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sexta-feira, 2 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22337: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte XI: Japão, Hakone, março de 2014






Japão, Hakone, situada no Parque Nacional Fuji-Hakone-Izu, a oeste de Tóquio,   2014

Foto: © António Graça de Abeu  (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros. É membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem mais de 280 referências no blogue.


Montanhas de Hakone, Japão, Março 2014

Duzentos vulcões polvilham, enxameiam as grandes ilhas japonesas.

Venho desde Kyoto no célere Shinkansen. O rapidíssimo comboio fura o vento e encurta os espaços. Não dá para ver colinas em chamas, nem castelos de daimios e samurais. Encaminho, todavia, a toda a brida, os meus passos por caminhos certos.

Jornadeio pelas serranias de Hakone, ao encontro do fogo de mil séculos, apaziguador ou brutal, borbulhando desde as entranhas da terra. Vapores de enxofre, fumarolas, nascentes de água quente para mergulhar o corpo. Dias inteiros respirando, enxaguando pedaços da alma. Num grande complexo termal até existem duas piscinas onde, na água, se misturam vinho cálido e chá verde.

Os labirintos no olhar, ao longe a montanha Fuji adormecida, imensa, levanta-se para o céu, um cone de neve cintilante. Todo o esplendor da Primavera. De teleférico, subo, desço pelos ossos dos montes. O Fujiyama por companhia, o vulcão, o mais sagrado e reverenciado de todos, silencioso há trezentos anos, para eu afagar com os dedos. Em Owakudani, cai neve no cristal frio da manhã, à noite, é só prata ao luar.

Humedeço o bater do coração no lago Ashinoko, atravesso-o numa falsa barca de piratas, nuvens desfazem-se em bruma e descem para acariciar as águas.

Passeio-me no templo xintoísta, datado do século VIII, junto ao lago. Rochas, quedas de água, pequenos pavilhões escarlate, esculturas de animais sagrados, o beijo da natureza para enobrecer o dia.

Despeço-me das terras de Hakone nos três telhados sobrepostos do castelo branco de Odawara. Já não há gueixas, nem flores de cerejeira. No horizonte, ainda, sempre, a imponência perpétua da montanha Fuji.

António Graça de Abreu

Texto enviado em 25/6/2021

quinta-feira, 10 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22270: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte IX: Quioto, Japão, Abril de 2014




Japão > Quioto > Abril de 2014 > Templo do Pavilhão Dourado

Texto e fotos de António Graça de Abreu, recebidos em 7/6/2021


1. Continuação da série "Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo" (*), da autoria de António Graca de Abreu [, ex-alf mil, CAOP1, Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74.

Escritor e docente universitário, sinólogo (especialista em língua, literatura e história da China); natural do Porto, vive em Cascais; é autor de mais de 20 títulos, entre eles, "Diário da Guiné: Lama, Sangue e Água Pura" (Lisboa: Guerra & Paz Editores, 2007, 220 pp); "globetrotter", viajante compulsivo com duas voltas em mundo, em cruzeiros.

É casado com a médica chinesa Hai Yuan, natural de Xangai, e tem dois filhos dessa união, João e Pedro; é membro da nossa Tabanca Grande desde 2007, tem 280 referências no blogue.



Kyoto, Japão, 2014



Para mim, não há no mundo cidade como Kyoto.

Armando Martins Janeira


Kinkakuji 金閣寺, o pequeno Templo do Pavilhão Dourado a norte de Kyoto, é talvez a maior maravilha do Japão. Três andares sobrepostos em madeira revestidos a folha de ouro, com estacas como alicerces, seguram a construção mergulhada na limpidez de um pequeno lago, o pavilhão flutuando nas águas, oscilando nos verdes da encosta dos montes. Budismo zen, água, terra e céu, o resplandecer da harmonia.

Rodeio Kinkakuji, a norte, a leste. À distância, imagens do ouro esbatidas no luxo da vegetação, e uma taça de saké na margem do lago do Espelho. Silêncio. Apenas um coração bate, num abraço depurado ao pavilhão.

Tinha hora marcada para o regresso ao autocarro que me iria levar na continuação da jornada pelo "melhor de Kyoto". Diante do ouro do Kinkakuji, de espanto em espanto, esqueci o tempo, perdi o transporte. Que bom! Ainda tenho mais dois dias em Kyoto. Toda a cidade à minha espera.

Ao lado do Kinkakuji, os kamis, entidades mágicas, seres divinizados, forças da natureza no xintoísmo, passeavam-se num pomar de cerejeiras em flor. Uma saudação, Dai Nippon, o grande Japão.

António Graça de Abreu

___________

Nota do editor:

(*) Último poste da série > 5 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22256: Depois de Canchungo, Mansoa e Cufar, 1972/74: No Espelho do Mundo (António Graça de Abreu) - Parte VIII: Mosteiro de Yuste, Estremadura, Espanha, 2003
                

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Guiné 63/74 - P16051: Agenda cultural (478): Lançamento do livro "Haikus do Japão e do Mundo", de António Graça de Abreu, 10 de Maio pelas 18h30, no Centro Científico e Cultural de Macau, Rua da Junqueira, 30 - Lisboa: "Gostava de ter lá alguns camaradas da Guiné, e de ler dois ou três haikus sobre a nossa guerra" (o autor)





1. Mensagem do  António Graça de Abreu, escritor, poeta, sinólogo, nosso camarada, ex-alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa e Cufar, 1972/74], membro sénior da nossa Tabanca Grande, e ativo colaborador do nosso blogue com mais de 170 referências:

Data: 4 maio 2016, 22:02



Assunto: Lançamento do livro "Haikus do Japão e do Mundo", de António Graça de Abreu | 10 Maio 18h30

Meu caro Luís;

É o meu livro novíssimo [, edição da Gradiva, Lisboa, vd. aqui página do Facebook].

