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terça-feira, 20 de junho de 2023

Guiné 61/74 - P24417: Convívios (966): Aquele que foi, historicamente, o último encontro da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), realizado em 5/11/2022, em Alenquer: os versos de despedida do Francisco Santos (o "Xico" do Montijo)


Alenquer, Restaurante D. Nuno > 5 de novembro de 2022 > CCAÇ 557 (Cachil,
Bissau, Bafatá, 1963/65): o último encontro, o último bolo...

Foto (e legenda): © José Colaço (2022). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de José Colaç0 (ex-Sold trms, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65):

Data: 19 jun 2023, 14:12:

Assunto: o último encontro da CCAÇ 557

Luís, cada vez temos menos assunto para dar vida ao nosso blogue, então lembrei-me de enviar estes versinhos que o nosso poeta popular Francisco dos Santos (o nosso Xico do Montijo) nos brindou naquele que terá sido no último almoço de convívio da CCaç 557 realizado em Alenquer (os entas não perdoam)

Abraço

Nota: Se achares que merece honras de blogue tens toda a liberdade para fazeres o melhor que entenderes.



Último Convívio da CCaç 557
 
Eu já doente, sou Xico, 
Mas parado ainda consigo, 
Porque, sem escrever, não fico,
Para este grupo amigo.

Nesta ida a Alenquer,
Encontros não temos mais,
Só aparece quem puder 
P'rás despedidas finais.

Neste encontro eu aconselho,
De todo o meu coração,
Não esqueçam do Coelho  (#)
Nem do nosso capitão,

Com a nossa missão cumprida,
Nunca esqueço a minha gente,
Pois com esta despedida
Ninguém irá ficar contente.

Eu estou muito esquecido
Sobre a façanha de então,
Sei que o grupo era unido,
Do soldado ao capitão.

Nosso encontro vai acabar,
Fica a saudade destes dias,
Mas podemos comunicar
Com as novas tecnologias.

Francisco Santos
Do fundo do coração,
Antigo radiotelegrafista,
Um grande abração,
Quem sabe até à vista !!?...

Francisco Santos 
(o "Xico do Montijo"),
ex-1º cabo radiotelegrafista (**)

(#) Um dos incansáveis organizadores 
dos convívios anuais da companhia
_____________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 20 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23725: Convívios (947): Almoço anual de confraternização dos militares da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), no dia 5 de Novembro de 2022, no restaurante D. Nuno, em Alenquer (José Colaço)

(**) Último poste da série > 13 de junho de 2023 > Guiné 61/74 - P24395: Convívios (965): Almoço / Convívio da CCAÇ 2701 - "Os 3'S do Saltinho", a levar a efeito no próximo dia 17 de Junho de 2023, em Cantanhede (Mário Migueis da Silva, ex-Fur Mil Rec Inf, Bissau, Bambadinca e Saltinho, 1970/72)

sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20352: O Cancioneiro da Nossa Guerra (12): "Até p'ró ano outra vez", um "faduncho" do Francisco Santos (ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65; poeta popular de Sarilhos Grandes, Montijo): "Mas nós cá vamos passando, /As lembranças vão ficando, / Conservando alguma fé; / Nem que seja de bengala, / Eu reúno em qualquer sala / P'ra relembrar a Guiné"...


Francisco Santos, um dos bravos do Cachil, da CCAÇ 557 (1963/65), 
e um dos poetas  da nossa Tabanca Grande; nascido em Sarilhos Grandes, Montijo, em 1942.

"Em Sarilhos eu nasci / e fui como outros tantos, / no Montijo, perto daqui, / registaram Francisco dos Santos. // Comecei a ouvir depois, / ainda menino eu lembro, / que nasci em quarenta e dois / no dia quinze de Dezembro. // Sarilhos Grandes me criou, / só para a Guiné eu saí, / sou feliz aonde estou, / tudo o que tendo é aqui. " (...) 









O Francisco Santos, hoje com  77 anos, ex-1º cabo motorista rádio telegrafista, da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), poeta popular, residente em Sarilhos Grandes, Montijo, membro da nossa Tabanca Grande desde 12 de maio de 2009, todos os anos abrilhanta o convívio anual da companhia com uns versinhos da sua lavra. Este ano foi em Alenquer, e mais uma vez não falhou. Aqui ficam, para enriquecer o Cancioneiro da Nossa Guerra (**) . Os ficheiros chegaram-nos por mão do incansável  e sempre leal José Colaço.

O Chico é um notável exemplo, para todos nós, do ex.combatente que se recusa a "arrumar as botas".  Motorista de profissão, agora reformado, além da escrita criativa, está envolvido, tanto quanto sei, nas atividades da sua terra, e nomeadamente tem um grande carinho pela sua banda filarmónica, a da Academia de Música União e Trabalho (AMUT), de cujos órgãos sociais faz ou já fez parte.  Tem colaboração (poética) dispersa pelo nosso blogue. E eu há tempos, em resposta a uns versos de agradecimento ao nosso blogue, respondi-lhe também em verso:

"Foi p’ra connosco gentil / O poeta do Cachil, / Onde foi soldado de aço, / Vive agora em Sarilhos,  / Terra de paz, sem cadilhos, / E é amigo do Zé Colaço."

____________

Notas do  editor LG:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20331: Convívios (909): XXXI Encontro de Confraternização Anual da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Alenquer, no passado dia 9 de Novembro de 2019... Ou a usura do tempo... (José Colaço)

(**) Último poste da série > 7 de julho de  2019 > Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

sexta-feira, 13 de julho de 2018

Guiné 61/74 - P18842: In Memoriam (318): José Augusto Rocha (1938-2018), ex-alf mil, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65... Um camarada cuja tribuna só podia ser "político-ideológica"...


