Pesquisar neste blogue

Mostrar mensagens com a etiqueta gastronomia. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta gastronomia. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27240: No céu não há disto: Comes & bebes; sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (49): Peixinhos fritos, no Douro Bar Petiscaria, junto à Barragem do Carrapatelo; à mesa, os fantasmas do Zé do Telhado e do Serpa Pinto


Foto nº 1 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Entrada: fritada de peixe-rei e diversos ciprinídeos, apresentada com limão e salsa. 



Foto nº 2 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Entrada: enguias fritas... (durante muito tempo a enguia andou desaparecida do rio Douro, devido às barragens, tal como a lampreia e o sável)


Foto nº 3 > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Prato principal: peixe frito (boga, lúcio e outros), acompanhado com arroz de tomate e feijão.




Foto nº 4 e 4A > Cinfães > São Cristóvão da Nogueira > Barragem do Carrapatelo > Douro Bar Petiscaria > 18 de setembro de 2025 > Vinho de autor, "Terras de  Serpa Pinto" (*)... Um agradável surpresa.

Fotos (e  legendas): © Luís Graça  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Cinfães, em matéria de viticultura, pertence à subregião de Baião, Região Demarcada dos Vinhos Verdes... enquanto a nossa Quinta de Candoz pertence à subregião de Amarante...  Em São Cristóvão de Nogueira, na margem esquerda do rio Douro, junto à Barragem do Carrapatelo, fui lá descobrir duas coisas que não há no céu:

(i) peixinho do rio Douro (!), frito, incluindo como entrada umas "enguias fritas" que estavam simplesmente  "divinais" (parece que a enguia-.europeia já estava  a voltar ao Carrapatelo em 2022, diz a EDP!)

(ii) um vinho branco, de autor (!), "Terras de Serpa Pinto"...

Éramos seis (cinco mulheres, incluindo a "chef" Alice, mais eu)... As entradinhas foram uma travessa de peixinhos fritos, juvenis, só com molho de limão e salsa, e mais um prato de enguias fritas; "peixe-rei", disse-me a simpática jovem senhora que nos serviu à mesa, cá fora, sob um toldo, em dia de calor, com vista para a albufeira e a Casa do Carrapatelo (na outra margem).

 E quem diz Casa do Carrapatelo diz logo ( ou pensa no) Zé do Telhado, cujo fantasma continua a povoar a serra de Montedeiras e estas terras das bacias do Douro, Tâmega e Sousa (**).

O prato principal foi uma travessona de peixe frito do rio (lúcio, boga e outros), acompanhada de um tacho de arroz de tomate e feijão... 

Bebemos duas... garrafas do "Terras de Serpa Pinto". Mais o pão,  a salada e os cafés. No final, pagámos 110 euros, com gorjeta.

 Seguramente que no céu, condomínio de luxo, será mais caro (***)...

Aqui fica o nome e o endereço deste achado: 

Douro Bar Petiscaria,
São Cristovão da Nogueira, Cinfães,  
Telemóvel: + 351 916 093 515


Tem página no Facebook. Diz que está sempre aberto. Mas não: fecha á terça.

2. Os nossos "vagomestres" deviam ser  especialistas em peixe de rio (e de... bolanha). Mas infelizmente não o são...

Aqui vão então algumas dicas para suprir essa falha. Com a ajuda do assistente de IA / Perplexity.

O melhor peixe do rio Douro, especificamente na albufeira da Barragem do Carrapatelo, para fritar, é a boga.  É de pequeno porte e sabor delicado. É tradicionalmente servida frita em casas ribeirinhas da região que deviam abundar, em tempos, mas hoje não. 

Hoje em dia  aqui apanham-se várias espécies de peixe, tanto autóctones como exóticas.  As principais espécies invasoras são o lúcio-perca, o achigã e o lúcio. A sua introdução nas nossas albufeiras teve um impacto muito negativo.

Peixinhos bons  par fritar: 

  • a boga (Pseudochondrostoma polylepis) é muito apreciada frita, crocante por fora, é tradicional nas margens do Douro;
  • barbo (Barbus bocagei) também pode ser preparado frito ou em caldeiradas, sendo consistente e saboroso; 
  • enguia (Anguilla anguilla), embora menos comum, também é servida; 
  • peixinhos do rio (vários ciprinídeos, da família da Carpa,  de pequeno tamanho), usados para frituras rápidas, apresentados, com limão e salsa, e normalmente acompanhados com arroz de tomate ou migas.

Espécies que se apanham hoje (mas um crescente número são espécies exóticas):

Os peixes nativos de maior destaque são o barbo, a boga e a enguia:
  • Barbos (Barbus spp.);
  • Boga (Pseudochondrostoma polylepis);
  • Enguia (Anguilla anguilla).

A carpa (Cyprinus carpio) não é nativa.  Entre os peixes exóticos capturados, nomeadamente na pesca desportiva e artesanal, estão: achigã, lúcio-perca, carpa e pimpão, sobretudo nas zonas profundas da albufeira:
  • o siluro (Silurus glanis), o grande peixe-gato europeu, predador de topo, pode chegar a medir mais de 2 metros e pesar até 100 kg: é uma ameaça crescente para o rio Douro;
  • o achigã (Micropterus salmoides) é outra "praga", sendo originário da América do Norte: é um predador voraz de ovos e juvenis de peixes nativos; 
  • o lúcio (Esox lucius): espécie da Europa Central e Norte da Ásia, foi introduzida para a pesca desportiva.
Todos estes peixes têm valor algum comercial e são apreciados na gastronomia local. E inclusive já aparece nas bancas de peixe dos nossos hipermercados.

Outras espécies exóticas que representam ameaça ao ecossistem
a: 
  • Lúcio-perca (Sander lucioperca)
  • Ruivaco (Rutilus rutilus)
  • Alburno (Alburnus alburnus)
  • Pimpão (Carassius carassius)

3. A  EDP  diz que está a fazer a  monitorização das eclusas de peixes no Douro (esperemos que não seja "show-off"). É  um mecanismo que facilita a migração de peixes no rio; os resultados recentes são positivos e mostram que há espécies nativas a transpor as barragens; o projeto da EDP esteve em destaque na celebração do "World Fish Migration Day",  em 2022.


Num artigo publicado há mais de 3 anos, a EDP Global disse:

(...) Criadas para facilitar a passagem de peixes, as eclusas são um mecanismo essencial para garantir a biodiversidade e a proteção das espécies fluviais. 

