Guiné > Bissau > Bissalanca > 1972 > O ex-1º cabo paraquedista Victor Tavares, do BCP 12 / CCP 121 (1972/74).
Fotos e texto: © Victor Tavares (2007). Direitos reservados.
Gadamel Porto: outro infrno a sul
Depois de regressada do inferno de Guidaje (1), a CCP 121 encontrava-se estacionada em Bissalanca, gozando um curto período de descanso, após a desgastante acção que tivera no norte da província.
Daí o Comando Chefe entender que os 4 a 5 dias de descanso concedidos já eram demais e ser necessário o reforço das nossas tropas aquarteladas em Gadamael por se encontrarem em grandes dificuldades. Acaba, por isso, por dar ordens para rumarmos a Gadamael, para onde partimos a 12 de Junho de 1973.
Partindo de Bissau em LDG [Lancha de Desembarque Grande] com destino a Cacine, lá chegámos a meio da tarde deste mesmo dia. Como a lancha que nos transportava, não conseguia atracar ao cais por falta de fundo, fomos fazendo o transbordo por várias vezes em LDM [Lanchas de Desembarque Médias] para aquela localidade.
Foi então, logo na primeira abordagem da lancha, que me apercebi que na mesma estava um indivíduo que pela cara me pareceu familiar. No entanto, como o mesmo se encontrava vestido à civil - calções, camisa aos quadradinhos toda colorida e sandálias de plástico transparente - pensei ser porventura algum civil que andaria por ali no meio da tropa, o que seria natural e podia eu estar errado.
Depois de toda a tropa estar desembarcada, indicaram-nos o local onde iríamos ficar, num terreno frente ao quartel de Cacine. Instalámo-nos e de seguida fomos dar uma volta pelas redondezas, até que no regresso deparo com a mesma criatura sentada no cais com ar triste e pensativo, típico da pessoa a quem a vida não corre bem. Eu vinha acompanhado do paraquedista Vela, meu conterrâneo – e hoje meu compadre. Perguntei-lhe:
- Ouve lá, aquele tipo ali não é nosso conterrâneo? - Responde ele:
- Sei lá, pá, isto é só homens.
Gadamael ? Vocês vão lá morrer todos!
Por ali estivemos na conversa mais algum tempo, até que tomei a iniciativa de me dirigir ao fulano uma vez que ele continuava no mesmo sítio. Acercando-me dele perguntei-lhe:
-Diz-me lá, camarada, por acaso tu não és de Águeda ?
Responde-me ele:
- Sou. - e pergunta-me de seguida:
- E você não é de Recardães?
Digo-lhe que sim, cumprimentamo-nos e vai daí perguntei-lhe o que é que ele estava ali a fazer, porque de militar não tinha nada. Respondeu-me que não sabia o que estava ali a fazer, de uma forma triste e ao mesmo tempo em tom desesperado e desanimado.
Entretanto com o desenrolar da conversa, ele perguntou o que estávamos ali a fazer, eu respondi que na madrugada seguinte íamos para Gadamael Porto…. Qual não é o meu espanto quando ele põe as mãos à cabeça, desesperado e desorientado, e me diz:
- Não vão, porque vocês morrem lá todos!
Tentei acalmá-lo, dizendo-lhe para estar descansado que nada de grave ia acontecer, pedi-lhe para me contar o que se passava, vai daí, começa ele a relatar o que tinha passado de Guileje e Gadamael até chegar a Cacine. Na verdade depois de o ouvir, não me restaram dúvidas que ele tinha mais do que sobejas razões para estar no estado psicológico aterrador em que se encontrava .
Os militares que abandonarm Guileje, foram tratado como desertores e traidores à Pátria
Entretanto, informa-me da sua situação militar daquele momento tal como a de outros camaradas que abandonaram Guileje. Neste grupo estava também outro meu conterrâneo, que o primeiro foi chamar, vindo este a confirmar tudo.
