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domingo, 23 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8939: Memória dos lugares (159): Lugajole, 2004 - Memorial à declaração unilateral da Independência da Guiné-Bissau, localizado em Orre Fello (Rui Fernandes)

1. Mensagem de 21 de Outubro de 2011 do nosso tertuliano Rui Fernandes, dirigida ao nosso camarada Virgínio Briote:

Caro Virgílio Briote
Na sequência do Post-8928* de Tina Kramer, envio fotos de Lugadjole tiradas em Abril de 2004, com maior detalhe do Monumento em Orre Fello.

Nunca ouvi que Amílcar Cabral tenha lá vivido, mas sim que foi o local da declaração da Independência. Por outro lado naquela estrutura não se nota qualquer identificação de que tenha tido um telhado.

Tapei a face das pessoas porque não pedi autorização às mesmas para publicação das fotos.

Quanto às fotos da vista para Lugadjole era impossível em melhor condições, devido ao declive acentuado do terreno e à vegetação existente

Não sei se terá interesse publicá-las no blogue, pelo que ficará ao critério dos Administradores/Editores.

Com os meus cumprimentos
Rui Fernandes


Localização de Lugajole - Imagem Google

Localização do Monumento em Orre Fello - Imagem Google


Escola Primária Comunitária de Lugajole

Vista posterior do Monumento

Frente do Monumento

Placa não legível

Vista do Monumento para Lugajole

Vista do Monumento para Lugajole

Vista do Monumento para Lugajole
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 19 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8928: A nossa expedição à Guiné (Tina Kramer) (1): Gabu - Lugadjole (de 28 de Março a 7 de Abril de 2011)

Vd. último poste da série de 21 de Outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8933: Memória dos lugares (158): Cufar e o porto do rio Manterunga, extensão do inferno na terra : 2 de Março de 1974 (António Graça de Abreu)

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Guiné 63/74 - P7691: Memória dos lugares (128): Foto da Antiga Administração de Gabú (ex-Nova Lamego) (Virgínio Briote/Rui Fernandes)


1. O nosso camarada Virgínio Briote (ex-Alf Mil Comando, Brá, 1965/67), enviou-nos a seguinte mensagem, que lhe foi endereçada em 26 de Janeiro de 2011, pelo nosso Camarada Rui Fernandes (que integra a nossa Tabanca Grande, desde Janeiro de 2008, mas de quem ainda não temos nenhuma foto).
Gabú
V. Briote

Vi no dia 24 do corrente a imagem da Antiga Administração de "Nova Lamego", agora Gabú, que se encontrava em ruínas, agora reconstruída.
Não sei quem financiou mas tem um bonito aspecto.
Julgo que quem andou por aquelas bandas e via as fotos com a estrutura degradada gostará de ver como se encontra neste momento.
Será a Sede do Governo Regional.
A foto foi retirada de uma reportagem da RTP-África.
Fica ao seu critério colocar ou não no Blogue.

Com os meus cumprimentos,
Rui Fernandes

Foto: © Rui Fernandes (2010). Todos os direitos reservados
____________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

28 de Janeiro de 2011 >

Guiné 63/74 - P7688: Memória dos lugares (127): A despedida de Bedanda, CCAÇ 6 (Dezembro de 1971/Março de 1972) (Mário Bravo, médico)


terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Guiné 63/74 - P5793: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (4): S. Domingos, 21 de Julho de 1961: Benedita, eles já aqui estão!


Guiné > Região do Cacheu > Varela > 1961 > Luta felupe, de Augusto Trigo. Painel que se encontra(va) numa parede de um restaurante/café, completamente em  ruínas. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. Foto de Rui Fernandes, cedida ao nosso amigo Pepito e aqui reproduzida com a devida vénia. (O Rui integra a nossa Tabanca Grande, desde Janeiro de 2008).

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama, a 17 de Outubro de 1938. Órfão de pai em 1945, veio com mais dois dos seus irmãos para Portugal. A  mãe ficou  na Guiné, com o filho mais novo.

Esteve na Casa Pia até aos 19 anos (1957). Aí começou a revelar e a desenvolver o seu talento artístico. O seu primeiro emprego foi como pintor de publicidade. Regressa à Guiné para rever a mãe e os irmãos. Trabalha como desenhador cartográfico. Nos momentos livres, desenha e pinta (a óleo e a aguarela). Em 1964 realiza a sua primeira exposição de pintura. O Governo da província faz-lhe encomendas... O quadro, cuja imagem reproduzimos acima, data de 1961... Ainda viveu na Guiné-Bissau, a seguir à independência, tendo dirigido o Departamento de Artesanato Nacional, mas regressou definitivcamente a Portugal, em Setembro de 1979. É hoje um conhecido ilustrador e consagrado autor de Banda Desenhada (em parceria com o argumentista Jorge Magalhães). Para saber mais,  clicar aqui.


Foto: © Rui Fernandes / AD - Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados


1. Pré-publicação de excertos do próximo livro do nosso amigo e camarada Mário Beja Santos, Mulher Grande. Trata-se da terceira parte do Capº III (*):


Mulher Grande > III > A Guiné em chamas ou o “Tubabo Tiló”
por Mário Beja Santos


[III. 4] Décimo segundo solilóquio


O tempo esfriou, chuvisca, aproveito para ir ao Google ver o que aconteceu em S. Domingos, naquele dia 21 de Julho de 1961. Coisa estranha, parece que a luta armada só começou em Janeiro de 1963, com o ataque a Tite, desencadeado pelo PAIGC. No entanto, aos farrapos, fala-se da formação de rebeldes no Senegal, de um Movimento para a Libertação da Guiné, nalguns documentos fala-se mesmo da FLING. Imprimo tudo, algumas respostas podem ser encontradas nas entrelinhas.

Afinal, a FLING fora alimentada pelas autoridades de Dakar, tinha um projecto exclusivamente guineense, não queria o envolvimento dos cabo-verdianos. Noutro documento encontro referências à fuga de quadros, vejo mesmo o nome de Rafael Barbosa ligado à FLING, surpreende-me, pois o seu nome também aparece associado ao PAIGC.

