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quinta-feira, 24 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26072: (In)citações (266): Será que é desta ?... Se Xanana Gusmão não vai à nossa Escola nas montanhas de Liquiçá, a nossa Escola vai ter com ele em... Nova Iorque (João Crisóstomo)



Foto nº 1 > Timor > Díli > 2017 > Xanana Gusmão, João e Vilma 
 


Foto nº 2 > Timor > Díli > 2017 > Ramos Horta, João e Vilma 


Foto nº 3> Timor > Díli > 2017 > Mari Alkatiri, João e Vilma 


Foto nº 4 > Timor > Díli > 2017 > Rui Maria Araújo, 
Primeiro Ministro nessa altura. João e Vilma


Foto nº 5 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  Com Xanana Gusmão:
 "a expressão de surpresa por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné"…



Foto nº 7 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > Protestei, mas o Xanana foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras.)



Foto nº 8 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Eu e Xanana:  Se for desta que a Escola arranja professores, 
esta foto vai ficar numa parede…



Foto nº 9> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >  
Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; 
Dionísio B. Soares, Embaixador de Timor nas Nações Unidas; 
uma senhora, não tenho a certeza ,mas penso 
que é Dulce Soares, ministra da cultura; e eu.



Foto nº 10> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 >   
Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal 
em Washington Francisco Duarte Lopes; 
Xanana; eu, a Vilma e...uma senhora que foi-me apresentada 
mas não me lembro quem é (ai o que faz a velhice…).



Foto nº 11> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 Xanana autografando o livro 
para o Rui Chamusco (que vive na Lourinhã)



Foto nº 12 > Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
 A dedicatória do Xanana:  "Para Rui Chamusco:Muito agradecido
pela escola que construiu em Timor Leste!... 
Muita amizade. Xanana, NY, 23 setembro 2024"

O último livro de Kay Rala Xanana Gusmão
(O Meu Mar, O Meu Timor)

 

Foto nº 6> Nova Iorque > 23 de setembro de 2024 > 
Xana, a Vilma e eu... Ele fifcou contente pelo livro “LAMETA” 
que lhe entreguei: que nunca tinha recebido 
o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir 
que outros assuntos também nem sempre chegam 
aos seus destinos…


Fotos (e legenda): © João Crisóstomo  (2024). Todos os direitos reservados 
[Edição e lendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem do João Crisóstomo, o "embaixador" da nossa Tabanca Grande em Nova Iorque, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, ativista de causas sociais, etc.

Data - terça, 24/09/2024, 20:00
 Assunto - Será desta ? 


Caro Luís Graça (c/c Rui):


Será desta?


Como sabes tem sido longa a nossa luta para conseguirmos professores acreditados (oficializados) para a escola de S. Francisco de Assis em Timor Leste (*). Temos batido a todas as portas em Portugal e em Timor Leste, mas a solução tem-se mostrado elusiva. 

Em vários casos estes esforços têm sido feitos em encontros e contactos pessoais; em outros casos quando um contacto pessoal tem sido possível, a situação tem sido dada a conhecer através de assessores que sempre garantem que os nossos pedidos chegarão aos destinatários. Não sei se chegam ou não. A verdade é que temos ficado sempre esperando!.

Embora eu tivesse estado com vários líderes em 2017, quando fui a Timor Leste pela primeira vez, nessa altura o projecto da escola apenas existia na mente do casal Glória e Gaspar Sobral e do Rui Chamusco. Este havia-me falado dessa ideia , mas eu ainda não tinha ido às montanhas e não fazia ideia da situação e que necessidade desta escola era tão premente.

Encontrei-me nessa altura com Xanana, 17 anos depois do nosso último encontro em Nova Iorque: um encontro muito agradável, direi mesmo uma experiência extraordinária. 

Como sucedeu com Mari Alkatiri, que tinha sido Primeiro Ministro quando Xanana foi Presidente na primeira administração após a independência de Timor Leste , ou com Ramos Horta e com Rui Maria Araújo, que era o Primeiro Ministro nessa altura. Mas nesta altura o projecto da construção duma escola ainda não existia sequer na minha mente.

Os nossos esforços, especialmente por parte do Rui Chamusco que já foi a Timor Leste cinco vezes (**), têm sido razão de muita frustração. Tenho uma admiração enorme por este homem que não desiste, com uma perseverança contagiante que leva os outros a continuarem e a não perderem a esperança. E tem sido esta perseverança dele que me tem motivado a não desistir também.

E, assim de repente, apareceu uma oportunidade que eu não esperava: o Embaixador de Timor Leste nas Nações Unidas, Dionísio Babo Soares, com quem há tempos me encontrei, mandou-me uma mensagem: que o atual Primeiro Ministro de Timor Leste, Xanana Gusmão, em Nova Iorque por ocasião da Assembleia Geral da ONU, ia lançar um livro sobre o mar de Timor “My sea, my Timor”... e se eu estava interessado em aparecer.

Primeiro eu não via razão para ir: depois do acidente que tive há meses decidi ter mais cautela e tenho-me limitado apenas ao mesmo necessário. Mas logo refleti : porque acredito em contactos pessoais como o melhor meio de se conseguirem resultados (como no caso de Aristides de Sousa Mendes e o “Dia da Consciência” junto do Vaticano que tentávamos desde 2004, mas que apenas começou a receber a devida atenção depois dum encontro pessoal com o Secretário de Estado), logo me lembrei que sendo ele agora Primeiro Ministro,  seria uma boa ocasião para tentar falar com ele pessoalmente sobre a escola S. Francisco de Assis…

E mesmo em cima da hora decidi ir. Não tinha tempo para preparações , mas tinha à minha frente alguns posts do nosso blogue sobre as crónicas do Rui Chamusco que tinha acabado de imprimir. São várias centenas já, pois que eu, não sendo letrado em coisas digitais, imprimo tudo o que acho de especial interesse. Apanhei duas ou três folhas onde aparecem a escola e as crianças da escola e levei-as comigo.

Quando cheguei, o Xanana tinha também acabado de chegar. E estava ainda cá fora, muito efusivo a cumprimentar outras pessoas quando nos viu e reconheceu. E até eu fiquei surpreendido pelos abraços e receção calorosa que nos deu. 

