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quinta-feira, 5 de setembro de 2024

Guiné 61/74 - P25913: Blogues da nossa blogosfera (195): "Portugal Portal," em neerlandês, de Henk Eggens: publicou em 19/7/2024 um artigo do José Saúde ("Een militair keert naar huis terug"/ "Uma soldado volta para casa")

 



Portugal Portal, de Henk Eggens, em neerlandês. Cópia da página de 19 de julho de 2024, "Um soldado volta para casa, de Henk Eggens e José Saúde.


1. Há uma página na Net que se chama Portugal Portal e que se publica em neerlandês, sendo editada por um amigo de Portugal e da Guiné-Bissau, o médico Henk Eggens, lusófono, por sinal casado com uma portuguesa... Merece ser conhecida...

Mas demos-lhe a palavra:

Henk Eggens conheceu Portugal quando começou a trabalhar na área da saúde nos antigos territórios ultramarinos: primeiro em Cabinda, Angola, poucvos meses depois da independente  (1976-'78;) e depois na Guiné-Bissau (1980-'84). 

Aí obteve uma visão especial de partes da cultura e da política portuguesas. Desde então faz regularmente férias para Portugal com a família, geralmente numa casa alugada perto do Rio Dão, no distrito de Viseu. 

Durante anos, viajou por vários países de África, Ásia e América Latina por curtos períodos de tempo para trabalhar, incluindo os países de língua portuguesa, Moçambique e Brasil. Desde 2013 que ele e a esposa passam muito tempo em Santa Comba Dão, distrito de Viseu; Henk está reformadeo, Maria de Jesús é consultora de controle de hanseníase. Tem, pois muito tempo para conhecer e apreciar melhor Portugal e os portugueses. Henk é editor do Portal Portugal desde meados de 2021.

2. Recentemente, em 28/08/2024, 16:34, o Henk Eggens escreveu ao nosso camarada José Saúde a agradecer-lhe a autorização dada para publicar um dos seus textos que veio no nosso blogue, em 20 de abril de 2023 (*). Na altura explicou melhor o seu interesse e disse quem era:

(....) Trabalhei na Guiné-Bissau como médico de 1980-1984. Os primeiros anos estava baseado na Fulacunda, Quínara. Vivi na casa do comandante no antigo quartel. Era o único médico na região, desde Tite até Empada. Sem hospital, com poucos recursos. Foi uma aventura valiosa.

Desde aquele tempo fiquei ligado mentalmente com Guiné-Bissau e o povo lá. Assim sigo o blogue de Dr. Luís Graça. Aparecem reflexões equilibradas sobre aquele tempo difícil, como o Senhor descreveu bem. (...)
3. O artigo do Zé Saúde, em holandês (ou melhor, neerlandês, como agora se diz),  saiu em 19 de julho passado:
 
De: Portugal Portal <mailportugalportal@gmail.com>
Data: 23 de julho de 2024 08:04
 
Caro Sr. José Saúde,

Queria informa-lhe que o seu artigo em holandês foi publicado no dia 19 de julho 2024. https://www.portugalportal.nl/een-militair-keert-naar-huis-terug/ (**)

Espero que o senhor tenha a possibilidade de ler a tradução.

Agradeço a oportunidade de poder publicar sua mensagem de memórias traumáticas no final de sua estadia na Guiné. Para o leitor holandês, longe das vossas experiências na tropa, dá, acho eu, para perceber melhor aquele episódio da história tão importante dos Portugueses e das Portuguesas.

Tudo de bom para o senhor!

Com os meus melhores cumprimentos,
Henk Eggens
Redactie Portugal Portal
Portugal Portal

 4, Aqui vai a versão portuguesa do artigo, com uma introdução do Henk Eggens (**):

Um soldado volta para casa
por Henk Eggens
Publicado em 19 de julho de 2024
AApós a Revolução dos Cravos em Portugal em 1974, foi rapidamente prometida a independência aos territórios ultramarinos. A luta entre os movimentos de libertação e o exército colonial cessou pouco depois do 25 de Abril. Os soldados portugueses em Angola, Moçambique e Guiné Portuguesa deixaram o campo de batalha e puderam finalmente regressar a casa.

Durante a minha estadia em Portugal conversei com vários portugueses que viveram a guerra, a maioria deles na Guiné, mas também em Angola e Moçambique. A maioria eram recrutas e, após um rápido treinamento militar básico, foram transferidos para um país africano estrangeiro. Lá era esperado que eles defendessem a pátria contra os turras, os terroristas (eu os chamo de lutadores pela liberdade). Foram criados com a ideia de que o grande império português também tinha de ser defendido contra os comunistas noutras partes do mundo.


Muitos deles ficaram desmotivados durante a sua longa permanência em situações de guerra. A desmotivação levou à resistência contra a política portuguesa prevalecente. O resultado foi a revolta dos 'Capitães de Abril' que desencadearia a Revolução dos Cravos.

O slogan “25 de Abril começou em África” contém um fundo de verdade.


O 25 de abril nasceu na África
Foto Rui Landim no Twitter


Uma história pessoal, 

por José Saúde

José Saúde, que viveu o 25 de Abril de 1974 como militar proveniente de uma unidade de elite (Rangers), tendo feito a sua comissão militar em Nova Lamego (atual Gabu, Guiné-Bissau) e tem registado as suas memórias num blog de veteranos de guerra portugueses (Luís Graça & Camaradas da Guiné).






José Saúde, na Guiné Portuguesa, 1973. Foto José Saúde.


O dia 25 de Abril de 1974, dia em que foi proclamada a liberdade, tornou possível o regresso à pátria de camaradas acampados em Angola, Moçambique e Guiné (territórios onde a guerrilha não dava tréguas). Naquele momento sentiu-se que o sofrimento dos jovens enviados para as frentes de combate havia chegado ao fim.


Foi um Abril que “rejuvenesceu ao som de um cravo vermelho”. Jovens encantados com o sucedido e preparados para voltar rapidamente para casa. Era Abril, e seu cravo vermelho a renascer de um tempo onde proliferava a escuridão. Éramos filhos das longas manhãs de profundas indecisões, mas onde a esperança da liberdade permanecia permanentemente nos nossos corações. Fomos, também, filhos de gente humilde, que passou por um período difícil (HE: No texto original: que comeram o pão que o diabo amassou), mas de pais que nos criaram e que fizeram nós homens para um amanhã melhor.

Porém, os tempos sombrios impediram muitos dos nossos pais darem aos filhos o ensino secundário ou superior, porque os recursos financeiros da família eram demasiado limitados. Somos filhos de um regime totalitário, o Estado Novo, onde civis inocentes foram colocados sob ordens estritas enquanto muitas pessoas simplesmente pediam trabalho, mesmo que fosse apenas sazonal.


No Estado Novo

Os tempos eram diferentes! Tempos em que faltava liberdade para expressar opiniões pessoais e em que os mais destemidos eram enviados para ‘campos de férias’, onde as grades de uma prisão se apresentava como uma realidade inegável. Pessoas sérias e honestas, algumas com apenas a quarta classe do ensino primário, outras analfabetas, mas cuja coragem própria resultou em prisão política. Pessoas que estavam comprometidas de coração e alma com uma crença que consideravam justa e onde tinham em mente o bem-estar do seu povo. Mas, por outro lado, sempre existiram os agentes leais de um regime que não mostrou piedade para com o cidadão honesto.

