Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2022
Guiné 61/74 - P23836: Parabéns a você (2121): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2772 e CCAÇ 3477 (Nova Sintra, Guileje e Nhacra, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de dezembro de 2022 > Guiné 61/74 - P23832: Parabéns a você (2120): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 e Rep ACAP (Mansoa, Mansabá e Bissau, 1970/71)
quinta-feira, 2 de dezembro de 2021
Guiné 61/74 - P22771: Parabéns a você (2010): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Nova Sintra, Guileje e Nhacra, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22767: Parabéns a você (2009): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Mansoa e Mansabá) e Rep ACAP (Bissau) (1970/71)
domingo, 21 de fevereiro de 2021
Guiné 61/74 - P21930: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (19): o nosso macaquinho de estimação, o Piquete
Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > CART 2711 (1970/72) > 1972 > O macaco ("santchu"), um babuíno, "macaco-cão" que bem podia ser o Piquete herdado, da companhia dos "Duros de Nova Sintra", pela 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", e de que aqui fala o Carlos Barros.
Foto ( e legenda): © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos, mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada, ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).
Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
(i) ex-fur mil, 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), "Os Mais de Nova Sintra", os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974; (ii) membro da Tabanca Grande nº 815, tem mais de 2 dezenas e meia de referências
Quando a 2ª Companhia do BART 6520 chegou a “Nova Sintra”, um aquartelamento sito no Setor do Quínara, nos finais de julho de 1972, a Companhia dos “Duros” ainda permaneceram quase um mês, connosco, para nos ajudar à adaptação ao quartel e ao ambiente que nos rodeava.
Havia um mascote no destacamento de Nova Sintra, o Piquete, que era uma macaquinho muito brincalhão que andava sempre ao nosso colo, brincando junto ao paiol que se situava perto da Messe dos graduados, onde existia, em anexo, uma pequena cozinha, sob a responsabilidade dos soldados Cunha e “Bichas”.
O Piquete dançava, brincava, comia à nossa mão era um amigo sempre presente, embora tivesse os seus amigos preferidos como o furriel Mendonça, o “Bichas”, o Cunha e o Elias, o “Parafuso”, que lhe davam muitas bananas.
Numa bela manhã, o Piquete desapareceu, sendo procurado por todos nós, em todo o destacamento, e, infelizmente, deixou de ser visto, perante a nossa profunda tristeza.
Suspeita-se que, da pouco população existente em Nova Sintra, alguém o tivesse levado ou mesmo poderia ter sido comido por algum animal selvagem ou morto e comido por membros da população que apreciava carne de babuíno.
Um manto de tristeza invadiu o nosso “quartel” e o Piquete nunca mais apareceu, e o seu desaparecimento permaneceu um mistério que perdurou durante o cumprimento de toda a nossa Comissão de Serviço.
Pensávamos que, num dia de cerrado “nevoeiro”, o Piquete iria aparecer e assim mantivemos esse espírito sebastiânico durante muito tempo, e que nunca se concretizou, por desespero nosso.
O Piquete deixou saudades porque era um animal carinhoso, meigo e um diabrete nas brincadeiras.
Ainda tivemos, um outro macaco baptizado de Parafuso que tinha sido apanhado numa armadilha e que era muito bravo e agressivo. Conviveu connosco uns tempos mas a sua domesticação foi difícil , tendo desaparecido sem contudo, deixar de saudades. Possivelmente, foi para o seu “habitat natural” ou para a barriga dos africanos…
Piquete era Piquete, um animal dócil que nos deixou saudades-
A partir do seu desaparecimento, nunca mais compramos bananas aos africanos…
Nova Sintra , 24 de Julho de 1973
Último poste da série > 14 de fevereiro de 2021 > Guiné 61/74 - P21898: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (18): Saia uma "rolada" para o jantar...
domingo, 6 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21614: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (13): O Elias Parafuso e o bolo de chantili
Estavam os graduados a jantar na Messe, um
arroz com salsichas, para variar (era quase sempre este prato…). Na mesa
estavam vários furriéis: Barros, Elias, Mendonça, Ferreira,
Sousa, Gonçalves e no final do jantar
havia um bolo de aniversário, já que um desses militares fazia anos e o Cozinheiro Bichas, com apoio do
Cunha, fizeram um bolo cremoso e muito
chantilizado….
Olhámos para esse “delicioso” bolo e ninguém teve apetite em comê-lo. O Barros fez então uma proposta:
− Quem me der 50
pesos, atiro o bolo à cara do Parafuso [, furriel Elias, mecânico]!
