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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Guiné 61/74 - P22288: Consultório militar do José Martins (67): “Companhias de Caçadores Especiais” - Unidades de Infantaria criadas em 1959, que iriam ter como missão principal, a defesa das Províncias Ultramarinas - Parte I


O nosso camarada José Martins (ex-Fur Mil TRMS, CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), em mensagem de 14 de Junho de 2021, enviou-nos mais um dos seus trabalhos de pesquisa histórica, desta vez dedicado às antigas Companhias de Caçadores Especiais, as primeiras Unidades militares a serem enviadas para a Guerra do Ultramar no início dos anos sessenta.


(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 15 DE JUNHO DE 2021 > Guiné 61/74 - P22284: Consultório militar do José Martins (66): Implementação do Estatuto do Antigo Combatente - Actualizações

domingo, 14 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19977: Dando a mão à palmatória (31): o A. Marques Lopes, coronel DFA, reformado, um dos históricos da Tabanca Grande, não é atirador de artilharia mas... de infantaria. Pedido de desculpa ao próprio e aos demais "infantes"...


Lisboa > Jantar de Natal 2007 > Os quatro magníficos da CART 1690, todos eles alferes milicianos ... atiradores de infantaria !

Ao fundo, estão o Domingos Maçarico, à esquerda, e o Alfredo Reis, à direita. Em primeiro plano, está o António Moreira, à esquerda, e o António Marques Lopes, à direita. 

 Os quatro são membros da nossa Tabanca Grande, o que, salvo erro, é caso único: a CART 1690 é a única a "fazer o pleno" em matéria de alferes milicianos, inscritos formalmente na lista dos amigos e camaradas da Guiné, que se sentam à sombra do nosso poilão.


Foto (e legenda): © A. Marques Lopes (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Mensagem de A. Marques Lopes, um dos "históricos" da Tabanca Grande: coronel inf, DFA, na situção de reforma, foi alferes miliciano da CART 1690 (Geba, 1967/1968) e da CCAÇ 3 (Barro, 1968), era membro, em 2005, da direção da delegação do norte da Associação 25 de Abril (A25A), e é em termos históricos, o nosso quarto grã-tabanqueiro mais antigo, depois do fundador, Luís Graça,  do Sousa de Castro e do Humberto Reis; entrou para a nossa tertúlia em 14/5/2005; é autor de "Cabra-Cega: do seminário para a guerra colonial" (Lisboa, Chiado Editora, 2015), autobiografia escrita sob o pseudónimo João Gaspar Carrasqueira, que conta a história de António Aiveca; tem 242 referências no nosso blogue: 

Data: sábado, 13/07/2019 à(s) 11:33

Assunto: correcção

Caríssimo amigo Luís Graça

Tenho lido, sempre que se referem a mim, que sou de Artilharia. Calculo que será porque estive na CART1690. Mas não sou, sou, sim, de Infantaria.

Estive na EPI no chamado 1º Ciclo do COM, era, digamos, a recruta. Depois dele,  os chamados cadetes eram enviados para a Escola Prática de Artilharia (EPA), em Vendas Novas, para a Escola Prática de Cavalaria (EPC), em Santarém. Havia alguns que iam para Lamego para os Comandos, alguns para Santa Margarida para paraquedistas e outros, os felizardos com cunhas, para a Administração Militar. 

E aqueles (no meu curso, foi a maioria) que continuavam em Mafra, na EPI,  para tirar a especialidade de Atiradores de Infantaria, e outros, menos, que tiraram de Armas Pesadas ou de Reconhecimento de Infantaria. Era o chamado 2º Ciclo do COM. 

No meu caso estive sempre em Mafra, tive em ambos os Ciclos (foram cerca de 6 meses) o mesmo instrutor, o então tenente Chung Su-sing (actualmente Coronel Comando reformado, infelizmente agora sofrendo de alzheimer). E saí de lá com a especialidade de Atirador de Infantaria.

O que sucedia é que cada Arma, durante a guerra colonial, era encarregada de formar companhias para actuarem no terreno. Os comandantes dessas companhias tinham de ser, obviamente, da Arma, mas os alferes não. Foi o caso da CART1690: o capitão Guimarães era de Artilharia mas os quatro alferes eram de Infantaria.

Não há problema nenhum, é claro, mas penso que de futuro será melhor pôr como é: que eu sou de infantaria.

Abraço

ML

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Nota do editor:

quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19108: 'Então, e depois? Os filhos dos ricos também vão pra fora!'... Todos éramos iguais, mas uns mais do que outros... Crónicas de uma mobilização anunciada (1): Valdemar Queiroz (ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)


Guiné > Região de Bafatá > Contuboel > Centro de Intrução Militar (CIM) > CART 2479 / CART 11 > c. março/maio de 1969 > O instrutor (Valdemar Queiroz) e o recruta (Umaru Baldé, "menino de sua mãe")... Afinal, todos portugueses, todos iguais, mas uns mais do que outros...

Foto: © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada C. Martins (ex-alf mil art, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael Gadamael, 1973/74),  citava há tempos o seu avô que, na inauguração da escola lá da terra, em pleno Estado Novo, ouviu da boca de um manda-chuva esta "verdade sociológico": "O escritório, para o rico; a enxada, para o pobre"... No fundo, é uma variante do ditado alentejano: "A rica teve um menino, a pobre pariu um moço"...

Não nascemos nem morremos iguais, embora sejamos todos feitos - com a sua licença, caro leitor -,  da mesma "merda"... E, ao longo da vida, há outros fatores que nos continuam a diferenciar...No caso da tropa, da arma e da especialidade, e da mobilização para o Ultramar, o estatuto sócio-económico dos pais, as habilitações literárias, os testes psicoténicos, o mérito, a instrução militar e o famoso factor C [, a "cunha") e, já agora, a "sorte" e os "santinhos"... ajudam a explicar muita coisa...

Com graça, mas naturalmente de forma redutora,  o C. Martins dizia que o "pobre" ia para atirador de infantaria, o "remediado" ia para cavalaria, o "remediado com estudos" para a artilharia... e os  "ricos" e os gajos com cunhas, esses, desenrascavam-se muito melhor: tinham especialidades que os livravam de ir para o Ultramar ("ir para fora"...) ou ficavam no "ar condicionado" de Bissau, Luanda ou Lourenço Marques... 

O retrato pode ser grosseiro, mas, na época da guerra colonial, não andaria muito longe da "verdade sociológica"... Na sociedade portuguesa ser "filho de algo" sempre foi, historicamente, importante, se não mesmo decisivo. O mérito é uma noção recente, capitalista, burguesa, coisa de há menos de 100 anos... E a "cunha" (o factor C)  era como as bruxas: que as havia, havia, e toda a gente "mexia os seus pauzinhos"...

