Mostrar mensagens com a etiqueta Gama Carvalho. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Gama Carvalho. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10176: O Nosso Livro de Visitas (143): Gama Carvalho, ex-fur mil cav, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma e Piche, 1973/74), aceita o nosso convite para se tornar grã-tabanqueiro...

1. Em resposta ao nosso convite, para ingressar na Tabanca Grande, o Gama Carvalho (ou Carlos Holyday ou Carlos da Gama) registou e respondeu que... sim, embora tendo que formalizar essa entrada só mais tarde, por não ter oportunidade de nos mandar agora as fotos da praxe... Recorde-se que é (i) o autor do blogue Estrada Fora (ou Memória da Micha,  nome de guerra da sua autocaravana, foto à direita) , (ii) vive em Braga e (ii) pertenceu á 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma e Piche, 1973/74).

(i) 17/7/2012:

Gama Carvalho: Estamos na campanha dos 600 grã-tabanqueiros até ao final do ano... Teríamos muito gosto em que entrasses, com a tua Micha... Manda duas linhas a teu respeito... Posto, companhia (2ª...), e o mais que quiseres acrescentar... Não há aí duas fotos tipo passe, uma dos 20 anos e outra dos 60 ou 59 ?,,, Vou publicar a história do teu regresso, em poste de amanhã... O Carlos Marques dos Reis (Fá Mandinga e Mansambo, CART 2339, 1968/69) também é caravanista... Um ab. LG


(ii) 19/7/2012:

Caro Luís Graça:


Antes de mais, quero deixar-lhe o meu vivo obrigado pela pronta e afetuosa recepção que muito me sensibilizou. Felicito-o, igualmente, pelo extraordinário blog «Luis Graça  & Camaradas da Guiné».

Como lhe referi, anteriormente, já há um bom tempo que visito esse espaço de memória onde gosto de me encontrar. Daí que tenha ganho coragem para me dirigir a si, dando conta de alguns pedaços de vida que, de quando em vez, guardo na «Memória da Micha».

Agradeço-lhe, uma vez mais, a oportunidade de recordar os tempos passados na nossa Guiné.

Pertenci, como referiu, à 2ª Companhia de Cavalaria do BCAV 8323, comandada pelo Cap Tapadinhas. Tinha o posto de furriel miliciano.

Vivo em Braga, terra do meu nascimento. Trabalhei no Ministério da Saúde, durante 36 anos, onde exerci alguns cargos de chefia (Chefe de Divisão, Diretor de Serviço e Sub-Diretor Geral). Daí que lhe confesse que alguns dos seus textos da área da sociologia da saúde foram de grande importância na minha vida profissional.

Quanto às fotos: de momento não tenho oportunidade de enviar. Fica para mais tarde.

Um abraço do

Carlos da Gama

2. Comentário de L.G.:


Na realidade, caro camarada, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande!... Guiné e Saúde são já coincidências a mais... Também passei pela saúde (até 1994, a Escola Nacional de Saúde Pública era um organismo central do Ministério da Saúde, tendo nessa data passado para a Educação, como unidade orgânica da Universidade Nova de Lisboa), e continuo a trabalhador no campo da saúde, investigando e ensinando matérias de saúde pública...

Fico contente por saber que os meus textos de apoio, na érea da sociologia das organizações e profiasões de saúde, disponíveis em acesso livre na minha página çpessoal, tiveram utilidade para pessoas como tu que pertenceste à carreira de pessoal dirigente do Ministério da Saúde...

Enfim, temos mais uma razão ou um pretexto para nos sentarmos aqui à sombra do nosso poilão e pôr a conversa em dia... Vou então aguardar que um dia destes nos mandes as duas fotos da praxe para a tua apresentação formal aos restantes camaradas que integram a Tabanca Graende. Até lá, boas viagens com a tua Micha, e demais família. Muita saúde e longa vida, camarada! Luís Graça.


_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10131: O Nosso Livro de Visitas (142): Rodrigo Moura, de Leça do Balio, Matosinhos, ex-sold radiotelegrafista, CART 2440 / BART 2857, Piche, 1968/70... Já voltou a Bissau, desde 2000, cerca de 20 vezes...

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Guiné 63/74 - P10169: Os Nossos Regressos (28): Gama Carvalho, 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 1973/74), autor do blogue Estrada Fora, surpreendido em Figo Maduro pelo ardina que vendia o jornal A Merda, em 11 de setembro de 1974...