E lembrou aos presentes que nos tínhamos encontrado aqui em Nova Iorque no ano 2000. Com receio de não ter oportunidade de falar com ele mais tarde, como sucede muitas vezes nestes casos, logo lhe disse se podia falar com ele sobre um assunto que achava importante, uma escola nas montanhas de Timor Leste, ao mesmo tempo que lhe mostrava essas folhas do nosso blogue. 

Ficou surpreendido,  pensando ser engano : “Mas… como é? … esta escola é na Guiné?"… 

Explicada a razão de que Timor Leste era também assunto importante para os “camaradas e amgos da Guiné" e quantos lessem este blogue, aceitou a explicação. Solícito, ao ver a minha bengala até fez questão de me ajudar a subir as escadas …

E depois de termos cumprimentado alguns convidados presentes que já conhecíamos e outros que nos foi apresentando, foi ele que me me levou para um banco mais afastado "para falarmos melhor”.

Antes de prosseguirmos para o “momento de lançamento do livro",  mandou chamar o Embaixador de Timor-Leste nas Nações Unidas (o mesmo que nos convidou para este evento) a quem instruiu para colher as informações pertinentes sobre este assunto.

Já depois do lançamento, eu pedi-lhe a sua assinatura no livro que queria enviar ao Rui Chamusco. Logo que cheguei a casa apressei-me a chamar o Rui a quem dei conhecimento de tudo e dum livro que tenho aqui para ele, devidamente autografado pelo Xanana.

Fico esperançado que não tenha sido uma conversa em vão! 

Será desta? (**)

João
====

PS - Como não sei fazer melhor, aqui vão algumas fotos, com as devidas legendas, se as achares pertinentes e quiseres usá-las.

Legendas:

As primeiras quatro fotos foram tiradas em 2017 durante a nossa primeira visita a Timor Leste.

1 > c/ Xanana | 2 >c/  Ramos Horta | 3 >  >  c/ Mari Alkatiri |  4 > Até parece anedota com Rui Maria Araújo, Primeiro Ministro nessa altura.

As oito seguintes foram tiradas ontem (23 de setembro de 2024).

5 > Podes ver a expressão de surpreza do Xanana por ver a Escola em páginas dum blogue sobre a Guiné…

6 > Ficou contente pelo livro “LAMETA” que lhe entreguei: que nunca tinha recebido o primeiro que lhe enviei… o que me leva a concluir que outros assuntos também nem sempre chegam aos seus destinos…

7 > Protestei, mas ele foi mais teimoso e insistiu em ajudar.( Fez-me lembrar uma experiência semelhante em que Elie Wiesel fez questão de me ir abrir as portas quando eu carregava duas cadeiras).

8 > Se for desta que a escola arranja professores, esta foto vai ficar numa parede…

9 > Com Luís Guterres, Embaixador de Timor Leste em Washington; Dionísio B. Soares, Embaixador nas Nações Unidas; (não tenho a certeza ,mas penso que é Dulce Soares, Ministra da cultura).

10 > Embaixador Luís Guterres; o nosso Embaixador de Portugal em Washington Francisco Duarte Lopes; Xanana e (???) (a senhora foi-me apresentada mas não me lembro quem é;  ai o que faz a velhice…).

11 > Xanana autografando o livro para o Rui Chamusco.

12> A página com a dedicatória...

(Revisão / fixação de texto: LG)

___________

Notas do editor:

(*) 17 de setembro de 2024 > Guiné 61/74 - P25950: (In)citações (261): tudo o que temos pedido é que forneçam professores devidamente acreditados para a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá, Timor Leste (João Crisóstomo, Nova Iorque)

(**) Vd.postes de:



terça-feira, 17 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25950: (In)citações (261): tudo o que temos pedido é que forneçam professores devidamente acreditados para a Escola de São Francisco de Assis (ESFA), nas montanhas de Liquiçá, Timor Leste (João Crisóstomo, Nova Iorque)




João Crisóstomo, régulo da Tabanca da Diáspora Lusõfona
e amigo de Timor Leste. Foto: LG (2017)


1. Email enviado por João Crisóstomo, na sequência de comentário ao poste P25944 (*)

Data - 15 de setembro de 2024, 08:51

Caros Rui Chamusco  e Luís Graça,


Nem sempre leio, mas hoje vi, li e tive de desabafar (*) (...). São 01.24 da manhã de 15 de setembro. Não consigo dormir e resolvi buscar o computador, talvez alguma leitura amena no nosso blogue, como as peripécias narradas pelo Jorge Cabral ou outras me trouxessem o sono.

E ao deparar com esta crónica do Rui, resolvi lê-la para “lembrar”; ao fim e ao cabo também cheguei a ir e estive em Timor (em 2017 e 2018), onde , perante a situação de que o Rui me tinha falado e que confirmei, pensei poder continuar a ajudar: a minha experiência e contactos que ainda mantinha desde os tempos da luta pela independência poderiam com certeza ajudar, pensava eu.

Mas hoje, em vez de uma leitura amena, deparei com o contar duma situação que tem sido uma constante desde esses dias em 2018 até hoje. Raiva, tristeza, saudades, frustração, não sei qual deles maior, foi o que experimentei agora.

De alguma maneira quase me sinto culpado, pois que na altura sonhei e falei do muito que se poderia fazer para ajudar aquelas crianças esquecidas e aquelas gentes tristemente ignoradas nas montanhas de Liquiçá; alimentei tantas esperanças ao Rui, ao Gaspar e à Glória e a tanta gente boa em Portugal, e não só, que perante o nosso entusiasmo resolveram dar também a sua ajuda. E de alguns não foi só ajuda financeira como a de oferecerem-se e irem a Timor Leste. E agora passados seis anos ainda continuamos lutando pela mera sobrevivência duma única escola. Como é triste!

Mas como poderia eu, como poderíamos nós esperar tão pouca resposta por parte daqueles que em Timor Leste, em Portugal e em outras partes do mundo (como na Guiné), desta situação e outras semelhantes, se deviam ocupar?

Se razões de consciência, solidariedade e mesmo justiça não os motivam, então que cumpram o dever e obrigações dimanadas pela situação de poder ou de privilégio em que se encontram agora ou tiveram no passado se ainda agora podem ser influentes.

Os deveres inerentes à consciência e solidariedade são deveres permanentes e não devem ser coisas acidentais e temporárias na nossa vida.

