Timor > Álbum Fontoura > c. 1936-1940 > Foto 16994 > O farol de Díli. O início da sua construção data de 1889, durante o governo de Rafael Jácome Lopes de Andrade [1888-1890]. Obras de reconstrução e melhoramento em 1932 e 1948-49, após a ocupação japonesa.
Foto do Arquivo de História Social > Álbum Fontoura. Imagens do domínio público, de acordo coma Wikimefdia Commons. (Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, 2024)
Fonte: O Sardoal - Boletim de Informação e Cultura da Câmara Municipal de Sardoal, bimestral, nº 53, ano 9, julho - agosto de 2008, pág. 27 (Trata-se das reprodução de um artigo do "Diário de Notícias", de 15 de setembro de 1946.)
1. Os 28 louvores (contados por nós), atribuídos formalmente, pelo Governador de Timor, Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, cap inf, natural do Porto, aquando da cessação das suas funções (*), com datas de 10 de outubro e 21 de novembro de 1945, contemplam as seguintes categorias de "portugueses, europeus e assimilados, que na colónia se mantiveram durante todo o período da ocupação do aeu território por forças estrangeiras" (sic):
- militares (oficiais, sargentos e praças) (n=10) (incluindo o ten inf Anónio Oliveira Liberato, que irá escrever dois livros sobre a ocupação japonesa);
- pessoal da administração (chefes de posto e outros) (n=10)
- deportados (=6) (incluindo o Manuel Viegas Carrascalão, 1901-1977, feitor da Granja Eduardo Marques, o patriarca do clã Carrascalão);
- 1 profissional de saúde (o médico de 2ª classe José dos Santos Carvalho),
- 1 missionário (padre Carlos Rocha Pereira);
- e o diretor da Sociedade Agrícola Pátria e Trabalho (Jaime Celestino Montalvão da Silva Carvalho)...
Mais tarde, já em junho de 1947, no relatório que fez para o Governo sobre os "acontecimentos de Timor" (relatório que saiu em livro, publicada pela Imprensa Naciomal - Casa da Moeda, para logo ser retirado do mercdao), o antigo Governador alargou a lista dos portugueses e inclui uma mão cheia de timorenses, vivos e mortos, merecedores do reconhecimento da Pátria portuguesa: são mais de 60 os liurais, chefes de suco, "moradores" (milícias), e outros "indígenas" (sic) expressamente citados.
Cremos que o critério do governador cessante foi "político", ou seja, só foram contemplados por louvores aqueles que "se mantiveram em absoluta obediência às ordens do governo da colónia durante o período da ocupação da colónia por forças estrangeiras" (sic)... Uma exigência patética e absurda por parte de um governador que, com a longa e brutal ocupação japonesa (que em se compara com a holandesa e australiana), ficou praticamente incomunicável e manietado, sem poder mandar em coisa nenhuma, de fevereiro de 1942 a setembro de 1945...
De entre alguns dos heróis (portugueses e timorenses) que resistiram à ocupação nipónica, estão sem sombra de dúvida o chefe de posto de Laga, Augusto Leal de Matos e Silva, o chefe de posto de José Plínio dos Santos Tinoco e o tenente Manuel de Jesus Pires, administrador de Baucau. Os três morreram na prisão, às mãos dos japoneses, em 1944, mas tinham cometido o erro de se aliarem aos australianos, o que era imperdoável aos olhos de Salazar...
Tod0s deveriam ter sido louvados por atos heróicos... Recorde-se em 3 de agosto de 1943 ajudaram a embarcar, em duas vedetas australianas, perto da "alfândega" de Barique, um grupo de foragidos portugueses e timorenses (com destaque para mulheres e crianças). Mas em Timor ficou um grupo de voluntários, em missão, de observação, de que faziam parte os seguintes portugueses:
- Tenente Manuel de Jesus Pires (Porto, 1895-Díli,1944);
- Chefe de posto Augusto Leal de Matos e Silva;
- Chefe de posto José [Plínio dos Santos] Tinoco;
- Enfermeiro Serafim [Joaquim] Pinto;
- Radiotelegrafista Patrício Luz;
- Cabo de infantaria João Vieira.
