mais comprido seja uma pega. 

Nas pp 80/81 do livro, lá está a dita de novo, embora reconheça que não tem nenhuma pega. 

Quanto a toda a parafernália de que ele se fazia acompanhar, disse-me uma outra fonte, o sr. Faxina, que se encontrava, pelo menos até há alguns anos, no quintal do Tita Orelha. Creio que este senhor já morreu, mas há um filho, que talvez seja tabanqueiro, com quem nunca consegui falar. Eventualmente, seria ele quem melhor te podia esclarecer. 

Gostei muito do poste sobre o zepelim. Quanto à data exacta da ida do meu pai para Cabo Verde. não consegui apurá-la com toda a exactidão, 1922 é a minha proposta. 

A concretizar-se o encontro da Lourinhã, teremos muito para falar. (...)

Quanto à venda do livro, pode-se sempre encomendar na FNAC, mas tenho em meu poder vários livros e gostava de os vender. Basta que os interessados me contactem para o meu mail [ lucinda.aranha@gmail.com ], que eu enviarei o(s) livro(s) pretendido(s) pelos CTT
 contra reembolso ao preço de 12,50 euros (já com os portes incluídos).

PS- Há efectivamente uma relação entre "No Reino das Orelhas de Burro" e "O Homem do Cinema",  embora este último não seja um prolongamento do anterior. 


Quando escrevi "No Reino...",  já pensava escrever um livro sobre o meu pai mas ainda não tinha os contactos indispensáveis para o poder fazer. "No Reino..." é um caderno de agravos ( se me é permitida a terminologia da revolução francesa) em defesa dos direitos dos animais. Tenho muito gosto em te oferecer um exemplar assim como do "Melhor do que Cão é Ser Cavaleiro", uma espécie de romance da cavalaria escrito por duas das minhas cockers. (...)



Guiné > s/ l> s/d >

O  "Manel Djqouim" com uma pistola-metralhadora
FBP, Thompson ou M3 ?... Detalhe.
Foto: Cortesia de Lucinda Aranha
(xiv) Elísio Esteves de Oliveira [nosso leitor e camarada, nascido em Angola, ex-oficial miliciano de infantaria, CTIG, 1963-1965]

sábado, 25/01, 23:06


Boa noite, Luís,

Cá está de volta o chato picuinhas - mas na foto que acompanha o post Guiné 61/74 - P20588: Manuscrito(s) (Luís Graça) (177): Manel Djoquim, o homem do cinema ambulante, o último africanista - Parte II (*), a arma que nho Djoquim empunha não é uma caçadeira, mas sim uma portuguesíssima {pistola metralhadora] FBP m/948... 


Topa o encaixe para a baioneta sob o cano, o carregador e a corcova entre o carregador e o resguardo do gatilho.

Um Alfa Bravo e um bom ano,
Esteves







(xv) Lucinda Aranha

26 de janeiro de 2020, 19h50:


(...) Como te disse, quer o falar de novo com o Pereira [, o genro do Esteves, de Bissau.] que me deu as informações mais detalhadas e mais fiáveis sobre a vida do meu pai na Guiné e sobre o Esteves, inclusive sobre as armas. 


Gostava também de falar ao Parente cujo irmão mais velho chegou a caçar com o meu pai mas não acredito que ele possa responder às vossas dúvidas. Falei com o meu cunhado que combateu na Guiné e ele também acha que pode ser uma pistola metralhadora. O irmão, que esteve na marinha, também na Guiné, põe a hipótese de ser uma pistola metralhadora FBP de 9mm ( feita em Braço de Prata).

Volto a dizer que nunca ouvimos lá por casa falar em G3 ou metralhadoras. Será que com a guerra colonial comprou alguma dessas armas para se defender? Para se exibir? Ele nunca fez o serviço militar, mas era farrompeiro a propósito das suas caçadas.

De qualquer modo, acho que ninguém caça com semelhantes armas.