Guiné > Região de Tombali > Cachil > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > 1964 > Abrigo "Cova do Comando" da CCAÇ 557 no Cachil. Alguém chamou a esta subunidade, que também participou na Op Tridente (jan/mar 1964), "a esquálida e esgroviada Companhia de Caçadores 557". Por detrás desta foto estão cinquenta e cinco dias a ração de combate, cerca sessenta dias sem mudar de roupa nem tomar banho, e com água racionada para beber

Legenda: a começar da esquerda para a direita o 1.º Cabo Enfermeiro Leiria; 1.º Cabo Radiotelegrafista Joaquim Robalo Dias; Dr. Rogério Leitão, que já partiu; atrás o 1.º Cabo Enfermeiro António Salvador, e por último, de quico, a sair do buraco, eu, Soldado de Transmissões José Colaço. mAs barbas com cerca de 90 dias. Os cabelos já tinham levado um corte para melhor se aguentar o calor. Aquela "divisória" entre o 1.º Cabo Dias e dr. Rogério, é uma cobra que durante a noite se lembrou de nos assaltar o abrigo e que só de manhã com a luz do dia foi detectada a um canto da cova. Foi condenada à morte pela catana de um milícia.

Foto (e legenda): © José Colaço (2015). Todos os direitos reservados. [Edição elegendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mandou-me o José Colaço um email, ontem, às 13h32,  a dizer telegraficamemte o seguinte:

"Morreu o Dr. José Augusto Rocha, ex- alferes miliciano e 2º comandante da companhia de CCAÇ 557, 1963/65."

Os jornais de hoje trouxeram de imediato a triste notícia (Público, Expresso, Diário de Notícias...).

O título do Expresso, digital, na secção Sociedade, dizia, às 13h28:

"Morreu José Augusto Rocha, um dos advogados que defenderam presos políticos". [De entre os inúmeros presos públicos que defendeu, conta-se o nome da Diana Andringa, membro da nossa Tabanca Grande.]

E acrescenta-se:

"Defendeu presos políticos no tempo em que ir a Tribunal Plenário era um risco que exigia coragem e vontade de ser solidário. Licenciou-se na Faculdade de Direito de Coimbra onde viveu a Crise Académica de 1962. O Senado da Universidade expulsou-o por ter organizado um encontro de estudantes contra as ordens do ministro da Educação. Partiu esta madrugada, aos 79 anos."

Em dezembro passado, o presidente da República tinha-o condecorado com a Ordem da Liberdade no Grau de Grande Oficial. Nasceu em Viseu, em 1938. Morreu antes de completar os 80m anos. Vai ser  cremado hoje, sexta-feira, dia 13, no Cemitério dos Olivais, às 17h.

Mais algumas notas biográficas sobre este nosso camarada:

(i) foi director da Associação Académica de Coimbra, em 1962;

(ii) foi expulso de todas as Escolas Nacionais, por dois anos, na sequência da crise académica de 62;

(iii) esteve preso no Forte de Caxias; liberto sem culpa formada, ao fim de 4 meses;

(iv) cumpriu o serviço militar e foi mobilizado para a Guiné, como alferes miliciano (CCAÇ 557, 1963/65);

(v) termina a licenciatura em direito, Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, depois de ter regressado do TO da Guiné, em novembro de 1965:

(vi) inscreve-se  na Ordem dos Advogados, em 13 de agosto de 1968;


 2. Blogue "Caminhos da Memória" > Segunda feira, 19 de outubro de 2009 >   Memória breve da história da Guiné > Um texto de José Augusto Rocha

 [Excertos, com a devida vénia...] (*)

A 25 de Novembro de 1963, embarquei no cargueiro «Ana Mafalda» (...), adaptado à pressa para transportar outra e nova carga – homens soldados – rumo à guerra colonial da Guiné. (...)

Nos anos sessenta, a ordem de incorporação e a ida para a guerra colonial estava indisfarçavelmente ligada à repressão política e à PIDE. Esta articulação era particularmente visível em relação ao movimento estudantil e em especial aos seus dirigentes. As medidas de repressão do aparelho do Estado, ao nível das forças armadas, eram várias e diversificadas e iam desde a incorporação em estabelecimentos militares disciplinares de correcção, como o de Penamacor, onde foi internado, por exemplo, o Hélder Costa e o João Morais, até incorporações antecipadas e transferências arbitrárias de quartéis, de acordo com estritas ordens da polícia política (PIDE).

No meu caso, libertado do Forte de Caxias, em Julho de 1963, fui incorporado logo em Setembro, para minha total surpresa, no Regimento de Lanceiros 2, conhecido como o quartel da polícia militar, unidade de confiança do regime político do Estado Novo. Vim a encontrar aí outro dirigente associativo, da Associação dos Estudantes da Faculdade de Letras, o João Paulo Monteiro, filho do exilado político Adolfo Casais Monteiro. A surpresa de imediato foi esclarecida. O treino militar do 1º ciclo, naquele Regimento, era muito duro e de verdadeiro castigo e, logo que terminou, ambos fomos transferidos para a Escola Prática de Infantaria de Mafra, por despacho do então Ministro da Defesa Nacional, General Mário Silva.

