Camarada Carlos Vinhal
Quero agradecer-te a publicação da minha carta(1).
O vosso blog é na verdade bom, em termos redactoriais e apresentação, pois gostei da maneira como fui apresentado e mesmo da fotografia, que ampliaram, pois eu não sei trabalhar bem a fotografia como vocês gostariam.
Os camaradas que têm apresentado do meu Batalhão, especialmente da CCS, não têm sido muitos. Já contactei o ex-soldado da CCS Camolas e li a sua história, foi na verdade o único dos que eu me lembro, mas com ele não privei na Guiné, embora o visse muitas vezes.
A minha vida lá, não foi de muitas aventuras, mas sim de casos, que de qualquer maneira mexe connosco. Recordo aqui, que quando chegámos a Brá eu e mais 5 camaradas fomos destacados para velar um combatente, na Igreja de Brá. Era mais uma formalidade do que outra coisa.
Não me lembro do nome. Estava fardado de camuflado e capacete.
Um dos camaradas descobriu que ele tinha o capacete furado por uma bala, bala essa que lhe ditou o fim.
Deu para pensar um bocado, como a vida, que nós tanto presamos, especialmente os pais, acaba daquela maneira.
Não tínhamos nenhum superior e achámos que o que importava é que chegasse a manhã.
Houve um que descobriu uma garrafa de vinho do Porto. Já não me lembro se ele o provou. O que me lembro, é que cada um escolheu um banco para se deitar e foi assim que fizemos a vigília. Que me desculpe a sua família, mas foi o que fizemos. Tínhamos 21 anos e nenhum de nós tinha qualquer experiência dos procedimentos que deveríamos ter tido.
Convivi com a população das tabancas um pouco. Gostei daquela gente, que com pouco se contentavam.
Aqui vos mando mais uma fotografia, que também não está como gostariam.
José Vargues em Brá
Um abraço
José Vargues
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Nota do editor
(1) Vd poste de 7 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15082: Tabanca Grande (473): José Vargues, ex-1.º Cabo Escriturário da CCS/BART 733 (Bissau e Farim, 1964/66), tertuliano 702
Último poste da série de 18 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14632: Estórias avulsas (82): Viatura todo terreno em Camamudo (Fernando Chapouto)