O que mais me chocou foi a forma desumana como estes militares foram tratados depois da sua chegada a Cacine, sendo considerados como desertores e cobardes, quando em meu entender, se alguém tinha que assumir a responsabilidade dessa situação, seriam os seus superiores e nunca por nunca os soldados.
Estes homens foram humilhados por muitos dos nossos superiores - que eram uns grandes heróis de secretária! -, foram proibidos de entrar no aquartelamento, não lhes davam alimentação, o que comiam era nas Tabancas junto com a população. As primeiras refeições quentes que já há longos dias não tomavam, foram feitas por estes dois homens juntamente com os paraquedistas, porque o solicitei junto do meu Comandante de Companhia, Capitão Paraquedista Almeida Martins – hoje tenente general na reserva - ao qual apresentei os dois camaradas do exército que lhe contaram tudo por que passaram.
Os dois desgraçados de Guileje eram meu conterrâneos: o Carlos e o Victor Correia
Solicitei ao meu comandante para eles fazerem as refeições junto com o nosso pessoal, prontificando-me eu a pagar as suas diárias se fosse necessário. Ele autorizou os mesmos a fazerem as refeições connosco enquanto não tivessem a sua situação resolvida e a nossa cozinha que dava apoio ao Bigrupo que estava de reserva, ali se mantivesse.
O meu comandante expôs o problema destes homens ao comandante do aquartelamento do exército, solicitando que o mesmo fosse resolvido com o máximo de brevidade uma vez que a situação não era nada dignificante para a instituição militar.
É de salientar que estes dois homens já não escreviam aos seus familiares há mais de um mês, porque não tinham nada com que o fazer. Fui eu que lhes dei aerogramas para o fazerem e os obriguei a escrever, porque o seu moral estava de rastos e a vida daqueles militares já não fazia sentido. Dormiam debaixo dos avançados das Tabancas enrolados em mantas de cor verde, não tendo mais nada para vestir a não ser o camuflado.
Estes meus dois conterrâneos que atrás refiro eram o Carlos (que infelizmente já faleceu, natural do lugar de Perrães, Oliveira do Bairro) e o Victor Correia (de Aguada de Baixo, Águeda, e que hoje sofre imenso de stress pós-traumático de guerra) )(2).
Depois Guileje sitiada e abandonada, O PAIGC virou-se para Gadamael
No dia seguinte mais uma missão estava destinada à Companhia de Caçadores Paraquedistas 121 [CCP 121]. Já se encontravam há vários dias as CCP 122 e 123, para fazer face à gravidade da situação criada pelas forças do PAIGC que, neste período do ano , entre Maio e Julho, tinha intensificado os ataques, tanto a aquartelamentos como a colunas.
Em Gadamael Porto a situação era cada vez mais complicada , uma vez que os militares do PAIGC já tinham tomado o destacamento de Guileje, após ataques contínuos de artilharia e flagelações de armas ligeiras, chegando mesmo a cercar o destacamento e mantendo a sua guarnição sitiada até à tomada de decisão de abandonar o destacamento por parte do seu Comandante, Coutinho de Lima (3), uma vez que não lhe restava outra alternativa. Não o fazendo correria o risco de as NT serem dizimados pelas forças atacantes que estavam decididas a tomar fde assalto o aquartelamento.
Os ataques geralmente partiam da Guiné Conacri. Após o abandono de Guileje por parte das nossas forças, os homens do PAIGC começaram a bombardear Gadamael Porto, concentrando toda a sua artilharia apontada a este destacamento com a intenção de o tomar de seguida.
No entanto este já se encontrava guarnecido pelas Companhias de Paraquedistas 122 e 123 e, a partir da data acima indicada. pela 121, as quais impediram tal intenção. Mesmo assim foram dias de grande azafama em termos operacionais aonde a segurança era nula. Várias vezes ao dia o destacamento era atacado e não falhavam um único tiro, tornou-se numa situação insuportável. As nossas tropas tinham mais segurança quando andavam fora do destacamento, em patrulhmentos. A nossa missão foi manter a segurança do destacamento, patrulhando e fazendo incursões até junto da fronteira onde o PAIGC tinha instaladas armas antiaéreas e canhões sem recuo. Era dali que atingiam Gadamael Porto e antes Guileje . Durante estes patrulhamentos tivemos um primeiro contacto com as forças do PAIGC sem qualquer problemas para as nossas tropas.
