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quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26206: (De) Caras (225): Duas fotografias, girândola e fastígio das recordações (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Novembro de 2024:

Queridos amigos,
Há manhãs de sorte, falo por mim, comprei na D. Amélia da Feira da Ladra estas duas fotografias que irão depois para um arquivo. A primeira levou-me à minha chegada à Guiné, o barco da mancarra que me levou a Bambadinca parou exatamente naquele ponto onde está a embarcação que veio recolher esta unidade, bem curioso é o contraste entre o caminhar destes homens e a ondulação dos arrozais; na segunda fotografia quem captou a imagem terá sido um homem com muita sorte, apanhar o rebentamento de uma granada enquanto desfilam militares num curso de água, segundo o que vem no reverso a caminho do Sambuiá, santuário que veio a revelar-se quase inexpugnável, outras lembranças me ocorreram, de leituras e conversas, mas o mais importante é deixar esta imagem no nosso blogue.

Um abraço do
Mário



Duas fotografias, girândola e fastígio das recordações

Mário Beja Santos

Chego à Feira da Ladra ao despertar do dia, o meu fornecedor de livros, quando aparece, é imediatamente procurado por gente que vive da venda de livros em segunda mão, eu apareço ali como um outsider, olhado um tanto de viés. Antes de ele chegar, vou conversar com a D. Amélia, uma senhora que já me vendeu um lote de fotografias que devem ter pertencido ao capitão de uma das duas companhias que estavam na Guiné entre 1959 e 1961 e que mais recentemente me vendeu um lote de correspondência dos irmãos Barbieri Cardoso. Regra geral, só encontro correspondência ou fotografias de Angola e Moçambique, mas naquela manhã havia um lote bem gordinho de fotografias em que se escrevia no reverso Porto Gole, 1971, indiscutivelmente fora pertença de um jovem de bigodaça farta que por ali viveu um bom tempo, posiciona-se à porta de todos os edifícios, em viaturas, no abrigo, no refeitório, são imagens com que ele seguramente contou dar sossego à família, não há para ali nenhum sinal de guerra declarada.

Passei os olhos por todo o monte de imagens e de repente surgiu esta, a mente levou-me até ao princípio da tarde do dia 2 de agosto de 1968, o barco da mancarra que me levou até Bambadinca aqui atracou, lembro-me, como se fosse hoje daquele caminho que se palmilhava até chegar a terra firme, orlado por terrenos cultivados, guardo a lembrança de tudo, mas quem entrava e saía era população civil, com sacos e animais, gente de todas as idades. Imagem esmaecida, o Geba perdeu cor, e lá ao fundo vê-se o Quínara, que sempre sonhei visitar, e que nunca aconteceu. Coisa curiosa, deixara-se de circular por terra entre Jugudul e Porto Gole, as minas anticarro eram muitas, as emboscadas também, morrera a circulação naquela estrada que passava perto do Enxalé, S. Belchior, Mato de Cão, subia até Missirá, e pela ponte do Gambiel podia-se viajar até Bafatá. Enfim, o Geba era a estrada por onde se ia até Porto Gole, Enxalé, Xime e Bambadinca. Tudo mudará em novembro de 1969, com a inauguração do porto do Xime. Mas a circulação pelo Geba era vital para todos estes aquartelamentos, incluindo os do Leste, de Bafatá para cima.

Não mais voltei a Porto Gole, em 1990, 1991 e 2010 fui até Missirá por aquela estrada, com o alcatroamento já muito danificado, regressei a Enxalé e percorri todo o regulado do Cuor. Mas lembro-me que da estrada se via perfeitamente o monumento comemorativo à passagem de Diogo Gomes, em 1456. Deu-me pare recordar Porto Gole, acho que a fotografia tem o seu encanto com aquelas ondulações do arrozal e aqueles grupos de combate que não sabemos se vêm de uma operação ou para ela partem.

Porto Gole, 1971
Monumento alusivo à passagem de Diogo Gomes em 1456

Continuo a remexer nos maços de imagens que a D. Amélia tem na banca. Há mais fotografias da Guiné, são triviais, estou absolutamente convicto que na generalidade dos casos serviram para sossegar famílias, metem gente sorridente com cobras mortas, refeições e exibem-se cervejas, gente a ler aerogramas. É nisto que pego nesta segunda fotografia, diz enigmaticamente a caminho do Sambuiá, posso estar equivocado, mas iniludivelmente uma boa imagem com o rebentamento de uma morteirada, nunca vira até agora nada de parecido, um instantâneo tão violento. Enquanto olho demoradamente a fotografia, lembro as conversas que tenho tido com o Belmiro Tavares, que por ali andou, e que refere mesmo que numa operação a Sambuiá houve um desastre com uma equipa de morteiros, um acidente estúpido. Mais recentemente, numa carta do tenente Barbieri para o irmão ele refere uma operação no Sambuiá em tom perfeitamente crítico. Por ali passou Gérard Chaliand, um historiador das revoluções, em 1964, na companhia de Amílcar Cabral, passaram depois por Dugal e internaram-se no Morés. Acho que esta imagem nos faltava, valeu a pena ter começado a manhã de compras com estas duas imagens e a gratificação das recordações quem em mim as acompanha.
A caminho do Sambuiá, sem data
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Nota do editor

Último post da série de 24 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26074: (De) Caras (224): Maurício Saraiva, cofundador e instrutor dos Comandos do CTIG, cmdt do Gr Cmds Fantasmas - Parte II: Um dos momentos mais dramáticos que vivi, na sequência da terrível emboscada com mina A/C, em 28 de novembro de 1964, na estrada de Madina do Boé para Contabane, perto de Gobije (Antóno Pinto, ex-alf mil, Pirada, Madina do Boé e Béli, 1963/65)

quarta-feira, 24 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25774: Historiografia da presença portuguesa em África (433): Fortunato de Almeida e a Guiné antes de 1920 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Estes pequenos capítulos de obras como esta de Fortunato de Almeida, uma segunda edição em 1920, permite pertinentes leituras: o enclave está perfeitamente definido, assume-se desconhecimento em aspetos tão importantes como a geologia, é uma época em que para além de Bolama e Bissau têm reconhecida vida ativa Cacheu e Farim, Geba, Fá, Belchior, Buba e Cacine. Estão identificadas algumas das riquezas e potencialidades do território, curiosamente não se fala ainda no arroz, e é altamente questionável que houvesse para ali tigres e leões. O comércio ainda está dominado pelos estrangeiros, a Alemanha tem um peso dominante, como pude detetar quando estava a preparar a História do BNU na Guiné; a CUF ainda não chegou, para se chegar à metrópole só pelos vapores da Empresa Nacional de Navegação. A Guiné só possuía um concelho e número reduzido de escolas primárias. E também não há uma só palavra sobre os recursos do mar, não é de estranhar, ainda vai demorar muito a conhecer a riqueza da plataforma continental marítima onde depois da independência percorreram, com grandes ganhos, as embarcações da URSS e da União Europeia, fora adventícios que aqui vieram fazer riqueza.

