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quinta-feira, 31 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27074: Felizmente ainda há verão em 2025 (4): alzheimareados com a canícula...














Lourinhâ > Praia da Areia Branca, a caminho do Vale de Frades e de Paimogo > 26 de julho de 2025 > Paisagens jurássicas que fazem parte da "Formação Lourinhã"

(...) "Formação Lourinhã é uma formação geológica localizado no oeste de Portugal, nominada em homenagem ao concelho de Lourinhã. 

"A formação é da idade do Jurássico Superior, e tem notável semelhança com a formação Morrison nos Estados Unidos da América e com as camadas de Tendaguru na Tanzânia. (...) 

"Além de abundante fauna fóssil sobretudo de dinossauros (...) comprovada pela ocorrência de ossos, a Formação Lourinhã também tem numerosas pegadas (...)". Fonte: Wikipedia.

Fotos (e legenda): © Luís Graça 2025). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Há uma crise de colaborações no blogue quando chega a canícula e o pessoal vai para banhos... 

Há também uma crise da habitação: as "datchas" estão sobrelotadas... Logo não há férias para os antigos combatentes: a guerra acabou, estão desempregados...Mas a guerra nunca acaba para quem andou nela... É como estas paisagens jurássicas da "formação Lourinhã": são restos (violentíssimos) de outras batalhas com 163,5 milhões a 145 milhões de anos.

Há, por fim, uma crise de inspiração e transpiração... Vamos  ter que põr ar condicionado na Tabanca Grande, sob pena da Alta Autoridade para as Condições de Trabalho mandar fechar o estaminé...

Andamos, por isso,  para aqui a recuperar algumas "pichagens" nos muros da Tabanca Grande.  Algumas podem ofender a moral pública...O leitor terá que decidir se tem 18 ou mais para as ler. 

Já sabíamos, desde os "saudosos" (para alguns) tempos da Guiné, que a guerra tem de parar quando o termómetro chega aos 40 graus centígrafos... Façamos, por hoje, e se calhar nos próximos dias, uma paragem na guerra. 

Recusamo-nos a combater por falta de condições bélicas...


1.1. Mr. Joseph Belo (s/l, s/d), régulo sempiterno da Tabanca da Lapónia (a tal que é de um homem só, e que agora corre o risco, por abandono do posto de sentinela, de ir parar ás mãos dos "ocupas", com a crise da habitação que também já chegou àquelas bandas).

(,..) Nem tudo deverá ser levado demasiadamente “a sério” quando apresentado em inocentes pósteres vindos de…longe!

A este respeito o saudoso escritor José Cardoso Pires comentava, em roda de amigos, nas noites de 1974/1975 no lisboeta "João Sebastião BAR" , referindo-se a algumas das auto-importantes personalidades do Conselho da Revolução:

“Alguns papagaios julgam-se em pleno Amazonas quando o dono lhes coloca um ramo de salsa nas grades da gaiola “.

Tudo mais não terá (neste tipo de pósteres de Verão) que a levíssima , e fresca, importância que lhes damos. (...)


 1.2. Há quem se tenha preocupado, ultimamente, com  o  estado de saúde mental do blogue, de quem o faz, de quem o (e)dita, e até de quem o lê... Alguém insinuou que quem o (e)dita, podia andar, com este calor todo,  já  meio "alzheimareado". 

O assistente de IA, o "sabe-tudo", não soube responder : a estas duas perguntas elementares

(i) o que quer dizer o raio do vocábulo  "alzheimareado" ?; e

(ii) onde vem grafado ? 

Respondeu, solícito, diligente, o "sabe-tudo":

(...) Encontrei um único registo escrito do termo “alzheimareado” num blogue português, usado como expressão coloquial e carregado de humor negro, destacando um comentário que associava estar “alzheimareado” a tornar-se “parkinsónico e alzheimareado” como uma espécie de crítica jocosa à memória falível blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Isso sugere que o vocábulo surgiu em contexto informal e comunitário — especificamente num blogue sobre memórias da Guiné, onde se listam termos depreciativos de forma metafórica: “protésico, radioativo, parkinsónico e alzheimareado” blogueforanadaevaotres.blogspot.com.