Tenho acompanhado outros projectos semelhantes na Guiné e S.Tomé, aqui descritos no nosso blogue. Que são para mim sempre motivos de motivação, não só pelo simples facto de existirem, como pelo facto de serem motivo de tanto interesse por parte de todos nós que por lá andamos e conhecemos o que era e o que ainda é.

No caso de Timor admiro a boa vontade de tantos que nunca lá estiveram mas que inspirados pelo Rui e outros continuam ajudando, persistindo em fazer bem.

Bem hajam! Eu não acredito em milagres, mas, mesmo na minha muita desilusão, ainda teimo em persistir, esperando sempre por um milagre.

João Crisóstomo

PS - Esqueci-me de dizer que tudo o que temos pedido é que, que forneçam professores devidamente acreditados para esta escola, uma vez que agora já há uma escola construída e uma residência para professores nestas montanhas onde as crianças, que são tão timorenses como as crianças que vivem em cidades ou em locais com mais facilidades e que têm sorte de terem pais mais afortunados, parecem ou foram completamente esquecidas. (**)

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segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25858: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte X: "Obrigadu, malae" João Crisóstomo!



Torres Vedras > Praia de Santa Rita > 15 de dezembro de 2016 > Eduardo Jorge e João Crisóstomo (Foto de Luís Graça)


Lourinhã > Ribamar > Praia de Porto Dinheiro > Tabanca de Porto Dinheiro > Convívio anual > 18 de agosto de 2017 > Eduardo, Luíse Rui (Foto de Álvaro Carvalho)




Lourinhã > Praia da Areia Branca > 2 de dezembro de 2017 > Rui Chamusco e Gaspar Sobral (Foto de Luís Graça)




Timor Leste > Liquiçá > Manati > Boebau > Escola de São Francisco de Assis (ESFA) > Março de 2018 > Da esquerda para a direita, Rui Chamusco, João Crisóstomo e Gaspar Sobral (foto de Rui Chamusco)



1. O nosso amigo Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro de 2018, com o Gaspar Sobral, ambos cofundadores e dirigentes da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015, com sede em Coimbra. 

Foi o nosso saudoso Eduardo Jorge Pinto Ferreira (Lourinhã, Vimeiro, 1952 -  Torres Vedras,  A dos Cunhados, 2019) quem mo apresentou, a mim, Luís Graça,  e me falou dos seus projetos em Timor. 

Eu, por minha vez, apresentei ao Eduardo o João Crisóstomo, afinal seu vizinho  (de A dos Cunhados).  O João conheceu o Rui, pelo Eduardo,  e ficou logo entusiasmado com a sua ligação a Timor. Afinal, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!

De Timor Leste o Rui mandou para Portugal as crónicas dessa viagem (a segunda, de cinco já feitas, de 2016 a 2024), que achámos oportuno e relevante publicar no nosso blogue. Trata-se de uma seleção. Elas ajudam-nos a perceber melhor a idiossincrasia timorense, a história recente e passada deste povo a que nos ligam laços linguísticos, culturais e afetivos.

O Rui é  membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio último. Natural da Malpaca, Sabugal, vive na Lourinhã onde durante cerca de 4 décadas foi professor de música no ensino secundário.  Em Timor, o Rui tem-se dedicado de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem lá desenvolvido,nas montanhas de Liquiçá.

Em Dili  costuma ficar em Ailok Laran, bairro dos arredores na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do luso-timorense Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família, durante três anos e meio, refugiado nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação do território pelas tropas indonésias (em 7 de dezembro de 1975) (tinha "apenas" 14 anos...). O pai de ambos foi "liurai", "no tempo dos portugueses".

A menina dos seus olhos (dos três, o Rui, o Gaspar e o Eustáquio) é a Escola de São de Francisco de Assis, de Manatti / Boebau, município de Liquiçá. A escola e as suas crianças da montanha que finalmente podem aprender música e português. Há também um programa de apadrinhamento de crianças em idade escolar.


II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)


Parte X -   "Obrigadu, " malae" João Crisóstomo!





Dia 08.05.2018, terça feira  - Relatório da Exposião Lameta para conhecimento do João Crisóstomo, em Nova Iorque



O João Telefonou a pedir-me um pequeno texto/relato sobre as exposições “ Lameta”, para ser utilizado, a seu critério, nos seus encontros made in USA. Aqui vai:



João Crisóstomo, Lourinhã, 
2017 (Foto de Luís Graça)

Caro amigo João Crisóstomo

Venho por este meio apresentar-te um relatório sobre a exposição “LAMETA - O Contributo Desconhecido das Comunidades Luso Americanas para a Independência de Timor Leste”.


Depois de 4 exposições já realizadas: Escola Rui Cinati, Escola Amigos de Jesus, Escola São Francisco de Assis, Universidade Nacional de Timor Leste, verificamos, com satisfação, o interesse crescente do povo timorense em conhecer este precioso contributo vindo de outras partes do mundo, tão distantes mas tão presentes e colaborantes no processo de autodeterminação deste jovem país.

E se, em Boebao, nas montanhas que abrigaram tantas lutas, ex-combatentes olhavam avidamente para as fotos que mostravam entidades relevantes do mundo internacional, em Dili, capital da nação, muitos estudantes e professores ficaram a conhecer factos e acontecimentos da história recente para muitos desconhecidos, através desta preciosa coleção. 

Quero destacar a exposição na UNTL no passado dia 4 de maio, onde a “Lameta” e o Grupo de Crianças de Ailok Laran tiveram tão caloroso acolhimento. Reitor da universidade, Diretora do Departamento de Língua Portuguesa, Embaixador de Portugal, vários professores catedráticos, ilustres convidados, e muitos alunos nos felicitaram pelo evento.

Quanto à coleção “Lameta”,  várias entidades, nomeadamente o senhor Reitor, manifestaram o seu apreço dizendo-nos: 

“Isto é um documento muito importante para a história de Timor Leste. É importante que os nossos jovens, muitos indiferentes ao passado, conheçam através dele a sua recente história.”

Nós também temos esta consciência. E, como fiéis depositários (património da Escola de São Francisco de Assis, em Boebau), tudo faremos por dá-lo a conhecer através de futuras exposições. Talvez, durante a nossa estadia em Timor, ainda possamos fazer mais uma na sede da Cruz Vermelha, em Liquiçá.