Um abraço do
Mário



Fortunato de Almeida e a Guiné antes de 1920

Mário Beja Santos

Recebo um telefonema do meu primo José Thadeu, estava em S. Brás de Alportel a ajudar uma velha amiga a deitar fora toneladas de traquitana deixadas por um familiar, era um acumulador lendário, cujos interesses iam desde velhos ferros de engomar e candeeiros a petróleo, passando por alfaias agrícolas, até grafonolas e livros. Tinha encontrado bastantes livros em mau estado, jornais antigos, panfletos, etc., se eu estava interessado que me os trouxesse, disse imediatamente que sim. E é do livro Portugal e as Colónias Portuguesas, por Fortunato de Almeida, bacharel formado em Direito, professor efetivo do Liceu e da Escola Normal Superior de Coimbra, sócio da Academia das Ciências de Lisboa, da Sociedade de Geografia, da Sociedade Portuguesa de Estudos Históricos e do Instituto de Coimbra, segunda edição, 1920, que vos vou falar do capítulo dedicado à Guiné.

Ficamos a saber que a Guiné Portuguesa era outrora denominada Guiné Superior, o autor dá informação sobre a situação de limites e superfície da Guiné, observa que os territórios da Guiné ainda estão mal estudados sobre o aspeto geológico, descreve o território, rios e povoações, quando chega ao rio Geba, dá uma explicação sobre o macaréu, é interessante o que escreve:
“O rio Geba dá-se na ocasião das marés-vivas um fenómeno conhecido pelo nome de macaréu, e que é o mesmo a que os franceses chamam mascaret e os brasileiros designam, no Amazonas, pelo nome de proroca. O macaréu é uma onda gigantesca que se levanta e propaga rapidamente, e que em alguns rios, não na Guiné, constitui grave perigo para as embarcações. Não está o fenómeno suficientemente esclarecido; mas parece que o macaréu é formado pela acumulação de algumas ondas sucessivas. A primeira onda do fluxo ou enchente propaga-se com velocidade proporcional à profundidade da água; a segunda, encontrando maior profundidade, propaga-se com velocidade maior; e assim vai acontecendo sucessivamente com as restantes, até que muitas ondas chegam a juntar-se e a formar uma onda gigantesca que se precipita impetuosamente.”

Falando da flora, agricultura e fauna, o autor não esquece as espécies vegetais: milho, legumes, mandioca, batata-doce, cana-de-açúcar, amendoim, bananeira, laranjeira, cafezeiro, tamarindo, palmeira; tabaco, algodoeiro, anil, árvore de borrada, árvore da cola, bambu, mogno, ébano, pau-carvão, pau-sangue e outras espécies que fornecem boas madeiras. Quanto à fauna, além dos animais domésticos, repertoria: galinhas, gado vacum, ovino, caprino e suíno, encontram-se ali tigres (?), leões, elefantes, antílopes, lobos, onças, panteras, gazelas e uma grande variedade de macacos; papagaios, pelicanos, íbis, falcões e outras aves.

Chegamos agora ao comércio, aos portos e vias de comunicação. Importam-se: tecidos, géneros alimentícios, metais, tabaco, bebidas fermentadas e bebidas destiladas. A maior parte da importação procede de países estrangeiros. O país que recebe mais géneros da Guiné Portuguesa é a Alemanha (foi assim de facto até à Primeira Guerra Mundial), como país de destino, Portugal figura em segundo lugar e a Bélgica em terceiro. Os portos de Bolama, Bissau e Cacheu são os mais frequentados, principalmente por navios portugueses, alemães, franceses e belgas. São também importantes os portos de Farim e Cacine. Em Bolama e Bissau tocam regularmente os vapores da Empresa Nacional de Navegação.

Não sabemos que dados Fortunato de Almeida compulsou, calcula a população da Guiné em 70 mil habitantes, dois por quilómetro quadrado. Elenca um conjunto de etnias e observa: “Estes povos são de caráter diverso: uns irrequietos, aguerridos e salteadores; outros vivem da apascentação de gados; outros ainda se dedicam a trabalhos agrícolas. Muitos dos habitantes são feiticistas; outros são muçulmanos; e há também muitos cristãos. Dos gentios, alguns são polígamos e dão-se muito a práticas supersticiosas. A evangelização daqueles povos tem sido descurada, por falta da indispensável proteção do Estado às missões religiosas".

Exerce a autoridade suprema da Guiné um governador de província. A sede do Governo é Bolama, as outras povoações mais importantes são Bissau, Cacheu, Geba, Bolor e Farim. A província só tem um concelho, com sede em Bolama. Há comandos militares em Bissau, Cacheu, Geba e Cacine.

A Justiça é administrada pelo auditor dos conselhos de guerra em Bolama, o qual acumula com aquelas funções as de juiz de Direito. Há um auditor de fazenda, encarregado de fiscalizar a administração financeiras das províncias de Cabo Verde e da Guiné. A Guiné Portuguesa pertence à diocese de Cabo Verde; é eclesiasticamente administrada por um vigário-geral, que até há poucos anos era auxiliado no ministério religioso por seis párocos missionários. Há escolas primárias para ambos os sexos em Bolama, Bissau e Cacheu; e só para o sexo masculino em Buba, Geba e Farim. A guarnição militar compõe-se de uma companhia mista de artilharia de montanha e infantaria, e de dois pelotões de dragões; uma canhoneira, duas lanchas canhoneiras e algumas lanchas de vela para policiamento dos rios.


E Fortunato de Almeida muda de rumo, segue agora para S. Tomé e Príncipe.
Imagem extraída do livro de Fortunato de Almeida, é a primeira vez que vejo uma dança de Grumetes com os seus fatos guerreiros
Planta da cidade de Bolama, Guiné Portuguesa, 1920-1921
A Baía de Bolama nos tempos da tentativa de ocupação britânica, segunda metade do século XIX
Bolama, o primitivo Palácio do Governador
O que resta do Mercado Central de Bolama
A arquiteta Djamila Gomes que se propõe a restaurar o Grande Hotel de Bissau
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Nota do editor

Último post da série de 17 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25754: Historiografia da presença portuguesa em África (432): Crenças e costumes dos indígenas de Bissau, do século XVIII (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 17 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25536: Notas de leitura (1692): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 18 de Março de 2024:

Queridos amigos,
Iniciámos a leitura do Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde (e da Costa da Guiné) em 1850, deu-se conta de que os assuntos continentais tinham um peso ínfimo, referências às taxas e pautas aduaneiras, nomeações, transferências, dentro daqueles conteúdos de caráter cultural aparecia um artigo sobre a cultura do amendoim; das tentativas de usurpação quer britânicas quer francesas, nem uma só palavra; e eis que, inopinadamente, em 1853, sucedem-se as referências a Honório Pereira Barreto, a um auxílio francês a uma sublevação em Bissau de que resultou um oficial morto e o governo de Sua Augusta Majestade entendeu conceder uma pensão à viúva, o Governador Geral aceita visitar a Costa da Guiné e na praça de S. José de Bissau conversa com os reis locais e com o juiz dos Grumetes, promessas de amizade não faltam; até um 2º farmacêutico é deslocado da vila da Praia para Bissau... Algo está a mexer nas preocupações coloniais com os estabelecimentos de Cacheu e Bissau e até ficamos a saber que uma alta entidade está isenta de pagar qualquer importância por entrar em Bissau com um seu escravo que é também seu criado. A ver se daqui em diante este Boletim Oficial, tão silencioso com a Senegâmbia, passa a ser mais informativo.

