Camarada Luis Graça
Meu nome é Jorge Pinto. Estou inscrito para o almoço-convívio a realizar nas Termas de Monte Real, no próximo dia 21. Como tal e cumprindo um desejo já exposto a camaradas bloguistas (Luís Moreira, Fernando Marques, Eduardo Ferreira... ), venho agora propor, com muito prazer, que seja aceite o meu pedido de registo como membro desta enorme família que passou parte da sua juventude em terras da Guiné.
Sei que ao pertencer a esta "vetusta tertúlia", muito irei aprender, tal é a qualidade e quantidade de informação aqui, quase diariamente depositada ao longo destes 8(?) anos... Sem dúvida que o conteúdo deste Blogue é de imprescindível consulta para todos os investigadores que se proponham fazer uma reflexão séria sobre a "Crise e Renascimento do Mundo Lusíada", a partir do final do séc. XX.
O período de tempo que vai de 1962 a 1974 é de uma importância extrema para se compreender a evolução das mentalidades a nível Europeu, Portugal incluído. Precisamente, o período em que todos os colaboradores deste Blogue viveram a sua juventude como actores influentes numa das mais importantes páginas da História Portuguesa: Fim de um ciclo e inicio de outro mais globalizante.
Por isso, dou os meus sinceros parabéns a ti Luís Graça, especialmente pelo lançamento e abertura da "obra", pela dedicação e riqueza literária dos teus artigos e a todos aqueles camaradas que durante estes anos, correspondendo ao teu projecto o foram também alimentando.
De acordo com o regulamento para registo envio anexos 1, 2 e 4.
Anexo 1 - Foto antiga, tirada na mata de Fulacunda, em Julho de1974, após cessar fogo.
Anexo 2 - Foto actual, tirada numa rua.
Anexo 3 - Foto do quartel de Fulacunda tirada da torre em direção ao posto de enfermagem.
Anexo 4 - Texto de apresentação
JPinto
1.1 Apresentação
Meu nome completo é Joaquim Jorge Loureiro Pinto, sendo mais conhecido por Jorge Pinto ou Alferes Pinto. Depois de ter passado por EPI (Mafra), EPA (Vendas Novas), EPA (Tancos) e RAL 5 (Penafiel) voei para a Guiné a 23 de Junho de 1972 integrado na 3.ª CART do BART 6520/72, sediado em TITE.
Sou natural de Alcobaça e vivo actualmente em Sintra. Após o meu regresso da Guiné, completei a licenciatura em História, dedicando-me, a par de outras ocupações, ao ensino secundário, gestão escolar e formação pedagógica de professores.
1.2 Guiné
Chegados à Guiné, o Batalhão seguiu para Bolama onde passámos um curto período de adaptação e onde tive a infelicidade de assistir às mortes do colega amigo Alferes Figueiredo em consequência do rebentamento “acidental” de uma granada-dilagrama quando se procedia ao seu disparo.
Após este período cada Companhia seguiu para o TO que lhe estava destinado. A sede do Batalhão em Tite, a 1.ª CART em Jabadá, 2.ª CART em Nova Sintra e a 3.ª CART em Fulacunda, onde fomos render os CAPICUAS (1970/72). Mais tarde (1973), a minha companhia (3.ª CART) passou a pertencer ao comando do COP 7.
Embarquei numa LDM e lá fui pelos braços de mar em período de maré cheia até próximo de Fulacunda. Daí segui numa GMC (cerca de 2 Km), até ao quartel onde acabei por permanecer durante 26 meses. É sobre esse período que irei tentar redigir alguns artigos, abordando várias vertentes: Usos e costumes da população Beafada ali residente, Guerra e os seus feridos (não tivemos felizmente mortos), o quotidiano no quartel, o 25 de Abril em Fulacunda, vinda de representantes do PAIGC a Fulacunda, em Julho de 1974, conversas com a população africana sobre a “mudança” que o “25 Abril” iria provocar… Enviarei igualmente fotos “desse tempo” relacionadas com a respectiva matéria.
Hoje, começo por descrever e caracterizar a vida em Fulacunda na época em que por lá vivi (1972/74).
