Servir duas vezes a pátria, ontem Portugal, hoje Angola...
por Luís Graça
Ilha de Luanda, 23/7/2013.
1. Levantei-me às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto, o sr. C... , motorista de ambulâncias da clínica, já estava pronto para me levar ao aeroporto. É o meu motorista habitual, quando aqui venho, à Ilha de Luanda em serviço... É o meu motorista da madrugada.
Já o conheço há uns anos... E espero voltar a encontrá-lo para a próxima semana. Sábado, vou de novo a Luanda, e desta vez vou no mesmo avião que o António Duarte, meu "neto" na CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/74)... Eu sou de 1969/71, ele é de 1973/74... Eu vou dar formação a médicos do trabalho e ele a bancários...Só que ele já lá vai há mais tempo (1999) do que eu (2003) ...(Mais uma vez se constata que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).
O meu amigo C... estava de férias, mas levantou-se para me conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto. Há outro motorista, o C2..., mas mora longe. Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques. Mesmo assim, na clínica, há gente que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!...A vida é dura para os luandenses que precisam de trabalhar.
O sr. C... é um homem afável, de 59 anos, Mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro), província a sul, a cerca de 300 km de Luanda...É preeiso atravessar Luanda, de uma ponta á outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã...para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto.
O sr. C... mora na ilha de Luanda, perto da clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pera doce: há uns largos anos atrás, talvez em finais da década de 1990, a sua ambulância foi metralhada num musseque, quando um "grupo de bandidos" (sic) tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)... Os bandidos, que não sabem ler, confundiram o ti-no-ni da ambulãncia com o carro da polícia... Houve feridos graves, baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus todos furados, o meu amigo C... lá conseguiu safar-se, com o assento todo crivado de balas... Revelou grande sangre frio e coragem,
Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade. Nada como dois ex-combatentes.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1973/74, ou mesmo 1974/75. Era furriel miliciano. Serviu "a sua pátria de então" (sic). Quando os sul-africanos invadem Angola, sua terra, as FAPLA convocam-no para as suas fileiras. Foi então 1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens. Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980, se não erro... Também se queixa de o estado angolano ter esquecido os antigos combatentes...
Pelo que perecebio, esteve no Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...
Mas a cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos massiços da artilharia e aviação dos sul-africanos, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (c. 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas por um grupo de combate... Tenho dúvidas se foi na batalha de Kifangondo, iniciada em 10/11/1975, às portas de Luanda (e cujo desfecho foi fundamental para reforçar a posição do MPLA), ou se foi mais tarde... (Sobre esta batalha, vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu'). Não tive oportunidade, no trajeto até ao aeroporto, de esclarecer alguns pormenores... Possivelmete foi quando as forças sul-africanas, a seguir à independência, chegaram até ao sul do Ebo, província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda.
Nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O sr. C... , na altura tenente e comandante da força (cerca de 30 homens), nunca mais se esqueceu desse "dia pavoroso" (sic)...
Começou a trabalhar na clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama. Conversa puxa conversa, diz-me que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda" (sic). A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal. As praias estão limpas, contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas desapareceram... Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não vai" (sic). Tinha-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixei-lhe kwanzas para beber um copo à nossa saúde e à nossa condição de antigos combatentes.
2. Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos e irmãos angolanos, são pessoas que vivem com intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade. "Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, a cuja estreia, em Portugal, eu assisti há dias, no Cinema São Jorge, no âmbito do doclisboa'13...
Confesso, por outro lado, a minha relativa ignorância em relação à história e á geografia de Angola, apesar de lá ir já desde 2003... Tenho que me socorrer da Net e dos mapas, como muletas...
Por exemplo, Kuando Kubango... É uma província situada no sudeste do país. Verifico que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Kunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados) e Huíla. A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Kuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...
É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região de Angola é conhecida atualmente como "Terras do Progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticalmente por explorar.
Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência. Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a "Jamba") em finais de 2001, aquando da ofensiva das forças armadas angolanas. É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu apoio dos EUA, na luta contra contra o MPLA, que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial,..
A Batalha de Kuito Kuanavale foi o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. Foi aqui , na província de Kuito Kuanavale, e mais concretamente no munícipio de Kuando Kubango, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos soviéticos e pelos cubanos, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo exército sul-africano.
É considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos, da invencibilidade do exército da África do Sul. Independetemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente a superioridade demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados) no campo de batalha. Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional ... A implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
3. Levei para Luanda e acabei de ler, de um fôlego, o romance de Ondjaki, Os transparentes, 3ª ed. (Lisboa: Caminho, 2013, 451 pp). Um marco da literatura lusófona. Este puto (n. 1977, e que fez sociologia, como eu, no ISCTE) vai longe. Será em breve elegível para o Prémio Camões, disso não tenho dúvidas. Ele não precisa de comparações, mas para mim é o Mia Couto angolano. Conheci-o pessoalmente, há uns anos atrás, na Feira do Livro de Lisboa. Uma pessoa adorável, de uma grande sinplicidade e simpatia, Luanda passa a ter, depois de Luuanda, do Luandino Veira, mais um livro de referência. Ganha Angola mas também todo a comunidade lusófona com este grande escritor e com o seu primeiro grande romance. É também um hino à língua portuguesa que nos une a todos.
Vd. aqui um resumo do romance.
PS - Sem surpresas para mim, acabou de arrecadar mais um prestigiado prémio, o Prémio Literário José Saramago 2013. Entre os membros do júri, conta-se a poet(is)a Ana Paula Tavares (n. 1952, Lubango), outro nome grande da literatura angolana.
________
Nota do editor:
Último poste da série > 20 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (11): No melhor pano cai a nódoa... (Luís Graça)
por Luís Graça
Ilha de Luanda, 23/7/2013.
1. Levantei-me às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto, o sr. C... , motorista de ambulâncias da clínica, já estava pronto para me levar ao aeroporto. É o meu motorista habitual, quando aqui venho, à Ilha de Luanda em serviço... É o meu motorista da madrugada.
Já o conheço há uns anos... E espero voltar a encontrá-lo para a próxima semana. Sábado, vou de novo a Luanda, e desta vez vou no mesmo avião que o António Duarte, meu "neto" na CCAÇ 12 (Bambadinca e Xime, 1969/74)... Eu sou de 1969/71, ele é de 1973/74... Eu vou dar formação a médicos do trabalho e ele a bancários...Só que ele já lá vai há mais tempo (1999) do que eu (2003) ...(Mais uma vez se constata que o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!).
O meu amigo C... estava de férias, mas levantou-se para me conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto. Há outro motorista, o C2..., mas mora longe. Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques. Mesmo assim, na clínica, há gente que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!...A vida é dura para os luandenses que precisam de trabalhar.
O sr. C... é um homem afável, de 59 anos, Mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro), província a sul, a cerca de 300 km de Luanda...É preeiso atravessar Luanda, de uma ponta á outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã...para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto.
O sr. C... mora na ilha de Luanda, perto da clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pera doce: há uns largos anos atrás, talvez em finais da década de 1990, a sua ambulância foi metralhada num musseque, quando um "grupo de bandidos" (sic) tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)... Os bandidos, que não sabem ler, confundiram o ti-no-ni da ambulãncia com o carro da polícia... Houve feridos graves, baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus todos furados, o meu amigo C... lá conseguiu safar-se, com o assento todo crivado de balas... Revelou grande sangre frio e coragem,
Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade. Nada como dois ex-combatentes.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1973/74, ou mesmo 1974/75. Era furriel miliciano. Serviu "a sua pátria de então" (sic). Quando os sul-africanos invadem Angola, sua terra, as FAPLA convocam-no para as suas fileiras. Foi então 1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens. Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980, se não erro... Também se queixa de o estado angolano ter esquecido os antigos combatentes...
Pelo que perecebio, esteve no Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...
Mas a cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos massiços da artilharia e aviação dos sul-africanos, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (c. 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas por um grupo de combate... Tenho dúvidas se foi na batalha de Kifangondo, iniciada em 10/11/1975, às portas de Luanda (e cujo desfecho foi fundamental para reforçar a posição do MPLA), ou se foi mais tarde... (Sobre esta batalha, vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu'). Não tive oportunidade, no trajeto até ao aeroporto, de esclarecer alguns pormenores... Possivelmete foi quando as forças sul-africanas, a seguir à independência, chegaram até ao sul do Ebo, província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda.
Nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O sr. C... , na altura tenente e comandante da força (cerca de 30 homens), nunca mais se esqueceu desse "dia pavoroso" (sic)...
Começou a trabalhar na clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama. Conversa puxa conversa, diz-me que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda" (sic). A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal. As praias estão limpas, contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas desapareceram... Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não vai" (sic). Tinha-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixei-lhe kwanzas para beber um copo à nossa saúde e à nossa condição de antigos combatentes.
2. Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos e irmãos angolanos, são pessoas que vivem com intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade. "Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, a cuja estreia, em Portugal, eu assisti há dias, no Cinema São Jorge, no âmbito do doclisboa'13...
Confesso, por outro lado, a minha relativa ignorância em relação à história e á geografia de Angola, apesar de lá ir já desde 2003... Tenho que me socorrer da Net e dos mapas, como muletas...
Por exemplo, Kuando Kubango... É uma província situada no sudeste do país. Verifico que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Kunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados) e Huíla. A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Kuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...
É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região de Angola é conhecida atualmente como "Terras do Progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticalmente por explorar.
Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência. Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a "Jamba") em finais de 2001, aquando da ofensiva das forças armadas angolanas. É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu apoio dos EUA, na luta contra contra o MPLA, que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial,..
A Batalha de Kuito Kuanavale foi o maior confronto militar da Guerra Civil Angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada entre 15 de Novembro de 1987 e 23 de Março de 1988. Foi aqui , na província de Kuito Kuanavale, e mais concretamente no munícipio de Kuando Kubango, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos soviéticos e pelos cubanos, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo exército sul-africano.
É considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos, da invencibilidade do exército da África do Sul. Independetemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente a superioridade demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados) no campo de batalha. Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional ... A implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
3. Levei para Luanda e acabei de ler, de um fôlego, o romance de Ondjaki, Os transparentes, 3ª ed. (Lisboa: Caminho, 2013, 451 pp). Um marco da literatura lusófona. Este puto (n. 1977, e que fez sociologia, como eu, no ISCTE) vai longe. Será em breve elegível para o Prémio Camões, disso não tenho dúvidas. Ele não precisa de comparações, mas para mim é o Mia Couto angolano. Conheci-o pessoalmente, há uns anos atrás, na Feira do Livro de Lisboa. Uma pessoa adorável, de uma grande sinplicidade e simpatia, Luanda passa a ter, depois de Luuanda, do Luandino Veira, mais um livro de referência. Ganha Angola mas também todo a comunidade lusófona com este grande escritor e com o seu primeiro grande romance. É também um hino à língua portuguesa que nos une a todos.
Vd. aqui um resumo do romance.
PS - Sem surpresas para mim, acabou de arrecadar mais um prestigiado prémio, o Prémio Literário José Saramago 2013. Entre os membros do júri, conta-se a poet(is)a Ana Paula Tavares (n. 1952, Lubango), outro nome grande da literatura angolana.
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Nota do editor:
Último poste da série > 20 de setembro de 2013 > Guiné 63/74 - P12060: Manuscrito(s) (Luís Graça) (11): No melhor pano cai a nódoa... (Luís Graça)