Um abraço do
Mário



Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX
(e referidos no Boletim Official do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 a 1853) (3)


Mário Beja Santos

O ano de 1853 traz surpresas, fala-se da Costa da Guiné com mais fluência, não são só as taxas aduaneiras nem as receitas alfandegárias, nem as férias nem as transferências de militares e funcionários, até Honório Pereira Barreto é mencionado com mais regularidade, os negócios guineenses, afinal de contas, chegam ao Reino. Como vamos ver.

No Boletim Official de 19 de abril desse ano, o Chefe de Estado-Maior da Praça de S. José de Bissau, Francisco Maria Barreiro de Arrobas, dirige-se ao negociante António Joaquim Ferreira, este fizera oferecimento para que na escuna Progresso de Bissau sua Excelência o Brigadeiro Governador Geral da Província viajasse da vila da Praia para Bissau, o governador agradece e aceita e dará o devido conhecimento ao governo da Augusta Soberana de mais um feito de um dos habitantes de Bissau que tem concorrido para cimentar a sua prosperidade. Neste mesmo boletim fala-se do Forte de S. Belchior, que dominada a navegação do rio Geba, era premente concluir a reparação do armamento da instalação militar, eram insuficientes os donativos oferecidos por vários habitantes de Bissau, pelo que o governador determinava haver despesa por conta da Fazenda; mas há mais informações, desta feita o conserto do Forte do Pidjiquiti, da tabanca e da estacada que limitam a povoação de S. José de Bissau, o Governador Geral ordena que o governador interino da Guiné Portuguesa faça arrematar em hasta pública a reparação das obras, adjudicando-a a quem por menor preço a fizer, e com as precisas garantias de segurança, devendo o Recebedor Particular da dita Praça satisfazer o preço da arrematação logo que as obras estejam concluídas; e também se fica informado que João Marques de Barros dera conhecimento ao Governador Geral da oferta de construir à sua custa uma casa em continuação da que serve atualmente de hospital militar, oferecendo também o seu patacho Sabino para transportar gratuitamente de Cabo Verde para Bissau a força de tropa que convier ao mesmo Governador-Geral; não se ficam por aqui as informações do Boletim Oficial de 19 de abril, como se pode ler adiante:
“Tendo o cirurgião civil António Joaquim Ferreira, encarregado do hospital militar dessa Praça de S. José de Bissau, representado em indispensável necessidade e um farmacêutico para os medicamentos para o mesmo hospital, e para os particulares, obrigando-se a empregar o dito farmacêutico na sua botica particular, com os vencimentos que lhe competem por lei, pagos à sua custa, e fazendo-lhe ainda outras vantagens: o Governador Geral, reconhecendo quanto esta proposta é vantajosa à Fazenda, à humanidade, e até mesmo ao empregado que para isso fora nomeado: ordena que o 2.º Farmacêutico da Província, atualmente sem exercício algum na vila da Praia, embarque a bordo da escuna Progresso de Bissau, e venha para esta praça exercer as funções que lhe são próprias.”

E temos agora uma nomeação de Honório Pereira Barreto, vejamos os termos:
“Sendo da mais urgente necessidade estabelecer um sistema de administração para as possessões da Guiné Portuguesa que esteja em harmonia com os costumes dos habitantes das mesmas possessões e livre as autoridades do arbítrio que muitas vezes se veem obrigadas a recorrer pela inexequibilidade do que se acha determinado no Código Administrativo em uso na província: o Governador Geral manda criar uma comissão, composta do Governador da Guiné Portuguesa, que será o presidente, do Comendador Honório Pereira Barreto, residente em Cacheu, e do negociante e proprietário de Bissau, António Joaquim Ferreira, a qual comissão, tendo em vista as necessidades dos povos, e as medidas que melhor efeito tem produzido nas possessões estrangeiras desta mesma Costa da Guiné, discuta, organize, e proponha o projeto de Regulamente para a Administração Civil da Guiné Portuguesa, que mais conveniente lhe parecer.”

Mas ainda a missa vai no adro, temos agora matéria para o Diretor da Alfândega de Bissau, veja-se a delicadeza do assunto, quem assina é o Governador Geral:
“Tendo representado o Major de Veteranos – Francisco Alberto de Azevedo – que quando fora ultimamente para Bissau na qualidade de Governador Interino da Guiné – levara em sua companhia um escravo bona fide do serviço da sua casa, tendo prestado na alfândega desta vila a competente fiança, na conformidade das obras estabelecidas, acontecera que na Alfândega de Bissau lhe exigiram o pagamento de direitos pela importação do mesmo escravo: e sendo certo que tais direitos foram indevidamente exigidos, porque a lei isenta de tal pagamento um escravo que for transportado deste arquipélago para qualquer possessão portuguesa aonde hajam escravos – em companhia de um cidadão que se ausente por tempo indeterminado; o Governador Geral determina que o Diretor Interino da Alfândega de Bissau faça restituir ao referido major os direitos que porventura tiver pago pelo escravos que levou em sua companhia quando ultimamente foi àquela Praça na qualidade de Governador Interino da Guiné.”

Estamos agora 6 de outubro do mesmo ano de 1853, fala-se de ocorrências que tiveram lugar na Praça de Bissau onde houvera atos de manifesta indisciplina e rebelião, houve que intervir o brigue de guerra francês Palinure e fazer punir os criminosos. Foi muito agradável a Sua Majestade ver as diligências do Governador Geral, a quem solicita que lhe seja participado que é mandado o vapor Mindelo à província de Cabo Verde conduzindo a força militar e pólvora constantes da relação elaborada; que o Governador Geral dará a esta força o emprego que lhe parecer mais conveniente; que foi muito sensível à mesma Augusta Senhora a morte do Primeiro Tenente La Gillarduse, da tripulação do brigue francês Palinure, comandante do primeiro pelotão da força daquele brigue que atacou os sublevados; e que tendo decidido decretar uma pensão à viúva do mesmo oficial e dar testemunho de agradecimento aos oficiais do mesmo brigue.