Não foi possível encontrar outras ocorrências em plataformas públicas, como dicionários ou redes sociais, o que indica que o termo ainda é muito raro e não difundido. (...)


1.3. O que o (e)dita, escreveu na legenda de um foto do avião  DO-27 (Poste P27070) algo que pode ser interpretado como um sintoma de quem anda já "alzheimareado", talvez com o desconforto térmico da canícula do verão:


(...) Era uma aeronave que  adorávamos  quando nos trazia de Bissau os frescos e a mala do correio ou, no regresso, nos dava boleia até Bissau, para apanharmos o avião da TAP e ir de férias... 

Era uma aeronave preciosa nas evacuações (dos nossos feridos ou doentes, militares e  civis)... 

Era um "pássaro" lindo a voar nos céus da Guiné, quando ainda não havia o Strela...

Em contrapartida, tínhamos-lhe, nós, os "infantes",  a "tropa-macaca", um "ódio de morte" (sic) quando se transformava em PCV (posto de comando volante) e o tenente-coronel, comandante do batalhão, ou o segundo comandante,  ou o major de operações,  ia ao lado do piloto, a "policiar" a nossa progressão no mato... e a denunciar a nossa posição no terreno!

Quando nos "apanhavam" e ficavam à nossa vertical, era ver os infantes (incluindo os nossos "queridos nharros") a falar, grosso, à moda do Norte, com expressões que eram capazes de fazer corar a púdica da Maria Turra:

"Cabr*es..., filhos da p*ta..., vão lá gozar pró car*lho..., daqui a um bocado estamos a embrulhar e a levar nos c*rnos!...". (...)

(Revisão / fixação de texto: LG)

_______________

Nota do editor LG:

Último poste da série > 30 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27072: Felizmente ainda há verão em 2025 (3): recordando o meu esforçado, voluntarioso, amável , efémero e... clandestino professor de pilotagem do DO-27, o "Pombinho", que veio expressamente do Brasil para assistir ao lançamento do nosso livro "Nós, as enfermeiras paraquedistas", em 26/11/2014, no Estado Maior da Força Aérea, em Alfragide (Maria Arminda Santos, Setúbal)

segunda-feira, 21 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27038: Manuscrito(s) (Luís Graça) (271 ): Pôr-do-sol na varanda do Vigia, GAPAB -Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca: onde a terra acaba e o Atàntico começa, há um varanda que guarda o último suspiro do sol...


Pôr-do-sol na varanda do VIGIA, GAPAB - Grupo dos Amigos da Praia da Areia Branca, Lourinhã... Onde a terra acaba e o Atântico começa, há um varanda que guarda o último suspiro do sol...

(Cartaz gerado por assistente de IA / LG)



Lourinhã, Praia da Areia Branca, varanda do VIGIA, 19 de julho de 2025, 20:44

Fotos: © Luís Graça (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Cuidado, frágil, adorador do sol

por Luís Graça


No teu testamento vital,
que é também uma declaração de interesse,
vais ter que escrever que não tens religião,
mas és adorador do sol,
veneras o sol como um deus,
deves a vida ao sol.

Fica de fora a lua, 
e mais ainda o "black, dark, side of the moon".
(Passaste há dias,  na rua,  
por uma mulher 
que escolheu esta frase tão sensaborona
ou se calhar, genial, provocadora, feminista,
para pôr ao peito,
na parte da frente  da sua t-shirt,
intencionalmente preta e suja...
Pensaste:  já é tudo tão vulgar, tão "kitsch", tão triste... 
Ou talvez não, se elevares a frase
 à categoria do sarcasmo social!).