13 de Junho de 1973: aliviando a pressão sobre Gadamael
No dia 13 de Junho, de manhã cedo, preparámo-nos para rumar a Gadamael, sendo transportados em Zebros do Destacamento de Fuzileiros Especiais Africanos nº 21, dois grupos de combate sendo colocados nas margens do rio nas proximidades de Gadamael para onde seguimos em patrulhamento depois de serem desembarcados os outros dois grupos de combate da 121 que foram deslocados em LDM. No regresso, as embarcações seguiram para Cacine com os paraquedistas da CCP122, aonde iriam recuperar durante um curto período.
Chegados ao destacamento [ de Gadamael], verificámos que o estado do mesmo era na verdade aterrador, fruto dos constantes ataques, sendo bem visíveis os buracos dos rebentamentos das granadas do IN. Era evidente que quem lá tinha estado anteriormente, tinha passado por uns maus bocados.
As nossas duas companhias de paraquedistas que se encontravam aqui estacionadas estavam em permanentes patrulhamentos no exterior do aquartelamento, indo a este simplesmente para remuniciamento e reabastecimento. Desta forma fomos alargando o raio de acção indo até junto à fronteira, para conseguir referenciar os locais de onde o PAIGC fazia os ataques, para dar indicações à nossa Artilharia e Força Aérea. A impossibilidade de referenciar, por ar, estes alvos, levou-nos a ocupar as zonas em que o IN poderia instalar as suas bases do fogo e deste modo a fazê-lo afastar-se. Foi o que, realmente, veio a acontecer.
A partir desta altura fomos ao encontro dos locais de onde se ouviam os disparos das bocas de fogo e ocupámos essas áreas mesmo junto à fronteira, algumas vezes chegámos mesmo a ultrapassar a linha de fronteira com alguma profundidade - nunca por períodos longos, mas apenas porque havia aí bases de fogo IN. Nunca conseguimos apanhá-los desprevenidos, pois havia sempre forças de infantaria do PAIGC que os alertava com tiros acabando por retardar a nossa progressão.
No entanto os ataque a Gadamael deixaram de ser tão frequentes, passando as flagelações a a realizarem-se com menos intensidade e sem a precisão até aí evidenciada, além de feitas a partir daí sempre de locais diferentes. Quando as nossas forças aí chegavam, já eles tinham partido para outro local.
Mesmo já quando as forças do PAIGC não flagelavam o destacamento com tanta frequência, fomos mantendo a actividade de patrulha ao mesmo ritmo, por forma a manter as áreas próximas do braço do rio que dava acesso a Gadamael e que era a nossa única via de ligação para o exterior.
Consequentemente a eficácia de tiro até aí verificada por parte do IN deixou de existir e a intenção e pressão inicial caiu por terra, as forças do nosso exército voltaram ao destacamento e com os pára-quedistas fizeram vários patrulhamentos transmitindo-lhes os nossos conhecimentos e mais confiança nos deslocamentos em plena mata até aí de arrepiar.
Guiné > Mapa Geral da Província (pormenor) > 1961 > Posição relativa de Guileje e de Gadamel, no sul da Guiné, na actual Região de Tombali, na fronteira com a Guiné-Conacri.
Foto: © Humberto Reis (2005). Direitos reservados
23 de Junho de 1973: atolados num campo minado!
A 23 de Junho de 1973, recebemos ordens para novo patrulhamento. Manhã cedo arrancámos desta vez saindo pela que era considerada porta de armas virada para o rio, o qual atravessámos. Avançámos para o local indicado pelos nossos superiores, em progressão lenta e com cuidados redobrados.
