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sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Guiné 61/74 - P20503: FAP (114): O helicóptero Alouette II


Foto nº 1 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > O pessoal em operações militares: na foto, acima, transporte às costas de um ferido, evacuado para o HM 241, em Bissau, por um helicóptero Alouette II (versão anterior do Alouette III, que nos era mais familiar, sobretudo para aqueles que chegaram à Guiné a partir de 1968).


Foto nº 2 > Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 726 (Out 64 / Jul 66) > "O heli [, aqui a descolar,]  era o Alouette II (dois). O que está na foto nº 1 já tem rodas, os que conhecia eram todos com patins. Nesta altura, os feridos eram transportados no "caixão" que eu destaquei a amarelo. Podes imaginar como arrepiante seria viajar, amarrado e bem amarrado, naquele cubículo do lado de fora da carlinga" (Jorge Félix) (*)..

Foto (e legenda): © Alberto Pires (Teco) / Jorge Félix (2009). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

Foto nº 3 > Guiné > Região do Oio > Jumbembem > CART 730 (1964/66) e CCAÇ 1565 (1966/68) > Domingo, 10 de julho de 1966 > Um dia trágico: pormenor da evacuação do cap mil inf Rui Romero, na foto a ser transferido para a maca do helicóptero Alouette II... A enfermeira paraquedista era a alf Maria Rosa Exposto.

Foto ( e legenda): © Artur Conceição (2007). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 4 > Guiné > Região de Quínara > Tite > Agosto/Setembro de 1965 > Alouette II. Foto do álbum de Santos Oliveira, ex-2.º Sarg Mil Armas Pesadas Inf do Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66.

Foto (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 5 > Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Arnaldo Schulz ao lado do piloto do helicóptero;  Fevereiro de 1967 > A despedida: em segundo plano, no banco de trás, duas caixas de cerveja, Sagres e Cristal; em primeiro plano, à esquerda, um cabo especialista da FAP e, à direita, o fur mil Viegas, do Pel Caç Nat 54, com camuflado paraquedista trocado com um camarada numa operação no Morés em outubro de 1966. A aeronave parece ser um Alouette II.

Foto (e legenda) : © José António Viegas (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Foto nº 6  > Guiné > Região de Tombali > Catió > CCAÇ 617 / BCAÇ 619 (Catió, Ilha do Como e Cachil, 1964/66) > Alouette II > "O meu batismo em heli"...

Fotos (e legendas): © João Sacôto (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Tancos > Base Aérea nº3 > 1967 > 1.º Curso de Pilotos de Helicópteros, onde pela 1.ª vez também foram incorporados milicianos, segundo informação do Jorge Félix, aqui, junto a um Allouette II, no meio dos seus camaradas, onde se inclui o Duarte Pio de Bragança [e não Duarte Nuno de Bragança, como por lapso escreveu o Jorge Félix]

Os primeiros pilotos milicianos de helicópetros da FAP > 14 de Março de 2008 > "Éramos oito milicianos (Eu, Antolin, Cavadas, Melo, Baeta, Pinto e Duarte) e três da Academia Militar (Braga, Afonso e Costa).

O Pinto faleceu em Outubro de 2007, em Lisboa, vítima de doença. O Oliveira faleceu no acidente de aviação em Tancos, em 72 ou 73. Estes dois companheiros estiveram comigo na Guiné. O Melo anda em sítio incerto na Venezuela (vou saber pormenores da 'chatice' que foi a vida dele por lhe terem roubado um Allouette III da FAP). O Baeta faleceu em Gago Coutinho, Angola, Março de 1969, num acidente, voo nocturno, Heli. O Cavadas também já faleceu em acidente de Heli, andava nas pulverizações, no Alentejo. O Antolin está de perfeita saúde, Comandante da TAP reformado, a viver em Lisboa. O Duarte é... Sua Alteza D. Duarte Pio de Bragança, esteve em Angola [... e não em Moçambique...] e vive em Lisboa. O Pinto, também reformado da TAP, faleceu há quatro meses. Do Braga, Afonso e Costa, sei muito pouco (...)..