A este propósito o nosso editor, LG, lançou este desafio (que alguns poderão interpretar como uma "provocação", mas que não é: é amtes uma "provação", ou melhor, uma "prova de vida"...):

Camaradas: toda a gente, fosse "rico", "remediado" ou "pobre", do Exército, da Marinha ou da FAP, tem opinião sobre este "tópico"... Tirem a "máscara" e comentem... 50 anos depois não vale a pena levar segredos para a cova... E um gajo, a ter de confessar-se, deve ser agora, aqui e agora, à sombra do poilão da Tabanca Grande... antes do Parkinson, do Alzheimer, do AVC, da morte macaca ou do cancro da próstata... (De que Deus nos livre!)

Já começaram a aparecer os primeiros escritos, sob a forma de comentários... Outros se seguirão, mais curtos ou compridos, mais finos ou mais grossos... Vamos dar início a uma série, aproveitando a frase da mãe do Valdemar Queiroz que, resignada, comentou, ao receber a notícia da sua mobilização para o Ultramar:  "Então, e depois?... Os filhos dos ricos também vão pra fora!"...

De qualquer modo, há uns largos anos atrás, em 2009, tínhamos criado uma série intitulada "O trauma da notícia da mobilização"... Publicaram-se então nove postes...   A nova série de hoje  dá continuidade a essa...  LG


2. Depoimento do Valdemar Queiroz [ex-fur mil at art, CART 2479 /CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70] [, foto atual à esquerda]

Sobre cunhas, principalmente em Especialidades com pouca rotação/mobilização (ex.: munições de artilharia, topógrafo de artilharia, transmissões de artilharia), a cunha estava feita para a Especialidade e, depois, se corresse mal havia os 'mata pra fora', ou seja quando havia um com boa nota e não se importava, a troco duns contos de réis, de ir 'pra fora' no lugar dele.

Aconteceu no RAP3, Figueira da Foz, com um cabo miliciano. meu conhecido, e um jogador de futebol dum clube grande. 

Mas, isto de Santa Bárbara, padroeira da Artilharia, bem se podia rezar por ela, que em novembro de 1967, todos os que estavam na EPA, Vendas Novas, ficaram com todas as fardas ensopadas durante três dias.

Quanto ao dia do conhecimento da mobilização estava no RAP3, já com 16 meses de tropa e não me lembro como foi passado. Apenas me recordo, ainda com muita mágoa, ter telefonado à minha mãe e ela me dizer:
- Então, e depois?, os filhos dos ricos também vão pra fora!...

Pobre coitada,  assim já tinha motivo pra rezar a todos os santinhos. (*)

Valdemar Queiroz
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terça-feira, 16 de outubro de 2018

Guiné 61/74 - P19106: (Ex)citações (345): a Pátria, a classe social, a cunha, o mérito, os "infantes"... e que Santa Bárbara nos proteja!... (C. Martins / Luís Graça)


Imagem extraída do sítio Centro Pai João de Angola, Maringá, Paraná, Brasil (com a devida vénia...). Este portal está ligado à religão Umbanda (, afro-brasileira). Mártir cristã, nascida (c. 280) e morta (c. 317) em Nicomédia (atual Izmit, Turquia),  Bárbara de Nicomédia (, hoje Santa Bárbara) é venerada por católicos, cristãos ortodoxos e seguidores das religiões afro-brasileiras (em especial a Umbanda). É padroeira dos artilheiros, mineiros e dos que lidam com o fogo (bombeiros); protetora contra tempestades, raios, trovões, incêndios e explosões. É particularmente popular, o seu culto ou devoção, em Portugal e no Brasil. Mas, lá diz o ditado, "só se lembram de Santa Bárbara quando troveja"...

Oração a Santa Bárbara, reproduzida na Wikipédia, em língua portuguesa:

"Santa Bárbara, que sois mais forte que as torres das fortalezas e a violência dos furacões, fazei que os raios não me atinjam, os trovões não me assustem e o troar dos canhões não me abalem a coragem e a bravura. Ficai sempre ao meu lado para que possa enfrentar de fronte erguida e rosto sereno todas as tempestades e batalhas de minha vida, para que, vencedor de todas as lutas, com a consciência do dever cumprido, possa agradecer a vós, minha protetora, e render graças a Deus, criador do céu, da terra e da natureza: este Deus que tem poder de dominar o furor das tempestades e abrandar a crueldade das guerras. Por Cristo, nosso Senhor. Amen."

1. Comentário de C. Martins  (ex-alf mil art, cmdt, 23º Pel Art, Gadamael  Gadamael, 1973/74), com data de 11 de fevereiro de 2014  (*)


"O rico é para o escritório...O pobre é para a enxada"...

Para lá caminhamos... O gajo que proferiu esta pérola, na inauguração da escola da minha terra em 1938, ia levando uma carga de porrada, disse-me o meu Avô.

Não estive em Tavira [, no CISMI,] mas parece-me que aquilo era destinado para "infante",  defensor da "pátria", sofrer...

O "pobre", ou sem cunhas ía para "infante", defender a... a...isso..

O "remediado" para cavalaria. O "remediado intelectual"...ah, ah.. para artilharia..

O "rico", ou com uma grande cunha,  para aquelas especialidades... mais ou menos..., não precisava defender a dita... que isso é para "pobre".

Vivam os infantes e também Santa Bárbara.

Ámen!

C. Martins

2. Comentários de LG (*):

(...) O "pobre" ou sem cunhas ía para "infante"...defender a... a...isso.. O "remediado" para cavalaria. O "remediado intelectual"...ah ah... para artilharia... O "rico",  ou com uma grande cunha,  para aquelas especialidades...mais ou menos... não precisava defender a dita... que isso é para "pobre" (...)

C. Martins: levantas uma questão interessante, que deveria merecer a atenção de sociólogos e historiadores da guerra colonial: a composição e a estratificação sociais das Forças Armadas Portugueses...

Em tempo de guerra, quem é que ia integrar as fileiras do Exército, Marinha e Força Aérea ?... Quem é que preenchia os "quadros de complemento" do Exército ? Ou quem é que ia para a "Reserva Naval" ?

