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quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Guiné 61/74 - P26121: Historiografia da presença portuguesa em África (450): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1886 (9) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 22 de Agosto de 2024:

Queridos amigos,
Deste tempo em análise, o surpreendente ano de 1886, o ano em que nasceu a Guiné com fronteiras muito próximas das atualmente existentes, em que fomos desapossados do Casamansa a pretexto da diplomacia francesa garantir que nos apoiaria nas questões referentes ao Mapa Cor de Rosa, em que estes pontos agudos jamais transparecem no Boletim Oficial do Governo da Província da Guiné Portuguesa, sai da medorra burocrática um relatório do médico Damasceno Isaac da Costa, começa por uma visão de conjunto histórico-geográfica, encaminha-se para a ilha de Bissau, isto depois de nos ter falado das potencialidades do rio Geba, vê-se que está seriamente documentado e que conhece a vila e fortaleza de Bissau, o ilhéu do Rei e o presídio de Geba. Sobre este último creio que não há nenhum documento tão detalhado. Depois atira-se a matérias que são do seu próprio foro, mas vê-se claramente que está possuído por uma curiosidade de etnólogo e etnógrafo. Enfim, no seu todo este documento merecia ser republicado, visto que vem em sucessivos Boletins Oficiais desde inícios de abril até julho. Documento indispensável para cruzar com outros depoimentos da época, incluindo as matérias existentes no Arquivo Histórico Ultramarino.

Um abraço do
Mário


A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, continuação de 1886 (9)


Mário Beja Santos

Como se referiu anteriormente, estranha-se o Boletim Official, pelo menos até julho, que seja completamente omisso sobre a grande mudança operada na vida na Guiné, nem uma menção sobre a Convenção Luso-Francesa de 12 de maio desse ano, nem uma palavra sobre a perda do Casamansa, quem domina, fora da rotina das chegadas e partidas, das taxas alfandegárias, dos muitos boletins sanitários oriundos de Cacheu, Bissau e Bolama é o documento preparado pelo médico Damasceno Isaac da Costa, uma peça de extrema importância que é publicada no Boletim Oficial entre 3 de abril e 3 de julho, nem sempre com regularidade. Já falou da geografia da colónia, do rio Geba e das suas potencialidades, veja-se agora a descrição que faz da vila e fortaleza de Bissau, antes uma palavra sobre a ilha.

“A ilha de Bissau na quadra pluviosa deixa desenvolver capim, que atinge a altura de dois metros, capim que é destinado em parte para alimento do gado vacum que abunda na ilha e, em parte, para ser devorado pelas chamas, nos meses de janeiro a março, e que também serve para a cobertura das cubatas. Abundam na ilha poilões seculares, que são tidos em grande veneração, como árvores sagradas pelos habitantes da ilha, por terem a crença que neles reside a divindade tutelar, o Irã; ao passo que as restantes árvores são destruídas. A agricultura, esse manancial ubérrimo da riqueza pública e que poderia ser a mais poderosa alavanca para o engrandecimento do país, acha-se completamente olvidada. De um feracíssimo solo, Bissau, como toda a Guiné, à excepção de árvores seculares que podem ser aproveitadas para diferentes usos, apenas desenvolve plantas parasitas e inúteis e ervas maninhas. No meio deste abandono de agricultura, divisam-se feitorias agrícolas situadas à beira-mar, pertencentes a vários indivíduos naturais do arquipélago de Cabo Verde, que residem na ilha, há muitos anos. As principais produções destas feitorias são: aguardente e mel extraídos da cana sacarina, milho, feijão, mandioca, abóbora, melão, melancia, etc. Em terrenos pantanosos cultiva-se o arroz em grande escala, cuja produção, atenta a grande feracidade do solo, é abundantíssima, sendo parte consumida na ilha parte exportada para outros pontos da província e Cabo Verde, pois que é o arroz a base principal da alimentação dos habitantes da Guiné.
Em diversos pontos da ilha cultiva-se o tabaco, que se desenvolve com uma força de vegetação luxuriante, mas os seus habitantes longe de se utilizarem dele, como os Bijagós, servindo-se dele para fumar e mascar, satisfazem os seus hábitos com o que é importado do estrangeiro. Como em toda a Guiné, encontra-se na ilha água a pequena profundidade. Algumas destas águas denunciam sais, e conquanto não fossem analisadas, é necessário confessar-se, que até as reputadas potáveis se alteram quando conservadas por alguns dias, em consequência dos corpos que nelas vegetam".

E passa para a descrição da vila e fortaleza de Bissau. Em épocas que hoje são do domínio da História, a vila constituía um reinado, administrado por um régulo, que exercendo a alta dignidade de balobeiro-mor tinha a superioridade sobre os restantes régulos, e fruía das imunidades e sinecuras que pertenciam ao régulo de Bandim.

A vila é cercada de todos os lados de pântanos mistos e cujas exalações deletérias influenciam ativamente sobre a salubridade pública. A insalubridade da vila provém em grande parte da ação perniciosa a ativa desses pântanos, cujos miasmas na sua propagação não encontram outro baluarte que um muro de pedra e cal de quatro metros de altura circunda a povoação.

Dentro da vila existem alguns poços e uma fonte denominada Pidjiquiti, mas as águas tanto desta como dos poços apresentam-se constantemente estagnadas, por culposo desleixo das autoridades locais. Descreve as repartições do Estado que existem na vila, a funcionar em casas particulares, descreve seguidamente a fortaleza de Bissau, não esquece a igreja, dizendo que tem sido assaltada e ultrajada por ladrões e que ultimamente experimentou algumas reparações, carecendo de uma completa reparação nas paredes, sem o que irremediavelmente se reduzirá a ruínas. Fora da fortaleza funciona um tribunal judicial, presidido por um grumete analfabeto que tem o nome de juiz do povo ou dos Grumetes. Este indivíduo, com um ou dois Grumetes, constituem-se em tribunal de última instância todas as questões que lhe são afetas. Apresenta o ilhéu do Rei ou dos Feiticeiros, conviria muito que para ali fosse transferida a população de Bissau, dada a superioridade das condições higiénicas. Os Papéis consideram o ilhéu sagrado e aí no plenilúnio de março, em anos indeterminados, e sob a presidência do régulo de Bandim, reúnem-se munidos da sua inseparável espingarda, faca, terçado e azagaia, para invocar o China maior e consultar o oráculo sobre o futuro das suas produções e das boas ou más relações da sua tribo com as outras. O ilhéu, comprado aos Papéis por Honório Pereira Barreto, possuía outrora um pequeno fortim, um estaleiro para as embarcações de todas as lotações, uma povoação com 600 habitantes e várias casas comerciais. Com o andar dos tempos, entrou em decadência, dentre as ruínas figura um grande edifício piramidal, onde outrora estava montado um aparelho destinado a descascar o arroz.