No último almoço em casa da Benedita vi a emoção com que ela falou na degradação das relações com as novas autoridades senegalesas do Casamansa. Falámos na missão da Christine Garnier, ela ter-se-á encontrado com Senghor que mandou uma mensagem para Salazar apelando-lhe a um quadro de pequenas concessões imediatas e sugerindo-lhe um plano de transmissão de poderes com a duração de 20 anos. O que quer que tenha acontecido, Salazar, que recebeu Benjamim Pinto Bull em S. Bento, recusou qualquer modalidade de negociação. Segundo a Benedita, 15 a 20 dias antes do ataque atribuído à FLING apareceu o administrador do Casamansa em S. Domingos. Encontrou-se em privado com o Albano, ele partiu para Bissau com uma mensagem e entregou-a ao Governador. Soube-se mais tarde que foi uma derradeira tentativa para a negociação.

Dou comigo a pensar como certos protagonistas secundários têm às vezes entre mãos responsabilidades que podem levar à mudança da História. A acreditar-se no relato da Benedita, o Albano tinha consciência que se estava a dançar à beira do abismo. Seria muito interessante saber-se como Bissau transmitia para Lisboa a versão das hostilidades iminentes.

Estou a entusiasmar-me por um pedaço da história da Guiné que eu ignorava completamente. Mas o que mais me surpreendeu foram as respostas que me deram quando telefonei, por sugestão da Benedita, para um administrador e dois chefes de posto do tempo, bem como dois coronéis na reserva, alferes na Guiné em 1961. Foram muito cordatos ao telefone, ninguém se lembrava do nome dos rebeldes, aonde se situava o seu acampamento, embora se tenha falado que estava dentro do Casamansa ou em Kolda, nunca tinham ouvido falar na FLING ou no Movimento para a Libertação da Guiné.

Porque será que estes homens não querem falar? Pondo imediatamente de parte a hipótese de uma conspiração de silêncio, somos levados a pensar que ninguém acreditava que dois países independentes à volta da Guiné portuguesa iam ficar quietos, sem explorar o descontentamento existente nas várias linhas de independentistas guineenses. E não menos curioso é como esta sucessão de episódios não consta na história da Guiné-Bissau.

Mais recordações da Benedita (décimo segundo trabalho de casa)

Haverá o direito de eu estar a arrogar-me a um papel importante nos acontecimentos do ataque a S. Domingos? Tenho a consciência que a memória não me atraiçoa. Aí uns dez dias antes do ataque o Albano soube que ia haver um desfile contra Portugal, em Ziguinchor. Aquelas informações eram vitais, ele não podia ir nem ninguém da administração.

Vendo-o tão preocupado, sem saber o que fazer, tomei uma decisão sem hesitar: “Albano, eu vou, não se preocupe, toda a gente me trata bem em Ziguinchor, diga-me exactamente o que pretende saber”. Ele ainda tentou dissuadir-me, mas acabou por me dar razão. Ao amanhecer do dia previsto do desfile, parti com o chefe da central eléctrica de S. Domingos, pretextei uma indisponibilidade do Albano, referi que tinha umas compras urgentes, ao princípio da tarde estaríamos de regresso.

Em Ziguinchor, notava-se à vista desarmada um clima de grande tensão, as pessoas procuravam não falar comigo, ou respondiam-me com monossílabos. Estive na farmácia, no escritório de Hugues Lemaire, depois comprei tecidos a um mercador ambulante. Na farmácia, o farmacêutico que era claramente contra a presença portuguesa, perguntou-me por Monsieur le Commandant, senti-me bem tratada.

O desfile anti-português estava praticamente no fim, via papéis a convocar para a manifestação espalhados pelo chão, resolvi não apanhar nenhum. Na loja de um djila, senti que ele me estava a fazer perguntas acintosas, do tipo “o que é que eu pensava se ele abrisse um magasin em S. Domingos”, respondi que ficaria encantada. Hugues Lemaire recebeu-me imediatamente e advertiu-me: “O Albano que se organize e se defenda. O melhor seria vocês abandonarem já S. Domingos, eles vão atacar em breve”.

A mulher dele deu-me uma pistola e Hugues Lemaire precisou as últimas instruções: “Não posso escrever nada, a partir de agora, se souberem que estou a passar informações estamos perdidos. Estão a ser preparados 200 homens nas granjas de Tibelor, perto dos serviços de agricultura de Ziguinchor”. Ainda fui comprar umas conservas, livros e revistas.

Foi no carro que o Augusto, o chefe da central eléctrica, me mostrou os panfletos que tinham sido distribuídos na manifestação do tipo um capitalista gordo com charuto na boca às costas de um nativo, um cipaio com uma palmatória na mão a maltratar um indígena com as correntes nos pés e de mão estendida. Um dos panfletos falava na luta para expulsar os portugueses, admitindo se necessário recorrer à destruição de vidas. O Augusto disse-me: “Senhora, as coisas estão muito feias, eles têm espingardas e granadas”. Seguimos imediatamente para S. Domingos, o Albano não escondeu o seu alívio quando ali cheguei. Ouviu-me, escreveu uma longa mensagem, o secretário seguiu imediatamente para Bissau.


Antes do ataque a S. Domingos, em 21 de Julho de 1961


Pela primeira vez na minha vida, eu sentia-me no centro de uma agitação política que não entendia, onde não participava directamente, olhava, ouvia os comentários do Albano, lançaram-me avisos em Ziguinchor, mas como não via guerra nem era evidente qualquer hostilidade, continuei a viver sem alterar nada.

Enviaram de Bissau um novo secretário e um novo aspirante para S. Domingos, logo percebi que era para dar mais tempo ao Albano, libertá-lo das tarefas administrativas, os acontecimentos do Senegal e o espectro da guerra ocupavam-no cada vez mais. Nós estávamos preocupados com o que tinha acontecido em Angola, começava-se a pensar que íamos ser brutalmente atacados, até mesmo chacinados.