Éramos crianças alegres, brincávamos na rua, jogávamos futebol em campos inóspitos, às vezes com bola de trapo ou com uma bexiga de porco e tantas outras brincadeiras que ainda hoje lembramos. Crescemos ouvindo falar de atrocidades onipresentes do regime, de agentes da PIDE que dominavam tudo ou quase tudo, conhecemos o sofrimento incalculável de famílias marcadas pelos mandamentos estritos de pessoas vestindo fatos caros, à Príncipe de Gales, e com gravatas de seda pura. 

Mas um dia vimos sinais de que o medo que nos oprimia por causa de um governo hostil estava, com o evoluir das eras, a tornar-se cada vez menos necessário. O 25 de Abril de 1974, a grande Revolução dos Cravos, abriu-nos as portas à liberdade e, sobretudo, ao conhecimento de novos mundos e de novas realidades. Pertencemos a uma geração que teve a oportunidade de conhecer reformas ou, em suma, gentes novas. Eram melhorias do destino que mudariam esta imensa esfera, chamada Terra.

Enviados para as frentes de combate

Assistimos à guerra colonial como muitos milhares de camaradas, no nosso caso em território guineense. O conflito começou em Angola em 1961 e estendeu-se a Moçambique e à Guiné, terminando com a queda do regime liderado pelos capitães de Abril. Nós, jovens rapazes, fomos enviados para o cenário de uma guerra onde os soldados, quando confrontados com a realidade guerrilha, ficavam enfurecidos, protestavam violentamente e proferiram, por vezes, maldições. A frustração levou-os a um quadro virtual onde estava escrita a simples frase: Matar para não morrer!

Sim, como sabeis camaradas, muitos perderam a vida no campo de batalha, outros em picadas, ou numa emboscada, outros nos seus quartéis em consequência de ataques noturnos inimigos e quando descansavam sobre um aparente aliviar de tréguas. Muitos ficaram mutilados; muitos outros portadores de doenças mentais crónicas devido às circunstâncias completamente inesperadas em que viveram.

Lar!

Quando rebentou a Revolução de Abril e soou o som do clarinete para nos reunir, este vosso camarada estava a cumprir a sua missão militar na Guiné, mais precisamente em Nova Lamego, hoje Gabu. 

Claro que todos nós aplaudimos esta fantástica aventura. Seguiram-se momentos de contacto com membros do PAIGC (HE: movimento de libertação), conhecemos os rostos daqueles contra quem havíamos lutado anteriormente, trocamos conversas e finalmente tomaram conta das nossas instalações.




O soldado José Saúde se despede dos companheiros em Novo Lamego, na Guiné Portuguesa. Foto José Saúde.


A população civil barafustou às portas do nosso quartel, sendo as suas expectativas quiçá incertas. Vinham em grupos e esperavam receber alguma coisa. Seus rostos irradiavam inseguranças reprimidas. Nós, entendemos isso. Mas, a nossa missão tinha chegado ao fim. Voltaríamos para casa em breve. Ficou o nosso grito de desabafo: Adeus, Nova Lamego!

Saudações deste velho camarada!

José Saúde

(O texto não foi revisto por nós: LG) 

—————-

O Portal Portugal já prestou atenção aos soldados portugueses que lutaram na guerra colonial.

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Notas do editor:

(*) Vd. 20 de abril de 2024 > Guiné 61/74 – P25415: Os 50 anos do 25 de Abril (10): Até sempre, Nova Lamego! (José Saúde, ex-fur mil op esp/ranger, CCS / BART 6523, 1973/74)

(**) Último poste da série > 5 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25483: Blogues da nossa blogosfera (194): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VII: mulheres pescadores do rio Cadique (foto de Ernst Schade)

domingo, 5 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25483: Blogues da nossa blogosfera (194): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VII: mulheres pescadores do rio Cadique (foto de Ernst Schade)

 


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 7 de janeiro de 2007 >  

Integrado na comemoração do seu XVº Aniversário a AD acaba de lançar uma colecção de 9 bilhetes postais incluindo fotografias doadas pelo fotógrafo profissional Ernst Schade, das quais uma delas é esta que retrata as mulheres pescadoras do rio Cadique, na região de Cantanhez, sul da Guiné-Bissau.

A pesca de bolanha é uma actividade determinante para a segurança alimentar das famílias desta zona que com ela asseguram, ao longo do ano, uma parte importante dos recursos proteicos da sua alimentação.


Foto: © Ernst Schade | Legenda: AD  Bissau (2007)

Fonte: Archive Net / AD Bissau (2007)  (o sítio http://www.adbissau.org/ foi 
descontinuado)

___________

quarta-feira, 17 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25400: S(C)em Comentários (33): "500 anos depois"... eram os "cubanos" que ensinavam, em 2008, as mulheres de Iemberém a aprender o português


 
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: Mulheres alfabetizadas pelo método ALFA-TV | Data de Publicação: 22 de junho de 2008 | Palavras-chave: Ensino 

Legenda:

"Concluiu-se agora em Iemberém, no sul do país, o primeiro módulo de alfabetização pelo método cubano conhecido por ALFA-TV  e que tão bons resultados tem obtido.

Usando um sistema de 36 aulas através de vídeo-cassetes emitidas por televisão, consegue-se que os alfabetizandos aprendam em 5 meses a escrever e a falar rudimentarmente o português.

Mariama Galissa é uma das 72 mulheres que aprenderam a escrever e que manifesta o seu entusiasmo às suas amigas e companheiras que mantêm algumas reservas em iniciarem-se nesta aprendizagem."


Fonte: Internet Achive > AD BIssau (com  devida vénia...) 

(O sítio original foi descontinuado: http://www.adbissau.org/adbissau/fotodasemana/2008.06.22.htm ) (*)

 
2. Comentário do editor LG:

Escrevi há 14 atrás (**):

"Uma ternura de imagem !... E ao mesmo tempo uma imagem que me deixa cheio de raiva e de furor. Não tanto por serem os cubanos a fazer a alfabetização, em português, do povo gentil de Iemberém, das etnias nalu,  tanda, sosso, etc., que eu tive o privilégio de conhecer, em 1, 2 e 3 de Março de 2008, mas por em 2008, em pleno séc XXI, a Mariama Galissa e tantas outras Mariamas da Guiné-Bissau, e de toda a África, não dominarem ainda uma tecnologia que é tão importante para o desenvolvimento pessoal, intelectual, cultural e sócio-económico e para o exercício da cidadania como é a língua oficial, escrita e falada, do seu país...

"Não me interessa se é o português, o espanhol, o francês ou o inglês, não me interesssam os méritos e os desméritos do método ALFA-TV: o que importa é que as mulheres africanas (mas também os homens...) possam dominar um dos principais idiomas do mundo globalizado, e com isso marcar pontos no seu duro processo de emancipação, de conquista da autonomia, de afirmação da sua singularidade e da sua dignidade como pessoas, como cidadãs, como mulheres, como africanas... 

