Hoje venho pedir um pouco de espaço entre nós para uma mulher que sem dúvida nenhuma merece pertencer à tertúlia e ao grupo dos amigos dos ex-combatentes deste Blogue. Porquê?
i) Viveu desde jovem, na pele assim se pode dizer, a guerra colonial pois tem dois irmãos que combateram, um em Angola (o José Carneiro, o mais novo de 6 irmãos) e outro em Moçambique, sendo um deles deficiente das Forças Armadas (o António Carneiro, o mais velho).
ii) Esta mulher, nortenha, do Marco de Canaveses, foi também madrinha de guerra de militares que nem conhecia; escreveu, e leu, cartas por quem não dominava minimamente esta forma de comunicar com os seus filhos algures na guerra de África.
iii) Em Março de 2008 acompanhou o seu marido, também ele ex-combatente da Guiné, ao Simpósio Internacional de Guiledje, revivendo assim o passado dos homens que ama (irmãos e esposo).
iv) Em 2011 participou no filme, feito exclusivamente por mulheres, "Quem Vai à Guerra", que aborda o papel das mulheres que, de uma maneira ou de outra, "foram à guerra", incluindo a problemática do stress pós traumático de guerra e as consequências desta doença no seio familiar dos ex-militares vítimas desta síndrome.
v) Esta mulher é hoje madrinha de uma linda menina que vive e cresce na Guiné-Bissau, a Alicinha, de Farim do Cantanhez, filha da Cadi, uma bela jovem nalu que ela conheceu em 2008.
vi) Esta mulher que em seis edições dos Encontros da Tabanca já realizados, apenas falhou a um por impossibilidade física.
vii) Esta mulher é apenas e só a esposa do fundador deste Blogue, chama-se Maria Alice Ferreira Carneiro, faz anos a 18 de agosto e apoia o seu marido nesta árdua tarefa que é manter esta página viva, símbolo da união e reunião de um Batalhão de ex-combatentes da Guiné.
Abram alas para deixar entrar esta grande senhora, também mãe de um jovem médico e músico, o João Graça, também ele já com uma experiência como cooperante na Guiné-Bissau, e por direito próprio, tertuliano deste Blogue.
Fotos ilustrativas da apresentação desta nossa nova ("velha") tertuliana. Quem não a conhece? Tem, além, uma muita ativa página no Facebook. Será a nossa tabanqueira nº 551. E estará presente no nosso VII Encontro Nacional, amanhã, em Monte Real, com o seu companheiro de uma vida, Luís Graça, e com a filha de ambos, Joana Graça.
Guiné-Bissau > Bissau > Aeroporto Osvaldo Vieira > 29 de fevereiro de 2008 > Alice Carneiro, pisando pela primeira vez o solo daquela terra verde e vermelha...
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Iemberém > 1 de março de 2008 > A Alice entre as mulheres da população local, em dia festivo...
Lisboa, CulturGest > 13 de Maio de 2011 > Alice Carneiro (à direita) e a nossa querida Enfermeira Paraquedista Giselda Pessoa numa aparição pública a propósito do filme "Quem Vai à Guerra", da jovem realizadora Marta Pessoa.
Esta linda menina guineense é a Alicinha, a afilhada da nossa tertuliana Alice Carneiro. Mora em Farim do Cantanhez. A mãe é a Cadi. O pai, António Baldé, está em Portugal.
Guiné-Bissau > Bissau > Bairro do Quelelé > Setembro de 2010 < Casa do Pepito e da Isabel (Levy Ribeiro) > A Alicinha do Cantanhez, de oito meses (à direita), que tem na Alice Carneiro (que vive em Alfragide, Portugal) uma madrinha, quase tão babada e ternurenta como a sua mãe, a Cadi (à esquerda)... O pai, da criança, vive e trabalha na Linha de Cascais como segurança de uma empresa. A Cadi é de Farim do Cantanhez. Na altura ela fala pouco português, mas tem vindo a melhorar... De tempos a tempos, a Alice manda à Cadi as roupinhas e outras coisas que fazem da Alicinha uma pequena princesa do Cantanhez... Pelo meio, vai rezando ao Nhinte Camatchol para que proteja esta menina (e a mãe), bem como todas as meninas e todas as mães da Guiné-Bissau...
Fotograma do filme 'Quem vai á guerra', da cineasta portuguesa Marta Pessoa, 2010 > Maria Alice Carneiro, irmã de 2 militares em África (Moçambique e Angola - um dos quais gravemente ferido), e correspondente de outros militares nos três teatros de operações. Tem um espólio de cartas e areogramas da ordem das centenas.
