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sábado, 21 de dezembro de 2024

Guiné 61/74 - P26296: Por onde andam os nossos fotógrafos ? (33): Jorge Pinto (ex-alf mil, 3.ª C / BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74) - Parte III


Foto nº 1


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 1C


Foto nº2 

Foto nº 2A


Foto nº 3


Foto nº 3A


Foto nº 4


Foto nº 4A


Foto nº 5


Foto nº 5A


Foto nº 5B


Guiné > Região de Quínara > Fulacunda > 3ª C/BART 6520/72, 1972/74)  >  s/d >   Içar da bandeira (toto nº 1), porto fluvial (foto nº 2), festas religiosas (fotos nºs 3 e 4) e carnaval (festa nº 5)


Fotos: © Jorge Pinto (2024). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine]



1. O Jorge Pinto [ex-alf mil, 3.ª CART/BART 6520/72, Fulacunda, 1972/74; natural de Turquel, Alcobaça; professor do ensino secundário, reformado; membro da Tabanca Grande desde 17/4/2012 (*), com c. de 6 dezenas de  referências no blogue ] tem o melhor álbum fotográfico  sobre Fulacunda, região de Quínara, chão biafada. Pela qualidade técnica e estética bem como pelo interesse documental dos "slides" que tirou.

Estamos a revisitar e reeditar algumas suas melhores fotos (**).

2. Em respostas aos postes anteriores, mandou-nos a seguinte mensagem, aproveitando para: (i) desejar-nos boas festas; (ii) fazer prova de vida; e (iii) partilhar connosco mais 5 preciosas fotos 

 Data - sexta, 20/12/2024, 15:48

Assunto - Fotos de Fulacunda

Camarada amigo , Luís Graça


Obrigado pelo "melhor do mundo" que me desejas para o novo ano que aí vem.... Também para ti e toda família desejo que seja um bom ano, principalmente na saúde e na felicidade.

Respondendo às tuas questões pouco tenho a acrescentar ao que já está escrito e fotos anexas, no poste P12 387 (**). Acrescento, no entanto, que uma grande parte do tempo era passada no mato, em patrulhamentos, montagem de emboscadas e participação em operações feitas na zona do Quinara, com envolvimento de outras tropas..

Quanto à questão de "fazer as honras da casa" (**), isso não é verdade. Eu, apenas acompanhei um grupo de guerrilheiros, fortemente armados,  que fizeram questão de ir ver o porto no rio de Fulacunda, por onde se fazia o nosso abastecimento quinzena/ mensal e que era o nosso ponto mais vulnerável na minha opinião. 

O local e as circunstâncias como se procedia à descarga do barco oferecia condições excelentes para um ataque à nossa tropa. Ora isso, nunca aconteceu.... Talvez, por isso mesmo este bigrupo do PAIGC guerrilheiros tivesse interesse e curiosidade em ver o local.

Envio mais umas fotos relacionadas com a "vida na tabanca" e em que nós mais ou menos nos tentávamos integrar.

Abraço, Jorge

Anexo - 

Foto nº 1 > Içar da bandeira
Foto  nº 2 > Porto fluvial, rio de Fulacunda, afluente do rio Geba
Fotos nºs 3 e 4 > Festa religiosa
Foto nº 5 > Carnaval na tabanca

________________

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Guiné 61/74 - P21902: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS) (8): Cenas de um carnaval em Bissau

Edifício do STM em Bissau

1. Em mensagem do dia 5 de Fevereiro, o nosso camarada Carlos Pinheiro (ex-1.º Cabo TRMS Op MSG, Centro de Mensagens do STM/QG/CTIG, 1968/70), fala-nos do Carnaval de 1970 em Bissau:


RECORDAÇÕES DOS TEMPOS DE BISSAU

PEDAÇOS DA HISTÓRIA DA GUINÉ
 
8 - Cenas de um Carnaval em Bissau

Estávamos em 1970, o Carnaval estava à porta e, apesar da guerra, em Bissau sempre havia algumas comemorações desse período que antecedia, e ainda antecede, a Quaresma.

Em Bissau tudo era diferente e tinha sabor a saudades da santa terrinha, mas havia sempre foliões, dentro dos condicionalismos que se viviam.