Não sabes se é pecado maior,
aos olhos dos guardiões do céu,
adorar o sol.
Nem sabes se o deus todo poderoso das religiões monoteístas
tem ciúmes do sol, tão adorado,
afinal sua criatura, finita, 
um deus menor.

Os pobres dos antigos egípcios,
que já tinham a mania que eram astrólogos e astrónomos,
adoravam o sol, o deus-Rá: 
tinha  um corpo humano com cabeça de falcão,
e sobre a cabeça um disco solar e uma cobra enrolada...
Divindade híbrida,  
criador do mundo, 
era ele quem trazia a luz e regulava a vida,
viajando pelos céus durante o dia na sua barca solar,
e mergulhando à noite no submundo das trevas,
para combater a entropia e as forças do mal...

Tu,  animista, heliocêntrico, te confessas.
És um tonto de um girassol.
Perturbam-te os eclipses, totais ou parciais, do sol.
Extasias-te com o pôr-do-sol, 
e não tanto com o nascer-do-sol.
Sabes que o sol é um dado adquirido,
mesmo que não nasça para todos,
como já não nascia no vale do Nilo 
no  tempo dos faraós e do deus-Rá.

Sabes que podes contar com ele,
todas as manhãs, ao acordar,
mesmo em dias de céu cinzento, nublado, deprimente.

Mas também te aterroriza o pôr-do-sol,
onde se oculta, emboscada, a morte.
Aterroriza-te saber que um dia, 
daqui a alguns milhões de anos,
o sol apagar-se-á.
Ou implodirá.
Perguntar-te-ão: que te  importa, pobre diabo,
se sabes que vais morrer um dia destes ?!

Pensava-lo imortal, ao deus-sol, mas é finito:
quando descobriste,  aos teus catorze ou quinze anos,
que um dia o sol iria morrer,
tornaste-te ateu (ou, talvez melhor, agnóstico,
ou talvez nem isso:
tiveste muito simplesmente a tua primeira crise existencial).

Nunca ligaste ao sol na Guiné,
na tua segunda crise existencial.
Ou melhor: odiava-lo, ao sol tropical, 
odiava-lo com um ódio de morte.
Afinal, ninguém faz uma guerra 
sem ter um ódio de estimação. 
Um inimigo.

Não tinhas o mar, no interior, no mato,
para te deslumbrar com o pôr-do-sol.
Não tinhas o "mare nostrum" dos teus antepassados, o Atlântico.
Apenas os poilões, a tabanca, 
a bolanha e os palmeirais e a savana arbustiva.
Ou a floresta-galeria que te tapava o sol.
Nunca foste ao Boé, onde havia pequenas colinas.
A Guiné era plana, horrivelmente plana, chata como a Holanda.

Ah!, como tu odiavas o sol da Guiné.
Detestavas o sol porque havia guerra,
e penosas operações a pé que te podiam levar
à insolação, à desidratação e, "in limine", à morte.
Detestavas o sol porque não sabias
por que razão havias de morrer de insolação e desidratação
só porque havia guerra no tempo seco.

Odiavas o sol da Guiné,
razão por que sempre preferias a  noite e os seus pesadelos.
Não te lembras de ver a lua, 
ou então só viste o  "black, dark side of the moon".
Dormias de dia, sempre que podias ou te deixavam.

E, quando tu morreres,
se ainda puderes deci
dir
(isto é, escolher onde, como e quando...),
e, se não for pedir muito a quem de direito,
aos seres do panteão,
com cabeças de falcão e braços de serpente,
pois então que peças para morrer ao pôr-do-sol,
frente ao mar da tua infância,
ao Mar do Serro.
Duvidas que os deuses aceitem cunhas, 
por isso não também rezas.

Não, ainda não escreveste o teu testamento vital,
mas esperas ainda ir a tempo de o fazer
e de lá pôr essa cláusula,
para o cangalheiro ler:
'Quero que, no meu caixão,
antes de entrar no forno crematório,
escrevam a tinta anti-fogo:
Cuidado, frágil, adorador do sol".