A mexer nos meus papéis, nas coisas que juntei nos últimos dias, tenho aqui registada a chegada de um homem que só nos deu dores de cabeça, Aventino Guerreiro, um aventureiro que chegou a S. Domingos com uma proposta de instalar um negócio de óleo de palma, queria que o Albano lhe concedesse mão-de-obra gratuita. Claro que o Albano recusou e pô-lo fora do gabinete.

Este Aventino Guerreiro só no ano de 1961 apresentou 15 queixas contra o Albano. Ele devia ter muitos apoios em Bissau, deve tê-los sugestionado com um conto do vigário, qualquer coisa como montar um sistema de informações ao longo de toda a fronteira, o pretexto seria a compra de mancarra, seria aí, durante as transacções, que se obteriam informações.

Um dia, vínhamos nós de Bissau, o Albano contou-me tudo no carro, como publicamente se manifestara contra este embuste, se Bissau queria boas informações, se queria confirmar e ampliar as informações que a PIDE oferecia, deviam estar atentos ao que ele escrevia, sobretudo às informações que ele recolhia em Ziguinchor.

O Albano tudo fazia para manter excelentes relações com os colegas do Casamansa. Ele sabia, desde 1960, que as relações iam ficar tensas, esforçou-se por fazer convites oficiais às novas autoridades senegalesas, recebemo-los em nossa casa, notámos da parte deles que não queriam muita intimidade, sentia-se no ar que em breve se iria chegar à ruptura. O Albano estava a sofrer muito, tinha recebido um telegrama a anunciar que a mãe estava a morrer, decidiu não vir a Portugal com tudo o que se estava a passar ali à volta.

Pode parecer contraditório, mas eu estava a receber novas alegrias. Fui admitida como professora no ano lectivo de 1960-1961, ninguém mais concorreu para S. Domingos. Comecei a juntar dinheiro, pois o ordenado de professora ia inteirinho para Lisboa, aproveitando o direito à transferência. Adorei ensinar, ver aquelas crianças que por vezes faziam quilómetros a pé a mostrar entusiasmo com a tabuada, começavam a soletrar e meses depois assistia àquele milagre das palavras serem ditas, mesmo aos solavancos.

É de repente que começo a sentir o desânimo do Albano por causa da indiferença de Bissau face aos seus avisos. Aquela indiferença deitava-o por terra. Já na festa da independência do Senegal ficara ao lado de um oficial reformado do exército francês que se mostrou muito glacial comigo. Perguntei ao meu amigo Hugues Lemaire o que levava aquele senhor a ser tão pouco gentil comigo e ele disse-me sem papas na língua: “Benedicte, tu não acreditas no que te andamos a dizer, tu jantaste ao lado do oficial que anda a treinar os rebeldes guineenses aqui no Senegal”. Fiquei sem saliva, olhei-o sem poder articular uma palavra. Hugues Lemaire também já avisara o Albano que Senghor queria marcar posição antes de Sekou Touré, iria apoiar insurreições no Norte da Guiné com rebeldes da nossa província. Senghor era a favor de uma Guiné para os guineenses, não apreciava os cabo-verdianos. Senghor dizia abertamente que o futuro desta nova Guiné independente iria ficar sob a sua custódia.

Vão seguir-se dias de tensão, nunca mais na minha vida tive uma espera tão dolorosa, inquietante, como aquela. Sentimos que muita gente estava a partir, até mesmo gente da população local deixou de vir a S. Domingos. Os comerciantes de Bissau, do Cacheu, de Bissorã ou Bula, nunca mais apareceram. O silêncio nocturno era horrível, nunca mais se ouviu um batuque, acabaram as fogueiras, as cerimónias e festas dos Felupes ou dos Manjacos. Eu procurava resistir dando aulas mas sentia também a falta de muitos alunos.
Estávamos todos à espera, num enervamento horrível. Chegara entretanto um contingente de tropa que ficou a viver dentro da povoação, e não muito longe de nós. Começava o nosso relacionamento com a tropa, que não foi nada feliz. Na noite de 21 de Julho, estávamos deitados quando se ouviram tiros, um deles partiu um vidro do nosso quarto. Como uma mola, saltámos da cama e rastejámos para a porta, punha-se assim termo a todos aqueles meses de expectativa.

Há quem diga que quando morremos a nossa vida passa no nosso cérebro como um filme acelerado, já me disseram que vemos e pensamos aquilo que mais no impressionou na existência. Pois eu sei que vou ouvir nesse momentos a voz do Albano gritar-me ao ouvido, plena de exaltação: “Benedita, eles já aqui estão!”.

(Continua)

[ Revisão  / fixação de texto / título: L.G.]
_____________

Nota de L.G.:

(*) Vd. último poste desta série > 4 de Fevereiro de 2010 > Guiné 63/74 - P5758: Pré-publicação de Mulher Grande, de Mário Beja Santos (3): Dois anos maravilhosos: S. Domingos, Varela, Ziguinchor, antes da guerra...

sábado, 1 de março de 2008

Guiné 63/74 - P2600: Os Mortos de Guidaje nas Notícias Lusófonas (Rui Fernandes)

Mensagem do Rui Fernandes:

Caro Virgínio Briote

Em anexo segue uma notícia do Notícias Lusófonas publicada em 29-2-2008.
Com os meus cumprimentos,


Rui Fernandes

__________


Transcrição da notícia. Sublinhados da responsabilidade de vb.
Corpos de soldados portugueses mortos em Guidaje vão ser exumados

A Liga dos Combatentes de Portugal vai, após sucessivos adiamentos, proceder à exumação dos corpos de dez militares portugueses sepultados em 1973 em Guidaje, norte da Guiné-Bissau, disse hoje à Agência Lusa o vice-presidente daquela associação.

Segundo o general Lopes Camilo, a operação, prevista para o primeiro trimestre do ano passado, decorrerá de 07 a 21 de Março próximo e envolverá uma dezena de elementos, entre militares, antropólogos, arqueólogos e geofísicos.

Uma primeira missão militar, composta por três oficiais e um sargento, parte a 07 de Março para o terreno, seguida, uma semana mais tarde, pela delegação técnica, que integra quatro antropólogos, uma arqueóloga e um operador de radar (geofísico), indicou Lopes Camilo.