Parece não ter nada a ver com a nossa Guiné mas em 540 mini-poemas estão lá cerca de vinte haikus meus sobre nós, na nossa guerra na Guiné.

Acho que já foram publicados no blogue, em blogpoesia aí há um ano (*), mas até nos haikus do Japão a Guiné aparece.

Agradeço-te a divulgação. Gostava de ter lá alguns camaradas da Guiné, e de ler dois ou três haikus sobre a nossa guerra. (**)

Para que as outras pessoas não esqueçam.

Forte abraço amigo.
António Graça de Abreu
_______________

Notas do editor:

´(*) Último poste da série > 8 de março de 2015 >  Guiné 63/74 - P14332: Blogpoesia (402): Um haiku à moda do Japão, em Dia Internacional da Mulher (António Graça de Abreu)

(...)

Envelhecemos.
Meio século após a Guiné,
beber os últimos prazeres da vida.

Nem derrotas, nem vitórias,
o fluir sinuoso das vontades dos homens
por dentro das lágrimas do tempo.

Nem flores do verde pino
nem o ondular das florestas.
Apenas bolanhas a ferro e fogo.

A menina mandinga
veio comer à minha mesa,
os olhos raiados de tristeza.

No Morés, laranjeiras rubras em flor
ou serão flores da guerra,
desabrochando em sangue, em calor?

Sangue e morte em Cufar,
a demência por dentro da noite.
Abraço a minha espada de guerra.

Guerra e paz em Mansoa,
nós, o coração esfarrapado,
no sonho breve, adiado,
do regresso a Lisboa.

Uma íbis negra na foz do Cumbijã,
sacode as asas na névoa da pólvora
e esvoaça no horizonte azul.

Varri o chão, perfumei o leito,
mas a bajuda não veio.
Eu sou branco e feio.

Na humidade quente dos dias da guerra,
no leito de ferro,
no colchão de borracha enegrecida,
recordo o perfume faiscante
das dobras do teu corpo,
menina de seios de linho e alabastro.
Adormeci abraçado a ti.
Ao acordar,
apenas o rumor cálido
da ausência e do vazio. (...)

(**) Último poste da série > 29 de abril de  2016 > Guiné 63/74 - P16030: Agenda cultural (477): Ciclo de conferências 2016: "A censura na Ditadura Militar e no Estado Novo (1926-1974)": Museu Bernardino Machado, V. N. Famalicão, hoje, às 21h30, entrada gratuita

terça-feira, 22 de março de 2016

Guiné 63/74 - P15889: Notas de leitura (821): Micropoemas do livro "Haikus do Japão e do Mundo" (Lisboa, Gradiva, 2016): seleção e oferta do autor, António Graça de Abreu, para os nossos grã-tabanqueiros

Antonio Graça de Abreu, escritor, poeta,
sinólogo, nosso camarada, com a sua esposa;
 foi alf mil, CAOP 1 [Teixeira Pinto, Mansoa 
e Cufar, 1972/74]; é membro sénior  da nossa 
Tabanca  Grande, e ativo colaborador do 
nosso  blogue com mais de 170 referências.
1. Mensagem de Antonio Graça de Abreu

Data: 12 de março de 2016 às 15:35
Assunto: FEMINA
                      
Pela cópula entre homem e mulher, o yin e o yang obtêm o que necessitam, céu e terra conhecem paz e tranquilidade.

Anónimo, Clássico da Paz e Tranquilidade, dinastia Tang (619-907)

Se não trazem amantes para os quartos,
as vidas dos anjos não passam de um sonho.
                                                           
Li Shangyin (813-858)

Grave e leda no gesto, e tão fermosa
Que se amansava o mar de maravilha.

 Camões, Os Lusíadas, Canto VI, 21




Meus caros camaradas da Guiné:

Quando abríamos a vida em pleno para uma vida sexual activa e esfuziantemente bonita (tínhamos 21/23 anos),e em nós crepitava o fogo natural que os deuses nos concederam
para amar e entrar no feminino,
evanescente e mágico,
enviaram-nos para uma guerra, que não era nossa.

Vivemos durante dois anos, no calor e na metralha dos dias,
com a ausência da mulher amada,
a quase castração de amar,
o refugo do sexo.

Regressámos um dia.
E tínhamos, nem todos, à nossa espera a mulher,
companheira, tolerante e amiga,
que, pós Guiné, nos foi acompanhando,
ao longo de décadas e décadas de sinuosa vida,
que envelheceu connosco
e que, eleitos, entre os nossos combatentes e camaradas da Guiné,
continua a ser a almofada segura a que nos encostamos,
o corpo a que nos abraçamos,
ainda no desvairo final dos dias,
a mulher que nos sabe amar.
Essa será a companheira de sempre.
Em breve, partiremos para o aconchego dos deuses,
para o canto do Céu,  do vazio e do nada.
Com a certeza de termos amado,
de termos sido amados.
Ou então, de termos delapidado o amor na carícia sublime e falsa
em corpos de jade,
de mármore,
de carne serena ou exaltante,
perfumada, acariciante e breve.
Em corpos que jamais foram nossos,
e eram e são também os nossos corpos.
Muitas mulheres entraram, e saíram,
e voltaram a entrar nas nossas vidas.

Ex-combatente da Guiné, peço ao Luís Graça
que publique estes meus mini-poemas,
com imagens, sensibilidades, encantamentos,
sobre o erotismo suave, a lascividade perfumada.
Os poemas já têm seis anos de idade, mas são eternos.
E tenho para o meu novo livro, ainda este mês, com a Ed. Gradiva,
mais 200 poemas sobre as meninas/mulheres,
eternas companheiras,
a mais fantástica criação inteligente de Deus,
as figurações e fadas que povoam as nossas vidas.
Se valer a pena, dar-vos-ei notícias.