Com a devida vénia... Do blogue Estrada Fora,  do nosso camarada Gama Carvalho, que pertenceu 2ª C/ BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche, 19773/74)...

[ Recorde-se, a propósito do  BCAV 8323/73:  (i) foi mobilizado pelo RC 3,  (ii) partiu para o TO da Guiné em 22/9/1973, (iii) egressou a 10/9/1974; (iv) steve sediado em Pirada; (v) teve como comandante o ten cor cav Jorge Eduardo Rodrigues y Tenório Correia Matias;:  (vi) dele faziam parte a 1ª C/BCAV 8323 (Bajocunda), a 2ª C/BCAV 8323 (Piche, Buruntuma, Piche) e a 3ª C/BCAV 8323 (Pirada)].

1. Estrada Fora > Quarta-feira, 29 de Junho de 2011 > O mais belo nascer do sol


O regresso à metrópole estava previsto para as 23.00 horas no aeroporto de Bissau. Mas, a meio da tarde desse dia [, 10 de setembro de 1974], eram já muitos os militares a dirigirem-se para o local de embarque. A ânsia da partida manifestava-se por um imenso desassossego, visível nos constantes olhares para o relógio, nas contínuas espreitadelas às pistas e na postura inquieta dos corpos.

Foram 12 meses passados no mato, sob uma enorme pressão psicológica. Lembro bem, em Buruntuma, só me sentia mais calmo e seguro pela calada da noite, pois eram raros os ataques da guerrilha local nesse período de tempo.

Estávamos em meados do mês de Setembro de 1974. A revolução de Abril tinha constituído, para os militares que lutavam nas três frentes de guerra em África, um farol de esperança a iluminar os caminhos do futuro. Com a queda do regime político português, dissiparam-se as dúvidas sobre o final daquele conflito colonial. Pelo que o pensamento fixou-se, a partir daí, no regresso a casa.

À hora marcada, fomos informados que o avião, vindo, propositadamente, de Lisboa, ainda estava a caminho. Só pelas três horas da madrugada levantamos voo para uma viagem que me proporcionou o mais belo espectáculo que assisti, até hoje, nas alturas do firmamento: um magnifico nascer do sol, com raios multicolores, mistura de vermelho vivo com um amarelo rebelde. Na admiração daquele magnifico quadro, senti que uma nova era se iniciava na minha vida. Para trás, deixava um tempo que pretendia esquecer rapidamente.

Todos sabíamos, pelas notícias que nos chegavam de camaradas regressados de férias, que Portugal estava em vertiginosa mudança social e politica. E foi no preciso momento em que desembarquei, no aeroporto militar de Figo Maduro, em Lisboa, que dei conta dessa enorme mudança que o meu país sofreu no tão curto espaço de um ano. O primeiro sinal dessa mudança foi trazido, no cais de desembarque, por um vendedor de jornais que, junto de mim, apregoava: >
- Compre A Merda. Leve A Merda para casa!.

Um pouco incrédulo, fixei-me, por momentos, no ardina e nos jornais que carregava. Constatei, surpreso, que um dos deles tinha esse título tão pouco ortodoxo e impensável há um ano atrás.

A minha perplexidade era do tamanho da diferença de liberdade política e social com o país que tinha deixado: rural, fechado sob si próprio, amargurado pelo destino dos embarcados para o ultramar, pobre e abandonado pelos mais jovens num fluxo emigratório sem precedentes. Tudo isso estava em mudança vertiginosa.

A liberdade trazida pela «Revolução dos Cravos» estava a dar frutos a nível do desenvolvimento social e político e, um pouco mais tardiamente, a nível da economia e finanças.

O jornal «A Merda» mais não era que um apêndice dos excessos que o exercício da liberdade sempre comporta. Sobretudo, após uma asfixia tenebrosa de 40 anos de ditadura!

Mas, de tudo isto, retenho, na minha melhor memória, o mais belo nascer do sol!