Mapa (ver legenda abaixo) do cemítério militar de Guidaje, fornecido pelo Estado Maior da Força Aérea. A imagem foi-nos gentilmente cedida pelo nosso camarada Manuel Rebocho.


Foto: © Manuel Rebocho (2006)

Os corpos, incluindo os de três pára-quedistas, estão sepultados num "cemitério militar provisório" próximo de um antigo aquartelamento português em Guidaje, no norte da Guiné-Bissau e já próximo da fronteira com o Senegal.

O vice-presidente da Liga adiantou que os restos mortais dos dez militares portugueses, mortos em combate durante a guerra colonial na Guiné-Bissau (1963/74), serão transportados para um local "mais digno" em Bissau, no quadro dos projectos que a associação criou no país.

Os corpos dos sete militares (*), entre elementos do Exército e "comandos africanos", serão transferidos para um cemitério em Bissau e os dos três pára-quedistas serão, posteriormente, trasladados para Portugal, numa missão desenhada por familiares e financiada pela União dos Pára-Quedistas Portugueses (UPP).

O plano tem já luz verde dos ministérios da Defesa dos dois países, sendo, porém, um projecto pensado inicialmente pela família de um dos soldados, que deveria ter partido para o terreno a 16 de Fevereiro de 2007.


O projecto remonta a Setembro de 2005, quando um antigo Sargento-Mor dos Pára-quedistas portugueses, Manuel Rebocho (ver nota, em adenda), que combateu também na então província da Guiné, apresentou a tese de doutoramento intitulada "Sociologia da Paz e dos Conflitos", na Universidade de Évora.





Foi, então, montada uma missão civil para resgatar os três corpos, delegação liderada pelo próprio Manuel Rebocho e que envolvia mais oito pessoas, algumas delas familiares, entre elas a irmã do soldado António Neves Vitoriano, natural de Castro Verde, falecido no teatro de operações em Maio de 1973.

Em declarações hoje à Lusa, Conceição Vitoriano Maia, irmã de Vitoriano, arqueóloga, residente em Évora e que integra a missão civil que se desloca à Guiné-Bissau, disse estar satisfeita por a operação, em preparação há quase dois anos, ir agora por diante.

Além de Vitoriano, que faleceu aos 21 anos, dois outros soldados da Companhia de Caçadores Pára-Quedistas 121 (CCP-121) acabaram por ser enterrados em Guidaje: Manuel da Silva Peixoto, 22 anos e natural de Vila do Conde, e José Jesus Lourenço, 19 anos, de Cantanhede.

Dado que a área envolvente às sepulturas dos três pára-quedistas contém os restos mortais de pelo menos sete militares do exército português, a Liga dos Combatentes acabou por os incluir (*) no projecto.

Fora do território português existem registos de 6.000 militares naquelas circunstâncias, 4.000 deles nos três principais teatros de guerra em África, Angola, Guiné e Moçambique.

No caso da Guiné, há a localização teórica de locais onde estarão enterrados cerca de 750 militares portugueses, no eixo Bissau/Bambadinca/Bafatá/Gabu, que se juntam aos pouco menos de 1.500 detectados quer em Angola quer em Moçambique, sublinhou.

Nesse sentido, os projectos de cooperação da Liga, disse Lopes Camilo à Lusa, incidem muito especialmente em quatro acções: localizar, identificar, concentrar e dignificar.
Na prática, acrescentou, o objectivo é localizar os corpos entre os mais de uma centena de locais onde se crê que estejam sepultados, identificá-los - nem todos estão identificados -, concentrá-los em quatro ou cinco lugares e dignificá-los com uma campa.

__________

Nota de vb:

1. Agradecemos ao Rui Fernandes o envio da mensagem com esta importante comunicação.

2. (*) Através desta comunicação das Notícias Lusófonas (que transcrevemos com a devida vénia) ficamos a ter conhecimento que os corpos dos Camaradas do Exército vão ser trasladados por arrasto.

3. ver artigos de :

28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)

25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto

9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida

21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)

19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista

29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)

27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)

9 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2038: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (I parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

31 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2014: O Idálio Reis, a CCAÇ 2317, Gandembel e os pára-quedistas do BCP 12 (Victor Tavares)

15 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2051: Os pára-quedistas no mítico Cantanhez: Operação Tigre Poderoso (II parte) (Victor Tavares, CCP 121 / BCP 12)

__________

Legenda do mapa (Manuel Rebocho):

Campa 1 > Manuel Maria Rodrigues Geraldes, Sold. n.º 06471572, da 2.ª CC/BC 4512/72. Filho de António Emílio Geraldes e de Ascensão dos Santos Rodrigues. Natural da freguesia de Vale de Algoso, Concelho de Vimioso.
Campa 2 > Bacote Tanga, Soldado nativo, da 3.ª Companhia de Comandos Africanos.
Campa 3 > António das Neves Vitoriano, Soldado Pára-Quedista n.º 528/72, da CCP 121.
Campa 4 > José de Jesus Lourenço, Soldado Pára-Quedista n.º 544/72, da CCP 121.
Campa 5 > Manuel da Silva Peixoto, Soldado Pára-Quedista n.º 1176/70, da CCP 121.
Campa 6 > Talibú Baió, Soldado nativo, da C C n.º 19.
Campa 1-A > José Carlos Moreira Machado, Furriel Miliciano n.º 02893771, da CC 3518. Filho de Manuel Machado e de Delta de Jesus Moreira. Natural do lugar de Sá, freguesia de Ervões, Concelho de Valpaços.
Campa 2-A: João Nunes Ferreira, Soldado n.º 09477371, da CC 3518. Filho de Luís Ferreira e de Maria Martinha. Natural da freguesia de Câmara de Lobos, Concelho de Câmara de Lobos – Madeira.
Campa 3-A > Gabriel Ferreira Telo, 1.º Cabo n.º 03117871, da CC 3518. Filho de João de Jesus Telo e de Maria Filomena Ferreira Telo. Natural da freguesia de Paul do Mar, Concelho de Calheta – Madeira.
Campa 4-A > António Santos Jerónimo Fernandes, Fur. Miliciano n.º 09486271, da CC nº. 19. Filho de Domingos António Jerónimo Fernandes e de Maria da Glória Fernandes Jerónimo. Natural da freguesia de Garção, concelho de Vimioso.
__________
Mensagem do Manuel Rebocho, a propósito desta comunicação das Notícias Lusófonas:
(...) Não tenho mais nada a acrescentar. Apenas dizer que fico muito satisfeito por se ir efectuar o que devia ter sido efectuado logo em 1973, e que foi mantido em segredo durante 30 anos.
(...) mas sinto um enorme prazer e uma imensa satisfação ao verificar que, passados mais de 34 anos o Sargento-Mor Rebocho ainda "obriga" os Oficiais a fazer o que não querem.
(...) Se eu lá estivesse, naquele momento, os Pára-Quedistas não teriam lá sido enterrados, isto para não dizer que não teriam lá morrido, mas isso já é outra história.
Um grande abraço.
Manuel Rebocho