Cumpre assinalar que ambos gozávamos de forte simpatia entre os cadetes instruendos e mesmo dos Alferes instrutores do Quadro. Fui chamado ao Comando e aí o Capitão Semedo (irmão do actor de teatro, Artur Semedo) fez questão em dizer que a convocatória queria expressar o seu profundo desacordo pela transferência, mas que ela era exterior ao Regimento e provinda de ordens do poder político. Terminada a instrução em Mafra, fui colocado, como Alferes Miliciano, no Quartel de Caçadores 5, em Lisboa. Esta unidade militar era a unidade da confiança política do governo e comandada pelo Major Portugal, conhecido elemento da Legião Portuguesa. Tal como tinha acontecido no Regimento de Lanceiros 2, cedo gozei de grande simpatia junto dos Alferes Milicianos e do próprio Capitão da Companhia, Capitão Vieitas. Por força disso, fui escolhido pelos oficiais milicianos para integrar a mesa do Comando no dia oficial da Unidade e para em nome deles fazer o discurso oficial.

Não tardou que novo despacho do mesmo General Mário Silva ordenasse a minha transferência para Évora, para a Companhia de Caçadores de Infantaria 557 [CCAÇ 557], rumo à Guiné, sendo que a Companhia donde fui transferido embarcou para um lugar relativamente calmo, a cidade da Beira, em Moçambique.

Esta transferência foi muito controversa, com oposição, por escrito, do próprio Comandante da Companhia. Sincero ou não, por sua vez, o Major Portugal chamou-me ao Comando onde manifestou o apreço que os oficiais tinham por mim e sugeriu que apresentasse uma exposição escrita, que ele a remeteria às autoridades superiores. Recusei e lá fui para a Guiné, no «Ana Mafalda».

Cheguei à Guiné em 3/12/63 e, logo em 14 de Janeiro de 64, a Companhia 557, comandada pelo Capitão João Luis Ares e de que eu era o segundo comandante, por ser o Alferes Miliciano mais classificado, foi integrada na maior operação de toda a guerra colonial, a Operação Tridente, destinada a libertar a Ilha do Como, onde o PAIGC tinha a sua bandeira hasteada, simbolizando a primeira região libertada da Guiné Bissau.

Fui, então, transitoriamente retirado da Companhia e fiquei em Bissau como elo de ligação, para o envio de alimentos e o mais necessário à sua sobrevivência.

Em Bissau, acabei por formar uma espécie de tertúlia no «Café Bento» – à data, frequentado também pelo hoje Major Tomé e pelo advogado Orlando Curto – com o cirurgião do Hospital Militar de Bissau, António Almeida Henriques, que conhecia de Viseu, donde ambos éramos naturais, e o reanimador daquela equipa cirúrgica, António Rosa Araújo, que mais tarde, muitos anos depois, viria a defender, como advogado, no conhecido processo judicial «caso dos hemofílicos», também conhecido por «processo do sangue contaminado».

Estes dois oficiais médicos não escondiam a sua discordância com a guerra colonial (...).

Existe informação vária sobre as batalhas e forças militares que integraram a Operação Tridente, mas nenhuma sobre a CCÇ 557, de que eu era, como referi, o segundo Comandante. A Operação Tridente, assim chamada por integrar os três ramos das forças armadas portuguesa, implicou efectivos na ordem de 1200 homens, aviões, fragatas e lanchas de desembarque. Na rigorosa descrição feita pelo oficial do exército da república da Guiné Bissau, Queba Sambu, a ilha do Como tem uma superfície de 210 kms quadrados, 166 dos quais são lodo das marés, sendo constituída por um litoral de tarrafe, lamaçais que, na maré baixa,  chegam a atingir quatro kms entre a terra firme e os canais, de fluxo e refluxo marítimos. Seguindo-se ao tarrafe, estendem-se as bolanhas (arrozais) com alguns palmares, sendo o centro da ilha de matagal. Nas bolanhas, de largos canais de irrigação, o nevoeiro só permite uma visibilidade de três a cinco metros.

Foi nesta ilha que, no dia 14 de Janeiro de 1964, desembarcaram os 145 soldados e oficiais da CCAÇ 557, numa operação muito arriscada em que os soldados foram salvos de asfixia e atolamento completo no lodo, por cordas lançadas pelas lanchas de desembarque. O médico da Companhia, de nome [Rogério] Leitão – aliás um bom fotógrafo – tirou fotografias do acontecimento, mas o rolo acabaria por ser confiscado e perdeu-se esse testemunho documental.

A operação terminou de forma dramática para as populações da ilha, tendo sido destruídas e queimadas as tabancas (aldeias indígenas) aí existentes, e abatidas centena e meia de vacas e tudo o mais que constituía a forma de viver daquelas populações, como máquinas de costura, camas, roupas, etc…

As tropas regressaram a Bissau e foi deixada na mata do Cachil a CCAÇ 557, num aquartelamento feito à pressa com troncos de palmeiras na vertical e em tudo parecido a um aquartelamento índio. Sem água potável, sem alimentação e expostos à malária e a severas condições de carência e sofrimento, estes homens,  totalmente isolados e comendo meses a fio só rações, dependiam do mundo exterior de uma barcaça que, de vez em quando, ia ao centro de Comando situado na povoação de Catió. Encurralados naquele curto espaço de mata, lamaçais e bolanhas, estes homens viveram uma verdadeira odisseia de isolamento e condições infra-humanas de sobrevivência, acossados por acções de ataques ao quartel e flagelações das forças do PAIGC, entretanto regressadas à Ilha, após a retirada das tropas da Operação Tridente para Bissau.