Abraço,
António Graça de Abreu


2. Comentário do editor:

Concordámos em não publicar o "power point" na medida em que o António não tinha a certeza sobre a autoria dos créditos fotográficos... As imagens foram recolhidas na Net por uma amiga. Não podem ser publicadas no nosso blogue, por causa da proteção da propriedade intelectual e do consequente risco de violação dos termos de utilização deste espaço que o Google nos concede.

A vida é feita de compromissos e de respeito pelos direitos dos outros...Os poemas e as fotos são belíssimos, os poemas são do António mas as fotos não. Em contrapartida o nosso camarada arranjou-nos uma alternativa... Os nossos leitores não ficam defraudados.  Obrigados pela compreensão de todos, e pela generosidade do autor. Os editores.

3. Mensagem de hojem do Antonio Graça de Abreu, com data de hoje

 Meu caro Luís:

Obrigado pelo teu cuidado. As imagens são de facto da Net, não sei de onde. Não fui eu que fiz o "power point", mas uma amiga. Por isso será melhor não colocar imagens, não vá o Google implicar.

Mas mando-te mais minipoemas da lascividade perfumada, cheios de erotismo suave.

Sem imagens, encaixam na bloguepoesia e já lá dizia o Camões, no canto IX de Os Lusíadas:

"Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
mas julgue-o quem não pode experimentá-lo."




Capa do livro. Cortesia da Gradiva  (vd. aqui página doFacebook):

"Recorrendo a uma forma poética de origem japonesa (haiku),
onde se valoriza a objectividade,
o autor apresenta um conjunto de poemas
que levam o leitor a viajar por locais distintos,
no Oriente e no Ocidente".


4. Figurações e fadas

E o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Luís de Camões

“Não escrevas poemas de amor, são os mais difíceis.”

Rainer Maria Rilke (1875-1926)


267

Vim para ouvir
as palavras sagradas do monge budista,
mas penso na mulher de seda e rosmaninho.
Meu ser desliza na brisa
ao encontro da voluptuosidade faiscante
dos braços da minha amante.

278

Encontrar bom porto
nas mil enseadas
do teu corpo.

293

Chegamos à casa da aldeia.
Sob a cama, o criquilar de um grilo
saúda os amantes.

294

Mostrar-me-ás os caminhos do Tao,
yin e yang tatuados no teu ombro.
Depois, enlaçados, avançaremos para a noite.

295

Que sede!
O meu balde de prata
desce célere para o teu poço de jade.

296

As minhas mãos nos teus seios,
montículos de seda cor de rosa,
tépidos flocos de neve.

297

Perfeitíssimos
os teus seios.
E duas framboesas.

298

A seda dos teus seios
no molde dos meus dedos.
Hoje não vou lavar as mãos.

299

Entro no teu jardim.
Aberta para mim,
uma flor de marfim.

300

A tua roupa
esconde música celestial.
Dispo-te.

333

No duplo jade do teu corpo,
teus seios de fruta e avelã.
Meus lábios em viagem.

334

Para eu viajar em ti
entreabres a flor
adormecida no teu ventre.

335

Acaricio
o teu monte de jade,
fresco como musgo verdejante.

301

Beijos, carícias rendadas
dos meus lábios,
música sumptuosa no teu corpo.

302

Nua. Com os lábios teço,
na perfeição do teu corpo,
um vestido de ternura.

303

Partir-te ao meio,
embrulhando cada metade em mim.
Comer-te.

304

É sexo, é amor,
é poesia.
Todo o teu corpo é magia.

307

Que perfeição!
Limpa e pura, 
a água do teu banho.

308

Crisântemos na água do teu banho.
A tua nudez limpa
e perfumada.

310

Uma flor na névoa.
O teu pequeno pavilhão de cereja
abre-se para mim, como um livro.

311

Sou um hífen à solta
pousado
no mel do teu ventre.

312

Adormeces
no canto
silencioso dos meus braços.

325

Vasco Graça Moura fala
de “perfumes da penumbra da mulher.”
Quem sou eu para desejar
fragrâncias de um corpo jovem
para o grito dos dias 
e os silêncios da lua?

355

Meu desatino,
empilhar na volúpia da memória
os meus amores de outrora.

356

Sempre a mulher inexistente.
Beijo o vazio,
até sangrar a polpa dos meus lábios.





Poemas do meu novo livro Haikus do Japão e do Mundo, Lisboa, Gradiva Ed., 2016 [, coleção Cantares de Amigo, preço de capa , c. 15 €], saído da tipografia há três dias.

Com um abraço do António Graça de Abreu.

______________

Nota do editor:

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

Guiné 63/74 - P14242: Manuscrito(s) (Luís Graça) (45): A arte lusitana de bem comunicar em toda a parte...



Uma carraca portuguesa em Nagasaki, fins do séc. XVI/princípios séc. XVII. Pintura de biombo nanban. Kano Naizen - Kobe City Museum., Imagem do domínio público (Fonte: Cortesia de Wikipedia)


(...) "O Comércio Nanban (japonês:南蛮貿易, nanban-bōeki, "Comércio com os bárbaros do Sul") ou Período do Comércio Nanban (japonês: 南蛮貿易時代, nanban-bōeki-jidai, "Período do comércio com bárbaros do Sul") na história do Japão compreende o período que vai da chegada dos primeiros europeus, oriundos de Portugal, em 1543, até sua exclusão quase total do arquipélago entre 1637 e 1641, com a promulgação do "Sakoku" - o Édito de Exclusão." (...)  (Fonte: Wikipédia > Período Nanban)



1. A atual geração de gestores das nossas empresas, os putos que fazem gala de exibir o seu diploma de MBA tirado nas melhores universidades europeias e norte-americanas, não sabem o que é a comunicação face a face. Vivem na aldeia global mas só conhecem a comunicação virtual, à distância. São dos que se gabam de despedir trabalhadores por email… As más notícias agora vêm por email. E já não há a pancadinha nas costas, à moda antiga autoritário-paternalista… O tecnocrata não precisa nem sabe nada de comunicação humana... Lembra-me a história de um desgraçado que só soube que tinha sido despedido, quando foi ver o saldo da conta bancária no fim do mês… Era dos que nunca viam a caixa de correio electrónica...