Foto (e legenda): © Jorge Félix. Todos os direitos reservados [Cortesia de: Blogue do Victor Barata > Especialistas da BA 12, Guiné 1965/74.] (**)


Guiné > Algures > Jorge Félix, allf mil pil heli Al III (BA 12, BA 12, Bissalanca, 1968/70) e António Spínola (Com-Chefe e Governador Geral, CTIG, 1968/73)... O tratamento por "pilav" era reservado aos pilotos-aviadores que vinham da Academia Militar. Não sabemos exatamente em que data chegaram, à BA 12, Bissalanca, os Alouette III. A partir de 1969, o fabricante francês destaca para a BA 12 um técnico de manutenção, o Pierre Fargeas (nascido em 1932) e que se tornou um grande amigo de Portugal e do pessoal que passou pela BA 12 entre 1969 e 1974. A sua esposa, Ivette Fargeas, também o acompanhou. (***)

Foto (e legenda): © Jorge Félix (2010). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O que muito de nós não sabem (ou não sabiam) sobre o heli Alouette II, antecessor do Alouette III

(i) Maria Arminda Santos (****)

(...) "A partir daí a guerra na Guiné estava instalada e assim que foi possível fomos colocadas na Base de Bissalanca, para o início das evacuações aéreas com enfermeiras. Havia os aviões Auster e os helicópteros Alouette II; nestes não nos era possível acompanhar de perto os feridos, os quais eram transportados fora do helicóptero, numa espécie de caixas colocadas por cima dos patins do heli, uma de cada lado. Nos Auster a maca quase entrava pela cadeira ao lado do piloto e na cauda do avião. 

"Felizmente mais tarde chegaram os DO-27 e os Alouette III, onde passámos a fazer inúmeras evacuações, adaptando e modificando os meios sanitários e a nossa actuação, com a finalidade de uma mais eficaz prestação de cuidados aos feridos, os quais iam sendo cada vez em maior número. Infelizmente tivemos que chegar a fazer evacuações no Dakota, quando havia ao mesmo tempo muitos feridos e a pista era adequada para a sua aterragem." (...)  


(ii) Wikipedia > Aérospatiale Alouette II (em português)

(... ) O Alouette II é um helicóptero ligeiro, produzido, sob diversas versões, pelo construtor aeronáutico francês, SNCASE, que em 1957 deu origem à Sud Aviation, em 1970 à Aérospatiale, em 1992 à Eurocopter e que em 2000 passou a integrar a EADS (...)

Foi o primeiro helicóptero do mundo, motorizado com turbina a gás a ser certificado para voo.

As versões militares eram usadas essencialmente em, fotografia aérea, observação, salvamento marítimo. ligação e treino. Na parte civil era usado essencialmente na evacuação médica principalmente em grande altitude, tirando partido do seu motor de turbina. (...)

(...) O Alouette II foi o segundo modelo de helicóptero ao serviço da Força Aérea Portuguesa, a seguir ao único Sikorsky UH-19 operado desde 1954. Foram recebidas sete unidades em 1957, começando a ser operadas no ano seguinte, uma das quais seria destruída por acidente.

Com o início da Guerra do Ultramar, os seis helicópteros remanescentes foram enviados para Angola, de onde operaram a partir das bases aéreas do Negaje e de Luanda. Foram utilizados sobretudo para evacuações sanitárias e para ligações. 

A partir de abril de 1963, começaram a ser substituídos em Angola pelos recém adquiridos Alouette III, sendo enviados para a Guiné Portuguesa onde se tinha aberto uma nova frente. Também neste teatro de operações começaram a ser substituídos por Alouette III, sendo quatro transportados num DC-6 para a nova frente de Moçambique em 1966. Foram finalmente completamente substituídos operacionalmente pelos Alouette III e pelos Puma, sendo todas as unidades colocadas na Base Aérea de Tancos na função de instrução, onde serviram até 1976. (...)
__________

Notas do editor:


(***) Vd. poste de 1 de dezembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12375: Roteiro de Bafatá, a doce, tranquila e bela princesa do Geba (Fernando Gouveia) (7): By air... (Vídeo de Jorge Félix / Pierre Fargeas)

segunda-feira, 14 de outubro de 2019

Guiné 61/74 - P20240: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (4): 2ª edição, revista e aumentada, Letras M, de Maçarico, P de Periquito e C de Checa... Qual a origem destas designações para "novato, inexperiente, militar que acaba de chegar ao teatro de operações" ?







Lourinhã > Praia da Areia Branca > Vale de Frades > 3 de setembro de 2019 > O Maçarico-das-rochas [Actitis hypoleuco]...


Lê-se no portal das Aves de Portugal:

"Com o seu incessante movimento de balanceamento da cauda, o maçarico-das-rochas é uma das mais irrequietas limícolas, que raramente é vista em repouso. Estatuto de conservação em Portugal:
Vulnerável


"Identificação > Pequena limícola castanha e branca. A cabeça, o peito, o dorso e as asas são castanhas. O ventre é branco, sem riscas, sendo a linha divisória bastante bem marcada. As patas são cinzentas ou esverdeadas. A característica identificativa que mais facilmente permite separar esta espécie de outras limícolas é a pequena “língua” branca que a plumagem forma de ambos os lados do pescoço.

