Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Mais fotos do álbum de Idálio Reis: Uns dias antes do abandono de Gandembel / Balana, Spínola também por lá, pela segunda vez, para se despedir... NO seu livro, Idálio Reis mostra uma grande gratidão á FAP e ao BCP 12. Os pára-quedistas foram parte integrante da epopeia de Gandembel, infligindo pesadas baixas à tropa de 'Nino' Vieira...
Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
Guiné > Região de Tombali (Gandembel) e Região de Quínara (Buba) > CCAÇ 2317 (8 de abril de 1968 a 28 de janeiro de 1969) > Mais fotos do álbum de Idálio Reis: depois do abandono de Gandembel, a 28 de janeiro de 1969, o pessoal da CART 2317 fica 3 meses em Buba, até 14 de maio, integrando as forças que montavam segurança aos trabalhos de construção da nova estrada Buba - Aldeia Formosa. O problema mais grave eram as minas A/P. Na altura, o major Carlos Fabião comandava o COP 4.Todos os dias aterrava um T 6 em Buba. Um dia houve um que aterrou mal...
Fotos: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
1. Resposta do Idálio Reis, a um pedido de esclarecimento meu, com data de 17 do corrente ["Idálio: Como se chama (ou chamava...) o furriel, professor primário, que, com o João Barge, compôs Os Gandembeis ?...Queres e podes revelar ? Há mais detalhes sobre o "making of" desta magnífica peça ? ... Abraços, Até Monte Real. Luis] (*)
Caro Luís
Torna-se demasiado evidente que a Ilha dos Amores [, Canto IX, Os Lusíadas, de Luís de Camões], tem nesta fase final uma emulação muito mais forte. E não poderia ser doutra forma, porquanto a nossa guerra de Nova Lamego também não tinha cotejo com a de tempos anteriores.
Há uma forte razão para que entre um certo sentimento de lascívia neste poiso. A grande generalidade da Companhia, antes de chegar a Nova Lamego, não tinha visto uma qualquer mulher. A guerra tinha facetas pérfidas.
Em Gandembel, não havia população, e a visão de um rosto feminino só era propiciado aquando de alguma evacuação, onde ia sempre uma enfermeira pára-quedista. Grotescamente, lembro que quando havia evacuações em que o pessoal sentia que o evacuado era um ferido ligeiro, tal até era motivo para que surgisse um maior aglomerado em torno do helicóptero, para bem visualizar a doce face da enfermeira.
Depois a tabanca de Buba era pequena, e atendendo à muita tropa que por lá andava, tudo estava sob controlo apertado. E um dia Spínola, a queixas do malogrado Fabião que lhe foi dizer que havia elementos da população que prestava informações ao IN., o que até era verdade, fez um discurso inflamado à população traidora, e manda vir uma LDG, despachando-a rumo aos Bijagós. O nosso sueco Belo, com mais tempo do que eu em Buba, talvez saiba melhor contar o enredo de tudo isto.
E depois a Companhia arriba a Nova Lamego, e houve forrobodó. Eu não fui com a Companhia para Nova Lamego, pois fiquei em Buba na entrega do material. Fi-lo voluntariamente, porquanto Carlos Fabião era um homem/militar excepcional; a sua conduta no PREC, revela essa sua faceta humanista, e vem a acabar por ser postergado.
Fiquei talvez duas semanas em Buba, mais uma em Bissalanca nos Páras (foram as minhas férias), e quando arribo a Nova Lamego, a primeira notícia que recebo, é a seguinte:
- Meu alferes, metade da Companhia apanhou a venérea!
Os cuidados médicos lá foram sarando essas feridas. Sei de um que teve de ser evacuado para Bissau, e que de imediato foi recambiado para Lisboa. Como foi um homem que nunca mais deu notícias, não sabemos o que lhe aconteceu.
Mas Nova Lamego recuperou energias, aumentou consideravelmente a nossa auto-estima, éramos gaiatos felizes. E as narrativas que impendem sobre aquela vila, tem forçosamente de conter essa situação de jovens, com pouco mais de 20 anos, a enlear-se com o sexo oposto, após 15/16 meses sem essa benesse. E nos nossos convívios, vem sempre uma história de uma bajuda.
Foto: © Idálio Reis (2007) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
(ii) Quanto ao ajudante do Barge na elaboração dos Gandembéis, o furriel que o ajudou na escrita - tinha de ser um das origens [da Companhia e do início da epopeia de Gandembel] -, e que inclusive já te aflorei o nome num dos últimos e-mails, diz-me que não se lembra dessa sua acção de colaboração. Os Gandembéis são obra de 2 humildes anónimos.
E se não foi o tal professor primário, quem seria então? O Barge tinha, no seu grupo, um furriel donde brotou uma forte amizade, e que até foi ao seu funeral, e poderá ser esse: um amigo e conterrâneo do JERO [, natural de Alcobaça]. Mas terei que indagar. E se souber, dir-te-ei.
Luís, naquilo que escrevo, peço-te para usares a tua censura, no que julgares como importuno.
Até breve. Um caloroso abraço do Idálio Reis
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > Guiné 63/74 - P9754: O Cancioneiro de Gandembel (7): Do Hino de Gandembel ao poema épico Os Gandembéis (Parte VII)
1 comentário:
Caro Idálio Reis, Saudações guinéuas.
Sobre a população Mandinga transferida de Buba para o Arquipélago dos Bijagós, no Postado P6844, As minhas memórias da guerra (15) Buba-Parte 5, narrei que presenciei e tive conhecimento de causas daquele acontecimento.
Todavia seria conveniente que outros camaradas também dessem a sua contribuição para o aumento do esclarecimento.
Com um Abraço
Arménio Estorninho
C.Caç.2381-Guiné 1968/70
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