Meu nome é Jorge Pinto. Estou inscrito para o almoço-convívio a realizar nas Termas de Monte Real, no próximo dia 21. Como tal e cumprindo um desejo já exposto a camaradas bloguistas (Luís Moreira, Fernando Marques, Eduardo Ferreira... ), venho agora propor, com muito prazer, que seja aceite o meu pedido de registo como membro desta enorme família que passou parte da sua juventude em terras da Guiné.
Sei que ao pertencer a esta "vetusta tertúlia", muito irei aprender, tal é a qualidade e quantidade de informação aqui, quase diariamente depositada ao longo destes 8(?) anos... Sem dúvida que o conteúdo deste Blogue é de imprescindível consulta para todos os investigadores que se proponham fazer uma reflexão séria sobre a "Crise e Renascimento do Mundo Lusíada", a partir do final do séc. XX.
O período de tempo que vai de 1962 a 1974 é de uma importância extrema para se compreender a evolução das mentalidades a nível Europeu, Portugal incluído. Precisamente, o período em que todos os colaboradores deste Blogue viveram a sua juventude como actores influentes numa das mais importantes páginas da História Portuguesa: Fim de um ciclo e inicio de outro mais globalizante.
Por isso, dou os meus sinceros parabéns a ti Luís Graça, especialmente pelo lançamento e abertura da "obra", pela dedicação e riqueza literária dos teus artigos e a todos aqueles camaradas que durante estes anos, correspondendo ao teu projecto o foram também alimentando.
De acordo com o regulamento para registo envio anexos 1, 2 e 4.
Anexo 1 - Foto antiga, tirada na mata de Fulacunda, em Julho de1974, após cessar fogo.
Anexo 2 - Foto actual, tirada numa rua.
Anexo 3 - Foto do quartel de Fulacunda tirada da torre em direção ao posto de enfermagem.
Anexo 4 - Texto de apresentação
JPinto
Guiné > Região de Quínara > c. 1972/74 > Jorge Pinto, Alf Mil da 3.ª CART/BART 6520/72
1.1 Apresentação
Meu nome completo é Joaquim Jorge Loureiro Pinto, sendo mais conhecido por Jorge Pinto ou Alferes Pinto. Depois de ter passado por EPI (Mafra), EPA (Vendas Novas), EPA (Tancos) e RAL 5 (Penafiel) voei para a Guiné a 23 de Junho de 1972 integrado na 3.ª CART do BART 6520/72, sediado em TITE.
Sou natural de Alcobaça e vivo actualmente em Sintra. Após o meu regresso da Guiné, completei a licenciatura em História, dedicando-me, a par de outras ocupações, ao ensino secundário, gestão escolar e formação pedagógica de professores.
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Guiné > Região de Quínara > c. 1972/74 > Vista parcial do quartel de Fulacunda
1.2 Guiné
Chegados à Guiné, o Batalhão seguiu para Bolama onde passámos um curto período de adaptação e onde tive a infelicidade de assistir às mortes do colega amigo Alferes Figueiredo em consequência do rebentamento “acidental” de uma granada-dilagrama quando se procedia ao seu disparo.
Após este período cada Companhia seguiu para o TO que lhe estava destinado. A sede do Batalhão em Tite, a 1.ª CART em Jabadá, 2.ª CART em Nova Sintra e a 3.ª CART em Fulacunda, onde fomos render os CAPICUAS (1970/72). Mais tarde (1973), a minha companhia (3.ª CART) passou a pertencer ao comando do COP 7.
Embarquei numa LDM e lá fui pelos braços de mar em período de maré cheia até próximo de Fulacunda. Daí segui numa GMC (cerca de 2 Km), até ao quartel onde acabei por permanecer durante 26 meses. É sobre esse período que irei tentar redigir alguns artigos, abordando várias vertentes: Usos e costumes da população Beafada ali residente, Guerra e os seus feridos (não tivemos felizmente mortos), o quotidiano no quartel, o 25 de Abril em Fulacunda, vinda de representantes do PAIGC a Fulacunda, em Julho de 1974, conversas com a população africana sobre a “mudança” que o “25 Abril” iria provocar… Enviarei igualmente fotos “desse tempo” relacionadas com a respectiva matéria.
Hoje, começo por descrever e caracterizar a vida em Fulacunda na época em que por lá vivi (1972/74).
No referente à composição da sociedade, além dos militares da metrópole (cerca de 200), havia população africana (cerca de 400) maioritariamente composta por Beafadas. O espaço era rodeado de arame farpado e de uma vala.