No QG, mais propriamente na CCS, havia um jovem sempre bem disposto, sempre com uma graça na ponta da língua, mas afinal de contas teria as suas razões para não se sentir assim tão bem. Constava que teria vindo de Angola, “premiado” com algum castigo, e andaria por ali à espera que os eventuais problemas tivessem solução. Era o Jóia, como era conhecido em todo o lado.

Assim, o Jóia, que era mesmo uma Jóia no trato do dia a dia, nesse dia de Carnaval resolveu vestir-se à Fula, embrulhou-se nuns lençóis, e lá foi até à cidade brincar e confraternizar com os amigos que tinha e eram muitos.

Mas o Jóia, amigo do seu amigo, nunca desperdiçava uma cerveja, de preferência das bazucas, e lá foi correndo todos os pontos de interesse de Bissau, a começar pelo Santos,  logo à saída da porta de armas de Santa Luzia, desde o Império, passando pelo Benfica, desde a Solmar até ao Solar do Dez, ao Portugal e ao Internacional, ao Zé da Amura, ao Bento, até que chegou ao novel Pelicano, cheio que nem um ovo dada a novidade daquele novo estabelecimento de dois pisos e com belas vistas sobre a Avenida Marginal e Ponte Cais de Bissau.

Porém, nessa confusão de gente, o Jóia, terá dado um encosto a um camarada à civil, que não gostou da brincadeira e o terá mimoseado com alguns murros e o Jóia, naquela circunstância não deixou cair a sua honra de combatente pelo que desatou, rapidamente, parte dos lençóis respondendo com as suas mãos à dita pessoa à civil que terá ficado deitado no chão do café.

Entretanto o Jóia terá dado mais umas voltas pela cidade mas regressou ao Quartel General onde já tinha recado para no outro dia se apresentar ao Comandante. Era a vida.

E o Jóia lá foi no outro dia ouvir o Comandante que lhe terá perguntado se sabia quem era a pessoa a quem tinha dado um sova no dia anterior. Claro que o Jóia não sabia,  ao que o Comandante lhe disse que o outro camarada era um Alferes paraquedista. Então aí o Jóia não se calou e terá respondido ao Comandante: 

- Não me diga,  meu Comandante. Se aquele era um Alferes paraquedista, eu vou lá acima e derreto o Batalhão todo.

O Comandante já teria falado com o médico da Companhia e o Jóia foi encaminhada para a Psiquiatria do HM 241. Chegou lá e a primeira coisa que terá feito, foi dar um murro no tampo de vidro da secretária do Médico, vidro esse se partiu em mil bocados.

Resumindo, passados poucos dias, o Jóia tinha regressado à Metrópole e corria por lá a notícia que os processos tinham sido arquivados e o Jóia passado à vida civil ainda durante a Quaresma.

Apesar de tudo, nesse ano o Carnaval foi a salvação do Jóia que andava por ali esquecido.

Carlos Pinheiro

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Nota do editor

Último poste da série de 12 de julho de 2018 > Guiné 63/74 - P18838: Recordações dos tempos de Bissau (Carlos Pinheiro, ex-1.º Cabo TRMS) (7): Recordações do STM/CTIG

sábado, 4 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21138: Ser solidário (233): Viagem à Guiné-Bissau (de 15 a 28/2/2020), homenagem em Suzana ao cap cav Luis Filipe Rei Vilar (1941-1970), relatório e contas do projeto Kassumai, e a nova associação Anghilau (criança, em felupe) (Manuel Rei Vilar)


A nova Associação Anghilau (criança, em felupe)


1.  Mensagem do nosso amigo Manuel Rei Vilar, irmão do nosso saudoso camarada cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), primeiro comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71):


Data - quarta, 1/07/2020, 23:00

Assunto - Relatório de Actividades do Projecto Kassumai 2019-2020



Caríssimos Padrinhos, Madrinhas e Amigos do Projeto Kassumai (*)

Aqui vos envio os Relatório de Atividades do nosso Projeto de Apadrinhamento e as primícias da nova Associação Anghilau. 

Incluo neste relatório intermediário de 2020, uma récita da nossa viagem à Guiné-Bissau que se realizou no passado mês de fevereiro que teve como objetivo reinaugurar o Jardim-Escola de Suzana depois do restauro e dar a conhecer a realidade do Chão Felupe, de Suzana e também da Guiné-Bissau.

