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quarta-feira, 4 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23226: 18º aniversário do nosso blogue (11): O enviado especial do "Diário de Lisboa", Avelino Rodrigues, em julho de 1972, no CTIG: uma "crónica imperfeita" em quatro artigos - IV (e última) Parte: 31 de agosto de 1972: "Spínola: Infelizmente ainda tenho que dar tiros, mas a guerra não se ganha aos tiros"... Mas o pior será quando a guerra acabar, conclui o Avelino Rodrigues...





Citação: (1972), "Diário de Lisboa", nº 17849, Ano 52, Quinta, 31 de Agosto de 1972, Fundação Mário Soares / DRR - Documentos Ruella Ramos, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_5170 (2022-5-3)




























FIM



(Com a devida vénia ao autor, Avelino Rodrigues,
aos herdeiros do António Ruella Ramos, e à Fundação Mário Soares)

Fonte: Casa Comum | Instituição: Fundação Mário Soares | Pasta: 06815.165.26103 | Título: Diário de Lisboa | Número: 17849 | Ano: 52 | Data: Quinta, 31 de Agosto de 1972 | Directores: Director: António Ruella Ramos | Observações: Inclui supl. "Suplemento Literário". Fundo: DRR - Documentos Ruella Ramos


Comentário do editor LG:

Registe-se: duzentos mil contos gastos em "infraestruturas de desenvolvimento" (educação, saúde e assistência, agricultura e florestas, veterinária, obras públicas...), em 1971, na Guiné, sendo goverador (e com-chefe) o gen António Spínola, representava, em valores de hoje, mais de 53,7 milhões de euros... Sem contar com as despesas de manutenção do exército e o custo da mão de obra dos militares que trocaram a G3 pela pá, a pica, a enxada, o martelo, o lápis, a caneta, a seringa...

A propósito d0 jornalism0 português na guerra colonial (tema do colóquio que se realizou em 28 de maio de 2015, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa), escreveu Humberto Silva na página da Apoiar, em 16 de julho de 2015:

(...) O jornalista Avelino Rodrigues recorda os seus tempos na Guiné. Lembrou que os jornalistas que ficavam deslumbrados com o espetáculo da guerra mas que mostravam apenas e sempre apenas o lado das tropas portuguesas. Em Bissau por exemplo respirava-se a guerra mas não se a sentia.

Na Guiné, Spínola usava os jornalistas especificamente para divulgar a sua visão alternativa da guerra e Avelino foi chamado à provínicia por ser de esquerda, quase como que para validar a visão de Spínola.

Foi por isso que as crónicas de Avelino Rodrigues foram dos primeiros trabalhos verdadeiramente jornalísticos sobre a guerra em Portugal. Só uma entrevista ao General Spínola não passou porque Marcello Caetano interveio e a sua censura negociou o conteúdo dessa entrevista. (...)


Percebe-se, neste quarto (e último) artigo da reportagem "Guiné: uma crónica imperfeita", que o conteúdo da entrevista com Spínola foi censurado. O jornalista apenas pôde publicar um excerto aqui e acolá. O "spinolismo" (que punha a política à frente das armas) começava a ser perturbador para o titubeante e fraco líder que sucedera a Salazar, temeroso das consequências que podiam desencadear uma franca e aberta divulgação e discussão da estratégia política do general para acabar com a guerra na Guiné, já longa de 9 anos, e cada vez mais "africanizada".

PS - O ten cor inf Herdade, acima citado, de seu nome completo Nívio José Ramos Herdade foi o primeiro comandante do BCAÇ 3833 (Pelundo, 1970/72), sendo depois subtituído pelo ten cor inf Bernardino Rodrigues dos Santos. Companhias de quadrícula: CCAÇ 3306 (Jolmete e Bachile), CCAÇ 3307 (Pelundo e ilha de Jete) e CCAÇ 3308 (Có, Bachile e Capó).
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quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira] [, foto à direita,]
ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884,
Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto
(, maio 69/mar 71)

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (, dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [, CCAÇ 2381]. Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [, um dos régulos,] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.


[Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada); foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação. Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

Olá, Resende.