Por último, dá-se conta da palavra com que os reis de Bandim, de Antim e de Antula e o juiz dos Grumetes de Bandim, Simão Cabral. Houvera reunião na Praça de S. José de Bissau em 30 de setembro de 1853, tinham estado presentes o Governador Geral, os referidos reis e o referido juiz de Grumetes com os seus séquitos. O governador expressou a sua satisfação de ver reunidos estes reis amigos e que queria que ficasse estabelecido para sempre que tanto os habitantes da Praça podiam ir livremente ao chão dos reis como estes podiam vir à Praça sem que de parte a parte houvesse receio algum. Sua Excelência disse que tinha toda confiança no que os ditos reis prometeram. O rei de Bandim declarou que uma vez que esta amizade, que ele queria, fosse sincera e verdadeira, ele não se opunha à entrega dos escravos fugidos, mas era preciso que fosse da Praça buscá-los, e assim seriam entregues. O juiz dos Grumetes e o rei de Bandim declararam mais, que eles julgariam firme a amizade, se fosse permitido que os Grumetes tornassem para dentro da Praça como dantes estavam. Assentou-se que seria permitido aos Grumetes virem a edificar casa junto da povoação e ficou também acordado quanto aos escravos que as canoas que os transportassem para Serra Leoa ou outro ponto qualquer seriam apreendidas.

É fácil de concluir que o relacionamento entre a governação portuguesa e os reis de Bissau melhorava a olhos vistos, sabe-se que eram juras e entendimentos muito temporários, tudo voltava a faiscar rapidamente com as respetivas sublevações e mortandades.

Mas algo se pode reter da leitura deste Boletim Official em 1853. Há uma administração que começa a funcionar; a França, por tática diplomática, auxilia as autoridades a reprimir as rebeliões; a classe mercantil prontifica-se a ajudar a pagar reparações; em 1853, há Forte em S. Belchior, o que significa que se caminha tenuemente para uma ocupação; e, melhor ou pior, as alfândegas funcionam e ajudam a cobrir os encargos inerentes à presença portuguesa.


Vista antiga de Cacheu
Estátua de Honório Pereira Barreto na Bissau colonial
Imagem do século XIX de Vila da Praia

(continua)
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Notas do editor:

Vd. post anterior de 10 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 13 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25518: Notas de leitura (1691): BART 3873 - História da Unidade - CART 3492 / CART 3493 / CART 3494 - O Sector L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970 (Mário Beja Santos)

segunda-feira, 13 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25518: Notas de leitura (1691): BART 3873 - História da Unidade - CART 3492 / CART 3493 / CART 3494 - O Sector L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970 (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 11 de Novembro de 2022:

Queridos amigos,
O ter finalmente lido por inteiro a história do BART 3873 sacolejou-me algumas memórias, daí este meu atrevimento em comparar, sem fazer juízos de valor, o que era o setor de Bambadinca entre 1968 e 1970, onde combati e este período correspondente aos últimos anos da guerra. Que houve mais dinheiro houve para intensificar a africanização da guerra, a formação de milícias em Bambadinca, surpreendeu-me o descontentamento da população civil em Madina e a sua aproximação ao Enxalé, dei mesmo comigo a pensar os ralhetes que recebi quando insistia na aproximação entre Enxalé e o regulado do Cuor, a minha área de missão, tínhamos a mesma força hostil, ainda por cima o Enxalé não tinha condições para fazer qualquer dissuasão à travessia do Geba pelas forças do PAIGC, entre São Belchior e o Enxalé. 

PMais escolas, mais mesquitas, mais assistência, os grupos de milícias a crescer como cogumelos e recordo o que me era dado e arregaçado, a pedincha permanente para ter materiais de construção civil, pagar a dois professores; e quartel em Mato de Cão, evitando as deslocações diárias de Missirá, com o ponto curioso de que o Pel Caç Nat 52, de que fui comandante, ter ido para Mato de Cão para ser flagelado e ouvir, não muito longe, as embarcações civis a ser flageladas em Ponta Varela.

 Outros tempos, gostei muito de ler esta história de unidade e reviver o que passei através do que outros passaram, uns anos mais tarde. Como o Luís Graça participou nesta história, entre 1969 e 1971, seria bom que também nos desse umas dicas sobre o tempo que viveu e este tempo do BART 3873.

Um abraço do
Mário



O Setor L1 de 1972 a 1974, e as minhas lembranças de 1968 a 1970

Mário Beja Santos

Tive finalmente acesso à história do BART 3873, ativo no chamado Setor L1, onde também vivi 2 anos em cheio, leitura que me foi facultada pela Biblioteca da Liga dos Combatentes. Muito se tem escrito no blogue à volta desta história de unidade, pretendo exclusivamente, e de memória, comparar o setor ao tempo em que ali vivi.

 O Geba já era crucial como via de transporte, não se circulava por estrada de Jugudul até Bambadinca, circulação interrompida, em anos anteriores a atividade do PAIGC limitara a circulação para Porto Gole e Enxalé, passei 17 meses no regulado do Cuor, só em expedição militar é que podia ir até ao Enxalé, municiava-me e abastecia-me de Bambadinca para a bolanha de Finete, cerca de 4 quilómetros de montanha-russa até à povoação, mais 15 ou 16 até Missirá; quando tudo estava alagado, entre Sansão e Canturé, socorríamo-nos de um Sintex entre Bambadinca e Gã Gémeos, havia um arremedo de porto aqui; não havia destacamento em Mato de Cão, para evitar minas e sobretudo emboscadas foram delineados 6 itinerários tudo a pé, com sol ou chuva, minas não houve nem emboscadas, fez-se constar no mercado de Bambadinca que só por bambúrrio da sorte é que seriamos encontrados; Mero era então local de abastecimento do PAIGC, vinham de Madina/Belel habitualmente colunas civis, com armamento rudimentar (espingarda Simonov), atravessavam o Geba mais ou menos entre Canturé e a norte de Finete, usavam o bombolom para se anunciar, deixavam indícios, desde as bostas de vaca, granadas, carregadores, pegadas, aí sim, tivemos vários recontros; patrulhava-se o regulado até perto de Queba Jilã, nas primícias do corredor do Oio, cedo aprendi que qualquer confronto podia trazer feridos, vivi uma experiência muito amarga dentro de Chicri, num caminho que dava a Madina, um apontador de dilagrama acidentou-se, houve muito sofrimento, muita angústia; mas a população de Madina também atravessava para os Nhabijões, apanhámos várias embarcações escondidas no tarrafo, e quando fomos transferidos para Bambadinca, nos patrulhamentos na região de Samba Silate também encontrámos canoas, destruíamos e eles faziam outras; nunca houve qualquer ataque a barcos em Mato de Cão, alguns em Ponta Varela, já em Bambadinca perguntei ao comandante e ao major de operações por que é que não se queria repensar a quadricula, sugeri dois pelotões no Xime, um destacamento em Ponta Varela e outro na Ponta do Inglês, o PAIGC estava estrategicamente implantado num ponto pouco acessível entre Baio e Burontoni, no Poidom, na Ponta Luís Dias, em Mina, Galo Corubal e Tabacutá, eram bolanhas muito férteis, indispensáveis para o abastecimento civil e militar do PAIGC, íamos, fazíamos uma destruição, o PAIGC reconstruía, nunca largou mão deste extenso território que foi ocupado no segundo semestre de 1963 por Domingos Ramos, que irá morrer em Madina do Boé; iniciou-se no meu tempo a construção do ordenamento dos Nhabijões, construção modelar, exigia patrulhamento, só mais tarde apareceram minas e incursões do PAIGC; Amedalai já tinha milícia, que dava segurança até na linha de tabancas Taibatá-Demba Taco-Moricanhe, é do meu tempo o abandono de Moricanhe, que veio a ter reflexos na região do Xitole.