A descrição agora é do presídio de Geba. Descoberto há mais de 400 anos, é ocupado pelos negociantes cristãos, Mandigas e Fulas-Forros e Fulas-Pretos. Nas suas proximidades jazem diversas aldeias importantes pelo seu comércio, indústria e agricultura. A povoação, onde residem os funcionários públicos e os principais negociantes, está assente em terreno elevado e acidentado. As ruas correm de Norte a Sul, mas delas só têm nome, pois que além de irregulares não passam de verdadeiros becos lamacentos e imundos. À exceção de uma casa sobradada e coberta de telha, todas as habitações são cobertas de colmo. É inútil dizer-se que não há lei alguma que respeite e regule o mais trivial preceito de higiene. A povoação não possui paliçada, mas na data em que escrevo o presente relatório, os negociantes contribuem com a quantia de 230 e a fazenda pública com 300 mil réis para ocorrer às despesas a fazer com a manutenção dos Grumetes e Mandigas que espontânea e gratuitamente se ofereceram para a construção da tabanca. Possui a povoação dois baluartes, um dos quais se acha em ruínas cercado de espesso arvoredo e, por isso, e pela sua posição, nenhum meio de defesa oferece; o outro, construído em 1875, não tem peça alguma, e embora estes baluartes estivessem em condições de bem funcionarem, conviria que fossem construídos mais dois. O Governador Agostinho Coelho, reconhecendo esta necessidade em 1881 enviou a Geba instrumentos e materiais e ordenou a construção dos sobreditos baluartes, mas até hoje não se deu começo à referida obra. Tem dois protos denominados Passo e Baixa-Mar, sendo este último o mais frequentado por se achar situado muito próximo da população. É neste porto que se acha enterrada uma urna contendo uma ata assinada pelo Governador Agostinho Coelho, vários funcionários e negociantes, lavrada por ocasião em que o vapor Guiné sulcando pela primeira vez as águas do tortuoso, mas pitoresco, rio Geba aportava a este último presídio.

Existe a Igreja de Nossa Senhora da Graça, construída em 1881, é coberta de colmo e tem 20 metros de comprimento sobre 10 de largura. Em tempos remotos, foi a igreja arruinada algumas vezes pelas chuvas e uma vez destruída por um pavoroso incêndio que teve lugar em 1850. A norte da povoação está situada uma extensa campada mortuária cheia de pedras, plantas parasitas e arbustos, onde são inumados os cadáveres de inimigos falecidos na povoação. Algumas cruzes enterradas em diferentes sítios, sem ordem nem simetria, nem inscrição alguma, indicam esse campo de igualdade, essa morada onde repousam eternamente os nossos semelhantes.

Mas ainda há muito a dizer sobre o presídio de Geba, Damasceno Isaac da Costa é o mais surpreendente dos relatores que conhecemos neste tempo.


Anúncio da chegada do novo Governador, depois da exoneração de Francisco de Paula Gomes Barbosa
Cais do Pidjiquiti, pormenor da vila de Bissau e os poilões de S. José de Amura, imagem retirada de Jornal da Europa, 1930
BNU em Bolama, imagem retirada de Jornal da Europa, 1930
Anúncio publicado num número de Jornal da Europa dedicado a S. Tomé e Guiné, 1930
Alegoria da descoberta da Guiné (Quadro em azulejo, da galeria da Agência Geral das Colónias), representando porventura a morte de Nuno Tristão, publicado no Jornal da Europa, 1930

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 30 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26095: Historiografia da presença portuguesa em África (449): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1886 (8) (Mário Beja Santos)

sexta-feira, 25 de outubro de 2024

Guiné 61/74 - P26077: Notas de leitura (1737): Notícia de um conflito interétnico sangrento na ilha de Bissau, em 1931 (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 16 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
Feitas as contas ao quadro de hostilidades que o Governador Soares Zilhão vai punir, temos uma guerra sangrenta na Península de Bissau que vitimou sobretudo Mancanhas, e das averiguações feitas apurara-se que os Grumetes tinham extravasado competências, procedimento inaceitável para a potência colonial soberana, e daí a dureza dos castigos, para serem exemplares. Estávamos em 1931, a pacificação de Canhabaque chegará em 1936, tudo leva a crer que há uma mudança radical de atitudes e já com a governação de Ricardo Vaz Monteiro e fundamentalmente com a política do desenvolvimento aplicada pelo comandante Sarmento Rodrigues, tirando a ilha de Bissau do seu isolamento.

Um abraço do
Mário



Notícia de um conflito interétnico sangrento na ilha de Bissau, em 1931

Mário Beja Santos


Continua ativa uma certa historiografia que responsabiliza integralmente a potência colonial pelo acirramento dos conflitos interétnicos, fazendo tábua rasa de que antes da chegada dos portugueses toda a região tinha os seus reinos com as suas permanentes hostilidades, agressões, rapinas e arrebanhamento de escravos; simultâneo à chegada da presença portuguesa nessa difusa região a que se chamou Senegâmbia, assistia-se à desagregação do Império do Cabo, que foi acelerada por esses mercadores portugueses (mais tarde vieram concorrentes espanhóis, holandeses, franceses e britânicos); as regras do mercado foram completamente alteradas, os mercadores evitavam envolver-se em conflitos interétnicos. Há também outra acusação de que, com a consolidação da ocupação e pacificação, os portugueses dividiam para reinar, estavam do lado dos Fulas e antagonizavam os Balantas, por exemplo.

Nada disto em termos históricos pode ser visto a preto ou branco. E nada como pegar num acontecimento, tirar a prova dos nove de que os conflitos interétnicos existiram ao arrepio da estratégia colonial.

No suplemento ao Boletim Oficial n.º 39, de 1931, o Governador João José Soares Zilhão, com a data de 20 de outubro faz publicar a seguinte portaria:

“É do conhecimento público que esta colónia foi sobressaltada pelo desencadear em Bissau de uma desordem gravíssima entre as tribos Papel e Mancanha, cujas povoações se aglomeram nos subúrbios da cidade de Bissau e seus arredores até ao sítio de Bissauzinho, cobrindo assim aproximadamente a metade Este da ilha de Bissau, que agricultam em conjuntos com algumas povoações Balantas, que não intervieram diretamente nos acontecimentos.