Não sei exatamente em que altura foram introduzidos os "testes psicotétnicos"... A noção relativa de "mérito" já existia, mas eu tenho a impressão de que uma "valente cunha" se sobrepunha a tudo e a todos... E a "cunha" era usada a todos os níveis, ou pelo menos por quem podia... Por exemplo, às vezes a melhor cunha era ser-se filho... do rendeiro de um coronel ou general, lá do Norte... Ou de um político influente lá da terra... Ou então ter-se 200 contos, em "cash", para pagar a um médico do Hospital Militar Principal... Com 200 contos, comprava-se um apartamento em Lisboa...

Eu sei que o assunto é delicado, e que quem foi à Guiné não tem  em princípio histórias para contar sobre este tópico, na primeira pessoa do singular... Quem foi parar com os quatro costados à Guiné, como infante, artilheiro ou cavaleiro, é porque decididamente não tinha "cunha".... Mas no nosso blogue não há tabus... Ou não devia haver. (...)

 (...) "O soldado de infantaria é aquele que vive, vigia, sofre e combate na lama, no pó e no sangue, aquele que tirita sem abrigo e sofre privações, fadigas e horrores de toda a espécie. É aquele que no ardor da luta vê o inimigo cara a cara, que não combate só com as suas armas, mas com toda a sua alma. Ele é a verdadeira sentinela da Pátria.” 

[Fonte: "Guia do Instruendo",  CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, c. 1968] (*)

Confesso que nunca tinha lido (ou já não me lembrava de) esta lapidar e dramática definição de um infante... Cai que nem uma luva em muitos de nós que, infantes ou não, conhecemos o duro teatro operacional da Guiné, as picadas, as savanas arbustivas, as florestas galeria, os rios e braços de mar, as bolanhas...

Só pode ser da autoria de um poeta, que tenha feito a guerra das trincheiras em La Lyz, em 1918... Na guerra de contraguerrilha era difícil ficar de cara a cara com o IN, a não ser quando morto ou aprisionado... Quanto ao resto, estão lá os ingredientes todos: o lodo, o tarrafe, o sangue, a merda, mais os mosquitos, as formigas, as abelhas, as balas das "costureirinhas", as minas, os roquetes, as morteiradas... (**)

Camaradas: toda a gente, fosse "rico", "remediado" ou "pobre", do Exército, da Marinha ou da FAP,. tem opinião sobre este "tópico"... Tirem a "máscara" e comentem... 50 anos depois não vale a pena levar segredos para a cova... E um gajo, a ter de confessar-se, deve ser agora, aqui e agora, à sombra do poilão da Tabanca Grande... antes do Parkinson, do Alzheimer, do AVC, da morte macaca ou do cancro da próstata... (De que Deus nos livre!)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 10 de fevereiro de 2014 > Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)

(**) Último poste da série > 30 de setembro de 2018 > Guiné 61/74 - P19058 (Ex)citações (344): os canhões... de Bigene!... No tempo da CART 3329 (1970-1972) e depois no meu tempo, de outubro a dezembro de 1972, havia 3 obuses 14 (140 mm) e 5 morteiros 81 (Eduardo Campos, ex-1º cabo trms, CCAÇ 4540, Cumeré, Bigene, Cadique, Cufar e Nhacra, 1972/74)

segunda-feira, 15 de janeiro de 2018

Guiné 61/74 - P18214: Pelotões de Morteiros mobilizados para o CTIG: elementos históricos e estatísticos (Jorge Araújo)



 Oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue 

Os modelos de Morteiros usados no CTIGuiné foram: o morteiro médio Brandt de 81mm (francês), imagem acima, e o morteiro 10,7 cm (americano).

Sobre o primeiro modelo consultar, também, o sítio Museu da Vitória - Brigadeiro Nero Moura




Jorge Alves Araújo, ex-fur mil op esp/ranger,  CART 3494 (Xime-Mansambo, 1972/1974)


PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) - ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS [CORRIGIDOS E AUMENTADOS]

por Jorge Araújo



1. INTRODUÇÃO

Na condição de ex-combatente miliciano no TO do CTIGuiné (1972/1974), determinada pela conjuntura política vigente nesse tempo ou nessa época, cativa-me participar neste plenário virtual (electrónico) a que o seu fundador deu o nome de «Tabanca Grande». E é Grande, de facto, como provam os dezoito mil postes contabilizados no dia em que se atingiu a expressiva cifra de dez milhões de visitas ou visualizações (21Nov2017 às 18h47). Pela quantidade do seu valioso espólio estamos perante um verdadeiro Serviço Público aberto a todas as comunidades… e que continua o seu processo de crescimento.

Por outro lado, como membro tertuliano e comungando dos mesmos objectivos didácticos do seu colectivo, cativa-me também poder partir da percepção do já acontecido, do já sentido e do já divulgado ou publicado, e adicionar-lhe algo mais, o que anda disperso, ou aquilo que resulta do seu aprofundamento, estudo ou investigação nesta área – a da ciência militar – da qual possuo uma reduzida competência teórica.

Dito isto, o presente trabalho nasce de um desejo/pedido do editor e camarada Luís Graça endereçado
ao nosso novo Tabanqueiro (761.º), Carlos Vieira, ex-fur mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), a quem envio um abraço de boas vindas. O pedido foi formulado no P17993, em comentário, nos seguintes termos… “Carlos, quantos Pelotões de Morteiro passaram pelo TO da Guiné, entre 1961 e 1974? Podemos saber, mas para já só temos referências a 19 Pel Mort, e nalguns casos muito escassas…”.

Sem prejuízo da participação do camarada Carlos Vieira neste ou noutros temas, pois será sempre bem-vindo, o que acontece é que este estudo, sobre este mesmíssimo levantamento, eu há já algum tempo o tinha realizado.

Ao estruturar o presente texto, encontrei um trabalho académico semelhante, mas mais completo pois incluía os três TO, realizado por um estudante da Academia Militar que, como é do conhecimento público, é uma Unidade Orgânica Autónoma do Instituto Universitário Militar.

Trata-se do “Relatório Científico Final do Trabalho de Investigação Aplicada” com o título: «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», sendo seu autor o Aspirante de Infantaria José Luís Pires Ferreira, estudo concluído em Julho de 2015 (capa ao lado).

Ao confrontar este trabalho académico com o meu, constatei existiram discrepâncias nas estatísticas, pelo que hesitei sobre qual deles deveria fazer uso neste fórum: o académico ou o meu. Mas, enquanto membro da academia, na qualidade de docente universitário, não podia aceitar que se continuasse a manter os erros históricos e estatísticos, por uma questão de princípio deontológico (a segunda condição).

Assim, partindo da mesma premissa temática, decidi acrescentar o que estava em falta, e corrigir o que não estava bem, apresentando a competente justificação para cada caso. Por este facto, espero ser perdoado pelo Oficial de Infantaria José Ferreira.