Caro amigo, a ti e a todos os que contribuíram ou contribuem para estas nobres causas o nosso preito e gratidão, sabendo de antemão que Deus vos pagará por tudo isso. “Quem dá aos pobres empresta a Deus", e Ele vos retribuirá 100X mais. E tu, João, sabes bem que há sorrisos que não têm preço. São a melhor moeda de troca.

OBRIGADO! THANK YOU! MERCI BIEN! GRAZIA TANTA! MUCHAS GRACIAS! DANKE SHAN!

O B R I G A D U !



Dia 09.05.2018, quarta feira  - De poeta, músico e louco ....


A história e os comportamentos de Felisberto (irmão Beto,  como é vulgarmente chamado) surpreendem-nos dia a dia, a cada instante. 

O Felisberto, ex-prisioneiro do regime indonésio, é um doente do foro psíquico, que merece a atenção de todos devido ao seu estilo de abordagem. De vez em quando tem atitudes violentas, destruindo o que bem lhe interessa, mas ele considera-se um verdadeiro messias, pelo que quando ele aparece já sabemos que vamos ouvir um grande sermão. Fala muito mas pouco ouve, porque se considera o detentor da verdade. E quando assim é, já sabemos o que acontece. A conversa começa a chatear.

Hoje ao pequeno almoço surgiu de novo o tema do Felisberto. Aproveitando a presença do Lito (Carlito), amigo desde a infância do Eustáquio que mora aqui mesmo ao lado, lembraram alguns dos episódios que passaram com o TiBeto. 

Contam os dois amigos que uma vez o TiBeto, passou-se dos carretos como de vez em quando é habitual, e decidiu enterrar dentro da sua casa, mesmo a pegar com a do Eustáquio, todas as imagens que tinha em seu poder. Fez um buraco bem fundo e para lá atirou tudo o que era santo ou santa, tapando bem a seguir para que ninguém pudesse lá ir salvá-los.

 Mas costuma dizer-se que “ o diabo faz a panela mas esquece-se do testo”. O Lito e o Eustáquio bem combinados, decidiram resgatar as imagens soterradas. Enquanto um vigiava o outro ia descobrindo cada santo e, num saco de arroz à maneira, aí ia depositando e escondendo o tesouro. Depois do trabalho completo, o Lito fugiu com o saco às costas, levando o espólio para lugar seguro, nunca descoberto pelo iconoclausta.

Conta também o Lito que uma vez, chamado pelo pregador Filisberto, foi interpelado pelo mesmo, e lhe disse: “disseram-me que tu lês muito a Bíblia. É verdade?"...  E o Lito lhe respondeu: "Sim, é verdade. Todos os dias eu leio a Bíblia. Abro o livro a meio e coloco-a sobre a minha cabeça para ela entrar dentro.” 

O TiBeto, muito admirado, comentou: “Qualquer dia ainda sabes mais do que eu!”

Pois é. Mal suspeita o Filisberto que a gente se ri com estas coisas. Considerando que “de poeta, músico e louco todos temos um pouco...”, penso que o Tibeto tem mesmo necessidade de ajuda. Ainda que ele não o admita, precisa de tratamento psiquiátrico, coisa que por aqui não será fácil de arranjar..




O  Toqué  (em Timor), ou Tokay Gecko.
Copyright (c) 1998 Richard Ling/GFDL
Fonte: Wikimedia Commons
(com a devida vénia...)
Vd. aqui áudios com as vocalizações
deste pequeno réptil
(Wikipedia, em inglês).
O Toqué, sinal de sorte?!...


Hoje vi o “Toquê” pela primeira vez. Este réptil tão respeitado e apreciado em Timor Leste, que devido ao preço inflacionado (os indonésios chegavam a trocar carros por estes lagartos) esteve em vias de extinção, está agora, graças ao programa de proteção por parte do governo timorense, em franca expansão. 

È rara a noite que não oiçamos ao nosso redor o seu canto vigilante: “Toquê!...Toquê!...” Na casa do Anô, mesmo aqui à nossa beira, há uns três ou quatro. E ninguém pense em espantar ou matar estes prestigiosos bichinhos. A sua presença dá sorte e proteção aos da casa.

Pois hoje o Valente apareceu por aqui em direção a casa, e trazia com ele um Toquê e um bonito galináceo. Claro que examinei ao pormenor este exemplar que, em boa verdade, não é nada feio, mesmo para quem não gosta de répteis. Depois de uns momentos de conversa, ajudado pelo Eustáquio como tradutor, o Valente pediu
 licença para se retirar e voltar a casa. 

Apeteceu-me gritar bem alto este desejo profundo que nos invade em relação à família do Valente: 

“ Que o Toquê vos proteja e que Deus, com as nossas ajudas, cuide de vós. Oxalá a vida vos sorria, tal como vós sorris para nós. Que o presente e o futuro possam ser melhores para todos vós”...


Dia 12.05.2018, sábado - Eleições: Ninguém gosta de perder, nem que seja jogar a feijões.


Dia de eleições antecipadas aqui em Timor Leste. A campanha eleitoral decorreu com dignidade, apenas com alguns pequenos incidentes e escaramuças, como em todo lado. 

Com o apelo ao voto vindo de todos os quadrantes religiosos, sociais e políticos adivinha-se uma participação massiva. Vamos a ver como ficará composto o puzle da Assembleia Nacional. Mas bem me parece que quem vencer vai ter que procurar alianças, pois não acredito que, seja quem for, tenha maioria absoluta. Que vença o melhor e que governe bem, é o anseio genuíno desta gente. E que, por falta de governo, Timor Leste não seja privado de programas e ações de desenvolvimento e apoios que muita gente, sobretudo os mais necessitados, estão à espera.

E, já agora, que os futuros governantes, para além das suas competências, tenham aprendido com outros governos que se criticam, cá dentro ou lá fora, a não cometerem os mesmos erros de governação. Este povo bem merece. Todos nós assim desejamos. Que os vencedores sejam suficientemente humildes para pedirem a colaboração dos outros. Que os que perderam sejam suficientemente solidários para participarem e ajudarem na governação. Nem que seja uma “geringonça à portuguesa”.



Dia 13.052018, domingo - Engano!...