2. Lembro-te também de ter lido que, em 1995, há 20 anos atrás, os trabalhadores portugueses eram, em toda a União Europeia (UE), aqueles que tinham menos probabilidades de ter uma discussão franca, cara a cara, com o seu chefe acerca do seu desempenho profissional… Apenas 23% admitiam que isso acontecia contra 41% no conjunto dos então 15 da UE, segundo os resultados do Segundo Inquérito Europeu sobre as Condições de Trabalho, realizado nesse ano pela Fundação Europeia para a Melhoria das Condições de Vida e de Trabalho, com sede em Dublin. O português não é(era) treinado para dar notícias, nem boas nem más.

3. E, todavia, os estrangeiros têm (ou tinham, no século passado) um arreigado estereótipo, a nosso respeito: "Les portugais sont toujours gais". Leia-se: os portugueses são… pobretes mas alegretes. Hoje há outra versão que por aí corre: os portugueses veem-se gregos para poder continuar a viver em Portugal, que é(era) a sua terra de origem.


4. Quando chegámos ao Japão no final da 1ª metade do Século XVI, os nativos acharam-nos com “falta de maneiras” porque, além de comermos com as mãos, expressávamos os nossos sentimentos em público, sem ponta de pudor!… Comer com as mãos, era inconcebível para um japonês feudal, em que as relações sociais ainda eram (e continuaram a ser até à era meiji) feudais, as do servo e do suserano… Etnocêntricos, como qualquer povo, chamaram-nos “bárbaros do sul”… Mas exprimir as emoções em público era tabu… Mesmo assim devem ter-nos achado uns "gajos porreiros", ou pelo menos tiveram a santa paciência de nos tolerar durante um século... E incorporaram, no seu vocabulário, mais de 2 centenas de palavras portugueses... A língua, o comércio e os jesuítas foram os principais veículos de intercâmbio entre os dois povos: exemplos de palavras portuguesas de origem japonesa: biombo, catana; exemplos de palavras japonesas de origem portuguesa: amanderu (amêndoa), bauchizumu (batismo), beranda (varanda), bisuketto (biscoito), botan (botão), kapitan (capitão), kappa(capa), koppu (copo), kasutera (castela, bolo tipo pão de ló), kompeitou (confeitos, doces), karuta (carta), pan (pão), shabom (sabão), shabon dama (bola de sabão), tabako (tabaco), etc.


5. Afinal, em que é que ficamos? Haverá uma arte lusitana de bem comunicar ? Comunicar, na verdade, não é fácil… mas é preciso. Muitos dos nossos conflitos em casa e no trabalho começam justamente por falhas no processo de comunicação. Não sei se há uma “arte lusitana de bem comunicar em toda a parte”… Mas somos capazes de exprimir emoções e sentimentos por formas culturais como o fado, que os atuais filhos do “sol nascente” apreciam de sobremaneira, quando vêm a Lisboa, como turistas… São os “toyotas” (outro estereótipo) que enchem (ou enchiam há uns anos atrás) as casas de fado do bairro Alto e de Alfama… Será a atração dos contrastes ? Dois povos que vivem nos antípodas, afinal tão próximos e tão afastados…

______________

domingo, 7 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4476: Agenda cultural (15): Lançamento em Macau, em 27 de Maio último, da antologia de poemas de Han Shan, trad. de A. Graça de Abreu

S/l > S/d > O nosso camarada António Graça de Abreu com a esposa, médica, de nacionalidade chinesa. O casal vive em Portugal. Em 17 de Maio último, ele tinha-nos dito: "Vou para Macau 6º. feira, dia 22 de Maio. Regresso de Macau dia 5 de Junho. Lá vai ser lançado o meu último livro, Poemas de Han Shan. Han Shan é um homem fabuloso, meio budismo zen, meio quase tudo. Claro que estarei no nosso encontro na Ortigosa, dia 20. Dia 3 de Julho parto para Xangai com os meus filhos (a minha mulher já lá estará) e só regresso de Xangai no dia 3 de Setembro. Não viajo para a China há quatro anos, vou-me reciclar".

Foto: © António Graça de Abreu (2009). Direitos reservados.

Sítio do diário, em língua portuguesa, Hoje Macau, edição de 5 de Junho último. Carlos Morais José é o director do jornal cuja propriedade é da empresa Fábrica de Notícias Lda. Sede e redação: Macau (China).

Na edição de 27 de Maio último, o nosso camarada e amigo António Graça de Abreu deu uma importante entrevista, a propósito do seu último livro, lançado nesse dia, uma antologia de poemas de
Han Shan (Séc. VIII), traduzidos para português. É um acontecimento que saudamos, que honra a cultura portuguesa, que reforça o papel da língua portuguesa no mundo e que contribui para o aprofundamento das relações entre Portugal, a China e a comunidade dos países de língua portuguesa... Naturalmente, é também um motivo de alegria e de orgulho termos um dos nossos camaradas com uma estrelinha a brilhar no céu do antigo Império do Meio...

Reproduzimos aqui, com a devida vénia, essa entrevista, conduzida por Paulo Barbosa (LG)


Sinólogo António Graça de Abreu apresenta hoje antologia de Han Shan > “A poesia é intraduzível”

por Paulo Barbosa

Hoje Macau, 27 de Maio de 2009


"Poemas de Han Shan” é o nome da antologia que hoje, pelas 18h30, é lançada na galeria da Livraria Portuguesa [ em Macau]. A colectânea foi traduzida para português por António Graça de Abreu, que nesta entrevista fala na importância do clássico poeta budista e nas dificuldades do trabalho de tradução do texto chinês.