Espero encontrar-vos todos de ótima saúde nestes momentos que difíceis que todos vivemos. Todo o cuidado é pouco! O vírus ainda anda por aí e precisamos de muita prudência.

Kassumai
Manuel Rei Vilar



RELATO DA NOSSA VIAGEM À GUINÉ-BISSAU 
DE 15 A 28 DE FEVEREIRO DE 2020  (**)

A nossa viagem à Guiné correu sem incidentes. No momento do desembarque em Bissau, fomos rodeados por uma equipa de técnicos de saúde que nos mediram a temperatura e nos pediram para assinarmos uma ficha de saúde. 

Foi muito estranho, pois isto passou-se muito antes do primeiro caso de COVID em Portugal (2 de março) ter aparecido.

Depois de chegarmos a Bissau e termos pernoitado no Hotel Coimbra onde encontrámos o nosso guia e amigo Adriano Djaman, seguimos para Suzana no minibus que o Adriano se tinha encarregado de alugar para a nossa viagem. 

A viagem para Suzana faz-se bem até S. Domingos com estradas alcatroadas e pontes que ligam canais, rios e riachos ao longo do itinerário até S. Domingos. Depois as coisas mudam de figura e temos de enfrentar uma picada de 30 km até Suzana em que cheia de covas e buracos de grande densidade superficial. 

Aos safanões lá se chega a Suzana que fica assim bastante isolada visto que o estado da estrada a torna impraticável a muitas viaturas. 

A nossa chegada foi festejada por um grupo de mulheres de Suzana e as entidades da Escola que nos vieram esperar. E aí, perante tanta alegria e votos de boas-vindas, já os buracos e as covas da Estrada de S. Domingos caíram no esquecimento. Com muitas danças e sorrisos fomos assim acolhidos pelos nossos amigos Felupes. Com muita emoção e muito regozijo reconhecemo-nos uns aos outros com muitos abraços e sorrisos. É emocionante a humanidade que encontramos neste pais e neste Chão Felupe.

Fomos recebidos na Missão Católica e tivemos a alegria de encontrar o Padre Zé (Giuseppe Fumagalli que conheceu o Capitão), um pouco vergado pela idade mas cheio de satisfação e brilho nos olhos por nos ver. Disse que neste momento estava a compor uma Missa Crioula. 

Também encontrámos a Irmã Rute que é quem trata da população e que tem uma enfermaria na Missão Católica. Pela primeira vez conheci o meu amigo Olálio, dirigente local da ONG VIDA assim como o Padre Vítor que tanto nos têm ajudado nas nossas realizações. 

Depois de termos uma pequena reunião com os professores e começarmos a analisar as necessidades da Escola, dirigimo-nos para Varela, uma localidade a 15 km de Suzana, junto a uma bela praia. 

Depois de nos instalarmos no confortável Aparthotel da Avó Aniza que dispõe de um bom restaurante, fomos até à praia tomar uma rica banhoca. A praia é grande é linda apesar do mar ir fortemente devastando a orla marítima.

No dia seguinte mela manhã dirigimo-nos para Suzana onde deveríamos participar na reinauguração do Jardim-Escola que ficaria batizado Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar. 

Curioso, realmente o passado colonial português. Num momento em que tantas estátuas, ligadas ao colonialismo são derrubadas, em Suzana o nome do Comandante da Companhia que ficou na memória dos Felupes por mais de 50 anos, foi dado ao seu Jardim-Escola, celebrando assim a fundação da Escola de Suzana pelo Capitão. 

Alguns dos antigos alunos vieram-nos cumprimentar apresentando-se como “sopitos”, nome dado às crianças que antes de regressarem às suas casas, eram reconfortadas, partilhando do rancho dos soldados. 

Também foi uma ocasião de reencontrarmos alguns dos nossos afilhados. Um grupo de várias dezenas de crianças bem vestidos e impecáveis cantou e encantou-nos com as suas canções, algumas bem conhecidas dos portugueses. Uma delas foi o “Hino dos Combatentes” recordando os combatentes do PAIGC caídos durante a guerra e recordando-nos a todos que houve combatentes que caíram dos dois lados. 