Lourinhã, Praia da Areia Branca,  Vigia-Gapab, 19 de julho de de 2025
______________

Nota do editor:

Último poste da série: 17 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27027: Manuscrito(s) (Luís Graça) (270): Salve, Jaime, ao km 79 da tua picada da vida!

domingo, 20 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27037: Agenda cultural (896): 9ª edição da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro 1808: Lourinhã e Vimeiro, 18, 19 e 20 de julho de 2025 - II ( e última) Parte


Lourinhã, 19 de julho de 2025, 11h30 > 

À emória do nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), um dos grandes pioneiros e entusiastas da recriação histórica da Batalha do Vimeiro (1808)

Vídeo: You Tube / Luís Graça (2025) (2' 50'')



9º edição da Recriação Históriica da Batalha do Vimeiro 1808 (18, 19 e 20 de Julho de 2025), este ano dedicado ao tema "Medicina e Farmácia na Época Napoleónica"... Desfile dos grupos de recriadores históricos na vila da Lourinhã, com cerimónia do hastear das bandeiras, às 11h30 do dia 19, na Praça José Máximo da Costa, frente ao edifício da CM Lourinhã.



1. Além da recriação histórica, há também o mercado oitocentista, animação de rua e concertos. Na vila do Vimeiro, até domingo, dia 20. Pode consultar-se o programa, aqui, na respetiva página do Facebook. O ano passado, a 8ª edição, foi já um grande sucesso, pelo número de visitantes (15 mil) e de recriadores hiistóricos (300).


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Nota do editor:

Último poste da série > 20 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27036: Agenda cultural (895): 9ª edição da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro 1808: Lourinhã e Vimeiro, 18, 19 e 20 de julho de 2025 - Parte I

Guiné 61/74 - P27036: Agenda cultural (895): 9ª edição da Recriação Histórica da Batalha do Vimeiro 1808: Lourinhã e Vimeiro, 18, 19 e 20 de julho de 2025 - Parte I



Lourinhã, 19 de julho de 2025, 11h30 >

À memória do nosso camarada Eduardo Jorge Ferreira (1952-2019), um dos grandes pioneiros e entusiastas da recriação histórica da Batalha do Vimeiro (1808)

Vídeo: You Tube / Luís Graça (2025) (2' 21'')



9º edição da Recriação Histótrica da Batalha do Vimeiro 1808 (18, 19 e 20 de Julho de 2025), este ano dedicado ao tema "Medicina e Farmácia na Época Napoleónica"... Desfile dos grupos de recriadores históricos na vila da Lourinhã, com cerimónia do hastear das bandeiras, às 11h30 do dia 19, na Praça José Máximo da Costa, frente ao edifício da CM Lourinhã. Parte I



1. Além da recriação histórica, há também o mercado oitocentista, animação de rua e concertos. Na vila do Vimeiro, até domingo, dia 20. Pode consultar-se o programa, aqui, na respetiva página do Facebook. O ano passado, a 8ª edição, foi já um grande sucesso, pelo número de visitantes (15 mil) e de recriadores hiistóricos (300).

Dois momentos altos do dia de ontem, sábado, 19:

  • Recriação histórica da Batalha do Vimeiro: Combate Noturno, 22h00, Vimeiro, Campo de Batalha;
  • Concerto: Brigada Victor Jara e Coro Municipal da Lourinhã, 23h00, Vimeiro, Palco Wellington

Destaque tajmbém para o lançamento do livro de Rui Pires de Carvalho, "Médicos e Cirurgiões do Exército Português na Guerra Peninsular: Percursos, vivências e contributos", 18h00, auditório do Centro de Interpretação da Batalha do Vimeiro.