Licenciado em Filologia Germânica e mestre em História, António da Graça Abreu foi docente de língua e cultura portuguesa em Pequim e Xangai (*). Para além de tradutor, é autor de diversos livros de poesia e de um livro de memórias sobre a sua participação na Guerra Colonial, entre 1972 e 1974.

HM – Quem foi Han Shan?

AGA – Ninguém sabe quem foi, não se sabe se existiu realmente, em que ano nasceu ou morreu. Mas há uma antologia de poesia da dinastia Tang que tem trinta mil poemas de dois mil poetas e que foi publicada em 1705. Aí aparecem 311 poemas deste homem [dos quais a antologia editada pela COD publica cerca de metade].

No entanto, a sua fama ultrapassa fronteiras. Era um poeta muito querido dos Itálicobeatnicks, graças às traduções para inglês de Gary Snider, o protagonista do livro “Vagabundos do Dharma”, de Kerouac.

Sim, ele é um clássico da literatura chinesa, embora tenha passado um bocado despercebido na China, onde estou convencido que vai ser recuperado. Mas é muito conhecido no Japão, por ser um poeta do budismo chan (zen, em japonês), que ali foi introduzido no século XII.

Nas décadas de 1950 e 1960, a beat generation descobriu-o. Aliás, o Jack Kerouac, que é um nome importante na literatura norte-americana moderna, dedicou o livro “Vagabundos do Dharma” a Han Shan. Este homem é tão importante que, no Japão, o Matsuo Basho [1644-1694], um dos grandes poetas do país, utilizava epígrafes dos seus poemas nos haiku [forma de poesia tradicional japonesa] que escrevia.

Quais são os temas recorrentes na poesia de Han Shan?

É um homem muito curioso, porque se retira para a montanha como eremita, mas depois, de vez em quando, escreve uns poemas com saudades do mundo cá de baixo: sente falta das meninas bonitas, da boa comida... Os temas são os normais na poesia deste período. Por exemplo, a brevidade da vida.

Ontem, apenas com 16 anos
eram jovens, fortes e apaixonados.
Hoje têm mais de setenta, extingue-se o vigor, vão perecer.
São flores num dia de Primavera, abrem de manhã, murcham ao entardecer.


A ligação com a Natureza é outro tema muito vulgar da poesia chinesa. O homem retira-se da confusão e da selvajaria e vai meditar para a montanha, o que significa, para os budistas, deixar de pensar, esvaziar a mente e procurar ficar com a cabeça livre de qualquer tipo de pensamento pesado.

Há também uma crítica ao mau governo permanente do império, assim como aos avarentos e aos ricos, ou à gente que enriquece rapidamente, mas a quem “só as moscas apresentam condolências” quando morre.

Embora seja budista, não acredita na imortalidade. O poeta critica os monges, por terem um comportamento pouco conforme com a doutrina – as pessoas entravam para os mosteiros para sobreviver, não era por terem muito amor ao Buda.


Já havia traduções em português de Han Shan antes desta antologia?

Estas traduções já deviam ter sido feitas há muito tempo. Mas penso que fui a primeira pessoa a traduzi-lo em Portugal, em 1996, quando fiz uma pequena folha para os cadernos do Pen Club. A Ana Hatherly fez depois uma tradução de 25 poemas, a partir do francês, publicada pela Cavalo de Ferro.

A sua tradução é feita directamente a partir do chinês?

Sim, mas também utilizo o francês e o inglês. Isto porque quase ninguém consegue saber os caracteres todos. Uso dicionários de chinês-inglês e chinês-francês e consigo descobrir praticamente tudo. A minha mulher, que é chinesa, também me ajuda.

Ouvi-o dizer que as todas as traduções são impossíveis. Traduzir um texto deste género é reescrevê-lo? Não será preciso ser poeta, como o Graça Abreu também é?

O poema, quando aparece em português, já não é o poema em chinês. É por isso que a poesia é intraduzível. Quando chego à fase final do poema, já estou a fazer uma outra coisa, sobretudo se for um poema mais rebuscado. Vou dar um exemplo de um poema fácil de traduzir. Em tradução literal: “Eu habitar montanha/ausência pessoa conhecer/branco nuvem meio/sempre silêncio silêncio.”

Na minha tradução, ficou assim: “Habito a montanha/ninguém me conhece/no meio das nuvens brancas/O silêncio, sempre o silêncio.”

Isto tem que soar bem em português, essa é sempre a minha preocupação. Se o poema não tiver qualidade na língua de chegada, estamos a assassinar o poema. Quanto ao significado, é o mais próximo possível do que está em chinês, mas, em certos casos, é impossível. Por vezes, os caracteres podem ter vinte ou trinta significados; depois, o texto foi escrito em 700, há caracteres que passaram de um modo e outros que tinham um significado e hoje têm outro.


Portanto, nunca teremos uma tradução definitiva?


Há um poeta de Hong Kong que diz que cada poema é como um quadro: cada pessoa o interpreta como bem entender. O que tem que estar lá é o olhar. Se o quadro é sobre um rio, não podemos estar a ver a montanha.

Que outras traduções pretende fazer de poetas chineses?


O meu plano é traduzir todos os maiores poetas da China. Já traduzi quatro, nomeadamente Han Shan, Li Bai, Wang Wei e Bay Juyi. O problema é ter os apoios necessários para fazer este trabalho. Os livros vendem-se pouco e as pessoas estão cada vez menos motivadas para ler poesia. Mas julgo que estes livros, embora agora possam ter poucos leitores, vão ficando. A poesia de Camões, de Dante ou de Shakespeare nunca se desactualiza. O “D. Quixote” será lido daqui a duzentos anos. Embora em Portugal não se tenha essa ideia, alguns destes poetas que traduzo têm a dimensão de um Camões ou de um Dante.