De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Djolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Djol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência. O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Djolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um Post do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [, António Medina,] de uma companhia [, CART  527,] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**)... O Cajan teria nesta data 15/16 anos...

[Foto à esquerda: Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, CalequisseCacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]

Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Djolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Djolmete,  quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Actualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge. O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Djolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Djolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamance, secaram todos e a população (3.000 habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha...

Depois falamos sobre este assunto.

Um abraço,
Eduardo Moutinho Santos

[Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné] 
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Notas do editor:

quinta-feira, 30 de março de 2017

Guiné 61/74 - P17189: Tabanca Grande (430): António Salvada, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2584/BCAÇ 2884, Có, 1969/71, nosso 739.º amigo tertuliano

1. Mensagem do nosso camarada e novo amigo tertuliano António Salvada, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2584/BCAÇ 2884, , 1969/71, com data de 20 de Março de 2017:

Caros amigos,

Há bastante tempo que pensei tornar-me também mais um da "nossa" Tabanca.

Como não sou grande especialista nesta área, tenho vindo a adiar a minha entrada.

Estou agora, finalmente a tentar fazê-lo. Se alguma coisa não chegar ok, agradeço que ajudem. 

Chamo-me António Francisco Limpo Salvada, tenho 69 anos e estive na Guiné entre Maio de 69 e Fev71, fazendo parte da Companhia de Caçadores 2584 do Batalhão de Caçadores 2884.

Estivemos durante toda a comissão no Chão Manjaco. A minha companhia estacionou em Có, sendo a sede do Batalhão em Teixeira Pinto.

Fui Furriel Miliciano Atirador de Infantaria.

Como concerteza quase todos, não me canso de seguir toda a malta que lá andou e as suas aventuras. 
Estou reformado, e durante mais de 30 anos fui bancário de profissão.

Um abraço a todos 
A. Salvada

João Landim - António Salvada, Bernardo e Silva



António Salvada na actualidade

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2. Comentário do editor

Caro António Salvada, bem-vindo à Tabanca Grande, a este espaço de partilha e discussão destinado essencialmente aos combatentes da Guiné.

Aqui se depositam as nossas memórias escritas e fotográficas, aqui se documenta a história da guerra naquele pequeno território africano.

Une-nos as horas amargas longe da família e dos amigos, as precárias condições em que lutámos e o clima pouco propício a quem, de um clima temperado como o nosso, de repente enfrentava um calor e uma humidade no mínimo desconfortável. Com o nosso suor fizemos lama, muitos deixaram a sua vida e outros voltaram estropiados ou doentes até ao fim dos dias.

Se quiseres e puderes, contribui com a tua parte para este espólio histórico, a que muitos estudiosos recorrem quando precisam de informação sobre a guerra travada em solo africano.

Hoje, e desde há muito, respeitamos o direito inalienável daqueles povos à sua independência, sentimo-los como irmãos e continuámos sentimentalmente ligados aos locais por onde passámos. Não haverá ninguém que não recorde a(s) sua(s) lavadeira(s), um ou outro menino que cirandava pelos aquartelamentos, sempre prestável, a troco de alguma comida e amizade.

Memórias das horas boas e más, fotografias, papéis daquele tempo, tudo pode e deve ser aqui publicado.

Antes de terminar, não posso esquecer de te deixar um abraço em nome da tertúlia e dos editores deste Blogue, que te acolhem simbolicamente. Como diria o Luís, escolhe um bom lugar na base deste poilão e que os bons irãos te acompanhem.

CV
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Nota do editor

Último poste da série de 2 de março de 2017 > Guiné 61/74 - P17100: Tabanca Grande (429): Francisco Feijão, ex-alf mil, PA - Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1973/74... Novo grã-tabanqueiro n.º 737

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Guiné 63/74 - P16346: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte VII: No dia em que as motos correram na avenida

Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 31 > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (1)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 31 >  > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (2)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 33 > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (3)



Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 32A > Novembro de 1972 > Corrida de motos na avenida (4)


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > Foto nº 32 > Novembro de 1972 > Corrida de motos  na avenida (5) [Como se depreende da foto nº  31, trata-se de veículos motorizados de 50 cm3]


Guiné > Região do Cacheu > Teixeira Pinto > CAOP1, 35ª CCmds, Pel Rec Daimler 3089, CCS/BCAÇ 3863 (1971/73) (Teixeira Pinto, 1971/73)

Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeira Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) (*).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação, quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e publicou recentemente "Outro olhar - Guiné 1971-1973" (Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust; preço de capa 12,50 €). Os interessados podem encomendá-lo ao autor através do seu email pessoalfranciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta, a partir da foto. nº 29. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.