A monitorização da ictiofauna que utiliza as eclusas de peixes está atualmente em operação em cinco barragens: Crestuma-Lever, Carrapatelo, Régua, Valeira e Pocinho.

Os resultados deste projeto demonstram, por exemplo, que uma espécie migradora em risco de desaparecimento, como é o caso da enguia-europeia, tem utilizado as eclusas para chegar à albufeira da Valeira, a 145 quilómetros da foz do rio Douro. 

É nas áreas a montante que crescem e se preparam para voltar ao mar, onde se reproduzem – no espaço de ano e meio, foram contabilizadas quase 25 mil enguias na barragem de Carrapatelo.

 Também já se observou o aparecimento de outras espécies nativas, como a solha das pedras, a truta marisca, o peixe-rei ou o robalo-legítimo.(...)

O investimento que foi feito para modernizar o funcionamento das eclusas, espera-se que venha a contribuir para que "outras espécies migradoras, como a lampreia e o sável, possam também transpor as barragens do Douro num número expressivo". 

Oxalá assim seja, senhores da EDP, de quem eu sou fidelíssimo cliente até agora!

 O projeto também permite detectar a presença de espécies invasoras (como a achigã ou o peixe-gato-negro).

(...) A presença do lúcio, lúcio-perca e achigã na bacia do Douro representa um dos principais desafios ecológicos contemporâneos da região. 

Proteger as espécies autóctones exige um esforço coordenado entre cientistas, autoridades locais e a sociedade civil. (...)

(Pesquisa: LG + Assistente de IA / Perplexity)

(Condensação, revisão / fixação de texto, negritos: LG)

________________

Notas do editor LG:

(*) Alexandre Alberto da Rocha de Serpa Pinto,(1846-1900),  militar, explorador e administrador colonial, é filho de Cinfães.

(**) Vd. poste de 21 de setembro de 2025 Guiné 61/74 - P27238 : As nossas geografias emocionais (58): Rio Douro: Nos caminhos do Zé do Telhado: Barragem e Casa do Carrapatelo

(***) Último poste da série : 7 de setembro de 2025 > Guiné 61/74 - P27193: No céu não há disto: Comes & bebes; sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (48): Jaquinzinhos da "arte xávega" da Praia da Vieira, azeitonas, arrozinho de tomate, pão, e vinho... Um home mata a sua fome e a sua sede..

domingo, 7 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27193: No céu não há disto: Comes & bebes; sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (48): Jaquinzinhos da "arte xávega" da Praia da Vieira, azeitonas, arrozinho de tomate, pão, e vinho... Um home mata a sua fome e a sua sede...

 


Foto nº 1 > Lourinhã > Chez Alice > 28 de agosto de 2025 > Jaquinzinhos fritos. Vieram da Praia da Vieira. Captura: pesca artesanal, arte xávega...Um produto cada mais vez "gourmet", isto é, só para os ricos... Estavam há dias na praça da Lourinhã a 24 euros o quilo. Estes foi a minha "vizinha francesa", Odette,  que os trouxe da Praia da Vieira, Marinha Grande... Fizemos, lá em casa, um almoço luso-francês..


Foto nº  2 > Lourinhã > Chez Alice > 28 de agosto de 2025 >  Um "arrozinho de tpmate"... Diz a "chef": em havendo tomate, toda a cozinheira é boa...Ou como diz o ditado, "em época de tomates, não há maus cozinheiros!"...




Foto nº  3 > Lourinhã > Chez Alice > 28 de agosto de 2025 >  Em havendo azeitonas...


Foto nº  4 > Lourinhã > Chez Alice > 28 de agosto de 2025 > ... em havenod m queijinho fresco (de preferência, de cabra, ou melhor ainda, um  requeijão de Serpa (cada ada vez mais raro, que os cabrões não dão leite)...



Foto nº  5 > Lourinhã > Chez Alice > 28 de agosto de 2025 > ... em havendo um pepino, cortado aos pedaços, com sal e orégãos... 

Fotos (e legendas): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Mais o pão, o azeite, o tintol... um home mata a sua fome e a sua sede... Que a viagem para a "outra banda" é (in)certa, longa e dura... Os antigos egitos levavam com eles as necessárias virtualhas...

E sobretudo é uma viagem que não tem retorno. Por isso dizemos que é a última. A despedida da Terra da Alegria, Um home tem que se aviar em terra, antes de se meter a caminho pelo mar dentro da eternidade. O mar é e será sempre o apelo da sereia. A miragem. O adamastor. A negrura. A aventura. A liberdade.  A saudade. O fio de Ariadne. O mar onde a gente se perde. De vez.

Ainda anteontem, sexta, fui a Amarante ver uma exposição sobre o escritor amarantino, Teixeira de Pascoais (1877-1952). Talvez tão injustamente esquecido. O nosso poeta-filósofo da saudade.  Não sei se ele gostava de janquizinhos. Não é coisa que haja no rio Tâmega. Sei que era vitivinicultor. Da Casa Gatão. Um vinho verde que chegava à Guiné no meu tempo. Lá não havia janquizinhos. Nem choco frito. Nem enguias fritas ou de ensopado. Nem massada de navalheiras. Nem arroz de lavangante. à moda do "chef" Chico Mateus. E da gente da terra da minha bisav´´o, a Ti Augusta Maçariça. Tudo coisas de que vou sentir falta quando morrer. Saudades, muitas. No céu não há disto...

Sim, no céu não há disto. Também é verdade que me esforcei pouco para merecer o céu. Talvez aprenda a lição quando voltar para viver a minha segunda vida. Quando voltarmos. Acho que mereço uma segunda oportunidade.Está a ouvir, ó "vagomestre" ?!... Eu e os meus camaradas da Guiné...  Oiu talvez náo, dirão os meus inimigos. Os nosos inimigos. 

Que tenham um bom resto de verão, os "vagomestres" da Tabanca Grande!.. Para  semana temos as vindimas. Há menos uvas do que o ano passado. Coisa de uma pipa, diz o "engenheiro". Mas a qualidade parece ser ótima. A tia Nita vai velando por nós. É o nosso bom irã.

2. As azeitonas, o pão, o vinho... estão no nosso imaginário. Só os portugueses, "petisqueiros",  comem azeitonas, dizem os italianos. O nosso hábito de comer azeitonas curtidas (ou temperadas, nuns sítios com orégãos, noutras com laranja, ) como entrada, petisco ou acompanhamento,  é muito antigo e está muito enraizado na cultura popular, de Norte a Sul..  Servem-se em tabernas, casas de pasto, restaurantes e em casa, antes da refeição, com pão e vinho.

