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quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Guiné 61/74 - P27295: Elementos para a história do Pel Caç Nat 63 (último comandante: Manuel Elvas, Fá Mandinga e Mato Cáo, 1973/74; autor de "O Vale dos Malmequeres", Chiado Books, Lx, 2017, 46 pp. (Luís Mourato Oliveria, ex-alf mil, últomo cmdt, Pel CaçNat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)


Capa do livro de Manuel Elvas, "O Vale dos Malmequeres" (inicialmente lançado em 2017, pela Chiado Books, sob o pseudónimo literário M. Lacroix. ISBN 9789897741999, 436 pp.)

 

Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > c. 1973/74 > O alf mil Luís Mourato Oliveira, cmdt do Pel Caça Nat 52 (Mato Cão) de visita ao seu vizinho e camarada Manuel Elvas, cmdt do Pel Caç Nat 63 (Fá Mandinga)... O pretexto foi uma caldeirada de cabrito... Para lá foi de jipe... Parece que no regresso, com a maré cheia, teve de ir dar uma volta ao "bilhar grande", isto é, ir a Bafatá...

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Luís Mourato Oliveira

Foto à esquerrda  Luís Mourato Oliveira, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74); veio da CCAÇ 4740 (Cufar, 1973). Tem cerca de 80  referências no nosso blogue.. É autor da notável série "Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira".


1.  Por qualquer razão, esta mensagem do Luís Mourato Oliveira, que hoje faz anos (e que tem andado fora do nosso "radar"...), não foi publicada na devida altura. É de 13 de novembro de 2022, 
16:39. Não perdeu atualidade.  A amizade e a camarada não têm prazos de validade.

Mas não posso deixar de pedir desculpa nem ao emissário nem ao verdadeiro 
destinatário, que é o Manuel Elvas.
Aproveito, se ele nos estiver a ler, para o 
convidar a integrar as nossas "fileiras". 
O lugar do inesquecível "alfero Cabral" esta bago, desde a sua despedida da Terra da Alegria.

 Boa tarde Luis

Ontem estive com um antigo camarada e amigo, o Manuel Elvas, que por coincidência tem casa e passa férias na Areia Branca.

 Como te vais aperceber pela leitura é apenas uma estória que reúne pessoas muito diferentes num objectivo solidário e que tem origem numa amizade de 48 anos e que teve origem na Guiné.

Segue em anexo e se achares interessante publica. Como sou muito "despachado" a escrever, se detetar erros, corrige por favor.

Abraço, Luis Mourato


Elementos para a história do Pel Caç Nat 63 (último comandante: Manuel  Elvas, Fá Mandinga e Mato Cão, 1973/74;  autor de "O Vale dos Malmequeres", Chiado Books, Lx, 2017,  46 pp.); Luís Mourato Oliveira (último cmdt, Pel Caç Nat 52, Mato Cão e Missirá, 1973/74)



Luís Mourato Oliveira, nosso grão-tabanqueiro nº 730, foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é lisboeta,fez o Liceu Pedro Nunes, é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol, tem fortes ligações à minha terra natal, onde agora vivo, Lourinhã, Oeste, Estremadura; desde que se reformou, tem mantido e reforçado a sua ligação à Guiné-Bissau, em projetos de solidariedade. 

Técnico inscrito na Federação de Andebol de Portugal, tem apoiado e fomentado a modalidade na Guiné-Bissau, nomeadamente entre as camadas mais jovens, incluindo as raparigas, tendo começado por criar uma “oficina de andebol” na escola privada Humberto Braima Sambú. 

Não tenho notícias dele, nem o tenho visto na Lourinhã nem na Praia da Areia Branca. 



Conhecemos-nos em 1973 na Guiné-Bissau. Ele comandante do Pelotão de Caçadores Nativos 63,  então aquartelado em Fá Mandinga,  e eu quase ao lado no Pelotão de Caçadores Nativos 52, em Mato de Cão. 

Naquele tempo fazíamos facilmente amizades. Éramos jovens estávamos longe da família e de tudo o que nos era próximo e com que tínhamos crescido. De momento para o outro éramos homens e soldados e os nossos irmãos eram os companheiros de armas que como gémeos vestíamos de igual, partilhávamos do que dispúnhamos e até nas confidências o relacionamento era de confiança. 

Estou a falar do Manuel Elvas, comandante do Pel Caç Nat 63: na altura visitei-o em Fá Mandinga e para além do acolhimento fraternal recordo a única água pura e cristalina que bebi na Guiné sem ter de passar pelos filtros que a tornavam bebível. Foi ele que me rendeu com o 63 em Mato de Cão tendo na altura sido o 52 transferido para Missirá.

Os contactos mantiveram-se através de encontros na sede de batalhão em Bambadica e após o 25 de Abril na expectativa do regresso a Portugal, o Manuel que tinha reunido objectos de
recordação para trazer e sabendo que a minha bagagem era apenas a farda e dinheiro para o táxi do aeroporto até Campo de Ourique onde então residia, pediu-me para trazer alguns
haveres dado o seu regresso não estar ainda programado o que acedi imediatamente. 