"Eu sei que não basta apenas saber ler, escrever e contar...Eu sei que é apenas um passo, mas é decididamente um passo de gigante. Uma mulher alfabetizada, em África, tenderá a ser mais saudável, mais activa, mais produtiva, mais empreendedora, mais participativa, mais empenhada, mais reivindicativa, mais consciente dos seus direitos e deveres, mais promotora da paz, mais apta para agarrar novas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento, mais competente para ajudar a família, a comunidade e o país a sair do círculo vicioso da pobreza"... 

___________


(**) Vd. poste de 30 de junho de  2008 > Guiné 63/74 - P3006: Ser solidário (12): Método cubano de alfabetização... em português

quinta-feira, 11 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25370: Blogues da nossa blogosfera (193): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VI: a arte e o engenho das mulheres do Cantanhez


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana >  Título da foto: A imaginação na Luta pela Independência | Data de Publicação: 1 de Junho de 2008 | Palavras-chave: História

Legenda:


Fatumata Camará explica aos participantes do Simpósio Internacional de Guiledje como é que nos acampamentos de guerrilheiros do PAIGC em Cantanhez, as mulheres procediam para descascar o arroz sem que se ouvisse barulho e, desta forma, não fossem detectadas.

O pilão era quase totalmente enterrado, pelo que as vibrações e ruído eram absorvidos pelo solo que impedia a sua propagação. Para a preparação das refeições também aperfeiçoaram um sistema que impedia que o fumo subisse para além da copa das árvores e assim a sua presença não era percebida.

Se ontem a inteligência e capacidade das mulheres ajudou a encontrar soluções inovadoras e imaginativas para os problemas com que se foram deparando, também hoje elas procuram novos caminhos para resolver as dificuldades dos seus trabalhos agrícolas.

Fonte: Internet Archive > ADBissau  (com a devida vénia...)


2. Comentário do editor LG:

Temos andado à procura das "fotos da semana" que o nosso saudoso  amigo guineense, o Pepito (Bissau, 1949 - Lisboa, 2014), membro da nossa Tabanca Grande, foi publicando no sítio da ONGD AD - Acção para o Desenvolvmento, de que ele foi cofundador (em 1991) e  diretor executio (até à data da sua morte, prematura, em 18 de fevereiro de 2014).

Algumas foram publicadas no nosso blogue. Outras, perderam-se irremediavelmente. Através do Arquivo.pt e do Internet Archive é possível recuperar algumas, nomeadamente do período que vai de 2005 a 2011.

antiga página da AD - Acção Para o Desenvolvimento (http://www.adbissau.org/ )   foi reformulada e descontinuada (por  volta de  2020/2021). 

Com sorte e paciência, lá vamos recuperando alguma "foto da semana", como esta que reproduzimos acima, tirada nas matas do Cantanhez, por altura do Simpósio Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008).

A maior parte das fotos da série eram da autoria do Pepito, que incansavelmente percorria a Guiné onde quer  que estivessem em curso,  ou em estudo,   projetos da AD...  Cada foto tinha um título, uma data, uma palavra-chave ou "descritor", e uma legenda, resumo analítico ou sinopse.

A ONG AD - Ação para o Desenvolvimento passou, a partir de maio de 2011, a ter outro endereço, mas  a URL é ligeiramente diferente da do sítio antigo.  Estranhamente, não tem sido capturada pelo Arquivo.pt: https://ad-bissau.org/ . Já sugerimos que o façam.

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Nota do editor:

(*) Vd. postes anteriores da série:

10 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25363: Blogues da nossa blogosfera (192): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte V, foto da semana, 11 de maio de 2009: lutando contra a fome, em Bolol, chão felupe



8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25355: Blogues da nossa blogosfera (189): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte II: foto da semana, 16 de janeiro de 2011 (Tambores de Bolol na festa do fanado felupe)

8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25354: Blogues da nossa blogosfera (188): recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte I: foto da semana, 5 de julho de 2009 (Produção de Flor-de -Sal)

quarta-feira, 10 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25363: Blogues da nossa blogosfera (192): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV, foto da semana, 11 de maio de 2009: lutando contra a fome, em Bolol, chão felupe


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 11 de maio de 2008 >  Título da foto: Lutando contra a fome | Data de Publicação: | 11 de Maio de 2008 | Palavras-chave:Alimentação 
 
Legenda:

O mau ano agrícola de 2007 começa a fazer os seus efeitos na segurança alimentar das famílias guineenses mais pobres, as quais registam o início da ruptura dos seus stocks, quando num ano normal isso só acontece em julho ou agosto.

A agravar esta situação junta-se o aumento exponencial e repentino dos produtos alimentares, fruto de fatores externos, dos quais se salienta a sua utilização para biocombustível, um verdadeiro crime contra a humanidade.

Consciente do problema, Adama Djata, horticultora de Bolol, no norte da Guiné-Bissau, região do Cacheu, improvisa um campo de cultivo de tomate, em condições pré-desérticas, onde falta a água e os solos arenosos são muito pobres.

Fonte: Arquivo.pt > ADBissau.org (com a devida vénia...)

(Revisão / fixação de texto, edição da foto: LG)

2.  Comentário do editor LG:

É reconfortante saber que a memória e o exemplo do "Pipito" (como lhe chamavam os seus amigos e vizinhos do bairro do Quelelé, em Bissau, e no nosso... blogue!) continuam vivos  (**) e a inspirar os seus colegas da AD - Ação para o Desenvolvimento, de que foi cofundador e diretor executivo até à data da sua morte, ocorrida em Lisboa (18 de fevereiro de 2014).

O Carlos Schwarz da Silva (1949-2014), além de ser um engenheiro agrónomo competente, entusiástico  e inovador, era um grande líder e animador, e um homem dotado de elevada sensibilidade cultural e capacidade de leitura da realidade sociopolítica do seu tempo.

Seria uma pena que as suas "fotos da semana", publicadas no sítio da sua organização, desde 2005, se perdessem... As fotos e as legendas.  Estamos a recuperar algumas, que foram publicadas no antigo sítio da AD Bissau (http://www.adbissau.org/ ), descontimuado com a pandemia.  Muitas já se perderam, irremediavelmente.

O atual endereço eletrónico (URL) do sítio da "nova" AD - Ação para o Desenvolvimento (https://ad-bissau.org é ligeiramente diferente do anterior.  Esta ONGD, guineense, foi criada em 1991.
___________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 9 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25360: Blogues da nossa blogosfera (191): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV: a ilha-refúgio de Alfa Iaia, rio Corubal

(**) Vd. poste de 19 de fevereirio de 2024 > Guiné 61/74 - P25186: Efemérides (426): "Pipito Ka Muri": foi há dez anos, a 18/2/2014, que deixou a Terra da Alegria, mas com ele, o seu exemplo, a sua memória, renasce agora a nova AD - Acção para o Desenvolvimento

terça-feira, 9 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25360: Blogues da nossa blogosfera (191): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte IV: foto da semana, 2 de janeiro de 2011: a ilha-refúgio de Alfa Iaia, rio Corubal


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > Título da foto: A ilha refúgio de Alfa Iaia | Data de Publicação: 2 de Janeiro de 2011 | Data da foto: 6 de Novembro de 2010 | Palavras-chave: ecoturismo

Legenda:

No século XIX,  

Alfa Iaia, rei de Labé, c. 1900
Fonte: Wikimedia Commons 
(com a devida vénia...)
Alfa Iaia era rei de Labé no Futa Jalon, tendo sido coroado em 1892 e sendo hoje uma figura reverenciada na Guiné-Conacri e adorada como um herói nacional deste país.