Mal recolhidos 30 pesos e,
quando menos se esperava, o Barros pega no bolo e atira-o contra a cara do
infeliz Elias que ficou sem ver…
Passados segundos, todo besuntado, o Elias lá se recompôs, com um guardanapo limpou a cara e todos se riram pela ousadia do Barros. O Ferreira não tinha dado o dinheiro que prometera e só o daria − afiançava ele − caso o Barros mandasse o resto do bolo que tinha sobrado, outra vez à cara do Elias…
Claro que este camarada não contava com o segundo ataque e o Barros, quando ninguém esperava, mandou novamente o bolo ao nariz do Elias que ficou furioso e, com o rosto cheio de chantili, levantou-se para atacar o Barros…
Este, ágil como uma pantera, com muita experiência no mato e bem preparado fisicamente, fugiu do Elias, e, em plena escuridão, o Parafuso correu atrás dele e, com tanto azar, que enfiou uma perna num buraco do saneamento que estava destapado…
O azarento do Elias ficou K.-O. e aleijou-se no joelho
esquerdo, ficando a mancar e, deste modo,
estava acabada a perseguição ao Barros!
O Barros desapareceu
na escuridão e não regressou à Messe porque o Elias Parafuso “vomitava fogo”
mas já estava “entornado”, como sempre…
No dia seguinte, os dois “beligerantes “ encontraram-se na messe, ao pequeno almoço, com os ânimos serenados, nada aconteceu , foi um abraço fraterno em mais um dia passado, num ambiente de guerra, muito “engraçado,” sempre desgastante...
Afinal, estas peripécias mudavam um pouco a terrível rotina em que vivíamos.
Neste campeonato das festas de S. João que decorria na Metrópole, o resultado foi: Barros, 1; Elias, 0… Enfim, pequenas histórias da Guiné...
Nova Sintra, 26 de
junho de 1973
_________
Último poste da série > 18 de novembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21556: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (12): A cobra e o seu matador....
quarta-feira, 2 de dezembro de 2020
Guiné 61/74 - P21601: Parabéns a você (1901): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2772 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21597: Parabéns a você (1900): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
segunda-feira, 14 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21358: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (6): a evaporação das cervejas
Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > s/d > Largada de frescos e correio, de paraquedas... Foto do álbum de Herlânder Simões, ex-fur mil da companhia de "Os Duros de Nova Sintra", de rendição individual, tendo estado no TO da Guiné, em Nova Sintra e depois Guileje, entre maio de 1972 e janeiro e 1974.
Foto ( e legenda): © Herlânder Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Quínara > Mapa de São João (1955) > Escala de 1/50 mil > Posição relativa de Bolama, São João, Nova Sintra, Serra Leoa, Lala, Rio de Lala (afluemte do Rio Grande de Buba)
1. Mais uma pequena história do Carlos Barros, um de "Os Mais de Nova Sintra", 2ª C/BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1972/74), os últimos a ocupar o aquartelamento de Nova Sintra antes da sua transferência para o PAIGC em 17/7/1974:
Chegado ao local, esperavamos pela chegada das lanchas e, enquanto aguardavamos, uma criança africana que tinha sido transportada numa Berliet de Nova Sintra, pega num fio de electricidade, com um chumbo improvisado, um “joelho” de canalização enferrujado, um anzol com isco e lançou ao rio.
Passados cinco minutos sente-se um grande puxão e o miúdo alou a “pesqueira” e pescou um grande peixe-serra que foi puxado para a margem e, com uma afiada faca do mato, foi morto e esquartejado , servindo mais tarde, de alimento para a tabanca.
Um dos graduados do 3º grupo de combate levou uma granada ofensiva e lançou-a para um cardume de peixes que nadavam à superfície e, após da explosão, só se viam peixes “à tona” e só foi recolhê-los para uma caixa que serviram de jantar, na Messe para os graduados, e quase todos comeram, menos o sargento Rasteiro, para nós, “persona non grata”…
Foi o regresso das viaturas e militares ao destacamento , sendo conferido todas as bebidas e materiais transportados e, como era habitual, faltavam cervejas …
As viaturas “ marchavam” de regresso a passo de caracol para dar tempo aos soldados beberem as suas cervejas para arrelia do Rasteiro…
Naturalmente que nós, graduados, sabíamos da marosca e eramos cúmplices. A tropa manda(va) desenrascar…
Carlos Barros, Nova Sintra 1974 (**)
(*) Vd. poste de 10 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1747: Tabanca Grande (8): Herlânder Simões, ex-Fur Mil, um dos Duros de Nova Sintra (1972/74)
segunda-feira, 7 de setembro de 2020
Guiné 61/74 - P21332: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (4): A cabrinha Inha...
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos, mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada, ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).
Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto: © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Os militares da 2ª Companhia de Nova Sintra, com reforços de pelotões de Jabadá (1ª C/BART 6520/72) e Fulacunda (3ª C/BART 6520/72) estiveram envolvidos na abertura da estrada Nova-Sintra –Fulacunda, em 1973.
Ao rasgar essa estrada, por entre mato denso, iriamos ter problemas com o inimigo , o que se veio a verificar já que fomos emboscados algumas vezes, tentando obstruir a nossa progressão porque esse acesso a Fulacunda não interessava militarmente ao PAIGC.