Este seu trabalho pode ser consultado no poprtal RCAAP - Repositórios Científicos de Acesso Aberto de Portugal


2. O PORQUÊ DESTA INVESTIGAÇÃO

José Ferreira, autor do estudo, no ponto 1.2 - Importância da investigação e justificação do tema -, refere que “dos trabalhos publicados em Portugal sobre a história da guerra de África (1961-1974), nenhum abordou a mobilização das unidades da Arma de Infantaria, que foram constituídas no dispositivo territorial do Exército, do Continente, da Madeira e dos Açores, e depois enviadas para os três Teatros de Operações.

O estudo publicado pela comissão para o estudo das campanhas de África (CECA) e a obra “Os anos da guerra Província Ultramarina” [“Os Anos da Guerra Colonial”] da autoria de Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso, reúnem dados e analisam diversas dimensões sobre a guerra, mas não foram estudos dedicados especificamente à mobilização. Julgamos pertinente analisar o esforço de mobilização para cada um dos TO, a sua evolução ao longo do período da guerra, bem como aspetos particulares sobre a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria.

O presente trabalho visa revelar conhecimento novo e permitir retirar conclusões sobre os períodos de maior ou menor esforço de mobilização para cada TO, bem como conhecer a tipologia de unidades mais utilizadas durante o conflito ultramarino detalhando este processo, relativamente a cada um dos três TO. Este trabalho vem assim enriquecer o historial da Arma de Infantaria.

2.1 RESUMO DA INVESTIGAÇÃO

No trabalho de Investigação Aplicada acima referido, José Ferreira apresenta-o fazendo um resumo do que nele aborda. “Através desta investigação pretende-se caracterizar a tipologia das unidades mobilizadas pela Arma de Infantaria, com base no recrutamento e mobilização feito em Portugal continental e nos arquipélagos dos Açores e Madeira, bem como compreender o esforço de mobilização realizado por esta arma, quer através do ritmo de mobilização ao longo do período da guerra, quer ao nível das unidades territoriais que mobilizaram forças durante a guerra para cada um dos Teatros de Operações [TO], durante o período em estudo. É de relevante pertinência a realização desta investigação, pela possibilidade de retirar conclusões sobre os períodos de maior e menor esforço de mobilização (não considerando as unidades de intervenção e as de guarnição normal) em cada Teatro de Operações bem como conhecer a tipologia das unidades empenhadas durante o conflito ultramarino”.

2.2 MOBILIZAÇÃO DE PELOTÕES DE MORTEIROS PARA A GUINÉ

Encontrando-se o trabalho organizado por TO, no ponto 5.5 é apresentada a competente estatística, relativa à Guiné, de modo diacrónico (figura 25) e comentados os resultados obtidos.

Assim, segundo o autor, “o início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1962 [errado] e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, nove unidades foram enviadas para o TO da Guiné [errado]. [Omite 1970]. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados 60 PelMort [errado].

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Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.




2.3 ELEMENTOS HISTÓRICOS E ESTATÍSTICOS CORRIGIDOS

De seguida, apresentar-se-ão quadros estatísticos por anos, retirados do capítulo dos «Apêndices» [AP-37/38], onde se assinala as discrepâncias encontradas entre as duas investigações, a académica (Academia Militar) e a empírica (a minha).

Como elementos de prova, indicam-se as respectivas fontes.






"Diário do Alentejo", 18 de julho de 1961

Fonte: Blog BC 236, Guiné 61/63 (com a devida vénia)






Breve história do Pelotão de Morteiros 2138

“Tudo começou no dia 2 de Junho de 1969 em Chaves, sendo a unidade mobilizadora do Pelotão de Morteiros 2138 o Batalhão de Caçadores 10. Até ao dia 5 de Julho decorreu a instrução de adaptação operacional [IAO] na região de Boticas. De 7 a 16 de Julho foram gozados dez dias de licença antes do embarque para o então chamado Ultramar Português. No dia 17 teve início a segunda parte do IAO estando previsto para o dia 30 de Julho, no navio “Índia” o embarque para a Guiné, tendo o mesmo sido adiado para 13 de Agosto por avaria no navio. A viagem fez-se a bordo do navio “Uíge”, com chegada à Guiné no dia 18 e desembarque a 19 de Agosto de 1969 pela manhã”

[http://pelotaodemorteiros2183.blogs.sapo.pt/1706.html (de notar que os últimos dois algarismos do número do pelotão estão invertidos)].





Aproveitando o texto que serviu de base à análise estatística da figura 25, esta poderia ser, em função das correcções, a seguinte:

“O início da mobilização de PelMort iniciou-se em 1961 e até 1967 o ritmo de mobilização foi pouco variável. Em 1969 ocorreu a maior mobilização desta tipologia, dez unidades foram enviadas para o TO da Guiné. Em 1970 a mobilização foi atípica só com duas unidades. A partir de 1971 até 1973 o número de unidades mobilizadas foi sempre decrescente. Pela análise do gráfico seguinte verifica-se que foram mobilizados um total de 63 PelMort.


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Fonte: Adaptado de: Ferreira, José L. P. - «Estudo estatístico sobre a mobilização de unidades da Arma de Infantaria durante a Guerra de África (1961-1974)», op.cit. p 43.



3. PELOTÕES DE MORTEIROS MOBILIZADOS PARA A GUINÉ (1961-1974) COM E SEM REFERÊNCIAS NO NOSSO BLOGUE

Contabilizado, até à presente data, o número de Pelotões de Morteiro referenciados no blogue da «Tabanca Grande», este é igual a 19 (dezanove), a que corresponde uma percentagem de 30.2%, quando comparado com o universo dos Pelotões de Morteiros mobilizados para a Guiné (1961/1974). Com mais cinco unidades atingiremos 1/3.

A) - Pelotões de Morteiros com referências no Blogue (ñ19=30.2%)

16 – 17 – 19 – 912 – 942 – 1192 – 1208 – 1209 – 1242 – 2005 – 2106 – 2117 – 2138 – 2268 – 2297 – 4275 – 4574 – 4575/72 – 4580.