Esta zona não era para brincadeiras. Nesse dia éramos acompanhados por 2 militares do exército que eram sapadores e montavam minas no terreno tentando proteger o destacamento da acção do inimigo. Passado algum tempo, recebemos ordens para parar na frente, estávamos num local minado pelos nossos novos companheiros e a sua missão era indicar-nos a localização das minas para podermos contornar o local sem qualquer incidente.
Qual não foi o nosso espanto quando nos foi dito que já tinhamos avançado demais e que nos encontrávamos sobre o campo minado. A nossa sorte foi que tinha chovido torrencialmente nos dias anteriores e, como o terreno era um pouco inclinado, arrastou terras para o local minado, o que fez com que não tivéssemos accionado qualquer aparelho. Esta situação aconteceu porque os sapadores já não conseguiam identificar o local minado com exactidão. Passados esses momentos de grande ansiedade e saídos desta zona perigosa, continuámos a progressão.
O nosso objectivo era fazer um reconhecimento a determinado local referenciado pelo Comandante das operações naquela zona e que o mesmo suspeitava de ali existir algo de estranho, assim o primeiro bigrupo da CCP121 continua a sua deslocação.
Caía aquela chuva miudinha tipo cacimbo, que se foi acumulando nas folhas das árvores e por consequência caíam no chão fazendo o ruído característico que se conhece. Depois de algum tempo andado, começámos a ouvir pessoas a falar, avançámos com ainda mais cuidado , a mata era bastante aberta , com pouca vegetação rasteira e com árvores de grande porte.
As condições do terreno proporcionava a formação de uma frente em linha de um grupo com 5 a 7 paraquedistas para esse efeito foram chamados mais 2 homens apontadores de armas pesadas , MG e HK21, que seguiam mais atrás. Formada a equipa de assalto, fomos avançando lentamente e cada vez mais se ouviam os homens do PAIGC, para surpresa nossa, quando detectámos em cima de uma grande árvore um militar inimigo como sentinela avançada, e que também ele foi surpreendido porque tínhamos homens da nossa coluna que já tinham passado por ele. Também o barulho da chuva agora mais intensa o atraiçoou .
20 minutos de fogo numa grande base do IN
Já a uns 100 metros das posições de onde vinham as vozes, encontravam-se os paraquedistas da frente e mais atrás a nossa preocupação era não sermos detectados pelo tal sentinela avançado que apenas se preocupava em vigiar o lado contrário ao qual nós nos encontrávamos. Talvez eles pensassem que se aparecesse alguém seria por aquele lado , visto que passava por lá uma picada , mas nós vinhamos em sentido contrário e a corta-mato, o que para nós era habitual.
O guarda tinha sido atraiçoado, para nosso bem, no entanto na frente, quando tudo fazia prever que íamos colher o inimigo de surpresa , houve um elemento deles que detectou as nossas tropas abrindo fogo primeiro, ao qual os araquedistas responderam com intenso poder de fogo causando bastantes baixas ao inimigo como se verificou pelos vários e abundantes rastos de sangue, visto que eles se encontravam em valas e abrigos colectivos de onde se puseram em fuga. Houve um grupo que, entrincheirado, resistiu até à retirada dos seus feridos e mortos ser feita, o que levou a que este combate se prolongasse durante mais de 20 minutos.
Um grande ronco: capturado algum material de Guileje
Mesmo assim os guerrilheiros acabaram por deixar uma quantidade apreciável de armas , munições e granadas, algumas delas era material das nossas tropas que o inimigo tinha vindo a capturar às forças do nosso Exército caídos em emboscadas e do destacamento de Guilejee o qual já tinha sido tomado pelas forças do PAIGC. Neste contacto, logo nos primeiros tiros mais atrás, com uma rajada abatemos também o vigia acima referido . Foi a única baixa do PAIGC que pudemos confirmar na retaguarda.
Entretanto abandonámos o local depois de fazer a recolha de todo o material, porque era usual o inimigo fazer batidas de zona com morteiros ou canhão sem recuo, o que era sempre perigoso. Este grupo que foi apanhado de surpresa, era constituído por cerca de 30 combatentes.