O furriel Barros estava com o seu grupo de combate na segurança da estrada, com outro grupo, e estavam homens e mulheres africanas envolvidas na descapinagem do estradão.
Verifiquei, por mero acaso, que uma indígena tinha apanhado uma cabrinha à mão que se tinha perdido da mãe e perguntei-lhe o que iria fazer com o animal. Prontamente me respondeu, dizendo que a ia matar e depois comê-la!
Abeirei-me dela e pedi que ma vendesse por 50 pesos , o que concordou perante a minha alegria, vendo que o animal não seria morto. (**)
No regresso ao destacamento, trouxe a cabrinha para o quartel, arranjei e adaptei um biberão e comprava leite na cantina e assim a Inha era alimentada por mim com todo o carinho e protecção.
Foi crescendo, dormia debaixo da minha cama na caserna e na parada do destacamento seguia-me para todo o lado.
O Capitão Cirne queria comprar a Inha mas confesso que não a vendia por dinheiro nenhum porque gostava muito do animal. A cabrinha era acarinhada pelos soldados do meu grupo, sendo a coqueluche da companhia e passeava por todo o lado, sem ninguém a molestar.
Tinha chegado a hora do jantar e, quando começávamos a comer o arroz com salsichas, vieram os soldados Cruz , Barros e Lurdes à messe e um deles disse-me:
- A Inha “adormeceu”…
Levantei-me a correr para a caserna e encontrei já morta a minha Inha, perante o meu desgosto…
O que aconteceu?
Um dos soldado deu-lhe cascas de manga e, provavelmente, teve uma congestão, já que só se alimentava de leite e não vi outra razão…
Perdi a vontade de jantar e peguei n cabrinha, enterrei-a junto à caserna e depois coloquei uma cruz com uma lápide com os dizeres: “Aqui jaz a INHA”…
Foi um dia triste para mim e para os meus companheiros do pelotão e, nesse mesmo dia, morreu à mesma hora, uma gazela selvagem que tinha sido apanhada pelos militares e que se encontrava num galinheiro, “Gazeleiro, improvisado….Triste coincidência…
Nunca mais desejei nenhum animal comigo, já que eles querem viver em liberdade, como todos nós seres humanos, que, felizmente, só a conseguimos obtê-la no dia 25 de Abril de 1974.
Nova Sintra, maio de 1973,
(*) Último postes da série > 4 de setembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21325: Guiné 61/74 - P21319: Pequenas histórias dos Mais de Nova Sintra (Carlos Barros, ex-fur mil at art, 2ª C/BART 6520/72, 1972/74) (3): As ratazanas (e o PAIGC) ao ataque em Gampará
5 de julho de 2020 > Guiné 61/74 - P21142: O nosso livro de visitas (206): Carlos Barros, natural de Esposende, ex-fur mil at art, 2ª CART / BART 6520/72 (Bolama, Bissau, Tite, Nova Sintra, Gampará, 1973/74)
(**) Vd, poste de 9 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18393: Fotos à procura de... uma legenda (102): Uma mulher fula a amamentar a "sua" cabrinha!... Ainda em tempo, celebrando o Dia Internacional da Mulher (Foto de João Martins, Piche,1968)
segunda-feira, 2 de dezembro de 2019
Guiné 61/74 - P20406: Parabéns a você (1717): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor:
Último poste da série de 1 de dezembro de 2019 > Guiné 61/74 - P20401: Parabéns a você (1716): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
sexta-feira, 29 de novembro de 2019
Guiné 61/74 - P20393: Memória dos lugares (402): Nhacra, a guarda avançada da capital, Bissau: afinal, era um sítio onde se podia ir, com relativa tranquilidade, até ao final da guerra... (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540 /72, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar, Bissau, Nhacra, 19 set 1972/ 25 ago 1974)
O IN não possuía, dentro da ZA, pessoal suficiente em quadros e grupos que lhe permitisse desenvolver uma actividade dinâmica e poderosa, quer para flagelar e atacar o aquartelamento e o Centro Emissor de Nhacra, quer para emboscar as NT fora do aquartelamento.
No entanto, fomos informados que Nhacra e o Centro Emissor foram flagelados pelo IN duas vezes:
Sabíamos que o IN andava por ali perto e que atravessava, frequentemente, algumas linhas principais de infiltração, para o interior da nossa ZA, a saber: de Choquemone, Infaide, Biambe, pela península de Unche para Iuncume, quando se dirigiam para Nhacra.
As principais prioridades da nossa Companhia eram:
Em onze meses de permanência em Nhacra, nunca tivemos contacto com IN, nem as instalações sofreram qualquer ataque.