Pel Mort 1028 (1)
Pel Mort 1192 (4)
Pel Mort 1208 (2)
Pel Mort 1209 (2)
Pel Mort 1242 (2)
Pel Mort 16 (1)
Pel Mort 17 (1)
Pel Mort 19 (27)
Pel Mort 2005 (2)
Pel Mort 2106 (12)
Pel Mort 2117 (1)
Pel Mort 2138 (3)
Pel Mort 2268 (9)
Pel Mort 2297 (1)
Pel Mort 4275 (9)
Pel Mort 4574 (31)
Pel Mort 4575/72 (3)
Pel Mort 4579 (1)
Pel Mort 4580 (6)
Pel Mort 4581 (1)
Pel Mort 912 (27)
Pel Mort 942 (8)

B) - Pelotões de Morteiros sem referências no Blogue (ñ44=69.8%)

18 – 41 – 916 – 917 – 918 – 978 – 979 – 980 – 1028 – 1029 – 1039 – 1040 – 1041 – 1042 – 1085 – 1086 – 1087 – 1191 – 1210 – 1211 – 2004 – 2005 – 2006 – 2105 – 2114 – 2115 – 2116 – 2172 – 2173 – 2174 – 2267 – 2294 – 2295 – 2296 – 3020 – 3030 – 3031 – 3032 – 4272 – 4273 – 4274 – 4277 – 4579 – 4581.

Aproveito esta oportunidade para reproduzir oito símbolos de Pelotões de Morteiro (retirados da Net) que ainda não têm referências no nosso blogue [, vd.  imagens no topo deste poste], com a expectativa e/ou esperança de, num futuro próximo, possamos receber algumas histórias das suas passagens pelo CTIG, pois aconteceram em locais e épocas diferentes. Aguardemos!


Obrigado pela atenção.
Com forte abraço de amizade,
Jorge Araújo.

27NOV2017.

domingo, 18 de maio de 2014

Guiné 63/74 - P13159: (Ex)citações (232): "Tristes artilheiros solitários" no meio dos infantes... (Vasco Pires, (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

1. Mensagem de do 7 do corrente do nosso camarada Vasco Pires (ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72; membro da Tabanca Grande, a viver na diáspora, Brasil]


"Vasco: Se calhar tens que ser... mais explícito... Onde é que o "cerne" da tua irresponsabilidade... Nem toda a malta conhece a "cultura" da artilharia... Abração, Luis" (*)


Caro Luis,

Cordiais saudações.

O teu oportuno comentário, sobre um post meu; me alertou que, realmente, a maioria dos Camaradas não está familiarizada com a "cultura" da Artilharia.

Logo que saímos de Vendas Novas, onde já éramos poucos, fomos para os quartéis, com muitos de nós dando instrução básica de Infantaria, para futuras CART (nominalmente).

Já éramos poucos, e assim continuava quando normalmente três de nós (caso da Guiné) éramos agregados a uma Companhia ou Batalhão de Infantaria, fazendo humor fácil com a letra de uma canção antiga éramos "...tristes Artilheiros solitários..." sem a "âncora" de Companhias ou Batalhões, e assim continuava quando voltávamos para casa, sem os salutares e terapêuticos convívios.

Operacionalmente, tínhamos uma formação "express" na "fábrica" de Artilheiros em Vendas Novas, diga-se de passagem com excelentes instrutores, mas com manuais dos tempos da guerra clássica; eu por exemplo, fui treinado para, supostamente, ser observador e para fazer a ligação do Batalhão ou Brigada com a Artilharia Divisionária. Então, éramos "jogados" em África, numa guerra de guerrilhas, que poucos Oficiais acima de Major, faziam ideia do que fosse.

Na Guiné, a tropa era Africana, nos Pelotões onde estive, éramos somente três da tropa Continental.

Quanto ao material era de bom a excelente, principalmente os Obuses 10,5, porém, mais uma vez, "hardware" e "software", transplantados da gelada Europa, para as tórridas e húmidas bolanhas dos deltas dos rios da África Ocidental.

Não irei discorrer sobre a complexidade do tiro de Artilharia, pois, o Nobre Artilheiro C. Martins já o fez neste Blog, com notável maestria.

Dentro do Aquartelamento, havia ordem expressa para não sair - imaginemos o efeito que teria a propaganda IN apresentar um "canhão" aprendido às NT - basicamente os trabalhos eram de ataque a bases IN, e resposta a ataques ao quartel, o que se tornou relativamente fácil para mim,  pois tive a sorte de ter uma equipe competetente ágil e leal.

Quando de um ataque ao quartel e o Comandante ordenava: todos para as valas e abrigos, o Artiilheiro era o único de pé a descoberto, não porque fosse mais "valente", mas porque era lá, no espaldão, que se sentia seguro.

Dando apoio às tropas de Infantaria, por vezes debaixo de fogo num ambiente com poucas referências, com cartas com a precisão que todos nós conhecemos, era sem dúvida o momento de maior tensão do Artilheiro, com necessidade de decisões e cálculos rápidos, por vezes acumulando as funções de Observador, Chefe do Posto de Comando de Tiro e Comandante de Bataria.

Espero, caro Luis, ter começado a responder à tua "ordem" de Comandante desta " Grande Brigada"!!!

forte abraço a todos

E siga a Artilharia...(**)

Vasco Pires
Ex-Soldado de Artilharia (IOL)

______________

Notas do editor:

(*) Vd. 26 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P13046: O segredo de... (18): O ato mais irresponsável nos meus dois anos de serviço como soldado de artilharia (Vasco Pires, ex-alf mil art, cmdt do 23.º Pel Art, Gadamael, 1970/72)

(**) Último poste da série  > 6 de maio de  2014 > Guné 63/74 - P13107: (Ex)citações (231): O PAIGC também uma vez, em junho de 1968, "arrasou o campo fortificado de Mansambo" e "matou dezenas de soldados colonialistas", segundo a Maria Turra... Nós éramos apenas... 50 a defender-nos!.. Houve 2 feridos que não figuraram sequer no relatório: o 1º cabo cozinheiro, que se queimou na G3, e eu que me queimei no mort 60... (Torcato Mendonça, ex-alf mil, CART 2339, 1968/69)

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Guiné 63/74 - P12703: CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, Tavira, 1968: Guia do Instruendo (documento, de 21 pp., inumeradas, recolhido por Fernando Hipólito e digitalizado por César Dias) (1) : Parte I (1-6 pp.)



Tavira > CISMI (Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria) > 1969  > Encostas do Rio Gilão (ou melhor Rio Séqua, pois que o Gilão só começa depois da ponte romana...)  > 1º Pelotão da 2ª Companhia > O Carlos Silva, natural de Gondomar, foi um dos muitos camaradas que, tendo feito a recruta no RI 5, Caldas da Raínha, foi frequentar o  2º ciclo do CSM, no no CISMI em Tavira, neste caso para tirar a especialidade de armas pesadas de infantaria (canhão sem recuo, morteiro 81, metradalhadoras pesadas Browning e Breda...). Esteve lá, de 10/4/1969 até 27/6/1969. Passou ainda pelo RI 10 (Aveiro) onde foi promovido (e "praxado") como 1º cabo miliciano até ser mobilizado para a Guiné. Embarcou no "Ana Mafalda" a 17/9/1969, com os seus camaradas do BCAÇ 2879. Esteve na região do Oio, Setor de Farim.

