Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
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quinta-feira, 17 de julho de 2025
Guiné 61/74 - P27026: Agenda cultural (894): Comemoração do 1.º Aniversário do MASM (Museu Aristides de Sousa Mendes) e dos 140 anos do nascimento de Aristides de Sousa Mendes, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, a partir das 17h30, na Casa do Passal - Cabanas de Viriato - Carregal do Sal
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Nota do editor
Último post da série de 16 de julho de 2025 > Guiné 61/74 - P27023: Agenda cultural (893): Lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes - Na Encruzilhada de uma Carreira", de Lina Alves Madeira, a levar a efeito no próximo dia 19 de Julho de 2025, pelas 16 horas, na Biblioteca Pública Municipal João Brandão, Rua Dr. Francisco Beirão, 3 - Tábua. O livro será apresentado pelo Doutor Luís Reis Torgal
sexta-feira, 23 de maio de 2025
Guiné 61/74 - P26836: Tabanca da Diáspora Lusófona (34): João Crisóstomo reconhecido, pela "Tribuna Portuguesa / Portuguese Tribune", da Califórnia, como "Personalidade do Ano 2024"... Outras nomeações: a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" , e a inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, em Carregal do Sal, o "Evento Cultural do Ano 2024".
Recortes de imprensa > "Tribuna Portuguesa", de 15 janeiro de 2025 > Editorial, por Miguel V. Ávila, pág, 2. (Reproduzido com a devida vénia...)
1. Pelo muito que fez (e continua a fazer) pela causa da reabilitação da memória de Aristides Sousa Mendes e a consagração do "Dia da Consciência" mas também pelo aumento da visibilidade, mediática, social e cultural, da comunidade luso-americana, o nosso amigo e camarada, régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona, a viver em Nova Iorque, foi considerado "Personalidade do Ano de 2024" pelo prestigiado jornal, bilingue, "Tribuna Portuguesa" / "Portuguese Tribune", que se publica na Califórnia, desde 1979.(Quinzenal, independente, é o único jornal que se publica hoje, em português, na costa oeste dos EUA; foi fundado em setembro de 1979 pelo açoriano João P. Brum. )
(...) "Em 2004, este jornal iniciou o reconhecimento anual dos “Melhores do Ano”. Depois dos primeiros anos serem uma simples lista com poucas categorias que ocupavam apenas uma página, a atual lista já ocupa agora cinco páginas desta edição. Como um jornal comunitário, tentamos o nosso melhor para dar a conhecer os eventos comunitários, novas caras e talentos, para assim – juntos – valorizarmos a nossa 'prata da casa' ".
No editorial da edição de 15 de janeiro de 2025, Miguel V. Ávila destaca três personalidades do ano de 2024, um dos quais o nosso João Crisóstomo (vd. recorte acima). A iniciativa tem já 2 décadas.
(...) Não posso deixar de realçar as três “Personalidades do Ano”:
Tony Goulart, o reconhecido líder comunitário, continua a deixar um legado da “experiência luso-americana” por terras da Califórnia. Logo depois de escrever e publicar um importante livro sobre as filarmónicas portuguesas e os 125 anos da sua presença na Califórnia, coordenou a publicação do livro que faltava – Nossa Senhora da Assunção da autoria de Maria Cunha Carty.
Lembro-me que nos anos 1990s, as comunidades portuguesas da Califórnia viviam sob as sombras das comunidades da Costa Leste; havia a sensação que seríamos inferiores e que a distância nos faria quase invisíveis para com o nosso país de origem.
A liderança de Tony Goulart e de outros líderes comunitários muito mudaram essa perspetiva e agora as nossas comunidades luso-californianas são reconhecidas como exemplos na Diáspora portuguesa.