A estrutura agrícola existente baseava-se numa economia básica de subsistência, cujos produtos, que ocupavam lugares especiais de relevo, eram o amendoim, o arroz, o milho, a mandioca, o feijão, a cana sacarina e pouco mais.Na pecuária existiam boas condições para a criação de gado, condicionante porém pelo ancestral costume tribal, que considerava o gado como um sinal exterior de respeito e riqueza e não com um factor económico.
Era evidente e manifesto o desagrado em abater, ou mesmo vender, qualquer cabeça de gado, fosse para alimentação ou para outros fins industriais. Em toda aquela zona predominava a etnia Balanta, coexistindo com algumas minorias étnicas que se estabeleceram em chão Balanta, vindas de outras regiões, escorraçadas pela insegurança que a guerra originava, principalmente Fulas, Mandingas e alguns Manjacos.
Os Balantas eram dotados de uma impressionante constituição física, trabalhadores, valentes, enérgicos e com grande força de vontade pela vida, ao que acrescentaria que eram bons agricultores, arrancando da terra os meios de subsistência de que necessitavam, alimentando-se à base de arroz, azeite de palma, milho e mandioca. Além disso, eram polígamos e condenavam o celibato. Extremamente supersticiosos, acreditavam na transfiguração da alma, atribuindo à feitiçaria as suas desgraças.
Bissalanca, BA 12, c. 1972/74: os alf mil Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019) ~ e Jorge Pinto, prontos para ir até Nhacra, de motorizadas, comer umas ostras (**)... Foto: Jorge Pinto (2019). |
Praticavam o roubo, em especial de gado, com a consciência de um acto não criminoso, mas sim um admirável e enaltecedor sinal que revelava a perícia pessoal, bem com de toda a sua própria tribo. O gado bovino que possuíam destinavam-no às cerimónias de sacrifício, nomeadamente nos seus rituais de acompanhamentos fúnebres (choros).
Os Fulas, de um modo geral, eram hospitaleiros, considerando mesmo a hospitalidade como um dever sagrado.Apesar da influência que o Islamismo tinha entre eles, praticavam ainda o feiticismo e criavam gado, considerado este facto como um sinal de respeito e nobreza.
A acção psicológica desenvolvida pela NT na zona era bastante intensiva, apesar de se constatar em alguns núcleos, certa reserva em relação à mesma, quando não nula, com maior evidência nas tabancas de Sal e Bupe.
As populações tinham apoio médico/sanitário, transporte em viaturas militares, assistência educativa prestada por missões religiosas em várias escolas, um professor militar e vários elementos africanos que estavam adidos à Companhia, sendo também de salientar a assistência religiosa prestada por padres missionários aos domingos. (...).
(...) A área do subsector de Nhacra tinha por limite a norte o Rio Mansoa, a sul o Rio Geba, a oeste o Canal do Impernal e, a leste, confinava com o Dugal.
Era atravessada, nos seus limites, por uma estrada asfaltada (com grande movimento de pessoas e viaturas), que ligava Bissau a Mansoa e, ainda, pela ligação entre Nhacra e Cumeré, também ela em estrada asfaltada.
A piscina de Nhacra. Foto de Eduardo Campos (2009) |
O terreno apresentava uma uniformidade e configuração incaracterísticas, em que os relevos praticamente não existiam, apenas entrecortado pelas bolanhas que abundavam nessa região, visto formarem-se a cotas inferiores às do terreno.
Hidrograficamente a região era rica, com os importantes rios Mansoa e Geba, bastante caudalosos na praia-mar, que chegavam a atingir cerca de três metros de amplitude e invadiam uma série de canais, do qual se destacava o Canal do Impernal, que estabelecia a ligação entre eles, dando origem à ilha de Bissau… Sim, disse ilha, porque Bissau era uma ilha e, curiosamente, muitos dos nossos camaradas desconheciam o facto.
A mata era muita reduzida nessa região, exceptuando-se pequenas manchas existentes no extremo norte do Rio Geba e nas proximidades do Canal do Impernal. Na zona interior a savana arbustiva, era salpicada, aqui e além, por árvores de grande porte (poilões), mangueiros e cajueiros.
Nas Zonas marginais dos rios e dos canais, zonas extremamente pantanosos, abundavam as plantas hidrófilas que se ramificavam em múltiplas raízes, formando o que se designava por “tarrafo”. A fauna, sem ser abundante, poderia considerar-se rica em diversas espécies.
