quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Guiné 61/74 - P18988: Blogues da nossa blogosfera (103): "Memórias de Jolmete", de Manuel Resende: Cajan Seidi, o atual régulo de Jolmete, neto de Cambanque Seidi, o régulo de Jol que, em 1964, foi uma das cerca de 20 vítimas de represálias das NT (Manuel Resende / Eduardo Moutinho Santos)


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos com Cajan Seidi, a quem convidou para  ir almoçar em Canchungo (ex-Teixeira Pinto).


Guiné-Bissau > 2017 > Moutinho dos Santos e o Fernandino Leite  com a Amélia,  a 3ª mulher de Cajan Seidi, e com os seus filhos,  em Jolmete.

Fotos (e legendas): © Eduardo Moutinho Santos / Manuel Resende (2018) Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Blogue Memórias de Jomete > 30 de agosto de 2018 > Post nº 76 - Cajan, Régulo de Jolmete (*)

Manuel [Cármine] Resende [Ferreira] [, foto à direita,]
ex-alf mil art,  CCAÇ 2585 / BCAÇ 2884,
Jolmete, Pelundo, Teixeira Pinto
(, maio 69/mar 71)

Nota informativa para quem não se lembra: 

Moutinho dos Santos era alferes da Companhia que esteve antes de nós em Jolmete, a CCAÇ 2366. Era a Companhia do sr. capitão Barbeites. Depois de sair de Jolmete em 28 de maio de 1969 (, dia em que ficámos por nossa conta, e logo com um grave acidente com a bazuca do 1º cabo Brotas), tal como mais tarde o nosso alferes Almendra, foi graduado em capitão pelo sr. general Spínola e a Companhia foi para Quinhamel, gozar “férias”, mas ele, como capitão, teve que ir comandar outra Companhia no Sul [, CCAÇ 2381]. Presentemente exerce advocacia no Porto e é um excelente elemento [, um dos régulos,] da Tabanca Pequena de Matosinhos, com várias idas à Guiné para entrega de bens.


[Eduardo Moutinho Santos, ex-alf mil, CCAÇ 2366 (Jolmete e Quinhámel) e cap mil grad. cmdt da CCAÇ 2381 (Buba, Quebo, Mampatá e Empada); foto à esquerda]


Pergunto eu a Moutinho dos Santos:

“Amigo Moutinho Santos, recentemente estive com o Marques Pereira, alferes da minha Companhia, a 2585,  que vos sucedeu. Presentemente vive em Moçambique, e veio cá. Mostrei-lhe fotos do Cajan e disse-lhe que o Cajan tem um filho médico no Hospital de Santo António, creio que foste tu que me deste essa informação. Sabes quem é a mãe? perguntou ele, será a Maria Sábado, do nosso tempo ?.... Sabes alguma coisa dele, ou contactos... “ (*)


Resposta de Moutinho dos Santos:

Olá, Resende.

De facto, o Cajan Seidi, soldado milícia do Pelotão de Milícias de Djolmete, que "alinhou" connosco, e convosco, nas matas do Djol, tem em Portugal, mais especificamente no Porto, um "filho" médico, o dr. Jorge Seidi (conhecido entre os amigos por Jorgito). Ele faz parte das equipas de Urgências do Hospital de Santo António, penso que como contratado de uma empresa de "manpower" que presta serviços aos hospitais do Porto. Pus a palavra filho entre aspas, pois, na verdade ele não é filho biológico do Cajan, mas sim sobrinho.

Como sabes, segundo as "leis" da etnia manjaca, e de outras etnias da Guiné, em que os sobrinhos e primos também são considerados "filhos" quando vivem todos na mesma morança, o irmão que herda a "posição" (sucede no cargo) de outro irmão mais velho, também "herda" a mulher e os filhos do irmão. Com o Cajan sucedeu isso.

O avô do Cajan, de nome Cambanque Seidi, régulo do Djol, tinha vários filhos, sendo um deles o pai do Cajan, de nome Domingos, que foi morto pelo PAIGC logo no início da luta pela independência. O avô, ao tempo régulo, foi um dos mortos na "chacina" praticada em 1964 pelas NT contra os homens grandes da tabanca de Djolmete e outras do regulado.

Este "assunto" consta de um Post do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, ali colocado por um Furriel [, António Medina,] de uma companhia [, CART  527,] da guarnição de Bula / Teixeira Pinto em 1964, antigo combatente que emigrou para os USA (**)... O Cajan teria nesta data 15/16 anos...

[Foto à esquerda: Antonio Medina, ex-fur mil inf, CART 527, Teixeira Pinto, Bachile, CalequisseCacheu,Pelundo, Jolmete e Caió, 1963/65; natural de Santo Antão, Cabo Verde, foi funcionário do BNU, Bissau, de 1967 a 1974; vive hoje nos EUA desde 1980; tem dupla nacionalidade, portuguesa e norte-americana; é nosso grã-tabanqueiro desde 1/2/2014]

Este "assunto", a que ninguém se referia quando estivemos em Djolmete, e também nunca falado anteriormente quer pelo nosso Exército quer mesmo pelo PAIGC, foi-me confirmado pelo Cajan e por dois dos seus "filhos" que, inclusive, na última visita (2017) que fiz a Djolmete,  quiseram indicar-me o local onde foram enterrados, em "vala comum", muito perto do sítio onde os nossos 3 majores foram mortos em 1970...