De trinta em trinta metros mais ou menos havia abrigos. Era aqui e em seu redor que os soldados passavam a parte do seu tempo. A população africana embora vivesse dentro deste espaço cercado tinha a sua tabanca, onde também havia abrigos.
Alguns africanos integravam o pelotão de milícias. As mulheres lavavam a roupa da tropa para além de passarem horas a “cardar” o cabelo… Como etnia islamizada observava rigorosamente o período do Ramadão, tal como outras práticas religiosas.
O “fanado” era praticado em espaços variados de anos. Por acaso, foi praticado num dos anos em que lá estive. Confesso que desconhecia aquele costume. Não queria acreditar. Foi em vão que tentámos convencê-los de que tal prática era desumana, ineficaz e só trazia sofrimento… Estou a ver os homens a olhar para o chão e a dizerem simplesmente que sempre foi assim … para as mulheres era tema tabu… era assunto só falado entre elas… Acabado o período, havia “ronco”, com batuque noite fora… e a natural euforia da população masculina…
Era uma localidade isolada, sem qualquer comunicação terrestre. As antigas picadas estavam obstruídas por mato e capim e os pontões destruídos. A comunicação com o comando de batalhão fazia-se através das transmissões rádio. O contacto com o exterior fazia-se semanalmente via aérea (correio, transporte urgente de pessoas para Bissau, alguma comida fresca) ou por via aquática (todo o restante reabastecimento)
Cedo me apercebi que este isolamento não era bom para qualquer um e que só poderia ser quebrado em parte através da leitura, escrita, audição de programas de rádio, (PIFAS, BBC e o Joaquim Letria, lembram-se?), muita conversa, futebol… sobretudo através de alguma actividade que fosse bem recebida por todos.
Era uma localidade isolada, sem qualquer comunicação terrestre. As antigas picadas estavam obstruídas por mato e capim e os pontões destruídos. A comunicação com o comando de batalhão fazia-se através das transmissões rádio. O contacto com o exterior fazia-se semanalmente via aérea (correio, transporte urgente de pessoas para Bissau, alguma comida fresca) ou por via aquática (todo o restante reabastecimento)
Cedo me apercebi que este isolamento não era bom para qualquer um e que só poderia ser quebrado em parte através da leitura, escrita, audição de programas de rádio, (PIFAS, BBC e o Joaquim Letria, lembram-se?), muita conversa, futebol… sobretudo através de alguma actividade que fosse bem recebida por todos.
Verificando que muitos, quer soldados quer população africana não sabiam ler nem escrever, dediquei-me em boa hora a essa tarefa. Muitos foram os que através da escola regimental fizeram a prova da 4.ª classe e puderam tirar a carta de condução, em Bissau.
Procurei igualmente “integrar-me” naquela sociedade conversando longamente, sobre os mais variados temas: religião, trabalho, usos, costumes, guerra…
Hoje, como a conversa vai longa, vou parar por aqui.
Prometo voltar brevemente …
Forte abraço
JPinto
2. Comentário de CV:
Caro camarada Jorge Pinto, muito bem-vindo à Tabanca Grande.
Hoje, como a conversa vai longa, vou parar por aqui.
Prometo voltar brevemente …
Forte abraço
JPinto
2. Comentário de CV:
Caro camarada Jorge Pinto, muito bem-vindo à Tabanca Grande.
Fizeste uma apresentação que permitiu ficarmos a saber o essencial de ti. Falaste, ao de leve para já, do teu percurso na Guiné, vivendo a maior parte do tempo em quadrícula no quartel de Fulacunda, prometendo ainda contares-nos as tuas memórias, que passarão pelas várias vertentes da guerra, das pessoas e do seu modo de viver. Estamos em presença de alguém que na altura já teria o olhar de um estudante de História.
Viveste aquele período conturbado do pós 25 de Abril, em que a tropa nos TOs, farta de guerra, o que queria era o regresso a casa a qualquer preço. Naquela altura a guerra estava muito complicada, nem perdida nem ganha, diria eu empatada, mas que cada vez mais iria custar sangue derramado e vidas perdidas. Politicamente, aos olhos do mundo, estávamos derrotados, restando-nos apenas uma retirada honrosa que se conseguiu com o derrube do caduco regime vigente.