"Abundância e calendário > O maçarico-das-rochas é uma espécie relativamente comum em Portugal e distribui-se um pouco por todo o país, mas como raramente forma grandes bandos não pode ser considerado uma espécie abundante. Frequenta todo o tipo de zonas húmidas, sejam elas de água doce, salobra ou salgada. Pode ser observado ao longo de todo o ano. Na época de reprodução é relativamente escasso e ocorre sobretudo na metade interior do território. Fora da época de reprodução é mais comum, ocorrendo então com regularidade em praticamente todas as zonas húmidas do litoral português." (...)



Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. Na tropa e na guerra (colonial), Maçarico era o "soldado que ainda não terminou a instrução militar", o recruta, o novato, o que acaba de chegar (ao teatro de operações) (*)... 

O termo começou a ser usado em Angola, em 1961, depois estendeu-se à Guiné, sendo aqui substituído por "periquito" ou "pira"... Em Moçambique dizia-se "checa"... O termo aparece nas letras de canções do Cancioneiro do Niassa (**)
A razão de ser desta(s) designação (ões), não sei. O único  vocábulo com esta aceção, da gíria militar, que vem grafado no dicionário, é "maçarico".

maçarico | s. m.

ma·ça·ri·co
(origem duvidosa)

substantivo masculino

1. Aparelho com um tubo pelo qual sai uma chama que se faz incidir sobre a peça que se quer soldar ou derreter.

2. [Informal] Pessoa com pouca experiência. = APRENDIZ, NOVATO

3. [Informal] Soldado que ainda não terminou a instrução militar. = RECRUTA

4. [Ornitologia] Ave pernalta aquática.

5. [Regionalismo] Lebracho com malha branca na frente.

"maçarico", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, https://dicionario.priberam.org/ma%C3%A7arico [consultado em 12-10-2019].

Talvez algum leitor nos possa ajudar a perceber o porquê destas designações... Porquê "periquito" na Guiné, porquê "checa" em Moçambique ?

O nosso camarada Santos Oliveira já aqui nos deu, em tempos, uma explicação para a origem do termo "Maçarico", usado na Guiné em 1964 (***). Maçarico teria a ver com a cor do caqui amarelo das primeiras tropas. Em comentário o José Colaço dá uma explicação importante para a mudança do nome para "periquito": "Quando apareceram as fardas verdes deixaram de ser maçarico, e foram cognominados de periquitos.Aliás nem fazia sentido um maçarico verde."




Parte da capa do livro sobre a família Maçarico, que tem centenas de descendentes, originários de Ribamar, Lourinhã. Estão hoje espalhados pela diáspora lusitana (por ex., Brasil, Estados Unidos, Canadá). Há um ra,o em Mira, que deve ter emigrado para lá no séc. XIX. Uma das caraterísticas dos Maçaricos é que sempre viverem junto ao mar, e ligados a atividades maritímas (desde a marinha mercante à marinha de guerra, desde a pesca à construção naval


2. No livro "A Vila de Ribamar" (edição  de autor, Ribamar, 2002),  Américo Teodoro Maçarico Moreira Remédio, (n. Ribamar, Lourinhã, 1943,  1º tenente reformado,) reconstruiu a árvore da família (ou clã) Maçarico, cuja origem remontaria, pelo menos, à época dos Descobrimentos.

Nesta época, Ribamar seria um importante centro de construção naval, tendo ainda existido até cerca de 1930 um estaleiro que situava no local onde está hoje antiga a escola primária. E já nesses tempos idos os Maçaricos eram reconhecidos como especialistas nessa área,  tendo acompanhado diversas expedições navais. E provavelmente estabeleceram-se também noutras localidades onde existiam estaleiros, possível explicação para haver outras famílias Maçarico espalhadas pelo País, como por exemplo em Mira.

Uma das minhas bisavós, avó materna do meu pai. era Maria Augusta Maçarico  (Ribamar, 1864-Lourinhã, 1932). Caso com um Sousa, família de negociantes de peixe. (LG)
_________________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de outubro de 2019 > Guiné 61/74 - P20237: Pequeno Dicionário da Tabanca Grande, de A a Z (3): 2ª edição, revista e aumentada, Letra B

(**) "Checas" é uma das famosas canções do Cancioneiro do Niassa;

I
Ó checa, amigo checa,
Cacimbado ando eu,
Já estou farto disto tudo,
Aqui em Nova Viseu.

II
Já estou farto de picar,
De fazer operações,
De rios atravessar
Com água até aos calções.

III
Já estou farto de buracos,
Feitos pelas marmitas [, minas,]
Já estou farto de ir ao ar
E sem ver os terroristas.

IV
Ó checa, amigo checa,
Na picada, faz favor,
Tu serás paraquedista
Ou piloto aviador.

V
Comes feijão ao almoço,
Comes feijão ao jantar
E quando não é feijão
É punga para variar.

VI
Uma sopa de mosquitos,
E de formas esquisitas,
Dia sim, dia não,
Lá virão os ciclistas.