Embora controversa pelas alianças que fez com o colonizador francês, acabou por ser um grande combatente que afrontou os colonialistas em numerosas batalhas a cavalo. 

Foi nesta ilha no meio do rio Corubal que por vezes se refugiava quando acossado pelos franceses que assim lhe perdiam a pista.

Acaba por morrer na Mauritânia em 1912, depois de ter sido para lá deportado pelos franceses, na sequência de uma anterior deportação para o Dahomé (atual Benin).

(com a devida vénia...)
___________________

Nota do editor:

Último poste da série > 8 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25356: Blogues da nossa blogosfera (190): Recuperando parte dos conteúdos do antigo  sítio da AD Bissau - Parte III: Foto da semana, 19 de dezembro de 2010, o canhão do fortim de Bolol (ou Bolor), memória silenciosa do desastre de 1870

segunda-feira, 8 de abril de 2024

Guiné 61/74 - P25356: Blogues da nossa blogosfera (190): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte III: Foto da semana, 19 de dezembro de 2010, o canhão do fortim de Bolol (ou Bolor), memória silenciosa do desastre de 1870


Guiné-Bissau > AD-Acção Para o Desemvolvimento > Foto da Semana >  Título da foto: Canhão do Fortim de Bolol | Data de Publicação: 19 de Dezembro de 2010 | Data da foto: | 21 de Novembro de 2010 | Palavras-chave: história (*)

Legenda:

Durante o período colonial, no final do século XIX, os portugueses estabelecem um fortim em Bolol para controlar o movimento marítimo na embocadura do Rio Cacheu, já próximo do oceano Atlântico.

A tabanca felupe de Djufunco, situada a pouca distância de Bolol, não aceita a presença desse Fortim e faz uma investida que acaba por destruí-lo e impedir de vez o seu funcionamento.

Ofendido, o governador da Guiné, sediado em Cabo Verde, organiza uma expedição punitiva a Djufunco, que acaba por se traduzir na morte de quase todos os soldados portugueses envolvidos nesta operação.

Passará a ficar conhecido na história como o Desastre de Bolol, vindo a ter como consequência imediata a afectação de um governador na Guiné, em vez de continuar a estar em Cabo Verde.

Fonte: Arquivo.pt > ADBissau.org (com  devida vénuia...)


Antiga Província Portuguesa da Guiné > Carta Geral (Escala: 1/500 mil) (1961) > Posição relativa de Bolol (ou Bolor(, Bolola, Jufunco, Varela e Cacheu.

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guimné (2024)


2. Sobre o desastre de Bolol (ou Bolor, como ainda se escrevia na carta de 1961), pode ler-se na Wikipedia (com a devida vénia...)

(...) Desastre de Bolol é a designação por que ficou conhecida na historiografia colonial portuguesa o resultado da expedição militar portuguesa enviada em finais de 1878 para recuperar o fortim de Bolor (era assim que se escrevia na época ao) na foz do rio Cacheu, na então Guiné Portuguesa.

A expedição, enviada pelo governador de Cabo Verde, que à época tinha jurisdição sobre a costa da Guiné, resultou na morte de quase todo o contingente envolvido na operação, o que determinou a alteração da estratégia portuguesa na região, nomeadamente a criação de um governo específico na Guiné, sedeado em Bolama e separado do de Cabo Verde.

(...) No contexto da corrida à ocupação efectiva do território africano, que culminaria na Conferência de Berlim (1884-1885), forças britânicas da colónia da Serra Leoa instalaram-se na ilha de Bolama, iniciando uma disputa pelo controlo da foz do Cacheu que culminou em 1870 com a decisão arbitral do presidente norte-americano Ulysses S. Grant que reconheceu a soberania portuguesa na região.

Em consequência, o Governo português ordenou a ocupação efectiva daquela região, visando a consolidação do seu estatuto como possessão portuguesa. 

Entre os postos criados, foi estabelecido um fortim na tabanca de Bolol (ao tempo referida como Bolor), em território do grupo étnico dos felupes, na margem direita do rio Cacheu.

O objetivo do fortim de Bolor/Bolol era albergar uma pequena força portuguesa à qual caberia controlo do movimento marítimo na embocadura do rio Cacheu, estabelecendo assim a posse efectiva do território em antecipação a novos conflitos pela posse daquela estratégica porção da costa africana e das ilhas fronteiras, nomeadamente a posse de Bolama e da parte mais interna do arquipélago dos Bijagós.

Aparentemente com o apoio britânico, cujos mercadores na região terão fornecido armamento, o povo da tabanca felupe de Jufunco (lê-se: Djufunco),  situada a pouca distância de Bolor/Bolol, não aceitou a presença militar portuguesa, atacando e destruindo o fortim.

Em resposta ao ataque, o governador da Cabo Verde, então com jurisdição sobre a costa africana fronteira ao arquipélago de Cabo Verde, na qual se incluía a actual Guiné-Bissau, enviou em 1878 uma expedição punitiva a Jufunco. 

A resistência do povo felupe foi inesperadamente dura e a expedição foi um desastre militar, resultando na morte da maioria do efetivo português envolvido na operação.

O incidente, apelidado de 'desastre de Bolol' (na época dizia-se Bolor), foi uma das maiores derrotas do Exército Português na luta pelo controlo das populações africanas das colónias portuguesa no contexto das campanhas de pacificação.

Como consequência imediata foi determinado a criação de um governador autónomo na Guiné, separado de Cabo Verde, sendo escolhida como sede a vila de Bolama, estabelecendo assim uma efectiva presença portuguesa no território que havia sido disputado com os britânicos.

 Seguiram-se múltiplas acções militares visando a submissão dos diversos povos da região, nomeadamente contra os biafadas em Jabadá (1882), os papéis em Bissau e no Biombo (1882-1884), os balantas em Nhacra (1882-1884) e os manjacos em Caió (1883).(...)

No local do fortim, agora parte do Parque Natural dos Tarrafes do Rio Cacheu, apenas resta uma pequena peça de artilharia em ferro, de alma lisa.(...)

(Seleção, revisão / fixação de texto, itálicos, negritos: LG) 
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Guiné 61/74 - P25355: Blogues da nossa blogosfera (189): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte II: Foto da semana, 16 de janeiro de 2011 (Tambores de Bolol na festa do fanado felupe)


Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Título da foto: Tambores de Bolol |  Data de Publicação: 16 de janeiro de 2011 |  Data da foto: 21 de novembro de 2010 | Palavras-chave: Cultura popular

Legenda: 

A tabanca de Bolol, situada no extremo sul da planície de Varela, junto à embocadura do rio Cacheu (Bolor, ao lado de Bolola, segunda cartografia portuguesa, vd. carta de Jufunco, que não temos), prepara-se este ano para realizar o seu 'fanado', o que está a mobilizar toda a comunidade felupe desta zona e em especial os jovens.

Trata-se da cerimónia ancestral de iniciação dos jovens à vida adulta, onde são acolhidos numa 'barraca' num local isolado durante cerca de 2 meses, onde aprendem a sua história, a sua cultura, os valores éticos e morais e a forma de se comportarem em sociedade.