A Itália tem muita oliveira, produz muitas variedades de azeitona (para azeite e mesa), mas não há tanto o  hábito de comer azeitionas, com pão e vinho,  em casa ou servidas no prato antes da refeição. O uso é mais "culinário" (na "pizza", por exemplo).

E a propósito de pão, lembro-me sempre de uma das quadras mais célebres do "marafado" do António Aleixo: “O pão que sobra à riqueza, /distribuído pela razão, /matava a fome à pobreza /e ainda sobrava pão.”

E já que estamos em maré de provérbios populares, fiquem com mais estes:

  • "Com pão e vinho se anda o caminho"...  (leia-se:  o essencial da vida está nestes dois alimentos; dão sustento e energia.
  • "Pão com azeite e vinho, fazem bom vizinho"... (leia-se: partilhar comida simples fortalece laços comunitários, de amizade e bioa vizinhança).
  • "Onde entra o vinho e o pão, pouca coisa falta não"... (leia-se:  se há o básico, não falta quase nada para viver; ou como diza o velho Zé Carneiro, em Candoz: "cá em casa nunca faltou o pão e o vinho"...)

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Guiné 61/74 - P27177: Ser solidário (287): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (15): Cancoran II, e Convite para a apresentação do projecto de construção de uma escola na Guiné-Bissau e jantar com prova de produtos da Guiné-Bissau, a levar a efeito no próximo dia 13 de Setembro, a partir das 16h30, na Associação Macaréu, Rua João das Regras, 151 - Porto (Renato Brito)

1. Mensagem com data de 30 de Agosto de 2025 do nosso amigo Renato Brito, voluntário, que na Guiné-Bissau integra um projecto de construção de uma escola na aldeia de Sincha Alfa, trazendo até nós a Cartolina número 15:

Bom dia Carlos Vinhal,
Com a presente venho por este meio partilhar a “cartolina” que prossegue com a campanha de angariação de fundos para construir uma escola na aldeia de Sintcham Arafam – Guiné-Bissau.
Divulga a apresentação do projeto no Porto no dia 13 de setembro. Será dado ênfase ao modo de criar uma horta no terreno com 5.400 m2 doado ao projeto.
Todos bem-vindos!

Cumprimentos,
Renato Brito


Macaréu - Associação Cultural
Rua João das Regras, 151 – Porto
https://macareu.org/2019/03/09/apresentacao/
13 de Setembro de 2025 –16:30
Preço do jantar: 12 euros
Marcações através do seguinte mail:
macareu.porto@gmail.com

_____________

Notas do editor:

Vd. post da série de 19 de junho de 2025 > Guiné 61/74 - P26938: Ser solidário (285): Bilhete-postal que vai dando notícias sobre a "viagem" da campanha de recolha de fundos para construir uma escola na aldeia de Sincha Alfa - Guiné-Bissau (14): Mercado de venda de produtos em segunda-mão no dia 21 de junho na cidade de Bressanone – Região Italiana do Alto Adige (Renato Brito)

Último post da série de 4 de agosto de 2025 > Guiné 61/74 - P27090: Ser solidário (286): Almoço-Convivio da Associação Anghilau, dia 14 de Setembro de 2025, às 12h30, no Restaurante da Quinta de Santo António, na Malveira (Manuel Rei Vilar)

domingo, 13 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27011: Tabanca da Diáspora Lusófona (35): O meu "Four of July", aniversário da grande Nação Americana, em que os cachorros quentes ("hot dogs") e hambúrgeres grelhados da tradição foram substituídos pelo nosso bom bacalhau (João Crisóstomo, Nova Iorque)








EUA, Nova Iorque > Queens > Casa do João & Vilma > A "máquina de cortar bacalhau" e algumas peças do núcleo museológico" do casal.

Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2025). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona

Data - domingo, 6/07/2025, 23:52 (há 6 dias)

Assunto - O Meu "Four of July" 

Meus caros:

Só para dar sinal de vida…

Este poste, embora destinado primeiramente aos camaradas luso-americanos, é extensivo a todos os camaradas que, mesmo não sendo luso-americanos, façam uma visita aos nossos blogues. Pois para dar sinal de vida e dar um abraço a quem queremos bem qualquer ocasião é boa.

Os Estados Unidos estão celebrando hoje mais um aniversário e não foram circunstâncias várias (incluindo de saúde,  que os oitentas já se fazem sentir) esta ocasião seria motivo para eu passar parte do dia ao telefone tentando cavaquear um pouco com os meus camaradas luso-americanos.

Tal não me foi possível, mas no caso de os nossos editores acharem que vale a pena incluir o que segue, aqui vai com um abraço para todos.

Se tivesse tido ocasião de falar ao telefone com os meus amigos, muito provavelmente não deixaria de lhes contar como passei o meu "Four of July”. É que embora não tivesse sido nada de especial, este não deixou de ser curioso ou invulgar por ter misturado diversos sabores e lembranças,  Guiné, Eslovénia, Estados Unidos e Portugal. Mesmo arriscando ser insonso, que os meus dotes de narrador não dão para mais, deixem-me explicar:

No passado dia 22 de junho, a “Academia de Bacalhau de Long Island” festejou o seu 14º aniversário. Depois dum bom almoço, entremeado com vários brindes (“Gavião do Penacho, de bico pra cima... de bico pra baixo....vai acima ,vai abaixo…etc. etc. ";  no caso de não saberem ou não se lembrarem o que são, vejam o poste P22494 de 28 de Agosto de 2021), festejando o aniversário da Academia e dos aniversariantes do mês de junho, entre os quais eu me contava, procedeu-se ao leilão dum enorme e belo cabaz que o recheio era bom: vários chouriços; pão caseiro (bem português, feito em casa dum dos compadres, que à semelhança da Tabanca, neste caso também somos todos simples compadres, sem títulos); um presunto, duas garradas de vinho, uma caixa de bolos sortidos etc.

E, no final, o leilão dum bacalhau. Pois não querem saber que a Vilma decidiu que o bacalhau desta vez tinha de ser nosso? E lá foi cobrindo os lances, arrematando sempre até que os outros competidores acharam que estavam a perder o seu tempo e o bacalhau veio mesmo para nossa casa.