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Guiné 63/74 - P2553: Guiné-Bissau e Portugal juntos na Memória (Virgínio Briote)

Mensagem de Rui Fernandes (1)

Caro Virgínio Briote

Seguem em anexo os artigos publicados no dia 16 de Fevereiro na Página UM.


http://pagina-um.blogspot.com/

Um abraço,
Rui Fernandes


1. Liga de Combatentes identificará cadáveres de Portugueses



A Liga dos Combatentes portuguesa vai começar a identificar e concentrar os restos mortais de soldados portugueses mortos durante a guerra colonial na Guiné-Bissau, disse hoje o vice-presidente da associação, General Carlos Camilo.

Os trabalhos, que deverão começar em Março, serão realizados no âmbito do programa da Liga dos Combatentes denominado Conservação de Memórias, que pretende dignificar os ex-combatentes.

No quadro deste programa da Conservação das Memórias uma das tarefas é a de localizar corpos de ex-combatentes e dignificá-los em quatro locais da Guiné-Bissau, afirmou o general Carlos Camilo.
Na Guiné-Bissau temos referenciados - quer combatentes nascidos em território guineense, quer em Portugal - cerca de 750 espalhados por vários locais do país, disse o general português.
O objectivo da Liga do Combatentes é localizar os corpos e concentrá-los em quatro locais distintos do país: Bissau, Bambadinca, Bafatá e Gabú.
Vamos iniciar brevemente a tarefa de identificação e concentração de corpos numa área onde estão referenciados 31 antigos combatentes, avançou o general Carlos Camilo.
O general Carlos Camilo (ver adenda) explicou também que como a identificação de restos mortais implica uma técnica que a Liga dos Combatentes não domina foram estabelecidos acordos com o Instituto de Medicina Legal e a Universidade de Coimbra. São técnicos forenses que têm todas as condições para identificar, através do ADN, nomeadamente, restos mortais, disse.

Questionado sobre a eventual trasladação dos corpos identificados, o general explicou que a responsabilidade da Liga dos Combatentes é dignificar os ex-combatentes e não proceder à sua trasladação. Se depois de claramente identificados os restos mortais, os familiares estiverem interessados na trasladação essa será feita com base nas leis vigentes em Portugal e na Guiné-Bissau, explicou o General.

A Liga dos Combatentes já referenciou cerca de 4.000 antigos combatentes das forças armadas portuguesas espalhados pela Europa e África, faltando apenas o levantamento no continente asiático.
No âmbito do programa Conservação de Memórias, a Liga dos Combatentes procedeu hoje na Guiné-Bissau ao lançamento de duas pedras simbólicas para a construção de um monumento ao soldado desconhecido português e guineense e da Casa da Amizade entre os dois países.

LUSA
Posted by Fábrica dos Blogs

2. Guiné-Bissau constrói Monumento de Homenagem aos Combatentes
O Presidente do Instituto de Defesa Nacional da Guiné-Bissau, Baciro Djá, destacou hoje a grandeza do povo guineense no lançamento da construção de um monumento ao soldado desconhecido e da Casa da Amizade pela Liga dos Combatentes de Portugal.

Com este acto estamos a assistir a um marco histórico entre o povo de Portugal e da Guiné-Bissau, afirmou Baciro Djá.

Mais uma vez o povo da Guiné-Bissau mostra a grandeza de um povo que sabe perdoar, que quer desprender-se dos preconceitos da colonização e manter as fortes relações com Portugal, sublinhou.
Na cerimónia, que decorreu no Ministério da Defesa Guineense, estiveram presentes o Ministro da Defesa da Guiné-Bissau e o embaixador de Portugal na Guiné-Bissau, José Manuel Paes Moreira, bem como outras personalidades ligadas às forças armadas guineense.
Queremos aqui reafirmar a nossa amizade com Portugal, acrescentou Baciro Djá.
O vice-presidente da Liga dos Combatente de Portugal, General Carlos Camilo, destacou por seu lado, que o monumento ao soldado desconhecido pretende homenagear os combatentes do passado, do presente e do futuro.
Este memorial está relacionado com a nossa história passada, recente e futura, sublinhou.
A construção do monumento ao soldado desconhecido e da Casa da Amizade, que disponibilizará aos ex-combatentes e militares várias valências, nomeadamente do sector da saúde, são financiadas pela Liga dos Combatentes portuguesa no âmbito do programa Conservação de Memórias.
O programa prevê igualmente iniciar no próximo mês a identificação e concentração dos restos mortais de antigos combatentes das forças armadas portuguesas que morreram durante a guerra colonial.
A cerimónia acabou entre vivas a Portugal, à Guiné-Bissau e aos combatentes de ambas as facções da guerra colonial.
MSE/Lusa
Posted by Fábrica dos Blogs
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Adendas:

1. do Rui Fernandes: Repórter África do dia 15/02, RTP. Pode ser visto em
http://ww1.rtp.pt/multimedia/?tvprog=10184&idpod=11835

a partir dos minutos- 23.55 sobre Liga de Combatentes

2. do Abreu dos Santos
ver http://www.angolapress-angop.ao/noticia.asp?ID=595973, onde se fala de «viagens turísticas à Guiné-Bissau»
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Fixação do texto : vb

(1) vd também artigos de:

27 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2486: Memória dos lugares (5): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)

24 de Janeiro de 2008 > Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)

25 de Outubro de 2007 >Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)

14 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

domingo, 27 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2486: Memória dos lugares (5): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)


Os nossos lugares vistos com outros olhos

Os olhos não são os nossos, são os do Rui Fernandes, o nosso novo companheiro da Tabanca Grande.