O Padre Vítor fez um poema ao Capitão que ele recitou com três meninos mais crescidos. Foi então que a placa do Jardim-Escola Capitão Luís Filipe Rei Vilar foi destapada. 

Depois visitámos as novas instalações completamente restauradas desde o chão até ao telhado, com a nova mobília adequada às atividades escolares das crianças e as novas instalações sanitárias munidas de uma fossa sética. No entanto, a água ainda terá de ser conduzida até às instalações e será necessário instalar um grande lavatório para a higiene das crianças. Um gradeamento envolve o espaço escolar permitindo uma maior segurança para as crianças.



Guiné-Bissau > Região de Cacheu > Susana > 18 de fevereiro de 2020 > Os irmãos Rei Vilar (da esquerda para a direita, Manuel, Miguel e Duarte),   em dia de homenagem ao seu irmão mais velho, o  cap cav Luís Rei Vilar (1941-1970), ex-comandante da CCAV 2538 (Susana, 1969/71), morto em combate em 18/2/1970, no decurso da Op Selva Viva.


A escola de Suzana tem hoje 734 alunos, do Jardim-Escola até ao nono ano, tendo 36 professores dos quais 24 diplomados. No entanto, um dos principais problemas é o facto de não haver uma residência para os Professores. Do facto, estes não se fixam em Suzana e têm tendência a partir.

Quando estivemos em Suzana em 2018, encontrámos 35 alunos no Jardim-Escola. Atualmente, este número duplicou e vai ser necessário duplicar as instalações. Também nos foi pedido material e jogos educativos e filmes para as crianças. A Missão Católica assegura a compra de um televisor para as projeções.

Depois de termos tido mais algumas reuniões com os professores, com homens e mulheres do Conselho de Suzana dirigimo-nos para fora da Tabanca, para o sítio onde o Capitão foi mortalmente atingido, precisamente no dia 18 de fevereiro de 1970. Faria 50 anos! 

Quem nos diria que tudo isto aconteceria 50 anos depois desse malogrado dia em que tive de anunciar à minha mãe que o Luís tinha morrido. Essa tragédia nunca a esqueceremos! Desta forma transformamo-la em algo de positivo!




Voltámos para Varela onde outros deliciosos banhos de mar nos esperavam antes de partirmos no dia seguinte para outra tabanca do Cacheu, Batau, a tabanca do Padre Vítor que não nos pôde acompanhar nessa visita. 
Batau fica numa zona recuada do Cacheu perto de Calequisse. 

Saímos de manhã em direção a S. Domingos onde esperamos durante algumas horas a embarcação que nos levaria a Cacheu, uma cidade importante na Rota da Escravatura. Depois da travessia através Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, chegámos à cidade de Cacheu, situada na margem esquerda do rio. 

Cacheu foi um dos primeiros estabelecimentos portugueses na Guiné e serviu durante vários anos como um centro dedicado ao comércio de escravos. Ai, visitámos a fortaleza portuguesa do século XVI, onde foram depositadas várias estátuas de navegadores e governadores portugueses da Província. Cacheu foi durante várias décadas um centro importante do comércio de escravos. 

Em frente da fortaleza, encontra-se um Memorial da Escravatura e do Tráfico Negreiro. Entrámos no Memorial onde estava a decorrer o I Simpósio Internacional "Cacheu caminho de Escravos, Histórias e memórias da escravatura e do tráfico na África ocidental". 

No Memorial descreve-se em vários quadros a história desta página negra da Humanidade. Esta história não é só portuguesa mas o comércio de escravos também foi alimentado, infelizmente, pelos próprios africanos. De qualquer forma aqui é relembrada e explicada no interior deste Memorial. 

Uma excelente exposição de tecidos guineenses encontrava-se nesse momento dentro do Memorial. É de referir aqui os lindíssimos tecidos que são produzidos na Guiné. 

Passámos a noite em Canchungo [ex-Teixeira Pinto] num hotel de uma estrela no máximo. Conseguimos arranjar jantar...mas foi difícil! Frango para todos. Estava tudo muito bom! Ninguém se queixou, nem ficou doente... mas devo dizer que aqui houve improvisação. Somos uns estoicos!