 (...) Quando o capitão da Companhia foi de férias, vim de Bissau para o quartel de Cachil, para assumir as funções de comando, tomando contacto com homens destruídos psicológica e humanamente por condições tão duras de sobrevivência e onde situações de saúde física e mental se agravavam, dia a dia, à espera do dia redentor de uma substituição por outros efectivos.

Vivia-se este ambiente, quando um dia apareceram, lá no céu, dois aviões [F 86] [no original, Fiats lapso do autor], que, para surpresa nossa, começaram a picar sobre o quartel e a metralhar toda aquela zona, nomeadamente junto ao improvisado cais do rio, onde estacionava a barcaça de ligação a Catió.

Em desespero, ordenei que fossem lançados para o ar very-lights e um grupo avançasse com a bandeira nacional, para mostrar que éramos tropa amiga, ao mesmo tempo que por via rádio comunicava com o Comando de Catió, para que o engano fosse desfeito. Os aviões desapareceram no horizonte e ninguém ficou ferido. Na minha vida já tive dois acidentes graves de viação, mas aviões a jacto a picar sobre a minha cabeça, é acontecimento digno da linguagem própria de uma crónica de Fernão Lopes, quando no cerco a Lisboa, dizia: «era coisa espantosa de ver…».

Junto ao cais, entretanto, ficaram os destroços dos garrafões de vinho, grades de cerveja e rações de combate, que tinham sido abastecidos naquele dia à companhia!!!… O médico da companhia tirou fotografias do ataque, que infelizmente não disponho para ilustrar esta minha memória.

Fui a Bissau e protestei junto do Comando e encontrei-me com os aviadores que me informaram que tinham acabado de chegar à Guiné e faziam uma operação de reconhecimento, pensando que se tratava de forças inimigas… Que eu saiba, só houve dois enganos em ataques da aviação: este e um outro sobre os fuzileiros navais, de que resultaram, tanto quanto me lembro, dois mortos.

Acabámos por ser rendidos por outra Companhia e enviados para a zona da vila de Bafatá, donde regressei a Portugal a 24 de Novembro de 1965, para terminar o curso de Direito, que a minha expulsão da Universidade de Coimbra e de todas as escolas nacionais, por dois anos, tinha impedido de concluir.(...)


3. O José Augusto Rocha e o nosso blogue:
O alf mil Rocha, em Bissau, 1964...
A única foto que o Zé Coleço
tem deke...


(i) Comentário do nosso editor Luís Graça:

(...) Conheci, pessoalmente, o  José Augusto Rocha em 15 de outubro de 2009 (**).  Foi-me apresentado pela Diana Andringa, na estreia, no Doclisboa 2009, do seu filme Dundo, Memória Colonial.

Tivémos um conversa cordial, mas  dise-me logo que não era homem de blogues nem pretendia "alimentar" o nosso banco de memórias...  De resto não gostava de falar da Guiné e da guerra, a não ser no contexto das suas memórias políticas que estava a (ou tencionava) elaborar.. Falou-me do texto que estava a escrever (e de que reproduzimos uma parte substancial), para o blogue "Caminhos da Memória", uma promessa que tinha feito, "a título excepcional"... Um dos autores que alimentava esse blogue era justamente a Diana Andringa.

Falou-me por alto da Op Tridente, e de vários nomes do seu tempo:  Cavaleiro Ferreira, Barão da Cunha, Saraiva...  Fiquei a saber, por outro lado, que, na altura, em 1962, aquando da crise académica, e quando foi ele expulso de todas escolas do país, tinha a frequência do 5º ano do curso de licenciatura em direito... Só depois de regressar da Guiné, em finais de 1965, é que pôde completar o curso.

(ii) O José Colaço, nosso grã-tabanqueiro, ex-sold  trms da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) acrescentou o seguinte a respeito do nosso camarada José Augusto Rocha:

(...) O ex-alferes miliciano Rocha era o meu comandante de pelotão, o 4º,  ou seja,  o pelotão de armas pesadas. Ele era também o 2º comandante da companhia.

Guardo dele, durante a nossa estada na guerra da Guiné, bem como de todos os oficiais e sargentos e restantes camaradas, as melhores recordações. Mas, para este ambiente funcionar como uma máquina bem oleada, houve, e ainda há, um homem que, além de militar com a sua patente de capitão, via no seu subordinado, no homem que estava à sua frente, outro ser humano como ele... Este homem dá pelo nome de João da Costa Martins Ares, hoje coronel reformado.

O Rocha possivelmente não te contou esta passagem: no início da nossa comissão é recebida uma mensagem dos serviços da PIDE com o seguinte teor, mais ou menos: que  o capitão deunciasse o dia a dia do alferes Rocha pois ele era elemento a ser vigiado na sua conduta diária. As palavras não eram exactamente estas mas o sentido era vigiar o Rocha e informar os serviços da PIDE.

O capitão toma a seguinte resolução: chama o alferes Rocha, tem uma conversa séria de homem para homem, mostra-lhe a mensagem; o Rocha, por sua vez, conta-lhe todo o seu passado politico de oposicionista ao governo de Salazar, mas dá um voto de confiança ao capitão, o qual poderá contar com ele e, mais, que nunca seria atraiçoado.