É igualmente sabido que parte da ilha de Bissau a Oeste do Bissauzinho, incluindo esta povoação, se conservou perfeitamente submissa e ordeira, respeitando deste modo, como devia, as autoridades. Do domínio público é também que, a seguir às desordens sangrentas de 27, 28 e 29 de setembro, os estado de sítio da ilha de Bissau organizou no mesmo dia uma repressão sistemática da grave perturbação da desordem que rebentou em 27, atingiu o ponto agudo em 29 que, apesar das medidas de coação tomadas pelo corpo de Polícia de Bissau, causou a morte a numerosos indígenas, sobretudo da tribo Mancanha, entre os quais inocentes mulheres e inocentíssimas crianças, que foram vítimas de única circunstância de pertencerem a uma tribo, com a qual andava, havia muito tempo, de rixa a tribo dos Papéis.

Não pode ignorar-se nem desconhecer-se a perturbação política e económica, que tal alteração de ordem veio causar, fazendo gastar os serviços das colunas de polícias e auxiliares Fulas, dinheiros deveriam ser aplicados a fins úteis do fomento da colónia e à assistência do indigenato, assistência que este Governo sempre manteve cuidadosamente, pelo organismo de curadoria, que é chefiado pelo Diretor dos Serviços e Negócios Indígenas.

Do conhecimento público é ainda que nos motins e assassínios de setembro intervieram vários indígenas assimilados, conhecidos pela designação de Grumetes, já instigando direta ou indiretamente os Papéis já agindo pessoalmente nos ataques à arma branca contra os Mancanhas.

Ora, o facto de indígenas há muito sujeitos ao domínio português resolverem dirimir entre eles estas questões para cuja resolução existem os Tribunais Indígenas de 1.ª Instância, presididos pelos administradores e o Tribunal Superior funciona na direção dos Serviços e Negócios Indígenas, representa um desrespeito gravíssimo das leis nacionais e um atentado contra a ordem interna da colónia. E os indígenas sabem-nos muito bem porque à administração soberana recorrem – e têm recorrido sempre, para a resolução de casos graves e até de outros fúteis.

Mas, se a ignorância de indígenas num estado ainda bárbaro pode perceber-se, a intromissão numa rixa gravíssima (como foi a que se produziu em setembro) de elementos assimilados, os Grumetes, que tudo devem à nação dominadora, desde o vestuário europeu que aprenderam a usar, até à instrução que recebem das várias escolas desta colónia, representa a mais formidável deslealdade e a mais descaroável ingratidão possíveis para com a Mãe Pátria.

E tais Grumetes administravam justiças em indígenas em suas propriedades ou concessões, intrometiam-se em questões indígenas, exercitando atos de procuradoria e advocacia, que só competem naturalmente, ao diretor dos Serviços e Negócios Indígenas e respetivos agentes. Assim, pois, cometiam atos de clara indisciplina contra a leis e regulamentos nacionais, como se prova das averiguações agora levadas a efeito.”

E postos um conjunto de considerandos o Governador expulsa da Guiné e deporta para a colónia de S. Tomé e Príncipe por uma certa quantidade de anos régulos e chefes de povoação e assimilados, de acordo com a listagem que aqui se publica.

Escusam de me perguntar se tão dura sentença foi por diante, ou até se houve comutação das penas; o que prova esta decisão do Governador Zilhão é que diferentes tribos na ilha de Bissau pretendiam um claro espaço de autodeterminação que a potência colonial jamais podia tolerar E escusado é lembrar que a Península de Bissau tem um longo histórico de hostilidades a quem vivia dentro da fortaleza e das muralhas da vila. O que nos leva a perguntar o que foi efetivamente a pacificação da Península de Bissau feita pelo capitão João Teixeira Pinto, em 1915.


Uma imagem muito antiga
Outra imagem muito antiga de Bissau
Aviação do antigamente na Guiné, imagem restaurada, Casa Comum/Fundação Mário Soares
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Nota do editor

Último post da série de 21 de outubro de 2024 > Guiné 61/74 - P26065: Notas de leitura (1736): Regresso a um clássico da historiografia guineense: A questão do Casamansa e a delimitação das fronteiras da Guiné (3) (Mário Beja Santos)

quarta-feira, 17 de julho de 2024

Guiné 61/74 - P25754: Historiografia da presença portuguesa em África (432): Crenças e costumes dos indígenas de Bissau, do século XVIII (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Janeiro de 2024:

Queridos amigos,
Dá-se um pontapé e surge uma pepita de ouro. O Franciscano António Joaquim Dias é o investigador e historiador Dias Dinis, foi Vigário-Geral da Guiné e andou envolvido naquela grande polémica sobre Nuno Tristão, o primeiro navegador que chegara à Guiné tese contrariada por outros historiadores como Teixeira da Mota, Vitorino Magalhães Godinho, Fontoura da Costa e Duarte Leite, Nuno Tristão terá morrido algures no rio Gâmbia. O investigador encontrou um interessantíssimo documento, o segundo volume da Crónica da Província Franciscana de Nossa Senhora da Soledade, dela respigou os usos e costumes dos Papéis, bem interessante o que ele registou sobre a Virgem da Candelária, o apreço dos Papéis pelos portugueses e as cerimónias fúnebres dos reis da ilha de Bissau. Espero que um dia os Franciscanos que tanto estão a investigar sobre a sua presença na Guiné, e que nela hoje têm um papel preponderante e um impressionante trabalho desenvolvido, reeditem este belo trabalho de Frei Francisco Santiago, é repositório do maior interesse para o legado luso-guineense.

Um abraço do
Mário


Crenças e costumes dos indígenas de Bissau, do século XVIII

Mário Beja Santos

Na revista Portugal em África, revista da Cultura Missionária, 2.ª Série, ano II, n.º 9, maio/junho de 1945, e ano II, n.º 10, junho/agosto de 1945, encontra-se um artigo assinado pelo Padre António Joaquim Dias, Franciscano, ex-Vigário-Geral da Guiné (seguramente o investigador Dias Dinis, com diferentes trabalhos sobre a Guiné) intitulado Crenças e Costumes dos Indígenas na Ilha de Bissau no Século XVIII, segundo manuscrito inédito.

Escreve este padre Franciscano que os missionários Franciscanos portugueses tinham adquirido em 1953, numa biblioteca particular de Braga, o segundo volume da Crónica da Província Franciscana de Nossa Senhora da Soledade, autógrafo inédito do cronista Frei Francisco Santiago, também autor do primeiro volume da mesma obra, impresso em Lisboa, em 1697.

Àquela Província pertenceram, depois de 1663, o Convento de S. Francisco da Ribeira Grande, da ilha de Santiago de Cabo Verde, hoje arruinado, e os Hospícios de Cacheu, Bissau e Geba, na Guiné. Frei Santiago dedicou algumas páginas aos costumes e crenças dos indígenas. Bebeu-as nos relatórios escritos pelos missionários, na correspondência destes e nos relatos orais dos seus confrades que então por ali trabalharam. O que o investigador nos informa é que vai transcrever os dados relativos aos indígenas de Bissau, observando que, em muitos pontos, traduzem os costumes atuais dos Papéis, etnia predominante na ilha.