Havia uma imensidade de tabancas com predomínio de população Fula, lembro Bricama e Santa Helena, já na margem esquerda do Geba, íamos regularmente a Galomaro, Madina Xaquili, ao regulado de Badora, onde pontificava o régulo Mamadú Bonco Sanhá, deslocava-se de Madina Bonco até Bambadinca numa motocicleta, fardado a rigor, os seus galões de tenente a luzir, sempre de óculos escuros e muito cortês.

Lendo cuidadosamente a história do BART 3873, no essencial eram as mesmas povoações de 4 anos antes, creio que Galomaro mudou de setor. Os efetivos de Bambadinca são os mesmos, havia rotatividade nos Nhabijões bem como na ponte do rio Undunduma, um pelotão em Fá Mandinga, no meu tempo ainda não havia instrução de milícias em Bambadinca, fiquei satisfeito quando vi Enxalé no Setor L1, tinha toda a lógica, bem perto do Xime, o mesmo dispositivo do PAIGC que afetava o Cuor, argumentei, sem êxito, a aproximação entre o Cuor e Enxalé, respondiam-me sempre que eu me metesse na minha vida. 

Observo da leitura da história da unidade que as coisas tinham mudado em Madina, a população sob alçada do PAIGC mostrava descontentamento e apresentava-se no Enxalé; a descrição de minas antipessoal e anticarro é impressionante, o PAIGC usava-as em todos os pontos do setor; Mero terá igualmente mudado de posição, vejo neste documento que já havia um pelotão de milícias, a população estava contente com a presença das nossas tropas; apareceu um elevado número de forças de milícia, posso constatar que se intensificou no setor a africanização das nossas Forças Armadas; deve ter havido mais dinheiro para todo este processo da africanização que levou também a reocupação de posições como Samba Silate, que era considerada a bolanha mais fértil de todo o leste da Guiné; vejo com estranheza muitos recontros perto do Xime, na região de Gundaguê Beafada – Madina Colhido, o que significa que a força instalada em Baio/Burontoni tinha elevada capacidade ofensiva, das vezes que me coube sair do Xime para a Ponta do Inglês, flanqueava pelas matas próximas do Corubal, cheguei mesmo a aproveitar os caminhos de terra batida frequentados assiduamente pela população do Poidom.

Dou igualmente comigo a pensar como é lamentável não podermos trocar informação com os dispositivos efetivos do PAIGC na região. Os arrozais eram fundamentais para o sustento de civis e de tropa, no fundo do Corubal o PAIGC movimentava-se com imensa facilidade, dava os seus sinais de vida flagelando Mansambo e o Xitole e mesmo a ponte do rio Pulon, mas só para provar que estava ativo. 

Quando se desencadeou a operação Grande Empresa, ou seja, a ocupação do Cantanhez, houve deslocação de efetivos do PAIGC, nessa altura já estavam a posicionar-se na região do Boé (completamente desocupada pelas nossas tropas desde fevereiro de 1969), terão vindo efetivos de outros lugares, questiono, de acordo com a leitura que faço desta história de unidade que as operações abaixo do Poidom, a Mina e Galo Corubal foram quase passeios, recordo o estendal de tropas para a operação Lança Afiada, Hélio Felgas congeminara a limpeza de toda aquela margem do Corubal, 12 dias de inferno e a tropa de rastos, apanharam os velhotes e uns canhangulos.

Não surpreende não ter havido ataques a Bambadinca, só seria possível passando o rio de Undunduma, era essa a missão destinada ao pelotão de vigilância. Mas surpreende-me a intensidade de ataques em Ponta Varela, parece-me um contrassenso quando se escreve que havia patrulhamentos regulares nesta região.

Não estou habilitado a tirar conclusões se a situação melhorou ou piorou no setor, deu-se a africanização, construíram-se infraestruturas, aumentou o apoio às populações civis, vejo que Finete sofreu uma grande flagelação. 

Pode dizer-se que o BART 3873 regressa pouco tempo antes do 25 de Abril, foi substituído pelo BCAÇ 4616, que terá tido uma guerra de sonho. E que havia mais dinheiro havia, vejo que no Natal de 1973 se pagou o 13º mês. E acompanhei com muito carinho o itinerário do Pel Caç Nat 52, combativo até ao fim, em dezembro de 1973 travou contacto com um grupo de 15 elementos.

Volto a questionar-me se virá a ser possível um dia juntarmos a nossa documentação com a do PAIGC para que a guerra ganhe mais clareza para as futuras gerações destes dois países.

A dimensão aproximada do Setor L1, onde atuou o BART 3873
Confraternização no Xime na messe de sargentos, CART 3494, ao fundo à esquerda o nosso confrade António José Pereira da Costa, então capitão, outubro de 1972
Os CTT de Bambadinca, quando visitei a povoação, em 2010, já estava em grande degradação
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Nota do editor

Último post da série de 10 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25504: Notas de leitura (1690): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (2) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25365: Historiografia da presença portuguesa em África (418): O Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, as suas referências à Guiné (2) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 19 de Setembro de 2023:

Queridos amigos,
Um dos mais importantes investigadores desta obra de Duarte Pacheco Pereira, Joaquim Barradas de Carvalho, escreveu no prefácio da edição da Gulbenkian de 1991 o seguinte: "Acerca da obra Esmeraldo de Situ Orbis, três factos parecem estar definitivamente estabelecidos: o manuscrito original e autógrafo de Duarte Pacheco Pereira perdeu-se; existem tão-só duas cópias tardias, uma da Biblioteca Pública de Évora, e outra da Biblioteca Nacional de Portugal; a mais antiga, a de Évora, data da primeira metade do século XVIII. A mais recente, a de Lisboa, teve origem na segunda metade desse mesmo século." O que pode dar pasto a que o documento foi sempre tratado como altamente sigiloso, a dar fé à política de sigilo, logo no reinado de D. Manuel I vedava-se o conhecimento aos estrangeiros das viagens dos portugueses, tanto para afugentar a concorrência como para alargar todo o espaço que o Tratado de Tordesilhas permitia. Há que reconhecer que este documento, tal como nos chegou às mãos, dá nota dos conhecimentos da época, logo as Etiópias da Guiné, o pendor para a homenagem às navegações henriquinas, mesmo dizendo que Deus revelara ao Infante esta missão; seguem-se cronologicamente as navegações operadas, a viagem de Gil Eanes, as rotas do Cabo Branco até ao Cabo Verde, o encontro com o rio Senegal, e aqui o cosmógrafo usa a palavra Guiné, a descrição dos povos (muitas décadas mais tarde, André Álvares de Almada irá confirmar o registo de Duarte Pacheco); a passagem pelo Rio de Gâmbia e depois o Rio Grande ou Geba, com descrições pormenorizadas de quem ali habita e informações sobre o resgate de escravos e o comércio possível com estas populações. Aqui se dá por findo o registo, o que havia por dizer sobre a Senegâmbia é o que se deixa no texto anotado.

Um abraço do
Mário



O Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, as suas referências à Guiné (2)

Mário Beja Santos

Agora, que estou a preparar os primeiros relatos fundamentais da presença portuguesa nesta região da África Ocidental que é tratada como Etiópia Menor, Rios de Guiné, Senegâmbia, entre outras designações, fiquei de boca à banda quando descobri que ao longo destes anos de colaboração no blogue privei o leitor das referências que Duarte Pacheco Pereira teceu à Terra dos Negros.

No texto anterior deixei as indicações curriculares deste cabo de guerra em terra e no mar, alguém que se encheu de glória por feitos militares na Índia, incumbido pela Coroa de grandes ou graves incumbências, figura de algum modo envolta em mistério, põem-se várias hipóteses de se ter antecipado a Pedro Álvares Cabral no conhecimento das terras brasileiras; para o caso em apreço, Duarte Pacheco recebe a incumbência em 1505 para escrever o livro a que se chamou "Esmeraldo de Situ Orbis", permanece o mistério da palavra Esmeraldo, há diferentes opiniões não coincidentes, mas que o título é lindo, é. Este cosmógrafo, convém insistir, tinha uma visão limitada das fronteiras do continente africano, detinha uma visão ptolemaica, o rio Nilo parecia constituir o caudal de água de onde derivavam os rios que os portugueses iam achando. O autor presta homenagem aos empreendimentos henriquinos, vai descrevendo as rotas em direção ao Cabo Verde, dá como certo e seguro haver duas Etiópias, a Inferior que se estenderia até ao Cabo da Boa Esperança. Pormenoriza quem habita na região do rio Senegal e faz agora uma referência ao reino de Tambuctu (obviamente Tombuctu), “e ali está a cidade de Jani, povoada de negros, a qual cidade é cercada de muros de taipa e nela há grandessíssima riqueza de ouro. E ali vale muito o latão e cobre e panos vermelhos e azuis e sal”; e, mais adiante: “E este rio é muito doentio de febres. E o inverno desta terra é de julho meado até quinze dias de outubro. E outras muitas coisas se poderão dizer do rio Sanaga, as quais deixamos de escrever para não fazer longo sermão”.

Segue-se uma prosa descritiva das ilhas do arquipélago de Cabo Verde, e voltamos ao continente com o título Rotas e conhecenças do Rio de Gâmbio para o Cabo Roxo e Rio Grande. Informa que no Rio de Gâmbia os seus habitantes são Jalofos e Mandingas, e escreve o seguinte: “Jaz o Rio de Gâmbia com o Cabo Roxo, norte e sul, e tem na rota vinte e cinco léguas. E no meio deste caminho está um rio que se chama Casamansa, a gente do qual são Mandingas. Neste rio vale muito o ferro; e aqui há resgate de escravos por cavalos e por lenços e por pano vermelho. E adiante de Casamansa, doze léguas, está o Cabo Roxo.”

Entramos agora no Rio Grande, o Geba: “e não lhe foi posto este nome por ser maior no tamanho com os rios Sanaga ou Gâmbia, mas porque tem a boca muito grande”. E deixa uma referência ao fenómeno do macaréu.

O capítulo 31.º intitula-se "Do Rio Grande e no que nele há", assume uma enorme importância pelo detalhe que pela primeira vez se dá às regiões circunvizinhas e pelas notas geográficas que se irão revelar de grande significado para futuros navegadores que aqui aportem. E faz menção dos povos em torno de Geba:
“E a gente que nesta terra habita são Gogolis e Beafares e são sujeitos a el-rei dos Mandingas e estes são muito negros de cor, e muitos deles andam nus e outros vestidos de panos de algodão. Aqui se resgatam escravos, seis e sete por um cavalo, ainda que não seja bom, e algum ouro (ainda que é pouco) por pano vermelho e por lenço e por umas pedras a que chamam alaquecas e também lhe chamamos de estancar sangue. Esta gente tem muita abastança de arroz, milho e inhames e galinhas e vacas e cabras. E quase todos estes são muçulmanos e a Mafamede adoram e são circuncisos; é gente que não há vergonha nem medo de Deus”.

Estamos agora no capítulo 32.º, assim intitulado "Dos rios que vão adiante do Rio Grande" e alguns que são dentro dele, e assim das rotas e conhecenças até à Serra Leoa. Dá seguinte informação: “Deste Rio Grande se podem fazer dois caminhos para a Serra Leoa: um deles é por dentro das ilhas que à boca deles estão; outro caminho é por fora, pelo pego, segundo adiante diremos”. E faz referências a vários rios até chegar ao Rio Nuno e mais à frente ao Cabo da Verga: “A terra entre o Rio Grande e o Cabo da Verga é terra muito baixa e má de conhecer, e o fundo sujo e de grandes recifes de pedra, e muito perigosa, que se não deve navegar senão de dia e pousar de noite; e para mais segurança seja navio pequeno de 25 até 30 tonéis, porque sendo maior correrá risco de se perder.” E volta às referências de quem ali habita: “E todos os negros desta terra são idólatras, e em caso que não conhecem lei, são circuncisos e esta circuncisão tomou causa de vizinhança que têm com os Mandingas e outros que são muçulmanos.” E, mais adiante: “em toda esta terra, na costa do mar há ouro, ainda que é em pouca quantidade, o qual costumamos resgatar por alaquecas e por contas amarelas e verdes e por estanho, e lenço e manilhas de latão e pano vermelho e por bacias como de barbeiro; e por estas mercadorias resgatamos aqui muitos escravos. Nesta terra não há edifícios senão casas palhaças; e esta gente toda é metida em guerras, que poucas vezes têm paz, possuidores de elefantes e onças e outros muito desvairados animais e aves de estranhas feições; e se mantêm de arroz e milho de outros legumes e, assim, carne e peixe que há aqui muito.”