VII
Ó checa, amigo checa,
Isto aqui é muito chato,
Aturar a chicalhada
Que nunca saem para o mato.

VIII
Esta guerra é dos soldados
E também dos furriéis,
O resto dos graduados
Faz a guerra dos papéis.

IX
Assim é Nova Viseu
E isto ainda aumenta,
Isto é uma charanga
Na trinta e quatro setenta.


Comentário de L.G.:

 Referência à Companhia 3470, aquartelada em Nova Viseu, na região do Niassa.

Desconheço a proveniência do termo checa, o qual designa, se bem entendo, o soldado que acaba de chegar da Metrópole, sem experiência de combate, em suma, o maçarico, o periquito, como nós dizíamos na Guiné em 1969/71: Checa é pior que turra, é o título de uma obra de ficção, publicada em 1996 por Manuel Maria, que esteve em Moçambique entre 1972 e 1974. O romance, edição de autor (Porto, 1996), tem como subtítulo: Caricaturas da guerra colonial.

Quanto ao termo punga, não sei se está está correcto, no contecto em que é usado: segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, o termo seria de origem suaíli e designaria "uma espécie de samba cantado, marcado por tambor, com versos improvisados e que é dançado em roda"...Mas não me parece que seja nesse sentido que o termo é aqui empregue: "Comes feijão ao almoço,/Comes feijão ao jantar / E quando não é feijão / É punga para variar"..

Quanto ao termo picar, significava detectar minas utilizando para o efeito um pau tendo na extremidade um ferro aguçado ou um prego com que se picava o chão, a picada, os trilhos suspeitos de esconderem marmitas ou minas anticarro ou antipessoal). 

Por sua vez, o termo chicalhada era uma forma de se referir, em termos depreciativos, os oficiais e sargentos do quadro das Forças Armadas, o pessoal da carreira militar, os quais eram em geral muito mais velhos do que os soldados do contingente geral, os furriéis milicianos e os alferes milicianos. Meter o chico era um termo depreciativo, designando uma acção desprezível de um furriel ou alferes miliciano que, no final da comissão, optava pela continuação na vida militar: veja-se por exemplo o Fado do Miliciano que o J.M.AS Santos diz ser a versão do Exército do Fado da Marinha.

(***) Vd. poste de  11 de abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4173: Humor de caserna (10): Como se caçavam Maçaricos em 1964 (Santos Oliveira)


(...) A Guerra do Ultramar veio criar a necessidade de, aos Militares para lá deslocados, um fardamento adequado ao clima, de caqui amarelo-torrado.Os que haviam seguido pelos anos de 1961 ainda sofreram as agruras da regulamentar farda utilizada no Contingente Metropolitano, inadequada, de fazenda cerdosa, grossa, de cor cinzenta (quentíssima cá, como seria por lá???...).

Estes foram os verdadeiros criadores do termo e apelido que nos era atribuído, pela semelhança de cores com a do Maçarico, um tipo de ave, muito comum na Guiné. Com a evolução e renovação do tal fardamento inadequado, todos ficaram amarelos, pelo que somente aos novatos e inexperientes no Ultramar eram apelidados com tal epíteto. (...)

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Guiné 61/74 - P17583: (De) Caras (83): Gente boa, brava e chã da Tabanca dos Melros em dia de apresentação das "Memórias Boas da Minha Guerra", volume II, do José Ferreira: restaurante "Choupal dos Melros", Fânzeres, Gondomar, 8 de julho de 2017 - Parte I (Fotos e texto: Luís Graça)


Foto nº 1 > Gondomar > Fânzeres > Quinta dos Choupos > Restaurante Choupal dos Melros > Tabanca dos Melros > A bandeira da Tabanca dos Melros e o seu régulo Carlos Silva. Esta tabanca alberga os ex-combatentes naturais do concelho de Gondomar, como é o caso do Carlos Silva, embora viva em Massamá, concelho de Sintra; acolhe naturalmente todos os demais combantentes da região, de todo Norte, e de todo o Portugal d'aquém e d'além mar; reune-se todos os segundos sábados de cada mês.


Foto nº 2 > A Tabanca dos Melros está sediada na Quinta dos Choupos, restaurante Choupal dos Melros.  É um belíssimo complexo, inserido numa quinta que há foi em tempos uma das maiores e melhores casas agrícolas da região. Por herança, está na posse do nosso grã-tabanqueiro Gil Moutinho, ex-fur nul piloto aviador  BA12, Bissalanca, 1972/73, anfitrião e outro dos  régulos da Tabanca dos Melros. O Gil mantém a parte agrícola e faz a gestão do restaurante, especializado em eventos (casamentos, batizados, festas...). Abre, ao público, aos domingos.