O problema foi quando cheguei a casa. "Como vou cortar agora este bacalhau em postas "?,  pensei eu. E comecei a cogitar como me desenrascar, até que me veio uma ideia : usar uma catana, cópia duma que trouxe da Guiné que tenho guardada há bastante tempo. É que nas paredes do meu apartamento constam alguns artefactos da Guiné, Timor Leste, etc., como recordações.

Entre estas recordações constava uma catana, que com as minhas várias mudanças de Pilatos para Herodes ( Inglaterra, França, Alemanha, Brasil, e USA) acabei por perder. Mas aqui há uns anos atrás um vizinho, surpreendido com o meu interesse por uma catana que ele me mostrou e me lembrava a que eu tinha trazido da Guiné, logo ma ofereceu.

 E foi a solução: com duas tábuas e um buraco que consegui perfurar no fim da lâmina da catana arranjei uma engenhoca a imitar um utensílio que tenho visto em lojas quando compro bacalhau. E deu certo…

Os cachorros quentes ("hot dogs") e hambúrgueres grelhados que são a tradição neste dia de aniversário da Nação Americana,  foram pois substituídos pelo nosso bom bacalhau. Eu até já me tinha esquecido que um dia, na véspera da Natal, em vez do "bacalhau com todos”, eu quis mostrar à Vilma que o bacalhau também podia ser cozinhado sem água, preparado apenas com azeite, camadas de cebola, bacalhau e batatas.

A Vilma gostou e foi a lembrança desse prato que a levou a arrematar com sucesso o bacalhau em leilão e a trazê-lo para casa. Que este ano o aniversário da América tinha de ser celebrado também com sabores portugueses e eslovenos. 

E assim foi. A comida eslovena foi representada por uma belíssima salada em que ela é perita: alface, "arugula" (Eruca sativa) (ou rúcula),e agriões, rodelas de cebola e ovos cozidos, "avocados" (abacate) e maçã, feijão e batata cozida…estava mesmo uma delícia. E a vertente portuguesa estava bem representada pelo prato de bacalhau que um dia lhe preparei e que ela não esqueceu mais.

Bom, eu tinha de arranjar maneira de dizer aos meus camaradas que, mesmo escrevendo pouco eu não deixo de ler e seguir com interesse o nosso querido e fabuloso blogue "Luis Graca & Camaradas da Guiné", o blogue da "Magnífica Tabanca da Linha” e de vez em quando ainda outros, perseverados com tanto carinho pelos seus editores e por tantos camaradas que os alimentam com a sua participação. Bem hajam!

De coração um abraçø grande de amizade e gratidão a todos vocês.

João Crisóstomo, Nova Iorque, 4 de julho de 2025
__________________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 23 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".

quinta-feira, 27 de março de 2025

Guiné 61/74 - P26623: No céu não há disto: Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (47): Um prato duriense, que se comia na Quaresma, "sável frito com açorda de ovas" (e que vai bem com o "Nita", da Quinta de Candoz, um DOC verde, branco, colheita selecionada, 2023, diz a "Chef" Alice)




Alfragide > 23 de março de 2025 > Um prato duriense, "sável frito com açorda de ovos", que vai bem com o "Nita", branco, verde, da Quinta de Candoz, colheita selecionada (2023)... A sugestão é da "Chef" Alice...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Caros leitores: dou conta que desde maio do ano passado que não têm aparecido no blogue as tradicionais sugestões gastronómicas dos nossos vagomestres (*)...

 E, a propósito, por onde é que eles andam ? Há tempos pusemos um anúncio: "Vagomestres, precisam-se!"... Só apareceu um, o Aníbal José da Silva (**)...

Mas todos os dias a malta  tem de comer, mal ou bem... Nas nossas "messes" e "ranchos"... Cada vez pior, diz o povo...E ele há coisas que vão desaparecendo das nossas mesas: caça, peixe, marisco, vitela, queijo e requeijão de Serpa... Quem é que lhe chega ? 

O vagomestre, com a pandemia de Covid-19, habituou-se aos enlatados: atum com grão de bico, cavalas em óleo de girassol,  sardinha em óleo picante com pickles, etc. E aos congelados... 

Mas, feitas as contas ao quilo, até o raio das conservas de peixe estão pela hora da morte... E até os petiscos dos pobres passaram para o cardápio dos ricos, do bacalhau ao polvo, do berbigão à sapateira, do sável à lampreia...

 Será que ainda se fazem as "iscas com elas" ?  E ainda há quem faça "tomates de carneiro com ovos mexidos" ?...

O que desapareceu, do nosso tempo, foram também as tascas, com serradura no chão e pipos de tinto carrascão na parede, mesas de tampo de mármore e mochos de madeira em vez de cadeiras de plástico...

Mas estamos numa época boa para certos "petiscos" como as favas suadas, as casulas com butelo ou o sável frito com acorda de ovas... Foi o que a nossa "chef" Alice fez para celebrar os dois mesinhos da segunda neta, a Rosinha (nascida a 23 de janeiro)... Dizem os comensaios que foi comer e chorar por mais (o sável foi generoso, tinha dois quilos e meio e trazia as ovas...). 

Era um "prato" que se comia à mesa dos pobres, na Quaresma, por várias razões que se podem enumerar pelos dedos:

  • era a altura do sável (e da lampreia) subir o rio Douro para desovar (ainda não havia barragens); 
  • os pobres não compravam a bu(r)la ao senhor abade;
  • os "rendeiros" não podiam comer carne mas precisavam de proteína para trabalhar os socalcos do seu "senhor e amo";
  • o sável vendia-se de porta em porta, uma fiada enorme de peixe enfiado num longo varapau às costas do pescador de rio; 
  • tinha muitas espinhas, era preciso engenho, arte e paciência para o saber cortar fininho e fritá-lo em azeite...

Ele há coisas que não há no céu... E que não têm preço. E que, por isso, não passam pelo estreito dos bilionários... E uma delas é, para além do "cebolinho do talho",  seguramente a açorda de ovas com sável frito, com um toque muito especial do alho e do coentro (que era do Sul, dos ganhões, e que por isso não ia à mesa do rei)... 

Tudo à moda da "Chef" Alice, segundo uma receita antiga da família da Quinta de Candoz, que ainda é do tempo do extinto concelho de Bem Viver e das pesqueiras do rio Douro que tinham foral do senhor Dom Manuel , o Venturoso.

_________________

Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 13 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25517: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (46): Viva o po(l)vo... da Lourinhã!