E damos por aqui terminado o registo, a seguir o autor passa a comentar tudo o que viajou a partir do Cabo da Verga, estamos assim fora da pequena Senegâmbia, cada vez mais longe das Etiópias das quais hoje se formata a Guiné-Bissau.


A imagem mais conhecida do autor, a quem Luís de Camões chamou o Aquiles Lusitano
Duarte Pacheco Pereira na filatelia
Carta de Stefano Bonsignori, de 1580, mostrando parte de África Ocidental, incluindo os atuais países do Senegal, Guiné-Bissau, Mali, Serra Leoa, Libéria, Costa de Marfim e Burquina Fasso
A casa dos escravos na ilha de Goreia, hoje Património da Humanidade
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Notas do editor:

Vd. post anterior de 27 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25311: Historiografia da presença portuguesa em África (416): O Esmeraldo de Situ Orbis, de Duarte Pacheco Pereira, as suas referências à Guiné (1) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 9 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25361: Historiografia da Presença Portuguesa em África (417): "Desastre de Bolor ou Bolol" [Carlos Cordeiro, 1946-2018) / Patrício Ribeiro]

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25106: Historiografia da presença portuguesa em África (406): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (3) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 12 de Junho de 2023:

Queridos amigos,
Confesso que me rendo a este espantoso espírito de observação do Tenente Costa Oliveira, certo e seguro ele faria diários dos itinerários, dos acidentes, das emoções que a natureza lhe provocava; não se existe um outro testemunho ao vivo de tal valia como o dele quanto à guerra do Forreá, veremos adiante que ele estava bem informado sobre todas estas vicissitudes; é igualmente um diário histórico, não encontrei até agora ninguém que tenha descrito a demarcação de fronteiras, com especial ênfase no sul, como ele; e mostra-se profundamente crítico pela incúria em que deixámos a Senegâmbia portuguesa, tecerá comentários ácidos à decisão de termos ofertado em bandeja o Casamansa à França, se havia ponto, depois de Cacheu e Bissau, onde a nossa presença tinha algum relevo era em Ziguinchor. É um observador contumaz: a natureza das tabancas, a importância do Corubal e do Geba, não esconde o seu entusiasmo com as belezas guineenses e não deixa de lastimar como a colónia está num prático abandono. E que o leitor se prepare, o tenente Costa Oliveira ainda tem muito por contar.

Um abraço do
Mário



Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (3)

Mário Beja Santos

O Boletim da Sociedade de Geografia de Lisboa, 8.ª série, números 11 e 12, 1888-1889, acolhem um documento de grande valor histórico intitulado “Viagem à Guiné Portugueza”, o seu autor é E. J. da Costa Oliveira, Oficial da Armada Real, comissário do governo para a delimitação das possessões franco-portuguesas da costa ocidental de África. Fez-se a viagem de Bolama até ao Sul, o Tenente Costa Oliveira não esconde o seu deslumbramento com tanta beleza natural e vai perseguir com as suas ricas observações que permitem ao leitor de hoje perceber o que era a vida no Sul não só da Guiné portuguesa como da Guiné francesa.

Estamos no início de março de 1888, a comissão luso-francesa tem permissão de marcar as fronteiras, visitou o rio Cogon, depois disso levantou-se o acampamento e abalaram para Kumataly, uma povoação importante e fortificada. Observa o tenente da Armada Real:

“As fortificações do gentio na Guiné são extremamente curiosas. As habitações ou cubatas são dispostas circularmente. Em torno delas constroem uma espécie de muralhas com altos e grossos troncos de árvores das espécies mais resistentes, pau-carvão, pau-ferro, sibes, etc. e a dois metros pouco mais ou menos de distância pela parte de fora uma segunda estacaria de troncos mais delgados e menos humildes, mas coberta de ramos de plantas espinhosas. Grossos portões de madeira fecham estas tabancas, e os caminhos que dão serventia ao interior da praça são tão complicados e cheios de óbices que se um estranho atrevido ousar entrar por algum deles, sem perfeito conhecimento daqueles labirintos, jamais sairá do espaço compreendido entre as duas paliçadas, por mais esforços que faça.”

Relata a passagem por uma povoação destruída e incendiada pelos Biafadas. É o momento propício para o autor tecer observações sobre gente importante da região:

“Já que falámos dos Biafadas ou Biafares, vem talvez a propósito dizer o que sabemos acerca de Mahmad-Jolá, o chefe de uma tribo que tanto concorreu para o abandono das feitorias do rio Grande. Conta-se que em certa ocasião, Mudi-Yaiá, fazendo guerra aos Biafadas, aprisionara bastante gente, e entre elas uma criança dos seus nove aos dez anos, viva, inteligente, simpática.
Mudi-Yaiá afeiçoou-se a esta criança, e levou-a para a sua companhia, dando-lhe mais tarde um lugar importante nos seus exércitos. Anos depois, esta criança, já um homem feito, quando entrava em qualquer conflito gentílico, tinha sempre o ensejo de se distinguir, já pelo seu valor pessoal, já pela perícia com que dirigia as suas hostes; e Mudi-Yaiá, satisfeitíssimo com o seu pupilo, enchia-o de presentes e até de mimos.

"Um dia os Biafadas atacaram os Fulas. Fizeram-se grandes combates, arrasaram-se muitas tabancas e fizeram numerosos prisioneiros de parte a parte. A sorte desta vez foi favorável aos fulas, e Mahmad-Jolá havia-se distinguido nos recontes em que entrara. Mudi-Yaiá, exultante de alegria, elogia-o publicamente, e conta-se que nessa ocasião solene lhe dissera:
- Bateste-te como um valente, é pena que sejas um Biafada!

"Mahmad-Jolá ouviu a sua triste história e a dos seus, silencioso e com as lágrimas a marejar-lhe os olhos, foi, dizem, nessa ocasião, que concebeu o arrojado plano de fujir e apresentar-se ao régulo dos Biafadas, seu legítimo rei e senhor!

"Apresentou-se ao chefe dos Biafadas e ofereceu-lhe a sua perícia na arte da guerra, jurando morrer ou exterminar a maldita raça Fula!”


O que importa saber é que Mahmad-Jolá passou a partir de então a atacar feitorias do rio Grande, com o fim exclusivo de roubar e até matar.