Deste modo, o capitão conseguiu mais um amigo para levar a bom porto aquela nau durante vinte e três meses. (...) (**)

(iii)  Mensagem de email do José Augusto Rocha para o nosso editor Luís Graça, com data de 22/10/2009 :

(...) Sensibiliza-me o que diz sobre o depoimento que fiz para os Caminhos da Memória, mas permita-me que lhe diga que o seu depoimento sobre a guerra colonial é uma reflexão corajosa e muito lúcida. Se o termo não fosse controverso, acrescentaria: bela!

Bem, agora sim, estive a ler tudo o que consta do seu blogue, que se reveste de importância decisiva para a história da guerra colonial... ainda por fazer, ou não totalmente feita.

E a leitura que fiz, deu-me conhecimento de que, afinal, havia mesmo já alguém (o José Colaço) que tinha escrito sobre o Como e CCaç 557, ao invés do que digo no meu depoimento… Só me admiro que ele [não] fale do engano da avi(ação, até porque penso que foi ele que enviou o meu pedido de socorro para o Comando de Catió! ...) (***)

 (iv) Três dias antes, a 19 de outubro de 2009, o José Augusto Rocha tinha esclarecido, sem qualquer margem para dúvidas, qual era a sua posição face ao nosso blogue e à nossa Tabanca Grande,  razão por que não faria sentido eu vir agora decidir,  a título póstumo, sentá-lo à sombra do nosso poilão... Seria trair a sua confiança, desrespeitar a sua vonatde e fazer batota, violando as nossas próprias regras do jogo... O José Augusto Rocha nunca faria nem fará parte do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. 

(...) Quanto ao seu blogue, tenho as maiores dificuldades em nele colaborar. Tenho alguma radicalidade quanto a estas coisas da guerra colonial e sempre entendi que os encontros e confraternizações, a propósito dela, tendem a contar só meia memória, a memória boa, vista do lado de cá… Embora não pretenda julgar quem quer que seja, penso que compreender o passado implica um juízo de valor sobre o certo e o errado e, muitas vezes, nessas manifestações de convívio não é possível esconder a nossa discordância em relação ao que se ouve e isso cria um ambiente pouco propício ao encontro. Fui duas vezes a coisas dessas e jurei não mais ir! 

(...) Por estas e por outras, quanto à guerra colonial, vou ficar-me pela “curta memória da guerra colonial das Guiné”, a publicar nos Caminhos da Memória, dando, quanto a este capítulo, por encerrado o meu dever de memória (...) (***)

(v) O último email que troquei com ele, nestes últimos 3 anos, em 8 de maio de 2015, e em que já nos tratávamos por tu, tirou-me as derradeiras ilusões sobre a possibilidade de ele vir um dia aceitar o nosso convite para se juntar ao nosso blogue, enquanto coletivo de ex-combatentes da guerra da Guiné. A sua posição sobre a guerra colonial era firme, coerente e definitiva, aos 76 anos, e só tive que respeitá-la... Tenho hoje pena de, não obstante a nossa  troca de emails, nunca termos podido, em tempo útil, ou seja, em vida, sentarmo-nos, à mesa para  uma conversa mais franca, "tête-à-tête", olhos nos olhos, sobre a nossa experiência enquanto combatentes e as nossas posições político-ideológicas face à guerra colonial:

(...) Quanto ao mais, tudo é mais difícil e diria mesmo impossível. A minha posição em relação à guerra colonial, a única que  entendo  possível, urgente e inadiável, é a sua denúncia activa, nela tendo um grau de responsabilidade incontornável, todos quantos assistiram e até participaram nos massacres( e depois até foram condecorados por esses feitos em nome da Pátria) de todo um povo cujo único crime foi existir. Ainda hoje vivo memórias horrorizadas de tudo que vi e presenciei e me foi narrado. Daí que pense que blogues como os "Camaradas da Guiné”, usando uma expressão de Roland Barthes,  “ tendem em instituir-se como exteriores à História” e “é lá onde a História é recusada que ela mais claramente age”. Daí que a minha tribuna só possa ser política e ideológica, o que, como é evidente, não cabe no âmbito neutro e apolítico do teu blogue. Mas será que, bem vistas as coisas, existem blogues apolíticos a falar de acontecimentos de uma guerra, mesmo a propósito de camaradagem entre os seus autores e actores? Conversa longa que não cabe neste escrito. Não estaremos perante uma operação mitológica?

Espero que compreendas e não leves a mal esta minha posição, mas as minhas memórias da Guiné são políticas e como tal estão a ser escritas e delas darei justo testemunho cívico e republicano. (...)

Não, não lhe levei a mal... Sei ver, ouvir, ler, parar, escutar... Ou penso que sei... Mas confesso que nunca lhe respondi, por falta de oportunidade ou talvez por laxismo, lassidão, cansaço... E hoje, que ele morreu, eu tenho pena de não ter feito um esforço adicional, não para o convencer, mas pelo menos, para clarificar  a missão (talvez impossível) do nosso blogue e sua íntrínseca ambiguidade.  É possível fazer pontes, tentando concilitar o que é inconciliável ? Às vezes também tenho dúvidas... Mas há 14 anos que o tentamos, recusando as posições radicais...

Aqui fica, entretanto, a posição, intelectualmente honesta, do nosso camarada José Augusto Rocha  (1938.2018) cuja memória eu faço questão de honrar. Porque a função do blogue não é julgar, muito menos a discriminar os camaradas que combateram na Guiné... E o José Augusto Rocha foi um combatente e um camarada...