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Nota do editor:

sábado, 19 de julho de 2025

Guiné 61/74 - P27035: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - II (e última) Parte: O Comandante Militar do CTIG, por despacho, disse que o desastre ocorrido foi "por motivo de serviço"

 


Albino Cláudio (Ribamar, Lourinhã, 30.05.1946 – Bissorá, antiga província portuguesa da Guiné 23.07.1968), sold at inf, CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, 1968-70)

Brasão do BCAÇ 2845 (1968/70)

1. No poste anteriormente publicado nesta série (*), foram citados  os nomes e os postos de vários camaradas do Albino Cláudio (Ribamar, Lourinhã, 1944-Bissorã, Guiné, 1968), que intervieram no âmbito do processo de averiguações do acidente que o vitimou em Bissorã, no dia 27 de julho de 1968. Recorde-se:

  • o comandante da companhia, cap inf Manuel Joaquim Sampaio Cerveira;
  • o alf mil António Matos de Almeida, encarregue pelo Cmdt de elaborar o processo por acidente com arma de foto;
  • as testemunhas do acidente, 1º cabo at inf Cipriano Martins Silva, natural de Famalicão, e o sold at inf  Joaquim Cunha Moreira, natural de Penafiel;
  • o fur mil António Pimenta Rodrigues,  e o 1º cabo at inf Victor Manuel da Costa, que oram testemunhas da elaboração do espólio do Albino Claúdio,  feita pelo alf mil Matos de Almeira,na presença e capitão;
  • não sabemos o nome do alf mil médico que passou a certidão de óbito, mas muito provavelmente o seria o mais antigo, Fernando António Maymone Martins... O Maximino José Vaz da Cunha também foi médico do BCAÇ 2845.  E haverá ainda um terceiro médico, José Luís Pinto Pinto Bessa de Melo,  que muito possivelmente veio render um dos  dois primeiros, os quais, na 2ª parte da comissão, foram trabalhar  no HM 241, em Bissau.



Composição orgânica do pessoal da CCAÇ 2368. Lista gentilmente disponibilizada pelo Albino Silva, que pertenceu á CCS/ BCAÇ 2845.


2. Comentário do nosso editor LG ao poste P27032 (*).


Não foi suicídio, mas também não terá sido simples "acidente com arma de fogo", garante-me o conterrâneo e vizinho do Albino Cláudio, o nosso grão-tabanqueiro Carlos Silvério, ex-fur mil at cav, CCAV 3378 (Olossato, 1971/73)...

"A história estaria mal contada", disse-me ele ao telefone... Ele falou com familiares do Cláudio, em  Ribamar, e com outros militares na Guiné, no seu tempo. Ele tem outra versão, ouvida no Olossato...

Segundo ele, o Cláudio, àquela hora, 7 da manhã, não ia entrar de serviço, mas, sim, acabava de chegar de uma operação no mato... E que a essa hora não se limpavam armas...E que as duas testemunhas ouvidas pelo alferes que elaborou o auto, o Matos Almeida,  não eram testemunhas "oculares", nenhum delas viu o acidente ou o momento fatal:

(i) o 1º cabo Cipriano Martins Silva às 6:50 viu o Albino "limpar a arma", já que ia "entrar de serviço às sete horas" (sic);  ouviu o tiro quando já estava no refeitório para tomar a refeição da manhã; viu, isso sim, o oficial de dia sair do refeitório, correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros;

(ii) o sold Joaquim Moreira estava de saída, à porta da caserna, ouviu o tiro, voltou a entrar na caserna, encontrou o sinistrado caído no chão, com a arma ao lado, e a esvair-se em sangue...

O Carlos Silvério estranha ( e eu também) não ter sido aparentemente ouvido, como testemunha, o oficial de dia, que foi quem assistiu o ferido e fez a participação da ocorrência ao comandante. Estava no refeitório quando ouviu uma detonação.

Estranha-se, ainda, que as duas testemunhas reforcem a ideia de que não foi suicídio: o 1º cabo Silva já tinha ouvido, algumas vezes, ao Cláudio dizer que quando passasse à disponibilidade iria "construir uma casa e casar-se" (estavam ainda todos no início da comissão, com apenas 2 meses e meio...); como quem diz: "quem quer casar-se, não vai matar-se"...