Apresenta assim os Papéis: quadra-lhes bem o nome, porque com facilidade se dobram, por serem de natural mais dóceis e brandos que os outros da sua cor. E aos portugueses têm particular atenção, preferindo-os a todas as outras nações da Europa, no respeito e no afeto, só aos portugueses denominam por brancos. E quanto às suas crenças: há um Deus, superior a todas as criaturas e essências, os Papéis não adoram ídolos, não creem na imortalidade da alma racional, e fazem sacrifícios nas chamadas “Chinas”, que são na forma de um chapéu de Sol, coberto de palha; há entre eles feiticeiros chamados Mandigas, etíopes negros. Mas são supersticiosos: entre as muitas e variadas superstições que têm, uma é guardarem em casa, pela melhor relíquia, sangue de qualquer rês ou ave que matam; outra é que chamam falar-lhe o seu defunto, isto é, vão consultar uma Baloba para lhe dizer o sucesso que qualquer negócio que intentem.

Frei Santiago fala depois na guerra e na alimentação dos Papéis: quando vão à guerra, vão com o espírito de furtar, chegam a uma terra de outros gentios, esperam escondidos que apareçam homens ou mulheres descuidados e trazem-nos para os vender; alimentam-se de fundo, milho ou arroz, peixe seco malcheiroso, óleo de palma, a tudo chamam Mafé, também comem caranguejos a que chamam cáqueres, as carnes só as comem nos chamados Choros, que as mais são para venderem aos brancos; as armas que levam para a guerra são traçados e zagaias; se acontece matarem algum ou alguns, têm o mais que diabólico costume, que é cortar cabeças e as partes pudendas, as cabeças as metem em troncos de árvores, os poilões, e as partes vergonhosas as assam ao fogo e depois de tudo bem torrado o pisam fazendo-o em pós, que todos bebem em vinho de palma.

Segue-se um olhar para a Justiça Papel: quando fere um ou outro, tanto paga o que deu como o que apanhou, ou seja, com razão ou sem ela; se há morte, paga o que matou um certo número de escravos ao rei, se é forro; e, se é escravo, paga o seu senhor, e sendo forro que não tenha com que pagar fica escravo do rei.

Temos agora as práticas religiosas: o que chamam Ronias são as adorações que fazem às Chinas; junto ao mar têm os gentios desta ilha uma China geral, debaixo de uma grande árvore aonde vão fazer a sua adoração em certos dias do ano; e não pode nenhum deles semear arroz, sem primeiro oferecer a esta China o seu arado e fazer uns tantos roubos com ele defronte dela.

É altura de descrever Bissau: tem esta ilha de Bissau 28 léguas de circunferência, pouco mais ou menos, é de clima o mais salutífero de toda aquela costa, assim pela pureza dos ares como pela frescura e bondade das águas; o número dos seus habitantes estima-se em 20 mil famílias que, comumente, são de natural mais dócil e brando que os outros da sua cor preta; além do rei principal, que se intitula de Bissau, teve a ilha mais outros sete reis inferiores que são os de Quixete, Cumeré, Safim, Tor, Biombo, Bijamita, e Antula e outros tantos Jagras (chefes de tabanca); porém, o cabeça-maior é o chamado o de Bissau, o qual, em algum tempo, governava sobre todos os outros; é esta ilha a mais vistosa e aprazível de toda aquela costa, e os habitantes dela negros bem parecidos, com dentes e beiços delgados; é de dotar que não herdam o reino os filhos de tal rei; mas, para o ser, vão buscar o filho da irmã do rei, porque, como este tenha muitas mulheres, há dúvidas se será o filho seu; mas o filho da irmã é certo ser parente dele; a este sobrinho do rei chamam Morgado do Rei, que é como entre nós Príncipe, sucessor do reino.

Frei Francisco de Santiago dá-nos depois uma descrição sobre o local e o cerimonial do enterro do régulo, segue-se uma observação quanto a Bissau e à sua defesa. A povoação dos cristãos nesta ilha fica junto ao porto dela, que é a parte do sul, perto da ponte de Leste. E tem hoje de 500 até 600 pessoas de Sacramento; já teve mais, e ainda a estivera se os brancos do reino e das ilhas não fugissem de viver ali, pelas muitas e grandes vexações e injúrias que lhes fazem o rei e gentios; para se defenderem deles, o rei D. Pedro II levantara ali fortaleza no ano de 1686, com artilharia e munições de guerra; e lhes pôs Cabo que a governasse, um filho da mesma terra, chamado Barnabé Lopes, homem poderoso e de respeito, a quem os gentios se sujeitavam; os que se seguiram não mereceram tal respeito e também a fortaleza caiu rapidamente em ruína e D. José mandou reedifica-la em 1753; o mesmo monarca enviou um corsário de guerra, Nossa Senhora da Estrela, com soldados e munições necessárias, houve depois combate, em que dos gentios morreram mais de 500 e dos nossos só 9 soldados, a seguir o gentio prometeu obediência ao reino de Portugal.

Interessante é o que nos escreve Frei Santiago sobre a imagem da Virgem da Candelária: imagem de muita devoção, não só os cristãos mas ainda os gentios; no tempo em que aquela igreja era coberta de palha – que hoje é de telha – costumavam os gentios, por devoção, levar dela umas palhinhas, para serem bem-sucedidos; na psicologia do guinéu, o Irã de Branco é mais poderoso que o Irã dele; o interesse e não a devoção o impele até aos pés da tusta imagem da Senhora da Candelária, conservada ainda na pequena e pobre igreja paroquial da cidade, dentro da fortaleza.

Guiné Portuguesa - Jovem de raça pepel
(Legenda original)
Guiné Portuguesa - Velho de raça pepel
(Legenda original)
Circumscripção de Mansôa - Uma estrada para o Enchalé
(Legenda original)
Buba - Ponte na estrada para o Xitoli
(Legenda original)
Bolama - Palácio do Govêrno e Repartições publicas
(Legenda original)
Mesquita em Bissau
(Legenda original)

Estas quatro últimas ilustrações são provenientes dos Anuário da Província da Guiné de 1925, por Armando Augusto Gonçalves de Morais e Castro

(Fotos editadas por CV)

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Nota do editor

Último post da série de 10 DE JULHO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25732: Historiografia da presença portuguesa em África (431): João Vicente Sant’Ana Barreto, e o estado da Saúde na Guiné, vai para um século (Mário Beja Santos)

sábado, 20 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22732: (Ex)citações (396): A maldição da canoa papel está ainda na cabeça daqueles guineenses, etnocêntricos e xenófobos, que continuam a ter muita dificuldade em aceitar a unidade na diversidade (Cherno Baldé, Bissau)



Guiné > Bissau > s/d [. c 1960/70] > "Praça Honório Barreto e Hotel Portugal"... Bilhete postal, nº 130, Edição "Foto Serra" (Colecção "Guiné Portuguesa") (Detalhe).... Colecção: Agostinho Gaspar / Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2010).