Felizmente que este ano a colheita de arroz foi boa e muito melhor que a do ano passado, o que vai assegurar que todas as cerimónias culturais que antecedem a partida dos 
'fanados' para a 'barraca' e a sua saída se anteveja com muita alegria e festa.

Foto (e legenda): Arquivo.pt > AD - Bissau (com a devida vénia...)


1. Continuamos a recuperar, com sorte e paciência, algumas "fotos da semana", do antigio da AD - Acção para o  Desenvolvimento,  como esta que reproduzimos acima: os tambores de Bolol na festa do 'fanado' felupe...

Como já dissemos anteriormente, a maior parte das fotos desta série eram tiradas pelo Pepito,  nas suas andanças pelo interior da Guiné. Gostava gostava muito do "chão felupe". Tinha casa de praia em Varela, já deste o tempo dos pais.

Cada foto tinha um título, uma data, uma palavra-chave ou "descritor", e uma legenda, resumo analítico ou sinopse. Esta série, "foto da semana", começou a publicar-se no início da criação da página, em 2005.

O sítio, AD Bissau  (http://www.adbissau.org/ ) fazia parte da lista dos "blogues da nossa blogosfera" (*), Infelizmente ficou inativo por volta de 2020/2021 e foi desontinuada,  por razões que desconhecemos (talvez devido à pandemia).  O sítio atual da Ação para o Desenvolvimento (nova designação, de acordo com a ortografia em vigor) é: https: www.ad-bissau.org

Só muito recentemente, através do Arquivo.pt, conseguimos recuperar parte dos seus conteúdos. Outros perderam-se, como o casos de alguns excelentes vídeos didáticos, como o Bemba di Vida (Celeiro da Vida), uma produção do IBAP, com apoio de várias ONGD, incuindo a AD... (Está disponível no You Tube, na conta de Edgar Ferreira Correia). O Arquivo.pt não recupeera estes vídeos por que "o Adobe Flash Plaer já não é suportado"... Enfim, é o preço que se paga pela obsolescência tecnológica no domínio da gestão da informação.


De qualquer modo, é uma pena que estes recursos (vídeos, áudio, fotos, texto...) se percam. (Vd. também a página do Facebook do IBAP - Instituto da Biodiversidade e Áreas Protegidas), instituição que merece o nosso apreço e apoio.

No tempo do nosso amigo Pepito, engº agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949 - Lisboa, 2014), cofundador e diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, tínhamos uma relação privilegiada com esta organização guineense, com sede em Bissau, Bairro do Quelelé..
.
Fomos perdendo os contactos, com a morte do Pepito e os sobressaltos da vida interna da ONG.  Mas durante anos o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné continuou a figurar como um dos "parceiros" da AD, a par, por exemplo, da Tabanca Pequena de Matosinhos (vd. imagem à esquerda).

Guiné 61/74 - P25354: Blogues da nossa blogosfera (188): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte I: Foto da semana, 5 de julho de 2009 (Produção de Flor-de -Sal)



Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desemvolvimento > Foto da semana: Título da foto: Aumenta a produção de Flor-de-Sal | Data de Publicação: 5 de Julho de 2009 | Data da foto: 20 de Março de 2009 | Palavras-chave: Novas Tecnologias

Legenda:

"Ermelinda Medina é a técnica responsável pela difusão desta tecnologia amiga do ambiente que está a fazer um enorme sucesso em todas as zonas litorais da Guiné-Bissau, com crescentes pedidos da parte das mulheres habituadas a produzir sal segundo os moldes antigos, isto é, com recurso à lenha e ao lume.

"Enquanto vulgarizadora que bem conhece e domina a produção de sal de excelente qualidade, a flor-de-sal, ela começou a difusão na zona de Ingoré, seguindo-se Barro, S.Domingos e Canchungo, preparando-se para cobrir as zonas de Cacine e Bedanda, logo que comece a próxima época seca.

"Recorrendo apenas à energia solar, em vez da habitual queima de lenha, as mulheres passam a dispor de um produto de melhor qualidade (sal iodado), de aparência mais comercial e com uma procura assegurada, o que lhes permite aumentar os seus recursos financeiros, gastando menos tempo e não agredindo a sua saúde." 

Fonte: Arquivo.pt > ADBissau.org (com a devida vénia...)


1. No tempo do nosso amigo Pepito, engº agrº Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949 - Lisboa, 2014), cofundador e diretor executivo da AD - Acção para o Desenvolbimento, tínhamos acesso à excelente fotogaleria da página desta prestigiada e respeitada ONG, com sede em Bissau, Bairro do Quelelé... 

Tínhamos inclusive uma  relação privilegiada com esta organização guineense, que se foi perdendo com a morte do Pepito. Nòs, a Tabanca Grande, a Tabanca Pequena de Matosinhos, e outras tertúlias, incluindo a ONGD Ajuda Amiga. Mas durante anos o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné continuou a figurar como um dos "parceiros" da AD.

Nos últimos  anos, deixámos inclusivamente de ter acesso à antiga página da AD - Acção Para o Desenvolvimento: o sítio (http://www.adbissau.org/ )   terá sido reformulado e descontinuado (por  volta de  2020/2021). 

Só muito recentemente, através do Arquivo.pt, conseguimos recuperar parte dos seus conteúdos, nomeadamente do perído que vai do  seu início, em 2005, até 2010. Outros conteúdos  perderam-se como a multimédia (vídeos e áudios) e a fotogaleria (a série "Foto da semana"). 

Com sorte e pacicência, lá vamos recuperando alguma "foto da semana", como esta que reproduzimos acima. 

A maior parte das fotos eram da autoria do Pepito, que incansavelmente percorria a Guiné onde quer  que estivessem em curso,  ou em estudo,   projetos da AD...  Cada foto tinha um título, uma data, uma palavra-chave ou "descritor", e uma legenda, resumo analítico ou sinopse.

Tratava-se de um sítio que fazia parte da nossa blogosfera (*), que nos disponibilizava recursos (em imagem, texto, etc.)   importantes para se ir acompanhando quer projetos relevantes para o desenvolvimento socioeconómico sustentado da Guiné-Bissau (como é o caso, por exemplo, da produção de sal), quer para se conhecer melhor a socioantropologia guineense  (a arte, a música,  a cultura,   etc.) e a sua história recente.

A ONG AD - Ação para o Desenvolvimento passou, a partir de maio de 2011, a ter outro endereço, mas  a URL é ligeiramente diferente da do sítio antigo.  Estranhamente, não tem sido capturada pelo Arquivo.pt: https://ad-bissau.org/ . Já sugerimos que o façam.

