Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > c. 1969/70 > LDG 105 NRP Bombarada > Desembarque no porto fluvial do Xime de uma mais ou companhias de "piras", destinados ao Leste. Fotos do álbum do álbum do José Carlos Lopes, ex-fur mimanuense do conselho administrativo do comando do BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70).
Fotos (e legendas): © José Carlos Lopes(2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. As nossas LDG (Lanchas de Desembarque Grande) levaram-nos a muitos sítios. E em segurança. Inspiravam confiança. Levaram-nos ao Xime e a Bambadinca, na zona leste. Levaram-nos a Buba, na região de Quínara. Levaram-nos ao sul, a Cacine, nas região de Tombali, levaram-nos, no Norte, aos aquartelamentos ao longo do rio Cacheu...
Muitas dezenas de milhares de homens tiveram o seu contacto com a guerra, na sua "viagem em LDG"... Contrariamente às lanchas mais pequenas, as LDP e as LDM, as LDG só mais raramente eram atacadas ou flageladas. Os guerrilheiros do PAIGC tinham medo do seu poder de fogo: 2 metralhadoras OERLIKON MK II 20 mm (1965), mais tarte, em 1973, substituídas por 2 peças BOFFORS, antiaéreas, de 40 mm, à semelhança da LDG 105 NRP Bombarda, mais moderna (1969).
Estranha-se, em todo o caso, que o PAIGC nunca tenha tentado, com uma certeira canhoada, meter uma LDG ao fundo...
2. O ex-fuzileiro Miguel Cunha já aqui contou uma história divertida à pala do morteirete ou morteiro 60 mm que eles usavam na LDG 101 (*):
Para além, deste armamento (que metia respeitinho, a quem estivesse emboscado na orla da mata ou do tarrafe, a tripulação da LDG costumava levar um morteirete ou morteiro 60 mm com que batia zonas suspeitas (por exemplo, a margem sul do rio Geba, entre a foz do Rio Corubal e a Ponta Varela, quando vinha de Bissau para o Xime, ou no mato Cão, quando seguia até Bambadinca; estes eram os locais mais que prováveis, no rio Geba, para o IN desencadear ataques ou flagelações às nossas embarcações, quer civis quer militares)...
LDG 101 NRP Alfange. Foto do Museu de Marinha, gentilmente disponibilizada pelo Manuel Lema Santos, engenheiro, nosso camarada, 1º ten RN, 1965/72, criador e editor do blogue Reserva Naval]
(...) "Fiz várias escoltas nas LDG e principalmente na Alfange, ao Xime e a Cacine. Era comandante o 1º tenente Malhão Pereira.
Tenho uma história passada a bordo da Alfange.
Nas anteparas da lancha, mais ou menos a meio, existia, de cada lado, um fundo de bidão com areia para servir de apoio ao prato do morteiro de 60 mm.
Julgo que as tropas [do Exército] que transportávamos, pensavam que os bidões com areia era para urinar. E alguns fizeram-no, de certeza. O pior foi quando o comandante mandou fazer umas morteiradas de protecção. Com o coice do prato do morteiro na areia, ficámos a cheirar a urina o dia todo!
Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/1971. (---)
Quem fez este "cruzeiro", como nós (**), lembra-se que pela manhã, aproveitando a maré, estava a embarcação a LGD 101) de saída do porto de Bissau... O calor e a humidade já eram insuportáveis pelo que os "piras" começavam, logo à saída do cais, a "avacalhar o sistema", ou seja, a infringir a disciplina, o decoro e a segurança militares... No caso da foto acima, já não "piras!" que vão para o mato, mas "velhinhos" que vão para Bissau... Daí a descontração e alguma... bagunça!
Nas fotos a seguir veem-se militares em tronco nu; outros aproveitam para matar o tempo (e aliviar a alguma tensão), sentando-se numa improvisada mesa de jogo, a jogar às cartas (?) e a beber ums bejecas... (Ainda não se usava o termo "bejeca")... Em todo o caso, estava-se longe da ideia de "cruzeiro turístico", Geba acima, Geba abaixo...
Tenho uma história passada a bordo da Alfange.
Nas anteparas da lancha, mais ou menos a meio, existia, de cada lado, um fundo de bidão com areia para servir de apoio ao prato do morteiro de 60 mm.
Julgo que as tropas [do Exército] que transportávamos, pensavam que os bidões com areia era para urinar. E alguns fizeram-no, de certeza. O pior foi quando o comandante mandou fazer umas morteiradas de protecção. Com o coice do prato do morteiro na areia, ficámos a cheirar a urina o dia todo!
Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/1971. (---)
3. Mas pergunta-se: para lá da tropa (fuzileiros, "infantes" e outros, como milícias, familiares de tropa africana, e seus animais domésticos), o que é que a LDG costumava levar mais, de Bissau até ao Xime (ou, ao contrário, do Xime a Bissau)? Ou até mesmo de Bissau a Bambadinca, nessa época, que as LDG também chegavam ao porto fluvial de Bambadinca, pelo menos até finais de 1968 (depois começaram a ficar só pelo Xime...
Há camaradas nossos que estiveram no leste que fizeram esta mesma viagem, mas que desembarcaram em Bambadinca, e não no Xime, tendo feito portanto o percurso, mais penoso, pelo Rio Geba Estreito, cheio de curvas e contracurvas (e entre elas, as do temível Mato Cão)....
Satisfazendo a curiosidade de alguns leitores, pode-se dizer que as LDG que navegavam no Geba, levavam tudo e mais alguma coisa... Tudo o que era preciso, à ida, para um homem se instalar no "buraco" que lhe tido cabido em sorte... Como não havia estradas para o leste (em 1969 apenas havia um troço alcatroado, Bambadinca-Bafatá,. e a estrada Mansoa-Bambadinca esta interdia), a grande via de comunicação com o leste era o Rio Geba...
Homens e material iam e vinham nas embarcações militares e civis... Neste caso, a LDG - Lancha de Desembarque Grande foi posta ao serviço do exército, para transporte de tropas e material, muito mais vezes do que em operações anfíbias, com os fuzileiros...
Quando se amplia as nossos fotos com pessoal metido no fundo de um LDG, dá para ver alguns pormenores insólitos... No bojo da LDG, na carga que é transportada, v
vê-se de tudo um pouco, numa "desordem" indescritível:
Quando se amplia as nossos fotos com pessoal metido no fundo de um LDG, dá para ver alguns pormenores insólitos... No bojo da LDG, na carga que é transportada, v
vê-se de tudo um pouco, numa "desordem" indescritível:
- tubos de bazuca,
- espingardas G3,
- cunhetes de munições.
- jericãs,
- camas,
- outras peças de mobíliário,
- colchões.
- fardos de mantas,
- malas de viagem,
- baus,
- sacos,
- caixotes
- viaturas (Unimog, Berliet, etc.)
- máquinas da engenharia,
- e até... uma cabra!...
Quem fez este "cruzeiro", como nós (**), lembra-se que pela manhã, aproveitando a maré, estava a embarcação a LGD 101) de saída do porto de Bissau... O calor e a humidade já eram insuportáveis pelo que os "piras" começavam, logo à saída do cais, a "avacalhar o sistema", ou seja, a infringir a disciplina, o decoro e a segurança militares... No caso da foto acima, já não "piras!" que vão para o mato, mas "velhinhos" que vão para Bissau... Daí a descontração e alguma... bagunça!
Nas fotos a seguir veem-se militares em tronco nu; outros aproveitam para matar o tempo (e aliviar a alguma tensão), sentando-se numa improvisada mesa de jogo, a jogar às cartas (?) e a beber ums bejecas... (Ainda não se usava o termo "bejeca")... Em todo o caso, estava-se longe da ideia de "cruzeiro turístico", Geba acima, Geba abaixo...
Guiné > Rio Geba > Fevereiro de 1970 > Viagem Xime-Bissau > LDG 101 NRP Alfange > Entre outras tropas levava o pessoal do Pel Rec Daimler 2046 (Bambadinca, 1968/70), que terminva a sua comissão no setor L (Bambadinca), e era comandado pelo alf mil cav Jaime Machado. Iriam regressar à metrópole em abril de 1970, no mesmo T/T Niassa em que tinha vindo.
Fotos (e legendas): © Jaime Machado (2015). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
4. A Classe Alfange foi uma classe de lanchas de desembarque grande (LDG) o serviço da Marinha Portuguesa.
Os navios desta classe foram construídos nos Estaleiros Navais do Mondego (Figueira da Foz), com um projeto baseado na Classe LCT-4, de origem britânica.
Pelo seu deslocamento superior a 400 toneladas, os navios foram classificados, pela Marinha Portuguesa, como "lanchas de desembarque grandes (LDG)".
As lanchas destinavam-se a ser empregues na Guerra do Ultramar em missões de reabastecimento logístico, de transporte de tropas e em operações anfíbias, sobretudo em apoio dos Fuzileiros. Foram empregues nos teatros de operações de Angola e da Guiné Portuguesa.