Para a sua família e amigos mais  íntimos, incluindo os seus camaradas de companhia. e nossos grã-tabanqueiros José Colaço e Francisco Santos, endereçamos os nossos votos de pesar e de solidariedade na dor. (ªªª)
 _______________


quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17951: Os nossos passatempos de verão (21): Cantigas de escárnio e mal-dizer, à desgarrada... Parte VI: Glosando o mote "Sois os últimos moicanos, / Os do Como e do Cachil, / Se a guerra vos tirou anos, / O bom irã dá-vos mil! (Luís Graça / Francisco Santos / José Colaço)


Ponte de Sor > 5 de novembro de 2016 > Convívio anual do pessoal da CCAÇ 557 (1963/65) > O  Zé Colaço, à esquerda; o Chico Santos, à direita.

Foto (e legenda): © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Troca de 'mimos poéticos' entre o nosso editor, Luís Graça, e o poeta popular Chico Santos, o bardo do Como e do Cachil, ao tempo da CCAÇ 557 (1963/65)... Como o Chico, mesmo sendo nosso grã-tabanqueiro com todo o mérito, não tem email, é o Zé Colaço que serve de pombo correio...





Mote (Luís Graça)



Sois os últimos moicanos,
Os do Como e do Cachil,
Se a guerra vos tirou anos,
O bom irã dá-vos mil!



Glosa(Chico Santos)

Fomos os últimos moicanos,
No Como cheios de sebo,
O bom irã dá-nos mil anos,
De seres do além não percebo.

Errar resposta não quero,
Por isso à box me encosto,
A minha educação é zero
E, como nada sei, até gosto.

A escola para mim foi pouca,
Só respondo à m'nha maneira,
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.




Mote (Chico Santos)




A escola p’ra mim foi pouca,
Só respondo à m’nha maneira, 
É que ás vezes eu abro a boca,
Entra mosca ou sai asneira.



Glosa(Luís Graça)



A escola p’ra ti foi pouca,
Mas és poeta popular,
Fizeste uma guerra louca,
E estás cá para a contar.

Só respondes à tua maneira,
És forte na desgarrada,
Tens sempre uma na algibeira,
E outra melhor artilhada.

Ainda bem que abres a boca,
P’ra fazeres prova de vida,
Não és dos de orelha mouca,
Dás a resposta devida.

Entra mosca e sai asneira
Na boca de alguns senhores,
Que até falam de cadeira,
Armados em professores!

... Com um alfabravo fraterno para os dois bravos da CCAÇ 557, o Francisco Santos e o José Colaço. (**)



Guiné > Região de Tombali > Ilha do Como > Cachil > Março de 1964 > CCAÇ 557 (1963/65) Construção do aquartelamento de Cachil na sequência Op Tridente (de 14 de Janeiro a 24 de Março de 1964) > À boa maneira do faroeste americano...  uma paliçada, neste caso feita de troncos de cibe!

Foto: © José Colaço (2011). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Notas do editor:

segunda-feira, 6 de novembro de 2017

Guiné 61/74 - P17941: Convívios (830): Os "últimos moicanos", o pessoal da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), fizeram prova de vida em 4 do corrente, em Sapataria, Sobral de Monte Agraço (José Colaço / Francisco Santos)

 Foto nº 1

 Foto nº 2


Foro nº 3

Sobral de Monte Agraço > Sapataria  > Restaurante  O Ferrador > 4 de novembro de 2017 > Convívio anual do pessoal da CCAÇ 557 (1963/65)

Fotos (e legendas): © José Colaço (2017). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Versinhos do Francisco Santos, poeta popular.



1. Mensagem, de 4 do corrente, do José Colaço:

[Foto à esquerda: José Botelho Colaço ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008: tem 70 referência no nosso blogue.]


Caríssimo amigo Luís e editores,  como tinha sido anunciado (*) realizou-se hoje,  04-11-2017 , o almoço anual de convívio dos veteraníssimos ex-militares da CCaç 557 e,  como vem sendo hábito,  com a honrosa e agradável presença do nosso comandante da Tabanca da Linha,  Jorge Rosales,  pois ele é já uma peça insubstituível na família da CCaç 557.

Segue em anexo, e em  formato jpg,  o poema do nosso tabanqueiro,  o poeta popular Francisco dos Santos, e mais as seguintes fotos:

(i) Foto nº 1 > ao centro e na fila de trás o comandante da Tabanca da Linha Jorge Rosales, na fila da frente o primeiro da segunda linha à esquerda o nosso poeta popular Francisco dos Santos, a segurar um saco de papel o Sr. Coronel reformado João Luís da Costa Martins Ares, comandante da CCaç 557;

(ii) Forio nº 2 > O Sr. coronel Ares,  comandante da CCaç 557 no discurso directo a saudar todos os presentes e com o improvisado fotocine Z´w Colaço à frente a tentar gravar as palavras do comandante;

(iii) Forto nº 3 > À esquerda,  Jorge Rosales, ao centro o ex-1º-cabo João Casimiro Coelho , organizador do almoço e à direita o Sr. Coronel Ares,  Comandante da CCaç 557

  Nota: neste dia, e como é habitual,  o Sr. coronel Ares leva uma grande "porrada", é despromovido e passa de Coronel a nosso Capitão. (**)

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Notas do editor:



sábado, 21 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17890: Convívios (828): os esquálidos, esgrouviados, a companhia do Como, os bravos do Cachil... os 'últimos moicanos' da CCAÇ 557 (1963/65), mais de meio século depois do seu regresso, voltam a encontrar-se, pela 29ª vez, no próximo dia 4 de novembro, agora em Sapataria, Sobral de Monte Agraço (José Colaço)


Ponte de Sôr > 5 de novembro de 2016 > CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Convívio anual dos "resistentes"... onde nunca faltam  o Francisco dos Santos, aqui ao centro (com o  José Colaço, à esquerda a "fazer guarda de honra"). O Francisco é  nosso grã-tabanqueiro, tal como o Zé Colaço, (*)

Foto (e legenda): © José Colaço (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem, com data de hoje, de José Colaço, ex-sold trms, CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde Junho de 2008:

Caríssimo Luís e editores

Luís, os veteraníssimos, ex-militares da companhia de CCAÇ 557, os esquálidos, esgrouviados, a companhia do Como,  os bravos do Cachil...   eis as alcunhas que alguns camaradas e o povo da Guiné dedicou à nossa companhia...