A Praça, com o nome do "colonialista" e "esclavagista" Honório Barreto (1813-1859) (um guineense, de mãe guineense e pai cabo-verdiano, que foi governador do território, ou nelhor, capitão-mor do Cacheu, e também de Bissau,  por diversas vezes, e que como tal defendeu a integralidade da terra que é hoje a Guiné-Bissau, o que não impediu de, um século depois depois, ter sido diabolizado pelo PAIGC), seria rebatizada, em 1975, como Praça Che Guevara, um "internacionalista revolucionário", de origem argentina, e herói da revolução cubana,  que nunca pôs os pés na Guiné... 

E era aqui, neste sítio da  Bissauvelha,  onde, dizia a lenda, estaria enterrada a canoa papel...  Recorde-se a maldição lançada pelos balobeiros papéis: "Quando os estrangeiros se forem embora, esta canoa tem que ser desenterrada, e feita uma cerimónia para acabar com esta maldição, senão nunca mais haverá paz e felicidade na Guiné, por isso os pais têm que passar estas palavras para os seus filhos. Não se podem esquecer de fazer a cerimónia!" (*)
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Foto (e legenda): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

1. A propósito de "a lenda da canoa papel", aqui (re)contada, no  Poste P22726 (*), comentou o Cherno Baldé:


 [ Cherno Baldé: nosso colaborador permanente, e nosso especialista em questões etno-linguísticas, nasceu no chão fula, e é muçulmano; tem formação universitária tirada na antiga União Soviética e em Portugal; é e um acérrimo crítico dos "demónios étnicos" que estão longe de ter sido esconjurados e expulsos do seu país;  além disso, é  membro da nossa Tabanca Grande desde 16/8/2009; com mais de 235  referências no nosso blogue, é autor da notável série "Memórias do Chico, menino e moço"]

Pudera que fosse só uma lenda como todas as lendas do mundo, mas na realidade trata-se de uma maldição com contornos reais na vida politica e social do nosso país e que impregnou fortemente o núcleo da ideologia e dos dirigentes do Paigc que dirigiram o país com mão de ferro. 

Inclusive a própria constituição está contaminada com os resquícios desta xenofobia anti-alienígena que pode constituir um forte obstáculo a construção dos fundamentos da unidade nacional. O ambiente politico e social na Guiné-Bissau ainda respira este sentimento que está associado as origens e a manutenção da lenda da canoa papel.

A lenda dá enfâse ao nome de N'tsinha Té, ou Intchinate,  que conseguiu vencer os rivais e ocupar o lugar do conhecido rei Papel, Bacampoló Có, quem, na realidade, teria concedido o terreno para instalação dos portugueses. Todavia o N'tsinha Té ter-se-ia notabilizado devido ao seu temperamento belicoso que criou sérios problemas na construção do forte, arrastando-se ao longo do tempo desde o séc. XVII.

Também é preciso dizer que, entre os "indígenas" da Guiné não existiam os conceitos de compra e venda quando se tratava da terra, pois que. não sendo seus reais detentores, de forma alguma podiam alienar um bem colectivo (comunitário) à guarda dos espíritos (Irãs). Esta incompreensão criou mal-entendidos e gerou muitos conflitos, mormente na Guiné, dita portuguesa.

Se há uma característa que particulariza os povos do litoral (ditos animistas) em relação  aos do interior (muçulmanos) é o forte espírito de ligação ao seu Chão (o solo) e o sentido patrimonialista que os leva, não raras vezes, a ostracizar os seus próprios compatriotas oriundos de outros Chãos do mesmo país. E isto reflecte-se imenso nas disputas políticas, eleitorais o que, muitas vezes, empresta o modo étnico-tribal como as diferentes comunidades e grupos sociais se posicionam no terreno político-partidário. 

O Paigc, designadamente, apesar do discurso aparentemente apaziguador e unitário nunca foi seguido de uma prática de justiça e de governação unificadoras, dai o desnorte e cacofonias actuais.

No âmbito da politica de reconstrução pós-independência empreendida pelo partido único, fui professor voluntário, na regiāo de Biombo, de 1981/85, e só muito tardiamente constatei que era visto e tratado como um estrangeiro e, sempre que prestava um serviço ou fazia um favor a alguém, no fundo, era percebido como uma obrigação, o pagamento do direito que me concediam pelo direito de viver no seu Chão, igual ao 'Dacha" que exigiam aos portugueses que viviam nas suas terras. 

Esse é o espírito patrimonialista típico do guineense e que, porventura, pode ser muito mais acentuado nos grupos do litoral, designadamente entre os Papéis de Bissau, e quiçá da região de Biombo.

Para terminar, quero confirmar que, efectivamente foram feitas escavações na rotunda Che-Guevara (antiga praça Honório Barreto),  após o golpe de 14 de Novembro de 1980 e foi um desperdício de tempo e dinheiro. A canoa que buscavam no interior da terra, na realidade, estava na cabeça das pessoas que têm dificuldades enormes em aceitar a unidade na diversidade que é a maior riqueza da Guiné-Bissau e a única via para a construção de uma nação forte e unida.(**)

Com um abraço amigo, Cherno Baldé (***)
_______

Notas do editor:

(*) Vd. poste da série > 18 de novembro de 2021 > Guiné 61/74 - P22726: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VIII: A lenda da canoa papel (...ou a maldição da pátria de Cabral)

(**) Vd. também postes de :


quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Guiné 61/74 - P22726: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte VIII: A lenda da canoa papel (...ou a maldição da pátria de Cabral)




A lenda da canoa papel: 
 ilustrações do   pintor guineense Lemos Djata (pp. 55 e 57): Lemos Mamadjã Hipólito Djatá, de seu nome completo,  conquistou a Medalha de Ouro para a Guiné-Bissau em Paris, França, numa exposição coletiva organizada pela “Associação da Amizade e das Artes Galego Portuguesa”, que decorreu na capital francesa entre os dias 5, 6 e 7 de Outubro 2018, na sala de exposições do "Carrousel du Louvre". 

Nascido em Bafatá, em 1981, filho de Hipólito Djata e de Mariama Foli Baldé. é licenciado em Línguas Estrangeiras Aplicadas, pela  Universidade de Évora. Só em 2000 é que descobre o seu talento artístico. É pintor e escultor.