Ana Vargas-Smith tem desempenhado um papel importante no desenvolvimento do auto-estima da cidade de Santa Clara. Reconheceu que uma antiga tradição de 50 anos – o Desfile dos Campeões – tinha cessado durante 24 anos e que havia uma lacuna nos habitantes daquela cidade e que a antiga baixa da cidade merecia ser revitalizada. Colocou mãos à obra, criou uma associação sem fins lucrativos e lá reiniciou essa tradição que tinha sido criada por um luso-americano – Ed Cunha – para reconhecer os combatentes da Segunda Guerra Mundial quando regressaram à sua cidade em 1945.
Ana coordena as angariações de fundos e o desfile que agora conta também com um festival de rua. E a Ana tem a certeza que a comunidade portuguesa e associações portuguesas de Santa Clara desfilam... porque não podemos ser uma comunidade invisivel na sociedade americana." (...)
2. Já na edição de 1 de agosto de 2024, fora dado grande destaque à inauguração do Museu Aristides Sousa Mendes, sendo depois considerado, na edição de 15 de janeiro de 2025, como o "acontecimento cultural do ano", enquanto a Sousa Mendes Foundation foi a "Associação do Ano 2024" .
Reproduz-se a seguir o belíssimo editorial do Miguel Ávila sobre "o museu que faltava para que a memória não falhe", a propósito da inauguração do Museu Aristides de Sousa Mendes, na sua terra natal, Cabanas de Viriatos, Carregal do Sal, no passado dia 19 de julho de 2024.
O evento foi na altura também noticiado por nós (*). E na ocasião o nosso amigo e camarada João Crisóstomo leu uma mensagem expressamente escrita pelo Papa Francisco associando-se à homenagem ao Cônsul de Bordéus, Aristides Sousa Mendes (1885-1954), que coincidia também com o seu 139º aniversário natalício.
(...) Recebi , enviada por e- mail, uma mensagem dum bom amigo e proeminente português na Califórnia, Miguel Ávila, que entre outros lugares de destaque ocupa o de editor do prestigioso jornal bilingue “Portuguese Tribune”/ “Tribuna Portuguesa” e é também membro da "Sousa Mendes US Foundation”, e vice-Presidente do “ Comité Dia da Consciência”.
E porque vocês são meus filhos (e aos outros dois se fossem meus irmãos eu não lhes poderia querer mais ou melhor, sem intuitos de ridículas presunções), partilho o que me enviou que não podia ser mais gratificante:
Primeiro um artigo que escrevi e enviei em novembro passado sobre o problema das armas nucleares. Pensei que não o tinham considerado relevante para ser incluído no jornal, mas afinal não só foi publicado como verifico que dele fizeram "artigo de opinião” (*)
E o segundo a "reportagem da inauguração do museu que deu origem às nomeações para Melhores do Ano 2024.”
4. A Tabanca Grande associa-se, com regozijo, ao reconhecimento público feito pela "Tribuna Portuguesa" ao nosso amigo e camarada, "régulo da Tabanca da Diáspora Lusófona" (**) que, depois de amanhã, dia 25, vai estar no Convento de Varatojo, Torres Vedras, a partir das 10h00, num convívio com a família, os Crispins e os Crisóstomos, bem como com os amigos e camaradas da Guiné. Convívio para o qual estamos todos convidados: é só aparecer: A missa é às 10h30, a que se seguirá um convívio no claustro do convento do séc. XV. O padre Vitor Melícias estará presente.
(*) Último poste da série > 19 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25762: Efemérides (443): Hoje, no dia do 139º aniversário natalício de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), e na inauguração do seu Museu, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, o Papa Francisco deu-nos a graça e a honra da Sua Benção (João Crisóstomo)
(**) Último poste da série : 2 de maio de 2025 > Guiné 61/74 - P26756: Tabanca da Diáspora Lusófona (33): artigo de opinião de João Crisóstomo ("O Nobel da Paz e as Armas Nucleares", Tribuna Portugueda, 10/11/2024)
domingo, 21 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25768: Aristides de Sousa Mendes - Um dos nossos grandes que eu admiro (Carlos Silva, ex-fur mil inf, CCAÇ 2548/BCAÇ 2879, Jumbembem, 1969/71) - Parte I: Casa do Passal (Cabanas de Viriato), Museu do Holocausto (Jerusalém) e capas de livros
Foto nº 1 > Carregal do Sal, Cabanas de Viriato, Casa do Passal, em restauro (c. 2018)
Fotos (e legendas): © Carlos Silva (2024. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Carlos Silva, Jerusalém, 2017 |
1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Jumbembem, 1969/71), advogado, natural de Gondomar, régulo da Tabanca dos Melros, com 145 referências no nosso blogue, para o qual entrou em 20/7/2007.