O Rui não anda com a G3 nem com granadas na mão, anda com outras armas, indispensáveis para a melhoria das condições de vida dos nossos Amigos Guineenses.

Para reavivar a memória de tantos de nós, que por Bambadinca passaram, juntamos mais algumas fotos que o Rui Fernandes teve a amabilidade de nos enviar juntamente com a mensagem:

Caro V. Briote

Consegui hoje ver o post que colocou. Perfeitamente correcto.

Sei que muitos de Vós vão este ano ao Simpósio e "in loco" rever locais por onde "palmilharam".
No entanto muitos mais não têm essa oportunidade, pelo que penso será um contributo para estes.

(...)

Há pouco escrevi-lhe quase a correr e lamentavelmente não agradeci a inclusão na Tabanca Grande o que me deu uma grande satisfação.

Com os meus cumprimentos,

Rui Fernandes
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Memória dos lugares (5) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné.

Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (II)




Foto 10. Referência nº 28 (?) encontra-se em ruína e a referência nº 27 (?) não existe. 2006.








Fotos 11, 12 e 13. Referência nº 17 (oficinas de rádio). 2006.
É já há alguns anos o Centro de Saúde.

Em 2003, quando lá cheguei, já era Centro Saúde. Sofreu obras de restauro em 2004 (concluídas em Abril) no projecto da ONG -Associação Saúde em Português (Coimbra), (...), co-financiado pela União Europeia e pela Cooperação Portuguesa.
A casa que se vê à direita foi construída em 2004 e são as instalações da GuinéTelecom (em realce na 13ª foto).
Nota-se em cima e a meio da foto, parte da estrutura do mastro de suporte das antenas.


Foto 14. Referência nº 15 (estrutura à direita), em relação à foto aérea falta uma estrutura entre esta e a da esquerda que não tem referência na foto aérea. A referência nº 16 não existe. 2006.


Foto 15. Sem referência na foto aérea mas são as duas estruturas que se vêem no canto inferior direito. Faltam as duas árvores. 2006.
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Notas de vb: Vd posts de :
Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)
Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama
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Fotos: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Guiné 63/74 - P2475: Memória dos lugares (4): Bambadinca, 2006 (Rui Fernandes / Virgínio Briote)

Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > 2007 > Antigo restaurante e café, hoje em ruínas. O painel Luta Felupe é da autoria do artista guineense Augusto Trigo, que vive em Portugal. O painel foi restaurado, digitalmente, pelo Rui Fernandes. A foto é do próprio Rui Fernandes, que a cedeu à AD.

Foto: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

Memória dos lugares (4) > Rui Fernandes, um Amigo da Guiné

1. Quando publicámos um poste sobre o Pintor Guineense Augusto Trigo, o Rui Fernandes escreveu-nos dando conta da satisfação ao ler o artigo sobre o autor de várias pinturas e painéis da Guiné, algumas das quais se encontram no seu país natal.

Na altura cometemos um lapso. Incluímos as fotos de algumas dessas obras sem fazermos menção ao autor. Tinha sido o Rui Fernandes, o autor das mesmas, que as cedeu à AD-Bissau, de onde as retirámos (1).

O Rui Fernandes não foi combatente. Esteve na Guiné, em missão profissional, entre 2003 e 2006, e nas horas vagas conseguiu recuperar digitalmente um mural do Augusto Trigo, que se encontra em Varela, num edifício abandonado e em adiantado estado de degradação.

Na mensagem que então nos enviou, o Rui, sabendo que entre os nossos leitores existem profissionais de muitos ramos, incentivava a nossa tertúlia a, numa próxima ida à Guiné, verificar da possibilidade em o recuperar.



Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > 2007 > Antigo restaurante e café, hoje em ruínas. O painel Luta Felupe é da autoria do artista guineense Augusto Trigo, que vive em Portugal. A foto é de Rui Fernandes.

Foto: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

Nos cerca de três anos que lá permaneceu o Rui percorreu toda a região administrativa de Bafatá (Zona Leste) e visitou outras regiões do restante território.

“Percorri muitos dos locais por onde os ex-combatentes andaram, contactei com vários guineenses que pertenceram à nossa tropa. (…) de tabanca em tabanca os nossos guias normalmente eram ex-militares, porque eram os únicos que falavam português.

"Cada tabanca falava o seu dialecto e na região eram vários e mesmo o crioulo dificilmente era falado, apenas nas cidades e vilas maiores. Em muitos dos locais os "velhotes" diziam: 'há mais de trinta anos que não vejo um branco' e alguns ficavam a olhar para a bandeira colada no carro com espanto/alegria.

"Quase todos os ex-militares tinham escrito num papelito os nomes dos superiores, as moradas e por vezes o telefone, é marcante.

"Quando podia ler o vosso blogue tentava depois fazer a ponte onde estava a passar com a vossa vivência naquele local.

"Ainda neste momento vou lendo diariamente e acabo por descobrir material sobre vivências passadas em locais por onde andei na restante Guiné. Hoje mesmo, antes de ver o seu mail, fui ao link do artigo P2463 sobre a retirada de Madina.”
(...)



2. O Rui Fernandes voltou ao nosso contacto, enviando-nos algumas fotos do seu espólio recente, tiradas aquando da sua estadia na Guiné-Bissau.

Vamos então revisitar lugares que muitos de nós fizeram seus, nos afastados anos da Guerra da Guiné (2).

Os lugares de muitos de nós > Revisitar Bambadinca (I)




Zona Leste > Sector L1 > Bambadinca > 1970 > Vista aérea do aquartelamento, tirada no sentido leste-oeste, ou seja, do lado da grande bolanha de Bambadinca (vd. mapa da região).