De entre os membros da equipa da AD (40, dos quais já morreram três, incluindo o Pepito em 2014), o Mamadu Ali Jaló é atualmente (e desde maio de 2011),   o responsável pela actualização da página na Web e pela redacção dos folhetos e informações da organização.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25150: Blogues da Nossa Blogosfera (187): "Des Gens Intéréssants", de João Schwarz da Silva (Bruxelas, nosso grão-tabanqueiro n.º 768, desde 30/3/2018) - II ( e última) Parte


Música Klezmer na casa de Clara Schwarz da Silva em São Martinho do Porto, por João Graça (violino). 7 de agosto de 2007. A mãe da Clara era russa, de Odessa, hoje Ucrânia. A Clara também formação musical superior, tocava violino. O João tocou o "Bulgar de Odessa", um tema "klezmer" clássico que a emocionou...(Tinha então 92 anos, morreria em 2016, com 101.) (LG)

Vídeo (1' 41'') / You Tube > Luís Graça 




I. Este e outros são alguns dos recursos, em suporte audiovisual, que estão disponíveis  no fabuloso blogue do nosso amigo João Schwarz da Silva (*), irmão do nosso Pepito (Bissau, 1949-Lisboa, 2012), filho de Clara Schwarz (Lisboa, 1915  - Oeiras, 2017) e de Artur Augusto Silva (Ilha Brava, 1912- Bissau, 1983.    

A sua antiga página sobre histórias de vida de gente "interessante" (seus familiares, uns mais próximos, outros mais afastados)  passou a ter um novo endereço:

https://des-gens-interessants.blogspot.com

Eis,  a seguir, mais  alguns vídeos (em geral, em português, alguns em francês), que podem interessar os nossos leitores. Recorde-se que, em vida do Pepito e da Clara Schwarz, havia um dia de agosto em que a casa do Facho, na Praia de São Martinho do Porto, se transformava em Tabanca de São Marinho do Porto...
 
Alguns de nós tivemos o privilégio de conhecer um pouco melhor o Pepito e a sua família, na inbtimidade,    a começar pela matriarca, a dra. Clara Schwarz da Silva (durante vários anos, até à sua morte, aos 101 anos, em 2016, foi a "decana da Tabanca Grande").

Estamoa falar da famosa "casa do Cruzeiro", em São Martinho do Porto, no sítio do Facho, uma casa que o pai da Clara (e avô do Pepito), o engenheiro de minas Samuel Schwarz (1880-1953), judeu de origem polaca, lhe comprara quando ainda solteira, antes da II Guerra Mundial...

Por seu turno, o pai do Pepito, Artur Augusto Silva (1912-1983) tinha sido advogado em Alcobaça e em Porto de Mós no pós-guerra. O casal viveu em Alcobaça entre 1945 e 1949, antes de partir para a Guiné (ele, em finais de 1948 e o resto da família em 1949). Foram amigos pessoais e visitas de casa do pintor Luciano Santos (Setúbal, 1911-Lisboa, 2006), que vivia então em Alcobaça. (**)
________________

  • Apresentação do livro “La Découverte des Marranes”, Musée d’Art et d'Histoire du Judaïsme de Paris, 18 de fevereiro de 2016 (em francês)

https://www.mahj.org/fr/media/quand-le-portugal-redecouvre-ses-marranes

  • Entrevista de Clara Schwarz, José Melo e Antonieta Garcia sobre a vida e obra de Samuel Schwarz. Filme realizado pela Comunidade Israelita de Lisboa em 2004

Entrevista de Clara Schwarz por Jose Melo e Antonieta Garcia

  • A comunidade marrana de Belmonte em Portugal, por João Schwarz (em francês):

https://www.youtube.com/watch?v=xCJWe8ZPjfM&t=1s

  • Entrevista de João Schwarz sobre a doação da familia ao Tikva Museu Judaico de Lisboa

Entrevista de João Schwarz para o Museu Judaico de Lisboa

  • A cidade de Tomar, a sua sinagoga e a sua história, por Samuel e João Schwarz. Filme de Livia Parnes (em francês)

https://www.youtube.com/watch?v=UnqmXYvRiJk&t=7s

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Guiné 61/74 - P25145: Blogues da Nossa Blogosfera (186): "Des Gens Intéréssants", de João Schwarz da Silva (Bruxelas, nosso grão-tabanqueiro n.º 768, desde 30/3/2018) - Parte I


João Schwarz da Silva
1. Mensagem do no amigo João Schwarz da Silvagrão-tabanqueiro, nº 768 (desde 39/3/2018); tem 17 referências no nosso blogue; vive presentemenente em Bruxelas: 

Data - 7 fev 2024 10:38
Assunto - O novo blogue "Des Gens Intéréssants"

Olá,  Luis

O meu site www.desgensinteressants.org acabou porque o software que eu usava (Sandvox) ja não é suportado,  o que significa que não é compatível com as últimas versões do
 IOS (pois ém  eu sou um utilizador de MAC). 
Tive portanto que efetuar uma migração para:

https://des-gens-interessants.blogspot.com

e aproveitei para alterar umas coisas e para acrescentar outras. 

De qualquer modo agradeço a dica sobre o Arquivo.pt. 


https://arquivo.pt/wayback/20230202034507/http://www.desgensinteressants.org/samuel-schwarz/index.html

Se tiveres comentários a fazer sobre esta nova página,  apita,  pois ainda estou a aprender a utilizar o Blogger.

Obrigado também pelo poste sobre as crianças austríacas (**) que,  se bem me lembro,  foram acolhidas em Portugal pela Caritas,  o que levou a abusos em série pois eles entregavam as crianças a pessoas que as exploravam. 

A minha mãe contava que em Alcobaça ela viu uma miúda loira que só falava alemão no stand de um vendedor de legumes. Ela queixava-se amargamente de maus tratos a tal ponto que a minha mãe a levou para casa onde pela primeira vez em Portugal tomou banho e conseguiu tirar a barriga de misérias. Tempos depois,  aparece lá em casa um padre enviado pela Caritas que acusou os meus pais de não terem capacidade para acolherem uma órfã. 

Nessa altura ja o meu pai tinha conta aberta na PIDE,  o que não correspondia aos critérios do Estado Novo. Moral da história, a miúda aos gritos teve que sair da nossa casa e a minha mãe ficou arrasada pois a miúda era muito gira e se sentia feliz em nossa casa.

Pouco tempo depois saímos de Alcobaça rumo à Guiné. Nota que há um filme sobre a história destas crianças, "Viagem ao Sol",  de Ansgar Schaefer e Susana de Sousa Dias. Ver o trailer aqui: 


2. Um blogue de histórias de vida de pessoas interessantes

Excerto do blogue do João Schwarz da Silva, agora alojado no Blogger (adaptado e traduzido do francês pelo nosso editor LG)

Segunda-feira, 8 de janeiro de 2024 > Porquê este blogue "Des Gens Intéressants?