(**) Vd. poste de 18 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26595: Vivências em Nova Sintra (Aníbal José da Silva, Fur Mil Vagomestre da CCAV 2483/BCAV 2867) (3): A Alimentação

domingo, 2 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26449: As nossas geografias emocionais (38): Sítios em Bissau que faziam parte do no nosso roteiro dos comes & bebes: Restaurante Pelicano, Café Bento, Cervejaria Somar

 


Guiné > Bissau > s/d (c. 1970) > Restaurante Pelicano e vista da marginal (hoje Av 3 de Agosto=... Foto de autor desconhecido, e do domínio público, reproduzida provavelmente de revista de turismo ou brochura de propaganda da província da Guiné Portuguesa. Também podia ser um "postal ilustrado" da época... "Guiné Melhor" remete para a polìtica spinolista (1968/73)... De qualquer modo, a imagem nunca pode ter sido criada em 1960, como diz a Wikidata: o Pelicano foi inaugurado em finais de 1969... Cortesia de Delcampe / Wikidata.

Guiné-Bissau > Bissau > 1996 >  "Pelicano,  Restaurante, Bar, Night Cub"... Um quarto de século depois da sua inauguração (em finais de 1969) já tinha alguns sinais de decadência e degradação... Em 1970 era" o melhor café-esplanada de Bissau", diz o autor da foto, o Humberto Reis, ex-fur mil OE, CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71)... (Ninho de camarão era uma das suas especialidades, mas também as ostras com lima e priripiri; vários militares trabalhavam aqui como empregados de mesa)... O fotógrafo voltou ao "local do crime" em 1996...Fica na marginal (antiga Av Oliveira Salazar, hoje Av 3 de Agosto), no enfiamento do Baluarte da Puana do Forte da Amura, à direita da estátua do Diogo Cão (que foi derrubada).

(Foto "capturada", sem menção de autor, pela página do Facebook da Society for Promotion of Guinea-Bissau, uma ONG, com sede emBissau, mas de origem brasileira.)

Foto (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné-Bissau > Bissau > s/d >  "Pelicano" > Foto de autor desconhecido, reproduzida na página do Facebook da Society for Promotion of Guinea-Bissau (criada em 2018) (as fotos capturadas por esta página não tem menção de autor, o que é n0 mínimo estranho).

Vd. aqui a localização exata do Restaurante Pelicano (na Mapcarta)

Guiné-Bissau > Bissau > Av Amílcar Cabral (antiga Av República, rebatizada  em 1975) >   2001 >  À esquerda a Pensão D. Berta ou Pensão Central... A saudosa Berta de Oliveira Bento, cabo-verdiana radicada na Guiné Bissau há várias décadas, faleceu  em 2012, aos 88 anos. Não deixou filhos, mas tinha muitos amigos. O edifício ficava a seguir à Catedral de Bissau, do lado esquerdo de quem desce, da antiga Praça do Império até ao Geba... 

Guiné-Bissau > Bissau > 2001>  Bomba da GALP... Era aqui o antigo Café Bento ou a famosa 5ª Rep do nosso  tempo..  Ficava na esquina da Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana, com a Av da República (hoje Av Amílcar Cabral). O posto de combustível da GALP era então único na Bissau Velha. A sede da delegação da RTP África também ficava aqui perto.

O Café Bento era um dos nossos locais de convívio preferidos. Tantos os gajos da PIDE como do PAIGC tinham lá os seus "ouvidos" (informadores)... Curiosamente, era um bom alvo para um ataque terrorista... o que nunca chegou felizmente  a acontecer (por medo ou bom senso do IN).


 Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Praceta junto ao Forte da Amura (construção militar setecentista), por detrás do Zé da Amura, que ficava na rua Capitão Barata Feio (hoje, Rua 24 de Setembro)... Confunde-se, ainda hoje,  o Zé da Amura com o Café Bento (que ficava na Rua Tomás Ribeiro, hoje Rua António Nbana).

Fotos (e legendas): © David Guimarães (2001). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Guiné > Bissau > Café Bento > c. setembro de 1972 >  
Foto tirada na esplanada do café Bento, local de encontro não só para quem prestava serviço na cidade, mas também para muitos que pelas mais variadas razões passavam por Bissau

Era cerca de meia noite quando a foto foi tirada, estávamos todos muito animados… Os três que estão trajados à civil não eram da minha aldeia, Moleanos, com o posto de primeiro sargento enfermeiro prestavam serviço no hospital militar de Bissau. O que está com o copo na mão era nosso vizinho, de Alcobaça, o primeiro sargento Canha.

Dos que estávamos com farda militar, o do centro era eu, Jerónimo, a primeira vez que vim de férias, o  outro, a seguir ao Canha,  era o Inácio (António Ferreira da Silva Inácio, pertencia à polícia militar, o único da nossa aldeia que passou todo o tempo de comissão em Bissau); e o último da direita era o Faustino (José Fernando Pimenta Faustino, de seu nome completo, assentou praça em em agosto, era soldado condutor auto, embarcou, em rendição individual, para a Guiné em 12 de março de 1971, no navio Uíge; esteve seis meses em Teixeira Pinto, CAOP 1, o resto da comissão foi passado em Bissau; veio uma vez de férias à metrópole; regressou por via aérea a de fevereiro de 1973).

Foto do álbum do António Eduardo Jerónimo Ferreira, (Évora de Alcobaça, Alcobaça, 15 de maio de 1950- Moleanos, Alcobaça, 19 de outubro de 2023) (ex-1.º Cabo Condutor Auto da CART 3493 / BART 3873, Mansambo, Cobumba e Bissau, 1972/74) 

Foto (e legenda): © António Eduardo Ferreira (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guiné > Bissau > Novembro de 1968 > Avenida do Império e ao cimo o Palácio do Governador. Foto tirada perto do café Bento (?)...


Guiné > Bissau > Abril de 1968  > O Virgílio Teixeira, "na esplanada do  café  Bento, o  sítio mais emblemático da cidade"...



Guiné > Bissau > Junho de 1968 > "No café Bento – a 5ª Rep – com mais alguns camaradas numa noite quente e húmida. Sou o segundo a contar da direita, de óculos escuros, a acender um cigarro".

