sexta-feira, 20 de abril de 2012

Guiné 63/74 - P9776: Tabanca Grande (332): Alice Carneiro, a quem o Blogue muito deve, esposa e irmã de ex-combatentes, participante no filme "Quem Vai à Guerra" e mãe de um médico cooperante

1. Como é sabido através até de diversas publicações no nosso Blogue, temos na tertúlia um grupo de pessoas a que chamamos amigos, que,  não sendo ex-combatentes, estão de algum modo ligados à Guiné: como naturais daquele país, cooperantes, etc. Outros(as) amigos(as) estão ligados(as) a militares que fizeram a guerra colonial, principalmente as senhoras, na qualidade de esposas, namoradas, madrinhas de guerra, etc.


Hoje venho pedir um pouco de espaço entre nós para uma mulher que sem dúvida nenhuma merece pertencer à tertúlia e ao grupo dos amigos dos ex-combatentes deste Blogue. Porquê?

i) Viveu desde jovem, na pele assim se pode dizer, a guerra colonial  pois tem dois irmãos que combateram, um em Angola (o José Carneiro, o mais novo de 6 irmãos) e outro em Moçambique, sendo um deles deficiente das Forças Armadas (o António Carneiro, o mais velho).

ii) Esta mulher, nortenha, do Marco de Canaveses,  foi também madrinha de guerra de militares que nem conhecia; escreveu, e leu, cartas por quem não dominava minimamente esta forma de comunicar com os seus filhos algures na guerra de África.

iii) Em Março de 2008 acompanhou o seu marido, também ele ex-combatente da Guiné, ao Simpósio Internacional de Guiledje, revivendo assim o passado dos homens que ama (irmãos e esposo).

iv) Em 2011 participou no filme, feito exclusivamente por mulheres, "Quem Vai à Guerra", que aborda o papel das mulheres que, de uma maneira ou de outra, "foram à guerra", incluindo a problemática do stress pós traumático de guerra e as consequências desta doença no seio familiar dos ex-militares vítimas desta síndrome.

v) Esta mulher é hoje madrinha de uma linda menina que vive e cresce na Guiné-Bissau, a Alicinha, de Farim do Cantanhez, filha da Cadi, uma bela jovem nalu que ela conheceu em 2008.

vi) Esta mulher que em seis edições dos Encontros da Tabanca já realizados, apenas falhou a um por impossibilidade física.

vii) Esta mulher é apenas e só a esposa do fundador deste Blogue, chama-se Maria Alice Ferreira Carneiro, faz anos a 18 de agosto  e apoia o seu marido nesta árdua tarefa que é manter esta página viva, símbolo da união e reunião de um Batalhão de ex-combatentes da Guiné.


Abram alas para deixar entrar esta grande senhora, também mãe de um jovem médico e músico, o João Graça, também ele já com uma experiência como cooperante na Guiné-Bissau, e por direito próprio, tertuliano deste Blogue.


Fotos ilustrativas da apresentação desta nossa nova ("velha") tertuliana. Quem não a conhece? Tem, além, uma muita ativa página no Facebook. Será a nossa tabanqueira nº 551. E estará presente no nosso VII Encontro Nacional, amanhã, em Monte Real, com o seu companheiro de uma vida, Luís Graça, e com a filha  de ambos, Joana Graça.


Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira >  29 de fevereiro de 2008 > Alice Carneiro, pisando pela primeira vez o solo daquela terra verde e vermelha...
 

Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 1 de março de 2008 > A Alice entre as mulheres da população local, em dia festivo...


Lisboa, CulturGest > 13 de Maio de 2011 > Alice Carneiro (à direita) e a nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda Pessoa numa aparição pública a propósito do filme "Quem Vai à Guerra", da jovem realizadora Marta Pessoa.


Esta linda menina guineense é a Alicinha, a afilhada da nossa tertuliana Alice Carneiro. Mora em Farim do Cantanhez. A mãe é a Cadi. O pai, António Baldé, está em Portugal.

Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Setembro de 2010 < Casa do Pepito e da Isabel  (Levy Ribeiro) > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita),  que tem na Alice Carneiro (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Na altura ela fala pouco português, mas tem vindo a melhorar... De tempos a tempos, a Alice manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja esta menina (e a mãe), bem como todas as meninas e todas as mães da Guiné-Bissau...  

Fotograma do filme 'Quem vai á guerra', da cineasta portuguesa Marta Pessoa, 2010 > Maria Alice Carneiro, irmã de 2 militares em África (Moçambique e Angola - um dos quais gravemente ferido), e correspondente de outros militares nos três teatros de operações. Tem um espólio de cartas e areogramas da ordem das centenas.

Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de novembro de 2006 > I Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande (na altura, tertúlia= > Alice Carneiro (camisola listada) ouve atentamente o nosso camarada José Luís Vacas de Carvalho... A Dina Vinhal, outra das nossas tertulianas,  totalista dos nossos últimos seis encontros (e inscrita para o VII), está na ponta direita, vestida de camisola vermelha.

Texto: Carlos Vinhal
Fotos do Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné


2. Nota de L.G.:

Obrigado, Carlos, pela agradável surpresa que foi a tua iniciativa. A Alice é uma pessoa modesta que não gosta de aparecer sob as luzes da ribalta, embora seja  muito sociável, solidária, prestável e generosa. Em todo o caso, a tua proposta é mais do que justa e, por minha parte, eu associo-me a ela, congratulando-se com a ideia de ver, formalmente, o nome da Alice Carneiro (ela não usa o meu apelido) na lista dos nossos amigos e camaradas da Guiné. Eu já lhe jurei que a culpa é toda tua... Entende-te amanhã com ela, em Monte Real. Devo acrescentar que só a conheci depois de regressar da Guiné...

Não sei onde foste buscar todos os detalhes da vida da Alice no que diz respeito ao nosso blogue e à Guiné-Bissau. Na realidade, o nosso blogue é um "livro aberto", para o bem e para o mal (por ex., devassa da privacidade das pessoas). Mas já que estás a apadrinhar a entrada da Alice na Tabanca Grande, acrescenta mais esta nota "curricular":

A Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY.  Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:

(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua  o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.

"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.

"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".
Pormenor curioso, até já o artista plástico  Manuel Botelho utilizou excertos das suas cartas em um ou mais dos seus quadros inspirados na guerra colonial...
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Nota de CV:
 

Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550 

4 comentários:

António disse...

Não posso, nem devo, perder esta oportunidade de saudar esta grande Senhora.
Não só pelo seu historial, que aqui está muito bem descrito, e ao qual eu só tenho que agradecer e apreciar, sobretudo todo o seu estoicismo e grande capacidade de comunicação e solidariedade, mas também, porque tive o grato prazer, melhor, a honra de a conhecer. Foram apenas 3 dias de convívio, mas que para mim acabou por dar a sensação que já éramos amigos de longa data.
Sendo a minha esposa portadora de uma doença degenerativa e que a limita fortemente, a Alice, deu-lhe o total apoio, sempre ao seu lado,com palavras de incentivo e de esperança, que lhe provocam ainda hoje uma grande saudade.
Obrigado Alice, por seres como
és e por todo o bem que tens feito.
Não te digo para continuares, porque sei que o teu feitio e a tua forma de estar neste mundo assim o obriga.
Um grande abraço do António e da Cinda

Luís Graça disse...

Falámos ontem com o António Baldé, ao telefone. Está desolado com o que se passa no seu país...Não tem contactos com a Cadi, cujo telemóvel deve estar desliagdo por causa da falta de energia...

Quem paga sempre as favas destes crimes de lesa-pártria são os pobres civis... Os preços disparam, a anarquia toma conta das ruas, o medo instala-se no coração das gentes, as máfias esfregam as mãos de contentes...