Após cinquenta e dois anos do seu regresso,  os ex- militares da CCAÇ 557, os resistentes, organizam o seu vigéssimo nono consecutivo almoço anual de convívio.

Este ano terá lugar no dia 04/11/2017,  no restaurante "O Ferrador",  na localidade de Sapataria,  Sobral de Monte Agraço. (**)

Anexo do nosso último convívio,. em Ponte Sor, em 5/11/016... No grupo, destaca-se o nosso conhecido poeta popular Francisco dos Santos, ao centro (e eu, Colaço,  à esquerda a fazer guarda de honra).

Um abraço,
José Colaço
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 30 de novembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16778: Convívios (775): Almoço anual dos veteraníssimos ex-combatentes da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Ponte de Sôr, no passado dia 5...Este ano fomos só vinte, mas o nosso poeta Francisco Santos continua vivo e inspirado (José Colaço)

quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Guiné 63/74 - P16778: Convívios (775): Almoço anual dos veteraníssimos ex-combatentes da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Ponte de Sôr, no passado dia 5...Este ano fomos só vinte, mas o nosso poeta Francisco Santos continua vivo e inspirado (José Colaço)



Ponte de Sôr > 5 de novembro de 2016 > Convívio anual da CCAÇ 557 ( Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65) > Foto de grupo: à esquerda, o José Colaço, a seguir a sua esposa, em terceiro o Francisco dos Santos e a sua Emília. O Francisco é também nosso grã-tabanqueiro. Foi 1º  cabo radiotelegrafista, E é inspiradíssimo  pota popular.

Foto (e legenda): © José Colaço (2016). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Mensagem de 7 do corrente, de José Colaço:


Foto à direita: José [Botelho] Colaço ex-soldado trms da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), membro da nossa Tabanca Grande desde 2 de junho de 2008: tem 70 referência no nosso blogue.
Luís, para arquivo ou publicação... 

Esta é uma das companhias que, por ser das primeiras a ir para a guerra,  também está condenada a ser das primeiras a extinguir-se,  isto tendo em conta as ausências que se notam nestes últimos convívios,  uns por doença,  outros com as dificuldades do peso dos anos... para não falar já daqueles que de ano para ano tomam a barca do barqueiro de Caronte. 

Este ano só picaram o ponto vinte ex-combatentes. O que nos dá ânimo é que o comandante ainda está activo e marca presença embora apresente as suas queixinhas,  os tais lapsos de memória mas ainda dá o seu pezinho de dança. O  único ex-alferes que sempre tem marcado presença,  este ano já apareceu com o auxílio de umas canadianas.

Segue em anexo um poema que todos os anos faz honra em escrever o nosso poeta,  dedicado ao convívio,  e uma foto em que estou à esquerda,  a seguir a minha mulher,  em terceiro o nosso poeta popular Francisco dos Santos e a sua Emília.

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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Guiné 63/74 - P15577: Blogpoesia (432): O Meu Agradecimento, poema de Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS da CCAÇ 557

1. Por intermédio do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), chegou até nós, no dia 29 de Dezembro passado, um poema de agradecimento do outro nosso camarada Francisco Santos, ex-1.º Cabo TRMS, também da CCAÇ 557, a propósito do seu aniversário ocorrido no passado dia 15 de Dezembro.


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Nota do editor

Último poste da série de 3 de janeiro de 2016 Guiné 63/74 - P15571: Blogpoesia (431): Como se... (Joaquim Luís Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728)

domingo, 19 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13763: Convívios (638): Encontro do pessoal da velhinha CCAÇ 557 (Cachil e Bafatá, 1963/65), dia 8 de Novembro de 2014 no Cartaxo

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 12 de Outubro de 2014:

O nosso camarigo poeta popular Francisco dos Santos [foto à esquerda] com os seus valorosos versos roubou-me todas as palavras que seria normal utilizar para anunciar o convívio da CCAÇ 557.

Por esse motivo só me resta adicionar esta foto com alguns camaradas no convívio de 2013 realizado no restaurante o Cortiço nas Caldas da Rainha.

Um aparte saudar o comandante Jorge Rosales que muito nos honra com a sua presença. O Rosales nos convívios da 557 não é um elemento de rendição individual, mas sim um ex-alferes miliciano que desde que nos conhecemos graças ao blogue e aos convívios da tabanca da linha faz parte integrante dos quadros dos ex-militares da CCAÇ 557.

Se algum camarigo quiser confraternizar com os velhinos do Como é só contactarem o Colaço, cujo o endereço está no blogue.