Fotos do álbum  do Virgílio Teixeira, ex-alf mil, SAM, CCS / BCAÇ 1933 (Nova Lamego e São Domingos, 1967/69);

Fotos (e legendas): © Virgílio Teixeira (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Guine > Bissau > s/d (c. 1969) > "Eu e o Valdemar, salvo erro na Solmar, em Bissau"... Foto do Abílio Duarte (x-fur mil, CART 2479, mais tarde CART 11 e, finalmente, já depois do regresso à metrópole do Duarte, CCAÇ 11, a famosa Companhia de “Os Lacraus de Paunca” (Contuboel, Nova Lamego, Piche e Paunca, 1969/70); faz parte da Tabanca Grande desde 27/8/2010; tem mais de 7 dezenas de referências no blogue; está reformado como bancário do BNU - Banco Nacional Ultramarino; vive na Amadora)


Foto (e legends): © Abílio Duarte (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luía Graça & Camaradas da Guiné.]



Guiné > Bissau > Finais de fevereiro ou princípios de março de 1969 > > O Valdemar Queiroz na Solmar. Foto do seu álbum (foi fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70), membro da Tabanca Grande desde 16 de fevereiro de 2014; tem  200 referências no nosso blogue, de que é um leitor atento e comentador assíduo).


Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luía Graça & Camaradas da Guiné.]





Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil)


1. Caros leitores: agora temos que descobrir mais fotos e histórias do Restaurante Pelicano, do Cafe Bento, da Cervejaria Solmar  (*) e de outros sítios do nosso roteiro dos "comes & bebes" em Bissau (e, já agora,  arredores: Nhacra, Quinhamel, Cumeré...). 

Tudo isto faz parte das nossas geografias emocionais (**), da nossa memórias dos lugares, boas e más...

Estas "geografias" de Bissau são apenas emocionais. a "Bissau Velha" que conhecemos, já náo existe ou está irreconhecível... O que resta de pé é património dos guineenses, só têm a ganhar de o souberem preservar... 

A história faz-se também  com as sucessivas camadas dos vestígios do passado, sinalizando a passagem de diferentes povos... Lisboa é um exemplo, desde o calcolítico  aos romanos e aos árabes... Bissau era uma cidadezinha colonial, antes de se  tornar capital (destronando Bolama), desenhada a regra e esquadro no tempo da I República, que era tão colonialista como o Estado Novo... 

Não vamos branquear nem escamotear o passado...Bissau tem hoje outras marcas, novas arquiteturas pós-modernas, pós-coloniais, mas também neocolonialistas... Em todas há a marca da passagem e da interação de diferentes povos, épocas, poderes, assimetrias, ideologias, mitos...

Este exercício de exorcismo da memória pode ser patético, ou até infantil, saudosista... Chamem-lhe o que quiserem... Não estamos preocupados com o p0liticamente correto... Somos apenas um blogue de partilha de memórias (e de emoções). Náo somos historiadores. 

______________

Notas do editor:

(*) 31 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26443: Fotos à procura de... uma legenda (192): Bissau, agosto de 1974: qual a mais famosa esplanada da cidade ? Café Bento ou cervejaria Solmar ? E esta foto é da 5ª Rep ou da Solmar ?

(**) Último poste da série > 30 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26442: As nossas geografias emocionais (37): A Fulacunda do meu tempo (Jorge Pinto, ex-alf mil, 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)

domingo, 31 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P25020: No céu não hã disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (44): Bombons de Aguardente DOC Lourinhã e Tarte D. Isabel, da marca "Doce Lourinhã"

 

A tarte Dona Isdabel, um dos ex-libris da doçaria da Lourinhã .... Neste Natal trouxemos meia-dúzia de tartes para os fãs do Norte...

Os Bombons de Aguardente DOC Lourinhã... São de "morrer e chorar por mais"...

Imagens: cortesia de  www.docelourinha.pt


1. Em matéria de "comes & bebes" (*), nada como acabar o amargo ano de 2023 com uma fatia da tarte D. Isabel e um bombom "Doce Lourinhã"... 

São duas obras-primas, confeccionadas pela nossa amiga e conterrânea, a "chef" Sílvia Baptista, que tem mãos de ouro... É também ela a dona de Pastelaria e Bombonaria "Doce Lourinhã" e da Garrafeira "O Casco"...

Passe a publicidade... Fica na Rua Dr. Francisco de Sá Carneiro, Lt 22 R/Ch Dto. 2530-108 Lourinhã

Tel.: +351 910 121 280 (pastelaria) | Tel.: +351 918 710 871  (garrafeira).

Tem página no Facebook. E aceita encomendasd "on line".

Para saber mais aqui fica o sítio da Doce Lourinhã. Lê-se no sítio:

  • Os Bombons Artesanais “Doce Lourinhã” são confecionados com produtos de excelência. Como o Chocolate “VALRHONA”, considerado o melhor chocolate do mundo,  e a “Aguardente DOC Lourinhã”, única em Portugal.
  • Tarte D. Isabel | Esta saborosa tarte é confecionada com farinha selecionada, ovos frescos, Abóbora de qualidade e uma cobertura de Pevides que lhe dá um sabor único, original e inconfundível.
 
2. A Tarte D. Isabel concorreu, em 2019, às "7 MARAVILHAS DOCES DE PORTUGAL"

Lê-se na páginma do Facebook da Doce Lourinhã, em postagfem de 19 de março de 2019

(...) A Doce Lourinhã submeteu a inscrição da TARTE D. ISABEL a mais uma edição do programa 7 Maravilhas de Portugal, promovido pela RTP, e que este ano é dedicado ao melhor que se faz na doçaria tradicional portuguesa.

Intitulado 7 Maravilhas Doces de Portugal, o programa e a sua organização destacam como factores distintivos o produto endógeno, a marca da terra, a preservação da qualidade dos ingredientes, promovendo assim a capacidade que o país tem de inovar e de se reinventar nas suas tradições. Tendo como base estes critérios, está inscrita para a concurso na categoria Doces de Inovação.

* A Tarte D. Isabel resulta na boca num estaladiço inicial dando valor justo à pevide de abóbora tostada, caramelizada obtendo várias emoções na sua consistência e sabor equilibrado. No final um suave doce adequado da sua massa areada com recheio de abóbora.

* Segundo as estatísticas das 44 mil toneladas de abóboras produzidas na Região Oeste, cerca de 74% é armazenada e comercializada por empresas localizadas no concelho da Lourinhã, sendo o concelho com maior importância nacional ao nível da produção de abóbora. Existem cerca de 1500ha de abóbora na região, cerca de mil ha estão na Lourinhã. Esta é uma das razões pela qual o desafio de utilizar a Abóbora no seu todo na confeção da Tarte D. Isabel.