Ficamos expectantes pelo começo da tua colaboração, com a certeza de que a tua contribuição vai ser importante para o Blogue.
Arranja um cantinho confortável nesta caserna virtual, pega no transportável, como diz um nosso camarada quando se refere ao seu portátil, porque temos rede em toda a área, e começa a trabalhar. Tens mais de mil olhos postos em ti.
Termino enviando o infalível abraço de boas-vindas em nome da tertúlia e dos editores.
O teu camarada e novo amigo
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 6 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 – P9711: Tabanca Grande (328): António Augusto Vieira de Melo, ex-1.º Cabo Rec Inf do BCAÇ 2930, Catió e Quartel General, Bissau (1972/74)
7 comentários:
Bom, Jorge, tenho ideia que já nos conhecemos de um convívio azinda recente em Ribamar, onde esteve também o nosso camarada e comum amigo Eduardo Ferreira, de resto meu conterrâneo da Lourinhã. Descvulpa se estou confundir-te, de qualçquer modo não me levarás a mal, já que a nossa Tabanca Grande é já um "batalhão", com cerca de 550 elementos...
Quanto ao resto, o Carlos Vinhal já te fez as honras da casa. Fico feliz por saber que vens com ganas de escrever e de publicar. para mais estiveste em Fulacunda e lidaste com uma etnia de que temos falado pouco aqui: os beafadas...
Encontrar-nos-emos em Monte Real, dia 21. Sê bem vindo! Luis
Camarigo Jorge Pinto, que sejas bem vindo a este batalhão, que tem sempre em lembrança o passado na Guiné sobre as coisas boas e as menos boas.
Estive em Empada, que tinha uma situação de isolamento identica à que narras sobre Fulacunda.
De Fulacunda somente tenho conhecimento presencial do cais fluvial, sendo também a tua primeira imagem que aí tiveste logo à chegada.
Por conseguinte, trata-se de recordar o dia em que iniciei os preparativos do meu regresso à Metrópole, aquando da saída de Empada, em Janeiro de 1970, e embarcando no Batelão civil Corubal. Tendo o referido efectuado escala no Cais de Fulacunda, sem que tivesse saído do Rio Grande de Buba e seus afluentes.
Saudações guinéuas
Arménio Estorninho
C.Caç.2381 Guiné 1968/70
Obrigado Luis Graça pelas boas vindas a esta grande família... Não estás nada confuso quanto ao facto de já termos estado "lado a lado" naquela célebre caldeirada em Ribamar com o Eduardo Ferreira.
Próximo dia 21 irei com ele até Monte Real e aí espero dar-te um forte abraço pela feliz ideia de criares este Blogue.. Jorge
Caro Jorge Pinto:
Sou da Cart 6250 que fez o IAO com o teu Batalhão, em Bolama e, desgraçadamente, partilhou, com a morte do José Mata, da tragédia do dia 10 de Julho de 72 em que morreu também o teu amigo Figueiredo.Eu era o fur.enf. ali impotente e aterrorizado, perante duas vidas ceifadas logo no 13º dia de Guiné. Dali fomos para Mampatá até ao fim da comissão.
Deixo-te os meus contactos para o caso de pretenderes alguma informação.
António Carvalho
224760855
919401036
Um Abração
Obrigado, meu amigo António Carvalho, pelos teus contactos. Sabia que tinha falecido mais um nosso camarada militar naquele trágico acidente mas não me recordava do nome. Recordo a indignação dos soldados a terem de ir para a instrução nocturna enquanto decorria o breve velório e o "puxão de orelhas" dado ao comandante de Batalhão pelo General Spnínola.
Um forte abraço. Jorge Pinto
Meus amigos e com muita emocao que estou a escrever esta mensagem meu nome de militar e Matias era soldado de transmissoes da segunda companhia do bart 6520/72 estivemos sediados no inferno de Nova Sintra comandados pelo Capitao Armando Cirne .
Um abraco a todos e aqui deixo os meus contatos
916544164
Email---alcinomatias.AM@gmail.com
Sou Antonio Sousa fui 1ºcabo da 2ªcomp do 2ºpelotão em Nova Sintra gostava de estabelecer contacto com antigos amigos e camaradas,aqui deixo os meus contactos 938522739 email
extrasousa@sapo.pt um abraço
domingo,29 junho 2014
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