O sold Moreira diz, por sua vez, que o Cláudio "não se matou propositadamente" (sic), "era uma pessoa pacata e sem problemas" (sic).

A certidão de óbito é clara: "a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica"...

Ota, ninguém limpa a arma ( e muito menos a G3) com o cano apontado ao peito... 

O Comando Militar do CTIG quer esclarecer todas as dúvidas: "se foi acidente ou suicídio" (sic)... E acabará por escrever no seu despacho, o Comandante Militar: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar (...)".

Sabemos que na tropa não havia suicídio nem homicídio: para todos os efeitos, só havia, no nosso tempo,  mortes  por: (i) ferimento em combate; (ii) motivo de doença: ou (iii) acidente (incluindo com arma de fogo).

Ponto final parágrafo


PS - Ainda segundo o informação do Carlos Silvério, a namorada do Albino Cláudio acabou, naturalmente, por casar com outro e emigrar para o Canadá. 

Por outro lado,  e segundo consta no livro do Jaime Silva, "Não esquecemos..." (Lourinhã, Câmara Municipal da Lourinhã, 2025, pág. 181), na altura em que foi feito o espólio, um camarada do Claúdio lembrou  um desejo seu: se "viesse a falecer em combate" (...), "o fio em prata (contendo uma) pequena medalha", deveria ser " entregue à sua namorada".

________________

Guiné 61/74 - P27032: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (3): Albino Cláudio (1946-1968), sold at inf, CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 (1968/1970), natural de Ribamar: vítima de acidente com arma de fogo, em Bissorã, em 23/7/1968 - Parte I: nota biográfica e circunstâncias da morte


Albino Cláudio (30.05.1946 – 23.07.1968), sold at inf, CCAÇ 2368 (Cacheu, Bissorã, Teixeira Pinto, 1968-70)

Crachá da CCAÇ 2368 / BCAÇ 2845 "Feras" (Fortes e Altivos")


Localidade do falecimento - Bissorã, Guiné

Soldado atirador infantaria nº 1135736/67

Naturalidade - Ribamar, Lourinhã

Local da sepultura - Cemitério de Santa Bárbara, Marquiteira


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1. REGISTO DE NASCIMENTO


Albino Cláudio nasceu a 30 de maio de 1946, às 8 horas, no lugar de Ribamar, então freguesia de Lourinhã.

Era filho legítimo de Artur Cláudio, de 38 anos, casado e jornaleiro, e de Jacinta da Conceição, 33 anos, casada, doméstica, ambos naturais da freguesia e concelho da Lourinhã e domiciliados no lugar de Ribamar. Neto paterno de Manuel Cláudio e de Maria da Conceição, ambos falecidos, e materno de Januário Feliciano (falecido) e Luzia de Jesus.

O registo de nascimento foi efetuado pelo pai, às onze horas e quinze minutos, de 13 de junho de 1946, teve como testemunhas Manuel Pereira, casado, moleiro, morador em Pregança, e Mateus Baltazar, solteiro, empregado de comércio e residente na Lourinhã, sendo assinado pelas testemunhas e não assinado pelo declarante por não saber escrever.

A importância dos emolumentos foi de seis escudos e a dos selos devidos pela parte de três escudos. Registo de nascimento n.º 272, efetuado a 13 de junho de 1946 na Conservatória do Registo Civil da Lourinhã.


2. REGISTO MILITAR


Recenseamento: recenseado pelo concelho e freguesia de Lourinhã sob o nº 8 em 1966, solteiro, com a profissão de marítimo,  pescador.

Tinha como habilitações literárias o 1º grau (3ª classe) do Ensino Primário Elementar e morava em Santa Bárbara,  Ribamar.

Inspeção militar: alistado em 21 de julho de 1966 com o número mecanográfico nº 113573/67. Media 1.66 m de altura, cabelo castanho, olhos azuis, pesava 67 quilos. Foi apurado para todo o serviço.