Foto nº 3 > Há já um pequeno nucleo museológico sobre a guerra colonial, constituído por objetos (fardas, guiões, crachás, bandeiras, mapas, medalhas, fotografias, e até armas) doados por antigos combatentes. Um dos mais entusiásticos e generosos doadores tem sido o Rui Vieira Coelho, ex-alf mil médico que esteve integrado nos BCAÇ 3872 e  BCAÇ 4518 (Galomaro, 1973/74).



Foto nº 4 > Mais uma peça de museu: o saco de viagem da TAP oferecido aos militares que vinham de licença de férias à metrópole. Oferta do Carlos Silva.


Foto nº 5 > Outra peça de museu, a farda (amarela) do nosso grã-tabanqueiro, Santos Oliveira



Foto nº 6 > A placa de homenagem do Jorge Teixeira (Portojo) (1945-2017), o "bandalho-mor" do Bando do Café Progresso, que prematura nos deixou. Era um dos mais entusiásticos frequentadores da Tabanca dos Melros, seu cofundador e editor do respetivo blogue, juntamente com o Carlos Silva e o Carlos Vinhal.


Foto nº 7 > Um dos muitos sítios aprazíveis da quinta: uma latada de "americano"...




Foto nº 8 > O antigo "quinteiro" da Quinta dos Choupos, onde estão alojados vários serviços de apoio ao restaurante Choupal dos Melros.


Foto nº 9 > A moderna cozinha do restaurante, com fogão... a lenha!... Tudo o que saí daqui é tem o sabor tradicional da nossa melhor cozinha regional portuguesa....



Foto nº 10 >  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Aspeto da decoração da sala (um telheiro) onde foi apresentado o livro: um manequim, com a farda nº 2, e as divisas de furriel, e uma pistola metralhadora Uzi (réplica)... A decoração esteve a cargo do nosso grã-tabanqueiro Ricardo Figueiredo, que tem um sonho: construir uma réplica de um aquartelamento de uma subunidade de quadrícula (companhia), típico do TO da Guiné, no âmbito do seu ambicioso projeto Museu Vivo da Guerra Colonial.



Foto nº 11>  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Aspeto geral da assistência



Foto nº 12 >  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > O anfitrião, Gil Mourinho, tendo ao lado as esposas dos nossos camaradas Carlos Vinhal e Carlos Silva.


Foto nº 13>  Gondomar > Fânzeres >Tabanca dos Melros > 8 de julho de 2017 > Sessão de apresentação do II Volume do livro "Memórias Boas da Minha Guerra", de José Ferreira (Lisboa, Chiado Editora, 2017) > Um dos oradores, o Jorge Teixeira, chefe do Bando do Café Progresso, fazendo o elogio do autor (o Zé Ferreira, em segundo plano) e da obra. É um camarada de fino trato e humor à moda do Porto. tal como de resto o outro Jorge Teixeira, de alcunha, Portojo (1945-2017).

(Continua)

Fotos (e legendas): © Luís Graça (2017). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Nota do editor:

Último poste da série > 29 de junho de 2017 > Guiné 61/74 - P17522: (De) Caras (88): O fur mil inf Hércules Arcádio de Sousa Lobo, natural da ilha do Sal, Cabo Verde, foi gravemente ferido pelo primeiro fornilho acionado no CTIG, às 9h00 do dia 3 de julho de 1963, na estrada São João-Fulacunda, vindo a morrer no HMP, em Lisboa, no dia 16, devido às graves queimaduras. Eu era o comandante da coluna (António Manuel de Nazareth Rodrigues Abrantes, ex-alf mi inf, CCAÇ 423, São João e Tite, 1963/65)

segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Guiné 63/74 - P16851: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...


Guiné > Região de Quínara > Tite > Julho de 1965 > O Santos Oliveira, em pacato  passeio pela tabanca


Guiné > Região de Quínara > Tite > Agosto/setembro de 1965 > Uma cena de caça


Guiné > Região de Quínara > Tite > Julho de 1965 > Uma DO27 (Dornier) na pista de reabastecimento.

Fotos do álbum do nosso camarada, grã-tabanquerio da primeira hora, de Santos Oliveira, ex-2.º  sgrt mil armas pesadas inf, Pel Mort 912, Como, Cufar e Tite, 1964/66). Esteve em Tite ao tempo do BCAÇ 1860 (Tite, abril de 1965/abril de 1967)

Fotos (e legendas): © Santos Oliveira (2008). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




O Zé Teixeira, em 2008, em Iemberém,
com  população local. Foto de Luís Graça (2008)
O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) – Parte Final (José Teixeira): os frutos (amargos) da aventura...