No dia em que as motos correram na avenida

por Francisco Gamelas


E a gente foi cheganda vestida a rigor,

espalhando-se ordeiramente pela avenida
que ficou cheia antes do sinal da partida.
Já na presença das autoridades militares
o povo aplaudiu, com os seus cantares,
a chegada dos concorrentes. O calor

e a humidade fazia-nos a todos transpirar.

Motas alinhadas e o tiro da partida soou.
Largam a derrapar, mas ninguém capotou.
Trinta voltas à avenida é o total a percorrer.
Num turbilhão, ei-las que passam, a correr.
Cresce, num repente, o teor da poeira no ar.

Quando o trinta se destaca, o povo vibra.

Derrapa o vinte e oito e só pára no chão,
mas logo se levanta sangrando de uma mão.
Ataca o vinte e nove e a mota quase voa.
A do trinta desiste de roncar e já não soa.
Na frente, a do vinte e nove. Mota de fibra.

Ataca o vinte e sete na volta final, decidido,

e, a grande velocidade, emerge da poeira
deitado na mota e ultrapassa, de bandeira,
o vinte e nove, que ensaia o contra-ataque.
Parece resultar, mas, num grande baque,
parte o motor e o vinte e nove é vencido.


Merecido, ganhou o vinte e sete no final.

Feliz, o povo pula e grita entusiasmado,
permanecendo fora da pista, ordenado.
Ordem é ordem e lá estão os comandos,
arma em punho, para evitar desmandos.
A pide vigia, dissimulada. Tudo normal. 

De taça na mão surge o corronel [#], sorridente.
Entrega-a ao ufano concorrente vencedor,

para os vencidos,  medalhas cunhadas a rigor.
Pela segunda vez, no Canchungo, presenciei
uma tão vasta concentração de nativos, e dei
em pensar como este povo parece obediente.

Maio de 2015


In: Francisco Gamelas - Outro olhar: Guiné,  1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor,  pp. 111-113 (Com a devida vénia...)


[#] Referência ao comandante do CAOP1. o cor pqdt Rafael Durão

sexta-feira, 10 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16187: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (15): "País Natal", de António Baticã ferreira (nascido, em 1939, no Cachungo, médico)



Guiné > Bissau > Julho de 1972 > Duas crianças na avenida narginal, junto ao cais do Pidjiguiti. Foto  nº 48 do álbum fotográfico de Francisco Gamelas,ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Cachungo / Teixeira Pinto, 1971/73).

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em dezembro de 1973 e  fevereiro de 1974, em Bissau. (*)

In: Caderno de Poesias "Poilão". Bissau: Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, dezembro de 1973. (Cadernos de Poesia). Policopiadp,  p. 33.



1. Quando  o  então tenente de artilharia Albano de  Matos, do BA 7 e dedois do QG/CTIG, natural de Castelo Brancp.   dá as mãos a Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, empregado do BNU -  Bissau e responsável pelo respetivo Grupo Desportivo e Cultural (GDC)   para lançar uma coleção de poesia, de que o o "Poilão" foi o 1º e único número, estava longe de imaginar que esta edição, artesanal, policopiada, ia ter algum impacto na pacatíssima vida cultural da pequena capital da Guiné, em dezembro de 1973, a escassos meses do  fim da guerra. O "Poilão" acabou por ser a primeira ou uma das primeiras antologias de poesia guineense. Albano de Matos já explicou o "making of" do "Poilão":


(...)  Nos inícios do mês de Dezembro de 1973, ao ler o jornal «Voz da Guiné», deparei com um escrito de Agostinho de Azevedo, alferes miliciano, creio que chefe de redacção do jornal, insinuando que não havia poesia na Guiné. Respondi com um escrito, «O Despertar da Guiné», dizendo que havia poesia na Guiné e que, em breve, iríamos ter um Caderno de Poesias, com o título de «Poilão», a designação de uma árvore sagrada na Guiné. Depois da publicação do primeiro número, seriam publicados cadernos de poesia de um só autor.