Alguns dias após a minha chegada fui fazer a entrega na morada indicada e até pensei haver engano.

A residência indicada era um magnífico palacete do princípio do século XIX onde fui recebido pelos seus familiares com toda a simpatia. O insólito consistia na imagem que tinha do Manuel, homem simples, discreto, de gargalhada fácil mas contida, inteligente nos pareceres e proporcionando sempre um diálogo interessante e elevado.

O nosso relacionamento continuou em Lisboa. O Manuel tinha um restaurante que frequentei, não por favor ou amizade, mas cuja cozinha genuinamente portuguesa convidava a repetir, só é impossível repetir o prazer para o palato dos filetes de Peixe Galo com arroz que desafiavam e qualquer gourmet não dispensava.

 Recordo que foi ali o jantar oferecido a amigos quando do meu terceiro casamento e daí mais uma memória relevante para mim.

O restaurante alterou posteriormente a sua oferta e o Manuel com a colaboração de um soldado do Pel Caç Nat 63, oriundo da região da Bairrada,  passou a servir exclusivamente leitão. 

Foi um sucesso e, para além de enormes elogios nas revistas da especialidade que o obrigavam a horas extras e aos clientes a pedido de reserva,  tinha orgulho de servir o melhor leitão em Lisboa, senão mesmo no País.

Os encontros com o Manuel continuaram, por vezes mais espaçados mas em setembro (de 2022) juntámos-nos na Praia da Areia Branca. Tal como eu ele elege este local como um dos seus preferidos e onde tem residência. 

É sempre um enorme prazer privar com o Manuel e nesse encontro lá lhe passei a narrativa das minhas missões de voluntariado em Bissau sempre associadas às inevitáveis comparações da Guiné do período colonial com a dos dias de hoje.

Sem saudosismos e conscientes que os sistemas coloniais não servem os povos, resta-nos a tristeza justificada pela atual situação social e política que infelizmente nada trouxe de melhor para o povo guineense.

Sempre que posso, envio bens para os meus irmãos guineenses pela via marítima mas quando me desloco a Bissau transporto tudo o que é possivel e pode ser útil numa sociedade com tantas carências e o Manuel sabendo disso pôs-se imediatamente à disposição para me facultar bens tão necessários como roupa e telemóveis para eu levar e distribuir de acordo com as necessidades locais, e encontrámos-nos para a entrega. 

Tinha comprado o livro “Estórias Cabralianas”, do saudoso Alfero Cabral, também antigo comandante do 63, para lhe oferecer e fiquei mais uma vez surpreendido com o Manuel. Também tinha uma oferta para mim. Um livro com o titulo “O Vale dos Malmequeres”, da editora Chiado Books e o nome do autor que o exemplar exibia era Manuel Elvas.

Não comecei a ler porque o reservo para a minha leitura em Bissau para onde parto dia 26, mais uma vez para colaborar na área da formação desportiva com clubes filiados na Federação da Andebol da Guiné-Bissau mas trata-se de um livro cuja narrativa são memórias que trazemos da Guiné então Portuguesa, sem serem estórias de guerra são estórias dos conflitos interiores que todos trouxemos e que ainda não conseguimos nem conseguiremos pacificar.

Espero também encontrar as estórias de fraternidade e dos sentimentos de amizade e confiança que se mantiveram durante quase cinquenta anos que levam que pessoas tão diferentes como eu e o Manuel se encontrem, se respeitem e mantenham valores comuns e que hão-de prevalecer.

Manel,  esta foi mais uma surpresa que me apanhou desprevenido. A tua discrição e sobriedade escondem talentos como a liderança, a gastronomia e agora a escrita. Espero que tenhas saúde e longa vida e fico expectante mas não desprevenido para outras surpresas.

Lisboa 13 de Novembro de 2022.
_________________ 

 Nota do editor LG:

(*) "O Vale dos Malmequeres", de Manuel Elvas. 

Sinopse: Tal como uma árvore sem raízes não vinga, assim uma causa sem líder é inútil. Os jovens dos anos sessenta e princípios dos anos setenta foram obrigados a suportar sacrifícios incomensuráveis numa guerra colonial que os viria a marcar para toda a vida. 

 A união que prevalecia entre eles quando regressaram à pátria, nunca surgiu com força capaz de fazer valer suas aspirações que não eram mais que o reconhecimento do martírio que haviam suportado. Faltou-lhes um líder.

 Alguém que unisse os elos da corrente tornando-a inconcussa. Alguém que abraçasse todos aqueles que numa desesperação aflitiva deixaram de acreditar na esperança, na vida. 

 Este livro não fala sobre a guerra, antes descreve como teria sido tudo diferente se esse líder tivesse surgido. O romance além de espelhar uma multiplicidade de sentimentos conduz-nos a um mundo de esperança ainda que cientes das desgraças que possam advir. 

 O sonho necessita de dois ingredientes essenciais: vontade e determinação.

 Fonte: ado Books ( com a devida vénia).