_________
30 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5729: Histórias do Eduardo Campos (7): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 7): Nhacra 2
26 de janeiro de 2010 > Guiné 63/74 – P5711: Histórias do Eduardo Campos (6): CCAÇ 4540, 1972/74 - Somos um caso sério (Parte 6): Nhacra
(**) Vd, postes de:
quarta-feira, 16 de outubro de 2019
Guiné 61/74 - P20246: Episódios da minha guerra (Manuel Viegas, ex-fur mil, CCAÇ 1587, Empada, Catió e Ilha do Como, 1966/68) - Parte I: O ataque ao destacamento avançado, "Rancho da Ponderosa", na tabanca de Ualada, subsetor de Empada
Guiné > Região de Quínara > Empada > CCAÇ 1587 (Cachil, Empada, Bolama e Bissau, 1966/68) > Ualada > Destacamento "Rancho da Ponderosa> O soldado Jorge Patrício, à porta do destacamento. A tabanca terá sido abandonada pela população e o destacamento desativado no segundo semestre de 1968 (, facto a confirmar), na sequência da retração e racionalização do dispositivo no CTIG, no início do "consulado" de Spínola, altura (2º semestre de 1968/ 1º semestre de 1969) em que foram abandonadas outras posições como Ponta do Inglês, Gandembel, Ganturé, Cacoca, Sangonhá, Beli, Madina do Boé, Cheche... (Em 2009, o José Patrício vivia em Viseu, já aposentado da função pública.)
O destacamento deve ter sido construído pela CCAÇ 1423 (RI 15, Tomar), que ocupou o aquartelamento de Empada entre janeiro de 1966 e dezembro do mesmo ano, seguindo depois para o Cachil. [Foi comandada pelo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves, Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, Capitão de Cavalaria Eurico António Sacavém da Fonseca, de novo Capitão de Infantaria João Augusto dos Santos Dias de Carvalho, e de novo Capitão de Infantaria Artur Pita Alves. Ostentou como Divisa “Firmes e Constantes”.]
(ii) segui-se a Companhia de Milícias n.º 6, do recrutamento local, quem ocupou o aquartelamento entre Janeiro de 1965 e Dezembro de 1971, até à extinção da força.
Por informação posterior, do nosso amigo e camarada Joaquim Jorge, ficamos a saber que "quem "fundou e construiu a 'Ponderosa' foi a CCAÇ 616 da qual eu era comandante em 17 de Março de 1965."
Fonte: Cortesia do CM - Correio da Manhã, edição de 4/10/2009. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Região de Bolama > Nova Sintra > 1972 > Entrada do quartel dos Duros de Nova Sintra, a CART 2711, 1970/72... É possível que este pórtico, "!Rancho dos Duros", tenha sido inspirado pelos vizinhos, mais antigos, do "Rancho da Ponderosa", destacamento de Ualada, subsetor de Empada, ao tempo da CCAÇ 1587 (1966/68).
Foto (e legenda): © Herlander Simões (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagen complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
[Foto à esquerda: Manuel Rosa Viegas, ex-Furriel da Companhia de Caçadores, nº 1587, Empada , Catió e ilha do Como, entre 1966 e 1968; vive em Faro; é o mais recente membro da Tabanca Grande, nº 798 (*)]
É com profunda nostalgia e tristeza que irei narrar algumas das operações em que colaborei e ataques e flagelações que sofri.
O episódio que irei transcrever em 1º lugar, não é o que mais me marcou psicologicamente, mas sim fisicamente.
Estava colocado em Empada e calhou a primeira vez, juntamente com o meu pelotão , que estava no destacamento avançado, a cerca de cinco quilómetros de Empada, de nome "Rancho da Ponderosa" (**).
Tinha como finalidade fazer a segurança a uma pequena tabanca [, Ualada, a sudoeste de Empada,] e ao mesmo tempo servia para resguardar a retaguarda da companhia de Empada.
O Rancho tinha uma circunferência de duzentos metros aproximadamente , e era ladeado de abrigos . Ao aproximar-se o sol posto e após os soldados terem jantado , aproximei-me deles e disse-lhes para iram para os abrigos , mas alguns deles não gostaram muito e um deles ainda disse “ o furriel Viegas é sempre o mesmo” , e três ou quatro por represália foram para a capelinha que lá tínhamos.
Acabei por me dirigir a eles diplomaticamente e fazer-lhes ver que estava na hora do inimigo atacar, a muito custo abandonaram a capelinha , tendo ficado para trás o Manuel dos Santos , que por coincidência era dos que com quem eu me dava melhor . A capelinha ficava junto ao abrigo do morteiro 81, passados alguns minutos dos soldados se retirarem para os abrigos , quase simultaneamente, atacaram-nos de norte para sul com canhões sem recuo , talvez tenha sido a primeira vez que utilizaram os mesmos.
Entretanto eu saltei para o buraco do morteiro , e o Manuel dos Santos rastejou até ás granadas que estavam próximas do morteiro , mas tanto ele como eu não tínhamos experiência de mandar as morteiradas , foi a nossa sorte, a falta de experiência , estas caíram próximas dos nossos abrigos onde eles estavam a alvejar o aquartelamento. Além das granadas que lhes caíram em cima, os dos abrigos responderam com todo o material que tinham.
O ataque não demorou muito, cerca de vinte minutos, eles foram bastante flagelado, deixando algum material abandonado na sua retirada .