Ontem,andei à procura de outras fotos com armas mas não encontrei o mail que mandei à editora. Esta semana vou procurar os originais e logo te envio mais fotos. Talvez fosse melhor esperares por estes elementos que, quem sabe, poderão ajudar a esclarecer dúvidas. (...) (***)

_____________


sábado, 2 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20303: (De)Caras (140): Ainda o comerciante António Augusto Esteves, transmontano, fundador da Casa Esteves, falecido em Lisboa em 1976 (Lucinda Aranha)


Guiné- Bissau > Bissau > c. 1975 > Novo mapa, pós-colonial, da capital da nova república, já com as novas designações das ruas, avenidas e praças, que vieram substituir o roteiro português: Av 3 de Agosto, Av Pansau Na Isna, etc. Veja-se a localização do porto do Pidjiguiti (para os barcos de pesca e de cabotagem), à esquerda do porto de Bissau (para os navios da marinha mercante).

Foto: © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A Casa Esteves ficava no nº 33 da Av Domingos Ramos (antiga Rua Administrador Gomes Pimentel), que era paralela à Av Amílcar Cabral (antiga Av República), à esquerda (no sentido descendente) e à Rua Osvaldo Vieira (, à direita).

Revendo a Bissau do tempo  do seu pai (, que foi lá empresário entre 1946 e 1973),  Manuel Joaquim dos Prazeres (1901-1977),  Lucinda Aranha Antunes, refere a Casa Esteves, fundada por António Augusto Esteves (*), localizando-a na Baixa de Bissau, nestes termo:

 "Revia ainda as ruas paralelas [à Av da República], com os bairros residenciais de casas de um ou dois pisos, com varandins que ajudavam  a refrescar, alegrados por vasos de rosas, sardinheiras, pervíncas e zínias; à direita, o Hospital e o Grande Hotel, à esquerda, o mercado, a Casa Esteves, a Tipografia das Missões, o campo de futebol [Estádio Sarmento Rodrigues, depois Lino Correia].
  
[in: "O Homem do Cinema - A la Manel Djoquim i na na bim" [Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 99]


2. Mensagem de Luís Graça, com data de ontem:

Querida amiga Lucinda:

Só agora li, de lápis na manhã, o seu livrinho, que é um monumento de ternura, sobre a saga da sua família, o Nequinhas, a Julinha, as manas, os amigos... incluindo o "compadre" Esteves... Vou  fazer uma detalhada recensão do seu livro, que eu um dia ainda gostaria de ver transformado em guião para um filme sobre o Manel Djoquim, em Cabo Verde e na Guiné...

Mas agora gostava que comentasse o poste que acabei de editar (*)... Sei que trocou muitos dos nomes (a começar pelas manas...), mas este Esteves é mesmo o fundador da Casa Esteves (que eu conheci em Bafatá, a casa não o senhor),

Tem ideia de quando morreu ? E era de donde ? Como é que uma mulher vai para o Cacheu, em 1922, como professora ? Os filhos (filha, filho...) ficaram por lá ?!... A Casa Esteves ainda existe, apesar da miséria de Bissau...

Tenho fotos para lhe mandar do último encontro de Monte Real,com a Lena Carvalho, a Lena do Enxalé...De resto, já me autorizou a publicá-las no blogue...Será para breve, com a recensão... (O Beja Santos já fez uma, mas eu quero fazer a minha...) .

Beijinhos.Um abraço para o marido e nosso camarada, Antunes. Luís.

PS - Por estes dias estou na Tabanca de Candoz, mas passo agora mais tempo na Lourinhã...

3. Resposta de Lucinda Aranha. 

Guiné-Bissau > Bissau > s/d > Av Domingos Ramos >
Casa Esteves.
Foto: cortesia da página do Facebook
O Valdemar Queiroz diz que a foto
não é de 1980/90 mas sim dos anos 60 (*)

com data de hoje:

Caro Luís,

Li o que escreveu e, devo agradecer ter-me alertado. Há perguntas que me faz no mail para as quais nāo tenho respostas certas, só hipóteses. Falei com o sr. Pereira, genro do Esteves, que me propôs um novo encontro em casa dele onde se sente mais à vontade para falar do que ao telefone.