Costa Oliveira vai agora descrever o itinerário para Damdum, e dirá adiante que nesta povoação ainda lá estava a comissão francesa, emprestou-se dinheiro Monsieur Brosselard para contratar alguns carregadores para a sua viagem de regresso a Buba. E de novo este espantoso espírito observador do oficial da Armada vem ao de cima:

“De Chequeúel para Mahmed-Djimi o aspeto do país começa a modificar-se. Já tivemos que subir um monte de 160 metros de altura acima do planalto em que caminhávamos, monte conhecido com o nome de Deballara. Do cume deste monte percebem-se os rios Cogon e Kolibá. Pegadas de elefantes e grandes antílopes abundam nestas paragens. A água é magnífica e a temperatura média menos elevada 21ºC. Nas margens das ribeiras abundam árvores, e nas colinas e planícies o pau-carvão, o pau-ferro, o pau-sangue, o bambu e o algodoeiro-silvestre. Os seus habitantes são todos, ou quase todos, escravos de Mudi-Yaiá, e aproveitam sempre as ocasiões favoráveis para fugirem ao jugo daquele poderoso tirano. No caminho encontrámos depois algumas destas desgraçadas famílias, que se dirigiam também para as bandas de Contabane.”

Abasteceram-se em Damdum de mantimentos a troco de contas de coral, missanga e dinheiro. No dia 15, estiveram a determinar as posições geográficas do Cogon e no dia seguinte o Kolibá. Agora um aspeto curioso que ele escreve:

“Corubal, Kolibá, Kokoli e Koli são diferentes nomes do mesmo rio, dados nas diversas zonas por onde corre. É sempre um grande rio de 200 ou 300 metros de largura. Passa por Kadé, e dizem nascer nas altas montanhas do Futa-Djalon; é fundo, navegável muitas milhas pelo sertão dentro e despenha-se de 4 metros de altura próximo de Consinto (não será Cusselinta?).
De Mahmed-Djimi para o Kolibá, observa o oficial, não há vereda trilhada pelo pé do homem, caminha-se através do mato que, facto notável, pode considerar-se divido em três zonas distintas, atenta a natureza da vegetação que nelas predomina, sendo a primeira de gramíneas, a segunda de bambus e a terceira uma floresta virgem cheia de plantas espinhosas, nas quais rasgámos as carnes e deixámos pedaços de fato!”


Não menos interessante é a observação que ele faz sobre o rio Geba:

“Para mim é ponto de fé que o futuro da Senegâmbia portuguesa está ligado a este rio. Geba e Damdum são pontos estratégicos e importantes do Sertão e, se fossem convenientemente guarnecidos e defendidos, assim como Sambel-Nhantá, S. Belchior e mais alguns no Corubal, o comércio, à sombra desta proteção havia de desenvolver-se rapidamente e Bissau poderia ser, num futuro não muito remoto, o empório daquela rica e extensa região.”

Julga importante dar-nos uma outra informação: Mamadu Paté, irmão de Bacari Guidali, mandado assassinar em 1886 por Mudi-Yaiá, domina todo o território ente Geba e Damdum e não consente que os Fulas de Yaiá, seu inimigo, viagem neste seu território. E aproveita para tecer outra consideração:

“Se nós tivéssemos a habilidade de promover a paz entre aqueles dois potentados, e conseguíssemos estabelecer um posto militar em Damdum, o comércio que por ali passa não poderia derivar-se para Geba, principalmente no tempo seco?”

E volta a tecer considerações sobre a presença portuguesa, propõe pontos a fortificar: Farim, Geba, Buba, Damdum, Bolor, Bissau e a colónia do rio Grande de Bolola, e pontos intermédios tais como S. Belchior, Sambel-Nhatá, no rio Geba, e Gampará, no Cacheu. Às duas horas da tarde do dia 18 abalava a comissão portuguesa de Damdum. 

“Na vanguarda da extrema linha de carregadores, levada por um cabo de caçadores, tremulava a bandeira nacional, respeitada por todos e testemunha insuspeita de que nunca se praticara um ato indigno!”

Carta da Guiné Portuguesa, século XIX, Arquivo Histórico-Ultramarino
Carta da província da Guiné, 1912
Carta da colónia da Guiné, 1933
Antiga Sede do Banco Nacional Ultramarino em Bolama, posterior Hotel do Turismo, hoje completamente desaparecido
Atual edifício do Centro de Formação Pesqueira de Bolama. Imagem retirada do blogue Alma do Viajante, com a devida vénia
Imagem do antigo quartel de Bolama, retirada do blogue Alma do Viajante, com a devida vénia

(continua)
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Notas do editor:

Post anterior de 17 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25080: Historiografia da presença portuguesa em África (404): Um documento assombroso: "Viagem à Guiné Portugueza", por Costa Oliveira (2) (Mário Beja Santos)

Último post da série de 22 DE JANEIRO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25098: Historiografia da presença portuguesa em África (405): voyeurismo, exotismo, sexismo e racismo na exposição colonial do Porto de 1934: uma reportagem do jornalista de "O Comércio do Porto", Hugo Rocha (1907-1993), publicada no "Boletim da Sociedade Luso-Africana do Rio de Janeiro"

quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Guiné 61/74 - P24978: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (6): Moçambique: monumento aos heróis de Magul (8 de setembro de 1895)... Guiné: o rio Grande a que aportaram as caravelas portuguesas em 1446 não era o Casamança mas o Geba: nele foi observado o fenómeno do macaréu

 


"Moçambique - Monumento de Magul.  Comemorando o combate de 8 de setembro de 1895, no qual com Mousinho de Albuquerque, tomaram parte, entre outros oficiais, os srs, General Freire de Andrade e Paiva Couceiro"

(Cortesia de Hemeroteca Digital de Lisboa)
 

Detalhe: "À memória dos soldados portugueses aqui mortos pela Pátria, 
em 8 de setembro de 1895"



Diretor: Oliveira Tavares; editor: Joaquim Araújo; propriedade: Empresa de Publicidade Colonial, Lda. 


1. Lá descobrimos mais um pequeno artigo sobre a Guiné: da autoria do eng. agr. Armando Cortesão,  foi publicado no nº 14, de 27 de novembro de 1924, da "Gazeta das Colónias" (será nomeado no ano seguinte Agente Geral das Colónias), e diretor do boletim da Agència Greal das Colónias). 

Com os conhecimentos de cartografia, mostra-nos que o rio a que as caravelas portugueses chegaram em 1446, sob o comando de Fernão de Vilarinho  e Estêvão Afonso foi o rio Geba, e não o Casamança, a que os cronistas da época chamavamo Rio Grande, e onde observaram o fenómeno do macaréu...






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Nota do editor:

Último poste da série > 18 de dezembro de  2023 > Guiné 61/74 - P24969: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (5): Angola, Companhia do Amboim: a roça "Ajuda e Amparo"... E propaganda da Guiné, por Armando Cortesão: "Ainda há 10 anos Bissau era um pequeno povoado, cercado por uma muralha e ai do europeu que dela se atrevesse a afastar-se umas centenas de metros"...