Colocação durante o serviço: foi incorporado em 23 de outubro de 1967, como recrutado, no RI 10 (Aveiro) na 1ª Companhia. A 04.12. 67 tomou parte nos exercícios de campo da 8ª semana de Iinstrução Básica (IB) /1º ER/67; 20.12.67 Jurou Bandeira; 23.12.67 termina a IB (Recruta); 02.01.1968 marchou para o BCAÇ 10 (Chaves), sendo aumentado ao efetivo do Batalhão e da 2ª Companhia.

Em 03.02.68 fica Pronto da Especialidade de Atirador.

Unidades onde prestou serviço: RI 10 (Aveiro), 23.10.67. BCAÇ10 (Chaves), 02. 01. 68

2.1. Comissão de serviço no ultramar, Guiné

Mobilizado: em 09. 02. 68 nos termos da alínea e) do artº 3º do Dec. 42937 de 22.04.1960 para servir no ultramar, sendo transferido para a CCAÇ 2368. 


Embarque: em Lisboa a 1 de maio de 1968 com destino ao CTIG, fazendo parte da CCAÇ 2368.


Desembarque: Bissau a 7 de maio 68 desde quando aumenta 100% ao tempo de serviço.


Data do falecimento: 23.07.1968


Causa da morte: acidente com arma de fogo


Local do acidente: Bissorã.


Abatido ao efetivo: nos termos das NEP/Pessoal – III – I Pág. 9 – F. 4a. Da 1ª Rep/QG/CTIG, é abatido ao efetivo desta Subunidade (CCAÇ 2368), desde 23 julho 1968, por morte de acidente com arma de fogo (OS 2 de 27.07.68), desde quando deixa de contar 100% de aumento do tempo de serviço.

2.2. Registo disciplinar: condecorações e louvores:


Medalha: de segunda classe de comportamento (Artº 88.º do RDM) é-lhe atribuída em 25 de outubro de 1967.

3. PROCESSO DE AVERIGUAÇÕES AO ACIDENTE: ANOTAÇÕES E CONTEXTO

Participação do acidente: no dia 23 de julho de 1968 o Oficial de Dia, de serviço à CCAÇ 2368, pertencente ao BCAÇ 1915, aquartelado em Bissorã, participa ao seu Comandante de Companhia as circunstâncias do acidente: 


- Que “pelas 7.00 horas da manhã quando me encontrava a assistir à primeira refeição na qualidade de Oficial de Dia, ouvi uma detonação na caserna e acorri lá imediatamente tendo deparado com o soldado nº 113573 67, Albino Cláudio, caído à entrada da caserna e com o sangue a sair abundantemente por uma ferida no peito, o que me levou a chamar prontamente o médico e alertar o Comandante de Companhia ao mesmo tempo que providenciava o seu transporte para o Posto de Socorros.


São testemunhas da ocorrência o soldado nº 11485267, Joaquim da Cunha Moreira e o soldado nº 11699667, Cipriano Martins da Silva”.



A 24 de julho de 68, o Comandante do BCAV 1915 ordena que o alf mil António de Matos de Almeida proceda ao respetivo processo por acidente com arma de fogo.


-A 25.07.68 o alf mil  Almeida interroga as duas testemunhas mencionadas que declaram para os autos:


1.ª testemunha, o 1º cabo Atirador Cipriano Martins Silva, casado, de 22 anos de idade, natural de Oliveira Santa Maria, concelho de Famalicão, após juramento, declarou:


“Que no dia 23.07.68, uns dez minutos antes das 7.00 horas, vira o sinistrado a limpar a arma, pois iria entrar de serviço às sete horas, que não viu o acidente porque foi para o refeitório tomar a primeira refeição, que, quando se deu o tiro, viu o oficial de serviço correr para a caserna e fazer transportar o sinistrado para o posto de socorros, onde foi assistido pelo médico, em vão, pois que acabou por morrer.