As lanchas destinavam-se a ser empregues na Guerra do Ultramar em missões de reabastecimento logístico, de transporte de tropas e em operações anfíbias, sobretudo em apoio dos Fuzileiros. Foram empregues nos teatros de operações de Angola e da Guiné Portuguesa.
Em 22 de novembro de 1970, a LDG 104 NRP Montante (classe Alfange) e a LDG 105 (classe Bombarda) fizeram parte da força naval portuguesa envolvida na Operação Mar Verde (invasão e Conacri), transportando tropas de desembarque (comandos guineenses e opositores ao regime de Sékou Turé
As LDG foram batizados com designações de armas medievais (Ariete, Alfange, Cimitarra. Montante).
Terminada a Guerra do Ultramar, os navios foram cedidos a Angola e à Guiné-Bissau. (...)
Unidades:
Nº de amura / Nome / Comissão em Portugal / Observações
- LDG 101 NRP Alfange 1965 - 1974 Cedida a Angola
- LDG 102 NRP Ariete 1965 - 1975 Cedida a Angola
- LDG 103 NRP Cimitarra 1965 - 1975 Cedida a Angola
- LDG 104 NRP Montante 1965 - 1974 Cedida à Guiné-Bissau
Ficha técnica > Classe Alfange
Nome: Classe Alfange
Construtor(es): Estaleiros Navais do Mondego
Lançamento: 1965
Unidade inicial: NRP Alfange
Unidade final: NRP Cimitarra
Em serviço: 1965 - 197
Operadores: Portugal | Guiné-Bissau | Angola
Características gerais
Tipo: Lancha de desembarque
Deslocamento: 480 t
Comprimento: 57 m
Boca: 11,8 m
Calado: 1,2 m
Propulsão: 2 motores diesel 1 000 hp 2 veios
Velocidade: 10,3 nós
Sensores: Radar de navegação DECCA
Armamento: 2 peças de 20 mm (1965) | 2 peças de 40 mm (1973)
Tripulação/Equipagem: 20
Carga: 270 t
Fonte: Adaptado de Wikipedia > Classe Ariete
Bissau > Cais da Marinha > Setembro de 1968 > LDG 101 NRP Alfange > Transporte de um Pel Art com destino a Piche, por via fluvial até Bambadincas (rio Geba)
Bissau > Cais da Marinha > Setembro de 1968 > LDG 101 NRP Alfange > Peças de artilharia 11.4 ao lado de garrafões de vinho...
Rio Geba (Estreito) > Bambadinca > Setembro de 1968 > LDG 101 NRP Alfange no porto fluvial de Bambadinca, com um Pel Art com destino a Piche (que depois seguiu, em coluna motorizada, Bambadinca - Bafatá- Nova Lamego - Piche)
Fotos (e legendas): © João José Alves Martins (2012). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Sector L1 (Bambadinca) > Xime > 1969 > LDG 105 NRP Bombarda no cais fluvial do Xime
Fotos (e legenda): © Humberto Reis (2005). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
4. Em 1969, entraram ao serviço da Marinha as LDG Classe Bombarda, mais comprida e deslocando mais tonelagem.
Nome: Classe Bombarda
Operador: Portugal
Unidade inicial: NRP Bombarda (1969)
Unidade final: NRP Bacamarte (1985)
Lançamento: 1969
Em serviço: 1969 - 2014
Características gerais
Tipo: Lancha de desembarque
Deslocamento: 652 tonelada
Comprimento: 56 metro
Boca: 11,8 m
Calado: 1,9 m
Propulsão: motores diesel de 910 hp 2 veios
Velocidade: 10 nós
Armamento: 2 peças de 40 mm (LDG 201 e LDG 203) | 2 peças de 20 mm (LDG 202)
Tripulação: 20
Passageiros : 1 batalhão de fuzileiros navais
Carga. 9 carros de combate ou 10 camiões de 6 t
Guiné > Região de Quínara > Buba > 1ª C/BCAÇ 4513/72 (Bula, 1973/74) > 4 de setembro de 1974 > A LDG 105 NRP Bombarda abicada em Buba
Foto (e legenda): © António Alves da Cruz (2023). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
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Nota do editor:
(*) Vd. poste de 16 setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8783: Humor de caserna (22): Quando os passageiros da LDG 101 Alfange urinavam... no fundo do bidão com areia que servia de apoio ao prato do morteiro de 60mm (Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/71)
Nota do editor:
(*) Vd. poste de 16 setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8783: Humor de caserna (22): Quando os passageiros da LDG 101 Alfange urinavam... no fundo do bidão com areia que servia de apoio ao prato do morteiro de 60mm (Miguel Cunha, Fz 996/68, Cia 10 Fz, 1969/71)