Estes textos são do século oitavo. Em que condições chegaram até nós?

Na China antiga, as pessoas entretinham-se a copiar poemas, escrevendo com tinta da China sobre papel de arroz. Estavam habituados a copiar – ainda hoje é assim que se aprende chinês, copiando caracteres. Escreviam, por vezes, várias cópias e os poemas foram-se transmitindo de geração em geração através de novas cópias. Isto até à invenção chinesa da imprensa em caracteres móveis, que é anterior a Gutenberg.

Mas em todo esse processo há uma adulteração...


Há e há muitos poemas que se perderam. As antologias poéticas que foram sendo feitas ajudaram a preservar o legado.

Para além de tradutor, é também poeta com obra publicada. Está a trabalhar em algum novo livro de originais?

No ano passado, publiquei o livro “Cálice de neblinas e silêncios”, que tem uma forte influência chinesa e tenho outro já escrito, chamado “A cor das cerejeiras”. São uma espécie de haiku, onde surgem as inspirações japonesa e chinesa, assim como poemas de viagens, alguns deles retratando os cinco mil quilómetros que fiz de automóvel ao longo dos Estados Unidos. Agora, que estou reformado e tenho tempo livre, quero privilegiar a minha poesia e sobretudo a poesia chinesa, que é muito mais importante do que a minha.

[Revisão / fixação de texto: L.G.]

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes de:

21 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3921: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (8): Um poema chinês do Séc. VIII com dedicatória à malta de Matosinhos (A. Graça de Abreu)

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Guiné 63/74 - P4351: Blogpoesia (47): História de Portugal em sextilhas (Manuel Maia) (IV Parte): II Dinastia (De D.Manuel, O Venturoso, até ao fim)




Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Cafal Balanta > Destacamento da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610 (1972/74) > O apartamento de Cafal Balanta, na zona turística do Cantanhez... Publicidade, para quê ? ... Pode-se perguntar: E preço (s) ?... Não vinha nos prospectos da época...


Fotos: © Manuel Maia (2009). Direitos reservados.


IV parte da História de Portugal em Sextilhas, escritas pelo épico do Cantanhez (O Manuel Maia, formado em história, foi Fur Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4610, Bissum Naga, Cafal Balanta e Cafine, 1972/74) (*).


Mensagem de 5 de Maio de 2009


Antes de me debruçar sobre a matéria em questão, gostaria de agradecer a todos quantos fazem o subido favor de me ler, honrando-me com os seus comentários.

Quando te enviei o excerto deste trabalho, fi-lo na esperança de que pudesses tecer
alguns comentários quanto ao seu interesse, e também, porque não revelá-lo, na expectativa de haver entre os camaradas alguém ligado a editoras gráficas, pressupondo uma hipotética publicação, uma vez que "em se tratando de poesia" o acesso é bem mais difícil que a prosa ...

Manuel Maia

Comentário de L.G.:

Manel: Portugal é um país de poetas e de soldados onde a poesia não enche a barriga do pobre e o soldo do soldado não dá para a caneta, a tinta e o papel... Mesmo assim a malta escreve, e canta, até o dedo doer, até a voz doer...É o teu fado, meu vate, nosso bardo, nosso épico...Alegras-nos a alma, enriqueces a nossa cultura e a nossa história, dás um bela lição aos tabanqueiros... Sabes que a malta conhece mal (e porcamente) a sua própria história, por que se calhar a escola, a nossa escola, não nos ensinou amar os nossos poetas, os nossos heróis, os nossos santos, a amar e a criticar os nossos reis, os nossos comandantes... É poesia, é pedagogia, é amor às nossas coisas... São as nossas raízes, é a nossa idiossincrasia, é a nossa identidade... Não tenhamos pejo nem pudor de sermos tugas! (LG).


História de Portugal em Sextilhas - IV Parte

101-Tratado em Tordesilhas põe travão
às lutas desabridas, ambição
p´las terras que havia a descobrir...
Falece D. João de Portugal,
faltando um seu herdeiro natural,
cunhado Manuel lhe vai seguir...


102-Brindado O Venturoso pela sorte
por Gama do Oriente encontrou norte,
trazendo mil riquezas de presente.
À Terra Nova vai Corte-Real
depois será Brasil, já com Cabral
padrão das quinas ´stá no mundo assente ...


103-Foi Vasco, um bravo luso, a comandar
ousada expedição Índia por mar
que trouxe mil riquezas p´ra Lisboa.
Nascido em Silves, bom navegador,
serviu O Venturoso com rigor
e engrandeceu seu nome e o da c´roa...


104-Dos temporais saído triunfante
o bravo Gama, intrépido almirante,
travou rebelião da marinhagem.
Piloto em Moçambique fez trapaça
visando a entrega aos mouros, em Mombaça,
da frota lusa a meio da viagem...


105-Acaso alerta Vasco p´ra cilada,
daí matar o cafre à cutilada,
seguindo até Melinde que é fiel.
O rei lhe dá piloto experimentado
que cumpre acordo pré-determinado,
levá-lo a Calecute o seu papel...


106-Ainda na baía de S. Brás,
queimada S. Miguel ficou p´ra trás,
das quatro naus só três cumprem missão.
Fundeia a esquadra junto a Calecute
certeira fora a escolha do azimute
rajá lhes fez pomposa recepção...


107-De Angra, donatário João Vaz,
vogando em mare nostrum, sempre audaz,
tem mar nas veias clã Corte-Real.
Gaspar, seu filho, aporta ao Canadá,
no ano em que o Brasil, Cabral nos dá,
morrendo ano seguinte p´ra seu mal...