Uma das granadas caiu no aquartelamento , em cima da mesa do refeitório onde tínhamos acabado de jantar, os pratos, os púcaros e os tachos ficaram todos furados.
Eles estavam preparados para dar um golpe de mão, e matar-nos a todos, só que as coisas correram mal para eles, para nosso bem. Só com um senão da nossa parte que fica para toda a vida, o Manuel dos Santos ficou surdo oito dias e eu fiquei surdo de um ouvido, e tanto ele como eu ficámos com um zumbido para toda a vida.
PS. - Supomos que eles tinham tudo planeado para dizimar o Rancho do Ualada ("Ponderosa") , porque nessa mesma noite eles anunciaram na rádio que tinham feito uma limpeza total e só se safou um cão.
Aproveito para dizer que a minha companhia até ao dia do embarque trouxe três flâmulas de ouro, salvo erro quem trouxe mais do que nós foram os paraquedistas [, do BCP 12,] com cinco.
Manuel Rosa Viegas,
ex-fur mil, CCAÇ 1587 (1966/68)
Guiné > Região de Quínara > Carta de Empada (1961) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Empada e, a sudeste, Ualala.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2019)
_____________
(*) Vd. poste de 8 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20216: Tabanca Grande (486): Manuel Viegas, algarvio de Faro, ex-fur mil, CCAÇ 1587 (Cachil, Empada, Bolama e Bissau, 1966/68)... Senta-se à sombra do nosso poilão, sob o nº 798. Padrinho: José António Viegas, régulo da Tabanca do Algarve.
9 de novembro de 2012 > Guiné 63/74 - P10643: Manuel Serôdio, ex-fur mil CCAÇ 1787 (Empada, Buba, Bissau, Quinhamel, 1967/68) (Parte V): O subsetor de Empada
(...) Ualada era uma tabanca junto à bolanha do mesmo nome, e junto à qual existiu um destacamento defendido por 2 grupos de combate. Tendo o destacamento sido abandonado e destru[ido pelas nossas tropas, a população de Ualada refugiou-se em Empada. (...)
terça-feira, 11 de junho de 2019
Guiné 61/74 - P19882: In Memoriam (343): Mário Gualter Rodrigues Pinto (1945-2019), ex-fur mil art, CART 2519 (Buba, Mampatá e Aldeia Formosa, 1969/71)... Era chefe de cozinha, e vivia no Barreiro... O corpo já seguiu para a capela mortuária da igreja do Lavradio, Barreiro, e o seu funeral realiza-se esta tarde pelas 16h15 (Herlânder Simões / Luís Graça)
Tabanca de Mampatá > 23 de dezembro de 2018 · > Recordações: Faz hoje 49 anos que eu e o meu camarada e amigo Furriel Bernardo e mais 5 militares, incluindo dois milicias, fomos feridos, quando procedíamos ao envolvimento do grupo do PAIGC que tinha atacado o aquartelamento da Chamarra. Foi perto do Balana, o Grupo do .PAIGC encontrou-se frente a frente com o nosso Grupo de Combate quando fazia a retirada do ataque. Felizmente nós tivemos 7 feridos mas o PAIGC teve mais baixas, incluindo 2 mortos confirmados.....Enfim, são recordações." (Mário Gualter Pinto)
«
Página do Facebook do Mário Gualter Pinto > 17 de dezembro de 2010 > S/d: Op Diamante Azul > Sambasó nas imediações de Salancaur, com população controlada pelo PAIGC. Ao centro, em segundo plano, o alf mil Frade, OE (Operações Especiais), 2.º Comandamte da CArt 2519 ( à direita); o fur Mil Mário Gualter Pinto, CArt. 2519 (à esquerda); o Alf mil Duarte, da CArt. 2521, agachado, em primeiro plano; e, à esquerda, o sélebre sold Machado, o "Cigano", da CArt 2519.
Uma das últimas foto do Mário Pinto (1945-2019), no dia 19 de março de 2019, "Dia do Pai", com a filha, Clara Pinto: "O meu herói .. o meu melhor amigo .. este é o meu pai .. feliz dia PaPi do meu ❤ ... Gosto tanto de Ti" (Clara Pinto)
A sua neta escreveu este belísismo e comovente texto à memória do avô Mário Pinto (, o "Marinho", como era tratado carinhosamente no seio da família,), que faleceu ontem de manhã, aos 74 anos:
"Um obrigado não vai chegar para todo o que tu fizeste por mim... A dor que sinto hoje também não cabe em mim... no meu corpo pequeno eu sinto tanta dor... é possível?? Não te vou dizer adeus porque acho que despedidas são fatelas e nós os dois não somos fatelas... Partiste hoje!! Mas nunca vais partir do meu coração!!