Foto: Humbero Reis (2005)

Foto 1 > No P2431 vem uma fotografia da escola de Bambadinca (1997), ou "o que resta da antiga escola…." Na verdade em 2003 já não era este o aspecto, pois foi recuperada. A foto acima é de 2006. O telhado é que ficou em zinco (Bambadinca, 2006).

Foto 2 > Mesmo à esquerda da escola e que se vê mal nesta foto (2006).

Foto 3 > A antiga casa do administrador de posto (Bambadinca, 2006)


Foto 4 > A casa que foi do Administrador de Posto (Bambadinca, 2006).

Foto 5 > A 3ª casa, junto à estrada (Bambadinca, 2006).

Fotos 6 > A 3ª casa, junto à estrada (Bambadinca, 2006).

Foto 7 > A capela e, ao lado, a antiga secretaria da CCAÇ 12 (1969/71).

Foto 8 > Vd. Referências nº 12 (pelotão de Morteiros), nº13 (Capela), nº14 (Secretaria) da foto aérea. Estas instalações pertencem hoje à Missão Católica (Bambadinca, 2006).

Foto 9. Crianças cantando o Hino Nacional enquanto é hasteada a bandeira antes das aulas (Bambadinca, 2006).


Fotos: © Rui Fernandes (2008). Direitos reservados.
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Notas de vb:

(1) Vd posts de :

25 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)

14 de Outubro de 2007> Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

(2) Tenho trocado algumas mensagens com o Rui Fernandes a propósito destas imagens. Agradecer publicamente a disponibilidade dele é justo, mas não é tudo. É marcante (usando a expressão dele acima, quando fala das populações quando o viam) o sentimento que transmite quando fala daquelas gentes e dos seus lugares. Quem fala assim da Guiné, de uma maneira tão Amiga, permitam que fale em nome da tertúlia, nosso Amigo é. E é como amigo da Guiné e dos guineenses, que o convidamos a integrar a nossa Tabanca Grande.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)





Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Varela > 2007 > Antigo restaurante e café, hoje em ruínas. O painel Luta Felupe é da autoria do artista guineense Augusto Trigo, que vive em Portugal. A foto é de Rui Fernandes, nosso prezado leitor.

Fotos: © Rui Fernandes (2007). Direitos reservados

1. Mensagem de Rui Fernandes, com data de 25 de Outubro último, enviada ao editor do blogue:

Exmo Dr Luís Graça:

Desde há vários dias que ando para lhe escrever sobre um artigo saído no blogue, sobre o artista Augusto Trigo (1). Somente agora tenho essa oportunidade.

Foi com satisfação que li este artigo sobre o autor de várias pinturas e painéis, algumas das quais se encontram na Guiné-Bissau, seu país natal, principalmente em Bissau.

Achei estranho, no entanto, não ser em lado nenhum referida a fonte das mesmas. Desde há cerca de dois anos e meio que sou leitor assíduo do blogue e sempre verifiquei a identificação do autor das fotos, muitas das quais com a indicação de direitos reservados.

As fotos agora divulgadas - embora fique bem assente que em nada estou contra, antes pelo contrário, julgo o artista ser merecedor deste singelo tributo - , deveriam referir terem sido retiradas do sítio AD-Bissau.

Fui eu o autor das mesmas e cedi-as à AD. Para algumas foi necessária a intervenção de terceiras pessoas para que me permitissem a obtenção das mesmas, tendo sido para duas delas o amigo Pepito.

O painel "Etnias da Guiné" encontra-se em Bissau, no Ministério do Comércio, organismo oficial.

O painel "Painel de 1977" e a "Paisagem" encontram-se, o primeiro na sala de reuniões de um Banco-BCAO e o outro num hall do mesmo, também em Bissau.

O painel que retrata o porto, encontra-se na Casa do Estivador, junto ao Forte da Amura.
Paisagem, de Augusto Trigo

O mural "Luta felupe" encontra-se numa parede de um ex-restaurante-café em Varela.

Etnias, de Augusto Trigo


Necessitei de cerca de 3 meses, nas horas vagas, para através de um programa de imagem recuperar digitalmente este mural. O edifício em que se encontra, está abandonado há anos e em avançado estado de degradação. Situado junto à falésia de Varela sofreu já a derrocada parcial do pátio devido à erosão marítima. A parede em que se encontra o mural está a abrir brechas e sofre a influência das chuvas devido a infiltração das mesmas através das falhas de telhas. Não tardará muito, sofrerá a derrocada final, com perda total deste património.

Sendo este blogue frequentado por elementos de várias profissões, penso que seria engraçado numa próxima ida à Guiné de alguém com experiência na matéria verificar da viabilidade de recuperação do mesmo. Não será fácil, penso eu, mas aqui fica uma dica.

Envio-lhe em anexo a foto original da qual recuperei este mural.

No site da AD encontram-se mais duas fotos:

(i) Tá-Mar- painel retratando uma imagem da Nazaré e localizado na sala de jantar do restaurante

(ii) Tá-Mar em Bissau-velho.

(iii) Ladrilhos- localizado num prédio de quem sai do edifício dos Correios pela esquerda da sua fachada, passa a lateral do Mercado Central e é no quarteirão a seguir depois do actual Bonjour (supermercado).

Com os meus cumprimentos,
Rui Fernandes


2. Comentário do co-editor vb:

As nossas desculpas ao Rui Fernandes pela omissão cometida. E os nossos agradecimentos pelo trabalho e o esforço que teve em trazer ao nosso conhecimento o Augusto Trigo, para muitos de nós, um artista guineense desconhecido. Oxalá surja algum mecenas, português ou guineense, que salve da morte anunciada o belíssimo painel Luta Felupe. O Rui terá sempre aqui um espaço, aberto, generoso, solidário, para divulgar e defender os artistas guineenses, nomenadamente os artistas plásticis. vb

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Nota de vb:

(1) Vd. post de 14 de Outubro de 2007
Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

domingo, 14 de outubro de 2007

Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

do co-editor vb:
Com a vénia que é devida a Jorge Magalhães, reproduzimos uma pequena nota sobre um artista da Guiné. Para muitos de nós um desconhecido, Augusto Trigo retrata, a óleo e a aguarela, as gentes, os animais e as paisagens da sua terra.
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Etnias da Guiné. Quadro no Ministério do Comércio. Pintor: Augusto Trigo. Rui Fernandes foi o autor da foto, que a cedeu à AD (Pepito Schwartz). Com a vénia devida.