Afinal enganei-me. Esta eleições tiveram uma participação massiva, a maior de sempre, e deram a maioria absoluta ao AMP (Aliança de Mudança para o Progresso) liderada pelos antigos presidentes Xanana Gusmão, Taur Mtan Ruak, e Naimori Buckar, presidente do novo partido Kunto.

O Gaspar, homem muito entendido nestas andanças, diz que “até que enfim alguém tem a coragem de dizer as verdades que têm estado ocultas".

Quanto a mim que nada tenho a ver com as eleições em Timor (pelo menos por enquanto), mais uma vez me enganei nas previsões, pelo que peço imensa desculpa. Vai haver governo sem geringonça nenhuma, cumprindo a vontade do voto popular que é quem mais ordena. Governe quem governar, que façam um bom trabalho em prol do desenvolvimento e do bem estar deste povo.




Dia 14.05.2018, segunda feira  - “ Que grande galo!...”


É um galo do caraças!... Logo cedinho, bate três vezes as asas, enche bem de ar o peito...e aí vai: Có-có-ró-có-có!.... Desafia os outros todos da redondeza, que em resposta cantam também alternadamente. Mas a ele ninguém o bate! “O nosso galo é bom cantor!”

Este galináceo veio das altas montanhas de Liquiçá, trazido pelo Abílio, o construtor da nossa escola em Boebau. Creio que não veio para aqui para ser cantor, mas sim para ser imolado e comido. E, se não fora eu, com certeza que já não estaria na terra dos vivos. 

Quando vim a saber que estava pronto para ser sacrificado, pedi com fervor para não ser morto, pelo menos enquanto eu aqui estiver. Fui atendido e por isso cá temos o nosso galo cada manhã, despertando-nos e dando graças pelo dia que aí vem. Não falha. E eu até já acho que ele faz isso para me agradecer a vida.

E no meio de tanta cantoria, há um descontrole inexplicável. Há galos que já cantam a qualquer hora do dia, não sei se enganados por alguém. Até o cantar dos galos já não é o que era. Talvez a luz artificial os confunda e já não saibam onde acaba a noite e começa o dia. Mas o nosso galo continua fiel. Que grande galo!...


Dia 15.052018, terça feira  - “Tenho medo...”


É a primeira vez que ouço esta expressão ao Eustáquio. E por isso quis saber mais sobre o seu temor. Então é assim. O Gaspar, muito atarefado com as lides de registos do terreno da Escola de São Francisco em Boebau e com o registo Da ASTILMB e da escola que lhe pertence, tem vindo a insistir que precisa urgentemente de ir a Liquiçá e a Boebau para serem assinados os documentos necessários para a legalização. 

Por várias razões, a mais plausível é ter estado a decorrer a campanha eleitoral, esta ida ainda não foi concretizada. Ontem, já passados dois dias das eleições, pensava o Gaspar poder viajar até às montanhas, e de novo insistia com o generoso irmão, porque o tempo aperta, porque assim, porque assado. Foi quando o irmão Eustáquio desabafou e disse: 

“Tenho medo!...”

“Tens medo de quê?”, perguntou o Gaspar.

E então veio a explicação mais compreensível do mundo, que nos deixou sem palavras. Desde há uns tempos que grassa por Timor e sobretudo nas cidades e arredores pequenos grupos aqui chamados Rama Ambon  (também conhecidos pelos grupos da fisga) que, ao entardecer ou já de noite, se escondem onde podem e atacam os transeuntes que lhes interessam,  lançando um tipo de setas com intenção de ferir e de matar. 

Já não são os primeiros que têm de ser assistidos no Hospital Guido Valadares, em Dli. Conta-se até que ainda há pouco, um jovem atingido na zona do coração, ao lhe retirarem a seta do crime, se esvaziou em sangue acabando por morrer. O Eustáquio tem medo que, dois dias depois do ato eleitoral, haja pelos caminhos que têm de percorrer alguns grupos destes que se queiram vingar dos resultados obtidos.

Claro que não houve resposta. Simplesmente silêncio e aceitação. A viagem será feita quando houver condições de confiança e segurança.

Mas hoje, dia 15 pelas 12 horas, dei-me conta do movimento de preparação das bagagens e do “motor”. Estava decidido que iriam partir até Liquiçá, seguindo logo que possível para Boebau. Boa viagem amigos, e que Deus vos acompanhe...

Nota: Agora percebo porque é que nunca me deixam sair sozinho ao escurecer ou durante a noite. Tenho realmente verdadeiros amigos.


Dia 17.05.2018, quinta feira - A miscigenação


Quem andar à procura de um rosto verdadeiramente timorense vai ter bastantes dificuldades em encontrá-lo. Aqui como em qualquer outra parte do mundo, as influências da globalização fazem-se sentir também na caracterização sobretudo das faces. 

A miscigenação é um fenómeno comum. E é com facilidade que nos cruzamos todos os dias, pelo menos nas cidades, com os rostos mais diversos: brancos, negros, mestiços; portugueses, chineses, australianos, angolanos, cubanos, indonésios, japoneses, etc... 

Neste momento Timor é uma amálgama de raças e de rostos com a maior diversidade possível. A tendência para o rosto asiático, devidamente colorida em café chocolate, é a mais notada. Mas nas montanhas, onde as influências são menos notadas, ainda há rostos que indiciam o verdadeiro retrato de um timorense do leste, possível de encontrar também nos timorenses do oeste, na parte ocidental da ilha.

Seja como for, não consigo imaginar o verdadeiro rosto timorense sem o sorriso aberto, carregado de simpatia, respeito e hospitalidade. Tudo o mais vem de outros lados, doutros países, de outros continentes com virtudes e defeitos que, em policromia e sincronia, fazem deste país uma terra encantadora e com um futuro promissor. Basta que nos aceitemos e respeitemos uns aos outros. Não sou defensor da “raça pura”, mas aprecio o que é genuíno.


Ausência e Presença


Ainda sou do tempo (década de 50) em que partir para um país longínquo como a Índia, Timor, Argentina, Brasil, etc) era considerado como o último adeus. Lembro-me da partida e da despedida da família do Tio Augusto para a Argentina nos começos dos anos cinquenta. Chorava-se de um lado e do outro porque se pensava que nunca mais nos iríamos ver. Ausência para sempre!...

Sessenta a setenta anos passados, eis que tudo se altera. As viagens aéreas, as facilidades de deslocação, os novos meios de comunicação, os facebooks, os emails, os whatsapps, os telemóveis, e tudo o mais criaram pontes de união, contactos, presenças constantes nas nossas vidas. 

