sábado, 16 de novembro de 2019

Guiné 61/74 - P20352: O Cancioneiro da Nossa Guerra (12): "Até p'ró ano outra vez", um "faduncho" do Francisco Santos (ex-1º cabo radiotelegrafista, CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65; poeta popular de Sarilhos Grandes, Montijo): "Mas nós cá vamos passando, /As lembranças vão ficando, / Conservando alguma fé; / Nem que seja de bengala, / Eu reúno em qualquer sala / P'ra relembrar a Guiné"...


Francisco Santos, um dos bravos do Cachil, da CCAÇ 557 (1963/65), 
e um dos poetas  da nossa Tabanca Grande; nascido em Sarilhos Grandes, Montijo, em 1942.

"Em Sarilhos eu nasci / e fui como outros tantos, / no Montijo, perto daqui, / registaram Francisco dos Santos. // Comecei a ouvir depois, / ainda menino eu lembro, / que nasci em quarenta e dois / no dia quinze de Dezembro. // Sarilhos Grandes me criou, / só para a Guiné eu saí, / sou feliz aonde estou, / tudo o que tendo é aqui. " (...) 









O Francisco Santos, hoje com  77 anos, ex-1º cabo motorista rádio telegrafista, da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), poeta popular, residente em Sarilhos Grandes, Montijo, membro da nossa Tabanca Grande desde 12 de maio de 2009, todos os anos abrilhanta o convívio anual da companhia com uns versinhos da sua lavra. Este ano foi em Alenquer, e mais uma vez não falhou. Aqui ficam, para enriquecer o Cancioneiro da Nossa Guerra (**) . Os ficheiros chegaram-nos por mão do incansável  e sempre leal José Colaço.

O Chico é um notável exemplo, para todos nós, do ex.combatente que se recusa a "arrumar as botas".  Motorista de profissão, agora reformado, além da escrita criativa, está envolvido, tanto quanto sei, nas atividades da sua terra, e nomeadamente tem um grande carinho pela sua banda filarmónica, a da Academia de Música União e Trabalho (AMUT), de cujos órgãos sociais faz ou já fez parte.  Tem colaboração (poética) dispersa pelo nosso blogue. E eu há tempos, em resposta a uns versos de agradecimento ao nosso blogue, respondi-lhe também em verso:

"Foi p’ra connosco gentil / O poeta do Cachil, / Onde foi soldado de aço, / Vive agora em Sarilhos,  / Terra de paz, sem cadilhos, / E é amigo do Zé Colaço."

____________

Notas do  editor LG:

(*) Vd. poste de 10 de novembro de  2019 > Guiné 61/74 - P20331: Convívios (909): XXXI Encontro de Confraternização Anual da CCAÇ 557 (Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), em Alenquer, no passado dia 9 de Novembro de 2019... Ou a usura do tempo... (José Colaço)

(**) Último poste da série > 7 de julho de  2019 > Guine 61/74 - P19953: O Cancioneiro da Nossa Guerra (11): o fado "Brito, que és militar" (Bambadinca, 1970, ao tempo da CCS/BART 2917 e CCAÇ 12) (recolha de Gabriel Gonçalves, ex-1º cabo cripto, CCAÇ 12, Contuboel e Bambadinca, 1969/71)

4 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Não é poesia erudita, mas é autêntica, singela, espontânea, popular... E o poeta popular pode até dar-se ao luxo de dar um ou outro pontapé na gramática, que o leitor sabe desculpar...Ou não se preocupar com a pontuação...

"Não é dar-se ao luxo"..., que a gente aqui prima por escrever em bom português... Dá-se o caso do poeta "repentista" escrever muitas vezes em cima do joelho e até inventar palavras novas: "malecas" (por "maleitas") é vocábulo que está por grafar nos nossos dicionáios, a menos que seja um regionalismo usado em Sarilhos Grandes... Mas o que importa é o afecto associado às memórias da Guiné e a alegria dos convívios da malta:

Tudo isto é um prazer,
Não me canso de dizer
Com mais rugas ou calvíce (sic)
P'ra dizer com alegria
Há um ano que não te via
Como vai essa velhice ?...

Ah!, grande Chico que a idade não te roube a inspiração!... LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A sextilha,estrofe de seis versos, pode ser cantada com a música do "Fado do cacilheiro", de
Paulo da Fonseca / Carlos Dias...

Um criação (genial) do Zé Viana, e 1966 (revista "Zero, Zero, Zero: Ordem para Matar"), grande êxito popular...

https://lisboanoguiness.blogs.sapo.pt/6206.html


Quando eu era rapazote
Levei comigo no bote...
Uma varina atrevida
Manobrei e gostei dela
E lá me atraquei a ela...
Pró resto da minha vida

Ás vezes, numa pessoa
A idade não perdoa...
Faz bater o coração
Eu sinto grande vaidade
Em viver a mocidade....
Dentro desta geração

Sou marinheiro
Neste velho cacilheiro
Dedicado companheiro
Pequeno berço do povo
E navegando
A idade vai chegando
O cabelo branqueando
Mas o Tejo é sempre novo

Todos moram numa rua
A que chamam sempre sua...
Mas eu cá, não os invejo
O meu bairro é sobre as águas
Que cantam as suas mágoas...
E a minha rua é o Tejo

Certa noite de luar
Vinha eu a navegar...
E de pé, junto da proa
Eu vi, ou então sonhei
Que os braços do Cristo Rei...
Estavam a abraçar Lisboa

https://fadosdofado.blogspot.com/2008/06/fado-do-cacilheiro.html

Tabanca Grande Luís Graça disse...

A revista "Zero, Zero,Zero, Ordem Para Matar” era do Paulo da Fonseca, César de Oliveira, Rogério Bracinha... Confesso que nunca fui frequentador do Parque Mayer...até porque não vivia em Lisboa... Nem sou apreciador do teatro revisteiro, que deve muito a sua época de ouro a existência da Censura... LG

Anónimo disse...

José Colaço
15/12/2019, 19:35


Caros editores:

Com isto não vai mal nenhum ao Mundo, mas já não é a primeira vez que peço para rectificarem o erro em referência à especialidade militar do nosso poeta popular do "Cachil", que vive em Sarilhos Grandes. Montijo, Francisco dos Santos: ele não é ex-1º cabo de transmissões mas sim ex-1º cabo motorista rádio telegrafista.

Um abraço e um bom Natal. Colaço.