Por onde andará a Cadi ? E a Alicinha ? Estamos preocupados com elas. Luis e Alice.

Anónimo disse...

António (Teixeira):

Fico muito sensibilizado pelas tuas palavras. Os amigos são sempre demasiado generosos para com os amigos. Como diz o provérbio, gosto de fazer o bem sem olhar a quem. Faz parte da minha formação e maneira de ser. É evidente que vocês, tu e a Cinda, são pessoas especiais, não é difícil passarmos logo a gostar de vocês, logo à primeira. Conhecemo-nos no verão passado, através de um casal amigo comum, o Pinto Carvalho e a Zé... Olha, estive agora a recordar esses momentos que passámos juntos, na Atalaia, no Porto Dinheiro, na Abelheira, na Lourinhã, em Óbidos... Faço votos para que a saúde da Cinda vos permita repetir essas miniférias, no próximo verão... Em Agosto lá estaremos pela Lourinhã. Muitos beijinhos para a Cinda. Um xicoração para ti.

Alice

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http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/08/guine-6374-p8694-o-mundo-e-pequeno-e.html

Anónimo disse...

António e Cinda:

Estive a reler o comentário que na altura o Luís escreveu... Não me levem a mal se o reproduzo de novo. Ele, melhor do que eu, sabe falar sobre a amizade e os amigos... Alice

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Estando de férias, tenho pouco tempo (físico e mental) para o blogue, como devem imaginar (e depreende pela minha ausência)... Mas permitam-me que acrescente mais duas ou três coisas sobre este poste:

(i) tive o grato prazer de conhecer, pessoalmente, mais um bedandense (duplamente, de peso)... O António é um homem afável, excelente conviva, grande conversador, e seguramente um novo amigo que eu acabo de fazer, graças ao Pinto Carvalho...

(ii) O momento pode não ter sido o melhor, mas ele, António, conseguiu iludir os "problemas de saúde" da esposa (que é de resto uma grande senhora)... O casal integrou-se perfeitamente no grupo da Lourinhã, nestes dias maravilhosos em que estivemos juntos;

(iii) O jornal de caserna "O Seis do Cantanhez" foi criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, da CCAÇ 6, tinha como redactor-coordenador o Alf Mil (Pinto) Carvalho (que é meu vizinho do Cadaval, jurista, especialista em problemas do direito do trabalho)e, entre outros membros da redacção, o Alf Mil Teixeira...

Julgo que o Pinto Carvalho tem ainda exemplares dos 2 únicos que se publicaram.

Sei que a malta da CCAÇ 6 vai-se juntar em convívio alargado, brevemente (em Outubro, na Anadia, se não erro)... Tenho já um convite, vou ver se poderei ir...

Um abração para o António e esposa. Muita coragem. Luís

PS - Obrigado ao meu amigo Pinto Carvalho por me ter dado a oportunidade de privar com este casal de gente maravilhosa. E claro obrigado aos demais amigos da Lourinhã com quem passei uma semana de agradável e fraterno convívio: o Laurentino e a Glória, o Jaime e a Dina, o Rogério e a Leonor, o Arcílio e a Elisabete, o Lino Reis (que foi Alf Mil Pil AL III, Bissalanca, 1970/72)... Mas também ao Eduardo Jorge (professor de educação física, também já aposentado; antigo presidente da assembleia de freguesia do Vimeiro); e ao João Tomás Gomes Baptista, natural das Gamelas/Bombarral, empresário agro-turístico, que nos proporcionou uma tarde maravilhosa em Óbidos... Aqui fica o seu sítio pessoal:

http://charretesdooeste.com/

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Fonte:

Poste de 22 de agosto de 2011:

Guiné 63/74 - P8694: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (45): O António Teixeira (ex-Alf Mil, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73) por terras da Lourinhã...