Hoje em dia as distâncias não metem medo a ninguém. De manhã em Singapura, à noite em Lisboa. O que é agora ausência, torna-se mais tarde presença. Ou então podemos dizer que não há ausência nem presença, porque embora opostas, ambas estão sempre presentes. São imanentes.

E começo a pensar em coisas do outro mundo, da outra vida. Será que já estamos antecipando a experiência? Será que quando deixarmos este corpo que nos suporta a nossa presença é uma presença ausente, mas que nem por isso será menos importante na vivência da nossa outra vida? Não me incomoda nada se assim for. E então se essa vida futura for o cumprimento da promessa e o ponto de chegada, a plenitude da vida cristã, melhor ainda. Assim o creio e espero.


(Continua)

(Seleção, alguns dos substítulos, revisão / fixação de texto, negritos: LG)
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quinta-feira, 8 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25818: S(C)em Comentários (45): Foi também graças à ação do LAMETA que os EUA alteraram a sua posição de apoio a Timor Leste, que antes era pró-indonésia (Rui Chamusco, Díli, 4/5/2018)











Timor Leste > Díli > Universidade Nacional de Timor Leste (UNTL) > Departamento de Língua Portuguesa > 3 e 4 de maio de 2018 > Exposiçáo LAMETA (acrónimo, em inglês, do Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor Leste), no àmbito da celebração da língua portuguesa.  A sessão foi enriquecida pela atuação, entre outros,  u pequeno grupo de crianças de Ailok Laran que cantaram canções do cancioneiro popular português, acompanhadas ao acordeão pelo Rui Chamusco.


Fotos: © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



Capa do livro de João Crisóstomo,. "LAMETA - Movimento Luso-Americano para a Autodeterminação de Timor-Leste", edição de autor, Nova Iorque, 2017, 162 pp.



1. Palavras proferidas, na ausência do João Crisóstomo (Nova Iorque),  pelo seu amigo Rui Chamusco, na inauguraçáo da  exposição LAMETA, na Universidade de Timor Leste (UNTL),  em Díli, em 4 de maio de 2018, no contexto da celebração da Língua Portuguesa, organizada pelo respetivo Departamento de Língua Portuguesa  (*):



Exmo Sr. Reitor da UNTL, Exma.Sra. Diretora de Departamento de Língua
Portuguesa, Exmo.Sr Embaixador de Portugal em Timor Leste, ilustres convidados, senhores professores e estimados alunos.

É para nós uma honra podermos participar neste evento promovido pelo Departamento de Língua Portuguesa desta universidade, através da exposição
ameta e da interpretação de algumas canções em português por este pequeno
Grupo de Crianças de Ailok Laran.


A exposição LAMETA  do nosso amigo ausente João Crisóstomo, que podemos visualizar no átrio deste auditório,  é um desconhecido contributo que as comunidades luso-americanas deram para a auto determinação de Timor Leste. E, mais do que as palavras, estão os fatos registados nos documentos expostos. 

Esta coleção representa um bem inestimável do património deste povo, e pretende ser, sobretudo para os jovens, um instrumento de informação e de preservação da memória coletiva de imor Leste. 

Foi graças à influência e pressão exercida pelo  LAMETA (Movimento Luso-americano para a Autodeterminação de Timor Leste) que os Estados Unidos alteraram a sua posição de apoio a Timor leste, que antes era pró indonésia. 

Esta exposição é a comprovação desta influência e dos caminhos que o movimento LAMETA  percorreu durante os ano nos de luta.

A presença destas crianças para interpretação de canções em português pretende demonstrar que a música tem um papel muito importante no processo de aprendizagem de qualquer língua, também da Língua Portuguesa. Um longo
caminho ainda a percorrer. Com o esforço e boa vontade de todos conseguiremos atingir estes objetivos.

Agradecemos ao Departamento de Língua Portuguesa de ter confiado em nós e de nos ter concedido esta oportunidade.

A todos,  MUITO OBRIGADO. (**)

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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de agosto de 2024 > Guiné 61/74 - P25815: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IX: A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa

(**) Último poste da série > 26 de julho de 2024 Guiné 61/74 - P25780: S(C)em Comentáros (44): o seminário, a tropa e a guerra (Francisco Baptista, autor do livro "Brunhoso, Era o Tempo das Segadas - Na Guiné, o Capim Ardia", Edição de autor, 2019, 388 pp.)

quarta-feira, 7 de agosto de 2024

Guiné 61/74 - P25815: II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL) - Parte IX: A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa





Timor Leste > s/l > 2019 >  Naprimeira foto de cima, o Rui Chamusco


Fotos: © Rui Chamusco (2018). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação de uma selcção das crónicas do Rui Chamusco, respeitantes à sua segunda estadia em Timor Leste (janeiro / julho de 2018) (*). 

Membro da nossa Tabanca Grande desde 10 de maio último, é cofundador e líder da ASTIL (Associação dos Amigos Solidários com Timor-Leste), criada em 2015 e com sede em Coimbra.

Professor de música, do ensino secundário, reformado, natural do Sabugal, e a viver na Lourinhã, o Rui tem-se dedicado de alma e coração aos projetos que a ASTIL tem desenvolvido no longínquo território de Timor-Leste.

Desta vez, o Rui Chamusco partiu para Timor, em 25 de janeiro de 2018, com o seu amigo, luso-timorense, Gaspar Sobral (foto acima, à direita), cofundador também da ASTIL. 

Em Dili  ficaram em  Ailok Laran, nos arredores de Díli, na casa do Eustáquio (alcunha do João Moniz) , irmão (mais novo) do Gaspar Sobral, e que andou, com a irmã mais nova, a mãe e mais duas pessoas amigas da família, durante três anos e meio, refugiado nas montanhas de Liquiçá, logo a seguir à invasão e ocupação do território pelas tropas indonésias (em 7 de dezembro de 1975) (tinha "apenas" 14 anos...).

 A menina dos seus olhos (dos très, o Rui, o Gaspar e o Eustáquio) é a Escola de São de Francisco de Assis, de Manatti / Boebau, município de Liquiçá. A escola e as suas crianças da montanha que finalmente podem aprender música e português.