O sinistrado tinha dito algumas vezes aos amigos que, logo que passasse à disponibilidade,  se casaria e construiria uma casa com o dinheiro que já tinha no banco, pelo que pensa que o sinistrado não se tivesse suicidado”.


2.ª testemunha, o soldado atirador de infantaria, Joaquim Moreira, solteiro, de 21 anos de idade, natural da freguesia e concelho de Penafiel, após juramento, disse:


“que estava à porta da caserna quando ouviu um tiro dentro da caserna, que, entrando lá dentro, viu o sinistrado caído no chão com a arma ao lado e com muito sangue a sair-lhe do peito, que vira momentos antes o sinistrado a limpar arma. 


Disse ainda que pensa que o sinistrado não se matou propositadamente porque lhe parecia uma pessoa pacata e sem problemas”.


Certidão de óbito: a 23.07.68 no quartel de Bissorâ, o médico da Companhia confirma que “a causa principal da morte foi o ferimento perfurante na caixa torácica”.


Espólio:  relação de fardamento, calçado e outros haveres, pertencentes ao soldado Albino Cláudio: o comandante de companhia, capitão de infantaria Manuel Joaquim Sampaio Cerveira assina, em 27.07.68, a relação dos haveres elaborada pelo alferes António Matos e pelas testemunhas, furriel mil, António Pimenta Rodrigues e 1º cabo Victor Manuel da Costa.

Entre os diversos pertencentes, consta: “01 fio de prata contendo uma pequena medalha. Por declaração de camarada da praça falecida, soube-se que este em situação operacional declarara, se viesse a falecer em combate, que apenas desejava que o fio em prata que contém a pequena medalha,  fosse entregue à sua namorada”.


Dúvidas do Comando Territorial Independente da Guiné:


A 14 e 28 de agosto o Comando Territorial Independente da Guiné envia dois ofícios aos Comandantes do BCAÇ 1915 e da CCAÇ 2368 no sentido de se clarificar que: 

(i) “o Processo instaurado ao soldado Albino Claúdio é por desastre em serviço e não por acidente por arma de fogo”.

(ii)  (…) “e que além das provas testemunhais deve ficar bem esclarecido no Processo se a morte foi por acidente ou suicídio”.


Conclusão do Processo e despacho final do Comando Militar da Guine “Serviço da República, Ministério do Exército, Comando Territorial Independente da Guiné, Quartel General – 1ª Repartição, Processo – Por desastre em serviço


Mostra o Processo:


- Que em 23 julho 68, este soldado ao limpar a sua arma em virtude de ir entrar de serviço, disparou involuntariamente um tiro que o atingiu mortalmente;


- Que o certificado de óbito revela como causa da morte “ferimento perfurante na caixa torácica”;


-  Que segundo se investigou não há indícios de se ter suicidado;


-  Que está demonstrado o nexo desastre-serviço;


 O Processo foi organizado nos termos da Determinação 6ª da O.E. nº 8 – 1ª Série – 1965;


 Em face do exposto é parecer desta Repartição:


a) que o desastre deve ser considerado em serviço; 


b) dado que para o sinistrado adveio a morte, deve o processo, depois de despachado nos termos da Determinação 3º da O.E. nº 6 – 1ª Série 1966, ser enviado à RSP/DSP/ME-


Quartel General em Bissau 10 de dezembro de 1968; O Chefe da 1ª Repartição; Carlos Beirão, ten cor inf c/ CGEM.


DESPACHO: "Sou de parecer que deve ser considerado ocorrido por motivo de serviço o desastre sofrido por este militar e que motivou a sua morte, em 23 julho 68. O Comandante Militar”.

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Nota do editor LG:


Último poste da série > 9 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P26998: Seis jovens lourinhanenses mortos no CTIG (Jaime Silva / Luís Graça) (2): José Henriques Mateus (1944-1966), sold at inf, CCAV 1484 (Catió, 1964/1966) - II (e última) Parte: testemunhos de camaradas