Foto do Carlos Silva, inserida na sua página e aqui reproduzida com a devida vénia.












As seis primeiras páginas, não numeradas, do "Guia do Instruendo", usado no CISMI - Centro de Instrução de Sargentos Milicianos de Infantaria, em Tavira, na altura em que o César Dias lá fez a recruta e a especialidade (sapador) (2º semestre de 1968). O documento, de 21 páginas, era policopiado a "stencil". O César Dias mandou-nos  o documento em "power point", com 21 "slides". As páginas foram convertidas em formato jpg. O original foi-lhe dado pelo seu camarada de recruta,o Fernando Hipólito, que foi depois mobilizado para Angola, enquanto o César foi parar à Guiné.

Imagens (digitalizadas): © César Dias (2014). Todos os direitos reservados.[Edição: L.G.]


César Dias, Mansoa, 1970

1. O César Dias [,ex-fur mil sapador, CCS/BCAÇ 2885, Mansoa, 1969/71, foto à esquerda, ]  mandou-me ontem a seguinte mensagem:


Boa noite, Luis

Como tens falado de Tavira, aqui nos meus papéis e fotos encontro coisas que serão inéditas, penso eu. Esta é uma delas, um documento histórico, apanhado na altura num cesto de papéis. Um abraço, César


2. Resposta de L.G.`

Camarada César, é uma preciosidade roubada à "cesta secção"... Dou-te os parabéns por a teres salvo... Ou melhor: dou os parabéns ao teu (e nosso) camarada Fernando Hipólito que te fez chjegar o documento...  Tenho uma vaga ideia de também ter recebido (ou lido), no CISMI,  um exemplar do "Guia do Instruendo", quando lá fiz  a minha especialidade de armas pesadas, na mesma altura que tu (set/dez 1969). Vou publicar o documento em partes numa série com o teu nome...  Outra questão: tens mais fotos da instrução, do nosso tempo ?  São fotos raras... Se sim, digitaliza e manda, por favor!... Um alfbravo miliciano. Luis



Tavira > CISMI > Almoço do dia do Juramento de Bandeira > Meados de 1968 > Tony Levezinho de lado (elipse encarnada), César Dias,  de frente (a azul) e, em segundo plano, o Fernando Hipólito (a amarelo). O Hipólito, que descobriu o César Dias através do nosso blogue, foi mobilizado para Angola. O António Levezinho, por sua vez, vou conhecê-lo, mais tarde, no Campo Militar de Santa Margarida, nos princípios de março de 1969,  aquando da formação da nossa companhia (independente), a CCAÇ 2590/CCAÇ 12. Foi um dos grandes amigos que eu fiz na Guiné.

Curiosamente, não sei onde é que ele tirou a especialidade (atirador de infantaria). O Cèsar ficou no CISMI, para o 2º ciclo do CMS. Foi nessa altura que estivemos juntos. E, depois, na Guiné, estivemos perto, mas nunca nos encontrámos: ele, em Mansoa; eu (e o Tony) em Bambadinca. Ele partiu para a Guiné em 7/5/1969 e nós,  duas semanas depois... No mesmo navio, o Niassa. (LG)


Foto: © César Dias  (2010). Todos os direitos reservados

3. Comentário ao poste P12673, assinado pelo César Dias [, foto atual à direita] : 

Luís, também eu estive 6 meses em Tavira, na recruta (3ª Companhia) e na especialidade de Sapador ( 2ª Companhia), e pelos vistos estivemos no mesmo turno, com o tal tenente Esteves do qual me recordo como se divertia ao anunciar à sexta feira os cortes nos fins de semana:  "O militar é a parte válida do povo e como tal não há fim de semana para ninguém".

Eu penso que ficámos retidos algumas vezes porque foi nessa altura que Salazar caiu da cadeira.  Sobre esse Alferes [de que falas], lembro-me que era algarvio e também dava instrução de provas fisicas ao meu pelotão, Deves-te lembrar do meu pelotão, pois andavam todos com um estropo de corda ao ombro, fazia parte da farda.

Tudo o que referes avivou-me a memória já muito fraca, mas foi a parte de Tavira que conheci.



Tavira > Quartel da Atalaia > Antigo CISMI, hoje RI 1 > 1 de fevereiro de 2014 >  Belo exemplar da nossa arquitetura militar, fica situado na Rua Isidoro Pais. Imóvel em vias de classificação,segundo o excelente síio da Câmara Municipald e Tavira, de onde  se extrai, com a devida vénia, o texto abaixo reproduzido.

Foto: © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados


(..) "Quartel da Atalaia (...): Por volta de 1780, devido à transferência do Regimento de Infantaria de Faro para esta cidade, aumenta o número de efetivos militares em Tavira. O facto leva o Governador e Capitão-general do Algarve, Nuno José Fulgêncio de Mendonça Moura Barreto, a exercer a sua influência junto da corte no sentido de se construir um quartel em Tavira, capaz de alojar condignamente o regimento da cidade.

O Quartel da Atalaia, um dos mais antigos do país, é iniciado em 1795 com o beneplácito de D. Maria I, de acordo com a inscrição lapidar que encima o arco da entrada principal. A construção foi interrompida pouco tempo após o seu início, sendo apenas retomada em 1856, depois de atenuados os efeitos de uma conjuntura politica e economicamente desfavorável, de invasões francesas, de permanência da corte no Brasil e de convulsões politicas que conduziram à implantação do Liberalismo e à Guerra Civil. 

Durante este interregno os militares acolhiam-se em casas particulares até que, em 1835, na sequência da extinção das Ordens Religiosas, é entregue ao exército o antigo Convento de Nossa Senhora da Graça. Aí, rapidamente adaptaram os militares as antigas estruturas religiosas a aquartelamento militar.

Por sua vez, o Quartel da Atalaia, ainda por concluir, servia de hospital de coléricos civis por ocasião da peste que se abateu sobre a cidade em 1833. O edifício ficará concluído somente nos primeiros anos do século XX, só então para lá se transfere a guarnição de Tavira.

Trata-se de um rico exemplar de arquitetura militar. Apresenta planta retangular composta por corpos ligados em torno de um amplo pátio central interior. O maior interesse reside na fachada principal, constituída por um solene corpo central que forma a porta de armas, dois pavilhões de telhado simples de quatro águas com mansardas, terraços cercados por balaustrada e, nas extremidades, torreões com duplo telhado. 