No dia seguinte, rumámos para Batau [, a sul de Calequisse, a oeste de Canchungo,] onde nos esperava uma grande comitiva. Toda a aldeia nos veio receber. Ai, visitámos a Escola que foi construída pela população assim como uma horta organizada pelas senhoras da aldeia para poderem pagar aos professores. O Daniel Gomes, um homem de Batau, chefe de uma família numerosa e polígama, acompanhou-nos na visita à horta da Escola
. 

A Escola encontra-se em muito mau estado, a precisar de pinturas e arranjos. As carteiras são feitas de grandes pranchas de poilão, a árvore sagrada da Guiné. As pessoas da aldeia acompanharam-nos nessa visita. Também eles nos pediram ajuda para as obras na Escola e para comprarem uma debulhadora de arroz. Como fazer para os ajudarmos? Se alguém tiver alguma ideia, será sempre bem-vinda. 

Os alunos da escola todos reunidos brindaram-nos com cantos luso-guineenses à sombra acolhedora do poilão. Foi um dia cheio de emoção ao encontrarmos esta gente acolhedora e generosa, oferecendo-nos um almoço muito saboroso. Depois, conversamos sobre as necessidades da população em geral e da Escola em particular. 

Despedimo-nos com lágrimas nos olhos. Gente boa e organizada neste país, um dos mais pobres do mundo. Há poucos dias, o Daniel Gomes escreveu-me a anunciar a morte do seu filho de 20 anos. Teve uma dor de barriga e dois dias depois faleceu! Provavelmente, uma apendicite. É assim a vida na Guiné, onde a assistência médica é praticamente inexistente! 

Depois de regressarmos a Bissau e passarmos a noite no Hotel Coimbra, navegamos numa lancha rápida no arquipélago dos Bijagós durante 4 horas até atingirmos a ilha de Orango onde tínhamos reservado no Orango Park Hotel. Este hotel diz que o produto das estadias é reservado à educação das crianças da tabanca mais próxima. No entanto, as crianças da tabanca não parecem muito bem tratadas. 


Em Orango deu para relaxarmos todas as emoções da viagem. Tivemos algum contacto com a população das tabancas mais próximas e visitámos a ilha de Uno, com uma paisagem variada com bosques de mangais e grandes poilões robustos e naturalmente esculpidos junto a uma grande lagoa circundada por plantações de arroz. A população da tabanca vizinha foi muito acolhedora. As mulheres a extrair o óleo de palma e os homens a observarem os visitantes.

Para terminar, regressamos a Bissau ao célebre Hotel Coimbra, o tal da livraria, no dia 24 de fevereiro. No dia 25 era terça-feira gorda, portanto em pleno carnaval, o Adriano levou-nos ao desfile que neste ano se realizava no Estádio de Bissau. Estava um sol abrasador! O Adriano, com os conhecimentos dele, entre outros o Ministro da Cultura da Guiné-Bissau, conseguindo-nos lugares de pé ao lado da tribuna presidencial. 


Manuel Rei Vilar
(2010)
Foi aí que assistimos a um espetáculo absolutamente grandioso. Cada etnia da Guiné tinha preparado uma representação com danças e acrobacias, tudo isto acompanhado por uma trupe de músicos e cantores. Um grande certame das competências de cada grupo. E finalmente, foi o grupo de Cacheu que saiu vencedor. [Vd. vídeo na página do Facebook do Manuel Rei Vilar.]

No dia 27 foram as eleições acompanhadas de um Golpe de Estado.

Ainda deu para visitarmos o Museu Etnográfico de Bissau, deveras interessante, guiados pelo diretor do Museu.




TRABALHOS REALIZADOS EM 2019

Com a vossa preciosa ajuda conseguimos renovar completamente o edifício do Jardim-Escola de Suzana, instalarmos durante 2019 novos sanitários, um Espaço para as Refeições e abrigo das intempéries assim como uma cerca à volta da Escola. 


Além disso pudemos também adquirir mobiliário necessário para a educação das crianças do Jardim-escola, construído por uma cooperativa de carpintaria de jovens. 

Atualmente, as crianças dispõem de um ambiente propício à instrução e educação graças à vossa solidariedade. Não esquecemos também a ajuda dos diversos intervenientes da aldeia, nomeadamente, a Missão Católica por intermédio do Padre Abraão e do Padre Victor, a ONG Vida através do nosso dinâmico amigo Olálio Neves Trindade, a dedicação dos operários que participaram na obra assim como o entusiasmo da População de Suzana. 