Obrigada por estes 14 anos incríveis e obrigada por nunca teres desistido desta batalha!! Afinal um homem da guerra nunca desiste! Estou muito orgulhosa de ti e tenho a certeza que tu estás orgulhoso de mim!
Eu amo-te, avô! Hoje, amanhã e para sempre!! Todos os super heróis perdem os seus poderes e hoje o meu super herói perdeu os dele... Que a força esteja contigo do outro lado, eu vou estar sempre contigo independentemente de aonde tu estejas, eu vou estar contigo e tu vais estar comigo... Que tu sejas a estrela que mais brilha no meu céu (sim porque tu és só meu, então só podes brilhar no meu céu). Não é um adeus, apenas um até logo!! Vou antigir todas as minhas metas e no fim vou dedicá-las a ti!!" (Beatriz Pinto Fernandes)
1. Mensagens de ontem, 10 de junho de 2019, do nosso camarada Herlander Simões [ex-fur mil, passou pelo CTIG entre maio de 72 e janeiro de 74; destinado à CCAÇ 16 (onde nunca chegou a ser colocado) foi primeiro para os "Duros" de Nova Sintra (CART 2771, onde esteve seis meses) e posteriormente para os "Gringos" de Guileje (CCAÇ 3477, 1971/73), entretanto já sediados em Nhacra]:
(i) 16:53
A pedido da família, estou a comunicar para conhecimento da nossa Tabanca, o falecimento do nosso camarada Mário Gualter Pinto.
Ainda não sei quando é realizado o funeral pois ainda não está determinado.
Quando tiver mais notícias comunicarei á nossa Tabanca.
Um abraço. Herlander Simões
(ii) 17:32
O corpo do camarada Mário Gualter Pinto vai hoje para a capela da Igreja do Lavradio pelas 17,30 H e o seu funeral realiza-se amanhã, dia 11, e sai da capela pelas 16,15, seguindo para o crematório da Quinta do Conde. (...)
O Mário gostava de partilhar as memórias desse tempo. Tem cerca de meia centena de referências no nosso blogue. O último mail que troquei com ele foi em novembro de 2018. Sabíamos que estava com graves problemas de saúde.
Vivia no Barreiro. Amava a vida, a boa comida, o convívio com os amigos e camradas, a sua terra, o rio Tejo, a Guiné, Mampatá... O seu telemóvel, nº 931648953, esse, já não volta a tocar. Criou um blogue sobre a sua companhia, a CART 2519, "Os Morcegos de Mampatá", além de uma página no Facebook, Tabanca de Mampatá - Grupo Público. Também tinha a sua página pessoal, em nome de Mário Gualter Pinto. No nosso blogue alimentou uma notável série, "Estórias do Mário Pinto", de que se publicaram cerca de 4 dezenas de postes.
(xiii) também era um apaixonado pelo estuário do Tejo e a atividade piscatória ribeirinha, tendo criado o blogue A Ilha do Rato, de que publicou 37 postes entre fevereiro e maio de 2010. (A ilha ou ilhéu do Rato fica no estuário do Tejo, no mar da Palha, frente ao Lavradio, Barreiro; o Mário foi lá pela primeira vez em 1972, com um amigo pescador.)
domingo, 2 de dezembro de 2018
Guiné 61/74 - P19251: Parabéns a você (1533): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art das CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19248: Parabéns a você (1532): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
sábado, 2 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18034: Parabéns a você (1349): Herlander Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18031: Parabéns a você (1348): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
sexta-feira, 2 de dezembro de 2016
Guiné 63/74 - P16787: Parabéns a você (1169): Herlânder Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16781: Parabéns a você (1168): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
segunda-feira, 21 de novembro de 2016
Guiné 63/74 - P16744: Em bom português nos entendemos (15): Comer macaco, não obrigado... "Santchu bai fika na matu"... E cão ("kakur") fica com o dono, no restaurante em Bissau... Ajudemos a salvar os primatas da Guiné... O "santchu", o "dari"..., ao todo são 10 primatas que correm o risco de extinção se os hominídeos continuarem a destruir o seu habitat e a fazer deles um petisco...
Guiné > Região de Quínara > Nova Sintra > 1972 > O macaco ("santchu") e o cão ("kakur")... Ou mais exatamente um babuíno, "macaco-cão" (em cativeiro) (e que é produto "gourmet" em Bissau), e um cão (animal que os hominídeos domesticaram há cerca de 12 mil anos).
Foto: © Herlânder Simões (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Ainda na sequência do inquérito "on line" da passada semana sobre quem come(u) ou não come(u) carne de macaco, lembrámo-nos de que há vários provérbios sobre o nosso "sancu" (ou "santchu", é assim que se pronuncia) tanto na Guiné-Bissau como em Cabo Verde...
É uma delícia poder lê-los, em voz alta, em crioulo, e entendê-los em português... Aqui vai uma mão cheia de provérbios, recolhidos por aí, na Net (. baseados no trabalho do ecolinguista brasileiro Hildo Honório do Couto), e uma fábula, que diz tudo sobre a necessidade (urgente) de salvar o "santchu" (macaco) e o "dari" (chimpanzé)...