No Grupo Desportivo de Cultural do BNU, conheci guineenses e cabo-verdianos que faziam poesias e pedi originais para colaboração em «Poilão», que ainda guardo no meu arquivo. Juntei 24 poemas de 4 poetas da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal.

De modo artesanal, fiz 300 exemplares do caderno. Dactilografei os poemas, imprimi-os em duplicador, dobrei as folhas e agrafei-as em capa de cartolina, esta impressa em tipografia, com desenho do poilão da autoria de um alferes miliciano, do Batalhão de Transmissões.


Os 300 exemplares do Caderno de Poesias «Poilão», editado pelo Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, esgotaram-se na noite do lançamento. Sem preço de capa, cada pessoa dava a importância que queria. O preço por unidade foi de 20$00 a 100$00.

Por minha proposta, o dinheiro angariado foi doado à Leprosaria da Cumura, nas proximidades de Bissau. Preparei, então, mais 400 exemplares que se esgotaram num dia. Havia apetência para a Poesia na Guiné. Eu apercebi-me desse facto. (...) 

António Baticã Ferreira, nascido no Cachungo (Texeira Pinto), em 1939, estudou em França (, onde fez o liceu em Paris), e formou.se em medicina, na Suiça, na Universidade de Lausana, Sabemos que exerceu a atividade no Hospital de Santa Maria. Não sabemos se vive em Portugal. E se continua a escrever. O Albano de Matos disse-me que conheceu o guineense Baticã Ferreira, médico, "na Sociedade da Língua Portuguesa, que lhe publicou uma colectânea de poesia  (*Poesia & Ficção")-


De  qualquer modo, António Baticã Ferreira é um dos quatro poetas guineenses presentes nesta antologia. Reproduzimos aqui o seu poema, "País Natal". Na altura era já um poeta e escritor com obra publicada.

Tanto quanto sabemos (ou podemos presumir), era filho (ou parente) do régulo Joaquim Baticã Ferreiar, uma das figuras com peso político no tempo dos últimos governadores da Guiné (Arnaldo Schulz, António Spínola e Bettencourt Rodrigues).

Joaquim Baticã Ferreira foi miseravelmente fuzilado, sem julgamento,  em 10 de março de 1976, pelo PAIGC, no seu próprio chão, o chão manjaco, na presença da sua própria família.  Dizem que enfrentou o pelotão de fuzilamento com grande bravura e dignidade.

É bom, chamar os bois pelos cornos: isto passou-se no tempo  de Luís Cabral, um líder fraco, que foi incapaz de segurar os "irãs maus" do seu movimento, numa altura em que aparentemente ele tinha todas as condições, internas e externas, para fazer da Guiné-Bissau um país novo que fosse orgulho da África, da Humanidade e da Lusofonia...

Em contrapartida, os Baticã Ferreira continuam a ser, na Guiné-Bissau, uma família ilustre, dando exemplos de liderança esclarecida, que é o que a Guiné-Bissau precisa hoje, "a par do pão para a boca"... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de junho de  2016 > Guiné 63/74 - P16186: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (14): dois poemas ("Letargia da carne" e "Escravidão", de Armando Lopes, natural do Porto)

segunda-feira, 6 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16169: Álbum fotográfico de Francisco Gamelas, ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089, ao tempo do BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) - Parte II: Quartel de Teixeira Pinto e cidade, sede do "chão manjaco" (I)



Foto nº 7 > Janeiro de 1972 > CCS/BCAÇ 3863 (Teixeira Pinto, 1971/73) > Bar de oficiais: alf mil comando  Paiva, da 35ª CCmds, furriel piloto do heli do General Spínola (que veio visitar o batalhão)  e alf  mil cav  Francisco Gamelas, cmd do Pel Rec Daimler 3089 (1971/73)


 

Foto nº 15 > Janeiro de 1972 >  Extremo norte da Avenida. Dentro do perímetro da estátua a Teixeira Pinto, o alf mil  Francisco Gamelas e o alf milç  Joaquim Correia Pinto, meu camarada de quarto. Nesta zona situavam-se as casas de comércio de libaneses.