(...) Há alguns anos, com a idade, quis reconstituir a vida e o contexto de vida de um certo número de pessoas da minha família que passaram por momentos difíceis ou emocionantes na sua exiostència Nenhum deles já está vivo. Um traço comum a todos elees, todos, é o facto de terem sido, em diferentes graus, vítimas das suas crenças, do seu posicionamento político ou simplesmente da sua sede de liberdade. Atravessaram o século e as guerras da época, e muitas vezes cruzaram continentes para p0oder encontrar um mundo melhor.
  • O meu bisavô Ysucher Szwarc  morreu em Zgierz durante a invasão nazi da Polónia em dezembro de 1939. 
  • O meu outro avô, Samuel Matusovitch Barbash, foi fuzilado  pelos bolcheviques durante a tomada de Odessa em 1920. Samuel teve dois filhos e duas filhas do seu casamento com Klara. 
  • Um de seus filhos,  Boris Barbash, foi para Xangai, na Chinba, onde morreu. 
  • O meu avô Samuel Schwarz foi alvo do forte anti-semitismo que reinava em Portugal (entre os anos 20 e 50)  e isso não o impediu de fazer descobertas sensacionais sobre a história e a herança judaica de Portugal. 
  • O meu pai,  Artur Augusto Silva  foi preso pelas suas ideias contrárias às do regime então vigente (o Estado Novo), cujos opositores que defendeu,  nomeadamente em Bissau, na antiga Guiné Portuguesa. Os membros da sua família, originários da Ilha da Madeira e expulsos para a Ilha Brava, Cabo Verde,  viveram numa época em que ter escravos ainda era normal. 
  • Seu irmão  Joao Augusto Silva foi um formidável fotógrafo, desenhador  e escritor. 
  • David Szwarc, filho de um irmão do meu avô Samuel, conseguiu escapar do gueto de Varsóvia enquanto a sua família permaneceu lá.
  • Um tio Alexandre Szwarc, irmão de Samuel, foi feito prisioneiro pelos russos em 1940,  e conseguiu escapar via Portugal e depois ir para o Canadá. 
  • Meu sogro, Jean Roger Chansel, que era piloto de correio aéreo, morreu num acidente no Monte Camarões, em 1953. 
  • Marek Szwarc, um dos irmãos do meu avô, judeu de nascimento, converteu-se ao catolicismo e tornou-se pintor e escultor da Escola de Paris. 
  • Tereska Torres, filha de Marek, teve que fugir de Paris na época da invasão e ocupação nazi da França em 1940 e foi uma das primeiras mulheres a juntar-se ao general De Gaule em Londres. 
  • O último (de outros que se hão de seguir) é o meu irmão Carlos ("Pepito") que, nascido em Bissau (em 1949) e aí tendo vivido toda a sua juventude, regressou à Guiné na época da independência para aí se fixar e contribuir para o novo mundo idealizado por  Amilcar Cabral.
À medida que eu tiver tempo para encontrar os documentos, fotos e outros pedaços de história,  outros personagens passarão a habitar este blogue. Para acompanhar este blog veja os seguintes links: Aqui ficam alguns vídeos realizados em momentos diferentes mas que têm como tema comum um dos membros da família ou um local (Belmonte ou Tomar) que se enquadra perfeitamente na vida de Samuel Schwarz (...)


(**) Vd. poste de 6 de fevereiro de 2024 > Guiné 61/74 - P25140: Capas da Vida Mundial Ilustrada (1941-1946) - Parte III: 45 crianças, refugiadas (e provavelmente judias), polacas, alemãs, austríacas e uma russa, embarcam em agosto de 1941 no "Mousinho" a caminho da América

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25105: Blogues da nossa blogosfera (185): O que é feito do "Vidas Lusófonas", sítio fundado e animado por Fernando Correia da Silva (1931-2014) ? Fomos revisitá-lo no Arquivo.pt e encontrámos revelações surpreendentes na biografia de Vasco Cabral...

 

1. Há um ano atrás fomos "revisitar" a nossa lista de  "blogues da nossa blogosfera" (*),  blogues e outras páginas (c. 110) que  constavam da coluna estática do nosso blogue, no lado esquerdo (a "aba", como lhe chama o Carlos Vinhal). Há muito  que não era atualizada, essa lista.


Numa verificação por amostragem demos conta  que mais de metade dos blogue e outras sítios (ou "sites")  tinham sido  descontinuadas, já não existiam ou tinham mudado de URL. 

Comentámos então que era o preço que se pagava por uma existência virtual, que é sempre precária, dependente da boa vontade ou dos caprichos dos servidores, das contingências da vida dos fundadores e animadores, etc.

Uma das páginas que seguíamos era a da  "Vidas Lusófonas" (vd. logo acima): 

O sítio era animado por  Fernando Correia da Silva (1931-2014), e outros jornalistas e escritores de língua portuguesa (mais de 3 dezenas de colaboradores). Infelizmente o sítio já não existe... Entretanto, e felizmente,  foi capturado pelo robô do Arquivo.pt (a última captura de écrã terá sido feita em 21 de fevereiro de 2017):



2. O "Vidas Lusófonas" ainda se mudou para a página "A Viagem  dos Argonautas" (onde também é argonauta o nosso camarada Adão Cruz). Aí escreveu o seguinte, em 21 de julho de 2015, a filha do Fernando Correia da Silva, Ethel Feldman:

(...) Queridos colaboradores,

No início, em 1998, tudo indicava que seria mais um projeto utópico de pouca dura. Um site cultural, onde todos os colaboradores estavam empenhados, cujo o intuito era o de partilhar a vida de personagens que fizeram história, cuja língua materna é o português.

O dinheiro não fez parte da equação. A dedicada teimosia de todos mostra que o Vidas Lusófonas só morrerá depois de todos termos partido.

No dia do aniversário da morte do seu fundador, meu pai, cumpro a promessa de um site renovado. A todos quero agradecer a paciência e confiança. O site continua tendo um número de visitas extraordinário.

Que se mantenha assim e sob o lema do Fernando: "Acho que cada vida tem que ser contada como se fosse um romance. Portanto, morra a prosa de notário! Morra a chatice do verbete enciclopédico!” (...)
 

Em quase duas centenas de biografias de gente lusófona,  de A a Z  (de Portugal, Brasil, Cabo Verde, Angola, Guiné-Bissau, Moçambique, São Tomé Príncipe, Galiza, etc.) temos também a de Vasco Cabral (**), assinada pelo próprio Fernando Correia da Silva de quem foi colega da faculdade e amigo en Lisboa e depois ao longo da vida fora.  

Com o exílio de ambos, andaram desencontrados mais de vinte anos. Depois de regressar do Brasil, na sequência do 25 de Abril de 1974, o escritor e exilado político Fernando Correia da Silva integra a Federação das Cooperativas de Produção e +e numa viagem a Cabo Verde que reencontra o Vasco Cabral. Aqui vão excertos, com a devida vénia, do que ele escreveu sobre o seu amigo, e figura histórica do PAIGC.


3. Vidas Lusófonas > Biografia de Vasco Cabral  (Farim, 1926- Bissau, 2005)

por Fernando Correia da Silva


 (...) Achamos que o mais correcto seria convencer os operários a tomar conta dos meios de produção abandonados pós 25 de Abril. A ideia vinga e os trabalhadores de umas cinquenta pequenas e médias indústrias aceitam a proposta e assim nasce a Federação das Cooperativas de Produção.

Uma das metas da Federação é promover a compra de matérias primas e a venda de produtos manufacturados. Com a independência das ex-colónias portuguesas o mercado tende a alargar-se. Ainda em 1975 sou mandatado pela Federação para viajar até à Guiné-Bissau, já que Vasco Cabral, o Ministro da Economia da jovem nação, é meu amigo pessoal. 

Foi assim: em 1949 ambos participámos na campanha de Norton de Matos, candidato da Oposição anti-salazarista à presidência da República Portuguesa; em 1950 fomos colegas em Ciências Económicas e Financeiras, ele no 5.º e último ano, eu no 1.º; em 1953 participámos, em Bucareste, no IV Festival Mundial da Juventude (ele como militante comunista, eu apenas como aderente do MUD Juvenil, movimento unitário antifascista). Tanto bastou para firmar a nossa amizade. 