II Viagem a Timor: janeiro / junho de 2018 (Rui Chamusco, ASTIL)


Parte IX -  A exposição Lameta, na Univesdade de Díl, e a magia da música em língua portuguesa


Dia 28.04.2018, sábado  - Sempre em festa...


A vida em Ailok Laran e Dili é mais calma mas menos interessante (desculpem-me os citadinos). No entanto, vão acontecendo coisas que não posso deixar de descrever.

Desde que chegamos da montanha que se tem ouvido música em alta intensidade que começa ao final da tarde e termina ao amanhecer do dia seguinte. Quem tiver problemas em adormecer está tramado. Mas aqui, em Timor, é assim. Não há qualquer legislação que tal impeça. E ninguém individualmente tem coragem e ousadia de fazer queixa.” Não há problema”, dizem eles, “é sempre assim!”. Pois que seja. Agora que incomoda, lá isso incomoda.

Questionados sempre a origem de tanto barulho, mas com boa música, fomos esclarecidos. Nos primeiros dias (noites) devia-se à celebração do “final de luto” da família do defunto falecido há um ano, que a partir de agora deixam os sinais de tristeza. Outras culturas, bem diferentes das ocidentais. Festa rija a culminar a celebração de um ritual ligado à morte.

A segunda dose, que ainda está em vigor, é a festa de casamento, que dura há umas boas noites, e em que os convidados e outros comem, bebem e dançam à conta do legado que ninguém sabe qual é, pois é entregue em envelope fechado. 

Diz o Gaspar que na sua juventude, ela e os seus amigos juntavam muitas moedas para parecer muito dinheiro e assim puderem entrar e usufruir das benesses desta cerimónia. Como não era de bom tom os noivos abrirem o envelope à frente dos oferentes, divertiam-se à grande e à francesa sem que alguém os incomodasse.


Dia 29.04.2018, domingo - As crueldades 
da guerra

Logo de manhãzinha, ouviu-se uma voz não habitual de alguém que chegava e que cumprimentava os da casa. Curioso, tentei saber de quem se tratava. Era, nem mais nem menos, um senhor por volta dos cinquenta anos, que vinha visitar o padrinho Gaspar. Diz o padrinho que é o único afilhado que tem em Timor.

Depois de algum tempo associei-me ao grupo, e mais do que falar tentei ouvir as conversas em tétum, algumas vezes com tradução, que descreviam tempos passados e recordações. Mais uma vez se lembraram as cenas da invasão indonésia. 

O pai do senhor que chegou,  foi amarrado e morto pelas tropas invasoras, logo aqui ao lado. Os irmãos Mariano (Mari) e João Moniz (Eustáquio) contam que a destruição da casa de família onde agora estamos,  foi presenciada por eles próprios mais o irmão Abeca, e que os indonésios depois de lhe pegarem o fogo por todo o lado, laconicamente lhes disseram: “Podeis ir a buscar as vossas coisas lá dentro.”

O que mais me admira é que eles falam nestas cenas com tranquilidade, sem qual quer esboço de ódio ou de vingança. Há quem por aqui diga que o grande erro dos indonésios foi terem matado tanta gente. Duzentos mil mortos num universo de setecentos mil é realmente significativo. 

Caso contrário teriam todas as condições para serem queridos desta gente, pois as coisas boas que cá fizeram são muitas e das quais este povo ainda beneficia. Em qualquer invasão, a guerra é sempre cruel para qualquer das partes beligerantes. 

O Gaspar comentava, com toda a razão: “a guerra é o grande mal da humanidade”.



Dia 30.04.2018, segunda feira  - A magia do “Mundo Mágico”


Não. Não se trata de truques ou de ilusionismo. O “Mundo Mágico” é uma escola que, como muitas outras, se dedica de alma e coração à educação de crianças desde as mais tenras idades. A sua diretora, a professora/educadora Diana Rebelo, tem sido incansável no apoio que nos tem prometido e dado à nossa escola em Boebau. Senhora de muito trabalho mas que não nega ajuda a ninguém. “Naquilo que eu puder contem comigo”, diz-nos ela.

Pois hoje estivemos de novo no "Mundo Mágico", a fim de concretizarmos o estágio de duas senhoras de Boebau para que, quanto antes, elas possam trabalhar Escola de São Francisco de Assis. Com certeza que irão aproveitar ao máximo os ensinamentos deste estabelecimento. As crianças mais pequenas de Boebau agradecem.

Sabemos de antemão que a ajuda do “Mundo Mágico” pode não ficar por aqui, porque já me apercebi do espírito de solidariedade que a sua diretora possui, bem como toda a sua família. A magia não é fruto de um efeito da varinha mágica mas sim de muito trabalho e competência.



Dia 02.05.2018, quarta feira - Preparando a exposição


É já na próxima sexta feira que terá lugar a exposição LAMETA, na Universidade UNTL em Dili, no contexto de celebração da Língua Portuguesa, organizado pelo Departamento de Língua Portuguesa desta instituição de ensino. 

Aqui na casa, em Ailok Laran, é uma azáfama na confeção dos painéis que serão o suporte dos documentos a expor. Mais de cem folhas A3 que teremos de afixar. Estávamos a contar com o empréstimo dos expositores da escola portuguesa Rui Cinati, mas tal não é possível devido às necessidades da própria escola durante estes dias. 

Mas o Eustáquio, que é um homem desenrascado, já pôs ombros à obra e os painéis estão quase todos prontos. Amanhã serão transportados para a universidade, onde irão ser devidamente preenchidos e colocados. Pode o amigo João crisóstomo ficar descansado que a exposição vai ser um êxito.

Esta exposição será enriquecida com música. Um pequeno grupo de crianças de Ailok Laran irá cantar, acompanhadas ao acordeão, um reportório de músicas em português, que com certeza farão o deleite de muitos dos ouvintes. 

Até a mim, que os ensaiei, me comovem e dão esta alegria de, muito longe de Portugal, poder ouvir estrangeiros cantando tão bem as nossas canções. Estamos ansiosos, mas com muita confiança de que tudo sairá bem.


Dia 04.05.2018, sexta feira - Grandes momentos!...

nossa presença na Universidade Nacional de Timor Leste (UNLT), através da exposição Lameta e das crianças de Ailok Laran está a ser alvo de muitas atenções. Por isso temos confiança de que tudo vai correr bem. Algum cansaço na véspera e alguma apreensão, mas nada que nos incomode ou nos demova.