Afinal o nosso comandante de operações Major Paraquedista Calheiros tinha razão em solicitar a nossa intervenção neste local porque era realmente um enorme quartel posso até dizer o maior, talvez mesmo o maior de todos os que detectamos durante toda a minha comissão.
Próximo desta base e paralelo à linha de fronteira, referenciámos uma picada que era bastante utilizada por viaturas vindas da Guiné Coancri, com passagem recente. Aí emboscámos durante algum tempo sem que o IN se revelasse. Levantámos a emboscada e regressámos ao destacamento sem mais qualquer incidente e bastante carregados com o ronco conseguido.
2 Julho de 1973: ataque em força a Gadamael
O PAIGC ataca o destacamento de Gadamael Porto utilizando Canhões s/r , Morteiros 82 , RPG 2, RPG 7 e Foguetões. Foi talvez o ataque mais forte desde o início das flagelações que eram constantes ao destacamento, mas que apenas conseguiu destruir mais algumas das poucas infra-estruturas existentes que ainda se mantinham mais ou menos direitas e causar algum efeito psicológico negativo nas nossas tropas. Do ladoNT ali aquarteladas, houve apenas 2 feridos, sem gravidade.
De salientar que os ataques inimigos eram de tal forma precisos que era raro cair uma granada fora do perímetro do destacamento. Até chegámos a pensar que havia alguém, no interior ou bem perto, a dar orientação e correcção dos fogos o que se viria mesmo a confirmar que assim era.
A CCP 121 emboscada a 500 metros do destacamento
Nos dias seguintes a CCP 121 fazia patrulhamentos, como era habitual todos os dias em Bigrupo (muito raro) ou a nível de Companhia (quase sempre) - isto devido aos poucos efectivos que a CCP 121 tinha em virtude das baixas havidas anteriormente e as rendições serem escassas ou mesmo nulas para a situação operacional existente.
Num desses patrulhamentos, logo a pouco mais de 500 metros do destacamento, a CCP 121 foi emboscada por um forte grupo de combate do PAIGC ao qual deu a resposta adequada durante mais de 25 minutos. De salientar que o inimigo tinha no local uma boa quantidade de atiradores equipados com RPG 2 e RPG 7, o que nos levou a pensar que estavam a preparar um assalto ou forte ataque ao destacamento logo que a nossa Companhia estivesse fora da zona, uma vez que o destacamento ficaria muito mais desprotegido em termos de efectivos e com poder de fogo mais reduzido.
Neste contacto apenas houve a registar 1 morto - o nosso guia africano - e 1 ferido ligeiro nas nossas tropas. Capturámos 2 armas ao inimigo e confirmámos 1 morto no local . Tivemos que regressar ao destacamento, pois já estávamos com poucas munições. Aabámos por sair para o patrulhamento planeado, pouco depois, ao longo do rio e que decorreu com toda a normalidade .
7 de Julho de 1973: emboscada nas matas de Lamol com 4 mortos (confirmados) do PAIGC
A CCP 121, patrulhando mais uma vez a zona nas matas de Lamol, foi emboscada por um forte grupo de combate do PAIGC que pensámos ser de cerca de 30 elementos fortemente armados e municiados com todo o tipo de armas que os guerrilheiros normalmente utilizavam: RPG 2 , RPG 7, Morteiros , Canhão s/r, PPSH - ou costureinha, asssim chamada devido ao seu cantar inconfundível - , Kalashnikov , Degtyarev e outras armas ligeiras de repetição tais como a Simonov.
Alguns destes guerrilheiros eram de tez branca. O contacto durou vários minutos. Em consequência deste contacto, o inimigo sofreu 4 mortos confirmados e bastantes feridos , deixando vário material de guerra no local.
Muitos outros episódios poderia contar desta passagem por Gadamael Porto. Poderia falar sobre bre a alimentação, já que só passadas algumas semanas é que se começou a cozinhar... E o quê? Arroz com dobrada ao meio dia e o mesmo à noite, sendo o mesmo nos dias seguintes... E alguma dela já fora de validade!... As carências eram grandes e as dificuldades enormes em todos os aspectos, mas fomos sobrevivendo conforme se podia.