1. Transcrição das págs. 55-57 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


J. Carlos M. Fortunato >
Lendas e contos da Guiné-Bissau



O autor, Carlos Fortunato, ex-fur mil arm pes inf, MA,
CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga



Capa do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau / J. Carlos M. Fortunato ; il. Augusto Trigo... [et al.]. - 1ª ed. - [S.l.] : Ajuda Amiga : MIL Movimento Internacional Lusófono : DG Edições, 2017. - 102 p. : il. ; 24 cm. - ISBN 978-989-8661-68-5


A lenda da canoa papel  
(pp. 55/57)


Segundo reza a lenda transmitida oralmente pelos papéis, quando os portugueses chegaram à Guiné, os contactos que estabeleceram com os papéis da ilha de Bissau foram amigáveis e estes até lhes cederam um terreno para se poderem instalar e negociar. 
Podem ficar com este terreno  disse o Rei Insinhate (31). 

Nesse terreno está hoje o Forte da Amura, mas naquele tempo era um antigo curral, o que serviu para os papéis se divertirem, fazendo troça dos novos moradores. 

Com o tempo, o poder dos portugueses foi crescendo, e começaram a exercer o seu domínio sobre todas as terras circundantes (32). Os papéis ficaram revoltados, porque os estrangeiros diziam que agora era tudo deles, e decidiram partir para a guerra. 
– Os estrangeiros querem roubar o nosso chão, querem cobrar impostos, temos que os expulsar! – diziam os papéis. 

Travaram-se muitas batalhas, mas nelas os papéis perceberam que nunca conseguiriam vencer pelas armas o inimigo. Então os papéis recorreram aos espíritos para os expulsarem, e dirigiram-se aos baloberos (33),  pedindo auxílio. 

Os baloberos responderam: 
–Podemos lançar uma maldição, que irá lançar a infelicidade nas terras da Guiné, e os estrangeiros ir-se-ão embora. 

Mas acrescentaram: 
– Cuidado, porque não haverá mais paz nem prosperidade na Guiné, enquanto os estrangeiros não se forem embora e não for feita uma cerimónia para acabar com esta maldição. Será tanta a desgraça, que ninguém aqui quererá viver, mas vocês têm que aguentar o sacrifício, se querem a vossa terra de volta.
– Nós aguentamos, façam a cerimónia para expulsar os estrangeiros  responderam os papéis. 

Foi feita uma canoa em madeira, e os baloberos, reunidos em cerimónia, invocaram todos os espíritos malignos, fazendo-os entrar na canoa. A seguir enterraram a mesma. Na altura a canoa foi enterrada no mato, mas nesse mesmo local foi mais tarde construído o palácio do Governador, sendo presentemente o palácio da Presidência da República. O local preciso onde a canoa foi enterrada, foi mesmo em frente do Palácio, no local onde está o monumento aos heróis. 

Depois da cerimónia do enterro da canoa, os baloberos lembraram mais uma vez: 
– Quando os estrangeiros se forem embora, esta canoa tem que ser desenterrada, e feita uma cerimónia para acabar com esta maldição, senão nunca mais haverá paz e felicidade na Guiné, por isso os pais têm que passar estas palavras para os seus filhos. Não se podem esquecer de fazer a cerimónia! 

Os baloberos ainda acrescentaram: 
– Esta canoa anda debaixo de terra. O poder dos espíritos é muito forte, ele faz a canoa mover-se debaixo da terra espalhando o mal por todo o lado. Só nós conseguiremos saber onde ela está. 

Quando Portugal reconheceu a independência da Guiné-Bissau, e retirou as suas tropas, os papéis correram a chamar os baloberos, pois chegara a hora de desenterrar a canoa, mas os baloberos disseram: 
- Os estrangeiros ainda não foram todos embora, o Presidente da Guiné-Bissau é Luís Cabral, um estrangeiro, um cabo-verdiano. 

A 14 de Novembro de 1980, o Presidente Luís Cabral é derrubado por um golpe de Estado encabeçado, pelo mítico comandante militar do PAIGC, o papel João Bernardo Vieira, mais conhecido pelo seu nome de guerra 'Nino' Vieira.

 'Nino' Vieira suspende a Constituição e fica a liderar o país à frente do Conselho Militar da Revolução, com nove membros. Os papéis rejubilaram, a canoa tinha expulsado os portugueses dando-lhes a independência, e agora expulsava os cabo-verdianos; todos os estrangeiros tinham sido afastados, e agora era um papel que detinha o poder. 

Tinha chegado a hora de desenterrar a canoa e anular a maldição, e os papéis correram novamente pedindo a intervenção dos baloberos. Poucos dias depois os papéis reuniram-se no centro de Bissau, na Praça A Lenda a Canoa Papel /  'Che' Guevara, pois era ali que os baloberos diziam que estava a mítica canoa. 

Juntou-se uma multidão à volta da praça, e asfalto, cimento, tudo foi arrancado, sendo aberto um buraco enorme em forma de canoa, mas para desespero dos papéis nenhuma canoa apareceu. 

Os papéis, desiludidos com os baloberos, esqueceram a canoa e deixaram de contar esta história aos seus filhos. O Presidente 'Nino' Vieira seria assassinado a 2 de Março de 2009. Perdida e esquecida, será que a canoa papel continua a navegar debaixo do chão, espalhando a sua maldição? 

Esta é lenda da canoa papel.
____________________

Notas de Carlos Fortunato:

(31) Insinhate – O rei Insinhate deu autorização para construção de uma fortaleza e vendeu o chão para a sua construção, conforme documento celebrado a 2 de Janeiro de 1697, do livro “A Guiné do século XVII ao século XIX”, pag.76.

(32) Ocupação da Guiné  Portugal, à semelhança das restantes potências europeias, decide impor a sua soberania às suas possessões, pois sem uma ocupação real corre o risco de perder os seus territórios em África, é uma intervenção de difícil realização para Portugal face aos
poucos recursos de que dispõe, e que exige alianças locais, capacidade de comando e muita coragem.

A divisão da África pelas diferentes potências tem o seu ponto alto na Conferência de Berlim (1884-1885), e leva a uma maior intervenção das potências europeias nas suas colónias. Os papéis nunca aceitarão o domínio estrangeiro, e os seus ataques serão frequentes, infringindo várias derrotas ao exército colonial. Apenas com a derrota imposta a 20 de Julho de 1915 por Teixeira Pinto, Portugal consegue o domínio total sobre a ilha de Bissau (História
da Guiné II - René Pélissier, pag. 176).