Ameira, Montemor-o-Novo, 14 de novembro de 2006 > I Encontro Nacional da nossa Tabanca Grande (na altura, tertúlia= > Alice Carneiro (camisola listada) ouve atentamente o nosso camarada José Luís Vacas de Carvalho... A Dina Vinhal, outra das nossas tertulianas, totalista dos nossos últimos seis encontros (e inscrita para o VII), está na ponta direita, vestida de camisola vermelha.
Texto: Carlos Vinhal
Fotos do Arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné
2. Nota de L.G.:
Obrigado, Carlos, pela agradável surpresa que foi a tua iniciativa. A Alice é uma pessoa modesta que não gosta de aparecer sob as luzes da ribalta, embora seja muito sociável, solidária, prestável e generosa. Em todo o caso, a tua proposta é mais do que justa e, por minha parte, eu associo-me a ela, congratulando-se com a ideia de ver, formalmente, o nome da Alice Carneiro (ela não usa o meu apelido) na lista dos nossos amigos e camaradas da Guiné. Eu já lhe jurei que a culpa é toda tua... Entende-te amanhã com ela, em Monte Real. Devo acrescentar que só a conheci depois de regressar da Guiné...
Não sei onde foste buscar todos os detalhes da vida da Alice no que diz respeito ao nosso blogue e à Guiné-Bissau. Na realidade, o nosso blogue é um "livro aberto", para o bem e para o mal (por ex., devassa da privacidade das pessoas). Mas já que estás a apadrinhar a entrada da Alice na Tabanca Grande, acrescenta mais esta nota "curricular":
A Alice disponibilizou a sua coleção de cartas e areogramas da guerra colonial (cerca de três centenas e meia) para um projeto de investigação, chamado FLY. Cito aqui a investigadora e doutoranda Leonor Tavares, da Equipa FLY, do Centro de Linguística da Universidade de Lisboa:
(...) "O projecto FLY - Cartas Esquecidas (1900-1974) é um projecto que procura recolher, digitalizar e editar cartas do século XX dos contextos de prisão, exílio, guerra (colonial e mundial) e emigração. Este projecto continua o projecto CARDS - Cartas Desconhecidas (1500-1900) que já conta com 2000 cartas transcritas. Os dois projectos estão neste momento parcialmente disponíveis no site http://alfclul.clul.ul.pt/cards-fly/.
"O objectivo do projecto FLY é recolher e editar 2000 cartas dos contextos referidos, sendo que se estipulou um total de 700 cartas para o contexto da guerra colonial. Este arquivo digital (composto pelas 2000 cartas do projecto CARDS e as 2000 do projecto FLY) estará disponível para investigadores de várias áreas (principalmente as áreas da Linguística, da História e da Sociologia), para que os documentos (as cartas) sejam imortalizados como objectos históricos de grande relevância linguística. Os estudos que podem ser feitos a respeito deste tipo de documentos compreendem, entre muitas outras hipóteses, aspectos relacionados com a sintaxe, a fonologia, a pragmática, a história cultural e/ou social e aspectos da sociologia das migrações, das desigualdades e classes sociais.
"O projecto FLY compromete-se a omitir todos os dados pessoais dos intervenientes nas cartas, nas transcrições e nas imagens disponibilizadas on-line. (...)".
Pormenor curioso, até já o artista plástico Manuel Botelho utilizou excertos das suas cartas em um ou mais dos seus quadros inspirados na guerra colonial...
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 20 de Abril de 2012 > Guiné 63/74 - P9775: Tabanca Grande (331): António Mateus, de Guifões/Matosinhos, ex-1º Cabo At Inf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), nosso tabanqueiro nº 550
4 comentários:
Não posso, nem devo, perder esta oportunidade de saudar esta grande Senhora.
Não só pelo seu historial, que aqui está muito bem descrito, e ao qual eu só tenho que agradecer e apreciar, sobretudo todo o seu estoicismo e grande capacidade de comunicação e solidariedade, mas também, porque tive o grato prazer, melhor, a honra de a conhecer. Foram apenas 3 dias de convívio, mas que para mim acabou por dar a sensação que já éramos amigos de longa data.
Sendo a minha esposa portadora de uma doença degenerativa e que a limita fortemente, a Alice, deu-lhe o total apoio, sempre ao seu lado,com palavras de incentivo e de esperança, que lhe provocam ainda hoje uma grande saudade.