O Augusto Leal de Matos e Silva (1905-1944), apesar de tudo, ainda foi homenageado pela Càmara Municipal da sua terra, Sardoal, dois anos e tal depois da sua morte. Era de uma família com prestígio na terra, filho de um conhecido republicano (logo do "reviralho") e grande benemérito local. (**)
Citando Carlos Vieira da Rocha (in " Timor: ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial, 2ª ed rev e aum, Lisboa: Sociedade Histórica da Independência de Portugal, 1996, pág. 131), "se para alguns é discutível a utilidade da resistência portuguesa, a verdade é que o tenente Manuel de Jesus Pires e os seus companheiros estavam imbuídos do mais puro patriotismo, levando ao sacrifício da própria vida".
O próprio Carlos Vieira da Rocha refere o caso do Governador que, no regresso a Portugal, em 8 de dezembro de 1945, foi "vítima da maldade e incompreensão dos homens" (pág. 173). Tendo-se levantado dúvidas sobre o seu "patriótico comportamento", acabaria por ser ilibado pelo Conselho do Pacífico, criado para apreciar os acontecimentos ocorridos em Timor, e que de faziam parte um general, um almirante e um juiz conselheiro...
O antigo deportado político Carlos Cal Brandão, no seu livro de memórias ("Funo: Guerra em Timor", 3ª ed., Lisboa, P&R - Perspetivas e Realidades, s/d, originalmente publicado em 1946) faz o retrato humano e profissional destes três resistentes, que com ele colaboraram e lutaram (pp. 21-25): Manuel de Jesus Pires (combatente da Flandres, que terá ido para Timor logo em 1919, tendo passado à situação de licença ilimitada, para abraçar a carreira de administrador colonial, figura muito popular na colónia), Matos e Silva (jovem de espírito irrequieto e aventura, com talento para a música, a pintura e o desenho), e José Tinoco (filho de um conhecido funcionário colonial, que havia nascido na Guiné, mas que passara a sua mocidade, em Vilar Real, na terra dos pais).
PS - Alguns Portugueses Mortos na Prisão (n=8)
1 — José Plínio dos Santos Tinoco. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, a 8 de abril de 1944. (#)
2 — Manuel de Jesus Pires, Tenente de infantaria e administrador de circunscrição. Na cadeia de Díli, em data ignorada de 1944.
3 — Cipriano Vieira. Cabo de infantaria. Idem.
4 — João Vieira. Cabo de infantaria. Idem.
5 — Serafim Joaquim Pinto. Enfermeiro. Na cadeia de Díli antes de 29 de abril de 1944.
6 — Augusto Leal de Matos e Silva. Chefe de posto administrativo. Na cadeia de Díli, possivelmente em 9 de maio de 1944.
7 — Artur do Canto Resende. Engenheiro-geógrafo. Em Kalabai, na ilha holandesa de Alor, a 23 de Fevereiro de 1945. (##)
8 — João Jorge Duarte. Gerente da filial do Banco Nacional Ultramarino de Díli. Em Kalabai, Alor, a 25 de março de 1945.
(#) Não confundir com Fernando Plínio dos Santos Tinoco, que foi encarregado da circunscrição de Oecusse, de dezembro de 1941 a setembro de 1945, e louvado pelo Governador; terá nascido em 1914, filho de Adelino Tinoco; o José seria seu filho; o Fernando em 1946 será nomeado administrador, e em 1963 cônsul, em Kupang).
(##) Agraciado, a título póstumo, em 1952, com o grau de oficial da Ordem Militar da Torre e Espada.
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Notas do editor:
(**) Último poste da série > 29 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26090: Timor Leste: Passado e presente (27): Notas de leitura do livro do médico José dos Santos Carvalho, "Vida e Morte em Timor durante a Segunda Guerra Mundial" (1972, 208 pp.) - Anexo VI: um herói esquecido e injustiçado, o tenente António Pires
2 comentários:
Até o antigo governador, o insuspeito Álvaro Fontoura, reconhecia, no início dos anos 50, que se tinha cometido uma injustiça na apreciação do comportamento de grande portugueses, durante a ocupação japonesa, como o tenente Pires, e os chefes de posto Matos e Silva e José Tinoco... A sua memória foi banida pelo Estado Novo, por terem sido "resistentes"...
Como sabemos da psicossociologia do(s) conflito(s), a distinção entre adversários e inimigos é muito ténue... O "quem não é por mim, é contra mim" foi um "provérbio" muito usado no Estado Novo...
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