2. Comentário de L.G.:

Ainda me recordo, apenas de o ver nas bancas de jornais, não de o ler, do jornal, de combate político, "A Merda", que era conotado com o movimento anarquista em Portugal.  Perdurou na nossa memória mais do que outros como o "Coice de Mula" ou até como a revista (doutrinária) "Ideia", mais séria e intelectual  (onde pontificou o meu confrade João Freire, como diretor, editor e proprietário, nos anos 70/80) ... De referir ainda, segundo José Nuno Matos, outras publicações congéneres que apareceram no pós 25 de abril: o Pasquim (Cascais), o Satanaz (Almada), a Sabotagem, o Rastilho e a Terra Livre (Amesterdão), a Revolta (Leiria), a Acção (Tomar), a Libertação (Pombal) e, mais tarde, o Apoio Mútuo (Évora), A Sementeira (Lisboa), a Lanterna Negra (Lisboa) e o Anarquista (Leiria)...

De qualquer modo, e na esteira do poste do nosso camarada Gama Carvalho, quem não se lembra do célebre refrão dos ardinas de Lisboa que vendiam "A Merda" ?!
- Olh' A Merda!... Compr' A Merda!... Lei' A Merda!... Gand' A Merda!...

Lembro-me também das pichagens nas paredes, algumas das quais resistiram anos e anos a fio à ação dos homens e das intempéries... mas não à nova horda de grafiteiros. Lembro-me, de cor, de uma ou outra palavra de ordem, anarquista, ou de inspiração anarquista, com conteúdo libertário, iconoclasta, sarcástico, corrosivo, subversivo, irónico, pungente ou simplesmente filosófico, ético ou poético.... (Enfim, recorro aqui também ao auxiliar de memória que é a notável amostra, de mais de 500 murais,  do pós 25 de abril, fotografados e tratados pelo Centro de Documentação 25 de Abril)...


Uma ou outra dessas palavras de ordem ainda se vê por aí, tentando em vão interpelar-nos, provocar-nos... Diga-se, en passant, que o anarquismo nunca teve grande implantação histórica em Portugal (contrariamente à Grécia e à Espanha), se excetuarmos a influência do anarcossindicalismo dos finais do séc. XX até aos anos 20 do séc. XX, nalguns polos industrais (e portanto operários) de um país onde o capitalismo da 1ª geração foi atípico, periférico e serôdio... Não confundam, por favor, essas pichagens de humor ácido, corrosivo, com a "cultura grafiteira" das tribos suburbanas do início do séc. XXI... Sinto-me, apesar de tudo, mais confortável com os primeiros do que com os segundos...

- A Anarquia vencerá!
- À portuguesa só conhecemos o cozido!
- Abaixo a Ditadura, viva a Coca-Cola!
- Abaixo as relações sexuais!
- Abaixo os organismos de cúpula, vivam os orgasmos de cópula!
- Apoiamos a justa luta dos bichos da fruta
- As pulgas não sabem nadar, não lavem os cães!
- Greve ao papel higiénico, compremos os jornais.
- Já não há eleições, o Dom Sebastião volta para a semana!
- Junta a tua à nossa merda! [, paródia da palavra de ordem do PCP: "Junta a tua à nossa voz"]
- Na aula de educação sexual teve falta de material
- Não encostem o cu à parede, não!...
- Nem Deus nem Chefe!
- Nem Deus nem Chefes... e muito menos anarcas!
- Nem Deus nem Pátria nem Família nem Chefe nem Governo, Autogestão!
- Nem mais um faroleiro para as Berlengas!
- O trabalho dá preguiça, a preguiça dá trabalho.
- Os nossos sonhos não cabem no nosso mundo.
- Poder aos glutões.
- Putas ao poder, que os filhos já lá estão!


- Se a merda valesse ouro, os pobres nasciam sem cu!
- Se Deus existe, o problema é dele.
- Se o governo é merda, de quem é a culpa? Da merda ou do governo?
- Sejamos realistas, exijamos o impossível!
- Unicidade pró menino e pra menina.
- Viva a dentadura do proletariado!

... Pode ser que, entretanto, alguém se lembre de mais algum!... Hoje fazem-nos apenas sorrir, com um sorriso amarelo ou amarelecido. Perderam toda a carga humorística e até subversiva que podiam ter tido na época, de descompressão política, social, cultural e mental, que foi o 25 de abril e o pós-25 de abril.

[As duas imagens de cima foram tiradas  o Porto, numa das escolas  do IPP - Instituto Politécnico do Porto, em Paranhos, no dia 6 de junho de 2012. LG].
_____________

Nota do editor:

11 de novembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9027: Os nossos regressos (27): Faz hoje 44 anos que desembarquei na Estação Ferroviária de Barcelos (José Lima da Silva)