Data - sábado, 20/07/2024, 20:06
Meu Caro Luís
A propósito do Post 2755 e 25762 sobre o Cônsul Aristides Sousa Mendes e relativamente à inauguração como Museu da Casa do Passal situada em Cabanas de Viriato, onde pelo carnaval se faz a tradicional “Dança dos Cus”, concelho de Carregal do Sal, já lá estive 3 vezes, porque tenho dois amigos/camaradas que são daquela localidade, sendo um da minha CCaç 2548.
Fui levado em 2015 pelo camarada mais velho da CCav 1905 ( Companhia dos Bigodes ) que foi sediada em Teixeira Pinto e Bissorã, o qual me levou a visitar a povoação e o cemitério local para ver o jazigo onde jaz Aristides Sousa Mendes.
O dito camarada, Carlos Rodrigues, falou-me desta figura ímpar da nossa História que eu não conhecia, tendo eu ficado maravilhado com o que ele me ia contando sobre o seu conterrâneo, pois, embora pequeno ainda chegou a conhecê-lo e toda a azáfama que havia em torno daquele palacete.
Deste modo, envio-te umas fotos de 2015 e 2018 da Casa do Passal e do cemitério.
A partir daí fiquei muito interessado em conhecer verdadeiramente a História do nosso cônsul em Bordéus e os seus feitos, pelo que fui adquirindo alguns livros sobre a sua personalidade e dos quais junto fotos das capas dos mesmos, assim como do livro que adquiri no Palácio da Independência em Lisboa na altura da sua apresentação em novembro de 2017 e da autoria do seu neto António Moncada Sousa Mendes, que tem a sua dedicatória.
Em setembro de 2017 estive em Israel e claro fomos a Jerusalém onde tive a oportunidade de visitar o Museu do Holocausto/ Yad Va Shem e aí a Senhora que nos atendeu perguntou-nos de que nacionalidade éramos, tendo eu respondido que éramos portugueses e face a esta resposta foi de uma simpatia inexcedível, de mediato informou-me que figurava no Museu um “Justo” português de seu nome Aristides Sousa Mendes, pelo que fez várias cópias sobre o seu historial e ofereceu-me, bem como, explicou-nos onde se encontrava exposto, só que não se podia tirar fotos, mas como sempre o fruto proibido … eu consegui fazer duas fotos que junto e outras.
Podes, se assim entenderes fazer a respectiva publicação
Abraço
Carlos Silva
20-07-2024
sexta-feira, 19 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25762: Efemérides (443): Hoje, no dia do 139º aniversário natalício de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), e na inauguração do seu Museu, em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal, o Papa Francisco deu-nos a graça e a honra da Sua Benção (João Crisóstomo)
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Imagem de Aristides de Sousa Mendes (1885-1954), adapt. com a devida vénia do programa oficial da inauguração da antiga Casa do Passal (*) |
(*) Vd. poste de 18 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25755: Agenda cultural (856): Inauguração, sexta feira, dia 19, do Museu Aristides de Sousa Mendes (Casal do Passal e jardins) em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal... (Há 20 anos, quando João Crisóstomo e António Rodrigues, do LAMETA, lá estiveram, e puseram "mãos à obra", a casa estava na iminência de ruir! ")
(**) Último poste da série > 10 de junho de 2024 > Guiné 61/74 - P25627: Efemérides (442): Comemoração do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, promovida pelo Núcleo de Matosinhos da LC, em colaboração com a União de Freguesias de Matosinhos e Leça da Palmeira, levada a efeito na Freguesia de Leça da Palmeira (LC / Carlos Vinhal)
quinta-feira, 18 de julho de 2024
Guiné 61/74 - P25756: De(Caras) (212): João Crisóstomo e António Rodrigues, dois antigos mordomos portugueses em Nova Iorque, que vêm, em 2004, a Cabanas de Viriato, dar início à história da recuperação da Casa do Passal, hoje museu Aristides de Sousa Mendes
"Consegui que o MNE [Ministério dos Negócios Estrangeiros] aceitasse deixar vir o livro, mas faltava o carimbo (que no fim teve de ser substituído pela caneta de Aristides, já que não foi possível encontrar o carimbo). Mas na altura nós pensávamos que o carimbo existia em qualquer parte em Portugal. Aproveitei as minhas férias e, com o António Rodrigues, que sempre tinha sido o meu braço direito em todas as minhas campanhas e que tinha regressado de vez a Portugal, resolvemos procurá-lo."