Contrariamente ao que escreveu, o Esteves morreu antes do meu pai, em 1976, em Lisboa, de cancro no pâncreas. Era de Trás-os-Montes, casou lá, penso que ele e a D. Maria eram de Mirandela. É aí que compraram uma boa casa, quando enriqueceram. Tiveram um filho, o Fernando que também morreu de cancro, e 3 filhas, a Maria Arminda, casada com o Pereira, a Clotilde, viúva do Costa,  e a Mariazinha que também já morreu. 

Não sei os motivos que levaram a D Maria a ir dar aulas na Guiné, eventualmente vantagens de carreira ou desejo de melhorarem a vida. O Esteves distanciou-se da mulher que passou a viver em Mirandela, e tinha uma companheira, a Olga, que conheceu nas condições que conto no livro, e que depois veio viver para Lisboa . Teve outras companheiras na Guiné, pelo menos uma indígena de que tomámos conhecimento após a sua morte, quando constou , para grande desgosto da Olga, que havia um filho por lá. Disse-me o Tony Tcheka que lá tem uma filha que montou um excelente ressort.

Quanto à Casa Esteves,  o Pereira, o genro,  tomou conta dela até 18 de Dezembro de 74, altura em que entregou a direcção a 3 empregados de confiança que a entregaram ao Costa quando regressou de férias de Portugal. O cunhado adoptou uma política mais consentânea com os tempos da revolução e foi o fim da Casa Esteves.

Quando tiver informações mais precisas logo lhe direi.

Adorei que tenha gostado do livro, espero a recensão,, quanto às foyos tem inteira liberdade para as postar.

Um abraço saudoso, Lucinda Aranha



"Sou mesmo a do meio com um ar de beicinho. A mais velha é a minha irmã Teresinha,  filha do primeiro casamento do meu pai,  e as restantes somos do segundo. As três mais velhas nasceram em Santiago, Cabo Verde, a pequenina da ponta em Bolama, nos Bijagós, Guiné Bissau,  e eu em Lisboa"... Foto e legenda (2016): página do Facebook, Lucinda Aranha Antunes - Andanças na Escrita (Com a devida vénia...).

4. Comentário de Patrício Ribeiro (*):

A Casa Esteves, na Av. Domingos Ramos, (na Avenida onde existia a Solmar), esteve alugada nos anos 2000 e durante diversos anos a uma Sra. Portuguesa, que praticava Comércio Geral.

Mas, desde alguns anos, que o edifício é um Banco Comercial.

sexta-feira, 1 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20297: (De)Caras (139): Quem foi António Augusto Esteves, colono desde 1922, comerciante, fundador da "Casa Esteves", simpatizante do PAIGC?


Guiné-Bissau > Bissau > Casa Esteves > c. 1980/90 (?) > Av Domingos Ramos, nº 33 (?). Foto: cortesia da página do Facebook de Adilson Cardoso. nascido na Guiné-Bissau, a viver em Lisboa. O fundador, António Augusto Esteves, foi dos poucos velhos colonos portugueses que terá ficado por lá, depois da independência, tendo sido, ao que parece, simpatizante do PAIGC. Ou soube adaptar-se ao fim do "império". Antes da independência, a Casa Esteves era na  Rua Administrador Gomes Pimentel, num r/c, havendo no piso superior 4 moradias para a família e para alugar... Em frente ficava a Tipografia das Missões  onde se publicava "O Arauto" (, a informação é da Lucinda Aranha Antunes. "O Homem do Cinema" (Alcochete, Alfarroba, 2018, p. 112).