Foto nº 6 > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler, com a casa do chefe da PIDE/DGS ao fundo. É visível o 1º cabo mecânico David Miranda.


Foto nº 6A > Janeiro de 1972 – A “oficina” do Pelotão Daimler,  É visível o 1º cabo mecânico David Miranda que fazia o "milagre" de manter as viaturas sempre operacionais. Chegámos a ter  duas ou trêsd Daimlers, vindas da sucata de Bissau, para "canibalizar". Ao trabalho do Miranda muito ficou a dever o sucesso do Pelotão.



Foto nº 5 > Janeiro de 1972  >  O “bairro de lata” do aquartelamento.


Foto nº 11  > Janeiro de 1972 >  Extremo Sul (à saída do aquartelamento) da avenida de Teixeira Pinto (Vd. foto nº 15). Na abertura para a direita, a 50 metros, ficavam os correios, com serviço de telefone.


Foto nº 11A > Janeiro de 1972 >  Início da avenida de Teixeira Pinto (a partir do extremo sul)


Foto nº 11B > Janeiro de 1972 > Aspeto do meio da avenida de Teixeira Pinto (vista a partir do extremo sul)


Foto nº 13 > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo, situado no início da avenida, próximo do Quartel, sobre a via ascendente (esquerda), numa praça que se abria entre o Cine  e a Casa da Assembleia do Povo, edifício paralelo a este, sobre a esquerda da fotografia. A antiga vila foi elevada a cidade pelo Ministro do Ultramar, Silva Cunha,  em 24 de julho de 1973.






Foto nº 13A  > Janeiro de 1972 >  Cine Canchungo.  Vista parcial.


Fotos (e legendas): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: LG]



1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do Francisco Gamelas (*), ex-alf mil cav., cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Teixeria Pinto, 1971/73), adido ao BCAÇ 3863 (1971/73) e novo membro da nossa Tabanca Grande [. foto à direita, em Capó, janeiro de 1972) (**).


Francisco Gamelas, que é engenheiro eletrotécnico de formação quadro superior da PT Inovação reformado, vive em Aveiro, e acaba de publicar "Outro olhar - Guiné 1971-1973. Aveiro, 2016, ed. de autor, 127 pp. + ilust. P.reço de capa 12,50 €. Os interessados pode encomendá-lo ao autor através do seu email pessoal franciscogamelas@sapo.pt. O design é da arquiteta Beatriz Ribau Pimenta. Tiragem: 150 exemplares. Impressão e acabamento: Grafigamelas, Lda, Esgueira, Aveiro.

No seu livro, a pp.  16 e ss., pode encontrar-se uma detalhada descrição da Teixeira Pinto daqueles tempos:

"Implantada na planície, a meio da metade litoral norte da Guiné, entre os rios Cacheu, a norte, e Mansoa, a sul, mais próxima do último e dele recebendo a visita das suas águas na bolanha" (...), "a sua parte nobre e mais recente desenvolveu-se a partir da abertura de uma larga avenida em linha recta, com orientação aproximada norte-sul, que ligava  o primitivo aldeamento do Canchungo ao quartel erguido a sul do povoado, a cerca de seiscentos metros de distância. O quartel albergava as sedes de uma batalhão [, o BCAÇ 3863] e de um CAOP [1]. Este com uma companhia de forças especiais - comandos [, a 35ª CCmds]. Na avenida, ou a ela chegados, sediavam-se os serviços disponibilizados, próximos do quartel". (...) "De ambos os lados erguiam-se casas de habitação de aspecto colonial, tendencialmente as melhores da cidade. Que me recorde, em nenhuma delas  habitava uma família nativa". [Vd. fotos 15, 11 e 13].(Gamelas, 2016, pp.  17-17).  [Respeitámos a opção do autor que escreve de acordo com a "antiga ortografia". Reprodução de excerto, por cortesia do autor.]