"Pedi o auxílio de Mariana Abrantes, de Luís Fidalgo e de António Moncada, neto do César (irmão gémeo de Aristides) em cuja casa suspeitávamos se encontrava esse carimbo. E lá andámos umas duas ou três horas, sem encontrarmos o carimbo."
"No fim resolvemos 'visitar' a casa de Aristides, que fica bem perto. Aí o António Moncada disse-nos que não, pois a casa não estava em condições de ser visitada por ninguém, pelo perigo que isso representava: havia um grande buraco no teto que havia caído (com uns quatro a cinco metros de diâmetro), e os 'beams' (barrotes, é assim que se chamam, não é?), alguns deles ao caírem, fizeram buraco enorme em todos os andares até ao chão, e outros barrotes, de todos os tamanhos, alguns enormes, estavam dependurados, numa imagem dantesca de ameaça e perigo.
"Finalmente acederam ao nosso pedido, mas que tudo seria por nossa conta e risco. Assim aceitámos. E lá entrámos, pés de mansinho, um após outro, olhando para o alto e para os lados com todo o cuidado. Verificámos que o enorme buraco estava situado mais ou menos no meio da casa, logo à entrada, mas com cuidado havia maneira de ver o resto da casa sem grande perigo.
"Para nosso espanto apercebemo-nos que a casa parecia nunca ter sido sujeita a qualquer cuidado ou limpeza. E por respeito ao nosso herói nós resolvemos que a casa teria de ser limpa imediatamente e não sairíamos de Cabanas de Viriato sem que a casa de Aristides recebesse pelo menos uma limpeza geral.
"Mais: começámos a pensar se não seria possível contratar um empreiteiro para consertar o telhado. Pensamos nós: se este buraco continuar assim, com as chuvas e ventos de inverno etc., a casa não vai aguentar mais do que dois ou três invernos… Viemos para fora para pedir autorização do que queríamos fazer e averiguar sobre empreiteiros locais, etc. Sucede que entretanto a nossa visita tinha despertado a curiosidade de alguns residentes de Cabanas; e, quando falámos sobre a ideia de reparar o telhado, falámos sobre orçamentos e viabilidades, etc.
"Entre os presentes que tinham chegado ou estavam por perto foi-nos apresentado um empreiteiro, logo seguido de outro que também podia estar interessado e que nos podiam dar ideias sobre o que estávamos falando, dum possível conserto da Casa. Que era impossível reparar o buraco e não era possível fazer nada a não ser cobrir o telhado com uma "umbrella" de metal, até que fosse possível fazer uma reparação à casa toda. Essa cobertura de metal custaria pelo menos 20.000 dálares ( isto em 2004!), o que nós não podíamos dispender nem tínhamos disponível!
"O António Rodrigues porém não se conformava, arguindo que se podia consertar o telhado, que a casa não precisava de cobertura nenhuma e que não era preciso gastar tanto dinheiro.
"Perante a posição bem clara e declarada de que nada se podia fazer, o António Rodrigues, meio nervoso, deu-me um toque no braço de maneira a não ser ouvido por mais ninguém e diz-me: 'Se eles não o podem fazer, então faço eu!'...