Além disso o seu nome foi em homenagem a Isabel Mateus. Co-fundadora da associação que criou o Museu da Lourinhã, que em Paimogo, Lourinhã descobriu e estudou um dos maiores e mais antigos ninhos de dinossauros do mundo, com ovo e embriões, colocando assim a Lourinhã no mapa mundo da paleontologia. Autora do primeiro esboço para a construção de um novo museu que vinte anos mais tarde culminou na criação do DinoParque Lourinhã. Eleita personalidade do ano 1997 (Revista Expresso). Recebeu também um prémio de reconhecimento em 2017 (ADL- Associação Desenvolvimento Lourinhã) e medalha municipal de Honra, classe Ouro em 2018 (Câmara Municipal da Lourinhã)"

_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de deembro de 2023 > Guiné 61/74 - P24988: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (43): Arroz de moiras com grelos ("Chef" Alice)

sexta-feira, 22 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24988: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (43): Arroz de moiras com grelos ("Chef" Alice)


Marco de Canveses > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 21 de dezembro de 2023 >  O arroz de moiras com grelos,à moda da "Chef" Alice...

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. A tropa e a guerra roubaram-nos pelo menos dois, três ou quatro Natais nas nossas vidas... Por isso, que os nossos leitores nos perdoem estas recordações profanas em tempo tão sagrado como esta quadra festiva em que comemoramos o nascimento, em Belém,  do deus feito homem dos cristãos... Há dois mil anos... Em que tanto a terra do Menino Jesus como a dos nossos antepassados lusitanos eram uma colónia ou província do Império Romano... (Na verdade, a gente não sabe o que eles comiam nem que língua falavam, herdámos e adaptámos a língua dos colonialistas romanos.)

 Mas eu pergunto-me também: será que os habitantes da cidade galaico-romana de  Tongóbriga, no Freixo, Marco de Cansveses, a escassos quilómetros da nossa Quinta de Candoz, já conheciam esta delícia da gastronomia da nossa terra, que é o arroz de moiras com grelos ? 

A resposta é não: ainda o arroz, oriundo do Extremo Oriente, não tinha chegado à Lusitània... Nem muito menos as moiras (e os mouros)...

O termo "moira" é usado aqui, na região duriense (ou do Baixo Douro) para designar uma "chouriça feita de sangue fresco e  carne de porco, temperos e vinho tinto verde"... Indispensável no cozido à portuguesa e, com mais razão, no arroz de moiras com grelos ou arroz de grelos com moiras (depende das quantidades)..Há mutas receitas na Net. É um prato típico aqui na nossa regiáo, Marco de Canaveses e Baião. Ceme-swe todo o ano, e agora é que sabe bem com o frio de rachar.

2. Em Tormes, que fica em Santa Cruz do Douro, Baião, também aqui perto de Candoz, ao alcance de um tiro de obus 10.5,  nem o Jacinto nem o seu criador, o Eça de Queiroz, alguma vez terão provado o "arroz de moiras com grelos"... 

Ou talvez, sim,  o Eça era um "gourmet"... Se tivesse comido, em vez das favas, teria feito o elogio do divinal arroz de moiras com grelos... Recorde-se aqui a antológica descrição (ou uma parte dela) da primeira refeição, no solar de Tormes,  do princípe Jacinto e do seu amigo Zé Fernandes em "A Cidade e as Serras":

(...) Uma formidável moça, de enormes peitos que lhe tremiam dentro das ramagens do lenço cruzado, ainda suada e  esbraseada  do calor da lareira, entrou esmagando o soalho, com uma terrina a fumegar. E o Melchior, que seguia erguendo a infusa do vinho, esperava que Suas Incelências lhe perdoassem porque faltara tempo para o caldinho apurar (...).

[Jacinto], desconfiado, provou o caldo, que era de galinha e rescendia. (...) Tornou a sorver uma colherada mais cheia, mais considerada. E sorriu, com espanto: 
-
−  Está bom!

Estava precioso: tinha fígado e tinha moela: o seu perfume enternecia: três vezes, fervorosamente, ataquei aquele caldo.

 − Também lá volto!   −  exclamava Jacinto com uma convicção imensa.   − É que estou com uma fome... Santo Deus! Há anos que não sinto esta fome.

Foi ele que rapou avaramente a sopeira. E já espreitava a porta, esperando a portadora dos pitéus, a rija rapariga de peitos trementes, que enfim surgiu, mais esbraseada, abalando o sobrado - e pousou sobre a mesa uma travessa a transbordar de arroz com favas. Que desconsolo! Jacinto, em Paris, sempre abominara favas!... Tentou todavia uma garfada tímida - e de novo aqueles seus olhos, que o pessimismo enevoara, luziram, procurando os meus. Outra larga garfada, concentrada, com uma lentidão de frade que se regala. Depois um brado:

 - Ótimo!... Ah, destas favas, sim! Oh que fava! Que delícia! 

E por esta santa gula louvava a serra, a arte perfeita das mulheres palreiras que em baixo remexiam as panelas, o Melchior que presidia ao bródio...

- Deste arroz com fava nem em Paris, Melchior amigo! 

O homem óptimo sorria, inteiramente desanuviado: 

- Pois é cá a comidinha dos rapaz da quinta! E cada pratada, que até Suas Incelências se riam... Mas agora, aqui, o Sr. D. Jacinto, também vai engordar e enrijar!

O bom caseiro sinceramente cria que, perdido nesses remotos Parises, o senhor de Tormes, longe da fartura de Tormes, padecia fome e mingava... E o meu Príncipe, na verdade, parecia saciar uma velhíssima fome e uma longa saudade da abundância, rompendo assim, a cada travessa, em louvores mais copiosos.  (...)

In: Excertos de: Queiroz, Eça de -  A Cidade e as Serras". Livros do Brasil, 2016, pp. 153/153 (Obras de Eça de Queiro, 8) (Fixação do tcxto e notas de Helena Cidade Moura).

sábado, 26 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24591: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (42): Saudades da caldeirada de peixe de antigamente... Valha-me a "Chef" Alice e o "chef" Tony Levezinho




Lourinhã > "Chez Alice" > 25 de agosto de 2023 > O almocinho hoje foi caldeirada de peixe para seis, incluindo a neta, o filho, a nora e a vovó da Madeira

Foto (e legenda): © Luís Graça (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Em matéria gastronómica, havia coisas na Guiné que eram um luxo, sendo difícil ao "pobre do vagomestre" fazer, já não digo uma surpresa, mas uma gracinha na messe (também já não falo do "rancho" onde se rapava fome...).  