A todos, as crianças de Suzana agradecem. 



ASSOCIAÇÃO ANGHILAU 

Pensámos também que neste momento, seria útil modificarmos o nosso estatuto de Projeto Kassumai para passarmos a ser uma Associação com fins não lucrativos. 
Assim, reconhecidos oficialmente, este novo estatuto poder-nos-á trazer vantagens do ponto de vista tributário e igualmente do ponto de vista legal. 

De qualquer forma, continuaremos a funcionar exatamente da mesma maneira que temos funcionado até agora, sempre com os mesmos objetivos. 

Criámos assim a ASSOCIAÇÃO ANGHILAU (Anghilau significa criança em língua Felupe) no dia 11 de fevereiro de 2020. No dia 8 de março realizámos uma Assembleia Eleitoral para elegermos os Órgãos Sociais. Foram eleitos: 

MESA DA ASSEMBLEIA GERAL 

Presidente - Ivone Maria Domingues Félix
Secretária - Ana Maria da Conceição Ferraria
Relatora - Mónica Bento Lopes da Silva


DIREÇÃO 

Presidente - Manuel Rei Vilar
Vice-Presidente - Duarte Rei Vilar
Vice-Presidente - Miguel Rei Vilar
Secretária - Júlia Ribeiro dos Santos
Tesoureiro - Claude Piétrain

CONSELHO FISCAL


Presidente - Carlos José Vaz
Secretária - Ana Maria Botelho do Rego
Relator - José Constantino Costa



Dentro em breve, ser-vos-á enviada uma Ficha de Inscrição que vos pedia o favor de preencherem para a admissão como associado na Associação Anghilau. 



RELATÓRIO DE CONTAS DO PROJECTO KASSUMAI



Projeto Kassumai
Resultados do Ano 2019
Donativos (desde o inicio)
21.611,08 €
Despesas (desde o inicio)
13.846,35 €
Donativos em 2019
5.662,50 €
Despesas em 2019
9.237,62 €
Saldo
7.764,73 €

Despesas bancárias 2019/2020 = 258,11 € 


PERSPECTIVAS PARA 2020 

As perspetivas para este ano 2020 estão apresentadas no quadros seguintes.

Em resumo, as necessidades são:

· Instalação de água e lavabos nos sanitários;

· Compra de Material Escolar Educativo, Lúdico e Cultural

· Trabalhos de acabamento do Liceu de Suzana;

· Participação na criação duma Residência para os professores;

· Participação na Formação de duas educadoras. 









Fotos: © Manuel Rei  Vilar (2020). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

terça-feira, 12 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19577: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (4): dia de Carnaval + Eleições = Carnaval Total


Guiné > Bissau > Julho de 1973 > Monumento do V Centenário da Morte do Infante D. Henrique, avenida marginal e área portuária... Um dos "bilhetes postais" que ficaram no "álbum da nossa memória"...

Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Quarta crónica do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; lisboeta, tem fortes ligações à Lourinhã, Oeste, Estremadura...

Chegou a Bissau, a 2 de março, e aqui vai estar 3 meses como voluntário na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)



Dia de Carnaval + Eleições = Carnaval Total


por Luís OLiveira


Feriado de carnaval e a Escola [privada Humberto Braima Sambu], tal como em Portugal, dispensou os nossos serviços, portanto de manhã a equipa de voluntários obrigou-se a tratar do cabedal: TRX, elásticos de força, escada de motricidade ....toca a correr, salta aí, nada de pisar os limites, puxa, estica, geme, respira bem. Enfim,  uma suadeira em que fomos bem espremidos e até deixou algumas dores de corpo, mas “no pane, no game” , como dizem os guineenses ?


Após o almoço apanhamos o toca-toca, transporte colectivo local que aceita um número quase ilimitado, quer dizer os limites correspondem à quantidade de clientes que se querem fazer transportar, mas nunca há gente a mais e todos cabem.


Quem gostar de emoções fortes pode perfeitamente dispensar uma ida à EuroDisney e abdicar de qualquer montanha russa porque aqui a adrenalina é maior e sai muito mais barato. Por cem francos (0,15 €) fizemos um percurso de talvez quinze quilómetros e o condutor quando se apercebeu que o nosso destino era o Pidjiguiti, alterou a rota e deixou-nos junto ao cais... Fantástico!