(33) Baloberos é a designação dada em crioulo aos sacerdotes animistas que realizam cerimónias nos locais sagrados, as balobas. Cada balobero  coloca o seu pote com água na baloba, junto ao poilão sagrado, para receber os poderes do mesmo e a poder usar nas cerimónias que realiza. (**)

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segunda-feira, 26 de julho de 2021

Guiné 61/74 - P22405: "Lendas e contos da Guiné-Bissau": Um projeto literário, lusófono e solidário (Carlos Fortunato, presidente da ONGD Ajuda Amiga) - Parte IV: Lendas mancanhas


Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela (pág, 23)






1. Transcrição das págs. 23 a 27 do livro "Lendas e contos da Guiné-Bissau", com a devida autorização do autor (*)


J. Carlos M. Fortunato > Lendas e contos 
da Guiné-Bissau

[Foto acima: o autor, Carlos Fortunato, foi fur mil arm pes inf, MA, CCAÇ 13, Bissorã, 1969/71, é o presidente da direcção da ONGD Ajuda Amiga]


Lendas mancanhas (pp. 23-27)


Apesar de correntemente ser utilizada a designação mancanha para esta etnia, considera-se que o termo adequado é a designação brame.

Crê-se que pertencem ao mesmo ramo étnico o brame, o manjaco e o papel, face aos seus costumes e características linguísticas (14).

Uma das lendas sobre a sua origem, conta que quando os portugueses chegaram aquelas paragens e querendo saber o nome da etnia que ali vivia, fizeram essa pergunta a um dos habitantes.

- Mancanha - respondeu ele, pensando que lhe estavam a perguntar o nome.

E foi assim que nasceu a etnia mancanha.

Na verdade, naquela zona existem muitas pessoas com esse nome, pois é usado quer como nome próprio, quer como apelido.

***

Outra lenda conta que, numa das guerras entre os portugueses e os manjacos, havia um homem de nome “Mancanha” que era amigo dos portugueses e que estes muito estimavam.

Quando os portugueses chegaram a uma tabanca (aldeia), os habitantes da mesma disseram que eram da família dos “Mancanha”, e por isso foram muito bem tratados. Ao saberem disto as outras tabancas
passaram todas a dizer o mesmo.

- Eu sou da família mancanha - diziam eles e bastava ouvir-se a palavra mancanha, para logo serem deixados em paz.

Assim começaram a “nascer” tabancas mancanhas, e foi assim que nasceu a etnia mancanha, segundo esta lenda.



Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela (pág. 24)

***

A lenda mais bonita sobre a origem desta etnia, é uma história de amor.

Segundo esta lenda, ela teve origem num escravo mandinga de nome Braima, e numa jovem de nome Bula, a qual era filha de um poderoso senhor de guerra de etnia fula.

Braima e Bula sabiam que o seu amor era impossível, e por isso fugir era a única solução, para conseguirem ficar juntos.

Os jovens sabiam que os riscos de uma fuga eram muitos e que na terra dos seus antepassados, não havia um lugar onde se pudessem esconder, pois o pai de Bula não iria perdoar aquela afronta, e enviaria os seus guerreiros em sua perseguição.


Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela (pág. 25)


O Império mandinga de Cabú tinha sido destruído pelos fulas, e o seu poder chegava quase a todo o lado, mas não chegava às terras dos manjacos.

Os reinos manjacos eram orgulhosos da sua independência, e nã aceitariam qualquer exigência exterior, além disso estavam longe e fora do alcance dos reinos fulas. Os manjacos não estavam em guerra nem
com fulas, nem com mandingas, e Braima e Bula esperavam ali serem  bem recebidos.

O caminho de fuga implicava contudo, atravessarem as terras dos aguerridos balantas, onde corriam o risco de serem mortos, mas eles sabiam, que isso também iria fazer parar os guerreiros, que o pai de
Bula enviaria na sua perseguição.

Contra tudo e contra todos, Braima e Bula fugiram, sendo imediata mente perseguidos pelos guerreiros do pai de Bula, mas conseguirachegar às terras dos balantas, e tal como tinham previsto os  perseguidores pararam e abandonaram a perseguição.

Braima e Bula continuaram a sua fuga, abrindo caminho através dezonas de mato denso, para não serem  istos, e assim depois de muitas privações, conseguiram finalmente chegar à terra dos manjacos.
O casal iniciou a construção da sua tabanca, em terras abandonadas, perto ao rio Mansoa, mas que ficavam a pouca distância das terras dos alantas, o que os obrigou a estarem sempre alerta.


Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela (pág. 26)


Os filhos que nasceram, e as boas relações com os manjacos, permitiram-lhes fazer crescer a sua povoação, pois a eles se juntaram homens e mulheres manjacas.

À pequena aldeia, Braima deu o nome de Bula, como demonstração do grande amor que sentia pela sua mulher, Bula. A aldeia tornou-se um Reino, e o filho mais velho de Braima fundou depois a povoação de , a qual passa a ser também um Reino, mas vassalo de Bula.

Bula cresceu imenso, sendo hoje uma localidade importante. Segundo esta lenda, a designação de brame para esta etnia, tem origem no nome de Braima.


Lendas mancanhas - ilustrações do pintor e escultor português José Hilário da Silva Portela (pág, 27)


[Adaptação, revisão/fixação de texto e inserção de fotos e links para efeitos de edição deste poste no blogue: LG]
__________

Nota do autor:

(14) Mancanhas - pag. 54 de “A Babel Negra”, refere-se que “... é de crer que, produtos dum mesmo ramo étnico, tenha surgido o brâme, o manjaco e o papel.”, na pag. 34 da “História da Guine I”, René Pélissier refere-se que “Quanto aos Manjacos, 71.000 em 1950, levantam um problema de identificação porque, até aos anos 1910, senão mais tardiamente ainda, os Portugueses designam na maior parte (os que vivem no interior das terras, entre o rio Cacheu e o rio Mansoa) pelo nome de PAPÉIS, reservando o nome MANJACO às zonas costeiras
desta mesma região.”


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segunda-feira, 13 de julho de 2020

Guiné 61/74 - P21167: Historiografia da presença portuguesa em África (218): Tratados, convenções e autos firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné (1828-1918) - Parte I (1828 -1855) (Armando Tavares da Silva)




Africa Ocidental Francesa > Senegal > Casamansa > Postal ilustrado > c.  1910 > Ziguinchor > A região de Casamansa, incluindo a sua atual capital , Ziguinchor, foi cedida à França em 13 de Maio de 1886. A sua origem (portuguesa) remonta ao princípio do séc. XVII.