1. Preâmbulo

Todos nós, os que passamos pela guerra (e em particular pelo TO da Guiné), temos vindo com o tempo, a tentar passar aos vindouros as situações vividas (, "com sangue, suor e lágrimas"...)  num  ambiente hostil e agressivo, próprio dos confrontos militares . É o nosso ponto de vista. Com mais ou menos romantismo; com mais ou menos realismo, vamos escrevendo o que a nossa memória registou.

É comum ouvirmos camaradas nossos contar testemunhos de situações que vivemos em conjunto e encontrarmos diferenças, às vezes pormenores que nos escaparam ou a que não demos atenção. Foram situações (ataques, flagelações, emboscadas, explosões de minas e armadilhas, etc.) vividas em comum, mas analisadas por outro ponto de vista. Alguém com outra base académica ou cultural, ou até com outra visão politica e militar da situação, é capaz de "ver" e "narrar" os acontecimentos de outra maneira... O local e ângulo de onde se está a vivenciar o acontecimento, afeta a informação registada na memória (e depois a narrativa, a reconstituição, o depouimento...).

Neste caso concreto, estamos a tomar conhecimento de um testemunho de alguém que vivenciou o ataque a Tite, de 22 para 23 de janeiro de 1963, data (polémica) do in´´iio "oficial" da guerra colonial (ou de "libertação", para os nacionalistas). Foi o seu comandante, mas do outro lado da barricada, logo, o relato dos acontecimentos que viveu e a visão global do ataque são à partida diferentes da "narrativa" daqueles que,  na altura, defendiam a bandeira verde e rubra. Pontos de vista diferentes, mas tespeitáveis, já que tal como a moeda, a "verdade" tem um verso e um reverso.  São estes conjuntos de ponto de vista, diferentes entre si, dos acontecimentos que vão permitir escrever a História.

Estranhamente pouco ou nada se tem escrito, oficialmente,  sobre este acontecimento tão marcante, (seria?) para o desenvolvimento da guerra na Guiné.

Na parte da entrevista que se segue, o entrevistado assume que o ataque a Tite foi uma aventura, a qual serviu de alerta para as tropas portuguesas. Na realidade, podia ter sido uma grande catástrofe para os guineenses envolvidos pela sua ingenuidade de fazer avançar cerca de 150 africanos (!) – diz ele – com reduzido armamento e nenhuma formação nem prática de combate, contra uma instituição militar devidamente apetrechada e homens bem trenados no manuseamento de armas. Valeu-lhes o ato de surpresa e creio mesmo que a população local envolvida fugiu a sete pés, mal se iniciou o tiroteio.

Com este "ato de loucura", o PAIGC terá ganhado mais alguns aderentes e talvez notícias de primeira página nos jornais, por esse mundo fora, vacinado contra o colonialismo via URSS e EUA, as grandes potências em conflito latente, empenhadas em “abocanhar” a África e a afirmar a sua hegemonia geopolítica,,,. Claro que foi um ato que deu “gás” aos militantes do PAIGC, fazendo sentir que era possível lutar contra os "tugas" (sic), de "armas na mão", bastante para isso terem armas, pois que vontade não lhes  faltava.

Mas,  como acontecimento de guerra, o ataque a Tite não passou de um fracasso, para ambos os lados da barricada. Desgraçadamente, foi o início de uma escalada que só parou 11 anos depois... e que nos envolveu a todos.

A três anos de morrer, Arafam Mané faz também o balanço de uma vida:  "filho de camponês", com passagem pela escola do maoismo, e tendo conhecido as misérias e as grandezas da luta de libertação nacional, da independência, do exercício da governação e das lutas fratricidas no seio do PAIGC, Arafam Mané termina a entrevista em tom "politicamente correto", mas nem por isso menos "coerente" e "humano" e até com uma ponta de "amargura":

Isso para mim, é um grande orgulho. Vejo que, de facto fiz algo de importante para este país a Guiné-Bissau. Mesmo, se morrer hoje não ficarei arrependido. Cada um de nós conhece bem o que é a vida de um camponês. O filho do camponês é sempre condenado na sociedade dos intelectuais mesmo nos países mais desenvolvidos do mundo. Somente nos países socialistas é que vimos que o filho do camponês tem valor. Eis as recordações palpáveis que tenho sobre o ataque de Tite.

Em todo o caso, convirá dizer que esta versão dos acontecimentos de 23 de janeiro de 1963 não é consensual entre os próprios protagonistas (***)... Como sói dizer-se, quem conta um conto acrescenta-lhe um ponto... Por exemplo, não fica esclarecido quem é que "comandou" a operação, se fosse o Malam Sanhá ou so seu adjunto, o Arafam Mané...Como os dois já morreram, nunca mais irão esclarecer esta minha pequena dúvida...



II. Sinopse da entrevista – Parte Final
Arafam Mané com uma "costureirinha", c. 1963. Foto
do Arquivo Amílcar Cabral / Casa Counm.
Com a devida vénia......