1. António Augusto Esteves foi um conceituado colono da Guiné portuguesa, comerciante, radicado no território, nos anos 20, tendo inclusive sido nomeado, como vogal, do primeiro Conselho Legislativo da província, em março de 1964. Pertencia igualmente à direcção da Associação Comercial, Industrial e Agrícola.

No romance ou  biografia ficcionada "O Homem do Cinema - A la Manel Djoquim i na na bim" [Alcochete, Alfarroba, 2018, 163 pp, il,] a autora, a nossa amiga e grã-trabanqueira Lucinda Aranha Antunes (*), tem várias referências a esta conhecida figura da vida comercial da Guiné, o António Augusto Esteves, sendo inclusive amigo e compadre de seu pai, Manuel Joaquim dos Prazeres (1901-1977), empresário, caçador e homem do cinema ambulante que, nascido em Lisboa, viveu grande parte da sua vida em Cabo Verde (1929/1943) e depois na Guiné (1943/1973).

Segundo a Lucinda Aranha Antunes (op cit, pp. 103 e ss), o fundador da Casa Esteves teria chegado à colónia em 1922, acompanhando a mulher que fora colocada no Cacheu como professora primária. .  

No Cacheu terá começado a dar cinema. Entretanto, a mulher no final dos anos 30 é colocada em Bafatá. O Esteves conhece o Manuel Joaquim quando este se muda de Cabo Verde para a Guiné em 1946. Em 1951, em Bissau, o Esteves explora uma sala de espetáculos, onde projeta cinema, sala que fica totalmente destruída na sequência de um incêndio.

É a altura então em que inicia os seus negócios no ramo do comércio. Começou com um camião e ao fim de algum tempo tinha várias filiais junto à fronteira e no interior do país (Em Bafatá, por exemplo, a Casa Esteves era conhecida de alguns de nós, sendo o gerente um transmontano de Mirandela, o sr. Camilo.)

Na obra atrás citada, a filha do "Manel Djoquim" (que, diga-se, de passagem, escreveu um notável livro de memórias sobre Cabo Verde e a Guiné, onde, a par de Lisboa, decorre a saga da família, mas também um livrinho que é um monumento de ternura pelo seu pai, que tinha o nominho de Nequinhas, e pela sua mãe Julinha...), diz-nos algo mais sobre os negócios do António Augusto Esteves (p.  104):

(...) "O compadre estendera, pouco a pouco, os negócios comercializando arroz, calçado, fardos e fardos de suecas, camisolas interiores sem mangas, fabricadas em Portugal, e tão baratas que os indígenas ao fim de uma semana de uso continuado, descartavam.

"Por influência do Pereira, seu genro, começou a fazer representaçã de carros e de motas (Honda, Volvo, Simca, Vauxhall Bedford), tendo também representação de acessórios auto. Mas não se ficou por aí, passando a importar máquinas fotográficas japonesas, frigoríficos, primeiro a petróleo e nos anos sessenta-setenta já elétricos, rádios, gravadores, máquinas-ferramentas, além de não desdenhar a venda de combustível"...

" - Dou graças a Deus por o cinema  ter ardido [em 1951] e eu ter mudado de vida. A Casa Esteves é a minha galinha dos ovos de ouro" (...).

Alguém saberá mais sobre este homem, que conheceu vários regimes políticos (Monarquia Constitucional, República, Ditadura Militar, Estado Novo, República da Guiné-Bissau...) ?  (***) Não sabemos quando morreu, mas foi já depois da independência da Guiné-Bissau, e possivelmente ainda uns anos depois do seu compadre Manel Djoquim (1901-1977)(*).


Guiné > Bissau > s/d > Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Bissau. Bilhete Postal, Coleção "Guiné Portuguesa, 144". (Edição Foto Serra, C.P. 239 Bissau. Impresso em Portugal).