Como o Cajan era o neto sobrevivo mais velho do régulo, veio a "herdar" o cargo do avô, pois o irmão/primo a quem tal cargo pertenceria já tinha falecido, deixando viúva a Quinta e o filho Jorge que - na altura em que estivemos em Djolmete - estaria à guarda de um tio em Dakar (Senegal) e internado numa Missão Católica. Oficialmente ninguém se referiu - que eu saiba - ao cargo do Cajan durante a nossa estadia em Djolmete.

Assim, o Cajan com o cargo de régulo do Djol, herdou como 1ª mulher a cunhada, de nome Quinta - que vivia em Djolmete ao tempo em que nós por lá estivemos -, de quem veio a ter mais 3 filhos (Joãozinho, falecido, Minguito e Melita, médica em Bissau). Actualmente está em Portugal com o filho,  dr. Jorge. O Cajan tem mais 4 mulheres... e 25 filhos ao todo...

A segunda mulher do Cajan é a Maria Sábado - nossa conhecida - de quem o Cajan tem vários filhos (um deles o Fidalgo que é professor e director da Escola E/B de Canchungo, ex-Teixeira Pinto).

A terceira mulher do Cajan é a nossa conhecida Amélia, de quem o Cajan tem 6 filhos (vários deles a viver em Bissau).

A quarta mulher do Cajan é a Emília de quem o Cajan tem vários filhos. 

Por fim, a quinta mulher, ainda muito nova, de nome Maria, também tem já filhos...

Para o ano, se tudo correr bem, se houver "patacão"  e a saúde ajudar, tenciono voltar à Guiné-Bissau e a Djolmete para, com a Tabanca Pequena de Matosinhos, fazermos a instalação de um poço artesiano, pois, os poços tradicionais que a ACNUR abriu na Tabanca de Djolmete, quando serviu de Campo de Refugiados dos independentistas do Casamance, secaram todos e a população (3.000 habitantes), que só tem uma hora de água por dia do poço do Centro de Saúde, voltou a ter de ir buscar a água à bolanha...

Depois falamos sobre este assunto.

Um abraço,
Eduardo Moutinho Santos

[Reproduzido com a devida vénia. Revisão  e fixação de texto: Blogue Luís Graça & Camarads da Guiné] 
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Notas do editor:

5 comentários:

Manuel Carvalho disse...

Pois o Cajan foi um dos nossos valentes Milícias de Jolmete conhecia muito bem a zona e foi muitas vezes o homem da frente, é bom vê-lo ainda com alguma saúde também não andará longe dos setenta anos.A Amélia que está na segunda foto de vestido rosa continua muito fransininha como era há 50 anos mas tratava muito bem da roupa de muitos de nós e até julgo que tinha algumas mais velhas suas colaboradoras.Quem quiser ver como ela era há 50 anos tenho uma foto com ela ao colo no Poste 10191.
Sou dos que acreditam na história que o Cajan conta sobre o aniquilamento de cerca de vinte Homens Grandes da população de Jolmete.

Manuel Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Manuel Carvalho, obrigado pelo comentário. E folguei em ver-te, ontem.

Já agradeci ao Manuel Resende, régulo da Magnífica Tabanca da Linha, bem como ao Eduardo Moutinho dos Santos, por estas preciossas informações sobre o Cajan e o "caso Jolmete" de 1964, nestes termos:

Manel: obrigado pelo teu poste que eu tomei a liberdade de reproduzir, com as devidas adaptações... Esta "história" de 1964 não foi "fantasia" ou "alucinação" do António Medina, como chegaram a sugerir... Não há razões para duvidar do testemunho do Cajan e de dois dos seus "filhos"... O Cajan era um "milícia nosso", tinha 15/16 anos em 1964... O pai é morto pelo PAIGC e o avô fuzilado pelas NT... Infelizmente, este caso não é "virgem", e ainda mexe "connosco"...Talvez o Jorge Araújo possa tentar saber mais, "perguntando" ao "outro lado"... Não podemos ficar com "cadáveres no armário", mas também não diabolizamos ninguém...

Um abraço para todos. A homenagem ao Joaquim Peixoto, ontem na Tabanca de Matosinhos, foi bonita. Sabemos honrar a memória dos nossos tabanqueiros que da lei da morte já se libertaram.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Quem é o camarada, também da Tabanca de Matosinhos, que está do lado direito do Moutinho dos Santos ? Conheço-o mas não me vem o nome à lembrança. Preciso de corrigir a legenda... LG

Manuel Carvalho disse...

Bom dia Luis
Julgo que o camarada que está ao lado do Eduardo Moutinho é o Fernandino Leite ele também andou por Jolmete em 65/66/67.Já há algum tempo que não o vejo, ele esteve doente estive com ele e estava melhor mas ultimamente não o tenho visto.Falamos também sobre este assunto e ele tal como nós nunca ouviu falar sobre este massacre.Também não é coisa se que se ande por aí a falar em todas as esquinas e quem o fez também não queria fazer muita publicidade.Se não estou em erro o Fernandino Leite é nosso Grão Tabanqueiro.
Um abraço para todos.

Manuel Carvalho

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Tens razão, é o Fenandino Leite, nosso grã-tabanqueiro desde 25 de julho de 2010.

Foi Soldado de Transmissões da CCAÇ 1499/BCAÇ 1877 (Pelundo, Bolama, Teixeira Pinto, Pirada e Piche, 1966/67).

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2010/07/guine-6374-p6783-tabanca-grande-232.html


Ao Fernandino Leite desejo as melhoras e peço desculpa por o não ter logo reconhecido.

Manuel Carvalho, quando o vires dá-lhe um abraço meu. Luís