No texto anterior o entrevistado dizia, continuando a responder à pergunta, " Mas como é que conseguiram penetrar facilmente no interior do quartel?"

“A nossa missão podia ter maior sucesso se um dos nossos companheiros não tivesse falhado no cumprimento da ordem. Não obstante tudo, a operação planeada para esse dia não podia ser adiada custe o que custasse. Considero que o acto foi uma aventura que serviu de alerta para os tugas; porque queríamos que soubessem que voltamos com força para a zona. Foi uma guerra psicológica porque, na realidade, nós não tínhamos uma força palpável. Mas essa acção desorientou as tropas coloniais que a partir daquele momento receavam sair do quartel para fazer patrulhas.”

E continuava:

"No entretanto, após esta corajosa operação, mais de 300 jovens voluntários aderiram ao movimento de guerrilheiros para, do nosso lado, lutar contra os colonialistas portugueses. Não havia armas nem tão pouco baionetas mas esta realidade não desanimou os jovens cujo número de aderentes crescia constantemente na minha barraca [acampamento temporário]."

Publicamos a seguir a resposta de Arafam Mané às duas questões finais.


III. Entrevista com o coronel Arafam Mané - Parte IV ( e última)

Esta entrevista foi concedida em 2001 ao jornal “O Defensor”, órgão, de periodicidade mensal, das FARP - Forças Armadas Revolucionárias do Povo, Guiné-Bissau, no quadro da recolha de depoimentos dos Combatentes da Liberdade da Pátria sobre os acontecimentos históricos que marcaram a luta armada de libertação nacional, entrevista essa reproduzida no sítio das FARP, em novembro de 2015.

Excertos transcritos com a devida vénia.(A entrevista completa pode ser lida aqui. no sítio das FARP, Guiné-Bissau.)

(Continuação)

O Defensor – Coronel, o que pensa que poderia acontecer durante a operação 
se o vosso comando inexperiente
 tivesse armas de fogo suficientes?


Malan Sanhá, c. 1963.
Foto do Arquivo  Amílcar Canral
/ Casa Comum

Com a devida vénia...
Coronel ADM - Penso que a falta de armas ou a sua insuficiência na altura da operação de Tite foi uma coisa positiva, porque se houvesse muitas armas, isso teria talvez constituído um golpe fatal para o nosso próprio comando que, certamente, devido a falta de experiência sobre o uso de armas poderia provocar vítimas nas nossas fileiras mesmo, como referiu o célebre cantor guineense José Carlos Schwarz,“caçador desconhecido falhou e virou a sua arma contra a aldeia”.

Se não fosse a falta de experiência, teríamos ocupado Tite naquele dia, porque as tropas coloniais,  surpreendidas pela operação,  tinham já fugido. Do nosso lado, a única baixa do assalto foi o meu guarda costa Wagna Bomba, natural de Gambala, que sucumbiu atingido por balas do inimigo. Do lado do inimigo, não posso avançar um número preciso de vítimas mas deve ter sido considerável, porque o camarada Malam Sanhá conseguiu lançar uma granada dentro da caserna onde dormiam soldados. Foi um sucesso, camarada jornalista.

Portanto, depois da operação em Tite, os ataques da guerrilha se multiplicaram, alastrando-se para os diferentes pontos do sul.

A notícia sobre o início da luta armada contra os colonialistas portugueses, como já disse anteriormente,  foi tornada pública por Amílcar Cabral em Londres (Inglaterra), numa Conferencia de Imprensa. Em África, a notícia foi imediatamente publicitada pelas Rádios de Conacri, Rádio Nacional do Senegal e mais tarde pela “Rádio Libertação” do PAIGC.

A divulgação dessa notícia nos órgãos de comunicação social levantou o moral no seio dos camaradas e a vontade de lutar fortemente para libertar o nosso povo. Enquanto para os "tugas", a divulgação da notícia constituiu uma dor de cabeça.

O Defensor  - Mas no fundo 
qual foi a reacção de Amílcar Cabral 
logo que foi informado do ataque 
contra o quartel de Tite?


Coronel ADM - Foi positiva. Fui logo promovido ao posto de Comandante Regional. E, antes da minha ida para a República Popular da China, que ocorreu em Abril de 1963, consegui mobilizar um número considerável de camaradas para a luta. Tive inclusive contactos com Bissau na pessoa de Rafael Barbosa que na altura era grande membro do Comité Central do PAIGC.


FACTOS HISTÓRICOS INESQUECÍVEIS 

São recordações de encorajamento, isso porque depois da operação as nossas populações chegaram a conclusão de que, afinal, nós naquela altura não podíamos fazer nada porque não tínhamos armas. Reconheceram, por outro lado, que nós podíamos ser bons soldados se tivéssemos armamento. Depois dessa acção, passamos a receber géneros da população e recebemos também medicamentos.