Encontrámos-nos num bar com um amigo da Nonô, o Itum, guineense e licenciado em economia pela faculdade do Porto, e que decidiu trocar a boa vida da Europa para colaborar no desenvolvimento do seu País que tanto precisa.

A conversa foi animada e prolongou-se pela tarde até que fomos alertados que todas as ruas de Bissau ficariam vedadas ao trânsito até ao final dos festejos. E agora? Quinze, talvez muitos mais quilómetros para fazer no labirinto urbano de Bissau! Só chegaríamos a casa talvez no fim de semana.


O movimento de pessoas é inimaginável, todas as ruas e becos estavam apinhados de gente deslocando-se em todas as direções e tive a sensação se ser uma formiga dentro da caótica azáfama do formigueiro. Devo dizer que, para além de nós (as formigas), circulavam porcos das mais variadas dimensões e até vacas, parecendo estes absolutamente indiferentes ao Carnaval.


É uma alegria ver uma população numerosa, constituída maioritáriamente por jovens e milhares de crianças. Todos irradiando alegria, distribuindo sorrisos, boa disposição e pequenas provocações cheias de graça e sem maldade:

– Olá, branco, olélé!

Um cenário cheio de contrastes para quem anda no Metro de Lisboa e vê carruagens carregadas de gente madura, com ar carrancudo de quem pouco dormiu ou esteve atenta aos telejornais. Todos presos aos smartphones, talvez para imaginarem estar num mundo virtual, melhor que a estação do Campo Grande.

Mas lá fomos andado, queríamos chegar a casa e o Itum ainda nos fez companhia por largos quilómetros procurando as mais difíceis vielas, com a esperança de encontrar algum transporte em fuga à legalidade e que pudessemos aproveitar.


Num aperto de gente e em marcha lenta, circulava um carro com dois ocupantes, homens, que quase pararam em jeito de quem oferece boleia junto à Sílvia e à Nonô. Comecei a ficar preocupado com a coisa porque na minha cabeça e, lembrando Lisboa, os “marmanjos” podiam ter alguma na ideia.


Elas são voluntárias na Guiné por alguma razão! Têm coragem, aceitaram a boleia, dizendo que eu também as acompanharia, mais conversa com o Itun e entramos na carripana que nos levaria pelo menos perto de casa. 
O condutor contou-nos parte da sua vida em Lisboa, Odivelas, Brasil e até esteve na Alemanha. Do pendura pouco soubemos por ser mais reservado e  o seu português ser mais limitado, mas fomos conversando e andando e o estado de alerta que eu tinha criado, foi-se diluindo porque percebi que a Sílvia, prudentemente, ia acompanhando a viagem pelo GPS e estávamos no caminho certo, e chegámos ao ponto que pretendíamos na proximidade da casa, já aliviados.


Na despedida e tendo em conta o longo e difícil percurso que os nossos "salvadores" tinham feito apenas para nos auxiliar, sabendo que a vida é muito difícil e os jovens não eram ricos, procurando não os ofender, sugeri que aceitassem a nossa colaboração para pelo menos os compensar do combustível que gastaram pois não era aquele o seu destino. A nossa oferta foi de imediato recusada. 


– Vocês estão na Guiné-Bissau para ajudar, nós temos prazer em retribuir...


... E a troca foi apenas um abraço e desejo de saúde e felicidade.


Eles merecem mais que isso.


sábado, 9 de março de 2019

Guiné 61/74 - P19566: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (2): domingo de carnaval

Luís Mourato Oliveira

1. Segunda crónica do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro nº 730, que foi alf mil inf, de rendição individual, na açoriana CCAÇ 4740 (Cufar, 1973, até agosto) e, no resto da comissão, o último comandante do Pel Caç Nat 52 (Setor L1 , Bambadinca, Mato Cão e Missirá, 1973/74): é bancário reformado, foi praticante e treinador de andebol; lisboeta, tem fortes ligações à Lourinhã,  Oeste, Estremadura...