"Eu, habituado a muitas outras ocasiões em que o António tinha feito 'milagres' aqui nos EUA, apenas disse: 'Eh pá, tu tens a certeza? Então estes que são profissionais acham que não há nada a fazer, tu achas que vais conseguir alguma coisa?!'… Ao que ele respondeu: 'Deixa comigo. Eles estão a dizer que para consertar o teto têm de consertar a casa toda... Ora eu posso escorar tudo, partindo do chão até chegar ao teto e aí, depois de chegar ao teto, o telhado é fácil de consertar... Deixa comigo'.
"Foi difícil de convencer, mas depois não só concordaram em nos deixar a 'limpar a casa' que era tudo o que dizíamos ia acontecer, como toda a gente começou a oferecer os seus préstimos e ajudas: (i) um trator e um camião para levar as madeiras, pedras, tijolos, terra e lixo; (ii) além de virem eles próprios (e elas, pois se me lembro bem o trator pertencia a uma senhora que quando podia nos vinha ajudar) ao fim do dia para conduzir os mesmos; (iii) os escuteiros da escola queriam ajudar, o que tivemos de recusar pelo perigo de que não podiamos assumir a responsabilidade; (iv) o irmão da Mariana Abrantes, professor António Abrantes, e sua esposa Ivone vieram-nos ajudar e connosco permaneceram até altas horas da noite para o que trouxeram holofotes para pudermos trabalhar de noite, como nós pedimos.
"Os que não puderam ficar foram-se, mas o Luís Fidalgo (advogado, e director da Fundação) nos garantiu, e cumpriu!, arranjar-nos um seguro contra acidentes, para o caso de nos acontecer algo (o que bem podia ter acontecido, dado a nossa coragem e entusiasmo em fazer o que estávamos a fazer).
"Foi durante essa primeira noite, conforme depois saiu em todos os jornais e na própria RTP que também fez cobertura do acontecido, debaixo de grossa camada de terra e estrume de ovelhas e de galinhas, tudo misturado com caliça das paredes, pedras e tijolos, que nós viemos a encontrar o que os media chamaram de 'tesouro na casa de Aristides': "documentos inéditos 'encontrados;' 'documentação encontrada surpreende investigadora', etc etc.; cartas de Aristides à sua mulher, de seus filhos para outros que já tinham emigrado para o Canadá; uma cópia de um livro, escrito por A. S. Mendes ainda por abrir ( à maneira antiga, tinha de se cortar as páginas com um 'abridor de cartas'); e muitos outros pedaços de documentos, alguns ainda intactos, mas a maioria que se desfaziam em pó nas nossas mãos ao simples tocar, revistas e jornais do tempo...
"Tudo foi entregue no dia seguinte em dois sacos de plástico à Fundação na pessoa do dr. Luis Fidalgo na presença da dra. Lina Madeira, uma autoridade em A. S. Mendes que veio de Coimbra a correr, e de vários correspondentes presentes.
"Voltando à reparação 'ad hoc' do telhado e dos buracos nos andares até ao chão... Eu fiquei com o António Rodrigues três ou quatro dias comendo na cantina do lar para idosos, de que o Luis Fidalgo era diretor, e dormindo as primeiras noites na casa do António e Ivone Abrantes, e depois num pequeno hotel local (ainda hoje não sei quem pagou a nossa estadia; o Luis Fidalgo disse-nos que estava tudo pago e não nos devíamos preocupar com isso). Tive de deixar o António sozinho e voltei aos EUA.
"A sua franqueza e simplicidade desarmavam toda a gente que não podia negar o que ele queria, 'para consertar a casa de Sousa Mendes'... Os troncos dos eucaliptos, não sei quantos, mas numa visita que fiz à Casa anos depois deparei com um bem grosso, barrando o meu caminho, escorando o andar superior, depois de rusticamente despojados dos seus braços/ramos, serviram para escorar os andares começando pelo chão...