Embora o recorte dos vãos, de inspiração barroca, revele o gosto cortesão próprio da época de D. Maria I, poderá estar aqui presente a lição da arquitetura pombalina da recém-fundada Vila Real de Santo António, em cuja implantação colaborou o engenheiro militar José Sande de Vasconcelos (1730 - 1808), destacado para o Algarve cerca de 1772 e possível autor do projeto deste quartel.

No decurso do século XX, o edifício sofre algumas alterações funcionais. Assim, em 1950 é construído um novo refeitório, em 1954 é calcetado o pátio da parada e em 1970 é adicionado um segundo piso nas alas laterais, para servir de novas casernas." (...)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Guiné 63/74 - P8889: Patronos e Padroeiros (José Martins) (22): D. Dinis - Curso de Infantaria da Escola do Exército - 1953-1956 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 7 de Outubro de 2011:

Caros amigos, boa noite
Se o "D. Diniz" fosse vivo completaria no próximo Domingo, a bonita idade de 750 anos.

Nada melhor evoca-lo neste dia, escrevendo mais um tema dos Patronos.

Bom fim de semana para todos.
José Martins



PATRONOS E PADROEIROS XXII

Curso de Infantaria da Escola do Exército – 1953/1956


Genealogia de D. Diniz. Painel existente na Confeitaria El-rei D. Dinis, em Odivelas.
© Foto José Martins


D. Diniz
Pela Graça de Deus, Rei de Portugal e do Algarve

Filho do Rei D. Afonso III e de D. Beatriz de Castela nasce em Santarém, no dia 9 de Outubro de 1261 e, bem cedo, o pai preparou-o para a governação, vindo a ser aclamado Rei em 16 de Fevereiro de 1279, com 18 anos incompletos, para um longo reinado de 46 anos, sendo o 6º Rei de Portugal e da Dinastia de Borgonha.

Cerca de três anos depois, em 11 de Fevereiro de 1282, casa por procuração com Isabel, Infanta de Aragão e com doze anos de idade, tendo a boda sido celebrada em Trancoso no dia 26 de Junho desse ano, quando entrou em Portugal. Deste casamento nasceram D. Constança de Portugal (3 de Janeiro de 1290 – 18 de Novembro de 1313) e Afonso (8 de Fevereiro de 1291 – 28 de Maio de 1357), futuro rei de Portugal.
Dada a sua longevidade, para a época, foi um monarca influente, não só no reino, mas também nas relações externas.

Ao criar um “forte sentimento de nacionalidade” foi cognominado por Duarte Nunes de Leão (n. Évora 1530 † Lisboa 1608), cronista português, como o Pai da Pátria.

À data da sua chegada ao trono, o país estava em conflito com a Igreja Católica que ele, de imediato, tentou sanar assinando um tratado com o Papa Nicolau II, jurando defender os interesses de Roma no nosso país.

Essencialmente foi um rei administrador e não guerreiro. Em 1925 entrou em confronto com Castela, mas desistiu da mesma, fazendo a paz com Castela, com a assinatura do Tratado de Alcanizes, onde foram definidas as fronteiras de Portugal, que passaram a incluir as localidades de Serpa e Moura. Por este tratado previa-se também uma paz de 40 anos, amizade e defesa mútuas, que incluía o casamento de sua filha Constança com o rei Fernando IV, de Castela.

Tendo a cultura como um dos seus interesses, apreciador de literatura e poeta notabilíssimo, instituiu a língua portuguesa como a língua oficial do país. Lisboa foi, no seu tempo, um dos principais centros de cultura da Europa e, a Corte, um dos maiores Centros literários do Península Ibérica. Pela “Magna Charta Priveligiorum”, criou os Estudos Gerais, em Coimbra.

As Ordens Militares, que foram um esteio da nação, foram libertadas das influências estrangeiras que tinham, passando a depender do poder real. D. Diniz criou a Ordem de Cristo, que veio a herdar os bens da Ordem dos Templários em Portugal, quando esta é extinta, e ajuda a Ordem de Santiago a separar-se da tutela da mesma ordem em Espanha

Organizou o estado de forma centralizada, reduzindo, dessa forma, o poder da nobreza. Deu prioridade à organização do reino continuando a acção legislativa que já vinha do reinado de seu pai, mandando reunir no “Livro da Leis e Posturas” e nas “Ordenações Afonsinas”, a diversa documentação de direito e de leis, que se encontravam dispersas.

Dinamizou o comércio, e a circulação de bens, ao criar as feiras. Fomentou a agricultura, protegendo-a com a ampliação do pinhal de Leiria. Ordenou e fomentou a exploração de minas de cobre, prata, estanho e ferro.
Em 1308, assina o primeiro contrato comercial com a Inglaterra, abrindo as portas para o comércio internacional.

Cria o almirantado, que entrega ao genovês Manuel Pessanha, criando as bases de uma futura Marinha Portuguesa, ao serviço do reino.

Afonso, seu filho e herdeiro, temendo que D. Dinis favorecesse o seu filho bastardo Afonso Sanches, reclamou que o rei lhe aumentasse os proveitos, exigindo a convocação das Cortes, ao que o rei acedeu. Porem, a reunião do Clero da Nobreza e do Povo, não deu os resultados que D. Afonso pretendia. Então este reuniu as forças que lhe eram fiéis e tentou dar combate ao Rei.

Nos campos de Alvalade, então situados a norte de Lisboa, encontraram-se frente a frente as forças leais ao rei e as forças que apoiavam o Príncipe herdeiro, mas não chegou a haver combate. Quando as forças se preparavam para dar inicio à batalha, o campo foi atravessado pela Rainha, já venerada como Santa, montada sobre uma mula, evitando o derramamento de sangue entre portugueses.

A 7 de Janeiro de 1325, em Santarém, morre D, Diniz, que veio a ser sepultado na Igreja do Mosteiro de São Dinis e São Bernardo, em Odivelas, que o próprio rei mandara construir.