Augusto Trigo > Um caso de Talento

Augusto Fausto Rodrigues Trigo nasceu em Bolama (Guiné-Bissau), a 17 de Outubro de 1938. Aos 7 anos, devido à morte do pai num acidente de caça, ele e dois dos seus irmãos vieram para Portugal, ficando a mãe a residir na Guiné, com o filho mais novo.

Aluno da Casa Pia, não se destacou pelo aproveitamento nas disciplinas mais clássicas, mas suscitou a admiração dos professores ao fazer uma escultura em madeira representando as figuras do Presépio, que lhe valeu o 1º prémio num concurso organizado entre vários estabelecimentos de ensino.
Foi a partir daí que os mestres, adivinhando as suas aptidões artísticas, o encaminharam no rumo certo, transferindo-o para a Secção de Pina Manique, onde frequentou o curso de entalhador e escultor, sob a orientação do conceituado professor Martins Correia.

Em 1957, com 19 anos, saiu da Casa Pia, obtendo o primeiro emprego como pintor de publicidade. Mas, sempre insatisfeito, sonhando com os horizontes e as vivências da sua infância, não tardou a regressar à Guiné para rever a mãe e os irmãos, acabando por arranjar colocação como desenhador cartográfico.

Cedo, porém, deu provas de não estar grandemente talhado para essas funções demasiado técnicas. E ei-lo a aproveitar todos os momentos livres para pintar quadros a óleo e aguarela sobre temas da sua terra natal.


Painel que representa o Porto de Bissau. Em exposição na Casa do Estivador, junto ao Forte de Amura. Trabalho de Augusto Trigo. Autor da foto: Rui Fernandes. Imagem cedida à AD (Acção para o Desenvolvimento, Pepito Schwartz). Os nossos agradecimentos, com a devida vénia.

Em 1964, realizou a sua primeira exposição de Pintura, que lhe valeu a encomenda de uma série de pinturas e painéis por parte do governo dessa (na altura) província ultramarina portuguesa.


Painel de 1977. Autor: Augusto Trigo. Encontra-se na sala de reuniões do BCAO (Banco). Foto de Rui Fernandes, cedida à AD.

No ano seguinte, executou um painel de grandes dimensões para o novo edifício do Centro de Informação e Turismo, inaugurando-se aí a sua 2ª exposição de Pintura.


Luta felupe, de Augusto Trigo. Encontra-se numa parede de um ex restaurante/café em Varela. Foto de Rui Fernandes, cedida à AD.

Em Abril de 1966, realizou nova exposição, dessa feita no Palácio Foz, em Lisboa, que obteve grande êxito, chamando a atenção do público e da crítica para um talento emergente no cenário das artes plásticas portuguesas.

Repartindo a sua actividade especialmente pela Pintura, a Ilustração e a Escultura, Trigo foi também professor de Trabalhos Manuais e de Desenho. Além dessa prática docente, ilustrou livros didácticos para a 1ª e a 2ª classes.

Após a independência da Guiné, em 1975, foi convidado pelos novos governantes a dirigir o Departamento do Artesanato Nacional, estruturando o artesanato em moldes definitivos e recolhendo algumas peças valiosas do património do seu país.

Para o Banco Nacional da Guiné executou um quadro a óleo de grandes dimensões, que seria posteriormente reproduzido numa das faces da nota de mil pesos, emitida pelo novo governo.


Paisagem, de Augusto Trigo. Em exposição no hall do Banco (BCAO). Com a devida vénia ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD (que detém a imagem no site da AD.

Mas, em 1979, Augusto Trigo decidiu regressar definitivamente a Portugal, fixando residência com a família, também de origem guineense, numa localidade perto de Lisboa.

Foi então que optou por uma nova forma de expressão artística, retomando uma experiência iniciada aos 19 anos com uma história aos quadradinhos intitulada O Visitante Maldito, que assinalaria a sua estreia como autor de BD ao ser publicada em Fevereiro/Março de 1980 no Mundo de Aventuras.

A partir dessa data, graças a um intenso labor repartido por quase todas as revistas da especialidade existentes em Portugal, suplementos de jornais, livros didácticos, álbuns e outras publicações, o talento de Augusto Trigo impôs-se à admiração dos leitores, da crítica e dos seus pares, granjeando-lhe um lugar de relevo no panorama da BD portuguesa dos anos 80 e 90. Dotado de um preciosismo estético invulgar, na linha da grande tradição de BD Clássica - com especial relevo para os artistas que mais o influenciaram: Harold Foster, Eduardo Teixeira Coelho e Vitor Péon -, o estilo de Augusto Trigo pode definir-se como hiper-realista, assentando num intenso (quase mimético) poder de observação e numa concepção gráfica e narrativa que o aproxima de autores mais modernos como Hermann, Derib ou Blanc-Dumont, sobretudo nas histórias de ambiente "western".

Excelente desenhador naturalista, particularmente do reino animal, é nas criações de temática africana, como Kumalo - A Vingança do Elefante (onde Trigo segue o apelo das suas próprias raízes), que se espelham de forma mais evidente as qualidades que o distinguem como artista de Banda Desenhada - predestinadamente, o seu meio de expressão mais genuíno, síntese e confluência de todas as vocações anteriores.

Distinguido com vários prémios de prestígio, ao longo de 20 anos de carreira, Augusto Trigo continua a produzir BD, embora num ritmo mais moderado, colaborando regularmente, com histórias de índole humorística, nas selecções BD e no Clube Tio Pelicas, do Montepio Geral."

Texto de Jorge Magalhães

Vd. Mais trabalhos de Augusto Trigo