Projeto do arquiteto Jorge Chaves (, datando de 1949/52), é considerado o melhor edifício colonial da ex-Guiné portuguesa (, segundo a opinião da especialista Ana Vaz Milheiros). Depois da independência, passou a ser a sede do PAIGC.

Foto: © Agostinho Gaspar (2010). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. O nosso amigo e camarada, guineense, António Estácio, em "Nha Bijagó: respeitada personalidade da sociedade guineense (1871-1959)" (edição de autor, 2011, 159 pp., c/ ilustrações), refere o nome do António Augusto Esteves, como vogal do Conselho Legislativo:

(...) "O profundo conhecimento da realidade guineense e a reconhecida ascendência social, contribuíram para que em 1964, no mandato (1964-1968) do General Arnaldo Schulz, como Governador, a “tia Nâna” viesse a ser eleita e por sufrágio directo, para exercer as funções de vogal do primeiro Conselho Legislativo da Província da Guiné.

Como vogais natos, integravam o Conselho o Inspector Dr. James Pinto Bull e o Director de Finanças, Tomás Joaquim da Cunha Alves, o Comandante Militar e o Delegado do Procurador da República.

Ainda, por sufrágio directo, Fernando dos Santos Correia e Joaquim V. Graça do Espírito Santo. Pelos Corpos Administrativos e Pessoas Colectivas de Utilidade Pública o Dr. Luís dos Santos Lopes. Pelos Organismos Morais e Culturais o Padre José M. da Cruz Amaral, pelos Contribuintes os comerciantes António Augusto Esteves e Mário Lima Wahnon. Pelos Corpos Administrativos e Pessoas Colectivas de Utilidade Pública o Dr. Artur Augusto da Silva [, pai do nosso Pepito e marido da Dra. Clara Schwarz ] e, pelas Autoridades das Regedorias Joaquim Batican Ferreira, Sene Sane e Mamadú Bonco Sanhá [, o régulo de Badora]." (...) [Negrito nosso, LG]


3. Excerto das memórias de Carlos Domingos Gomes, 'Cadogo Pai' (Bissau, edição de autor,  2008):

(...) “Voltei a encontrar o camarada Aristides Pereira em Madina do Boé. Foi na altura do 1º Aniversário da nossa Independência Nacional. Conduzi uma delegação de Bissau até Gabú. Era comandante da zona o sr. Honório Chantre que nos recebeu à chegada a Gabú. Após se inteirar da nossa intenção de irmos assistir às comemorações do 1º Aniversário da nossa Independência, mandou-nos procurar alojamento e aguardar a resposta à comunicação que ia mandar para a base.

“No dia seguinte, logo pela manhã, mandou-me chamar a mim e aos companheiros a fim de dar a resposta prometida. Da autorização recebida, só eu podia entrar para a base, escolhendo uma pessoa para me acompanhar.

"A delegação era composta por 14 nacionais e um português, de nome António Augusto Esteves, ex-comerciante bem conhecido, já falecido, radicado há dezenas de anos na Guiné-Bissau. Posso testemunhar a sua dedicação, bem coberta a causa da Independência (como o testemunham os bens implantados).

"Foi ele então a pessoa escolhida para me acompanhar. Foi deslocado um helicóptero da base de Madina Boé a Gabu para nos transportar. A minha escolha causou mal estar na caravana que teve de regressar a Bissau.

"A chegada à base que acolheu a manifestação, fomos recebidos pelo então Comissário do Comércio, o camarada Armando Ramos, que a seguir às manifestações, recebeu ordens para nos conduzir a uma sessão especial, onde encontrámos, reunido, todo o elenco dirigente do Partido, entre eles com a toda a surpresa o camarada Aristides Pereira que me acolheu de braços abertos, com uma abertura desconhecida no seu semblante, sempre fechado. Disparou-me a seguinte pergunta:

- E as nossas conversas em Bolama ?