Imagem: cortesia de Armando Tavares




1. Mensagem do nosso grã-tabanqueiro de Armando Tavares da Silva 

[ foto   à esquerda:  (i) engenheiro, historiador, prof catedrático aposentado da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra; 

(iii) "Prémio Fundação Calouste Gulbenkian, História da Presença de Portugal no Mundo" (, atribuído pelo seu livro “A Presença Portuguesa na Guiné — História Política e Militar — 1878-1926”); 

(iv) presidente da Secção Luís de Camões da Sociedade de Geografia de Lisboa]

Date: domingo, 12/07/2020 à(s) 23:42

Subject: Guiné - Tratados



Caro Luís,
Capa do livro
"A Presença Portuguesa na Guiné:
História Política e Militar: 1878-1926”

 Já várias vezes que tenho visto no blogue a afirmação que pouco se conhecia (e conhece) sobre a Guiné. 

Esta falta de conhecimento poderá levar-nos a interpretações ou juízos errados ou precipitados, os quais podem surgir dentro dos mais variados contextos, e que levem a concluir "que precisamos de mais e melhor investigação historiográfica sobre pontos de contacto comuns entre nós, Portugal e a Guiné".

Ora, os Tratados e Convenções que no decorrer dos tempos foram firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné inserem-se precisamente naqueles "pontos de contacto". 

 E é para melhor conhecimento daqueles contactos e melhor conhecimento da evolução histórica da relação estabelecida, que elaborei uma lista (que considero exaustiva) daqueles "Tratados e Convenções". 

São 76 no total e tiveram lugar durante quase um Século (entre 1828 e 1918). 

Segue em baixo a respectiva relação [Parte I, de 1828 a 1855]. Os seus textos estão disponíveis em referências conhecidas, e que poderão ser consultadas por quem se interessar por aprofundar aquele conhecimento.

Com um abraço

Armando Tavares da Silva
_________________________________________
´

Tratados, convenções e autos firmados entre as autoridades portuguesas e os representantes dos povos da Guiné (1828-1918):
lista organizada por Armando Tavares da Silva

Parte I (1828-1855)


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1828, 12 Julho                       S. José de Bissau
Declaração dos régulos de Canhabac [, Canhabaque,] e Rio Grande, Damião e Fabião, sobre a soberania da ilha de Bolama perante o coronel Joaquim António de Matos
_____________________________________________
1829, 12 Março                    Bissau
Doação da ilha das Galinhas que fez o rei Damião de Canhabac, senhor da dita ilha, ao coronel Joaquim Antonio de Matos. Mais tarde, em finais de 1830, este faz entrega da Ilha à coroa portuguesa
_____________________________________________
1830, 9 Maio                     Bolama                          


Auto da ocupação da Ilha de Bolama pela coroa de Portugal a 9 de Maio de 1830, perante o rei de Canhabac, Damião, e os enviados do rei do Rio Grande, Injorá Danfan 
_____________________________________________
1831, 15 Fevereiro         Bolor                             
Contrato de aquisição da Praça de Bolor entre o 2.º tenente da Armada José Joaquim Lopes de Lima e Ambrósio Gomes de Carvalho e os reis de Bolor, Jaguló e Girambo
_____________________________________________
1835, 8 Janeiro           Etame (Bolor)                   
Ratificação da aquisição da praça de Bolor entre Honório Pereira Barreto, provedor do concelho de Cacheu, e Jabudó, rei de Bolor
_____________________________________________
1843, 5 Novembro                          Mata de Putama                 
Contrato por cessão de território entre o governador de Cacheu, tenente José Xavier Crato e o régulo da Mata de Putama, Gongobé
_____________________________________________
1844, 11 Abril              Zeguichor                      
Contrato feito entre Honório Pereira Barreto, comerciante em Cacheu, e Francisco de Carvalho Alvarenga, comandante do presídio de Zeguichor [, Ziguinchor], com o gentio de Afinhame
__________________________________________
1844, 11 Abril                Zeguichor              

Contrato feito por Honório Pereira Barreto com o gentio de Jagobel, representado pelos principais Vicente, Boncante, Coujena, Bugunde, Jambali, Anheba, Jimpor e Cobungul
____________________________________
1844, 21 Dezembro           Bissari                  
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios de Bissari, representado pelo Rei Banhuna de Sangodogu, Ianhate
________________________________________
1844, 29 Dezembro             Marraço                       
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios banhunes de Marraço, representados entre outros por Tumane Sajo e Maçajumá
____________________________________________
1844, 29 Dezembro Gono                     
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios banhunes de Gono e Cobone representados, entre outros, por Rangala e Biquidor 
____________________________________________
1844, 30 Dezembro Santaque                    
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com o gentio felupe de Santaque, representado por Cabeça e Arungo
___________________________________________
1844, 30 Dezembro Nhamul                         
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com o gentio de Nhamul (felupes) representado por Arungo e Uacha 
__________________________________________
1844, 30 Dezembro      Blandor                        
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com o gentio felupe de Blandor,  representado por Cajaon, Sambali e Gimanjam
_____________________________________________
1845, 2 Janeiro Nhesse                          
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios banhunes de Nhesse e Bricama, representados por António Rei, Ugaga, Megentem e Gegen 
____________________________________________
1845, 3 Janeiro Ianho                            
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios de banhunes de Ianho, representados por Cuncó, Ujarife, Budele e Core 
____________________________________________
1845, 4 Janeiro Bonbudá                            
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios de banhunes de Bonbudá representados, entre outros, por Aminha e Bram 
_______________________________________________
1845, 4 Janeiro Senguer                         
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honrio Pereira Barreto, com os gentios de Senguer,  representados por Quellé, Matambá e Galicó
______________________________________________
1845, 5 Janeiro Faracunda                             
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios de Farancunda,  representados por Nhala, Sanhada, Galan, Damião e Ianpo
______________________________________________
1845, 9 Janeiro Sangaje                            
Contrato feito por Gregório José Domingues, em nome e como procurador de Honório Pereira Barreto, com os gentios de Sangaje representados, entre outros, por Uimate e Bagamba 
 _________________________________________
1853, 18 Fevereiro Bolor                           
Convenção entre o governador interino de Cacheu, Honório Pereira Barreto, e os régulos de Bolor, Jougam  e  António Vermelho 
___________________________________________
1855, 8 Outubro Cacheu                           
Tratado feito entre Honório Pereira Barreto, governador da Guiné, e o régulo da aldeia papel de Bianga,    representado por Catempe e Nacancal. Tratado aprovado e ratificado pelo régulo Datarau em Bianga em 24.10.1855
_______________________________________________________________

(Continua)

[Atualizámos a grafia de alguns topónimos comhecidos, como pro exemplo Ziguinchor, Canhabaque, Xime, Cossé, Cacine; vêm indicados entre parênteses retos. O editor LG]