Às 9.00 horas a exposição já está montada e , a pouco e pouco, vão chegando ao local alunos, professores, convidados. Esperam altas individualidades que, à medida que vão chegando,  nos vão cumprimentando e mostrando o seu interesse pelo conteúdo desta exposição. 

Saliento atitude do senhor Reitor da UNTL, acabado de chegar de Lisboa, que demoradamente conversou comigo dando conta do que esta universidade irá fazer em prol da Língua Portuguesa. Notei-lhe muito entusiasmo nas iniciativas que apresentou.

Seguidamente, no auditório aqui ao lado, procedeu-se à abertura da sessão desta jornada dedicada à Língua Portuguesa, sob o lema “Língua Portuguesa um elemento da nossa identidade”. 

Vários oradores fizeram as suas intervenções: Diretora do Departamento da Língua Portuguesa;  Reitor da Universidade, Embaixador de Portugal em Timor; o editor do livro hoje aqui lançado;  o Dr. Benjamim Corte Real (antigo reitor desta universidade) que fez uma intervenção sapiencial sobre o livro em questão;  e finalmente, este vosso humilde servo, a quem pediram, por ausência do amigo João Crisóstomo, que dissesse algumas palavras sobre a exposição. 

Não me fiz rogado, até pelo respeito e carinho que o João nos merece, e avancei para o palco, acompanhado dos meus pequenos cantores. Pela primeira vez na minha vida, escrevi numa folha o que pretendia dizer, e li:

“ Exmo Sr. Reitor da UNTL, Exma.Sra. Diretora de Departamento de Língua Portuguesa, Exmo.Sr Embaixador de Portugal em Timor Leste, ilustres convidados, senhores professores e estimados alunos.

É para nós uma honra podermos participar neste evento promovido pelo Departamento de Língua Portuguesa desta universidade, através da exposição Lameta e da interpretação de algumas canções em português por este pequeno Grupo de Crianças de Ailok Laran.

A exposição Lameta do nosso amigo ausente João Crisóstomo, que podemos visualizar no átrio deste auditório é um desconhecido contributo que as comunidades luso americanas deram para a auto determinação de Timor Leste. E, mais do que as palavras estão os fatos registados nos documentos expostos. 

Esta coleção representa um bem inestimável do património deste povo, e pretende ser, sobretudo para os jovens, um instrumento de informação e de preservação da memória coletiva de Timor Leste. 

Foi graças à influência e pressão exercida pelo Lameta (Movimento Luso americano para a Autodeterminação de Timor Leste) que os Estados Unidos alteraram a sua posição de apoio a Timor leste, que antes era pró indonésia. Esta exposição é a comprovação desta influência e dos caminhos que o movimento Lameta percorreu durante os ano nos de luta.

A presença destas crianças para interpretação de canções em português pretende demonstrar que a música tem um papel muito importante no processo de aprendizagem de qualquer língua, também da Língua Portuguesa. Um longo caminho ainda a percorrer. Com o esforço e boa vontade de todos conseguiremos atingir estes objetivos.

Agradecemos ao Departamento de Língua Portuguesa de ter confiado em nós e de nos ter concedido esta oportunidade.

A todos MUITO OBRIGADO.”



Depois fui entregar dois exemplares do livro Lameta que o João me deixou, um ao Senhor Reitor da UNTL e outro à Sra. Diretora do Departamento.

O que veio a seguir, foi magia para aquele público. Quando se começou a ouvir o acordeão e as vozes no Hino da Alegria (cantado e tocado em notas de bambu), na canção A Chuva que a Adobe cantou, na canção As Notas do filme Música no Coração, o público delirou e não parava de aplaudir. 

Sim, foi magia e muita emoção difícil de controlar para mim. Os elogios e parabéns foram tantos que até parecíamos vedetas de televisão. Muitas fotografias a pedido, alguns videos ( o próprio reitor não resistiu a fazer a sua reportagem). Os miúdos então exultavam de alegria ao verem tanta aceitação. 

Para cúmulo, já no local da exposição, brindamos os visitantes com mais umas quantas canções portuguesas (Rama de oliveira, Ao passar a ribeirinha, A minha terra é linda, Rosa enxertada, Ó minha rosinha) e mais havia ainda por cantar, não fosse a preocupação dos responsáveis do evento em que as crianças fossem comer e beber qualquer coisa.

Um dia a não esquecer por adultos e sobretudo por estas crianças que abnegadamente participaram neste evento.

Dia 05.052018, sabado  - Sorrisos contagiantes


Mais uma vez fico enfeitiçado com os sorrisos desta gente. Tu passas onde passares e, aonde parece materialmente tudo faltar, surgem caras sorridentes que dão o “bom dia”, a “boa tardi!”. Como pode alguém, que sabemos de antemão ter carência de pão(arroz) para a boca expressar tamanhos sorridos? E pronto! Ficamos apanhados para acudir a qualquer emergência.

Hoje de tarde passamos como muitas vezes o fazemos em frente da casa do falecido Vitor, já várias vezes referido nestas crónicas. Olhei para dentro da mesma e só vi um grande vazio. Poucas coisas haverá por lá. Cá fora, gente e mais gente, que aqui é que se está bem. Aquele “boa tarde” coletivo, acompanhado de vénia e de sorriso aberto, dirigido ao Eustáquio e a mim que passávamos de carro, ficou-me na retina dos olhos como um quadro que dificilmente esquecerei.

Compreendem agora a nossa solicitude e os apelos de ajuda que de vez em quando fazemos? Não há como esquecer este povo, esta pessoas em concreto. Não me interessa que digam: “ mas o Estado timorense é rico “; “ não tens mais onde gastar o teu dinheiro?...” 

Quando à nossa volta há gente com fome de pão e de outras necessidades básicas, não podemos ficar indiferentes, cuspir para o ar e desculpar nos com o que os outros (incluindo o Estado) deve ou não deve fazer. Claro que não somos nós que vamos salvar o mundo. Mas ajudamos. E isto não estar a armar-me em herói. Eu queria ver se qualquer um de vocês na mesma situação ficaria ficaria indiferente a estes sorrisos... (...)

 (Continua)

(Título, excertos, revisão / fixação de texto, itálicos e negritos:  LG)
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