108-P´ra Índia vai Cabral mais seus valentes,
com treze naus pejadas de presentes,
p´ra dar ao Samorim de Calecute.
Os ventos desviaram-no da rota,
para avistarem terra em zona ignota,
mudando assim depressa de azimute...


109-Enorme cordilheira é avistada,
coberta de arvoredo e encimada
por crista montanhosa que seduz.
Surpreso face ao belo litoral,
experimentado nauta que é Cabral,
à terra dá por nome Vera-Cruz...


110-Buscando ancoradouro o encontrou
dez léguas adiante e o baptizou
do nome que hoje tem, Porto Seguro.
Padrão e cruz enorme é colocada
p´ra missa pascoalina celebrada
ante índio curioso, ´inda tão puro...


111-Herói Bartolomeu que já dobrara
as tormentosas águas e ganhara
grã fama ante a gente marinheira.
Mau grado ataque à zona com prudência
soçobra face à enorme violência
daquela tempestade traiçoeira...


112-Das treze que zarparam de Belém,
em Calecute seis atracam bem,
com recepção honrosa ao capitão.
Montada foi então a feitoria
que lucro para o reino aportaria,
Cabral, só com trê naus, regressa então...


113-Seu pai Fernão Cabral, alcaide-mor,
Gouveia, a mãe, de nome Leonor,
em terras de Belmonte foi nascido.
Lisboa o recebeu junto da corte
a capitão d´armada o leva a sorte,
p´ra achar Brasil, Cabral foi escolhido...


114-Foi Pêro Vaz Caminha, cavaleiro
da casa da balança, mestre herdeiro
d´armada de Cabral, o escrivão.
Fez carta de achamento do Brasil
onde informava el-rei de novas mil
com pormenor, rigor, exactidão...


115-Um pensador profundo, inteligente,
ourives consagrado(?), Gil Vicente,
custódia de Belém foi(?) sua lavra...
Cosrumes, língua, vida social
espelha em sua obra teatral,
burilador do ouro(?) e da palavra...


116-Na Índia se fundaram feitorias,
defesa para as ricas especiarias,
garante p´ro negócio lucrativo...
Mais tarde, vice-reis serão criados,
cidades e mil portos ocupados
que o lucro vale o esforço dispendido...


117-Servindo interesses desta lusa grei,
partiu p´ra Índia como vice-rei,
Francisco Almeida um bom perito em mar...
Chefia quize naus, seis caravelas,
milhar e meio d´homens dentro delas,
querendo novas terras conquistar...


118-Tomou Quiloa e lá fez fortaleza,
Mombaça transformou em pira acesa,
jurou vingança à morte de seu filho.
Acossa Mor-Hocém, destrói-lhe armada
prendendo Albuquerque, gera alhada,
que ofusca o seu passado todo brilho...


119-Carece a Cruz de urgência em controlar
os mares da Ásia, até poder tomar,
a Terra Santa há muito desejada.
Afonso de Albuquerque tem missão
de conquistar Malaca, Ormuz, Ceilão,
numa estratégia bem delineada...


120-Tributos passa a impor aos seus vencidos
p´ra encher os lusos cofres exauridos,
Lisboa é incontrolada e despesista
Mau grado ouro da Mina em profusão,
pimenta a abarrotar as naus de então,
não há riqueza grande que resista...


121 - Regressa ao reino após longa viagem
trazendo mil sucessos na bagagem,
daí grande importância o rei lhe dá.
Agora com Tristão da Cunha, ao lado,
partiu p´ra iniciar vice-reinado
mal chegue ao fim triénio de quem está...


122-Do mar da Arábia então capitão-mor
foi preso por Francisco, em Cananor,
que a governança nunca quis largar.
o rei, Marechal Coutinho, envia urgente
p´ra dirimir, de vez, questão candente
fazendo a entrega a Afonso do lugar.


123-Fernão de Magalhães, um transmontano,
de fidalguia baixa, não mundano,
nas armas vai catar sua ascensão...
Com D. Francisco Almeida vai zarpar
p´ra Índia em sua armada p´ra ganhar
saber consolidado, p´ra missão...


124-Castela leva ao mastro por bandeira,
da nau, a abarcar mundo, volta inteira,
vincado o desinteresse lusitano.
El-rei D. Manuel não entendera
alcance da proposta que fizera,
Fernão de Magalhães, um transmontano...


125-Negando a Magalhães, que era Fernão,
apoio p´ra circum-navegação
que Elcano haveria de acabar.
Deixou à Espanha glória pioneira
de dar a volta ao mundo, vez primeira,
que à História caberia registar...


126- Mercê do muito lucro acumulado,
estilo manuelino ´é então mostrado
na Pena, nos Jerónimos, Belém...
Riqueza e arte andaram de mãos dadas,
pois D. Manuel as quis perpetuadas,
memórias que hoje a História ´inda retém...


127-Enorme militar, Pacheco Pereira,
na Índia evidencia a dianteira,
do Portugal de então, desse momento.
Cosmógrafo de grã categoria,
esmeraldo de situs orbis, cria,
legando ao mundo seu conhecimento...


128-De Grão Pacheco e Aquiles Lusitano,
Camões o rotulou, honesto, lhano,
fautor de mil façanhas pela grei.
D´el-rei D. Manuel ganha honrarias,
do sucessor mais torpes vilanias,
injustamente o prende, João, rei...


129-Depois deste reinado glorioso
virá João Terceiro, O Piedoso,
monarca com as Letras por destino.
Colégio das Artes lhe é devido,
aos Jesuítas faz formal pedido
p´ra propagarem Fé, bem como ensino...