Um alfa bravo
Colaço



Convívio da Companhia Caçadores 557 

Cartaxo 8 de Novembro de 2014

Ao camarada Luís Graça
E o nosso blogue na Internet,
Ponha nele o que se passa
Deste grupo com muita raça 
Da C. C. 557

O convívio é no Cartaxo
Vai ser uma guerra diferente,
Vamos lá provar o tacho
O tinto que leva a baixo
O soldado mais valente

Neste grupo sou membro
Mas quero que o Mundo saiba,
Por isso a todos eu lembro
Que é a 8 de Novembro
Lá na quinta do Saraiva

Se és ex-combatente
Desta companhia ou não,
Vem conviver com a gente
Que o Valentim está á frente
Da grande organização

Toda a família é pilar
Desde a Guiné ao Cartaxo,
Se queres algo recordar
Vem cá confraternizar
Que o contacto está em baixo

Autor Francisco Santos
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Companhia de Caçadores n. º 557 
1963/65 na Guiné. 

Contacto: Valentim Caramelo 
Telefone - 243 759 599 e  Telemóvel - 910 090 831
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de Outubro de 2014 > Guiné 63/74 - P13761: Convívios (637): Convívio da CART 1802 (Nova Sintra, 1987/69)... 27 de Setembro, em Vila Velha de Rodão (Silvério Dias)

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Guiné 63/74 - P13071: In Memoriam (189): Domingos Gomes Nabais, soldado da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), morto por afogamento nas tranquilas águas do Rio Geba, em Bafatá, em 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos)



Guiné-Bissau > Bafatá > Rio Geba > Margem direita > Duas fotos do mesmo local, com 40 anos de distãncia: a primeira, em cima, de 1968; a segunda, de 2010... Cortesia de Fernando Gouveia.

Fotos: © Fernando Gouveia (2010). Todos os direitos reservados.

1. Mensagem com data de 28 do corrente, do José Colaço [ex-sold trms, CCAÇ 557, Cachil,Bissau e Bafatá, 1963/65]:

Para facilitar quando vasculhares o blogue sobre os mortos por afogamento na guerra da Guiné: aqui só há a rectificar o nome,  que é Domingos Gomes Nabais e não Fernando ou Francisco como por lapso aparece escrito (*), inclusive na lista do António Marques Lopes dos que nem no caixão tiveram direito a regressar (**).

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Zé. Já corrigi o poste P4199 (*). Mas vamos republicá-lo,  com data de hoje. Até por respeito à memória do teu/nosso camarada Domingos Gomes Nabais. Também pode ser que apareçam mais casos. Afinal houve 143  afogamentos, no TO da Guiné, em 11 anos de guerra...


3. Quem era o Domingos Gomes  Nabais ? Pertencia à  CCAÇ 557... e morreu por acidente, quando se banhava nas águas tranquilas do Rio Geba, em Bafatá... A nossa curiosidade foi despertada pelos versos do Francisco dos Santos (***) e logo prontamente satisfeito pelo seu e nosso camarada José Colaço:

(...) Éramos a família unida,
Por isso não digo nomes,
Sacrificámos a vida,
Que heróis todos nós fomos.

Mas veio então a mudança,
Bafatá que era a norte,
Havia mais esperança
E talvez melhor sorte.

Não queríamos muito mais,
O tempo passa a correr,
Mas o soldado Nabais
No rio viria a morrer.

A morte por afogamento
Que já ninguém o previa,
Este triste acontecimento
Chocou muito a Companhia....


Francisco dos Santos

4. Ficha necrológica (*):

Nome: Domingos Gomes Nabais,
Posto: Soldado
Subunidade: CCAÇ 557, Cachil, Bissau e  Bafatá, 1963/65,
Local e data: Bafatá, Rio Geba, 13 de Abril de 1965
Causa: Afogamento
Naturalidade: Aldeia Velha, Sabugal
Última morada: Cemitério de Bafatá, Guiné-Bissau.


5. Escreveu  o José Colaço, em 16/4/2009:

o Nabais era um rapaz muito simples, por esse motivo era muito apoiado por todos os camaradas. Quem lhe escrevia as cartas e os aerogramas era o Francisco dos Santos.

A sua morte não teve nada a ver com combates de guerra, não sei se por ironia do destino, ou sei lá, assisti praticamente aos últimos minutos de vida do Nabais.

Era uma tarde bonita, cheia de sol, o Geba, em Bafatá, convidava-nos a tomar banho. Então um grupo de 10 ou 12 militares fomos tomar banho. O Nabais não sabia nadar, ele estava neste caso mais ou menos à beira rio...

Entretanto notou-se a falta do Nabais mas, como do grupo nenhum sabia mergulhar com capacidade para procurar o Nabais, houve uma corrida até ao quartel para chamar o Fernando, 1º cabo condutor auto, óptimo mergulhador que, em poucos segundos, aparece com o Nabais na palma da mão,  ao cimo da água mas sem sinais de vida.

Ainda se tentou a recuperação mas o Nabais estava morto, não se sabe se por afogamento ou problemas por estar a fazer a digestão.

Ficou sepultado em Bafatá,  no talhão dos militares. Morreu em 13/04/1965. (****)
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Notas de L.G

(*) Vd. poste de 16 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4199: In Memoriam (18): Domingos  Gomes Nabais, morto por afogamento no Rio Geba, Bafatá, 13/4/65 (José Colaço / Francisco dos Santos).

(**) Vd. poste de 30 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2802: Lista dos militares portugueses metropolitanos mortos e enterrados em cemitérios locais (2): 1965 (A. Marques Lopes)

(***) 16 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4196: Blogpoesia (39): CCAÇ 557, Missão cumprida na Guiné (José Colaço/Francisco dos Santos)