Acabou de chegar a Bissau onde vai estar 3 meses como voluntário  na Escola Privada Humberto Braima Sambu, no âmbito de um projeto da associação sem fins lucrativos ParaOnde, que promove o voluntariado em Portugal e no resto do Mundo. (*)




Guiné-Bissau > Bissau > Carnaval 2019. 

Vídeo de Luís Oliveira (2019)

Domingo de Carnaval

por Luís Oliveira



Após o sono reparador que apagou completamente a imagem da viagem e do local onde me encontrava (*), acordei em total conflito com a rede mosquiteira e tive a desagradável sensação do carapau quando traiçoeiramente cai nas redes que o trazem para o nosso prato.

Após a breve luta para me libertar da confusão do tecido, abri finalmente os olhos para a realidade. Este não é o meu quarto! Afinal estou mesmo na Guiné-Bissau. E agora?

Primeiro esfregar os olhos, fazer o reconhecimento do terreno, identificar as malas... onde estarão as cuecas? Na mala de porão ou na dos cento e cinco euros da TAP? As t-shirts estão na verde, de certeza. Os comprimidos para quase tudo,  que fazem parte do pequeno almoço,  estavam naquele saco de plástico da farmácia, disso tenho a certeza,  o único problema é encontrá-lo.

Cinquenta voltas ao quarto de treze metros quadrados, mas enorme dado o único mobiliário ser a cama.




Guiné >Zona leste > Setor L1 (Bambadinca) > Mato Cão > Pel Caç Nat 52 (1973/74) > Natal de 1973 > Agestão (complexa) de um destacamento, isolado,no mato, na margem direita do Rio Geba Estreito.  No foto, o Luís Mourato Oliveira, que era o "dono da tasca"...


Foto (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].



Há quarenta e tal anos também não havia mobiliário para arrumos mas o bricolage transformou uns cunhetes de munições em armários que fariam inveja aos dos dias de hoje no Ikea. Agora toca a reciclar o que aparecer para arrumar e organizar.

Depois dos vinte minutos do exercício de orientação,  estava pronto e junto com as minhas companheiras de missão e da casa, a Leonor, a partir de agora Nôno, e a Sílvia. A nossa veterana é a Nonô que abancou sozinha na casa, serviu na escola com sucesso e demonstrou grande coragem e capacidade de adaptação. O mesmo sucede com a Sílvia, mulheres do Porto são assim, afirmo eu, mesmo sendo do Oeste.

A Nonô dirigiu as operações. Deslocação ao centro, levantar moeda local, comprar um cartão de dados que são comercializados e carregados em plena rua ou em contentores adaptados a quiosques ou até numa cadeira de praia sob um chapéu de sol com a marca da operadora. A tecnologia não conhece fronteiras nem estados de desenvolvimento social e por essa razão esta compra até antecedeu as nossas necessidades de abastecimento no supermercado.

Qualquer cidadão desprevenido, acabado de chegar da Europa, corre grave risco de síncope cardíaca, confirmei imediatamente se trazia o kit de comprimidos SOS Nitromint (0,5 mg de Nitroglicerina). Estão no bolso felizmente, mas a garrafa de água de Penacova continua marcada por quinhentos francos! 

Estou a falar a sério quinhentos francos! Só após um raciocínio complicado para o dia me lembrei que um euro vale cerca de seiscentos e cinquenta francos [, CFA,] e portanto a coisa não estava assim tão feia e não corria o risco de desidratação.

Regresso a casa, almoço com o professor Humberto [Braima Sambu]  num restaurante de portugueses onde foi servido “arroz de pato”... Se não lhes der a minha receita do verdadeiro Arroz de Pato ou se decidir eu próprio abrir uma tasca ao lado, vão perder clientela...

Por fim, o Carnaval. Um divertido desfile constituído por diversas associações e onde são representadas as diversas etnias com seus cânticos usos e costumes. Gostei imenso e foi deveras divertido. Apesar de tudo,  não consegui deixar de lembrar Torres Vedras e as inimitáveis Matrafonas.

Bissau, 3 de Março de 2019.

Luís Oliveira

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Nota do editor:

(*) Poste anterior da série > 6 de março de 2019 > Guiné 61/74 - P19554: Voluntário em Bissau, na Escola Privada Humberto Braima Sambu - Crónicas de Luís Oliveira (1): a ansiedade da partida e o calor humano da chegada, em 2 de março de 2019