"E, um por um, cada andar foi escorado e consertado até chegar ao teto.... era preciso 'ter a certeza' de que os barrotes originais no telhado å volta do buraco 'ficassem bem ligados' para que tudo não fosse parar ao chão outra vez. E o António de vez em quando me falava nos anos seguintes nuns bons cabos que lhe faziam muita falta e que ainda estavam a escorar e segurar o telhado da casa de Sousa Mendes: 'Quando consertarem de vez a casa, vou lá buscá-los, que eles ainda me fazem boa falta de vez em quando'…
"E assim foi o que sucedeu. O António, acabado o teto, estava esgotado e só desejava e sonhava poder descansar. Faltava tapar as janelas com madeira para proteger um pouco mais da chuva e vento e ter a certeza de que as portas permaneciam fechadas. Assim pediu, como eu antes de me ir embora de volta aos EUA tinha já falado seria preciso fazer. Mas tal parece não ter sucedido.
"A Casa ficou durante alguns anos em condições de ser visitada sem perigos dum barrote a cair na cabeça. Mas com o tempo e sem um 'António' a preocupar-se pela sua saúde, sujeita às intempéries, o telhado e o resto começou outra vez a cair aos bocados até que finalmente, quase no último minuto, a desesperada reconstrução das paredes, telhado e janelas, finalmente aconteceu..
"Não fora a intervenção 'ad hoc', mas que veio a ser providencial, em 2004, deste apaixonado 'arquiteto sem canudo' de Aristides de Sousa Mendes, não haveria nada a consertar mais, pois o que ainda restava e foi possível salvar, teria sem dúvida desmoronado completamente e tudo teria de ser reconstruido à base de fotos e memórias.
"Nova Iorque, 31 de janeiro, 2015.
"PS - Em anexo dois 'recortes' de jornais : 'Diário de Coimbra', de 8 de outubro de 2004; e 'Defesa da Beira', de 1 de outubro 2004. As imagens [do jornal 'Defesa da Beira'] parecem deixar muito a desejar, mas dão uma ideia do estado da casa com o seu enorme buraco, do teto ao chão; e nos outros recortes, tens comentários do 'Diário de Coimbra' sobre o que foram encontrar. "
Notas do editor
(*) Vd. poste de 30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14419: E as nossas palmas vão para... (9): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte I)
(**) Vd. poste de 18 de julho de 2024 > Guiné 61/74 - P25755: Agenda cultural (856): Inauguração, sexta feira, dia 19, do Museu Aristides de Sousa Mendes (Casal do Passal e jardins) em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal... (Há 20 anos, quando João Crisóstomo e António Rodrigues, do LAMETA, lá estiveram, e puseram "mãos à obra", a casa estava na iminência de ruir! ")
Guiné 61/74 - P25755: Agenda cultural (857): Inauguração, sexta feira, dia 19, do Museu Aristides de Sousa Mendes (Casal do Passal e jardins) em Cabanas de Viriato, Carregal do Sal... (Há 20 anos, quando João Crisóstomo e António Rodrigues, do LAMETA, lá estiveram, e puseram "mãos à obra", a casa estava na iminência de ruir! ")
O presidente da Câmara de Carregal do Sal, o médico Paulo Catalino Ferraz, pôs Carregal do Sal no mapa, ao liderar, de maneira empenhada, entusiástica e decisiva (com a colaboração do Governo e da Fundação Aristides de Sousa Mendes), o projeto de recuperação da antiga Casa do Passal onde nasceu Aristides Sousa Mendes, há 139 anos, m 19 de julho de 1885.
O museu terá uma exposição permanente e duas salas para exposições temporárias, podendo acolher uma ou duas vezes por ano mostras de museus das cidades por onde passou Aristides de Sousa Mendes, assim como outras ligadas à temática do holocausto. (**)
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 30 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14420: E as nossas palmas vão para... (10): João Crisóstomo e António Rodrigues, amigos da causa de Aristides de Sousa Mendes (Parte II)