No mato, não havia carne decente, não havia bom peixe, muito menos marisco... Uma vez por outra, lá se arranjava um cabrito, um leitão, umas galinhas raquíticas... e alguma caça: gazela, lebre, galinholas, javali... Mas isso era só para alguns, servido como petisco "semi-clandestino", fora da messe ou do rancho... Para se comer um "bifinho com ovo a cavalo e batatas fritas"(supremo luxo de um operacional do mato!)  só em Bafatá, Bissau e pouco mais...

Esses tempos de fomeca (houve gente que passou dois anos a comer arroz ou espargute com conservas...) vêm a propósito da carestia de vida hoje em dia: o preço do peixe disparou (e o melhor do peixe português vai para Paris, Roma, Madrid, Londres, Bruxelas...),  o polvo, os moluscos, o marisco, etc. que eram comida dos pobres e servidos nas tabernas do meu tempo de infância e adolescència, tornou-.se proibitivo para a maior parte das bolsas portuguesas.

Ainda me lembro, no anos 50/princípios dos anos 60,  da lagosta vendida na lota, em Porto das Barcas, Porto Dinheiro ou Paimogo a sete e quinhentos (escudos) o quilo (!), enquanto o tamboril se deitava fora, por ser muito feio, e por não ter valor comercial  nem gastronómico... A sapateira, a santola, a navalheira, o polvo, os ouriços do mar, as lapas, os mexilhões, os percebes, as enguias, etc. não íam à mesa dos ricos...

Tudo isto para dizer que é difícil, hoje em dia, comer uma boa caldeirada de peixe, num bom restaurante à beira mar, com cheirinho a maresia, a não ser pagando uma boa nota preta... 

Por isso eu prefiro ir ao "Chez Alice": com très ou quatro qualidades de peixe (raia, safio da barriga, cação, etc.), mais uns camarões, umas navalheiras e umas amêijoas para pôr no  fundo do tacho  e "não deixar torrar", faz-se uma caldeirada de cinco estrelas, mesmo assim relativamente económica e de fazer criar água na boca... 

Claro, a batata tem que ser boa, e a Lourinhã, nessa matéria,  é umas das melhores terras não só de Portugal como da Europa para produzir batata (de diversas qualidades)... Caldeirada com batata de puré é uma desgraça!... O resto é o gémio culinário do/a nosso/a chef(s)... Neste caso, a Alice (que aprendeu com a minha mãe a cozinha estremenha).

E, por favor, não estraguem a caldeirada adicionando-lhe umas sardinhas... gordas!... É um desastre culinário... Adoro a sardinha (que é também do mar do Cerro, Lourinhã, e desembarcada em Peniche), mas só grelhada, com uma batatinha e pimentos ou até  só com uma boa fatia de pão caseiro, comida de preferència na Tabanca do Atira-te ao Mar...

Bom apetite!

PS1 - Estou à espera da caldeirada  do Tony Levezinho, que tem ganho prémios nas festas dos pescadores em Sagres!... Ele prometeu vir aqui um dia à Lourinhã mostrar os seus dotes culinários (que de resto já tinham alguma fama em Bambadinca e que nós temos mostrado no blogue)...

PS2 - Com os restos da caldeirada (a "auguinha") faz-se uma sopa de peixc divinal para se comer à noite!... De massinhas. Picantezinha, como convém...

____________

domingo, 20 de agosto de 2023

Guiné 61/74 - P24571: No céu não há disto... Comes & bebes: sugestões dos 'vagomestres' da Tabanca Grande (41): "Frutos do mar" de Narvik, Noruega e... bifinho de novilho de alce de Kiruna...(Mas tenho inveja das nossas muito especiais amêijoas...) (José Belo, Suécia)


Suécia > Lapónia > Agosto de 2023 > "Os alces vitelos que vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa"

Foto (e legenda): © José Belo (2023). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem do nosso (ou "semi-nosso"), luso-sueco,  Joseph Belo (tem mais de  250 referências no nosso blogue, é membro da Tabanca Grande desde 8 de março de 2009); foi alf mil inf da CCAÇ 2381, "Os Maiorais", Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70; é capitão do exército português reformado; é jurista e empresário, vivendo atualmente entre a Suécia e os EUA):

Data - 20 ago 2023 2:23
Assunto . Petiscos e…inveja!... Principalmente inveja das amêijoas!



Inveja...  Principalmente inveja das amêijoas!

Tenho a cidade costeira norueguesa de Narvik a umas centenas de quilómetros da minha casa. [De Kiruna a Narvik, sáo cerca de 180 km, duas horas e meia a conduzir.]

É lá que compro bacalhau (fresco!) e marisco a preços muito baixos em relação aos portugueses actuais e, na Noruega, não são propriamente….pobrezinhos!

A lagosta, os lagostins e o camarão do Mar do Norte são fantásticos, não lhes ficando atrás o enorme mexilhão.

Tudo comprado em mercado no próprio cais.

Infelizmente fazem falta as nossas muito especiais amêijoas.

Quanto à carne fresca (!) uma imagem vale mais que mil palavras: os alces vitelos vêm comer maçãs junto às arrecadações nas traseiras da minha casa.


Um grande abraço, JBelo

2. Comentário do editor LG:

Zé, fico feliz por saber que, em matéria de comes & bebes, não te falta nada... (faltam-te as "small female Portuguese clams", mas , bolas!|, não se pode ter tudo, ou melhor, não sejas "abelhudo", não se deve ter tudo; para a próxima vens cá comè-las "chex Alice")...

Sem querer puxar a brasa à minha sardinha (a sardinha de Pemiche é pescada aqui em frente, no Mar do Cerro), temos na Lourinhã uma tradição, já antiga, de pesca, armazdenagem e distribuição de marisco ("frutos do mar)... Dizem que era negócio de judeus (leia-se: cristãos novos)... Os viveiros começaram por ser construídos nas rochas (Porto das Bracas, Porto Dinheiro, Paiomogp...).

Conheço pelo menos très grandes empresas, familiares,  que abastsecem as melhores marisqueiras do país, importam e exportam e tèm modernos "viveiros" aqui, no concelho da Lourinhá... Duas tèm inclusive restaurantes e loja de venda ao pública de marisco vivo... Passe a publicidade, aqui ficam os endereços, da mais  antiga para  a mais recente:


_______________

Nota do editor: