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quinta-feira, 6 de junho de 2013

Guiné 63/74 - P11678: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (4): Visita ao Cantanhez e ás tabancas de Iemberém e Farim do Cantanhez... O poilão de Amílcar Cabral... Recordações do tempo de guerra: Contabane e Mampatá (eu e Abdu Indjai, avô da Alicinha); e Jumbembem (o Francisco Silva e o Galissá)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O majestoso poilão Amílcar Cabral (1)



 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O majestoso poilão Amílcar Cabral (2)


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Parque Nacional do Cantanhez  > 3 de maio de 2013 > O poilão Amílcar Cabral (3)... Na foto, a Armanda, esposa do Zé Teixeira.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]

2. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau  (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte IV

por José Teixeira 

[, Membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez] (*)


No dia seguinte ], 3 de maio, 6ª feira,] bastante cedo, depois de um pequeno-almoço bem recheado de compotas, fruta e mel das famosas lassas [, abelhas], visitamos a Tabanca de Iemberém no que ela tem de melhor, os seus habitantes. Cumprimentos e sorrisos, desde as crianças que nos disputavam os dedos das mãos, às mulheres grandes,  passando pelos homens e jovens que nos sorriam e acenavam com um bom dia.

Aqui em Iemberém ou em qualquer lugar onde parássemos,  tínhamos sempre um sorridente bom dia, Em português, crioulo ou na sua língua nativa, e logo entabulavam conversa, para saber quem éramos e de onde vínhamos. Ao saber que éramos portugueses, o sorriso abria-se e havia uma pergunta sacramental, sobretudo quando se tratava de um homem:
– Estiveste cá na guerra, onde?

Uns identificavam-se alegremente como antigos soldados portugueses como nós e havia,  logo ali, histórias sem fim para contar, como o motorista que nos acompanhou em todo o nosso deambular pela Guiné. O simpático,  e sempre disponível, motorista fez parte de uma Companhia de caçadores nativos e gostava de reencontrar os amigos com quem conviveu.

Outros identificavam-se como antigos combatentes do PAIGC. Localizavam-se as terras por onde andamos, nós e eles. Rapidamente, descobríamos que nos cruzamos algures no mato uma vez, duas, três…Logo começava um rosário de histórias,  seguidas com pormenores de ataques ou emboscadas.

Por exemplo, vim a descobrir que o avô da Alicinha, a menina que a Alice, esposa do Luís Graça, apadrinhou e cuja jovem mãe [, a Cadi,]  faleceu recentemente, foi um dos que em 22 de Junho de 1968 participou, como comandante, no ataque a Contabane, onde estava estacionada a CCaç 2382, destruindo e queimando a Tabanca, não ficando uma morança para recordação. Felizmente,  sem vítimas a registar. Posteriormente e depois me ter ido visitar em Mampatá Forreá, voltou ao local, talvez para saborear os estragos que provocou e caiu numa minas A/P,  que lhe roubou uma perna acabando por ter de se deslocar à Holanda para colocar uma prótese, terminando assim a sua guerra ativa.

Parece que o objetivo era demonstrar ao Régulo de Contabane, o Sambel, o poderio do PAIGC e sobretudo informar Bissau que aquele caminho para a mata do Boé não podia ser usado pelas forças portuguesas. Hoje sabe-se que o Régulo Sambel,  ao ter conhecimento que algumas tabancas do seu regulado, existentes na Guiné Conacri,  davam apoio ao PAIGC fez uma deslocação a essas tabancas para dissuadir os seus habitantes a não colaborarem com o partido, e o resultado foi a destruição da Tabanca pelo fogo em ataque cerrado debaixo de uma tremenda tempestade.

Um homem sorridente e bem-disposto com aspeto jovem apresenta-se ao grupo, pergunta-nos se somos ex-combatentes. Ao respondermos afirmativamente os seus olhos tomaram um brilho especial, que me impulsionaram para lhe fazer uma pergunta:
–  Bó bi. Abó bandido da mato?
– Eu mesmo, em Jumbembém.

O Francisco Silva,  ao ouvir falar em Jumbembém [, na região de Farim], pergunta-lhe em que ano esteve por lá. E não é que tinham estado do lado oposto da barreira no mesmo período de tempo, ou seja durante o tempo em que o Silva comandou o Pelotão Caçadores de Nativos 51!?

É fácil imaginar o diálogo que se seguiu, depois de selarem o feliz encontro com um apertado abraço. Um a dizer quando e como atacou a tabanca, o outro a dizer como se defendeu e contra atacou. Aninhados no chão alinharam as posições das suas armas. Nas suas mentes bailava de forma nítida a fotografia do terreno calcorreado há quarenta anos. Com o dedo traçaram as coordenadas do terreno no chão de Iemberém, para melhor justificarem as ações que desenvolveram. Para mim, foi um prazer imenso acompanhar este diálogo entre dois antigos inimigos, agora libertos do fantasma da guerra, a conversarem de forma desapaixonada sobre as técnicas e ardis usados para atacar ou defender posições.



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 >  O segundo encontro do Francisco Silva com o PAIGC. O Abraço do Galissa e a discussão dos planos de defesa e ataque a Jumbembém, na altura em que o Francisco era o comandante do Pel Caç Nat 51.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 >  Esta velhinha também me pediu um abraço...


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Aspeto da sala de jantar do restaurante da Satu, em Iemberém.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Um das várias hortinhas que existem junto às moranças

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]

Nesta deslocação por Iemberém apreciamos a forma artesanal como fabricam o óleo de palma em que os homens apenas sobem às palmeiras para recolher o coconote, sendo reservado às mulheres o seu transporte e tratamento para produzir o saboroso e alimentar óleo de palma, desde a cozedura, a trituração no conhecido pilão, a separação e purificação do produto. A propósito de todo este trabalho, a AD tem em S. Domingos uma escola oficina de metalurgia onde fabrica máquinas para simplificar e reduzir o esforço humano, mas ainda não chegaram a Iemberém.







Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Destilação de óleo de palma em que todos ajudam até as criançinhas. O Francisco Silva ainda deu uma ajuda no pilão e até tentou subir à palmeira.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Iemberém >  3 de maio de 2013 > Uma bajudinha com a cesta de coconote que trouxe da bolanha.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Tivemos a oportunidade de conhecer as gentes da etnia tanda, com menos de dois mil indivíduos radicados na Guiné-Bissau, muito bem acolhida pelos membros da etnia fula de Iemberém, onde se fixou um grupo tanda e criou a sua Tabanca.

As bajudas solicitaram à AD [, a ONG do Pepito,] apoio para a criação de uma escola de costura. Organizaram-se em associação e avançaram. A Tabanca Pequena [, de Matosinhos,] deu a mão e colocou em Iemberém três máquinas de costura. O projeto avançou e proliferou até Cabedú e Catesse. Dele falaremos em poste próprio.

Ainda nesta manhã que começou muito cedo, embrenhamo-nos na Mata do Cantanhez para saborear toda a sua beleza. Espetacular monumento à natureza que está a ser criminosamente destruído por indivíduos sem escrúpulos. Abatem as árvores de grande porte para venderam aos chineses e desbastam o que fica para adaptarem o terreno à produção de caju. Por exemplo a salacunda é uma árvore enorme em extinção que só existe em três matas da Guiné. No Cantanhez apenas se conhece uma, a que nós pudemos apreciar.

Mas o grande desafio estava no poilão a que batizaram “poilão Amilcar Cabral”. Deve ser uma das maiores árvores de África, bem escondida no coração da Mata do Cantanhez. É um monumento digno de ser ver e apreciar, pelas dimensões do seu tronco e pelo tamanho e beleza da sua copa. Sobretudo pelo que representa. A Natureza com todo o seu esplendor.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Farim do Cantanhez >  3 de maio de 2013 > O avô da Alicinha, Abdu Indjai, antigo combatente do PAIGC, amputado de um perna na sequência de uma mina A/C, acionada em Mampatá, em finais de 1968, na altura em que lá estava o Zé Teixeira.

Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição: LG]


Galinha com molho de mancarra, preparado com todo o carinho pela Satu, foi o pitéu que nos levou de novo até Iemberém para o podermos saborear. Um merecido descanso e nova partida até Farim do Cantanhez à procura da Alicinha.

Fomos recebidos por ex-combatentes do PAIGC, entre os quais o avô da menina. Foi a minha vez de falar do tempo da guerra e dos desencontros que tive com ele próprio, quando estava em Mampatá. Parece que foi um dos que em Novembro de 1968, juntamente com o Braima Cassamá que conheci em 2008, tentou ocupar a tabanca, pelas duas horas da tarde. Eles sabiam que nessa noite uma sentinela abateu uma vaca junto ao arame farpado. Eles sabiam que iriamos ter almoço melhorado e pacientemente esperaram nas redondezas pela hora do almoço. Quando se aperceberam que o almoço ia ser servido,  avançaram envolvendo a tabanca e penetrando pelo lado da estrada que ligava a Buba.

Tinham as armas com balas incendiárias apontadas às moranças e logo onze delas começaram a arder. Tão depressa entraram (alguns) como logo tiveram de sair.  para não sacrificarem as suas vidas, como testemunhou o Braima, um dos que ainda entrou dentro do arame.

A minha homenagem póstuma ao grande Aliu Baldé, o régulo, que com o morteiro 60, escutava para localizar a origem do fogo e… lá vai uma, duas, até se calarem. Logo mudava de posição sempre seguido por dois milícias com um cunhete de granadas e recomeçava a cena. Eu que,  desorientado com tanto “sakalata” (ou chocolate, como nós os europeus dizíamos, o que significa barulho/festa/ronco), deslocava-me pelo interior da tabanca à procura de supostos feridos, o que felizmente não aconteceu. Nem uma beliscadura.

Zé Teixeira

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Guiné 63/74 - P11574: Guiné-Bissau, manga di sabe (1): Vídeo: dança das crianças da Escola de Verificação Ambiental (EVA) de Djufunco, em chão felupe (José Teixeira)


Vídeo (3' 27''): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados. Alojado em You Tube > José Teixeira...

O nosso querido amigo e camarada Zé Teixeira regressou recentemente da Guiné-Bissau onde fez alguns vídeos que disponibiliza para visualização dos  visitantes do nosso blogue. No dia 12 mandou-me um mail: "Acabo de chegar. como sempre, venho apaixonado. Guiné-Bissau, sabe!!!". Desta vez, foi na companhia de outro nosso tabanqueiro, o Francisco Silva, cirurgião, ortopedista, no Hospital Amadora-Sintra.  E aproveitou para visitar algumas das aldeias que têm beneficiado do trabalho solidário da Tabanca Pequena de Matosinhos e seus parceiros. (LG).


1. Reproduzido com a devida vénia do sítio Tabanca Pequena ONGD > Sementes e água potável > Djufunco

Na tabanca de Djufunco, em pleno chão felupe, junto ao oceano Atlântico e à entrada do rio Cacheu, a Tabanca Pequena ONGD e a Camara Municipal da Maia, de Portugal, decidiram dar um importante apoio às crianças e alunos da Escola de Verificação Ambiental [EVA] de Djufunco, para que passassem a dispor de água de boa qualidade e facilmente acessível.
A partir de agora, esta fonte vai permitir aos alunos beber boa água, fazer um viveiro de plantas frutícolas para plantar nas casas dos pais, criar um pomar de sombra na escola e melhorar a sua higiene e a da escola.

Esta escola foi há 1 ano vítima de um violento tornado, cujos ventos descobriram o telhado, estando agora em fase de reconstrução. A fonte de água serve assim de um forte estímulo a estas populações tão isoladas.
O Complexo de Ténis da Maia,  na pessoa do Prof. Nuno Carvalho e dos alunos Sandra Ribeiro e Pedro Barros, com o apoio da Câmara Municipal da Maia,  organizaram um Torneio de Ténis com objetivo de angariar fundos que foram canalizados para liquidar a construção deste poço e respetivo fontanário. Bem hajam amigos. Contamos convosco para futuras iniciativas.​​​


2. Além de Djufunco, no norte, as tabancas do sul, Amindara (500 habitantes), Medjo (740), Farim do Cantanhez (620) - em pleno antigo  carreiro da morte (ou corredor de Guileje) -  e Cautchinké (população numerosa, incluindo cerca de 100 crianças), são alguns dos aglomerados populacionais que já beneficiaram do projeto "Sementes e água potável" da Tabanca Pequena, com apoio técnico e logístico da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, de que é diretor executivo o nosso amigo Pepito.

Tabanca Pequena também está no Facebook, além de ter um blogue.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Guiné 63/74 - P11098: In Memoriam (138): Cadi Baldé (c. 1984-2013), mãe da pequena Alicinha do Cantanhez (Luís Graça / Alice Carneiro)


Iemberém, 5 de março de 2010... A Cadi, com a Alicinha, que tinha nascido há mês e meio, a 17 de janeiro


Iemberém, 15 de maio de 2011... A cadi e a Alicinha



Farim do Cantanhez, novembro de 2011



São Domingos, 15 de março de 2012... Já doente, a caminho de Ziguinchor, no Senegal


Bissau,  A Cadi, depois de sair do hospital de Cumura... Debilitada, doente... Aqui com a filhota.


Farim do Cantanhez, 7 de dezembro de 2012... A última foto da Cadi (*)

Fotos: © Pepito (2011/2012). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: L.G.]


Morreu a Cadi


Morreu a Cadi, 
a mãe da Alicinha do Cantanhez... 
Morreu na sua tabanca, 
Farim do Cantanhez,
e vai ser enterrada no quintal do seu pai, Abdu Injai.

A notícia chegou-nos através do António Baldé,

pai da Alicinha,
com a voz embargada pela comoção...
Ele tencionava regressar à Guiné,
dentro em breve, 
à sua casa em Caboxanque,
na margem esquerda do  Rio Cumbijã.
E tinha um sonho,
tornar-se o maior apicultor do Cantanhez.
Ele queria reconstruir a sua vida 
com a Cadi, a sua quarta esposa,
e a Alicinha, a seu lado,
mais o seu filho, rapaz, 
que estuda em Portugal.

Esse sonho desfez-se

pela força do macaréu da morte.
A vida vale pouco, 
e muito menos na Guiné,
mesmo para quem é crente e temente a Deus.

A Cadi apareceu nas nossas vidas,
há cerca de 5 anos,
em Iemberém, em março de 2008.
Era filha de um ex-guerrilheiro nalu, Adbu Indjai, 
inválido de guerra,
que perdeu uma perna lá para os lados do Xitole.
Cadi, de seu nome.
Amorosa.
Uma ternura.
Uma jóia de miúda, a Cadi.
Tinha a graça de uma gazela
apascentando na orla da bolanha.
Era nalu.
Vivia em Farim do Cantanhez.
Filha de um velho combatente da liberdade da pátria.


Estava grávida, em março de 2008. 
Soubemos depois que tivera um menino,
a que pôs o nome de Nuno, Nuninho,
por homenagem ao Nuno Rubim e à  Júlia . 

Vida curta, curtíssima,
 a morte o levou aos 4 meses.
Vítima de paludismo
e de falta de cuidados médicos.

... Mais tarde virá a Alicinha.
Em dezembro de 2009, 
o João, por um feliz acaso, encontrou-a, grávida, 
na consulta médica, em Iemberém.
Não sabia que era a mesma miúda 
para quem levava umas roupinhas, 
um telemóvel 
e algum dinheiro, 
lembranças de Portugal...
-Nome do menino ou menina ? 
- Si for menino, será Luís... 
Si for minina, será Alice. 
- Estranho, são os nomes dos meus pais... - 
lá pensou o João, 
para com os botões da sua bata branca...

Mês e meio depois, 
a  17 de Janeiro de 2009
nascia a Alicinha,
robusta e saudável!..
Um hino à vida, 
à esperança!

Bissau é um mau lugar 
para uma jovem mãe e a sua menina, 
uma cidade demasiado palúdica, 
colérica e buliçosa 
para dois seres que merecem 
o direito à vida, ao amor, à felicidade.
Bissau vai matar-te, Cadi!

Depois do nascimento da Alicinha, 
ficou tacitamente assumido
que a Alice de Candoz, 
a Alice Carneiro,
seria a madrinha daquele pequeno ser, 
e que a iria ajudar pela vida fora... 
De tempos a tempos
a madrinha ia recebendo notícias, 
diretamente da mãe, 
ou através do Pepito. 
Por sua vez, ia-lhe mandando pelo correio, 
para a caixa postal da AD,
peças de vestuário, 
calçado 
e brinquedos, 
em caixas até 2 kg, 
de franquia reduzida...

Alice descobre, através do Pepito, 
o pai da Alicinha, o António Baldé, 
a trabalhar, ali para a zona de Cascais, 
como segurança numa empresa de construção civil. 
O Baldé tinha vindo para Portugal 
em 2003 para aprender apicultura.
Mostrou-nos, há tempos, orgulhoso,
o seu diploma de apicultor.
Natural de Contuboel,
serviu quase 6 anos
o exército dos tugas.

Não conhece a filha,
fala com ela,
ao telefone.
A Cadi mostrava-lhe fotos do pai.
E o Baldé, de 67 anos, feliz, 
mesmo desempregado, 
encheu a casa de fotos
da Alicinha e da Cadi.
Seriam o seu amparo na velhice.

A tímida gazela nalu já não salta 
pela orla da bolanha de Caboxanque.
Nem alegra, com a sua graciosidade,
as ruas de Iemberém,
com a Alicinha às costas.
Um manto de silêncio cobre Farim do Cantanhez
e as suas matas em redor.
Morreu a Cadi, 
morreu a Cadi,
sussurra o dari.

Alfragide
Luis Graça  & Alice Carneiro, 15 de fevereiro de 2013
______________

Nota do editor:

(*) Postes relacionados com a Cadi e a Alicinha do Cantanhez

3 de setembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3167: Ser solidário (19): Morreu o Nuninho, da Cadi. De paludismo. De abandono (Luís Graça)



5 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7727: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (3): 9 e 10/12/2009, em busca do dari (chimpanzé), em Farim e Madina do Cantanhez...

19 de fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7816: Notas fotocaligráficas de uma viagem de férias à Guiné-Bissau (João Graça, jovem médico e músico) (4): 10/12/2009, último dia de consultas em Iemberém e viagem de regresso (10 horas!) a Bissau

11 de junho de 2011 > Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa) 


(...) Falando nas visitas ….. a Cadi, mãe da Alicinha,  afilhada da Alice Carneiro, veio visitar-me. É tão bonita e elegante a Cadi! Como aliás muitas das mulheres guineenses. E que bem que se vestem, muitas vezes até quando andam a trabalhar mas sobretudo quando saem da sua tabaca e em dias de festa.

A Cadi já fala razoavelmente português. O seu marido [, António Baldé, fula de Contuboel, com casa em Caboxanque, futuro apicultor,] está em Lisboa e há 2 anos que não vem cá. Ela mora em Farim de Cantanhez, uma tabanca que fica aqui a uns 10 km. É uma pena ela não viver em Iemberém, poderia ajudá-la a preparar-se para ir para Portugal ter com o seu marido. Mas o mais preocupante é que ela anda doente. Diz-me que sente calor na barriga, diz-me que é do estômago, que tem a tensão baixa mas …. não vomita, quis comer pão com queijo. Depois ouvi-a tossir e fiquei a pensar se não será algum problema pulmonar. Ela veio hoje a Iemberém, a pé, para tentar arranjar transporte para ir a Bissau ao médico. (...)


6 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11064: Diário de Iemberém (Anabela Pires, voluntária, projeto do Ecoturismo, Cantanhez, jan-mar 2012) (5): Em Catesse, com o Pepito... Pela primeira vez tive medo!...Medo de não conseguir corresponder ao tanto que a população espera de todos nós!

(...) Voltemos ainda à minha chegada a Iemberém. Como referi, contávamos almoçar aqui mas houve uma mudança de planos. Depois de despejar a minha bagagem na casa que me foi atribuída, seguimos em direcção a Catesse. Passámos em Farim de Cantanhez, tabanca onde vive a Alicinha , que fazia exatamente 2 anos nesse dia. Lá deixei os presentes que a sua madrinha [, a Alice Carneiro, ] tinha enviado e cantei-lhe os parabéns. É linda a pequena Alice, aliás como muitas das mulheres daqui. E vaidosas. É um gosto vê-las arranjadas. (...)

(**) Último poste da série > 10 de fevereiro de 2013 > Guiné 63/74 - P11085: In Memoriam (137): Maria Henriqueta Esteves Afonso (Valença, 1922 - Leça da Palmeira, Matosinhos, 2013), mãe do nosso querido co-editor Carlos Vinhal... Corpo em câmara ardente na Capela do Corpo Santo, funeral amanhã às 15h para o cemitério nº 1 de Leça da Palmeira

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9016: Memória dos lugares (162): Farim do Cantanhez e suas gentes... (João Graça)







Guiné-Bissau > Região de Tombali > Cantanhez > Farim > 9 de Dezembro de 2009 > Gente de Farim do Cantanhez (*)... que hoje já tem água potável, graças ao trabalho conjunto da Tabanca de Matosinhos e da AD - Acção para o Desenvolvimento...


Fotos © João Graça (2009). Todos os direitos reservados



1. Extratos do Do diário de bordo do João Graça, médico e músico, na sua primeira viagem à Guiné-Bissau (5-19 de Dezembro de 2009):


(...) Dia 5 – 9/12/2009, 4ª feira, Iemberém


5.1. 3º  dia de consultas – Visita aos chimpanzés.

5.2. Levantámo-nos às 5h00. Viagem até à terra da Cadi, Farim [do Cantanhez], onde estariam os chimpanzés.

5.3. Afinal não estavam em grupo. Vimos formigas a picarem o nosso corpo.

5.4. Fomos dois jipes: Cadi [, grávida de 7  meses], Antero e eu;  motorista, Alexandre, Joana e Zeca [, guia do Parque].

5.5. Ficámos à espera dos chimpanzés na casa da Cadi: Pai, ex-combatente [do PAIGC, Abdu Indjai], mostrou-me  a sua prótese [, foi amputado de uma perna durante a guerra colonial]; avó, velhinha, 70 anos, que me ofereceu um cesto para a minha mãe e outro para  [a minha namorada].

5.6. Seis/sete miúdos com leishmaniose. Amanhã falar com Vera, Enf[ermeira do Centro de Saúde Materno-Infantil de Iemberém]. (...)


2. Sobre Farim do Cantanhez, escreveu o Zé Teixeira:


(...) Farim de Cantanhez fica no interior da mata do Cantanhez, logo a seguir a Iemberém, bem lá no sul da Guiné-Bissau. Terra que pelo seu isolamento – falta de estradas e clima adverso – tem sido esquecida pelos governantes, apesar de ter sido um dos maiores, senão o maior, centro nevrálgico da guerra colonial, pelo tipo clima agressivo, pela mata fechada e por estar junto à fronteira com a Guiné-Conakry. 


Dizia-me em Abril passado um antigo guerrilheiro do PAICG que percorria toda a mata do Cantanhez, da fronteira até Buba em pleno dia, sem medo da aviação tuga, dado a frondosa vegetação que lhe possibilitava rápido esconderijo. 

Era atravessada pelo “carreiro da morte” ou “estrada da liberdade” conforme os contendores se portugueses ou patriotas, que tanto sangue fez correr. Por ali passavam as armas, munições e bens de sobrevivência da guerrilha. Ali se acoitavam depois das refregas com a tropa portuguesa, para se esconderem e ou retemperarem forças. Ali tinham o seu hospital de campanha e bem perto, do lado de lá da fronteira a maior base logística. (...). (**)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Guiné 63/74 - P9009: Ser solidário (115): Poço em Farim do Cantanhez (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), membro da Direcção da Tabanca Pequena, Grupo de Amigos da Guiné-Bissau (ONGD), com data de 7 de Novembro de 2011:

Caros editores
A Tabanca Pequena – Grupo de amigos da Guiné-Bissau, ONGD deu mais um passo em frente no seu projeto: Sementes e água para a Guiné-Bissau com a abertura do poço de Farim do Cantanhez.

Pedia o favor de colocarem no blogue esta feliz novidade.

Abraço fraterno do
Zé Teixeira


Poço em Farim do Cantanhez

A Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau, ONGD abriu mais um poço de água potável. Desta vez foi a Tabanca de Farim de Cantanhez a beneficiada.

Farim de Cantanhez fica no interior da mata do Cantanhez, logo a seguir a Iemberém, bem lá no sul da Guiné-Bissau. Terra que pelo seu isolamento – falta de estradas e clima adverso – tem sido esquecida pelos governantes, apesar de ter sido um dos maiores, senão o maior, centro nevrálgico da guerra colonial, pelo tipo clima agressivo, pela mata fechada e por estar junto à fronteira com a Guiné-Conakry. Dizia-me em Abril passado um antigo guerrilheiro do PAICG que percorria toda a mata do Cantanhez, da fronteira até Buba em pleno dia, sem medo da aviação tuga, dado a frondosa vegetação que lhe possibilitava rápido esconderijo. Era atravessada pelo “carreiro da morte” ou “estrada da liberdade” conforme os contendores se portugueses ou patriotas, que tanto sangue fez correr. Por ali passavam as armas, munições e bens de sobrevivência da guerrilha. Ali se acoitavam depois das refregas com a tropa portuguesa, para se esconderem e ou retemperarem forças. Ali tinham o seu hospital de campanha e bem perto, do lado de lá da fronteira a maior base logística.

Centro de Farim de Cantanhez
Imagem Google

O número de habitantes no Cantanhez tem vido a crescer. Onde há uma “lala”, logo aparece uma família a construir a sua morança, a sua tabanca.
Farim assim surgiu. Tem na sua génese antigos guerrilheiros ali colocados pelo PAIGC, idos do Norte da região de Farim, que após a independência por lá se deixaram ficar e constituíram família. Hoje aglutina pessoas de diversas etnias e origens que ali se instalaram. São cerca de quinhentos adultos e cento e vinte crianças.

As estruturas de sobrevivência, nestes casos de instalação “selvagem” são sempre as mínimas. É bastante e suficiente uma lala, uma bolanha, madeira para a construção das moranças, o que não falta, e, água, a qual nem sempre anda por perto.
Hoje, graças à acção da nossa Associação, têm ali dentro da Tabanca, um poço com sistema elevatório movido a energia solar, um depósito e uma torneira. Um milagre que os faz cantar e dançar de alegria. Um sonho de longa data, sobretudo das mulheres, que passavam grande parte do seu dia a caminhar pela mata dentro, debaixo de sol abrasador à procura de água, sendo a fonte mais próxima a cerca de três quilómetros de distância.
Só quem lá vive, ou quem por lá passou pode sentir a profundeza de tal milagre - água potável ali à porta.



A Tabanca Pequena – Grupo de Amigos da Guiné-Bissau em parceria com a AD-Acção para o Desenvolvimento, que no terreno dinamizou a construção por administração directa, responderam ao desafio para transformar o sonho em realidade. O poço foi aberto, o depósito colocado num lugar bem alto, a energia solar alimenta a bomba submersível e a torneira simples e funcional ali está a debitar água fresca.
Bem hajam todos quantos colaboraram neste projecto.

Partamos para novas aventuras.

Na tabanca de Djufunco lá no Norte vão começar as obras de abertura de novo poço, logo que o tempo o permita. O Capital necessário foi obtido no Torneio de Ténis organizado pela Escola de Ténis da Maia com o patrocínio da Câmara Municipal, graças à dinâmica dos alunos Sandra Ribeiro e Pedro Barros e do professor Nuno Carvalho.

Outra Tabanca apela ao nosso esforço. É Cauntchinque, também no Cantanhez.
Tem uma população de cerca de 480 pessoas e 100 crianças. Vamos alimentar o sonho dos seus habitantes, sobretudo as mulheres e crianças que vão buscar o precioso líquido a cerca de dois quilómetros. É para este projecto que estamos a centrar todos os nossos esforços. O resultado do jantar de Natal que a Tabanca Pequena vai organizar no próximo dia 3 de Dezembro vai ser canalizado para este novo projecto.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8927: Ser solidário (114): Farim do Cantanhez já tem água potável, com o apoio da Tabanca Pequena de Matosinhos (AD - Acção para o Desenvolvimento)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8927: Ser solidário (114): Farim do Cantanhez já tem água potável, com o apoio da Tabanca Pequena de Matosinhos (AD - Acção para o Desenvolvimento)


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Açção para o Desenvolvimento > Fotos da semana > Título da foto: Chegou boa água a Farim de Cantanhez; Data de Publicação: 10 de Outubro de 2011  Data da foto:  10 de Julho de 2011; Palavras-chave: Saúde.Legenda: Hoje, a tabanca de Farim de Cantanhez [, que surgiu depois da guerra, sendo a maior parte da população constituída por antigos Combatentes da Liberdade da Pátria, ] deixou de sofrer com a falta de água na época seca e com a sua baixa qualidade sanitária, o que preocupava sobremaneira os seus habitantes e os levava a considerar este aspecto como o mais importante para melhorar as suas condições de vida.




Mais uma vez, com o apoio da Tabanca Pequena de Matosinhos, foi construído este poço que, à semelhança dos que esta associação promoveu em Amindara e Medjo, dispõe de um sistema de captação de água através de energia solar e do seu controlo por uma canalização que facilita às mulheres a sua obtenção.

Este poço vai contribuir para uma melhor saúde dos seus habitantes, especialmente as crianças sujeitas a frequentes diarreias, para a produção de legumes e frutas e para evitar que as mulheres e crianças tenham que percorrer longas distância para ir buscar água, na maior parte dos casos, imprópria para consumo.


Foto (e legenda) : © AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados.
 
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Nota do editor:
 
10 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8884: Ser solidário (113): Pequenos gestos que dão esperança de vida à população de Elalab (José Teixeira)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Guiné 63/74 - P8361: Notícias do nossos amigos da AD - Bissau (18): No Dia Mundial da Criança, pensando na Alicinha do Cantanhez e em todas as crianças do mundo (Alice de Lisboa)







1. Mensagem que chegou à Maria Alice Carneiro, com data de 16 de Maio último, através do correio do nosso amigo Pepito, e que achamos não ficar mal publicar em Dia Mundial da Criança [celebrada em Portugal no dia 1 de Junho; para a ONU,  oficialmente é a 20 de Novembro, data em foi proclamada, em 1959,  a Declaração dos Direitos da Criança).

Fotos: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2011). Todos os direitos reservados.




Madrinha Alice;


Aqui estou eu a mandar mais umas fotografias que tenho a certeza vais gostar.

Cresci muito e já ando por tudo quanto é sítio, sempre a roncar as roupas que me enviaste.

A Mãe Cadi  tem estado em Cafine onde abriu um bar e onde vende refeições, para ganhar uns dinheiros e ajudar a família.

beijinhos da Alicinha [,de Farim do Cantanhez]



2. Resposta da madrinha Alice de Lisboa:

Querida afilhada, Alicinha, querida Cadi:

Como é bom saber que a minha flor de Farim do Cantanhez está a crescer, como uma bela e saudável criança. Nela depositamos todas as esperanças (a mãe, Cadi, o pai, António Baldé, os avós, o amigo Pepito, os fulas e os nalus, e todos os demais povos da Guiné-Bissau, mais o seu governo)...


[ Faz votos, Cadi, para que a nossa menina goze de todos os direitos que são universalmente reconhecidos a todas as crianças do mundo, desde 1959, sem distinção ou discriminação por motivo de etnia, cor, sexo, língua, religião, opinião política ou de qualquer natureza, nacionauidade, classe social, riqueza, nascimento ou qualquer outra condição, quer sua ou da sua família. Princípio 1º da Declaração dos Direitos da Criança.]


Rezo, minha querida Alicinha, ao mesmo Deus da tua mãe e do teu pai, para que os homens que governam o teu país e o mundo, tenham inteligência emocional, sabedoria humana e recursos suficientes para te poder garantir, a ti e a todos os meninos da Guiné, o direito ao futuro e à esperança, respeitando a tua dignidade e liberdade como pessoa.


[A criança gozará de protecção social e ser-lhe-ão proporcionadas oportunidade e facilidades, por lei e por outros meios, de modo a assegurar o seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, de forma sadia e normal, em condições de liberdade e dignidade. Princípio 2º.]

Felizmente, tens um pai, fula (embora longe, a viver e a trabalhar em Portugal), e uma mãe, nalu, e um nome e uma pátria. Como é bom saber que tens uma família que te protege e que te ama. E que o teu avô é um bom guineense, e um grande patriota, um combatente que lutou pela liberdade do povo a que pertences e de quem deves ter sempre orgulho.

[Desde o nascimento, toda criança terá direito a um nome e a uma nacionalidade. Princípio 3º.]


Pelas fotos tiradas pelo nosso comum amigo Pepito, e que me deixaram tão feliz (obrigado, Pepito!),  vejo que tens tido os cuidados de saúde mínimos, mas tão necessários,  para poderes escapar à terrível maldição da morbimortalidade infantil que se abate sobre as crianças do teu país e do teu continente.

[A criança gozará os benefícios da segurança social. Terá direito a crescer e criar-se com saúde; para isto, tanto à criança como à mãe, serão proporcionados cuidados e protecção especial, incluindo os  adequados cuidados pré e pós-natais. A criança terá direito a alimentação, recreação e assistência médica adequadas. Princípio 4º.]

Pelo que vejo e pelo que me contam,  és uma criança linda e perfeita. E que em breve poderás ter água potável, na tua aldeia, devendo ali ser construído um poço e montada uma bomba que será movida a energia solar... Graças aos esforços da AD, do Pepito e do meu querido amigo Zé Teixeira e demais amigos portugueses, muitos deles ex-combatentes da guerra colonial. E isso alegra o meu coração, porque a Cadi já não precisará de ir à bolanha buscar água, salobra e impura; e tu serás livre para  ires brincar com os teus amiguinhos; e já não apanharás doenças associadas à ingestão de água inquinada.

[À criança com incapacidade física, mental ou social  serão proporcionados o tratamento, a educação e os cuidados especiais exigidos pela sua condição peculiar. Princípio 5º. ]


Que ternura ver a mãe Cadi seguir-te com o olhar, pegar-te ao colo, velar por ti, vestir-me com as roupinhas que te mando, posar orgulhosa como uma raínha nalu, contigo,  para a fotografia, trabalhar para ti, dar-te tudo do pouco que ela tem... [Seguiu hoje mesmo, mais um encomendinha postal com roupas e brinquedos, para ti; espero que cheguem bem, e em breve; só não te mando  lápis e marcadores para desenhares e pintares, porque ainda não tens três aninhos e não seria seguro deixar-te sozinha com estes materiais].

[Para o desenvolvimento completo e harmonioso da sua personalidade, a criança precisa de amor e compreensão. Criar-se-á, sempre que possível, ao cuidado e sob a responsabilidade dos pais e, em qualquer hipótese, num ambiente de afecto e de segurança moral e material;  salvo circunstâncias excepcionais, a criança da tenra idade não será apartada da mãe. À sociedade e às autoridades públicas caberá a obrigação de propiciar cuidados especiais às crianças sem família e aquelas que carecem de meios adequados de subsistência. É desejável a prestação de ajuda oficial e de outra natureza em prol da manutenção dos filhos de famílias numerosas. Princípio 6º].

Quero saber se vais ter escola, e professor, e cadernos e lápis e livros, na tua tabanca, quando fores maiorzinha... Tenho medo que possas não aprender o português, língua oficial do teu país e janela para o mundo (que é muito maior que a tua aldeia em Farim do Cantanhez)... Como a tua mãe, que não fala português, comunicando comigo, ao telemóvel, apenas por monossílabos, por frases curtas, por um rudimentar crioulo...

[A criança terá direito a receber educação, que será gratuita e obrigatória pelo menos a nível do ensino básico. Ser-lhe-á propiciada uma educação capaz de promover a sua cultura geral e capacitá-la para, em condições de igualdade de oportunidades, desenvolver as suas aptidões, a sua capacidade de decidir e de julgar,  e o seu sentido  de responsabilidade moral e social, bem como tornar-se um membro útil da sociedade. O superior interesse da criança deverá impor-se sempre aos responsáveis pela sua educação e orientação; esta responsabilidade cabe, em primeiro lugar, aos pais. A criança terá ampla oportunidade para brincar e divertir-se; a sociedade e as autoridades públicas empenhar-se-ão em promover o gozo deste direito. Princípio 7º.]

Quero ter a certeza que estarás sempre em segurança neste nosso mundo, na tua África,  no teu país, na tua região de Tombali, no teu Cantanhez, na tua tabanca...


[A criança figurará, em quaisquer circunstâncias, entre os primeiros a receber protecção e socorro. Princípio 8º]


Angustia-me pensar que um dia, quando te começarem a ver como um mulherzinha, possas vir a ser vítima do cruel fanado,  da Mutilação Genital Feminina, de acordo com os usos e costumes dos fulas e de outros povos da Guiné... Espero que o teu pai (um homem grande que já conheceu mundo) e a tua mãe saibam  que o melhor para ti, e para as meninas da Guiné, passa por romper com as práticas cruéis das fanatecas, práticas essas com que os homens, no passado, tinham a veleidade de se apoderar do corpo e da alma das mulheres.

[A criança gozará protecção contra quaisquer formas de negligência, crueldade e exploração Não será jamais objecto de tráfico, sob qualquer forma. Não será permitido à criança empregar-se antes da idade mínima conveniente; de nenhuma forma será levada a ou ser-lhe-á permitido empenhar-se em qualquer ocupação ou emprego que lhe prejudique a saúde ou a educação ou que interfira no seu desenvolvimento físico, mental ou moral. Princípio 9º]

Farei o meu melhor para, eu própria, tua madrinha, te proteger contra os diabos da intolerância e do ódio entre grupos e entre povos, em Portugal, na Guiné-Bissau e no resto do mundo. Gostaria de poder acompanhar o teu crescimento com orgulho e com muito amor, como se fosses minha filha. E gostaria de um dia destes te conhecer, e conhecer os teus avós. A tua mãe, Cadi. já a conheço desde 2008. Com o  teu pai, António Baldé, falo regularmente ao telefone. Falta tu conheceres a tua madrinha portuguesa.  Mil beijinhos, para ti e para a tua mãe. Boa sorte para o negócio da Cadi, mulher de coragem. A Alice de Lisboa.

[A criança gozará de protecção contra actos que possam suscitar discriminação racial, religiosa ou de qualquer outra natureza. Criar-se-á num ambiente de compreensão, de tolerância, de amizade entre os povos, de paz e de fraternidade universal. Princípio 10º].
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Nota do editor:

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Guiné 63/74 - P8126: Ser solidário (105): 10 poços de água potável para o Cantanhez ... No dia Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, dedicado à "Agua, cultura e património"... e 3 dias depois do Zé Teixeira realizar um sonho...


18 de Abril de 2011 > Dia Internacional dos Monumentos e Sítios > Para assinalar o Dia Internacional dos Monumentos e Sítios, celebrado a 18 de Abril, o ICOMOS – Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios – escolheu para 2011 o tema "Água: Cultura e Património". Nesse âmbito, o IGESPAR - Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico,  em parceria com outras entidades culturais e científicas, em particular alguns museus e palácios do IMC- Instituto do Museus e da Conservação, estão a  realizar hoje uma série iniciativas especiais (vd. os respectivos sítios na Net).

Nunca é demais lembrar, neste dia, todos os dias, que água é vida, mas também é cultura, património, passado, presente e futuro. E que a situação da humanidade é crítica em relação a este recurso essencial: mais de 1,1 mil milhões de pessoas não têm acesso a água potável; 2,5 mil mihões não têm acesso a saneamento básico, mais de 3,1 milhões morrem por doenças que podiam ser evitadas e que estão associadas à falta de água e de água com qualidade...

Lembremo-nos, mais uma vez, e em especial neste dia, que os membros da nossa Tabanca Grande também estão empenhados no projecto de abertura de 10 poços de água no sul da Guiné-Bissau... Da nossa Tabanca Grande e demais Tabancas, com destaque para a Tabanca de Matosinhos, que tem o estatuto legal de uma ONGD e lidera, na pessoa do Zé Teixeira, o  Campanha "Sementes e Água Potável para Guiné-Bissau"... 


Além do mais, o nosso querido Zé Teixeira acaba de partir para a Guiné com  os seus dois filhos e mais um grupo de camaradas, ligados  à Tabanca de Matosinhos... Vamos desejar-lhes boa estadia nessa terra "verde e vermelha" a que nos ligam laços fortíssimos, a par de boa sorte nos contactos com  o povo e os demais parceiros, de quem em grande parte o sucesso da actual campanha "Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau"... (LG).


Da esquerda para a direita, o Jorge Cruz (sócio nº 21), Vitorino Silva (sócio nº 47),  os filhos do Zé Teixeira, Joana Teixeira (sócia nº 226) e Tiago Teixeira  (sócio nº 131), José Teixeira (sócio nº 4), Moutinho Santos (sócio nº 5), João Rebola (sócio nº 199), um camarada não identificado, Nascimento Azevedo (sócio n~º 73) e Bento Luís (sócio nº 211).


  Aeroporto de Sá Carneiro, Maia > Sexta-feira, 15 de Abril de 2011 > Partida para a Guiné-Bissau  de um grupo de camaradas e amigos, membros da Tabanca de Matosinhops  >

Aeroporto de Sá Carneiro, Maia > Sexta-feira, 15 de Abril de 2011 > Partida para a Guiné-Bissau de um grupo de camaradas e amigos, membros da Tabanca de Matosinhos >


Da esquerda para a direita, o Jorge Cruz (sócio nº 21), Vitorino Silva (sócio nº 47), os filhos do Zé Teixeira, Joana Teixeira (sócia nº 226) e Tiago Teixeira (sócio nº 131), José Teixeira (sócio nº 4), Moutinho Santos (sócio nº 5), João Rebola (sócio nº 199), um camarada não identificado, Nascimento Azevedo (sócio n~º 73) e Bento Luís (sócio nº 211).


Eis a notícia sucinta dada pelo régulo Álvaro Basto, no seu blogue, o blogue da Tabanca de Matosinhos:



"Partiu hoje rumo a Bissau mais um apreciável grupo de Tabanqueiros que lá se deslocam não só em romagem de saudade mas em trabalho de reconhecimento para a nossa Associação. À excepção de um, todos os outros são nossos associados e têm assumido,  de forma bem consistente. a nossa causa humanitária. 'Comandados'  pelo nosso querido Zé Teixeira, o mais experiente do grupo, e que desta vez se faz orgulhosamente acompanhar pelo filhos Tiago e Joana, vão matar saudades e desenvolver ações de reconhecimento local para os nossos projectos dos poços e das nossas ajudas médico sanitárias que temos previstas para o corrente ano. Vão ter em Bissau a colaboração imprescindível do Xico Allen que por lá se encontra há já algum tempo e da AD,  na pessoa do Pepito,  que os orientarão da melhor forma com vista a tornar a estadia deles o mais agradável possível. Eis a comitiva hoje à tarde à partida no aeroporto Sá Carneiro" (...)

Foto (e legenda): Tabanca de Matosinhos (2011) (Reproduzido com a devida vénia...)



1. Mensagem, com data de 10 de Janeiro último, do nosso querido amigo e camarada José Teixeira, que certamente por lapso não foi publicada na devida altura (viemos agora recuperá-la... e que melhor dia do que o de hoje, 18 de Abril de 2011, Dia Internacional
 dos Monumentos e Sítios, este ano dedicado ao tema "Água, Cultura e Património", e três depois da sua partida para a Guiné-Bissau, realizando um sonho que era o de se fazer acompanhar pelos seus cdois filhos, a Joana, a educadora de infância, e o Tiado, médico!

Caríssimos editores.

Peço o favor de publicarem no nosso blogue a informação que se segue sobre o projecto desenvolvido em Amindara no Cantanhez que está em pleno desenvolvimento.

Abraço fraterno

Zé Teixeira



2. A agricultura em Amindara já é uma realidade


por José Teixeira

Há um ano atrás a Associação Tabanca Pequena - Grupo de Amigos da Guiné-Bissau lançou a Campanha "Sementes e Água Potável para Guiné-Bissau".

Como os prezados leitores sabem, o Projecto, lançado em parceria com a AD-Acção para o Desenvolvimento, uma ONGD da Guiné-Bissau, prevê a abertura de 10 poços de água, em tabancas do interior da Guiné, com vista a colocar a água dentro da tabanca, evitando grandes marchas pela floresta dentro à procura do precioso líquido em fontes que não garantem a potabilidade da água.


Pretende-se melhor assim, significativamente a qualidade da água para evitar as doenças que tantas vidas roubam, sobretudo crianças. Em simultâneo, aproveitando a água por perto, para dinamizar a horticultura de modo a possibilitar a produção de vegetais e legumes  fundamentais para uma alimentação equilibrada e sadia.

Em Maio [de 2010], demos inicio às obras do primeiro poço em Amindara na Mata do Cantanhez. O poço foi aberto. Instalada a energia solar para alimentar a bomba hidráulica. Montado o depósito de 4.000 litros, abriu-se a torneira e saiu água fresquinha e pura.

A AD - Acção para o Desenvolvimento deu seguimento ao projecto, enviando para a localidade as sementes e pessoas habilitadas para fomentar a horticultura. Acabamos de receber do Eng. Garlos Schwartz (Pepito) as primeiras fotografias das hortinhas que a população começou a explorar. [Vd. também notícia no sítio da AD - Acção para o Desenvolvimnento].


Foi um bom começo para a nossa Associação. Sentimos orgulho no trabalho desenvolvido. Agradecemos a todos quantos comparticiparam com as suas economias. Apelamos para a solidariedade dos antigos combatentes . Há ainda muito a fazer.

Outros projectos estão em desenvolvimento:

Medjo

A Tabanca de Medjo já tem água potável através do poço que foi aberto recentemente com capitais angariados pela Tabancas Pequena. Apenas falta colocar a bomba para transportar a água até ao depósito. Ficarão criadas as condições para se iniciar a segunda parte do projecto com a dinamização da horticultura.

Farim do Cantanhez


Actualmente estamos a centrar os nossos esforços na angariação de fundos para abrir um poço na tabanca de Farim do Cantanhez. Uma tabanca muito jovem e dinâmica. Cerca de 25% da sua população são crianças.


Há várias formulas de colaborar na dinamização do projecto "´Sementes e Água Potável para a Guiné-Bissau.

- Através de contributos monetários com transferências para a nossa conta NIB 0036008699100057222.24.- Participando nos eventos que a Associação organiza para angariação de Fundos

- Dando instruções ao preencher a Declaração do IRS para ser transferido para a conta bancária da Associação o residual sobre o Imposto pago pelo contribuinte previsto na Lei, a ser retirado da parte que o Estado se cobra ou seja sem qualquer custo adicional para o declarante. Basta introduzir o número de contribuinte da Associação -NIF 509210082 e o NIB da conta Bancária da Associação.

P´la Tabanca Pequena

Zé Teixeira