Obrigado Alice, por seres como
és e por todo o bem que tens feito.
Não te digo para continuares, porque sei que o teu feitio e a tua forma de estar neste mundo assim o obriga.
Um grande abraço do António e da Cinda
Falámos ontem com o António Baldé, ao telefone. Está desolado com o que se passa no seu país...Não tem contactos com a Cadi, cujo telemóvel deve estar desliagdo por causa da falta de energia...
Quem paga sempre as favas destes crimes de lesa-pártria são os pobres civis... Os preços disparam, a anarquia toma conta das ruas, o medo instala-se no coração das gentes, as máfias esfregam as mãos de contentes...
Por onde andará a Cadi ? E a Alicinha ? Estamos preocupados com elas. Luis e Alice.
António (Teixeira):
Fico muito sensibilizado pelas tuas palavras. Os amigos são sempre demasiado generosos para com os amigos. Como diz o provérbio, gosto de fazer o bem sem olhar a quem. Faz parte da minha formação e maneira de ser. É evidente que vocês, tu e a Cinda, são pessoas especiais, não é difícil passarmos logo a gostar de vocês, logo à primeira. Conhecemo-nos no verão passado, através de um casal amigo comum, o Pinto Carvalho e a Zé... Olha, estive agora a recordar esses momentos que passámos juntos, na Atalaia, no Porto Dinheiro, na Abelheira, na Lourinhã, em Óbidos... Faço votos para que a saúde da Cinda vos permita repetir essas miniférias, no próximo verão... Em Agosto lá estaremos pela Lourinhã. Muitos beijinhos para a Cinda. Um xicoração para ti.
Alice
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http://blogueforanadaevaotres.blogspot.pt/2011/08/guine-6374-p8694-o-mundo-e-pequeno-e.html
António e Cinda:
Estive a reler o comentário que na altura o Luís escreveu... Não me levem a mal se o reproduzo de novo. Ele, melhor do que eu, sabe falar sobre a amizade e os amigos... Alice
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Estando de férias, tenho pouco tempo (físico e mental) para o blogue, como devem imaginar (e depreende pela minha ausência)... Mas permitam-me que acrescente mais duas ou três coisas sobre este poste:
(i) tive o grato prazer de conhecer, pessoalmente, mais um bedandense (duplamente, de peso)... O António é um homem afável, excelente conviva, grande conversador, e seguramente um novo amigo que eu acabo de fazer, graças ao Pinto Carvalho...
(ii) O momento pode não ter sido o melhor, mas ele, António, conseguiu iludir os "problemas de saúde" da esposa (que é de resto uma grande senhora)... O casal integrou-se perfeitamente no grupo da Lourinhã, nestes dias maravilhosos em que estivemos juntos;
(iii) O jornal de caserna "O Seis do Cantanhez" foi criado e dirigido pelo Cap Gastão e Silva, da CCAÇ 6, tinha como redactor-coordenador o Alf Mil (Pinto) Carvalho (que é meu vizinho do Cadaval, jurista, especialista em problemas do direito do trabalho)e, entre outros membros da redacção, o Alf Mil Teixeira...
Julgo que o Pinto Carvalho tem ainda exemplares dos 2 únicos que se publicaram.
Sei que a malta da CCAÇ 6 vai-se juntar em convívio alargado, brevemente (em Outubro, na Anadia, se não erro)... Tenho já um convite, vou ver se poderei ir...
Um abração para o António e esposa. Muita coragem. Luís
PS - Obrigado ao meu amigo Pinto Carvalho por me ter dado a oportunidade de privar com este casal de gente maravilhosa. E claro obrigado aos demais amigos da Lourinhã com quem passei uma semana de agradável e fraterno convívio: o Laurentino e a Glória, o Jaime e a Dina, o Rogério e a Leonor, o Arcílio e a Elisabete, o Lino Reis (que foi Alf Mil Pil AL III, Bissalanca, 1970/72)... Mas também ao Eduardo Jorge (professor de educação física, também já aposentado; antigo presidente da assembleia de freguesia do Vimeiro); e ao João Tomás Gomes Baptista, natural das Gamelas/Bombarral, empresário agro-turístico, que nos proporcionou uma tarde maravilhosa em Óbidos... Aqui fica o seu sítio pessoal:
http://charretesdooeste.com/
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Fonte:
Poste de 22 de agosto de 2011:
Guiné 63/74 - P8694: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (45): O António Teixeira (ex-Alf Mil, CCAÇ 6, Bedanda, 1972/73) por terras da Lourinhã...
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