Houve igualmente o congresso de Cassacá que deu o acento tónico que a população esperava do grande partido. O congresso permitiu acabar com as barbaridades praticadas por alguns camaradas, reorganizar a nossa luta armada, entre outros. O povo voltou a ganhar a confiança no partido, nos seus dirigentes e no destino da Luta de Libertação Nacional.

Mas a maior satisfação que tenho é, precisamente, o facto de ver hoje os camaradas que ontem eram camponeses analfabetos que tinham como vestuários “lopé” (tanga), panos rodeados no corpo com os pés descalços, tornarem-se agora grandes oficiais das Forças Armadas Revolucionárias do Povo (FARP), outros são Engenheiros, Aviadores (Pilotos), Médicos, Deputados, Condutores, pilotos de barcos...

Isso para mim, é um grande orgulho. Vejo que, de facto fiz algo de importante para este país a Guiné-Bissau. Mesmo, se morrer hoje não ficarei arrependido. Cada um de nós conhece bem o que é a vida de um camponês. O filho do camponês é sempre condenado na sociedade dos intelectuais mesmo nos países mais desenvolvidos do mundo. Somente nos países socialistas é que vimos que o filho do camponês tem valor. Eis as recordações palpáveis que tenho sobre o ataque de Tite.


IV. Comentário final

Vejo nesta entrevista um documento histórico de relevante interesse, pois acaba por desmistifica um acontecimento propalado aos quatro ventos como um verdadeiro ato de guerra, heróico e grandiloquente... Afinal não passou de uma "aventura", uma ação, tosca,  que escapou à própria direção política do PAIGC, quase sem consequências imediatas, a não ser a de alertar as tropas portuguesas...

Em todo  caso, e usando a terminologia dos historiadores da guerra colonial Aniceto Afonso e Carlos Matos Gomes, mal ou bem o "ataque a Tite" marca o fim da "fase pré-insurreccional e de doutrinação políticia (in; Afonso, A, e Matos Gomes, C. - Guerra colonial; Angola, Guiné, Moçambique. Lisboa: Diário de Notícias, s/d, p. 421),

O PAIGC estava em fase de mentalização e mobilização das populações, e de organização das suas estruturas enquanto  a tropa portuguesa ainda “dormia na forma”. Por outro lado, está bem patente o medo que os militares portugueses impunham sobre as populações através de atos violentos na tentativa de travar o avanço do movimento independentista.

Hesitei em por o texto no nosso blogue, com receio de que iria abrir "velhas feridas mal curadas". Por outro lado o seu valor histórico impunha que fosse dado a público, mas para meu sossego passou incólume, sem o mais pequeno contraditório, o que me preocupa, confesso.


[Introdução, seleção, notas, incluindo parênteses retos, revisão e fixação de texto: Zé Teixeira, ex-1.º Cabo Aux Enf]
____________

Notas do editor:

(*) Postes anteriores da série:

3 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16794: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte I (José Teixeira)

8 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16812: O inicio da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte II (José Teixeira)

11 de dezembro de 2016 > Guiné 63/74 - P16823: O início da guerra colonial no CTIG, contada pelo outro lado: entrevista, de 2001, com o homem que liderou o ataque a Tite, Arafam 'N’djamba' Mané (1945-2004) - Parte III (José Teixeira)

(**) Vd. portal noticioso > Guiné-Bissau > 24/1/2013 >23 de janeiro, dia de início da luta armada de libertação nacional, celebrado no país

(...) Bissau (Rádio Bombolom-FM, 23 de Janeiro de 2013) – A Guiné Bissau marcou ontem, quarta-feira, cinquenta anos do início da luta armada de libertação nacional a 23 de janeiro de 1963 no quartel de Tite, região de Quínara, no sul da capital, Bissau.

Em homenagem a esse acontecimento histórico do país, o Estado-Maior General das Forças Armadas, através da Divisão para os Assuntos Cívicos e Sociais e Relações Públicas, promoveu uma palestra subordinada “Início da Luta Armada pela Independência da Guiné e Cabo Verde”.

Um dos participantes nesse primeiro ataque com armas de fogo contra um reduto militar português na então Província Ultramarina da Guiné, Daúda Bangura (Comissário Político), lembra ainda dos nomes de heróis que haviam constitudo o grupo de assalto, entre eles, Arafam Mané (na altura Adjunto de Comandante), Malam Sanhã (na altura Comandante Geral da Operação) e Tchambu Mané, que era Comandante de Grupo.

Apesar de o assalto ter sido de surpresa para as tropas portuguesas, Daúda Bangura lembra que na operação, o grupo sofreu duas baixas, nas pessoas dos guerrilheiros NFamará Dabó e Malam Dabó. (...)