"Respondi comovido, só descobri os fundamentos dos nossos encontros após a sua partida dita para os Estados Unidos." (...) [Negritos nossos]


4. Comentário de António  Rosinha, outro amigo e camarada nosso com um profundo conhecimento da Guiné, onde trabalhou na empresa Tecnil, depois da independência (**):

O português António Augusto Esteves, a que Cadogo se refere, antigo comerciante, poderá ser da célebre "Casa Esteves", que continuava a funcionar com muita dificuldade em plena ortodoxia comunista. Essa casa fica na rua do mercado municipal. (***)

Vários comerciantes mantinham após a independência um certo entendimento com os governantes. Embora sem grandes perspectivas, foi melhor do que em Angola e Moçambique, devido à guerra com Renamo, Unita e FNLA, após 74.

Quando falamos que a Guiné está mal, no pós-independência, o povo não sofreu nada comparado com as guerras de Angola e Moçambique, após 1974. Embora o petróleo pague e esqueça muita coisa.

Agora ver um guineense com o nome respeitado como Cadogo, ter que recorrer a um cabo-verdiano, A. Pereira,  do PAIGC, para "provar" o seu nacionalismo, ajuda-nos a subentender o que foi o pesadelo dos nosso comandos e de muitos anónimos.

Quando se cria a ideia que historicamente a administração usou os cabo-verdianos, se virmos por outro prisma, a capacidade, a necessidade e a inteligência dos cabo-verdianos, não seriam estes a imporem-se, em Bissau, mas também em Luanda?

Exceptuando os velhos comerciantes, "atrasados" e "analfabetos", que falavam vários dialetos e se «amancebavam» nos fins de mundo, a verdadeira administração colonial, nunca passou de uns ingénuos "piriquitos", perante os cabo-verdianos e luso-descendentes, e os brancos de 2ª ( de vez em quando, por conveniência, quem se auto-intitula de 2ª é Otelo Saraiva de Carvalho).

Penso que o que digo, não ofende ninguém, até porque me refiro a um grande número que continua português como eu e cujos filhos e netos, mesmo nascido lá, são registados (também) cá." (...)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 15 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12991: Tabanca Grande (433): Lucinda Aranha, filha de Manuel Joaquim dos Prazeres que viveu em Cabo Verde e na Guiné entre os anos 30 e 1972, e que era empresário de cinema ambulante

Vd. também postes de:

23 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13022: Em busca de... (241): Fotos e histórias do cinema ao ar livre e do empresário Manuel Joaquim dos Prazeres, que deambulou pelo território entre 1943 e 1972 (Lucinda Aranha, filha e escritora)

9 de maio de 2014 > Guiné 63/74 - P13120: Notas de leitura (588): "Julinha", um excerto do próximo livro de Lucinda Aranha dedicado a seu pai Manuel Joaquim, empresário e caçador em Cabo Verde e Guiné (Lucinda Aranha)

(...) O meu pai teve 7 filhos, todos eles nascidos na Praia, excepto a sexta nascida em Bolama e eu que vim a nascer em Portugal. Viveu na Praia entre 1929 e 43 e desde essa data até 1972 na Guiné portuguesa, vindo à metrópole para junto da família, que residia em Portugal desde 1946, na época das chuvas.

Assim, nem eu nem os meus irmãos estudámos em África.

(...) Fui professora, leccionando História no ensino secundário. As estórias sobre África que conto no Reino das Orelhas não foram vivenciadas por mim mas são recordações dos meus pais, da minha ama Sampadjuda e dos amigos cabo-verdianos e guineenses que enxameavam a nossa casa de Lisboa.

O meu pai praticava uma política de casa aberta aos amigos. Por lá passavam administradores, chefes de posto, comerciantes e as suas famílias, alguns deles chegaram mesmo a ser residentes temporários.

Envio-lhes um excerto do livro que estou a escrever sobre Manuel Joaquim onde a sua mulher discreteia sobre essas «invasões» e que, penso, lhes permitirá perceberem melhor as minhas relações com a Guiné." (...)