Por muitas razões, incluindo os vorazes apetites gastronómicos de alguns hominídeos, as 10 espécies de primatas que existem na Guiné-Bissau (inckuindo o "dari", o chimpanzé) estão em perigo de extinção, a médio ou a longo prazo...
Seria uma tragédia que os bisnetos de Amílcar Cabral tenham, um dia, que vir a Lisboa ao Jardim Zoológico para verem "ao vivo" o "santchu" e o "dari"... O mesmo podemos dizer nós de espécies ameaçadas ou quase extintas, em Portugal, na Península Ibérica ou na Europa como o lobo ou a águia real...
Enfim, este poste é um pequeno contributo para reforçar a nossa sensibilidade e consciência ecológicas... O planeta não tem fronteiras, a terra é só uma, homens e (outros) bichos vão ter cada vez mais que saber partilhá-la... e defendê-la!
Esta "Storia di sancu ku kacur" (história do macaco e do cão) pode resumir-se em duas linhas: o macaco e o cão representam os mais fracos, sujeitos à violência, arbitrariedade e prepotência dos mais fortes (aqui respresentados pela onça, "onsa", um felino predador, que obriga o cão a desempenhar o papel de carrasco ou torcionário, sendo o macaco a vítima... O cão ("kacur"), humilhado e ofendido, procura sucessivamente a ajuda de outros companheiros, mais fortes do que ele, para com eles se aliar contra a tirania da onça... Mas todos os grandalhões e valentões, da vaca ("baka") ao búfalo ("boka-branku") fogem quando chega a hora do confronto, a hora da verdade...
Acaba por um ser destemido e esperto carneiro ("kamel") quem enfrenta a onça. A luta acaba com a vitória do bem sobre o mal. E o cão e o macaco, aliados mas não necessariamente amigos, seguem, cada um o seu caminho e o seu destino... O do macaco ("santchu") é o do mato, onde é verdadeiramente a sua casa...E o cão vai para a cidade, para o pé do seu dono, que tem um restaurante em Bissau... e que vai prometer nunca mais fazer grelhados... de carne de macaco.
Enfim, é uma uma leitura, ecológica, otimista, minha, da velha fábula... que os guineenses vão contando de geração em geração. Espero que ainda haja macacos, na Guiné-Bissau, daqui a cinquenta anos, para as crianças de hoje possam contar aos seus netos esta e outras fábulas do tempo em que os animais falavam e eram mais sábios do que o bicho homem...
Dessa obra consultei excertos, disponíveis aqui, incluindo a fábula que se publica (com adaptações da tradução para o português europeu; também revi o texto em crioulo, de modo a aproximá-lo da oralidade corrente: por exemplo, "santchu" em vez de "sancu", ou "tchiga" em vez de "ciga", "djuntu" em vez de "juntu"...).
A fábula do macaco e do cão também está, entre outras, reproduzida aqui (em crioulo e versão portuguesa do Brasil).
Ainda não há um a verdadeira normalização do crioulo da Guiné-Bissau ou do "guineense": há várias grafias, uma mais oficiosa (Direção-Geral da Cultura, Bissau, 1987) e outra mais académica (por ex., Luigi Scantamburlo, 1999)... O padre italiano Luigi Scantamburlo, doutorado em línguística, e há muito radicado na Guiné-Bissau (, no arquipélago dos Bijagós, desde 1975), é o autor do primeiro dicionário de guineense-português. É também direitor da ONG guineense, FASPEBI,
Para ele, "a escolha do termo guineense para designar a língua crioula é fundamental para promover melhor o estatuto nacional, veicular e inter-étnico desta língua, evitando a conotação negativa que o termo crioulo tem no país e no mundo".
Por exemplo, "sancu" (norma de 1987) é grafada como "santcu" (lê-se "santchu") no dicionário de Scantamburlo (1999); outros exemplos: bulaña (1987) e bulanha (1999)... Mas atenção: nós não somos "especialistas" do guineense, nem muito menos falantes, mas apenas "curiosos" (**)... (LG)
(*) Sobre o crioulo da Guiné-Bissau:
Guiné-Bissau Kriol Docs
Grupu Kriol Papia Skirbi (Facenook, grupo fechado)
Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de I a XXXVIII pp.
Dicionário Guineense-Português, de Luigi Scantamburlo, de 1 a 636 pp.
Gramática de Crioulo, de Luigi Scantamburlo.
(**) Último poste da série > 8 agostop de 2016 > Guiné 63/74 - P16369: Em, bom português nos entendemos (14): a história da Cadi do dr. Adão Cruz e a expressão em crioulo "ka-misti" ou "n'ka-misti"(não quero) (Cherno Baldé, Bissau)