130-Atento à francesa vil cobiça
que o lucro da pilhagem corso atiça
el-rei colonizar irá enfim...
Impõe em Vera Cruz capitanias
que p´ra Madeira deram garantias
de ali ir implantar sistema afim...


131-Dos vice-reis da Índia, evocados,
heróicos governantes tão honrados
João de Castro é vulto relevante.
Com meia dúzia de homens corajosos
defende Diu dos Turcos belicosos
até expulsar a força sitiante...


132-Por terra estão muralhas defensivas
após as otomanas investidas
de assalto à lusa praça em DIU erguida.
Restauro é pois urgente ante a ameaça
dinheiro não tem Castro, por desgraça,
a Goa pede ajuda de seguida...


133-Em carta comovente, o vice-rei,
uns trinta mil pardaus pediu à grei,
as barbas enviando de penhor...
Edis Goeses sensiblizados,
dinheiro emprestam muito emocionados,
perante tal grandeza e pátrio amor...


134-De Montemor o Velho oriundo,
fugindo da miséria, fez-se ao mundo
na esperança de futuro por Lisboa.
Depois dos dissabores da capital,
procura o exotismo oriental
partindo em trinta e sete rumo a Goa...


135-Percorre a Índia, a China e o Japão
conhece p´rigos, medos, aflição,
perpassa cativeiros, vida dura.
Regressa para Goa decidido,
dali para Lisboa, enriquecido,
p´ra se instalar de vez, finda a aventura...


136-Do Tejo, a outra banda foi seu norte,
ali criando a prole co´a consorte
escrevendo mil viagens que encetou...
A Peregrinaçam, estranhamente,
peregrinou no prelo duplamente
os anos de Oriente que passou...

137-Na Peregrinaçam a fantasia
combina co´a verdade e a magia
para agarrar leitor que sorve as linhas...
De Fernão Mendes Pinto, há detractores
roídos por invejas, desamores,
capazes das mentiras mais mesquinhas...


138-Enorme historiador renascentista,
João de Barros seu lugar conquista,
no galarim das mais ilustres gentes...
Feitor e tesoureiro são funções
que ocupa por diversas ocasiões
com desempenhos fortes e prudentes...


139-Prudência que não tem no Maranhão,
tentado a donatário capitão,
negócio ruinoso foi desdita...
Buscava ouro amarelo, vil metal,
azar bateu-lhe à porta p´ra seu mal,
pois de ouro nem sinal de uma pepita...


140-Ao rei que acatou a Inquisição
sucede o neto D. Sebastião,
a quem a história chama Desejado.
Razão pr´o cognome está na morte
do pai pr´a quem madrasta foi a sorte,
deixando a um feto um fardo bem pesado...


141-E o velho Portugal, argamassado
com brios, honras, sangue derramado,
irá perder em breve a identidade.
El-rei Sebastião não dá ouvidos
a velhos conselheiros que aturdidos
em vão tentam travar sua vontade.


142-Fogosa juventude e galhardia,
a ânsia de mostrar a valentia,
retratam bem o seu altivo porte.
Batalha dos três reis, registo triste,
ferido o jovem tomba, não resiste,
Alcácer-Quibir foi leito de morte...


143-Camões lhe dedicou sua grande obra
que mostra o peito luso ter de sobra
a força, a coragem e ousadia
que afasta, de uma vez, velhos temores
ao galgar mar, vencer Adamastores
que o mito popular, criara um dia...


144-Nobreza empobrecida por linhagem,
as Letras de Coimbra na bagagem,
estúrdia e boémia por opção.
Das armas foi amante quezilento
Camões que causou grave ferimento,
no paço, a pajem grande rufião...

145-Não teve berço d´oiro Luis Vaz,
tão pouco a burguesia lhe subjaz,
mas Letras almejava ter por meta.
Coimbra lhe abriu portas do saber
mercê do tio Bento, chanceler,
que nele vira a aura de poeta...


146-P´ra corte se encaminha o grande vate
que cego fica em Ceuta num combate,
e é preso por ferir pajem real...
Na armada de Cabral arriba a Goa
serviu no Calabar, volta a Lisboa,
ali perece e deixa obra imortal...


147-Mau grado esta vivência desregrada,
(artista é mesmo assim, tão preso a nada...)
só Letras cultivou com forte apego.
Privou em Goa com Garcia de Horta
escrevendo-lhe uma ode onde o exorta,
na lírica atingiu grande relevo...


148-Boémia juventude do poeta
a punição na Índia lhe acarreta,
catorze anos de errância no Nascente...
Naufraga no Mekong, vadia em Goa,
esmola em Moçambique, quer Lisboa,
regresso lhe custeiam de presente...


149-Ao editar a obra genial
granjeia o estatuto d´imortal
no galarim das Letras instalado...
Partindo p´ro etéreo foge à ofensa
d´abjecta filipina vil presença,
no trono luso por si tão amado...


150-Cristovão Moura, o tal luso traidor,
irá comprar ajudas de favor
(junto à nobreza e clero português)...
Apoios p´ra Filipe que é segundo
p´ra que este venha a ser senhor do mundo,
gerindo os dois reinos de uma vez...


151-E morre o cardeal, velho regente,
ao trono é o castelhano um pretendente
por ser neto d´el-rei O Venturoso.
Receios são sentidos pela grei
que vai querer Prior do Crato a rei,
mas sai o espanhol vitorioso...

Manuel Maia

[Fixação / revisão de texto: L.G.]

__________

Nota de L.G.:

(*) Vd. postes anteriores:

2 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4274: Blogpoesia (43): A história de Portugal em sextilhas (Manuel Maia)

3 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4278: Blogpoesia (44): A história de Portugal em sextilhas (II Parte) (Manuel Maia)

6 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4290: Blogpoesia (45): História de Portugal em Sextilhas (Manuel Maia) (III Parte): II Dinastia, até ao reinado de D. João II