Não posso deixar de referir que, terminado mais este duro período em Gadamael. os paraquedistas do BCP 12 deram um contributo valioso e valoroso e de forma decisiva que conseguiu desta forma travar o ímpeto das grandes ofensivas que o PAIGC lançou tanto a norte (Guidaje) como a sul (Guileje e Gadamael.
E assim honrámos assim a nossa arma e também as nossas forças armadas.
Regressamos em LDG a Bissau no dia 17 de Julho de 1973
__________
Notas de L.G.:
(1) Vd. posts relacionados com a CCP 1231 e com o nosso camarada e amigo Victor Tavares:
18 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1610: Ao meu pai, Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista, CCP 121 (Osvaldo Tavares)
17 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1605: A reportagem da TSF e o regresso do Vitor Tavares a Guidaje (Albano Costa)
8 de Março de 2007 >Guiné 63/74 - P1573: O Victor Tavares, da CCP 121, a caminho de Guidaje, com uma equipa da TVI (Luís Graça)
21 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1540: Os paraquedistas também choram: Operação Pato Azul ou a tragédia de Gamparà (Victor Tavares, CCP 121)
8 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1350: Ataque ao navio patrulha no Rio Cacheu (Victor Tavares)
26 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1316: A participação dos paraquedistas na Operação Ametista Real: assalto à base de Kumbamory, Senegal (Victor Tavares, CCP 121)
9 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1260: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (2): o dia mais triste da minha vida
25 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1212: Guidaje, de má memória para os paraquedistas (Victor Tavares, CCP 121) (1): A morte do Lourenço, do Victoriano e do Peixoto
21 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1099: O cemitério militar de Guidaje (Manuel Rebocho, paraquedista)
(2) Estes camaradas devem ter pertencido à CCAV 8350, a última unidade a deixar Guileje, e a que pertenceu o membro da nossa tertúlia, o ex-furriel mil op espec José Casimiro Carvalho:
Vd. post de 2 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVIII: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73) (Magalhães Ribeiro)
Recorde-se que, de 18 a 22 de Maio de 1973, o aquartelamento de Guileje foi cercado pelas forças do PAIGC (Op Amilcar Cabral), obrigando as NT (CCAV 8350, 1972/73), a abandoná-lo, juntamente com cerca de 600 civis.
A Companhia Independente de Cavalaria 8350/72 foi a unidade de quadrícula de Guileje entre Outubro de 1972 e Maio de 1973. Viu morrer em combate nove dos seus homens, entre algumas dezenas de feridos.
Foi seu Comandante o Capitão Abel dos Santos Quelhas Quintas, que escreveu numa carta dirigida ao Senhor Chefe do Estado Maior do Exército, sobre o Furriel Miliciano de Operações Especiais José Casimiro Pereira Carvalho, com o seguinte teor (desconheço a data):
Exmo Senhor Chefe do Estado Maior do Exército:
"Por, quando Comandante da Companhia Independente da Cavalaria 8350, em serviço na Guiné entre 1972 e 1973, sedeada em Guileje, ter sido ferido em Gadamael, nunca me foi possível propor uma homenagem pública ao Furriel de Operações Especiais Casimiro Carvalho.
(...)"Quando fui ferido, foi este homem que me ajudou a deslocar para junto do Rio Cacine, pois eu mal me podia movimentar, deslocando-se em seguida debaixo de intenso fogo de morteiros e outra armas que, neste momento, não sei especificar, para conseguir um depósito de gasolina de forma a poder fazer movimentar a embarcação em que me evacuou para Cacine, como também outros militares que nesse momento já se encontravam junto ao pequeno cais.
""Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael" (...)
(3) O major de artilharia Alexandre da Costa Coutinho e Lima era o comandante do COP 5, na altura da batalha de Guileje e Gadamael:
Vd. posts de 2 de Julho de 2005 > Guiné 69/71 - XCI: Antologia (6): A batalha de Guileje e Gadamael (Afonso M.F. Sousa / Serafim Lobato)
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