José Marcelino Martins
Odivelas, 7 de Outubro de 2011

Nota:
Para comemorar a efeméride, Odivelas já se encontra "em festa" desde o dia 1.
Consultar www.cm-odivelas.pt
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 11 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8765: Blogoterapia (189): ... i-guerra... (José Marcelino Martins)

Vd. último poste da série de 1 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8627: Patronos e Padroeiros (José Martins) (21): Mártir S. Sebastião, Padroeiro dos Arqueiros, da Infantaria e dos atletas (José Martins)

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Guiné 63/74 - P8683: Efemérides (76): Dia da Infantaria em 14 de Agosto de 1961 (José Martins)

1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), com data de 13 de Agosto de 2011:

Boa noite
Lá fora ouviam-se rebentamentos, ao longe, mas eram rebentamentos.
Olhei à minha volta e recostei-me no sofá. Estava em casa, no meu ambiente.
Os rebentamento cessaram. Devia ser o anúncio de alguma festa popular.
O computador por perto, deu-me a ideia de ir vasculhar um texto que se passou há 50 anos.
É mais um texto do livro, não editado, Refrega.

Aqui fica o registo do que se passou em 12, 13 e 14 de Agosto de 1961.

Bom resto de fim de semana, prolongado.
Um abraço
José Martins


DIA DA INFANTARIA

Já vai longe aquele dia 14 de Agosto de 1961...

Como acontecia naquela época, bastava estudar para se ser obrigado a pertencer à Mocidade Portuguesa, uma organização juvenil de carácter e âmbito nacional.

Já que eu, como estudante, era obrigado a pertencer à organização, o melhor era aproveitar e tirar o maior e melhor partido da situação.

Desde cursos, acampamentos, prática das mais variadas modalidades desportivas ou visitas culturais, tudo servia de escape, numa cidade do interior, onde as ofertas de diversão eram praticamente nulas

A guerra tinha começado há poucos meses em Angola e ninguém imaginava que aquele grupo de adolescentes seriam sérios candidatos a combatentes, uma vez que, na versão oficial, as nossa tropas somavam, em cada dia que passava, retumbantes vitórias sobre o inimigo, apesar das noticias que corriam “à boca pequena” indicarem que a situação era extremamente grave.

Foi o Cónego Carlos, Assistente Religioso da Ala de Leiria da Mocidade Portuguesa, que, no final de um encontro de graduados, naquela cidade, lançou a ideia: ir de Leiria a Fátima a pé, já que o dia 13 de Agosto de aproximava.

Depois do almoço do dia 12, o reverendo ancião saindo do Paço Episcopal, junto ao jardim da cidade e do largo das camionetas, colocando o seu chapéu de abas largas na cabeça, convidou-nos a segui-lo.

Atravessamos a cidade em duas longas filas, transportando as mochilas às costas, e, no nosso íntimo, a Fé que move montanhas. Passamos junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, à igreja do Espírito Santo, à Fonte Grande, ...

Para traz ficavam o Castelo, a Ermida de N. Sr.ª. da Encarnação, o Jardim-Escola João de Deus, para onde tinha ido aos quatro anos, a caminho da Cova da Iria.

Percorrendo os caminhos da serra, fomos saudando ou fomos saudados pelos habitantes das várias povoações por onde passávamos, ou, em várias parte do percurso, fazíamos grupo com os outros peregrinos.

Antes da noite cair, já tinha sido instalado o acampamento. Foi dali que partimos para participar nas cerimónias religiosas, que incluía a procissão das velas, durante a noite de doze para treze mas participaríamos, especialmente, nas cerimónias do dia seguinte, que, após a missa terminam com o Adeus à Virgem.

Ainda hoje, quando visito o Santuário, me recordo desta visita, e da água que transportada no meu cantil, matou a sede a muitos peregrinos.

Ao princípio da tarde, terminadas as cerimónias e desfeito o acampamento, fomos transportados em viaturas militares, rumo ao Campo Militar de S. Jorge, para o local onde, através de um monumento se invoca o local onde em 14 de Agosto de 1385 se travou a Batalha de Aljubarrota, entre o exército invasor castelhano e o exército português, comandado por D. João I e D. Nuno Álvares Pereira.

No local já se encontrava um destacamento militar. Nesse ano, as comemorações do Dia da Infantaria iniciavam-se com uma vigília naquele local e terminariam com uma homenagem na Sala do Capítulo do Mosteiro Santa Maria da Vitória, junto do túmulo do Soldado Desconhecido que representa todos os militares mortos na I Grande Guerra, em África e na França, e cujos corpos por lá ficaram.

Manhã cedo, levantamos o acampamento e percorremos, em marcha, a estrada que separa o Campo de S. Jorge do Mosteiro da Batalha.

Junto ao Mosteiro, já se encontrava um grupo de homens, de idade avançada, que cerravam fileiras junto a uma bandeira branca orlada a verde, tendo no centro sobre a Cruz de Cristo, que as caravelas ostentaram durante os descobrimentos, a Cruz de Guerra com a legenda – Liga dos Combatentes da Grande Guerra.

Um ex-combatente da Guerra do Ultramar com o Estandarte do Núcleo de Matosinhos da actual Liga dos Combatentes

Eram Combatentes. Eram alguns dos mesmos que, em 9 de Abril e a 11 de Novembro, se reuniam, ano após ano, junto aos muitos padrões erigidos em memória dos Combatentes da Grande Guerra, recordando aqueles que a guerra fez cair para sempre no campo de batalha, em nome de Portugal.

Muitos deles ostentavam no peito, com merecido orgulho, condecorações ganhas com mérito nos campos de batalha. Eles representavam duas gerações anteriores àquela a que os que acabavam de chegar pertenciam. Eles, os combatentes, ali firmes e aprumados, continuavam a honrar a sua pátria. Para eles foi o meu carinho e vai a minha saudade, como se fossem o meu próprio avô e os meus tios, que também por lá andaram.

Após o toque de apresentar armas ouviu-se o Hino Nacional. As bandeiras levantaram-se ao vento, descobriram-se as cabeças, prestaram-se as honras militares.

Hoje, muitos anos passados, nas datas comemorativas da Batalha de La Lys ou do Armistício, há muitos daqueles adolescentes, entre os quais me encontro, hoje já homens e veteranos de guerra, reunimo-nos junto aos Padrões de Guerra erigidos por todo o país, sob a mesma bandeira, homenageando os nossos antepassados e combatentes de todos as batalhas da nossa já longa História. Nós sabemos bem o que é servir a Pátria como Militares e como Combatentes.

04/JULHO/2000

(este texto pertence ao livro, não editado, com o título REFREGA, escrito como catarse a problemas surgidos com o PTSD)
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Notas de CV:

- Foto do Castelo de Leiria retirada de Lendas de Leiria, com a devida vénia

(*) Vd. poste de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8670: Blogoterapia (185): Ageism ou a discriminação face à idade? (José Martins)

Vd. último poste da série de 14 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8669: Efemérides (54): 104.º aniversário de Miguel Torga (Felismina Costa)