E agora passo a recordar o que vim a saber depois: Vasco é preso em 53 e libertado cinco anos depois. Em 62, numa fuga organizada pelo PCP, Vasco, juntamente com o angolano Agostinho Neto, de barco alcança Tânger. Ruma depois para o sul e vai procurar Amílcar Cabral para formalizar a sua adesão ao PAIGC e, junto com o fundador do Partido, lutar pela independência da Guiné-Bissau e Cabo Verde. Cabral é pura coincidência de sobrenomes porque entre ambos não há qualquer parentesco. Em 63 começa a luta armada.

NA CIDADE DA PRAIA

Por telegrama, combino encontro com o Vasco Cabral em Cabo Verde, onde ele está transitoriamente. Desço na ilha do Sal, um longo, plano e calvo rochedo em alto mar. Dali, num pequeno bimotor sigo para a Cidade da Praia, na ilha de Santiago, esta já arqueada, cumes e vales, litoral recortado, arvoredo à beira-mar.

Na Alfândega, ao apresentar o meu passaporte, dizem-me que há um carro do Estado à minha espera. Sento-me ao lado do motorista. Atravessamos a Cidade da Praia e seguimos pela Marginal rumo à Prainha.

Paramos frente a uma vivenda e no alpendre está o Vasco Cabral à minha espera. Levanta-se e abre os braços, eu corro para ele, o grande e apertado abraço, há mais de 20 anos que a gente não se via. Em 54 eu fugira para o Brasil antes que a PIDE me deitasse a luva, o que parecia estar prestes a acontecer. Porém, sob a euforia do Vasco pressinto um alçapão. A ver vamos aonde é que ele vai dar…

Lá do fundo da vivenda surge então o Mário Pinto de Andrade, angolano meu amigo desde os tempos do Café Chiado, em Lisboa. Mais um longo e apertado abraço. O Mário fora um dos dirigentes da luta pela libertação de Angola. Mas depois da independência saíra do seu país por não suportar a prepotência do seu camarada Agostinho Neto e, na condição de refugiado, viera para Cabo Verde trabalhar na área da Cultura.

Anoitece, deito-me, durmo. No dia seguinte, de manhã, o Vasco convida-me a ir até à Cidade da Praia. Vou. Num clube local disputa umas partidas de ténis. Não tenho jeito para esse desporto e fico na bancada a assistir. Uma hora depois, já cansado, o Vasco vem sentar-se a meu lado enquanto, lá em baixo, outros pares continuam a bater bola. 

Evoco o IV Festival Mundial da Juventude. Sorrindo com malícia, o Vasco pergunta-me pela brasileirinha que eu andava a namorar em Bucareste. Óptimo! , se ele quer brincar talvez consinta que eu abra o seu alçapão secreto… 

Conto-lhe que em datas diferentes eu e a brasileirinha saímos de Bucareste porém marcámos reencontro em Paris. E de Paris rumámos para Lisboa onde viemos a casar em Janeiro de 54. O Vasco espantado com esta aventura mas não paro. Digo-lhe que ela era filha de judeus polacos emigrados para o Brasil e que o seu casamento com um não judeu causara traumas na família, apesar de progressistas serem eles. 

Digo ainda que, de navio, seguimos depois para o Brasil (eu já a furar o cerco da PIDE…) Ao descermos no porto de Santos lá estava toda a sua família, pais, irmão, avó, tios e primos. A avó, que teria mais de oitenta anos, dá-me um beijo e um abraço e, para a neta, diz qualquer coisa que me traduzem:

– Quando se cai de um cavalo, que seja de raça!

Aproximo-me da matriarca, dou-lhe um outro beijo e relincho.

O Vasco mata-se a rir com a história. Aproveito a galhofa para tentar abrir o alçapão. Pergunto-lhe como é que fora assassinado o Amílcar Cabral. Apesar de renitente, conta-me que um grupo de ex-guerrilheiros do PAIGC, controlados pela tropa colonial e pela PIDE, assaltara a sede do PAIGC na Guiné-Conacry, matara o Amílcar e preparava-se para matar outros dirigentes como o Aristides Pereira, o Pedro Pires e o próprio Vasco, quando Seku Touré, presidente da Guiné-Conacry interviera e frustara a tentativa. Pergunto depois se o bando de assassinos tinha sido caçado e justiçado. Responde-me o Vasco:

– Não quero falar disso.

E não fala, ponto final. Mas não desisto. No fim de tarde, ao regressar à vivenda na Marginal, puxo o Mário para o pátio e peço-lhe que me explique a agonia do Vasco. E ele explica ou tenta explicar:

Fernando, tu não sabes o que é a luta armada. Nem podes imaginar o que é ser traído por antigos companheiros de armas, a pretexto do tu seres cabo-verdiano e eles serem guineenses.

– Compreendo, ou tento compreender. E o Vasco caçou os assassinos?

– Todos.

– Quantos eram?

Mais ou menos cinquenta entre matadores e cúmplices. Caçou e executou ou mandou executá-los. É por isso que ele anda sorumbático, porque cada um dos executados tinha sido seu companheiro de armas, portanto tinha sido seu amigo. Compreendes?

Sim, compreendo. Magoado, mas compreendo…

No princípio da noite um carro, acompanhado por quatro motociclistas, pára frente à vivenda. É Pedro Pires, o primeiro-ministro de Cabo Verde que vem despedir-se do Vasco, o qual viaja amanhã para Bissau. Eu também viajarei amanhã, mas num voo diferente. Não quero ser intrometido e recolho-me lá para os fundos da vivenda. Porém, pouco tempo depois o Vasco vai buscar-me e apresenta-me o Pedro Pires. É uma simpatia de homem. Entre outras coisas pergunta-me:

– Como é que vai a Reforma Agrária portuguesa? Vinga?

E eu respondo:

– Se o folclore revolucionário for substituído por uma eficiente gestão económica, não há quem possa destruí-la. (...)

(Seleção, transcrição, revisão / fixação de texto, negritos, para efeitos de edição deste poste, com a devida vénia, e à memória do autor: LG. )

4. Outras vidas lusófonas (apemas uma amostra) que podem ser lidas, no sítio agora recuperado pelo Arquivo.pt:

Amílcar Cabral (1924-1973) (Guiné-Bissau), por Carlos Pinto Santos

Eugénio Tavares (1867 - 1930), (Cabo Verde) por Carlos Lopes

Fernando Correia da Silva (1931 - 2014) (Portugal), por José Brandão

Joaquim José da Silva Xavier, "O TIraddentes" (17446 - 1792) (Brasil), por João Sodré 

Joshua Benoliel (1873-1932) (Portugal), por Fernando Correia da Silva

Mário Pinto de Andrade  (1928 - 1990) (Angola(, por Fernando Correia da Silva

NGungunhane (c.1850 - 1906) (Moçambique),por Carlos Pinto Santos

Rainha Jinga (1582 - 1663) (Angola), por Fernando Correia da Silva

Salgueiro Maia (1944 . 1992) (Portugal), por Carlos Lopes

Samora Moisés Machel (1933 - 1986) (Moçambique), por Fernando Correia da Silva)